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Economia Institucional I Bibl: Conceição (2002); Fiani (2011) – Introdução; Neale (1987) Aula 2 – Instituições: conceito, relevância e classificação. 1 O conceito de instituições na EIO • Todas as sociedades enfrentam o problema de como coordenar as atividades dos seus integrantes, aumentando o bem-estar e favorecendo a cooperação (e portanto reduzindo os conflitos). •Nesse sentido, são elaboradas, voluntaria e/ou espontaneamente, algumas regras, que são as instituições dessa sociedade. •As instituições fornecem as regras que permitem a interação das pessoas e os objetos (os “fatores de produção”). 0. A motivação do estudo das instituições - I O conceito de instituições na EIO (Repetindo o slide da aula I) •Há muitas definições de instituições. •Uma clássica é: “Instituições é meramente um termo conveniente para os mais importantes entre os hábitos sociais amplamente prevalecentes e altamente padronizados” (Mitchell, cit. em Neale, p.1178). •Outra definição bastante abrangente é: “São relações humanas que estruturam as oportunidades através de restrições (constraints) e permissões (enablements). Uma restrição para uma pessoa é uma oportunidade para outra. As instituições permitem que os indivíduos façam o que não conseguem fazer sozinhos. Elas estruturam os incentivos utilizados ao calcular as vantagens individuais. Elas afetam crenças e preferências, e dão dicas para a ação não-calculada. Elas fornecem ordem e previsibilidade à interação humana” (Schmid, 2004, p.1). •Em qualquer caso,o importante é lembrar que não existe uma economia com mercado e sem instituições. Aliás, o próprio mercado é uma instituição fundamental. 1. O conceito de instituições - I 1. O conceito de instituições - II • Talvez a perspectiva da OIE possa ser resumida dizendo que o que quer dizer com instituições é o que os cientistas sociais querem dizer com cultura. – “A cultura governa tudo, não no sentido em que os instintos governam as abelhas, mas por definirem o permitido e o proibido, o certo e o errado, o que deve ou o que não deve ser admirado” (Neale, p.1179) • Dentro da visão da NEI, North afirma que: – “Instituições são as regras do jogo numa sociedade ou, mais formalmente, são as restrições desenhadas pelos seres humanos que dão forma à interação entre eles”(cit. em Vatn, p.10) 1. O conceito de instituições - III • Dentro de outras tradições, podemos lembrar as de Berger & Luckmann e a de Scott: –“A institucionalização acontece sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais por parte de tipos de atores. Dito de outra maneira, essa tipificação é uma instituição” (Berger & Luckmann) – “As instituições consistem de estruturas e atividades cognitivas, normativas e regulatórias que dão estabilidade e sentido à conduta social. As instituições são levadas por vários portadores (carriers) – culturas, estruturas e rotinas – e operam em múltiplos níveis de jurisdição” (Scott) 1. O conceito de instituições - IV • Vatn afirma que “Instituições são as convenções, normas e regras formalmente sancionadas de uma sociedade. Elas fornecem expectativas, estabilidade e sentido, essenciais para a existência humana e para a coordenação. As instituições regularizam a vida, sustentam valores e produzem e protegem interesses” (p.60) • O denominador comuns de todas estas conceituações está em que há algo na conduta individual que não depende apenas das decisões de cada um, mas que decorre de algumas características da sociedade em que a pessoa está e/ou na que foi criada – Obs. 1: dado que isso muda, a pessoa pode mudar e escolher dentro das opções vistas como razoáveis por essa sociedade. – Obs. 2: por sua vez, toda sociedade tem uma “ação coletiva” que, nas sociedades democráticas, ocorre através do processo legislativo. 1. O conceito de instituições - V • É importante notar uma diferença de ênfase: –NIE em geral enfatiza as instituições como limites. –OIE destaca também seu papel como “permitidoras” (p.ex., as regras de linguagem determinam o que não pode ser dito, mas não o que será dito). –OIE também destaca seu papel como constitutivas dos indivíduos, enquanto NIE não dá (muita) ênfase a esse aspecto. • Veja-se que as instituições não estão “lá fora, como uma vaca ou um templo budista”. As instituições são um arranjo observável de atitudes de pessoas (são algo objetivo mas ao mesmo tempo algo que depende de interpretação). 2. Motivos que explicam a presença de instituições - I • O problema básico das instituições é explicar a ordem social (por que não estamos em um mundo hobbesiano). • Instituições tornam previsível a conduta dos outros: –Transmitem informação. – Reduzem a necessidade de deliberação. • Instituições reduzem (ou aumentam) custos de transação. • Podem resolver problemas de escolhas em situações de “equilíbrios múltiplos”. 