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51 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DO SUCO DE MANGA* Vanda Perpétuo PELACANI** José Antônio Gomes VIEIRA** RESUMO: Suco de manga, variedade Haden, com 15,5ºBrix, foi aquecido ohmicamente, com variação da temperatura entre 20 e 100ºC, voltagem aplicada de 140 V e freqüência de 60 Hz, sendo feitas determinações da condutividade elétrica, em função da temperatura, vis- cosidade e tamanho de partículas, sob a hipótese de que tais variáveis são significativas sobre a proprieda- de elétrica em questão. Uma célula condutivimétrica, construída em teflon, material bastante inerte, resisten- te a temperaturas mais elevadas, e isolante elétrico, foi utilizada para determinar a variação da condutividade elétrica do suco. Os resultados obtidos, mostraram que a condutividade elétrica do suco de manga, sob aqueci- mento ôhmico, aumentou com temperatura, diminuiu com a viscosidade e com o tamanho das partículas. PALAVRAS-CHAVE: Manga; condutividade elétrica; aquecimento ôhmico. Segundo De Alwis et al.1, o fator físico primário que irá influenciar o aquecimento ôhmico é a condutividade elétrica. A condutividade de um material determina sua viabilidade para que este possa ser aque- cido eletricamente. Se a condutividade for muito baixa (menor que 10-4 mS/cm), provavelmente será imprópria. Os alimentos contêm condutividades elétricas na faixa de 10-2 a 103 mS/cm. As mudanças na condutividade elétrica durante o aquecimento ôhmico foram apresentado por Handen et al. 2. Esse trabalho relata a complexidade do processo, pois a condutividade elétrica é função da temperatura e da taxa de aquecimento. A condutividade pode afetar a estrutura da célula e aumentar a mobilidade iônica. A va- riação da condutividade elétrica com a temperatura para vários produtos difere entre o aquecimento ôhmico e o convencional. Trabalhos realizados por Palaniappan e Sastry 6, mostraram o efeito da temperatura, do teor de sólidos, voltagem aplicada e tamanho das partículas sobre a condutividade elétrica de suco de laranja, tomate e ce- noura. Eles concluíram que a condutividade elétrica dos sucos aumenta com a temperatura e diminue com o teor de sólidos durante o aquecimento convencional. Há uma relação linear entre a temperatura e a condutividade. Um estudo completo sobre a aplicação do aqueci- mento ôhmico no processamento térmico de alimentos incluindo modelagem, segurança, viabilidade e avaliação econômica, foi apresentado no Symposium patrocinado pelo IFT, citado por Sastry e Kim 8. Um trabalho realizado por Reznick 7 com alimentos fluidos, vem completar esses estudos. Mostrou que vários parâmetros afetam a efici- ência do processo, tais como resistência elétrica dos pro- dutos e as mudanças de temperatura. Um estudo sobre a variação da atividade de água e condutividade elétrica com o teor de sólidos e tempera- tura foi feito por Moura et al 4. Esse trabalho mostrou que a condutividade elétrica aumenta com a concentração até 30º Brix, quando começa a decrescer, e aumenta com a temperatura para todas as concentrações. O objetivo desse estudo foi determinar a condutividade elétrica do suco de manga durante o aque- cimento ôhmico, em função da temperatura, viscosidade e tamanho de partícula, sob a hipótese de que tais variá- veis são significativas sobre a condutividade elétrica. * Trabalho elaborado com auxílio financeiro da FAPESP (Proc.nº 99/07188-8) **Departamento de Engenharia e Tecnologia de alimentos - Instituto de Biociência, Letras e Ciências Exatas - UNESP - 15054-000 - São José do Rio Preto - SP - Brasil. Introdução O aquecimento ôhmico é considerado uma técnica promissora de processamento asséptico de alimentos, onde o calor é gerado pela passagem de uma corrente alternada através do alimento, que em sua maioria con- têm espécies de eletrólitos, como sais e ácidos, de forma que uma corrente elétrica pode passar através dos mes- mos, sendo então o calor gerado internamente ao alimen- to, Pain et al.5. Esses autores relatam que, durante o aque- cimento ôhmico, mudanças na condutividade elétrica, na reologia e nas propriedades nutricionais dos produtos