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Escorregamentos de terra no RS e SC - o caso particular de Santa Cruz do Sul Luiz A. Bressani, PhD Departamento de Engenharia Civil Escola de Engenharia / UFRGS bressani@ufrgs.br 13 de setembro de 2011 SEMANA ACADÊMICA DA ENGENHARIA CIVIL SUMÁRIO • Alguns exemplos de mecanismos de escorregamentos de terra • Grandes acidentes no RS e SC • Influência dos materiais (geologia) e da declividade • Os casos de escorregamentos urbanos • A situação da cidade de Santa Cruz do Sul 1. Introdução Movimento do tipo rotacional BR116 – Caxias do Sul, outubro 2000 Geometria e nomenclatura geral de escorregamentos Movimento translacional Escorregamento planar em colúvio RS 471, Vale do Sol Caxias do Sul, outubro1999 Caxias do Sul (out 99) Escorregamento de maciço rochoso, 15 casas danificadas Luiz A. Bressani 10 2. Aspectos geotécnicos de grandes escorregamentos de SC e RS Pinheirinho/Timbé do Sul, SC (1995) São Vendelino, RS (2000) Vale Itajaí, SC (2008) Canyon do Pinheirinho, Timbé do Sul, SC (1995) antes da chuva > 400/600mm em 1 dia Canyon do Pinheirinho, Timbé do Sul, SC (1995) depois da chuva – 29 mortos ou desaparecidos Vista aérea da escarpa da serra próximo de Timbé do Sul e dos danos por enxurros ao longo do vale Luiz A. Bressani 13/52 REGIÃO DE BLUMENAU, GASPAR, ILHOTA Novembro 2008 - chuva torrencial 600 a 750 mm / 3 dias após 56 dias de chuvas intermitentes (e que continuaram) 4.000 escorregamentos de terra ocorreram na região (mais milhares urbanos). Alguns escorregamentos com grandes volumes de solo e grande velocidade. Destruição generalizada e um profundo impacto no sistema viário. Movimentos de todos os tipos e magnitudes. Vista aérea da região rural atingida (Ilhota/ Gaspar, SC, nov. 2008) Como período de chuvas anterior foi intenso, alguns movimentos começaram antes. (corte em solo de alteração profundo - escola foi evacuada antes) Escorregamento de margens também iniciaram antes – erosão de pé e fluxo subterrâneo Alguns escorregamentos continuaram a movimentar depois (ou iniciaram mais tarde) . Influência da quantidade acumulada de chuva. Chuva muito intensa provocou também movimentos de blocos de rocha. Eventos pequenos com danos pequenos: escorregamentos de cortes de estradas. Gaspar/SC Acidentes pequenos com danos consideráveis: escorregamentos de cortes próximos a casas. Gaspar/SC O Risco depende do evento e da vulnerabilidade de construções. Escorregamentos de cortes em solos com médio porte – área urbana de Gaspar/SC – danos variáveis. Escorregamentos profundos e extensos em morros de alta declividade, felizmente com pequenos danos (Gaspar) Escorregamentos profundos e extensos em morros de alta declividade (Belchior, Gaspar, SC) Região do morro do Baú, escorregamentos de grandes volumes, altas velocidades – danos enormes. Corridas de terra – região do Baú, PC2 (>100 mil m3 depositados) Rupturas envolveram todo tipo de material e uso (semi- urbanizado, lavouras, reflorestamento, etc) Vale da Fumaça, Gaspar – Vegetação preservada Influência de estruturas reliquiares nos solos saprolíticos Rupturas em estado ‘suspenso’ – grandes trincas Solos saprolíticos de rochas sedimentares finas, Gaspar, SC Tipos de materiais – Solos coluvionares (grosseiros, arenosos, argilosos....) – Solos saprolíticos (grosseiros, argilosos, com estruturas...) – Solos rasos com raízes (e a sucção) – Rochas alteradas (variáveis e planos / diaclases) – Aterros (incluindo entulho e lixo) – nas cidades Classificação quanto à velocidade (ordem de grandeza): – Rápidos ( até 2m/dia) – Extremamente rápidos ( > 20km/h) O QUE PROVOCA DESASTRES POR ESCORREGA- MENTOS DE TERRA (e rocha)? Deslizamentos com grandes volumes, velocidades altas, ocupação humana. São Vendelino, RS - 2000 24/12/2000 - área ~ 40 km2 , chuva de 