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RIBEIRO O Direito Internacional Humanitário contemporâneo e a responsabilidade de proteger

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O DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO CONTEMPORÂNEO E A 
RESPONSABILIDADE DE PROTEGER 
 
Pedro Arnaldo Ribeiro
1
 
 
RESUMO: Este artigo tem como objeto de estudo a evolução do Direto Internacional 
Humanitário a partir da Guerra Fria e os fatores que levaram à construção do conceito 
da Responsabilidade de Proteger. Apresenta a evolução conceitual do Direito de 
Ingerência, passando pela noção de Intervenção Humanitária até chegar à doutrina da 
Responsabilidade de Proteger. Analisa a forma como a R2P é abordada no âmbito do 
Direito Internacional Humanitário e qual o entendimento e a aceitação do conceito em 
pauta por parte da sociedade internacional. Ao final, apresenta quadro cronológico dos 
documentos relacionados à R2P. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Direito Internacional Humanitário, Guerra, Responsabilidade 
de Proteger. 
 
 
ABSTRACT: This article has as purpose of analysis the evolution of International 
Humanitarian Law in and after the Cold War and the factors that led to the concept of 
Responsibility to Protect. It presents the conceptual evolution of the Interference Right 
towards the concept of Humanitarian Intervention up to the doctrine of Responsibility to 
Protect. It analyses how R2P is covered under International Humanitarian Law and how 
international society understands and accepts the concept. Finally, it presents 
chronological framework of the documents related to R2P. 
 
KEYWORDS: International Humanitarian Law, War, Responsibility to Protect. 
 
 
 
 
 
 
1
 Bacharel em Direito pela Universidade Católica do Salvador, Pós-Graduando em Direito Internacional 
pelo Centro de Direito Internacional (CEDIN), Servidor Público Federal. 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 266 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este artigo tem como objeto de estudo a evolução do Direto Humanitário a partir 
da Guerra Fria e os fatores que levaram à construção do conceito da Responsabilidade 
de Proteger. Busca entender como o sistema internacional lidava com as questões 
humanitárias domésticas entre os anos 1945 e 1989 e como a abordagem foi 
paulatinamente alterada após a derrubada do muro de Berlin, ocasião em que se 
observaram dramáticos casos de genocídio, crimes de guerra, crimes contra a 
humanidade e limpeza étnica. 
Para a consecução do objetivo, apresenta a evolução conceitual do Direito de 
Ingerência, passando pela noção de Intervenção Humanitária até chegar à doutrina da 
Responsabilidade de Proteger apresentada pela Comissão Internacional sobre 
Intervenção e Soberania Estatal. Posteriormente, analisa a forma como a R2P é 
abordada no âmbito do Direito Internacional Humanitário e qual o entendimento e a 
aceitação do conceito em pauta por parte dos atores políticos internacionais. Ao final, 
apresenta a cronologia documentos que delimitaram o conceito de R2P, até 2015. 
 
2. ANTECEDENTES TEÓRICOS DA RESPONSABILIDADE DE 
PROTEGER (1945-1989) 
Ao estudar os conflitos armados, a doutrina internacionalista distinguiu os 
aspectos jurídicos dos conflitos armados em duas noções básicas: o jus ad bellum e o jus 
in bello. O primeiro refere-se ao direito dos sujeitos de Direito Internacional Público se 
valerem da guerra para atingir seus objetivos. O segundo corresponde ao conjunto de 
normas que regulam a atuação dos agentes nas situações em que a guerra é um fato: 
tratam de normatizar a condução das hostilidades entre as partes em conflito; a 
concessão de assistência humanitária a não-combatentes; e a limitação da produção ou 
comercialização de armas que coloquem em risco a segurança internacional
2
. 
O surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, possibilitou 
a codificação da doutrina humanitária de maneira mais efetiva. O processo de 
codificação das normas humanitárias expressou-se pelas quatro Convenções de Genebra 
de 1949, que buscavam proteger feridos e enfermos das forças armadas em campanha; 
feridos, enfermos e náufragos das forças armadas do mar; prisioneiros de guerra e civis 
 
