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Habitaçao coletiva e a evolucao da quadra

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arquitextos ISSN 1809-6298
069.11ano 06, fev. 2006
 
Habitação coletiva e a evolução da quadra (1)
Mário Figueroa
O ideário moderno e a reflexão sobre habitação coletiva estão profundamente relacionados
aos problemas decorrentes da densidade populacional urbana e do crescimento das grandes
cidades durante o século XX. Nesse contexto as novas hipóteses de habitação e sua
relação com o espaço urbano representam para o modernismo o núcleo inicial de
investigações e experimentações desenvolvidas em âmbito disciplinar da arquitetura para
uma possibilidade real de transformação em grande escala do ambiente urbano.
A partir do desdobramento dos conceitos germinais do texto de Christian de
Portzamparc, A terceira era da cidade (Ville age III) (2), este ensaio trata
especificamente do papel da habitação coletiva na formação das distintas idéias de
cidade a partir da segunda metade do século XIX até o final do século XX, compondo um
quadro analítico com oito distintas estratégias projetuais que permitem uma reflexão
sobre as diversas formas de inserção, complementação e construção da habitação coletiva
na cidade moderna explicitando a evolução e a transformação da arquitetura urbana dentro
deste período.
O esforço concentra-se em constituir um raciocínio crítico do processo projetual
estabelecendo distinções conceituais sobre as estratégias da habitação coletiva e sua
relação com a trajetória do desenvolvimento das cidades através de uma visão ampla do
elemento urbano que por essência é o mais coletivo de todos. Interessa enfatizar nestas
condições o constante confronto entre habitação e espaço habitável, o qual tem
transformado a paisagem, a sociedade, a cultura, os hábitos e o desenho das cidades.
Quadra da cidade tradicional
 
 
Figura 1 – Quadra da cidade tradicional
Devemos entender como cidade tradicional um organismo urbano gerado através de um longo
processo histórico. Neste contexto, tanto o traçado viário como a habitação coletiva são
elementos que não podem ser concebidos separadamente, como o positivo e o negativo de um
mesmo sistema. Não existem, portanto espaços indefinidos nesta relação restrita aos
domínios do publico e do privado.
A quadra da cidade tradicional se caracteriza por ser claramente delimitada e homogênea.
Uma massa compacta que apresenta uma relação desproporcional entre uma grande quantidade
mesmo sistema. Não existem, portanto espaços indefinidos nesta relação restrita aos
domínios do publico e do privado.
A quadra da cidade tradicional se caracteriza por ser claramente delimitada e homogênea.
Uma massa compacta que apresenta uma relação desproporcional entre uma grande quantidade
de espaço construído em contraposição a escassos e fragmentados espaços livres
habitualmente destinados apenas para a ventilação das habitações. A arquitetura,
restrita a fachada, se expressa neste momento apenas de forma bidimensional.
As transformações de Haussmann em Paris (1852-69) podem exemplificar este tipo de quadra
“residual”, resultante do traçado viário, e não como módulo de composição urbana.
Paralelamente o projeto dos edifícios era controlado (gabarito de altura, composição das
fachadas, matérias e elementos construtivos) para regularizar o tecido urbano e
proporcionar uma extraordinária força de conjunto. A habitação coletiva compunha a
diversidade programática da quadra através de sua sobreposição em distintos pavimentos o
que gerava habitualmente edifícios multifuncionais.
Quadra do Plano Cerdá
Figura 2 – Quadra do Plano Cerdá
O Plano de expansão para Barcelona de Ildefonso Cerdá (1959-64) desenha uma grelha
ortogonal, com quadras de 113m x 113m e vias de 20m de largura, de tal maneira que cada
conjunto de nove quadras e vias correspondentes se inscrevem dentro de um quadrado de
400m de lado. A quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a cidade
medieval. Apesar de aparentar a imposição de uma nova ordem, indiferente ao contexto, o
ajuste das bordas é feito com extrema habilidade tendo como suporte avenidas diagonais
que surgem a partir de conexões pré-existentes. O corte diagonal nas arestas da quadra
transforma o simples cruzamento de vias em lugar, gera também desta forma maior
amplitude visual dos edifícios de esquina. Se dúvida nenhuma o melhor exemplo de
habitação coletiva inserida neste contexto é a Casa Milà de Antoni Gaudí (1906-12).
O Plano previa quadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo três lados. Os
edifícios não ultrapassariam mais do que dois terços da superfície do quarteirão. Os
espaços internos resultantes se abririam para a cidade oferecendo equipamentos públicos
e generosas áreas arborizadas. O importante é enfatizar que neste momento a quadra passa
de uma condição de residual para se tornar suporte de uma composição urbana que a tem
como espaço da cidade. Dá-se um passo adiante da relação edifício-rua como definidor da
quadra, ou seja, o perímetro da quadra deixa de ser o limite do espaço público.
