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2016105 151349 Transporte

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2.15 TRANSPORTE
Direito Civil III
Professora Keli Herpich
1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
É o negócio jurídico pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a transportar pessoa ou coisa, a um destino previamente convencionado (art. 730).
Transportador x passageiro/expedidor. 
 No transporte de pessoas, a remuneração chama-se passagem. 
No de coisas, chama-se frete. 
 No transporte de pessoas, o documento chama-se bilhete. 
No de coisas, conhecimento de transporte. 
Art. 731: o transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto no Código Civil.
Art. 732 do CC: Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições do CC, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções internacionais.
 
Legislações que são aplicáveis, desde que não contrariem o Código Civil:
 Código do Consumidor (Enunciado 369);
 Convenção de Varsóvia; 
 Transporte terrestre (rodoviário ou ferroviário): Decreto nº 92.353/89 e Lei nº 10.233/2001;
 Transporte marítimo (alto mar, rios, lagos): CCom, arts. 629 a 632, Lei nº 9.432/97;
 Transporte aéreo: Leis nº. 5.710/71, 6.298/75, 6.350/76, 6.833/80, 6.997/82 e 7.565/89. 
Classificação: 
- Bilateral e oneroso;
- Comutativo;
- Consensual;
- De adesão, na maioria dos casos;
- Não solene;
- Impessoal.
2. Transporte de pessoas
a) Obrigações do passageiro:
Pagar a importância estipulada para o percurso da viagem e apresentar-se na data, hora e local determinados para o embarque;
Não entrar e nem permanecer nos veículos em estado de embriaguez, indecentemente trajado e portar armas sem permissão;
Não fumar no veículo; 
Não viajar em recinto não destinado aos passageiros; 
Não ocupar maior número de lugares do que está consignado no documento da passagem; 
Não se debruçar para fora das janelas do veículo, estando o mesmo em movimento;
Sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, abstendo-se de qualquer ato que cause incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço (art. 738 do CC). 
Observação. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá equitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano (art. 738, parágrafo único). 
b) Obrigações do transportador :
Conduzir o passageiro e suas bagagens do local onde embarca até o destino pretendido, no tempo e modo convencionados, com toda segurança ao transportado, respondendo pelos danos causados, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade (arts. 735 e 737 do CC). 
Qual o momento em que se inicia a responsabilidade civil do transportador?
Observação: somente o caso fortuito externo exime o transportador.
Responder pelos acidentes de trabalho causados aos trabalhadores. 
Em regra a responsabilidade será subjetiva, salvo caracterizada atividade com risco habitual.
Responder perante aos pedestres, no caso de acidentes. 
A responsabilidade será objetiva, desde que o dano não tenha decorrido exclusivamente da atuação culposa do passageiro.
Poderá exigir a declaração do valor da bagagem, a fim de fixar o limite da indenização (art. 734 do CC).
Responsabiliza-se por acidente com passageiro, mesmo que ocasionado por terceiro (art. 735).
Responsabilizar-se por mudanças no itinerário, salvo se ela se der por motivo de força maior (art. 737).
Não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem (art. 739 do CC).
c) Rescisão do contrato pelo passageiro:
Antes de iniciada a viagem, o passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada (art. 740, caput, do CC). 
Depois de iniciada a viagem, é facultado ao passageiro desistir do transporte, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar (art. 740, § 1o do CC).
Se o passageiro deixar de embarcar, não terá direito ao reembolso do valor da passagem, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado (art. 740, § 2o do CC).   
Nestes casos, o transportador terá direito de reter até cinco por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória (art. 740, § 3o do CC).
Se a viagem for interrompida por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte (art. 741 do CC).
d) Direito de retenção pelo transportador:
O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso (art. 742 do CC).
 