foram observadas e o número de efeitos demonstrado. O método UHT que apesar de diminuir as perdas de quali- dade provocadas pelo tratamento térmico, é limitado em alimentos particulados. Nesse processo a fase sólida será aquecida apenas por condução, que é um processo mui- to mais lento que a convecção. Para garantir que o centro da partícula seja esterilizado, o meio líquido e a superfí- cie das partículas devem ser sobre-aquecidos. O uso da resistência direta em alimentos fluídos com partículas em suspensão, traz grandes benefícios, justamente pela pos- sibilidade de se aquecer o centro da partícula mais rapi- damente, Handen et al. 2. Alim. Nutr., Araraquara, v.14, n.1, p. 43-45, 2003 52 Materiais e métodos Suco de manga As mangas (Mangifera indica L.), variedade Haden, maduras, foram colhidas de uma mesma proprie- dade, descascadas e despolpadas em despoldadeira elé- trica com tela de 1,68 mm de diâmetro, originando amos- tras nas quais foram realizadas determinações da condutividade elétrica. Estas amostras foram acondicio- nadas em embalagens de 1 kg e mantidas sob refrigera- ção até o uso. Para a variação da viscosidade do suco de manga integral foi adicionado a enzima Citrozyn Cloudy, fabricada pela Novo Nordisk S.A, na proporção de 0,0, 0,5 e 1,0 ppm, misturada e deixada à temperatura de 50ºC por 50 minutos. A viscosidade aparente das amostras, em triplicata, foi medida usando-se um viscosímetro de cilin- dros concêntricos marca Rheotest 2.1. As medidas foram realizadas a 121 rpm, com 25ºC de temperatura. Para se obter os diferentes tamanhos das partículas, foi utilizado um jogo de peneiras vibratórias, com mesh 0,149, 0,590 e 1,60 mm, sendo as amostras agitadas por 10 minutos. Célula condutivimétrica Uma célula condutivimétrica, foi construída em aço inox e teflon, para a realização deste e outros trabalhos. A célula com 28,5 cm de comprimento, com diâmetro inter- no de 3,0,cm e externo de 4,5 cm, possui uma abertura no centro para introdução do termopar, e serve também para inserir amostras fluidas. Este orifício é selado, de forma que resista a pressão gerada internamente com o aqueci- mento do produto. Os eletrodos, de liga de platina, são soldados nas extremidades das tampas de teflon, que são rosqueáveis, para ajustar bem à superfície interna do tubo. O termopar utilizado foi do tipo T e calibrado com termô- metro padrão. A célula foi calibrada com soluções de NaCl de concentração conhecida e medida com condutivimetro comercial. Para determinar a condutividade elétrica, um circuito semelhante ao de Mitchell, De Alwis (3) foi construído. A condutividade elétrica das amostras foi calculada de acordo com os dados obtidos de voltagem e de corrente, aplicando as seguintes equações: Q= I2R, (1) R= L/(A ) (2) Onde: Q= calor gerado, (W), I= corrente, (A), R= V/I = resistência da amostra, (ohm), L= comprimento da célula utilizada, (m), V= voltagem aplica- da na amostra, (V), A= área (m2), onde (A= r2) e = condutividade elétrica, (S/m). Resultados Influência da temperatura e do tamanho das partículas na condutividade elétrica do suco de manga A Figura 1, mostra a influência da temperatura e do tamanho das partículas no suco de manga. Em todas as amos- tras verificou-se um aumento da condutividade elétrica com o aumento da temperatura, e diminuição da condutividade, com o aumento do tamanho das partículas. Esse mesmo com- portamento foi encontrado por Palaniappan e Sastry 6 para o suco de laranja, tomate e cenoura Moura et al. 4 mostrou que para o sucos de tangerina, abacaxi e limão a condutividade elétrica aumentou com a temperatura para todas as concen- trações dossucos, e a dependência da temperatura segue uma relação de Arrhenius. O aumento da condutividade elé- trica com a temperatura é explicado pela diminuição dos mo- vimentos iônicos, que também pode ser dependente do ta- manho, forma e orientação das partículas. FIGURA 1 - Variação da condutividade elétrica do suco de manga, com diferentes tamanhos de partículas e voltagem aplicada de 140V. Influência da viscosidade na condutividade elétrica suco de manga A viscosidade aparente do suco de manga com 15,5ºBrix, medida a 