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33 RESPONSABILIDADE CIVIL UNIDADE 8: RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL A natureza jurídica da Responsabilidade Civil por danos no exercício da profissão pode ser contratual ou extracontratual. Isto porque aos profissionais liberais se aplicam as noções de obrigação de meio e de resultado, e a responsabilidade decorrente de infração destas obrigações é contratual. Também existe a possibilidade de o profissional violar uma norma regulamentar da sua profissão sem que exista um inadimplemento contratual e, neste caso, a responsabilidade será extracontratual (DINIZ, 2014). Assim se inicia a análise da responsabilidade profissional, identificando se o dano gerado é decorrente de um contrato ou não. Importante também saber se a obrigação objeto do contrato é uma obrigação de resultado ou obrigação de meio, sendo imperioso conhecer a diferença entre estas obrigações: Obrigação de meio é aquela que o devedor se obriga tão somente a usar de prudência e diligências normais na prestação de certo serviço para atingir um resultado, sem, contudo, se vincular a obtê-lo. (...) O advogado não se obriga a obter ganho de causa para o seu constituinte, mesmo com o insucesso do seu patrocínio, fará jus aos honorários advocatícios. (DINIZ, 2014, p. 313). Obrigação de resultado é aquela que o credor tem o direito de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o que se terá o inadimplemento da relação obrigacional. (…) O contrato de empreitada em que há a obrigação do empreiteiro de construir algo, e só se cumprirá se ele efetivamente entregar a obra concluída a seu dono. (DINIZ, 2014, p. 314). Da leitura depreende-se que a responsabilidade do profissional autônomo é subjetiva, mas será objetiva a responsabilidade da empresa que presta serviços por meio de profissionais, sejam eles sócios ou empregados, cabendo-lhe o direito de regresso em face do profissional causador do dano, caso este tenha agido com dolo ou culpa. No exercício profi ssional podem surgir diversos tipos de danos e, para o ressarcimento, será necessário distinguir se a relação é contratual ou extracontratual, se a atividade é de meio ou de resultado e se a responsabilidade terá fundamento na culpa – profi ssional liberal ou no risco – nos casos das empresas e sociedades de prestação de serviços profi ssionais, ou seja, somente a análise do caso concreto poderá dar os elementos necessários à apuração da responsabilidade. O plano da disciplina de Responsabilidade Civil destaca 5 áreas profissionais e o conhecimento de cada uma delas e de outras áreas de interesse deve partir de um estudo detalhado, sendo de maior relevância conhecer as decisões mais recentes sobre o assunto, o que poderá ser feito acessando os sites dos tribunais. Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Responsabilidade Civil 34 Responsabilidade dos Advogados A responsabilidade do advogado é contratual, pois o mandato judicial assim se configura. Na sua atuação judicial, assume obrigação de meio, assim, obriga-se a atuar profissional e eticamente e defender as partes em juízo com a melhor desenvoltura possível, mas não pode garantir o êxito ou a vitória da causa que lhe foi confiada. Em situações, como elaboração de um Contrato, a obrigação do advogado passa a ser de resultado. São situações de responsabilidade do advogado: omissões de providências necessárias para resguardar os interesses do constituinte, desobediência às instruções do constituinte e violação do segredo profissional. A Responsabilidade Civil do Advogado reger-se-á pelas regras de Responsabilidade Civil do Código Civil, pelo disposto no Art. 14 § 4º do Código de Defesa do Consumidor e de forma especial pela Lei 8.906/94 – Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que estabelece no Art. 34 o que é considerado como infração disciplinar, entre as quais destacam-se: VIII - estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou ciência do advogado contrário; XI - abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da comunicação da renúncia; XV - fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a terceiro de fato definido como crime; XVI - deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou de autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois de regularmente notificado; XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o objeto do mandato, sem expressa autorização do constituinte; XXI - recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou de terceiros por conta dele; XXII - reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em confiança. Sobre a Responsabilidade Civil do Advogado, Carlos Roberto Gonçalves (2014) afirma: Não se deve olvidar que o advogado é o