2
 MELLO, Celso de Albuquerque. Direito Internacional Público. 15ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. 
P.1497 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 267 
em tempos de guerra. Os dois Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra, de 
1977, estabeleceram balizas para a proteção a vítimas de conflitos internacionais 
(Protocolo I) e a vítimas de conflitos não-internacionais (Protocolo II)
3
. 
No entanto, em virtude do contexto político bipolar, o CSNU dava pouca 
atenção aos temas humanitários. “De 1945 a 1967, nenhuma resolução aprovada pelo 
Conselho fazia menção aos aspectos humanitários de qualquer conflito” 4. Todo o 
processo decisório do sistema ONU se encontrava paralisado pela utilização do poder de 
veto por parte dos membros permanentes do CSNU. 
Durante a Guerra Fria, as intervenções aconteciam de maneira unilateral, como a 
do Reino Unido na Albânia (Caso do Estreito de Corfú, 1947
5
) e a dos Estados Unidos 
na Nicarágua (Caso Atividades Militares e Paramilitares na Nicarágua, 1984
6
). Em 
ambos os casos, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi acionada para avaliar a 
legalidade das intervenções ocorridas sob justificativas humanitárias, concluindo pela 
reafirmação do princípio da não intervenção e do direito de cada Estado soberano 
conduzir seus negócios nos campos político, econômico, social, cultural e na política 
exterior, sem interferências de potências externas. No emblemático caso Nicarágua vs. 
EUA: 
La Cour considère que le respect de la souveraineté territoriale, de l´intertiction de 
l´emploi de la force et la non-intervencion sont liés (paragraphe 251). Au titre du droit 
humanitaire, les États-Unis n’avaient pás le droit de soutenir des personnes participants 
à um conflit arme dans une autre État
7
. 
 
 
3
 BORGES, Leonardo Estrela. O Direito Internacional Humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. 
4
 BIRRENBACH, Ana Maria. O Conceito de Responsabilidade de Proteger e o Direito Internacional 
Humanitário. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, p.116. 
5
 Em 22 de outubro de 1946, dois destróiers britânicos colidiram com minas marítimas em águas 
territoriais albanesas, sofrendo danos e grandes perdas de vida humana em decorrência das explosões. 
Após consultas mútuas ao CSNU, o caso é levado à CIJ. Corte concluiu que a Albânia deveria reparar o 
dano causado, uma vez que era seu dever garantir o direito de passagem inocente em tempos de paz. Mais 
adiante, nos dias 12 e 13 de novembro do mesmo ano, outros navios do Reino Unido adentraram 
novamente no estreito para retirar minas remanescentes no canal. Alegou a Albânia que neste caso não se 
tratava de passagem inocente, mas de caso claro de intervenção na soberania. A Corte declarou que houve 
violação do Direito Internacional, vez que a soberania é um fundamento essencial das relações 
internacionais. 
6
 A Nicarágua acusa os EUA de violar sua soberania, integridade territorial e independência política ao 
realizar sobrevoos sobre seu território e implantar minas subaquáticas em águas territoriais nicaraguenses. 
Acusa, ainda, de fornecer armas, equipamentos bélicos, treinamento militar e recursos financeiros para os 
paramilitares das “Forças Contras”, em conflito com o governo sandinista. A Nicarágua exige reparação 
pelos danos ocorridos em razão dessas violaçõese exige que EUA parem de fornecer, direta ou 
indiretamente, qualquer apoio a qualquer nação, grupo, organização, movimento, indivíduo que promova 
atividades militares ou paramilitares contra Nicarágua. A CIJ julga que os EUA violaram obrigações do 
direito internacional costumeiro (não-intervenção em assuntos internos de outros Estados), além da 
obrigação de não recorrer ao uso da força contra outro Estado e que violaram soberania e independência 
da Nicarágua. 
7
 TCHIKAYA, Blaise. Mémento de la Jurisprudence du Droit International Public. 4a Edição. Paris: 
Hachette Supérieur, 2007, p.116. 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 268 
Gareth Evans, ex-Ministro das Relações Exteriores da Austrália, observou que 
após a queda do muro de Berlin, a remoção da maior fonte de conflito ideológico entre 
as grandes potências liberou a ONU para lidar com o papel de segurança global pensado 
por seus fundadores. Apontou ainda que a média anual de 15 resoluções aprovadas 
quadruplicou, passando de uma resolução por mês para mais de uma resolução por 
semana, em média
8
. 
O mundo, então, passou a enfrentar a multiplicação de conflitos que ocorriam 
dentro das fronteiras do Estado, com claras violações aos Direitos Humanos e ao Direito 
Humanitário, como crimes de genocídio e contra a humanidade, limpeza étnica, 
perseguições religiosas etc. Esses crimes, por vezes perpetrados pelo Estado contra suas 
populações, colocavam em rota de colisão dois valores caros para a comunidade 
internacional quais sejam a proteção da dignidade da pessoa humana e o direito à 
soberania estatal. 
 
 
3. DIREITO DE INGERÊNCIA E A INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA 
O conceito do Droit d’ingerence foi criado por Jean François Revel ao abordar a 
questão do sangrento conflito entre o governo da Nigéria e os separatistas da região de 
Biafra (1967 – 1970). À época, o Conselho de Segurança deu pouca ou nenhuma 
atenção para o conceito, que não chegou a formar um novo paradigma para o Direito 
Internacional Humanitário. 
Em 1987, depois de abandonar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha 
(CICV), o médico francês, Bernard Kouchner
9
, juntamente com o jurista italiano, Mário 
Bettati, receberam o apoio do presidente francês, François Mitterand, para incorporar o 
Direito de Ingerência à normativa jurídica internacional. Nesse contexto, foi aprovada a 
Resolução A/43/131(1988), intitulada “Assistência Humanitária às Vítimas das 
Catástrofes Naturais e Situações de Urgência do Mesmo Gênero” 10, que estabelecia o 
princípio do livre acesso às vítimas, sobretudo por Organizações Não Governamentais 
(ONGs) humanitárias. O conceito abarcava, segundo Bettati, “tanto fome e epidemias 
 