25ºC em 121 rpm, com diferentes ppm de enzima, é mostrado na tabela 1. Verificou-se que tanto o teor de enzima, que atua direta- mente na viscosidade do suco, quanto a temperatura de aque- cimento, agem dependentemente na variação da condutividade elétrica, que aumenta com a diminuição da viscosidade, fazen- do com que a taxa de aquecimento fique menor, portanto um menor tempo de retenção do produto na célula. Nos estudos feitos por Palaniappan, Sastry 6, em di- ferentes sucos, concluiu-se que a condutividade elétrica aumentava linearmente com a temperatura e, diminuía com a viscosidade e com o tamanho de partículas. Segundo os autores, a condutividade elétrica é afetada pela natureza dos íons (composição química), movimentos iônicos e pela vis- cosidade, os quais são todos dependentes da temperatura. Alim. Nutr., Araraquara, v.14, n.1, p. 43-45, 2003 53 Tabela 1- Viscosidade aparente do suco de manga, com diferentes ppm de enzima. Ppm de Enzima Viscosidade (Pa.s) Condutividade elétrica (S/m) Tempo de Aquecimento (min) (de 20 a 100ºC) 0 0,137 0,345 77,47 0,5 0,053 0,576 47,13 1,0 0,048 0,749 36,47 Conclusões Este trabalho mostrou que a célula construída pode ser utilizada para medir a condutividade elétrica de fluidos durante o aquecimento ôhmico. Verificou-se que a condutividade elé- trica do suco de manga aumentou com a temperatura, diminuiu com a viscosidade e com o tamanho das partículas. O trabalho também mostrou que quanto menor a viscosidade do suco, maior foi condutividade e, portanto o produto aqueceu mais rapidamente, o que melhorou visualmente a qualidade do pro- duto quanto a retenção da cor. PELACANI, V.P.; VIEIRA, J.A.G. Electrical conductivity of the manga juice. Alim. Nutr., Araraquara, v.14, n.1, p. 43-45, 2003. ABSTRACT: Mango juice of the Haden variety, with 15.5ºBrix, was ohmically heated, to a temperature range of 20 - 100ºC, using on applied voltage of 140 V and 60 Hz frequency, determing the electrical condutivity, as a function of temperature, viscosity and particle size, accornding to the hipothesis that such variables are significant for the electrical propenty in question. An electrical conductivity device made of teflon a highly inert material, resistant to high temperatures and an electrical insulant, was used to determine changes in the electrical conductivity of the juice. The results obtaned, showed that the electrical conductivity of mango juice under ohmic heating increased with temperature, increase in viscosity and particle size. KEYWORDS: Mango juice; eletrical conductivity; ohmic heating. Referências bibliográficas 1. DE ALWIS, A.A.P; HALDEN, K.; FRYER, J.P. Shape and conductivity effects in the ohmic heating of foods. Chem. Eng. Res. Des.,v. 67, p. 159-168, 1989. 2. HALDEN, K.; De ALWIS, A.A.P.; FRYER, P.J. Changes in the electrical conductivity of foods during ohmic heating. Int. J. Food Sci. Technol., v. 25, p. 9-25, 1990. 3. MITCHELL, F.R.G.; De ALWIS, A.A.P. Eletrical conductivity meter for food samples. J. Phisycal., v.22, p. 554-556, 1989. 4. MOURA, S.C.S.R.; VITALI, A. A.; HUBINGER, M.D. A study of water activity and electrical conductivity in fruit juices: influence of temperature and concentration. Braz. J. Food Technol., v.2, n.2, p. 31-38, 1999. 5. PAIN, J.P.; DORNIER, M.; BAUDEZ, P. Le chauffage ohmique; Innovation industrielle pour le traitement UHT des produits particulares, Ind. Alim. et Agric., v.112, n.6, p. 405-450, 1995. 6. PALANIAPPAN, S.; SASTRY, S.K. Electrical conductivity of selected solid foods during ohmic heating. J. Food Process Eng., v.14, p. 2321-2360, 1991. 7. REZNICK, D. Ohmic heating of fluid foods. In: Ohmic heating for thermal processing of foods: government, industry and academic perspectives - overview outstanding symposia in food science & technology. Food Technol., 50(5): 250-251, 1996. 8. SASTRY, S.K.; KIM, H.J. Ohmic heating for thermal processing of foods: government, industry and academic perspectives - overview outstanding symposia in food science & technology. Food Technol., v. 50, n.5, p. 241-245, 1996. Alim. Nutr., Araraquara, v.14, n.1, p. 43-45, 2003
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