Do desejo original de Cerda permaneceu apenas o traçado viário, as quadras foram
maciçamente ocupadas no perímetro junto ao alinhamento da calçada retomando um caráter
que a reaproximou da quadra tradicional. Originalmente as quadras foram concebidas em
média com 67.000m³ de área construída, atualmente após 150 anos de adensamento
progressivo temos em média 295.000m³ de área construída por quadra.
Quadra com ocupação perimetral
Figura 3 – Quadra com ocupação perimetral
Duas cidades desenvolveram experiências extremamente significativas desta tipologia:
Amsterdã e Viena. No Plano de expansão de H. P. Berlage para Amsterdam Zuid (1915) as
quadras ainda são resultado do sistema viário, porém contribuem como instrumentos de
ordenação dos edifícios perante uma nova hierarquia de vias e espaços urbanos através
de construção diferenciada das esquinas, diferenciação das bordas edificadas conforme
as características da rua delimitadoras e principalmente pela evolução do miolo da
quadra. Inicialmente destinado exclusivamente para jardins internos das unidades
residenciais térreas, o espaço interno evolui a partir da redução dos jardins privados
e inserção de ruas e pátios internos destinados ao uso semipúblico.
No caso de Viena a opção não é pela expansão, mas sim, por aproveitar vazios urbanos
pré-existentes para inserir habitação coletiva operária através de grandes edifícios
residenciais contínuos, chamados de “hoff”. Possuíam equipamentos urbanos associados a
generosos espaços ajardinados internos de caráter semipúblicos. As grandes dimensões
obrigavam a se sobrepor sobre o traçado urbano existente. Os generosos pórticos
resultantes definiam com clareza os acessos ao interior da quadra. O conjunto Karl Marx
Hoff, projetado por Karl Elm em 1927, é o “hoff” mais conhecido. Implantado em um vazio
urbano de 15 hectares, os blocos residenciais ocupam apenas 18% do solo, com 1382
unidades de habitação e aproximadamente 5000 habitantes. Duas novas questões surgem nos
projetos de habitação coletiva: a resolução das unidades em edifícios mais esbeltos
(maior e melhor ventilação e insolação) e necessidade de projetar as fachadas internas
destas novas quadras.
Quadra com edifícios laminares paralelos (Fig. 4)
Figura 4 – Quadra com edifícios laminares paralelos
Gropius no III CIAM (Bruxelas, 1930) lança a questão: “Habitação alta, média ou baixa?”.
A pergunta é analisada por ele nas suas implicações econômicas e sócias e passam da mera
discussão da tipologia da unidade de habitação para as regras de implantação e
afastamento dos edifícios, assim como do gabarito de altura e densidade populacional.
Por tanto temos uma inversão de papéis, até agora a unidade de habitação era
conseqüência da forma do edifício, que era resultante da forma do lote, que era
resultante da sua localização na quadra. Agora para o urbanismo moderno a célula de
habitação é o elemento base da formação da cidade.
A escolha pela forma laminarpelos urbanistas modernos basicamente é a mesma que
aproximou os arquitetos: ausência de hierarquia entre as partes, capacidade de
crescimento ilimitado, equivalência de condições para os distintos elementos, relação de
proximidade entre o espaço interior e o espaço exterior. Em Frankfurt, Ernst May
(diretor dos serviços de construção municipal), coordena entre 1925 e 1930 a construção
de 15.000 unidades em distintos conjuntos chamados de “siedlungen” que apesar de
intervenções pulverizadas no tecido urbano apresentam uma grande coerência. Neste mesmo
período temos também importantes experiências em Roterdã (J. J. P. Oud) e Berlin (Bruno
Taut).
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Edifício-cidade
Figura 5 – Edifício-cidade
Síntese do pensamento arquitetônico-urbanístico de Le Corbusier a “Unité d’Habitation”
representa muito mais uma crítica a cidade herdada do que propriamente uma ruptura em
Figura 5 – Edifício-cidade
Síntese do pensamento arquitetônico-urbanístico de Le Corbusier a “Unité d’Habitation”
representa muito mais uma crítica a cidade herdada do que propriamente uma ruptura em
relação a cidade tradicional. Pois como vimos, a diluição do sentido de quadra
tradicional foi um processo gradativo desde Cerda até aqui. A substituição da quadra
pela unidade habitacional representa a crítica à “rue corridor”, ao parcelamento
fundiário e as condições insalubres das habitações urbanas.