148mm/2h Série de escorregamentos translacionais rápidos do solo raso situado sobre a rocha (1 a 2m). Corridas de detritos nas drenagens principais • soterramento bueiros existentes, • destruição pontilhões e erosão de aterros rodov. • diversas residências danificadas • rodovia ficou interditada por 3 meses São Vendelino, RS dezembro 2000 Aspecto dos escorregamentos sobre rocha. Vista aérea de uma drenagem afetada. Deslizamentos translacionais (muito estreitos e rasos) Aspecto típico dos solos coluvionares São Vendelino (RS) Rupturas individuais de 300m3 a ~ 50.000m3 todas extremamente rápidas e imediatas • capa de solo coluvionar/residual de <2,0m sobre rocha • solo com alta permeabilidade e razoável resistência Cicatriz Locais de amostragens e ensaios de campo Pesquisa das características geotécnicas Cicatriz tem formato alongado e pequena largura (1 m a 2,5 m). Fundo da cicatriz apresenta trechos com depósitos de solo de pequena espessura e trechos com o substrato rochoso aparente. Condutividade hidráulica do solo coluvionar de São Vendelino k= 3 a 30 x 10-5cm/s MONITORAMENTO de chuvas e poro-pressão junho/06 a fevereiro/08 – 20 meses intensidade máxima 20 mm/h, durante 1 hora (14/11/ 2007) medidas de poro-pressão (todo o período) < 1 kPa (transdutores de pressão verificados a cada 6 meses). • simulação da infiltração sob condições de baixa sucção • ruptura rasa translacional pode ser explicada • é necessário uma chuva de grande intensidade por pelo menos 1-1,5h para elevar a poro-pressão Bressani, Silveira, Martinello e Bica (2009) Conclusão: somente intensidades de chuvas maiores do que ~60mm/h durante 1hora levam à ruptura obs.: foram medidas chuvas de ~70mm/h por 2h Estudos geotécnicos de uma ruptura em SC Belchior Baixo, Gaspar Ruptura rotacional de grande porte (110.000m3) • ruptura teve um atraso em relação ao grande episódio de chuva • solo saprolítico muito alterado • tem degradação da resistência mecânica com deformação • permeabilidade relativamente baixa (~5x10-8m/s) Vista geral da cicatriz do escorregamento em janeiro 2010 (equipe no detalhe) Volume estimado de solo movimentado: 110.000 m³ (seta indica percurso do material fluidificado) Complexo Granulítico Santa Catarina - Unidade de rochas orto e paraderivadas: Gnaisse, Granulito, Gnaisse Granulítico (azul) Retirada de amostras no campo (1) Retirada de amostras no campo (2) – observe a baixa consistência do solo. Este solo apresenta uma redução acentuada de resistência com a deformação. Análises de estabilidade utilizando dados de campo e laboratório resultaram em: • Ruptura só é possível para níveis de água bastante altos • Permeabilidade baixa do solo explica a demora do início da ruptura • Forma de ruptura bem modelada com parâmetros de pico • Mas desenvolvimento rápido da ruptura só explicada pela queda da resistência (residual) Heidemann, Bressani e Flores (2012) STUDY OF A LARGE LANDSLIDE AND MUD FLOW AT GASPAR, SC, BRAZIL . 14th PanAmer Conf Soil Mechanics Geotech Engng. RESUMO DOS PRINCIPAIS PONTOS (1) 1. Existem muitos tipos de escorregamentos, naturais e induzidos 2. O tamanho e a velocidade dos escorregamentos de terra dependem: (a) da forma e declividade da encosta (ou corte); (b) das características do sub-solo (comportamento frágil, resistência residual); (c) da forma e caminhos da percolação / infiltração 3. Em grandes declividades é importante considerar o risco da ocupação humana ao longo das drenagens até vários quilômetros de distância (fluxo de detritos/lama). 4. É fundamental instrumentar de forma sistemáticamais encostas para entender os processos (minorar danos ou projetar medidas de estabilização). 5. Encostas naturais (vegetadas) sob chuvas intensas podem se tornar elementos de risco às populações próximas e isto tem que ser informado. 