8
 Idem, p.51. 
9
 Bernard Kouchner foi um dos fundadores da ONG humanitária, Médicins Sans Frontières, e 
posteriormente foi Alto Representante da ONU no Kosovo, sob o mandato da United Nations Interim 
Mission in Kosovo (UNMIK) e Ministro dos Negócios Estrangeiros da França (2007-2010) 
10
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução A/43/131(1988). Disponível em 
<http://www.un.org/documents/ga/res/43/a43r131.htm> 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 269 
quanto acidentes industriais e até mesmo, para alguns delegados, fome e epidemias que 
atinjam pessoas deslocadas na sequência de conflitos internos” 11 (grifo nosso). 
O cerne do Direito de Ingerência era que em situações de conflitos com graves 
repercussões humanitárias, a ajuda das ONGs humanitárias não deveria levar em conta 
os limites da soberania dos Estados. Essa doutrina representou uma cisão com a tradição 
“neutralista” da ajuda humanitária prestada pelo CICV, cuja atuação em determinado 
Estado depende de autorização deste para ser concretizada. 
Na prática, o Direito de Ingerência (humanitarismo não-governamental) logo 
evoluiu para a Intervenção Humanitária (humanitarismo governamental). Esta “foi a 
fórmula utilizada para justificar o uso da força em situações nas quais não havia o 
consentimento do governo do país objeto da intervenção” 12. Segundo Marcelo Bohlke: 
 
A reação internacional à proposta foi, em geral, de receio ou negativa, sobretudo de 
parte dos países em desenvolvimento, que não tinham interesse em intervir nos assuntos 
internos de outros países e enfrentavam obstáculos econômicos e sociais no plano 
interno, tornando-se alvos em potencial de medidas intervencionistas
13
. 
 
Do ponto de vista jurídico, a doutrina da Intervenção Humanitária desafiava a 
Carta da ONU, em cujo artigo 2º (4) dispõe que: 
 
Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da 
força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou 
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas
14
. 
 
As Convenções de Genebra de 1949, por sua vez, reafirmam o entendimento de 
que é necessário o assentimento das partes antes de qualquer medida de proteção 
humanitária
15
 e o Protocolo Adicional de 1977 menciona que a participação de “pessoal 
de auxílio” depende de concordância do Estado onde se exercerá a atividade16. 
Sendo assim, como proteger a população civil que sofre perseguições de seus 
próprios governos? 
 
 
11
 BETTATI, Mário. Apud BIRRENBACH, Ana Maria. O Conceito de Responsabilidade de Proteger e o 
Direito Internacional Humanitário. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, p.59. 
12
 Idem, p.52. 
13
 BOHLKE, Marcelo. A Proibição do Uso da Força no Direito Internacional Humanitário. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2011, p.232. 
14
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. 
15
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção (III) de Genebra Relativa ao Tratamento dos 
Prisioneiros de Guerra. 
16
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Protocolo Adicional às Convenções de Genebra, relativo 
à proteção das vítimas dos conflitos armados não-internacionais. 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 270 
 
 
4. A RESPONSABILIDADE DE PROTEGER E A RESPONSABILIDADE 
AO PROTEGER 
 
4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
As crises humanitárias ocorridas na Somália (1991), em Ruanda (1994), na 
Bósnia (1995) e em Kosovo (1999) foram as fontes materiais para a tentativa de criação 
de um nova abordagem para o Direito Internacional Humanitário, que equilibrasse o 
respeito à soberania estatal com o dever de proteção aos direitos humanos. 
Em todos esses conflitos armados, observaram-se massivas violações dos 
direitos humanos, com massacres de civis, limpeza étnica, crimes de genocídio e contra 
a humanidade. Na Somália, após golpe de estado desfechado contra o presidente 
Mohamed Siad Barre, iniciou-se uma guerra civil, que deixou milhares de refugiados e 
milhões de pessoas em risco de segurança alimentar. O “efeito CNN” 17 pressionava os 
órgãos decisórios nacionais e internacionais a tomarem posição, motivados pela 
comoção pública e centrados em medidas emergenciais que, no longo prazo, não se 
mostrariam social e economicamente sustentáveis
18
. 
Sob a liderança dos EUA, a Operação Restaurar a Esperança teve 24 de seus 
blue helmets assassinados pelas milícias somalis. As imagens do corpo de um soldado 
americano sendo arrastado pelas ruas de Mogadíscio chocaram o público e marcarampara sempre as Operações de Paz da ONU. 
O fracasso da atuação na Somália contribuiu para a inação da ONU em Ruanda, 
onde as tensões que opunham hutus e tutsis provocaram o maior genocídio registrado 
desde o holocausto. 
Somente após o massacre, a Resolução 918 registrou em seu texto “killing of 
members of an ethnic group with the intention of destroying such a group, in whole or 
 
