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Pontifícia Universidade Católica do Paraná Curso de Direito Núcleo de Prática Jurídica – NPJ PERÍODO/ TURNO 8º C – Matutino NOME DO ALUNO(A) Regiane dos Santos Reguelim PROFESSOR(A) Thiago Thomaz Kaspchak CÍVEL / PENAL Penal NOME DO TRABALHO REVISÃO CRIMINAL Local, (dia /mês/ ano) Curitiba, 17 de novembro de 2016. EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ Processo de Execução nº 5000414-33.2016.8.16.0000 Requerente: LUCAS SILVA NUNES Requerido: MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ LUCAS SILVA NUNES, brasileiro, casado, segurança, inscrito no RG nº 10810185-0, e no CPF nº xxx, residente na Rua Anselmo Pedro Nonino, nº 300, Vista Bela, no município de Londrina, estado do Paraná, por intermédio de seu advogado infra-assinado (procuração anexa), OAB xxx, endereço xxx, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar REVISÃO CRIMINAL Com fulcro no artigo 621, inciso I, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 1. Síntese fática e processual Trata-se de revisão criminal em razão da condenação do requerente como incurso nos artigos 217-A, e 71, ambos do Código Penal. Em tese, teria o requerente cometido estupro de vulnerável contra sua enteada, CVRS, com oito anos na época, pelo que foi condenado à pena de 19 anos, 1 mês e 14 dias de reclusão. Foi preso em 19/09/2012. A denúncia foi recebida em 19/10/2012 e a audiência ocorreu em 18/12/2012, oportunidade em que foram ouvidas dez testemunhas. Em 09/01/2013, foram inquiridas mais quatro testemunhas. A sentença foi proferida em 28/02/2016, condenando o requerente a 19 anos, 1 mês e 14 dias. O acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná, publicado em 03/10/2013, deu provimento ao recurso do Ministério Público, majorando a pena para 24 anos, 04 meses e 15 dias de reclusão. 2. Fundamentação 2.1 Cabimento Nos termos do artigo 621, I, do Código de Processo Penal, “a revisão dos processos findos será admitida quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidencia dos autos”. Segundo Tourinho Filho, trata-se de remédio jurídico-processual por meio do qual se provoca o reexame de uma decisão.1 E continua afirmando que por meio da revisão criminal é permitido “reabrir-se o processo em que se cometeu injustiça, rasgando-se o selo da intangibilidade”.2 No caso dos autos, a perícia realizada no IML demonstrou que a suposta vítima teria sido estuprada, todavia, sem quaisquer indícios de que teria sido o requerente. Além disso, a tia da suposta vítima, sua mãe e os vizinhos fizeram declarações que evidenciam a boa conduta e boa índole do acusado. Em que pese a ausência de indícios e fragilidade probatória, o requerente foi condenado à pena excessivamente rigorosa, buscando-se apenas imputar a responsabilidade a alguém, independentemente de sua culpa. No caso, o requerente foi a vítima na ação penal pública de autos nº 2012.7870-5, posto que foi utilizado como “bode expiatório” de um crime que não cometeu. Assim, evidente a necessidade de revisão do processo, nos termos do artigo 621, I, do Código de Processo Penal, e com fulcro no princípio do in dubio pro reo. 1 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 803. 2 Ibidem, p. 922. 3. Mérito A informante, Vanderleia dos Santos, informante, relatou que a suposta vítima teria contado sobre o suposto estupro, mas não teve certeza, pois no passado a suposta vítima teria acusado indevidamente um namorado de sua tia de cometer estupro e nada havia ocorrido. Além disso, afirmou que o requerente é pessoa de boa índole, isenta de qualquer suspeita, e que não ficava sozinho com a suposta vítima. Além disso, a própria genitora da suposta vítima afirmou que não acredita nem desacredita em sua filha, uma vez que já mentiu no passado e o requerente não ficava sozinho com ela. A vizinha, Sandra Berbet, relatou que a mãe da suposta vítima havia comentado que o requerente tinha nojo de fazer sexo anal e oral. No mesmo sentido, afirmou o marido de Sandra Berbet, Gildásio. Interrogado, o requerente afirmou que a acusação se deu em razão de vingança de sua cunhada, pois teriam discutido na semana anterior. Além disso, o irmão da suposta vítima já teria sido pego em cima dela e embaixo da cama diversas vezes. Destacou que não ficava a sós com a suposta vítima, mas que ela ficava estranha após voltar das visitas ao pai biológico, presidiário. São vários os elementos probatórios