primeiro juiz da causa. A propositura de uma ação requer estudo prévio das possibilidades de êxito e eleição da via adequada. É comum, hoje, em razão da afoiteza de alguns advogados, e do despreparo de outros, constatar-se o ajuizamento de ações inviáveis e impróprias, defeitos estes detectáveis ictu oculi, que não ultrapassam a fase do despacho saneador, quando são então trancadas. Amiúde percebe-se que a pretensão devida seria atendível. Mas, escolhida mal a ação, o autor, embora com o melhor direito, torna-se sucumbente. É fora de dúvida que o profissional incompetente deve ser responsabilizado, nesses casos, pelos prejuízos acarretados ao cliente. (GONÇALVES, 2014, p. 362). Neste tópico, fica como sugestão conhecer e relacionar a Responsabilidade do Advogado com a Responsabilidade pela Perda de uma Chance, temática que faz parte da Unidade X do programa da disciplina. Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Responsabilidade Civil 35 Responsabilidade dos Mandatários O mandatário age por meio de um Contrato de Mandato. Neste contrato, o mandatário recebe do mandante poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. Estes poderes são delegados no instrumento denominado Procuração, por isso o mandatário também é denominado procurador. As regras do Contrato de Mandato estão previstas nos Arts. 653 e seguintes do Código Civil, entre as quais destacam-se as seguintes obrigações: Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja. Art. 670. Pelas somas que devia entregar ao mandante ou recebeu para despesa, mas empregou em proveito seu, pagará o mandatário juros, desde o momento em que abusou. O melhor livro para estudar este assunto é o da autora Maria Helena Diniz, o qual compõe a lista de livros do plano de aula da disciplina de Responsabilidade Civil. Esta autora é uma das poucas que trata deste tema em livros de Responsabilidade Civil. Não se deve olvidar que as responsabilidades dos mandatários são também responsabilidade do advogado, pois este também atua por meio de procuração. Ao estudar este assunto, veja que o Código Civil também estabelece uma série de obrigações para o mandante, devendo cada parte da relação contratual responder pelas obrigações não cumpridas. Responsabilidade dos Empreiteiros, Engenheiros e Arquitetos Firmado o contrato de construção, o construtor assume obrigação de resultado, a obra deve ser entregue pronta e acabada, também garantidasa solidez da obra e sua capacidade de servir ao destino prospectado. O termo Contrato de Construção é mais amplo e se subdivide em duas modalidades: a empreitada e a administração. O empreiteiro é o profissional da construção civil (o construtor, o engenheiro, o arquiteto) habilitado legalmente ao exercício da profissão, ou a pessoa jurídica habilitada a construir (DINIZ, 2014). Por esta razão, a responsabilidade do empreiteiro é ético-profissional, pessoal e intransferível. A empreitada pode ser apenas de mão de obra, ou pode incluir também os materiais. No contrato de construção por administração o construtor se encarrega apenas da execução do projeto, não assumindo a responsabilidade técnica nem os riscos inerentes à construção. O construtor-administrador atua como um preposto do proprietário. A responsabilidade do construtor pode ser contratual ou extracontratual, sendo a primeira Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Responsabilidade Civil 36 decorrente do descumprimento culposo das obrigações previstas no contrato e, portanto, uma responsabilidade subjetiva. A responsabilidade extracontratual é de ordem pública e está ligada às responsabilidades do profissional decorrentes do Código de Ética, Lei n°5.196/66 e à Lei das Contravenções Penais. Aqui se inclui a responsabilidade pela perfeição da obra, pela segurança e solidez da obra, a responsabilidade pelos vícios redibitórios, a responsabilidade por danos a terceiros e a vizinhos. Os Artigos 618 e seguintes do Código Civil estabelecem as regras da Empreitada, e as responsabilidades dos contraentes do Contrato de Construção. Na responsabilidade desta área profissional, alguns prazos devem ser considerados, sendo este tópico um dos mais importantes desta temática: • Prazo de garantia da obra: o empreiteiro responde durante 5 anos pela solidez e segurança da obra. – Art. 618 do Código Civil. • Prazo para a propositura da ação de indenização: 180 dias a partir do surgimento do vício ou defeito. – Art. 618, parágrafo único do Código Civil. • Prazo para indagar quanto a defeitos e imperfeições visíveis: até a entrega da obra. – Art. 615 do Código Civil. • Prazo para indagar quanto a defeitos ocultos, que não afetem a segurança e solidez da obra: por 1 ano meses após a entrega da obra. – Art. 445 do Código Civil. Responsabilidade