17
 O “CNN effect” foi descrito pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, como o 
poder da mídia ocidental em mobilizar a atenção do público para determinado tema de política externa, 
frequentemente relacionado a questões humanitárias. Foi descrito como o 16º membro permanence do 
CSNU dado o seu poder de interferência na agenda da segurança internacional. 
18
 BIRRENBACH, Ana Maria, p.232. 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 271 
in part
19”. A deliberada omissão da palavra “genocídio” visava evitar a obrigação de 
agir inscrita na Convenção da ONU para Prevenção do Crime de Genocídio
20
. Tal fato 
demonstrou a completa ineficácia dos instrumentos de segurança coletiva dos anos 
1990. 
A declaração de independência da Bósnia perante a Iugoslávia, somada à forte 
presença de bósnios de origem sérvia provocaram violentos conflitos e violações de 
Direitos Humanos tanto do lado bósnio (muçulmano) quanto do lado sérvio (cristão 
ortodoxo). Em 1991, o CSNU declarou o conflito ameaça a paz e a segurança 
internacionais. Após o plebiscito, de 1992, o conflito se intensificou e a ONU, por meio 
das Resoluções 787 e 820, estabeleceu a missão de paz United Nations Protection 
Force (UNPROFOR), com o aval do governo iugoslavo
21
. 
Com o CSNU bloqueado pelo veto Russo, a comunidade internacional assistiu ao 
massacre de mais de sete mil civis muçulmanos da cidade bósnia de Srebrenica, fato 
que motivou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a atuar sem o 
mandato do CSNU, em clara violação à Carta da ONU. O conflito reapareceria em 
1999, com a declaração de independência de Kosovo, ocasião em que a OTAN agiu 
mais uma vez por conta própria, bombardeando massivamente as posições sérvias e 
provocando hordas de refugiados. 
 
4.2 O CONCEITO DE RESPONSABILIDADE DE PROTEGER 
Os anos 1990 mostraram quão despreparados estavam os mecanismos de 
segurança coletiva vigentes para lidar com os conflitos pós Guerra Fria. Desta forma, o 
SGNU, Kofi Annan (1997-2007), publicou o relatório We the Peoples, no qual 
solicitava aos Estados membros alternativas para evitar que novas crises humanitárias 
voltassem a ocorrer. A questão que se colocava era que 
 
if humanitarian intervention is, indeed, an unacceptable assault on sovereignty, how 
should we respond to a Rwanda, to a Srebrenica—to gross and systematic violations of 
human rights that offend every precept of our common humanity?
 22
 
 
 
19
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução 918 (1994), p.2. Disponível em http://daccess-
ods.un.org/TMP/706406.980752945.html 
20
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção Para Prevenção do Crime de Genocídio. 
21
 GLENNY, Misha. The Balkans: Nationalism, War and the Great Powers, 1804-1999. p.638 
22
 ANNAN, Kofi. We the Peoples: the role of United Nations in the 21
st
 Century, p.48. Disponível em 
http://www.un.org/en/events/pastevents/pdfs/We_The_Peoples.pdf, p.XI. Acesso em 1º/11/2015 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 272 
Descartava-se, a Intervenção Humanitária como uma alternativa viável, mas ao 
mesmo tempo reconhecia-se que nenhum princípio, nem mesmo o da soberania, poderia 
encobrir crimes contra a humanidade e uma vez que as tentativas pacíficas de barrar 
esses crimes fossem exauridas, o CSNU teria o dever moral de agir em nome da 
comunidade internacional. 
Com vistas a dar respostas às “provocações” de Kofi Annan, o primeiro ministro 
canadense, Jean Crétien, patrocinou a criação da International Comission on 
Intervention and State Sovereignty (ICISS), copresidida por Gareth Evans e por 
Mohamed Sahnoun (Assessor Especial do SGNU), com o objetivo de substituir a 
controvertida doutrina da Intervenção Humanitária por uma abordagem que equilibrasse 
o direito a soberania do estado e o dever de proteção à população civil. 
O relatório final, aprovado por unanimidade entre os doze integrantes da 
comissão, criou o conceito de Responsabilidade de Proteger (R2P), segundo o qual 
“sovereign states have a responsibility to protect their own citizens from avoidable 
catastrophe – from mass murder and rape, from starvation – but that when they are 
unwilling or unable to do so, that responsibility must be borne by the broader 
community of states
23”. A ideia não era original. O Ato Constitutivo da União Africana, 
de 2000, já previra no artigo 4 (h) “Le droit de l’Union d’intervenir dans un Etat 
membre sur décision de la Conférence, dans certaines circonstances graves, à savoir : 
lês crimes de guerre, le génocide et les crimes contre l’humanité” 24. Firmava-se, 
portanto a passagem da “soberania como controle” para a “soberania como 
responsabilidade”. 
O conceito da R2P, apresentado pelo ICISS, representa três responsabilidades: 
responsabilidade de prevenir, a responsabilidade de reagir e a responsabilidade de 
reconstruir. A primeira destina-se a lidar com as raízes dos conflitos internos e outras 
crises decorrentes da ação humana que colocariam as populações em risco, como 
pobreza, repressão política e desigualdade social. Seus elementos principais são o 
desenvolvimento de um aparato técnico para alerta antecipado (early warning); medidas 
preventivas, nos planos político, econômico, judicial e militar, que lidem tanto com as 
causas profundas quanto com as causas diretas dos conflitos (preventive toolbox); e a 
disposição política local, nacional e internacional de se aplicar tais medidas preventivas 
 
