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No que decorre da análise do filme proposto, da autoria do humorista Argentino Quino, podemos compreender que o mesmo possibilita diversas análises teóricas ancoradas nos temas enunciados na unidade curricular. 
De uma forma ligeira e cómica, é-nos apresentada uma situação em que a mãe da personagem Mafalda, ao efectuar arrumações na sua casa, se depara com diversos livros académicos, que a fazem relembrar de forma melancólica porque não terminou os seus estudos. A filha Mafalda, confrontada com este facto, e cogitando que tal reacção advinha da preocupação que a mãe tinha que ela mesmo não terminasse a escola, decide confortar a mãe, dizendo que iria efectuar o percurso académico completo, para que não tenha os mesmos sentimentos de frustração que a mãe apresenta ter, em relação à não conclusão do seu percurso académico e ingresso no mercado de trabalho.
Baseados neste filme, podemos assim efectuar uma análise de cariz sociológico, que nos remete para conceitos como género, papéis sociais, socialização, desigualdade, entre outros.
Como primeira abordagem, podemos analisar o papel social, na figura da mãe e esposa, que representa o que a sociedade espera de uma mulher. A mesma desempenha assim o papel esperado pela sociedade, abandonando os estudos em detrimento do matrimónio. Aqui o factor género assume uma posição preponderante. Segundo Denzin (1995), ao contrário do termo “sexo”, o “género” faz referência às noções de construção e de significado social atribuído, ou seja, refere-se a uma classificação construída pelas sociedades que postulam diferentes significados sociais e culturais associados à categoria homem e à categoria mulher. O género como construção social e cultural pode aqui ser tomado como um factor de desigualdade, pois como observamos no filme, a mãe da personagem Mafalda abandonou um percurso académico e uma carreira profissional para se dedicar a uma vida matrimonial. Aqui temos uma patente desigualdade de género, onde a mulher se remete e se dedica exclusivamente ao trabalho doméstico e ao papel de mãe.
Passamos agora a analisar o termo papel social. Convocamos para isso Magano (2014) que recorre a Marin (1988): “O conjunto de deveres adstritos a uma determinada posição social, ou seja, o comportamento social esperado, ou as expectativas de obrigações mantidas por outros membros acerca do comportamento daquele que tem a posição.” (Marin. 1988. p 79). 
Assim, podemos perceber que o papel social está vinculado às normas sociais vigentes em determinada sociedade, que devem ser cabalmente cumpridas. No que remete à construção dos denominados papéis sociais, podemos recorrer à metáfora teatral de E. Goffman (2007), com uma descrição da sociedade como um teatro com os seus diversos componentes (palco, público, papel, máscara, bastidores, etc...) onde os actores sociais atuam e desempenham os diversos papéis. 
Este desempenho tem em conta a expectativa que os outros têm do individuo, sendo que o mesmo adequa o papel a essa mesma expectativa. Como exemplo, um professor tem de adequar a sua conduta perante os alunos, da que seria expectável, mesmo que não empatize com os mesmos, ou no caso do filme em análise, o papel de mãe e esposa diante da sociedade tem de ir de encontro aos padrões de comportamento esperados da mulher, plasmados aqui no abandono precoce dos estudos em detrimento do compromisso marital, podendo aqui o casamento, pelas características que apresenta, ser visto como um facto social, na acepção Durkheimiana do mesmo.
Esta acção social, este desempenho de um papel, reveste-se de um caracter racional e consciente, sendo centrada no individuo. O sentido da mesma é o atribuído pelo próprio individuo, na efectivação dessa acção, sendo que essas acções têm uma carga intencional, visando um objectivo ou propósito. Assim, não é uma forma de reacção a um estímulo exterior, mas sim algo fabricado pelo individuo de forma consciente e racional, pois toma sempre em consideração a acção de outros com que se relaciona. Isso mesmo preconiza M. Weber (2010): “A acção social (inclusive a omissão ou tolerância) pode orientar-se pelo comportamento passado, presente ou esperado como futuro dos outros (…)” (Weber. 2010 p.40). Magano (2014) também isso nos refere: “A definição de cada papel é realizada em função do comportamento esperado pelas pessoas com que o individuo se relaciona (…)” (Magano. 2014 p.22).
