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Eficácia dos deveres fundamentais 1 Ana Paula Santos Huoya 2 O texto de Rátis se divide em alguns pontos, se propondo a traçar um histórico sobre a aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais, depois tratando de como isso é disposto na doutrina lusitana, demonstrando o pensamento de diversos autores e o posicionamento adotado pelo autor. No ponto I.1 Rátis vai apresentar a gênese dessa discussão que começa nos Estados Unidos com os conceitos de normas self-executing e normas not self-executing. A primeira, podendo produzir efeitos assim que inserida no ordenamento e a segunda, dependendo do legislador infraconstituiconal. No Brasil, Ruy Barbosa importou essas noções, construindo os termos self-executing provisions e not self-executing provisions. As primeiras são logo aplicáveis e tem plena eficácia, já as segundas dependem de leis posteriores. Na Itália, chegou-se à discussão as normas programáticas, preceptivas de aplicabilidade imediata e preceptivas de aplicabilidade mediata. Essas ideias italianas foram adotadas no Brasil por João Teixeira que dividiu as normas em normas constitucionais de efic´cia plena e aplicação imediata e normas constitucionais de eficácia limitada em normas programáticas e normas de legislação, sempre seguindo uma linha parecida com a italiana. Quem reformulou melhor, entretanto, foi José Afonso da Silva que colocou a questão em discussão nos Tribunais. Sua classificação dividia as normas constitucionais em a) de eficácia plena que produzem seus efeitos essenciais e tem aplicabilidade imediata; b) de eficácia contida que produzem seus efeitos, mas permitem limitações previstas de sua eficácia; c) de eficácia limitada que dependem de norma posterior para produzir efeitos essenciais. A classificação de José Silva não foi suficiente e o autor elenca três problemáticas acerca da classificação dele, afirmando ser desnecessária, por exemplo, a divisão em norma de eficácia contida. Por fim, em Portugal as ideias italianas também se irradiaram e, os entendimentos lá colhidos parecem ser os mais adequados para a eficácia e aplicabilidade dos direitos fundamentais. 1 RÁTIS, Carlos. Eficácia dos deveres fundamentais. Disponível em: <http://www.behrmannratis.com.br/files/artigo-eficacia-dos-direitos-fundamentais-carlos-ratis.pdf>. Acesso em: 21 de Fev de 2016. 2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal da Bahia Nesse momento, Rátis elenca autores lusitanos que trataram sobre o assunto. O autor Jorge Miranda divide as normas em preceptivas exequíveis por si mesmas, preceptivas não exequíveis e programáticas. Estas exigem ação do legislador, mas se dirigem a certos fins e transformações sociais. Em relação aos deveres fundamentais de alcance específico ele considera normas de aplicabilidade imediata ou de eficácia preceptível não exequível por si mesma. Os direitos-deveres, deveres de alcance genérico, são exequíveis por si mesmas. O autor Gomes Canotilho os deveres fundamentais não são normas programáticas e sim normas que são dirigidas ao legislador e que precisam da criação de esquemas organizatórios para a fiscalização do cumprimento dos deveres. Viera de Andrade crê que os deveres fundamentais necessitam de previsão normativa expressa para ter aplicabilidade, exceto nos casos em que as próprias normas que contém os deveres determinem expressamente o conteúdo concreto. Por fim, o último autor citado é Casalta Nabais que acredita que os deveres fundamentais são normas de aplicabilidade mediata, dependendo do legislador para estabelecer modos de exigência do cumprimento e sanções para o descumprimento. Para esses deveres, é aplicado o regime geral de observância dos princípios dos direitos fundamentais. A posição adotada pelo autor aparece no fim do texto e acredita numa classificação adequada que abarque a minimização dos efeitos do mal-estar social. Para isso, se deve observar até onde os as normas que contém deveres fundamentais são executáveis na intenção de proteger os direitos fundamentais. Para Rátis, os direitos-deveres são de aplicabilidade imediata e eficácia preceptiva; os deveres fundamentais autônomos são de aplicabilidade mediata e eficácia preceptiva não exequível por si mesma, pois vinculam a atuação do legislador, executivo e judiciário; A esses deveres se aplica a mesma observância de princípios que se faz com os direitos fundamentais.
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