23
 Idem. 
24
 UNIÃO AFRICANA. Ato Constitutivo da União Africana. Disponível em: 
<http://au.int/en/about/constitutive_act >p.7 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 273 
(political will)
25
. As medidas preventivas podem, segundo o relatório, incluir medidas 
de incentivos e medidas punitivas. Muito se critica a possibilidade de aplicação de 
medidas punitivas (ameaça ou uso da força) como forma de prevenir conflitos, uma vez 
que as tensões podem ser exacerbadas pela interferência externa provocar o efeito 
contrário ao esperado. 
A responsabilidade de reagir busca responder de maneira apropriada as situações 
de imperiosa necessidade humana. A Comissão reconhece a centralidade do princípio da 
não-intervenção, mas prevê a possibilidade do uso da força em casos excepcionais, 
quanto todas as outras sanções se mostrem, ou se mostrassem, ineficazes
26
. 
A responsabilidade de reconstruir busca garantir, sobretudo após uma 
intervenção militar, a completa assistência na recuperação, reconstrução e reconciliação, 
lidando com as causas dos danos que a intervenção buscava evitar ou impedir
27
. Os 
pilares centrais da responsabilidade de reconstuir são a segurança (desarmamento, a 
desmobilização, a reintegração e a reconciliação); a justiça (reintegração de refugiados e 
outras minorias) e o desenvolvimento econômico e social. A Comissão sugerea 
aplicação do sistema de tutela das Nações Unidas e a manutenção de tropas 
interventivas por tempo razoável, para se evitar tanto o recrudescimento da escalada de 
violência (devido à retirada precoce), quando a limitação da soberania estatal (devido à 
permanência demasiada) 
28
. 
A publicação do relatório do ICISS representou um turning point da abordagem 
em relação à proteção das populações civis em casos de conflitos armados. Uma série 
de documentos foram publicados (ver item 6) no sentido de aprimorar e aperfeiçoar a 
doutrina da Responsabilidade de Proteger. Entre os mais importantes está o documento 
final da Cúpula Mundial de 2005 (Resolução A/60/1), cujos artigos 138 e 139 
estabelecem que: 
 
138. Each individual State has the responsibility to protect its populations from 
genocide, war crimes, ethnic cleansing and crimes against humanity. This responsibility 
entails the prevention of such crimes, including their incitement, through appropriate 
and necessary means. We accept that responsibility and will act in accordance with it. 
The international community should, as appropriate, encourage and help States to 
exercise this responsibility and support the United Nations in establishing an early 
warning capability. 
 
25
 ICISS. The Responsibility to Protect: Report of the ICISS. Disponível em : 
<www.responsibilitytoprotect.org/ICISS%20Report.pdf> p.21. 
26
 Idem . p.19 
27
 Idem. p..29 
28
 Idem. p.39 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 274 
139. The international community, through the United Nations, also has the 
responsibility to use appropriate diplomatic, humanitarian and other peaceful means, in 
accordance with Chapters VI and VIII of the Charter, to help to protect populations 
from genocide, war crimes, ethnic cleansing and crimes against humanity. In this 
context, we are prepared to take collective action, in a timely and decisive manner, 
through the Security Council, in accordance with the Charter, including Chapter VII, on 
a case-by-case basis and in cooperation with relevant regional organizations as 
appropriate, should peaceful means be inadequate and national authorities are 
manifestly failing to protect their populations from genocide, war crimes, ethnic 
cleansing and crimes against humanity. We stress the need for the General Assembly to 
continue consideration of the responsibility to protect populations from genocide, war 
crimes, ethnic cleansing and crimes against humanity and its implications, bearing in 
mind the principles of the Charter and international law. We also intend to commit 
ourselves, as necessary and appropriate, to helping States build capacity to protect their 
populations from genocide, war crimes, ethnic cleansing and crimes against humanity 
and to assisting those which are under stress before crises and conflicts break out.
29
 
 
Posteriormente, várias resoluções do CSNU endossaram a Resolução da AGNU, 
como as Resoluções 1653 (2006), 1674 (2006), 1706 (2006), 1755 (2007), 1769 (2007), 
que reafirmavam a responsabilidade dos estados em proteger as populações civis contra 
crimes humanitários nas regiões dos Grandes Lagos africanos, no Sudão e na região de 
Darfur. 
 
