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UNIDADE XIII – DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO 1. CONCEITO A imputação do pagamento consiste, na indicação feita pelo devedor, de duas ou mais dívidas líquidas e vencidas, que tem com o mesmo credor, qual delas deseja solver, uma vez que o pagamento é insuficiente para saldar todas elas, art.352 do CC. Ex: João deve R$100,00, R$150,00 e R$200,00 a Paulo. Ocorre que João entrega a Paulo R$150,00 e determina que tal quantia é para o pagamento da segunda dívida. Por determinação do art.352 do CC, Gonçalves (2016, p.321-322) elenca os seguintes requisitos para a imputação do pagamento: a) Identidade de partes (credor e devedor): as diversas dívidas devem vincular o mesmo devedor a um mesmo credor; b) Pluralidade de débitos: é o elemento básico da imputação ao pagamento, pois, havendo um só débito seria incogitável a aplicação desse instituto. Somente se pode falar em imputação, havendo uma única dívida, quando esta se desdobra, destacando-se os juros, que são acessórios do débito principal. Neste caso, segundo o art.354 do CC, salvo estipulação em contrário, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos; c) Dívidas da mesma natureza: o objeto das dívidas deve ser coisa fungível de idêntica espécie e qualidade. d) Dívidas líquidas e vencidas: dívida líquida é aquela certa quanto a sua existência e determinada quanto ao seu objeto. A dívida vencida é aquela que se tornou exigível pelo advento do termo. Segundo Gagliano e Pamplona (2014, p.244), apesar do CC/02 mencionar como um dos critérios para a imputação do pagamento, as dívidas serem líquidas e vencidas, poderá, no entanto, por meio do consentimento do credor, fazer imputação do pagamento de dívida ilíquida e não vencida, uma vez tratar-se de uma relação jurídica privada onde há o predomínio da autonomia da vontade. Gagliano e Pamplona (2014, p.244) advertem que, salvo anuência do credor, o devedor não poderá imputar pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado, pois, conforme o art.314 do CC o pagamento parcial só é possível quando permitido pelo credor. Ex: João deve R$150,00, R$200,00 e R$250,00 a Paulo. João não poderá imputar pagamento ofertando o valor de R$100,00, uma vez que estaria constrangendo o credor a aceitar o pagamento parcial e consequentemente estaria violando o princípio da indivisibilidade. 2. ESPÉCIES DE IMPUTAÇÃO O pressuposto da imputação do pagamento é do devedor ter o direito de declarar, quando paga, qual o débito que pretende satisfazer, art.352 do CC. No entanto, quando não declara esse direito passa para o credor, art.353 do CC. Porém, se nenhuma das partes exerce, no momento adequado, a prerrogativa de indicar em qual débito a oferta deve ser imputada, a própria lei determinará qual deles será quitado, art.355 do CC (Gonçalves, 2016, p.323). É com base nos arts.352, 353 e 355 do CC, que se pode afirmar que há três espécies de imputação do pagamento: 2.1. imputação por indicação do devedor; 2.2. imputação por vontade do credor; 2.3. imputação em virtude da lei (Gonçalves, 2016, p.324-327). 2.1. Imputação por indicação do devedor Por força do art.352 do CC, se o devedor tiver duas ou mais dívidas líquidas e vencidas e da mesma natureza, com o mesmo credor, terá o direito de indicar, quando for pagar, qual das dívidas que deseja saldar. Entretanto, esse direito pode sofrer algumas restrições: a) O devedor não pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida SE O PRAZO SE ESTABELECEU EM BENEFÍCIO DO CREDOR. Porém, conforme já se afirmou, pelo princípio da autonomia da vontade, o credor poderá renunciar esse seu direito e aceitar a imputação de dívida vincenda. b) O devedor não pode, também, imputar o pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor pago, pois, conforme o art.314 do CC o pagamento parcial só é possível quando permitido pelo credor. c) O devedor não