A “Unité” representa para Le Corbusier o elemento morfológico catalisador das novas
cidades. Oferece a conquista do espaço público contínuo a partir da implantação do
edifício sobre “pilotis”, a possibilidade da implantação do edifício não está mais
vinculada ao sistema viário, mas sim a melhor orientação solar, a incorporação em
pavimentos elevados de funções urbanas tradicionalmente vinculadas à cota do chão –
desde o comércio aos equipamentos coletivos. Sem dúvida a personificação das idéias
contidas na Carta Atenas que buscavam diferentes formas e práticas sociais de viver
coletivamente decorrente das relações entre as funções básicas (habitação, lazer,
trabalho e circulação).
Mega-estruturas
Figura 6 – Mega-estruturas
Uma ampla revisão de muitos dos princípios da cultura moderna, a eclosão de distintas
tendências arquitetônicas nos paises industrialmente mais avançados aliado a um otimismo
perante as novas possibilidades tecnológicas tornam a década de sessenta um período de
grande experimentalismo. Desde as propostas radicais do grupo Archigram as fantasiosas
idéias do Superestudio todas compartilham o ideal Hegeliano do progresso ilimitado do
positivismo moderno.
Através de uma descomunal exaltação estrutural e tecnológica que se sobrepunha ao
ambiente urbano existente as mega-estruturas geravam uma topografia artificial que
comportariam as mais distintas atividades necessárias para uma metrópole. Esta paisagem
artificial deveria ser de múltiplos níveis gerando um sólido tridimensional. Esta nova
escala dimensional acreditava-se poder recuperar uma maior liberdade e oferecer utopias
alternativas ao caos urbano. Como exemplo construído podemos citar o Barbican Complex
(1964-82) em Londres projetado por Chamberlin, Powell e Bon.
Quadra pós-moderna contextualista
Figura 7 – Quadra pós-moderna contextualista
A partir dos anos oitenta cidades européias como Berlin e Barcelona estão envolvidas em
profundas transformações urbanas. A primeira, através do programa do IBA, serviu como
modelo para outras cidades européias principalmente com as estratégias de remodelação de
quadras parcialmente consolidadas através da reconstituição perimetral das quadras e a
reinterpretação das tipologias, morfologias e linguagens das cidades históricas
européias. A segunda cidade aproveita a oportunidade de sediar os Jogos Olímpicos de 1992
para reestruturar quatro grandes áreas urbanas. A intervenção mais importante é a da Vila
Olímpica que permitiu recuperar o acesso da cidade ao mar além de criar um novo bairro
residencial através de uma estratégia extensão do Plano Cerdà de certas características
de suas quadras.
Conceitualmente a quadra contextualista recupera a ocupação perimetral e conseqüentemente
o desenho da rua tradicional. A esquina volta a ser valorizada como referência urbana.
Pequenos fracionamentos do perímetro recuperam a possibilidade de acesso ao centro da
quadra que volta a assumir o papel de espaço coletivo habitualmente recebendo
equipamentos e generosas áreas verdes.
Quadra aberta
Figura 8 – Quadra aberta
Tipologicamente a quadra aberta não é uma novidade, o melhor exemplo disso é o Conjunto
Golden Lane (1954) em Londres, de Chamberlin, Powell e Bon. A diferença desta nova
abordagem está no posicionamento perante a cidade; não se trata mais de uma abordagem
positivista através da imposição de uma nova ordem racional ou de uma cidade ideal como
desejava o abstrato ideário moderno. Após o esgotamento da linguagem pós-moderna e do
reconhecimento das limitações evidentes das estratégias contextualistas o pensamento
contemporâneo tende a considerar a possibilidade de uma revisão do espaço construído e do
espaço livre da cidade herdada a partir de um posicionamento complementar do espaço já
constituído.
A quadra aberta é por essência um elemento híbrido conciliador. Permite a diversidade, a
pluralidade da arquitetura contemporânea. Ela recuperar o valor da rua e da esquina da
cidade tradicional, assim como entende as qualidades da autonomia dos edifícios modernos.
A relação entre os distintos edifícios e a rua se dá por alinhamentos parciais, o que
possibilita aberturas visuais e o acesso mais generoso do sol. Os espaços internos
gerados pelas relações entre as distintas tipologias podem variar do restritamente
privado ao generosamente público, sem desconsiderar as nuances entre o semipúblico e o
semiprivado.
notas
O conteúdo deste texto foi apresentado (em palestra do mesmo nome) no “Seminário Hipótesis de Paisaje
05” em Córdoba – Argentina, no dia 20 de setembro de 2005.
PORTZAMPARC, Christian. “A terceira era da cidade”, In: Revista Óculum 9, Fau Puccamp, Campinas,
1992.
bibliografia
LAMAS, José. Morfologia urbana e desenho da cidade. Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de
Investigação Científica e Tecnológica, Lisboa, 1993.
MARTÍ ARÍS, Carlos (Ed.). Las formas de la residencia en la ciudad moderna. Depto. de Proyectos
Arquitectónicos de la UPC, Barcelona, 1991.

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