4.3 CRÍTICAS À RESPONSABILIDADE DE PROTEGER 
Muito se critica a doutrina da R2P por entendê-la como a reedição do antigo 
imperialismo euro-americano travestido de proteção aos direitos humanos. Essa 
abordagem ganhou força após a aprovação das Resoluções do CSNU nº 1970 e 1973 
(2011), que autorizaram, com base na responsabilidade de proteger, a aplicação do 
capítulo VII da Carta da ONU contra o regime de Muammar Gaddafi. Na ocasião, 
criou-se uma no-fly zone no espaço aéreo líbio e se autorizou “Member States (...) to 
take all necessary measures, (...), to protect civilians and civilian populated areas under 
threat of attack in the Libyan Arab Jamahiriya”30. Dessa autorização se efetivaram 
bombardeios a posições de milícias defensoras do governo, inclusive com danos à 
população civil que o mandato dizia pretender salvaguardar. Para parte da comunidade 
internacional, a aplicação da R2P na Líbia atendeu antes aos interesses das potências 
ocidentais do que propriamente à proteção de civis em situação de crise humanitária. 
Para, Luiz Alberto Moniz Bandeira: 
 
 
29
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Documento A/RES/60/1. 
30
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Documento S/RES/1973(2011) 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 275 
Essa doutrina de responsabilidade de proteger (RtoP e R2P parte do princípio de que a 
soberania não é um direito, mas um privilégio, e que, se um Estado violar os preceitos 
da boa governança, a comunidade internacional (Estados Unidos e seus vassalos da 
OTAN) está moralmente obrigada a revogar a soberania da nação e assumir o comando 
e o controle do Estado transgressor
31
 
 
Essa visão tem ganhado força entre importantes players, como China e Russia, 
que, após a derrubada do governo Gaddafi, têm vetado iniciativas por dentro da ONU 
contra o regime sírio de Bashar Al-Assad. 
Marcelo Bohlke critica diversos pontos do relatório do ICISS, principalmente o 
item referente ao critério da autoridade competente para “reagir” por meio do uso da 
força. Demonstra que o ICISS reconhece o CSNU como foro principal para se debater e 
aprovar sanções militares, mas critica o relatório afirmando que o CSNU tem mandato 
para estabelecer o uso da força apenas em casos de agressão, ruptura da paz ou ameaça 
à paz internacional (art. 39 da Carta da ONU), o que torna qualquer decisão referente ao 
uso da força por razões humanitárias algo passível de minar a legitimidade do Conselho 
por extrapolar o texto do tratado 
32
. 
Critica, ainda, a possibilidade de a AGNU, subsidiariamente, decidir com base 
na Resolução United for Peace, uma vez que não existe uma norma jurídica que 
legitime a Assembleia Geral a autorizar o uso da força com razões humanitárias. Por 
fim, considera temerária a possibilidade de organizações multilaterais de segurança 
regionais, como a União Africana, atuarem a revelia do CSNU, sob o manto da proteção 
humanitária. 
Por fim, vale ressaltar que a assimetria do sistema internacional pode prejudicar 
o exercício da Responsabilidade de Proteger, vez que não se concebe, no médio prazo, a 
aplicação do uso da força contra os membros permanentes do Conselho de Segurança 
(P-5) ou países com forte influencia perante o P-5, como Israel e outros. Nesse sentido, 
a ICISS apresentou a ingênua proposta de os P-5 não utilizarem o seu poder de veto 
quando estiver na pauta do CSNU assuntos referente à proteção humanitária. Nesses 
casos, a potência discordante se valeria de uma improvável “abstenção construtiva” que 
não barraria a continuidade do processo de proteção às populações civis. 
 
 
31
 MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A Segunda Guerra Fria. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2014, p.291. 
32
 BOHLKE, p.341. 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 276 
 