pode, ainda, pretender que o pagamento seja imputado no capital – na dívida principal – quando há juros vencidos, salvo estipulação em contrário ou se o credor passar a quitação por conta do capital. A razão dessa vedação está no fato de o credor ter o direito de receber, primeiramente, os juros, e depois o capital. Ex João, no mês de março, compra no depósito de Paulo dez caixas de porcelanato, no valor de R$1.500,00 e divide em dez vezes. No mês de abril, João vai novamente ao estabelecimento de Paulo e compra 4 pias, 4 torneiras e 4 chuveiros, totalizando R$1.500,00 e divide em dez vezes. Ocorre que as parcelas referentes a primeira compra estão atrasadas dois meses e a da segunda compra um mês. Supondo que os juros serão calculados no valor de 1% ao mês tem-se: a primeira compra R$1.500,00+1%= 1.515,00, logo o valor da primeira parcela atrasada da primeira compra é: R$150,00+15,00=165,00. A segunda prestação atrasada da primeira compra será: 1.515,00+1%= 1.530,15, logo o valor da segunda parcela da primeira compra é de R$ 180,15 (R$150,00 + 30,15). O total de juros da primeira compra é R$45,15. A segunda compra R$1.500,00+1%=1.515,00, logo o valor da prestação em atraso será de R$165,00. Somando- se os juros das compras tem-se R$60,15 (15,00+30.15+15,00). Ocorre que João oferece a Paulo R$405,30 para saldar as duas parcelas em atraso da primeira compra. Porém, Paulo terá o direito de receber os juros, R$60,15 e depois a imputação das duas parcelas em atraso da primeira compra, ou seja, R$165+180,15=345.15. Não havendo nenhuma dessas limitações e tendo a limitação observado todos os requisitos legais, não pode o credor recusar o pagamento oferecido, sob pena de caracterizar a mora accipiendi, que autoriza o devedor a valer-se da ação de consignação (Gonçalves, 2016, p.325). 2.2. Imputação por vontade do credor A imputação por vontade ou indicação do credor, se dá na hipótese do devedor não declarar qual das dívidas quer pagar. Logo, se o devedor aceita a quitação na qual o credor declara que recebeu o pagamento, por conta de determinado débito, dentre outros existentes, sem formular objeções, e não havendo dolo ou violência deste, reputar-se-á válida a imputação. 2.3. Imputação em virtude da lei Decorre quando o devedor não indicar qual das dívidas que prefere saldar e nem o credor fizer a imputação no momento de fornecer a quitação, ou seja, a quitação é omissa quanto à imputação, art.355 do CC. É assim, diante dessas circunstâncias, que a legislação civil determina os critérios para a imputação legal. São eles (Gonçalves, 2016, p.326): a) Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, art.354 do CC; b) Entre dívidas vencidas e não vencidas, a imputação far-se-á nas primeiras; c) Se algumas forem líquidas e outras ilíquidas, a preferência recairá sobre as primeiras; d) Se todas as dívidas forem líquidas e vencidas ao mesmo tempo, considerar-se-á paga a mais onerosa. Vale ressaltar que a dívida mais onerosa não se restringe àquela de maior valor, mas inclui também àquela que tem algum gravame, como hipoteca; a que pode ser cobrada pelo rito executivo, comparada à que enseja somente ação ordinária. Destarte, o Código Civil não prevê a solução para a hipótese de todas as dívidas serem líquidas, vencidas ao mesmo tempo e igualmente onerosas. A jurisprudência aplicada ao tempo do CC/1916, determinava para essa situação, a aplicação por analogia do art.433, IV, do Código Comercial, pelo qual, “sendo as dívidas da mesma data e de igual natureza, entende-se feito o pagamento por contade todas em devida proporção”. Porém, o art.2045 do CC/02 revogou a Primeira Parte do Código Comercial, no qual estava inserido o art.433. Dessa forma, afirmam Gonçalves (2016, p.326) e Gagliano e Pamplona Filho (2014, p.246), que se tratando dessa possibilidade, deve-se continuar a aplicar essa analogia, uma vez a legislação ,ser omissa .
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