6. Grandes desastres relacionados à ocupação de áreas muito íngremes. Na maioria das cidades brasileiras os problemas de risco (danos e mortes), está associada à ocupação irregular ou sem técnica: Recife, São Paulo, cidade do Rio, Salvador. Novos problemas na região serrana do Rio e em Angra dos Reis – geologia. E as cidades do RS? E a cidade de Santa Cruz do Sul? Caso típico de ocupação urbana desordenada (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Porto Alegre, etc) Exemplo em Caxias do Sul Luiz A. Bressani 55 Gramado – a cidade formal (e a informal) estão avançando para as áreas íngremes no entorno do centro. Escorregamento de aterro de fundo de terreno Luiz A. Bressani 58 Novo Hamburgo – cidade está crescendo em direção aos morros de arenito/basalto ao norte. Novo Hamburgo, Vila Kefas movimentos de encostas em Santa Cruz do Sul Santa Cruz do Sul Área no entorno da rua Álvaro Correa da Silva Santa Cruz do Sul Foto aérea do entorno da rua Álvaro Correa da Silva Vista da área: habitações de bom padrão; área nobre; topografia “normal” Sinais de problemas: danos em residências Degrau criado em um piso originalmente plano Trincas internas em um dormitório Separação de parte da casa Deformações nas residências Movimentos no terreno Trincas e rupturas localizadas. Terreno originalmente plano 0 2 4 6 8 10 0 10 20 30 40 50 60 70 Deformações (mm) P r o f u n d i d a d e ( m ) 38 98 164 213 286 404 440 506 520 538 560 585 626 707 dias Gráfico de inclinômetros - deslocamentos x profundidade exemplo – movimento a 6m de profundidade • Movimento de grande área e volume envolvendo colúvio de siltito • Espessuras variáveis entre 2,0m e mais de 12,0m • Movimentos muito dependentes das poro-pressões (fluxo de água subterrâneo) • Movimentos semelhantes em outras áreas da cidade, com grandes danos associados • Bairro Margarida-Aurora; • BR-471 próx. Santuário de Schoenstatt; • Acesso GraselCasa rua H. Schuster Deslocamento relativo de ~50cm Casa próxima da rua H. Schuster Distorção acentuada de residência (abandonada) Distorção acentuada de outra residência – tb abandonada Movimentos de terreno com sérios danos em residências vizinhas Geologia de Santa Cruz Fotos: Noronha, 2007. Derrames basálticos Fotos: Noronha, 2007. Formações sedimentares (Fm Santa Maria) Fotos: Noronha, 2007 Depósitos Recentes: Recobrem as unidades anteriores em vários locais. a) Colúvios: Não mapeável na escala 1:25.000. COMENTÁRIOS (2) 6. O município de Santa Cruz do Sul tem uma geologia particular e problemas específicos que precisam ser melhor entendidos para promover estabilização. Há grandes e pequenos escorregamentos que causam muitos danos. 7. Estes escorregamentos estão associados a características da geologia do local e precisam ser melhor identificados. 8. É preciso uma união de esforços da sociedade civil para resolver da melhor maneira estes problemas (Prefeituras, Associações Técnicas, Incorporadores, Min Público, Universidades, Assoc. de Moradores, Vereadores). Caso especial: escorregamento em rochas no distrito de Malhada (~15 milhões de m3) Agradecimentos O convite da UNISC (prof. Letícia Diesel e José A. Rohlfes Jr) Ao PPGEC/UFRGS e equipe de colegas e alunos do Pós- graduação da UFRGS - (Adriano V.D. Bica, Wai Y. Gehling, Jair F.Floriano da Silva, Marcelo Heidemann, Fábio Bertuol, Rodrigo Silveira, Marcelo Rigo, Rinaldo Pinheiro, Andrea Nummer, Felipe Gobbi) CAPES e CNPq (bolsas de pesquisa) CEPED/RS (Centro de Estudos e Pesquisas em Desastres) A muitos membros das COMDECs por auxílios, estímulos e informações. ABMS – Ass. Brasileira de Mecânica dos Solos Obrigado pela atenção! Luiz A. Bressani Eng. Civil, PhD em Geotecnia Departamento de Eng. Civil Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS bressani@ufrgs.br
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