5. CONCLUSÃO 
 
Após o fim da guerra fria, a humanidade vivenciou momentos de enormes tragédias 
humanitárias, que colocaram em cheque a capacidadedo atual sistema multilateral de 
segurança de garantir a estabilidade política dos países e as normas de direitos humanos 
vigentes no sistema internacional. 
Se as teorias de Intervenção Humanitária foram descartadas por empoderar mais 
o agente interventor do que os agentes objeto da intervenção, a abordagem da 
responsabilidade de proteger buscou colocar no centro da proteção humanitária os 
próprios Estados onde as populações se abrigam. A mudança da concepção de soberania 
como controle para a soberania como responsabilidade representou importante mudança 
na forma de pensar dos agentes políticos. 
Ocorre que o arcabouço jurídico atual, elaborado em época pretérita, não 
acompanhou essa mudança nas condições sócio-políticas vivenciadas pelo sistema 
internacional. A dificuldade de reforma do sistema multilateral de segurança é fator que 
ameaça a proteção de civis em casos de conflitos armados, vez que as soluções buscadas 
têm baixo nível de institucionalização e precário respaldo em tratados internacionais. 
A efetividade da Responsabilidade de Proteger depende de profundas reformas 
sistema internacional, inclusive no CSNU, que lhe garanta maior representatividade de 
potências emergentes e o consequente aumento de legitimidade perante a comunidade 
internacional. Depende, também, do fortalecimento do regime previsto no Estatuto de 
Roma do Tribunal Penal Internacional, com a adesão das potências dominantes, para 
que se evitem persecuções criminais exclusivamente voltadas para países em 
desenvolvimento. 
Ainda assim, a doutrina da Responsabilidade de Proteger merece atenção e 
aperfeiçoamento, para que seja aplicada com vistas a salvaguardar a vida de populações 
em situação de risco humanitário e o combate ao genocídio, aos crimes de guerra e 
contra a humanidade e a limpeza étnica, sem que signifique um meio para derrubada de 
governos considerados pária por determinada potência dominante. 
 
 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 277 
 
6. QUADRO SUPLEMENTAR 
 
Evolução do conceito da Responsabilidade de Proteger 
Ano Documento Principais pontos 
2001 
Responsabilidade de Proteger - 
Relatório do ICISS 
Buscou estabelecer alternativas para as criticadas "intervenções 
humanitárias" dos anos 1990. A intenção dos integrantes da Comissão era 
promover um debate abrangente sobre as questões humanitárias e gerar um 
consenso político global sobre como mover-se da polêmica, e 
frequentemente da paralisia, para a ação no âmbito só sistema internacional, 
sobretudo por meio da ONU. 
2004 
Um Mundo Mais Seguro: nossa 
responsabilidade compartilhada 
Elaborado pelo Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudança, 
examinou ameaças à segurança do Estado e das populações; ensaiou uma 
definição de terrorismo; exortou o CSNU a fazer uso mais frequente de 
medidas preventivas, inclusive com o uso da força, contra ameaças não-
iminentes; definiu a R2P como o direito e o dever de intervir em Estados 
que não estão em condições de (ou não querem) respeitar os direitos 
humanos de suas populações contra a ocorrência de genocídios e outras 
formas de atentados à vida em larga escala, limpeza étnica ou sérias 
violações do direito internacional humanitário. 
2005 
In Larger Freedom: Towards 
Development, Security and 
Human Rights for All 
No contexto do 60º aniversário das Nações Unidas, o SGNU apresentou 
seus três pilares para a implementação da Declaração do Milénio. 
Desenvolvimento, segurança e direitos humanos formam a espinha dorsal 
do seu relatório, que incluiu recomendações sobre o reforço da arquitetura 
do sistema internacional. Na seção intitulada "Liberdade para viver com 
dignidade", representando o pilar dos direitos humanos, o Secretário-Geral 
recomendou que os Estados abraçassem o recém criado conceito da 
Responsabilidade de Proteger. 
2005 
Documento Final da Cúpula 
Mundial 
(Resolução A/RES/60/1) 
Em 15 de setembro de 2005, Assembleia Geral da ONU abraçou a 
Responsabilidade de Proteger nos artigos 138 e 139 do Relatório Final 
(Resolução A/RES/60/1). Os chefes de Estado e de Governo chegaram a 
um consenso sobre a responsabilidade de proteger as populações contra o 
genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade. 
Este documento delimitou o alcance do conceito R2P, as condições para o 
seu uso e as situações a que se aplica. 
2008 
Soberania Responsável: 
Cooperação Internacional para 
um mundo mudado. 
Discurso do SGNU em Berlin. Pela primeira esclareceu-se o que é e o que 
não é a Responsabilidade de Proteger. Ban Ki-moon também reafirmou seu 
compromisso pessoal em transformar o conceito em política. 
2009 
Implementando a 
Responsabilidade de Proteger 
Primeiro documento abrangente apresentado pelo Secretariado-Geral das 
Nações Unidas sobre a implementação da Responsabilidade de Proteger . O 
relatório esclarece como entender a R2P e delineia as medidas e os atores 
envolvidos na operacionalização da norma. Baseado nos parágrafos 138 e 
139 do Relatório Final da AGNU, o secretário-geral sugeriu uma 
abordagem de três pilares: 1) as responsabilidades de proteção do Estado, 
2) a assistência internacional e construção de capacidade, e 3) a resposta 
decisiva e imediata para prevenir e fazer cessar o genocídio, a limpeza 
étnica, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade. 
2010 
Mecanismo de alerta precoce e 
a responsabilidade de proteger 
O relatório do Secretário-Geral destaca as falhas dos mecanismos de alerta 
antecipado do sistema das Nações Unidas. Enfatiza a necessidade de um 
maior desenvolvimento da Responsabilidade de Proteger, conclamando um 
diálogo interativo informal no âmbito da Assembleia Geral de 2011 sobre o 
papel das organizações regionais e sub-regionais na implementação da 
norma. 
2011 
O Papel dos Arranjos Regionais 
e Sub-regionais na 
Implementação da 
Responsabilidade de Proteger 
O Secretário-Geral vê como natural a participação das organizações 
regionais e sub-regionais na implementação da Responsabilidade de 
Proteger. Entende que a aproximação entre essas instituições regionais e 
sub-regionais e a ONU faz que tanto o Conselho de Segurança quanto essas 
instituições sejam legitimados mutuamente. 
O Direito Internacional Humanitário Contemporâneo e a Responsabilidade de Proteger 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 278 
2012 
Responsabilidade de Proteger – 
Resposta Tempestiva e 
Decisiva 
O Relatório foca no "terceiro pilar" da Responsabilidade de Proteger: a 
responsabilidade de reagir. Descreve a ampla gama de ferramentas 
coercitivas e não-coercitivas disponíveis, e esclarece que quando as 
medidas preventivas revelarem-se insuficientes e as ameaças para as 
populações permanecerem iminentes, a comunidade internacional tem a 
responsabilidade de empreender ações coletivas para proteger os civis. 
Discutiu-se, também, a relação entre os três pilares da responsabilidade de 
proteger, e observou-se que a questão central não é debater em que caso se 
deve aplicar a responsabilidade de proteger, mas, sim qual a melhor forma 
de aplicá-la. 
2013 
Responsabilidade do Estado e 
prevenção 
O relatório na responsabilidade dos Estados para proteger as suas 
populações, através do desenvolvimento da capacidade nacional necessária 
para construir sociedades resilientes para crimes atrozes. O relatório 
identifica seis fatores de risco que têm sido evidentes em diferentes graus 
em situações onde atrocidades foram cometidas. Apresenta, ainda 40 
exemplosde como os governos podem implementar medidas preventivas, 
entre elas o mecanismos de alerta precoce e a designação de um ponto focal 
para prevenção de atrocidades. 
2014 
Responsabilidade de Proteger: 
Assistência Internacional 
O relatório centra-se no segundo pilar: a responsabilidade de reagir, ou seja, 
a responsabilidade coletiva da comunidade internacional para ajudar os 
Estados na defesa de sua Responsabilidade de Proteger. O relatório 
identifica as diferentes formas de assistência, incluindo o incentivo, reforço 
de capacidades, e ajuda aos Estados para proteger as suas populações. O 
relatório destaca ainda várias parcerias que poderiam melhorar a 
implementação da Responsabilidade de Proteger 
2015 
A Vital and Enduring 
Commitment: Implementing 
the Responsibility to Protect 
O Secretário-Geral avaliou o progresso da Responsabilidade de Proteger ao 
longo dos últimos dez anos. Identificou os principais desafios e as 
oportunidades para sua implementação. Detalhou seis prioridades principais 
para a comunidade internacional. 
Fonte: http://www.responsibilitytoprotect.org/index.php/publications/core-rtop-documents 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pedro Arnaldo Ribeiro 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.265-279. 279 
 