Assim, a adequação do papel desempenhado pelo individuo é aprendida através do processo de socialização, da aprendizagem a viver em sociedade, com a incorporação das nomas emanadas pela mesma, e que permitem ao individuo uma correta inserção e ao reconhecimento pelos demais do seu estatuto.
No que concerne ao processo de socialização anteriormente descrito, podemos reter que o ser humano insere-se, de forma individual, em algo maior, mais complexo. 
A inserção na sociedade, nos grupos, organizações ou instituições que a compõem, tem diversas formas. Pode ser por simples nascimento, sendo afecto a um determinado grupo pelo factor biológico, ou por decisão do indivíduo, tendo o mesmo de encetar múltiplos esforços para se adaptar de forma contínua e preencher os requisitos necessários para que tal pertença se materialize. 
Assim, segundo Abrantes (2011): “Acresce que a socialização é um processo permanente e nunca concluído, implicando esforços contínuos de actualização.” (Abrantes. 2011 p. 125). 
Na perspectiva clássica defendida por Berger e Luckman (2008) podemos perceber assim o individuo como um “receptáculo” para as normas a interiorizar: “Contudo, o indivíduo não nasce membro da sociedade. Nasce com a predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade.” (Berger e Luckman. 2008 p. 173).
No que decorre do processo de socialização do individuo, ou seja, a sua aprendizagem e interacção com os demais membros de uma determinada sociedade, este processa-se em duas etapas, segundo Berger e Luchman (2008): A Socialização Primária e Secundária.
Assim, temos estas duas etapas pelas quais o indivíduo passa na sua formação como ser social, sendo perceptível no filme visionado, a importância dada à escola como agência de socialização, numa passagem entre uma socialização primária, com a família como agência de socialização principal, para uma secundária, onde a escola incorpora esse papel. Recorrendo a Anthony Giddens (1997), Magano (2014) demonstra-nos a existência destas denominadas agências de socialização, como sendo a família, presente nas diversas sociedades, mas também outras como escolas ou a comunicação social. Isso mesmo também nos menciona Abrantes (2011), relacionando este facto com as relações de poder dentro da sociedade: “Nas sociedades modernas, a escola de massas e os media constituem instituições fundamentais de socialização, impondo os padrões da “cultura dominante”” (Abrantes. 2011 p. 129).
Finalmente, podemos concluir que a mãe da personagem Mafalda, desempenhou o papel esperado pela sociedade, tendo abandonado os estudos em detrimento da vida conjugal, facto que a filha pretende agora contrariar, assumindo esta a importância da conclusão do percurso escolar como factor basilar na construção da sua vida profissional e pessoal, valorizando assim o diploma académico.
Podemos verificar aqui uma possível transição entre uma sociedade antiga, mais patriarcal, para uma mais contemporânea, onde a mulher assume um papel mais pró-activo no plano académico e no mercado de trabalho, com a aquisição de maior “capital cultural” (Bourdieu, 1987 p 4), libertando-se das grilhetas de uma desigualdade de género dentro da sociedade, reconfigurando assim o papel social que desempenha e alterando com isso as relações de poder instituídas.
Bibliografia:
Abrantes, Pedro (2011) “Para uma teoria da socialização” Sociologia- Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXI, pp 121-139
Berger, Peter; Luckman, Thomas (2008) “A construção social da realidade” Petrópolis: Ed. Vozes
Bourdieu, Pierre (1987) “What makes a social class?” On the theoreticaland practical existence of groups. Berkeley Journal 01 Sociology, nº 32, pp. 1-49.
Denzin, N.K. (1995). “Symbolic interactionism” In J. A. Smith, R. Harré, & L. Van Langenhove (Eds.), Rethinking Psychology. London: Sage
Durkheim, Émile (2009) “As regras do método sociológico” 9ª Ed. Lisboa: Edt. Presença
Giddens, Anthony (1997) “Sociologia” Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian
Goffman, E. (2007) “A representação do Eu na vida Cotidiana” 14ª Ed. Petrópolis: Ed. Vozes
Magano, Olga (2014) “Introdução às Ciências Sociais” Lisboa: eUAB – Colecção Universitária
Marin. A. (1988) “Introdução à sociologia” Lisboa: Ed. Noticias
Weber, Max (2010) “Conceitos Sociológicos Fundamentais” (Tradução de Artur Morão) Covilhã: LusoSofia:Press

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