favoráveis à inocência do requerente, nada obstante, estes foram desconsiderados em razão de uma valoração probatória equivocada, considerados apenas os frágeis indícios de suposta culpa do requerente. Assim, é necessário que a pena imposta seja revista para que seja o requerente absolvido. Conforme leciona Fernando da Costa Tourinho Filho: A atividade jurisdicional, como outra de qualquer setor da atividade humana, está sujeita a erros. A justiça é feita pelos homens, simples criaturas humanas, sem o dom da infalibilidade. [...] Aliem-se, ainda, a ilusão, a emoção, a falta de atenção, o transcurso do tempo, a brevidade da percepção e outras causas. Tudo são fatores que produzem má apreciação do fato objeto do processo. [...] Não houvesse órgãos jurisdicionais hierarquicamente superiores para controlar e reexaminar as decisões provindas dos órgãos inferiores, inegavelmente a situação seria de descalabro. Mesmo fazendo uso dos meios legais de impugnação da decisão, há um momento em que impossível se torna outra reexame: quando se esgotam todas as instâncias. O ato jurisdicional torna-se irrecorrível, e a sentença, justa ou injusta, é considerada inatacável e irrevogável. Torna-se ela, então, inimpugnável (coisa julgada formal), impedindo, também, que em outro qualquer juízo se instaure outro processo sobre o mesmo litígio (coisa julgada material).3 (sem grifos no original) A justiça não se consubstancia em simplesmente punir alguém, tirando-lhe sua liberdade, mas em provar a autoria e a materialidade do crime imputado à pessoa de forma sólida, o que não se deu no caso presente, conforme se nota na instrução probatória realizada. Tal circunstância se adequa perfeitamente ao artigo 621, I, do 3 Ibidem, p. 921. Código Processual Penal: Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos. Nesse sentido, Ada Pellegrini Grinover leciona que a revisão criminal é medida excepcional que “ocorre quando a sentença se reveste de vícios extremamente graves, que aconselha a prevalência do valor justiça sobre o valor certeza.4 Assim, tendo em vista que não foi demonstrada a autoria do crime imputado ao recorrente, pugna-se por sua absolvição, nos termos do artigo 626, do Código Processual Penal: Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo. Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista. No presente caso, as provas, conforme destacado anteriormente, apenas evidenciam a boa conduta social do recorrente, sem que haja quaisquer provas de que cometeu o suposto estupro de incapaz. Em relação à prova pericial, não foi encontrado DNA do recorrente. É uma lástima o fatoocorrido com CVRS, todavia, não há demonstração de autoria do recorrente! Como a própria tia da vítima relatou, ela já havia mentido anteriormente imputando a outra pessoa o mesmo delito. Ora, excelência, não parece crível ignorar tal fato. Sobre o fato de CVRS descrever os atos sexuais, o que não ocorre com uma criança que não foi vítima de abuso, cabe destacar que não é isso que se questiona na presente revisão, mas sim o fato de que se o abuso sexual ocorreu, não foi perpetrado pelo recorrente, devendo ser absolvido, nos termos do artigo 626, do Código de Processo penal, supracitado, e artigo 386, V e VII, do referido diploma legal. Sobre a possibilidade de absolvição, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Paraná: REVISÃO CRIMINAL DE ACÓRDÃO – CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO CRIME INSERIDO NO ARTIGO 33 ‘CAPUT’, DA LEI 11.343/2006 – PEDIDO EM QUE SE ALEGA A AUSÊNCIA E FRAGILIDADE DE PROVAS DA AUTORIA – SENTENÇA LASTREADA NA PALAVRA DOS POLICIAIS MILITARES – ABORDAGEM REALIZADA POR UM ÚNICO MILICIANO, DEMAIS AGENTES NÃO PRESENCIARAM A REVISTA PESSOAL, NO VEÍCULO E A APREENSÃO DA DROGA – DEPOIMENTO DO POLICIAL QUE NÃO CONDIZ COM O DEPOIMENTO DAS DEMAIS TESTEMUNHAS DE DEFESA – DECLARAÇÃO DESARMÔNICA COM OS DEPOIMENTOS Revisão Criminal de Acórdão nº 1.418.354-7 - fls. 4 GRINOVER, Ada Pellegrini; et al. Recursos no processo penal: teoria geral dos recursos, recursos em espécie, ações de impugnação, reclamação nos tribunais. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 237. 