3. Transporte de coisas
a) Direitos e obrigações do remetente:
Acondicionamento da mercadoria;
Declaração de sua natureza, valor, peso e quantidade, e o que mais for necessário para que não se confunda com outras (art. 743 do CC); 
Indicar-se pelo nome e endereço;
Entregar a mercadoria em condições de envio;
Pagar o preço convencionado, ressalvada a hipótese deste ser adimplido pelo destinatário;
Recolhimento tributário pertinente;
Até a entrega, terá direito de desistir do transporte, pedido de volta a coisa, ou alterar o destinatário, arcando com as despesas devidas em ambos os casos (art. 748).
b) Direitos e obrigações do transportador:
Receber a coisa a ser transportada, no dia, hora, local e pelo modo convencionado;
Empregar toda a diligência no transporte da mercadoria posta sob sua custódia (art. 749);
Seguir o itinerário ajustado;
Entregar a mercadoria ao destinatário, mediante apresentação do documento comprobatório de sua qualidade de recebedor;
Desnecessidade de comunicar ao remetente a chegada da mercadoria ou de realizar a entrega em domicílio (esta também depende de ajuste), se assim não for convencionado (art. 752 do CC). 
c) Direitos e obrigações do destinatário:
Receber a mercadoria;
Pagar o frete, se não houver sido satisfeito pelo remetente;
Entregar o conhecimento ao transportador (art. 754).
d) Conhecimento de transporte:
É um documento emitido pelo transportador, por ocasião do recebimento da mercadoria, que contém os necessários dados de identificação da mesma (art. 744).
Será entregue ao remetente da mercadoria, que o enviará ao destinatário para o seu recebimento, no lugar de destino.
Firma a legitimidade de terceiro, desde que o apresente endossado, visando à retirada da coisa (art. 754).
O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em duas vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte integrante do conhecimento (art. 744, parágrafo único do CC).
Se o expedidor der informação inexata ou falsa descrição para a expedição do conhecimento, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena de decadência (art. 745 do CC).
Lei nº 11.442/2007: nos contratos de transporte rodoviário de carga, o prazo
será de 1 ano para a reparação dos danos relativos aos contratos de transporte, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano pela parte interessada (art. 18).
e) Recusa do transporte:
Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens (art. 746 do CC).
O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa, cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento (art. 747 do CC).
f) Depósito da coisa a ser transportada:
A coisa depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições relativas ao depósito (art. 751 do CC).
g) Depósito na interrupção ou impossibilidade do transporte (art. 753 e seus parágrafos, do CC):
Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti, instruções ao remetente e zelará pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior. 
Perdurado o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem manifestação do remetente, poderá aquele depositar a coisa em juízo ou vendê-la, depositando o valor. 
Atenção: a alienação é medida extraordinária.
Primeiro: o transportador deve buscar contato com o remetente para obter instruções de como proceder.
Segundo: sem êxito, deverá depositar judicialmente o bem.
Terceiro: sem êxito, deverá tentar a venda. 
Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, por sua conta e risco, mas apenas poderá vendê-la se perecível. 
Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do depósito ou da venda. 
Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará a responder pela sua guarda e conservação.
Neste caso, lhe será devida uma remuneração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte.
h) Entrega/recebimento:
As mercadorias devem ser entregues ao destinatário ou a quem apresentar o conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos. 
No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega (art. 754 do CC).
Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente. 
Se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo (art. 755 do CC).
4. Transporte gratuito e benévolo
Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia. 
Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas (art. 736 do CC). 
Do art. 736, se pode extrair duas situações:
a) Transporte propriamente gratuito ou de mera cortesia: neste caso, se houver acidente e dano causado ao tomador da carona, o juiz deverá analisar a culpa do condutor.
b) Transporte interessado, sem remuneração direta: o condutor não é diretamente remunerado, mas experimenta vantagem indireta, à custa do conduzido.
O transporte motivado por qualquer interesse do condutor justifica a descaracterização do transporte gratuito.
Ver Enunciado 559.
5. Responsabilidade civil
Não valerá a cláusula que exime o transportador de responsabilidade. Será inoperante a cláusula de não indenizar (Súmula 161 do STF). 
No contrato de transporte adota-se o princípio da culpa presumida, embora seja uma presunção relativa, pois admite prova em contrário. 
Transporte de coisas: o transportador apenas se exonera provando força maior ou mau acondicionamento de mercadoria. 
A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento, começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa. 
Termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado (art. 750 do CC).
Transporte de pessoas: também a culpa é presumida, admitindo-se a prova de caso fortuito ou culpa exclusiva do viajante. 
A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é ilidida por culpa de terceiro contra o qual tem ação regressiva (art. 735 do CC/2002; Súm. 187 do STF).
Transporte cumulativo: todos os transportadores respondem solidariamente pelo dano causado perante o remetente.
Ressalva-se a apuração final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano (art. 756 do CC).

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