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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: Português IV Coordenador: Ronaldo Amorim Lima AP2 – 2016. 2 (GABARITO) Revise suas respostas com muita atenção, evitando cometer erros ortográficos, discursivos e/ou gramaticais, pois eles serão considerados na sua avaliação. (1,0 ponto) I – Leia o texto abaixo e, em seguida, considerando a morfologia da Língua Portuguesa, faça as tarefas. Uma noite no bolero (texto adaptado) – Carlos Heitor Cony Os festivais antigamente eram festejos dos outros. Havia a citação obrigatória: "Em seguida, o festejado autor...". Ora, se Maomé não vai à montanha que a montanha vá a Maomé, donde: se ninguém festeja os escritores, nada de mais que os próprios se festejem. Os latinos tinham para isso uma frase amarga: "Asinus asinus fricat". Se os burros podem se coçar uns aos outros, a analogia é válida: que os inteligentes cocem os inteligentes. Confraternização da Cultura Brasileira (Noite da). Palavras assim existem para essas horas. O gênio passeando pelos corredores empoeirados do Shopping Center, aferindo o próprio sucesso. A crítica recebeu muito bem o livro, o Adonias chamou-o de Faulkner e o Brito Broca de Flaubert. Ninguém sabe o que está perdendo, mas ali está Flaubert dentro de Faulkner, e ambos dentro do sujeito magro e de paletó mal feito. Vem a bandeja dos salgadinhos e Faulkner se atrapalha com a azeitona que caiu do palito de Sartre (há Sartre também no Shopping Center). Quem apanha a azeitona é o Dostoiévski do Piauí. Humildemente, com a insignificância de ovelha negra da classe, mastigo um magro pastel, sossegado e livre, perto do bar onde servem whisky. Aperto a mão de Sainte-Beuve e cumprimento obliquamente Henry Miller, que passa de braços dados com o Antonio Callado. Pound me pergunta onde tem água mineral, eu aponto o fundo do bar, onde Balzac conta uma anedota envolvendo papagaio e mulher da vida. Saio do bar, evito Tolstói, que me deve R$ 500, espremo um lugarzinho entre Faulkner-Flaubert e empurro John dos Passos para conseguir um sanduíche. Abro o pão: tiraram o salame. Passa perto de mim o próprio Homero mastigando meu salame. Confraternização da cultura universal. Armaram minha humilde tenda em frente à barraca do Graham Greene, o qual perambulava pelo Brasil como um delegado de um congresso pró-liberdade de não sei mais o quê. Não adiantou o poeta Walmir Ayala armar comício em frente à minha tenda: todo mundo ia para a barraca do autor do "Terceiro Homem". Mas não havia terceiro, nem segundo, nem homem algum na barraca do Graham Greene. Pela minhas barbas passaram Alceu de Amoroso Lima, Gustavo Corção e Antonio Carlos Villaça. Naqueles tempos, os três rezavam e liam pelo mesmo catecismo e cartilha. Procuravam o autor de "Ensaios Católicos" para uma missazinha no Mosteiro de São Bento ou uma palestra sobre a Eucaristia no Centro Dom Vital. Procuraram, procuraram, esperaram, esperaram, até que ficaram desanimados: Graham Greene não viria ao Festival. Começaram a empilhar os livros, as fãs se dispersavam e a santíssima trindade do Centro Dom Vital foi para casa. Saí de lá quando no apagar das luzes. Não havia jantado e de repente desemboquei na calçada do Bolero, dando sopa para um sanduíche com chope honesto. Do andar de cima vinha o som da orquestra, aquele pianista que parece o Orson Welles dando socos no piano sem marfim. Subi para ver as caras, há muitos anos não penetrava naquela pastagem do pecado. No canto mais escuro da sala, silhueta enorme e meio curva, vi Graham Greene com uma loura a tiracolo. Greene nem tirara da lapela aquele laço com nome e endereço que os congressistas usam para chamar a atenção dos que não dão atenção a nada. A orquestra tocava "A Noite do meu Bem", mas Greene teimava em cantar Siboney. A loura ria e o escuro da sala acentuava a caverna de sua boca com maus dentes. Desci correndo à procura de um telefone. Mas as redações estavam fechadas. Tentei telefonar para o Alceu, o Corção, o Villaça. Mas o único telefone que encontrei foi o do Corção, inútil por sinal, o professor desliga seu aparelho após o canto das "Completas" e só torna a ligá-lo após as "Matinas" do novo dia do Senhor que se lhe abre à frente. Villaça devia estar dormindo, e nem o Pão de Açúcar em erupção o despertaria. Saí então em busca de testemunhas. No "Le Roind Point" encontrei Antonio Maria e Paulo Francis. Voltamos ao segundo andar do Bolero. Graham Greene já tinha saído. Mas o garçom confirmou a história: "O inglês deu uma boa gorjeta. Sim, sim, levou a loura". Página Ilustrada da Folha de SP, 4 dez.2009. Disponível em: http://camelolendo.blogspot.com.br/2010/01/uma-noite-no-bolero-carlos-heitor-cony.html. Acesso em: 20 abr.2014. 