2PRESTADOS EM JUÍZO E A PERÍCIA REALIZADA NO VEÍCULO – AUSENTE PROVA DE ESTAR O REQUERENTE PRATICANDO O ATO ILÍCITO OU DE POSSE DE SUBSTANCIA ENTORPECENTE – DECISÃO CONDENATÓRIA CONTRÁRIA À EVIDÊNCIA DOS AUTOS - ARTIGO 621, I, DO CP - ABSOLVIÇÃO - ARTIGO 386, VII DO CPP. O testemunho de policias é fundamental para a elucidação da verdade real, e que merece, em regra, credibilidade. Mas também é verdade que os depoimentos de policiais devem ser harmônicos com o restante do conjunto probatório dos autos, principalmente quando as investigações se norteiam em demais elementos de prova que, quando enfrentados em Juízo, não confirmam a versão apresentada pelas autoridades policiais. Por decisão contrária à evidência dos autos, a doutrina de Norberto Avena ensina que: "é a decisão que condena o réu à revelia de qualquer prova ou com base em elementos desprovidos do mínimo de razoabilidade" (AVENA, NORBERTO. PROCESSO PENAL, 6ª EDIÇÃO, pg.1325). Enquanto Denilson Feitoza, acrescenta que "Contrária à evidência dos autos, é a sentença que se distanciar por completo da prova produzida, resguardando o princípio do livre convencimento do juiz". (FEITOZA, DENILSON. Revisão Criminal de Acórdão nº 1.418.354-7 - fls. 3DIREITO PROCESSUAL PENAL, EDITORA IMPETUS, 6ª EDIÇÃO, pg.1119). REVISÃO CRIMINAL PROCEDENTE (TJPR - 3ª C.Criminal em Composição Integral - RCACI - 1418354-7 - Cruzeiro do Oeste - Rel.: Arquelau Araujo Ribas - Unânime - - J. 11.08.2016, grifou-se) REVISÃO CRIMINAL Nº 1.417.747-8 - DA COMARCA DE GUAÍRA - VARA CRIMINAL, FAMÍLIA E SUCESSÕES, INFÂNCIA E JUVENTUDE E JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. [...]1.1 FUNDAMENTO DO PEDIDO READEQUADO PARA O TRAZIDO NO ART. 621, INCISO I, C/C O ART. 626, AMBOS DO CPP, POR EVIDENCIADA DECISÃO CONTRÁRIA AO TEXTO EXPRESSO DA LEI PENAL, EM PARTE (CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS), E POR DECISÃO CONTRÁRIA ÀS EVIDÊNCIAS DOS AUTOS (CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO) […] 2.2 PENA BASE. REQUISITO ‘CULPABILIDADE’ HAVIDO COMO DESFAVORÁVEL COM BASE EM FUNDAMENTO INIDÔNEO.EXTIRPAÇÃO, DE OFÍCIO. 2.3 PENA BASE REDUZIDA COM EFEITOS NA PENA DEFINITIVA. 3. CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA ESTADO DO PARANÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Revisão Criminal nº 1417747-8 2O TRÁFICO DE DROGAS. PROVAS INSUFICIENTES. DELITO NÃO CARACTERIZADO. ABSOLVIÇÃO, DE OFÍCIO (ART. 386, VII, DO CPP). REVISÃO CRIMINAL PARCIALMENTE PROCEDENTE, COM MEDIDAS DE OFÍCIO. (TJPR - 4ª C.Criminal em Composição Integral - RCS - 1417747-8 - Guaíra - Rel.: Sônia Regina de Castro - Unânime - - J. 09.06.2016, grifou-se) REVISÃO CRIMINAL - TENTATIVA DE ESTUPRO - CONDENAÇÃO -AUTORIA E MATERIALIDADE NÃO COMPROVADAS - IN DUBIO PRO REO - SENTENÇA CONTRÁRIA À EVIDÊNCIA DOS AUTOS - ART. 621, INC. I, CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - REVISÃO PROCEDENTE – ABSOLVIÇÃO. Demonstrado cabalmente que a sentença condenatória contraria a evidência dos autos, outra solução não resta a não ser julgar procedente o pedido revisional, com a consequente absolvição do Requerente. REVISÃO PROCEDENTE. (TAPR - Segundo Grupo de Câmaras Criminais (extinto TA) - RC - 144025-7 - Santo Antônio do Sudoeste - Rel.: Idevan Lopes - Unânime - - J. 23.02.2000, grifei) Desse modo, espera-se que a sapiência tida pelas Câmaras Criminais do Paraná acima citadas seja aplicada ao presente caso, sendo o recorrente absolvido, pois sua condenação é completamente contrária à evidência dos autos. Caso não seja ao recorrente absolvido, o que não se espera, uma vez que devidamente demonstrado o equívoco nas decisões condenatórias pautadas em frágeis indícios, requer-se a anulação do processo, a fim de que seja realizada nova instrução criminal pautada nos direitos e garantias constitucionais, principalmente no princípio do in dubio pro reo, contraditório e ampla defesa. 4. Pedidos Diante de todo o exposto, requer-se: a) o recebimento da presente revisão criminal, com base no artigo 621, I, do Código de Processo Penal; b) no mérito, a absolvição do revisionando, ante a não comprovação de sua autoria, conforme disposição do artigo 386, VII, do referido diploma legal; b.1) absolvido o recorrente, requer-se a imediata expedição do respectivo alvará de soltura em seu favor, conforme artigo 685, do Código de Processo Penal; c) caso não seja absolvido, o que não se espera, requer-se a anulação do processo, para que seja determinada nova instrução probatória, com base no artigo 626, do Código de Processo Penal, tendo em vista a fragilidade da instrução criminal. Termos em que Pede deferimento. Local xxx, data xxx. Advogado xxx OAB nº xxx
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