7. BIBLIOGRAFIA 
 
ANNAN, Kofi. We the Peoples: the role of United Nations in the 21
st
 Century: 
Disponível em <http://www.un.org/en/events/pastevents/pdfs/We_The_Peoples.pdf>. 
Acesso em 1º/11/2015. 
 
BOHLKE, Marcelo. A Proibição do Uso da Força no Direito Internacional 
Humanitário. Rio de Janeiro: Renovar, 2011. 
 
BORGES, Leonardo Estrela. Direito Internacional Humanitário. Belo Horizonte: Del 
Rey, 2006. 
 
GLENNY, Misha. The Balkans: Nationalism, War and the Great Powers, 1804-1999. 
New York: Viking Penguin Group, 1999. 
 
MELLO, Celso de Albuquerque. Direito Internacional Público. 15ª Ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2000. 
 
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A Segunda Guerra Fria. 2ª edição. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2014. 
 
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Assembly on 16 September 2005 (A/RES/60/1). Disponível em: <http://daccess-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N05/487/60/PDF/N0548760.pdf?OpenElement>. Acesso 
em: 02/11/2015. 
 
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. 5ª 
edição. Salvador: Editora Jus Podium, 2013. 
 
SHAW, Malcolm N. Direito Internacional. São Paulo: Martins Martins Fontes, 2010. 
 
THE RESPONSIBILITY TO PROTECT – REPORT OF THE INTERNATIONAL 
COMISSION ON STATE AND SOVEREIGNITY. Disponível em 
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UNIÃO AFRICANA. Ato Constitutivo da União Africana. Disponível em: 
<http://au.int/en/about/constitutive_act >

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