dos profissionais de saúde e dos estabelecimentos de saúde Neste tópico estão os médicos, os dentistas, os veterinários, os enfermeiros, os farmacêuticos, os fisioterapeutas e, no seu contexto, os hospitais, as clínicas, os laboratórios, as farmácias de manipulação, os planos e seguros de saúde. Responsabilidade Civil 37 Os profissionais da área médica, mesmo que sem um contrato formal, assumem uma responsabilidade de natureza contratual, sendo a obrigação dele decorrente em uma obrigação de meio. Estes profissionais, em regra, não podem garantir a cura e somente responderão se provada a culpa, conforme o já citado Art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. No caso da responsabilidade médica, este artigo é reforçado pelo Art. 951 do Código Civil. Como prestador de serviço que é, o profissional da área de saúde tem o dever de informar e orientar pacientes e familiares quanto aos riscos inerentes ao tratamento indicado, conforme previsão do Art. 6° do Código de Defesa do Consumidor. Especialmente vinculados ao dever de informação estão os profissionais que desenvolvem suas atividades voltadas à estética, como os cirurgiões plásticos e algumas especialidades odontológicas, pois o entendimento predominante é que sua obrigação é de resultado. A responsabilidade das clínicas, dos hospitais e dos laboratórios insere-se na responsabilidade objetiva do prestador de serviços. Neste ponto, retoma-se o assunto relativo à responsabilidade indireta do empregador: se o médico, enfermeiro ou fisioterapeuta é empregado do hospital, o empregador responde objetivamente pelo dano causado e cobra regressivamente do empregado, caso este comprovadamente tenha agido culposamente. Caso o profissional de saúde seja autônomo e esteja apenas utilizando a estrutura física, este responderá sozinho pelos danos decorrentes da sua atuação profissional. Neste caso, deve-se considerar situações onde as responsabilidades do médico autônomo e do estabelecimento de saúde se confundem, situação em que haverá uma necessidade maior em analisar a participação de cada um no evento danoso. Quanto aos planos de saúde, tem-se considerado sua responsabilidade de forma solidária com os profissionais e hospitais que seleciona. A Responsabilidade Civil dos profissionais da área de saúde de forma geral, e dos médicos em particular, é assunto polêmico, especialmente por envolver direito à saúde e à vida e por estar sujeita às situações imprevisíveis e às reações inesperadas do organismo humano. Responsabilidade dos tabeliães e escreventes de notas A Constituição Federal de 1988 prevê: Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º - Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Responsabilidade Civil 38 § 2º - Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. § 3º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses. Em razão do texto da lei, que fala em “caráter privado, por delegação do Poder Público”, houve uma dificuldade em identificar a quem competiria a responsabilidade, se ao titular do cartório ou ao Estado. As mais recentes decisões jurisprudenciais orientam para o entendimento de que esta responsabilidade está inserida no Contexto do Art. 37 § 6° da Constituição Federal e, portanto, trata-se de Responsabilidade Objetiva do Estado. Estude os temas aqui tratados, aprofundando-os nos livros indicados na Bibliografia Básica e Complementar do seu Plano de Aula e nas obras disponíveis na Biblioteca da UNIFOR. Lembre-se de tirar suas dúvidas no ambiente virtual e nas aulas presenciais. Aprimore os seus conhecimentos lendo jurisprudências sobre os assuntos aqui tratados, analisando-as criticamente. Bom estudo! Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Freitas Realce Créditos RESPONSABILIDADE CIVIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo professor conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo didático, e foi desenvolvido e implementado por uma equipe composta por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o processo ensino-aprendizagem. Coordenação do Núcleo de Educação a Distância: Lana Paula Crivelaro Monteiro de Almeida Supervisão Administrativa: Denise de Castro Gomes Produção de Conteúdo Didático: Roberta Teles Bezerra Design Instrucional: Andrea Chagas Alves de Almeida Projeto Instrucional: Bárbara Mota Barros, Jackson de Moura Oliveira Roteiro de Áudio e Vídeo: José Glauber Peixoto Rocha Produção de Áudio e Vídeo: José Moreira de Sousa Identidade Visual/Arte: Francisco Cristiano Lopes de Sousa, Viviane Cláudia Paiva Programação/ Implementação: Jorge Augusto Fortes Moura Editoração: Camila Duarte do NascimentoMoreira, Sávio Félix Mota Revisão Gramatical: Luís Carlos de Oliveira Sousa
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