2. Motivos que explicam a presença de instituições - II • Instituições tendem a ser estáveis (permitem convergência de expectativas). • Instituições limitam a ação de X mas também permitem a ação de Y. • Desde uma perspectiva construtivista, tanto as capacidades sociais dos indivíduos quanto a maneira em que enxergam o mundo estão socialmente construídas. • As motivações para seguir uma instituição podem ser internas (hábito, acordo, culpa, etc.) ou externas (medo de sanções) 3. Elementos que compõem as instituições Neale Pessoas Regras Interpretações (folkviews) North Pessoas Regras Analogia do esporte competitivo 4. Tipos de regras Formais x Informais Da Constituição às regras do condomínio: regras formalmente sancionadas Convenções: Regras auto-impostas, como as de trânsito, ou que convém respeitar, como os pesos e medidas Normas de conduta: - Controladas por outros (retaliação). - Controladas por terceiros (normas sociais). - Auto-impostas (padrões éticos). (Rotinas?). 5. Tipos de instituições - I •As instituições têm uma dimensão microeconômica e uma macroeconômica. •Ao nível micro, elas permitem identificar o arranjo mais adequado para uma determinada transação (p.ex., se compro ou alugo o escritório, se contrato um serviço ou o terceirizo, se convém pedir tal tipo de garantias para realizar certa transação ou se isso só encarece os custos totais, etc.). •Ao nível macro, permitem entender como surgem e evoluem as instituições coordenadoras das interdependências. Dentro disso, é essencial entender como intervém o estado no processo de desenvolvimento. 5. Tipos de instituições - II • Normas e convenções: não codificadas, geralmente aceitas, muitas vezes auto-impostas. • Regras (working rules): têm um caráter formal. São algo socialmente transmitido que dizem que em certas circunstâncias X deve se fazer Y. – Podemos classificá-las de acordo com o que dizem ao indivíduo a respeito de se: • deve fazer algo ou não (obrigação); • pode fazer algo ou não (liberdade); • pode fazer algo com a ajuda do poder coletivo (direito); • não pode esperar que o poder público faça algo (incapacidade). – “Habituação” é o processo pelo qual o indivíduo se engaja na obediência às regras estabelecidas. 5. Tipos de instituições - III • Relações de propriedade: são uma relação triádica entre uma pessoa (muitas), um objeto (muitos) e o resto da sociedade. – A propriedade normalmente é limitada, o que é uma restrição para a pessoa e uma liberdade para os outros. – As relações de propriedade permitem definirquem assume os custos. – Mudanças tecnológicas podem exigir a nova discussão da distribuição dos custos. – Os direitos de propriedade também implicam em regras de obrigação (liability, posso exigir compensação) e de inalienabilidade 5. Tipos de instituições - IV • Em princípio, instituições são as regras gerais de organização social, enquanto que organizações são grupos de indivíduos ligados por conjuntos de regras específicas. • Para alguns autores, as organizações podem ser vistas como tipos especiais de instituições que envolvem: – a) critérios para definir seus limites e separar seus membros dos seus não-membros. – b) princípios de soberania que definem quem manda. – c) cadeias de responsabilidade que definem responsabilidades no interior da organização. 6. Ambiente institucional e arranjo institucional • Uma conceituação importante é feita por Douglass North, separando os conceitos de ambiente institucional e arranjo institucional. • O ambiente é o conjunto de regras que permitem o funcionamento de uma sociedade, como as leis, a Constituição, etc. • Arranjo institucional é um tipo de acordo entre unidades econômicas, que permite que elas possam cooperar e competir. • Os diversos arranjos institucionais permitem ver a forma em que uma sociedade determinada funciona dentro de um ambiente específico. 7. Mudança institucional • Uma das consequências (e das vantagens da existência) das instituições está em que tornam a ação humana previsível. • Logo, há uma tendência a existir uma certa inércia institucional; além disso, a situação em que uma sociedade se encontra em um determinado momento estará condicionada pelas instituições adotadas no passado (path dependency). • Todavia, as instituições mudam, e uma das grandes questões é entender como esse processo ocorre. • Os institucionalistas em geral supõem que ocorre entre as instituições um processo de seleção análogo à evolução das espécies.
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