1 Considerando os verbos “haver” e “amar”, explique a diferença entre verbos regulares e irregulares. (2,0 pontos) RESPOSTA: Verbo regular é aquele cujo radical se mantém invariável, enquanto sua vogal temática e desinências (modo-temporal e número-pessoal) se comportam, em todas as formas, de acordo com o paradigma de sua conjugação. 2 Em que tempo, modo, pessoa e número se encontram as formas “rezavam” e “liam”? Compare os elementos mórficos das duas formas verbais e comente. (1,5 ponto) Valor aumentado em 0,5 ponto. RESPOSTA: Ambas as formas se encontram na terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito do modo indicativo. Existe, entretanto, uma diferença entre as desinências modo-temporais de seus paradigmas: va/ve na primeira conjugação e (i)a/(i)e na segunda conjugação (como também na terceira conjugação). 3 As formas “garçom”*, “sanduíche”, “whisky” e “shopping center” são palavras de origem inglesa, mas encontram-se em franco uso na nossa língua. Analise essas formas, considerando os conceitos de estrangeirismo e, mais especificamente, o de xenismo. (1,0 ponto) RESPOSTA: Estrangeirismos são palavras de origem estrangeira que são incorporadas ao léxico** de uma língua. Algumas dessas palavras ganham nova ortografia para se adaptar ao sistema vigente, enquanto outras permanecem com sua grafia original. A este último caso, dá-se o nome de xenismo. * A palavra “garçom” é de origem francesa. ** Léxico é o conjunto de palavras de uma língua. Quando se fala em léxico, quer-se referir ao vocabulário. 4 Utilizando as palavras sublinhadas no texto como exemplos, defina derivação prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria. (2,0 pontos) RESPOSTA: Derivação parassintética ou parassíntese é o processo em que um prefixo e um sufixo, simultaneamente, se agregam a um radical para formar uma nova palavra: “empoeirados”. Derivação prefixal é o processo em que um prefixo se agrega a uma palavra para formar uma nova palavra: “insignificância”. Derivação sufixal é o processo em que um sufixo se agrega a uma palavra para formar uma nova palavra: “obliquamente”. Derivação imprópria ou conversão é o processo em que uma palavra muda de classe gramatical em face de uma função sintática que não lhe é própria: “do apagar”. Derivação regressiva é o processo em que um verbo dá origem a um substantivo abstrato: “procurar” → “procura”. II - Em 25 de julho de 2013, o Papa Francisco, em visita à Comunidade de Varginha, no Rio de Janeiro, discursou para os moradores daquele local. Abaixo, destacamos o seguinte trecho do discurso: “Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeiteou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Lembremo- nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!...” 5 Na palavra “sobretudo”, é ainda bem nítido o processo que a formou. Esse processo de formação se divide em dois tipos principais. Nomeie-os e explique- os. (1,5 ponto) Valor aumentado em 0,5 ponto. RESPOSTA: O processo em questão é a COMPOSIÇÂO, que se divide em dois tipos principais: a JUSTAPOSIÇÃO e a AGLUTINAÇÃO. Na justaposição duas ou mais palavras, de significados distintos, se unem, sem perder nenhum de seus elementos, para formar uma outra palavra com outro significado. É o caso de “sobretudo”, em que se tem a junção da preposição “sobre” com o pronome indefinido “tudo” Na aglutinação, ocorre o mesmo fenômeno, havendo entretanto perda de elementos em alguma das palavras primitivas. Por exemplo: em “planalto” → “plano” + “alto”, ocorre a perda do elemento –o. 6 Pelo olhar sincrônico, é certo afirmar que as palavras “incômoda”, “individualismo” e “injustiça” são formadas pelo mesmo processo? Justifique sua resposta. (1,0 ponto) RESPOSTA: Não. Pelo olhar sincrônico, o processo de formação das palavras “incômoda” e “injustiça” é nitidamente a derivação prefixal (acréscimo do prefixo in-). Na palavra “individualismo”, é possível observar a derivação sufixal (acréscimo do sufixo -ismo).
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