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Resumo Direito Civil III Fichamento Caio Mário Mari

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DIREITO CIVIL III – CONTRATOS
1. CONCEITO GERAL DE CONTRATO
Negócio jurídico – noção primária assenta na ideia de pressuposto de fato, querido ou posto em jogo pela vontade e reconhecido como base do efeito jurídico perseguido. Tem como fundamento ético a vontade humana, desde que em conformidade com a ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação de direitos e obrigações. É bilateral quando a declaração volitiva encontra outra congênere. 
Contrato é NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL que, portanto, exige CONSENTIMENTO, conformidade com a ordem legal, tendo por escopo objetivos específicos, uma vez sendo ato negocial. Assim, contrato é acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Em síntese, o contrato é um ACORDO DE VONTADES COM A FINALIDADE DE PRODUZIR EFEITOS JURÍDICOS. 
O contrato pode compreender manifestação de vontade plurilateral também. As partes precisam ser CAPAZES (Capacidade de fato: algumas pessoas possuem para exercer determinados direitos/ capacidade de direito: toda pessoa tem e exerce. A incapacidade se relaciona à capacidade de fato, sempre). Os efeitos jurídicos do contrato, em regra, só afetam suas partes. 
ELEMENTOS FORMADORES DO CONTRATO:
Manifestação de vontade
Concordância entre as partes
Capacidade do agente
Objeto lícito e determinável/possível 
Forma, caso prevista em lei
2. NOTÍCIA HISTÓRICA DO CONTRATO
O modelo contemporâneo de contrato surge no século XVIII, com fundamento na vontade das partes. Surge com os movimentos liberais na Europa. 
O modelo contratual do direito romano, em contrapartida, se fundamenta na solenidade do instrumento. Assim, apesar de ser a base dos modelos contratuais atuais, com eles não se compara, também por conta da falta de um ideal de plenitude de direitos. 
A partir daí surge o conceito de “autonomia da vontade”, onde o Estado teria uma interferência mínima – ou inexistente – na vontade individual. Muito embora contida, percebe-se a necessidade de interferência estatal nos contratos uma vez que nem sempre se percebe igualdade entre as partes contratantes. Existem dois tipos de intervenção estatal na esfera contratual: (i) limites normativos pré-fixados, (ii) intervenção a posteriori, feita através do judiciário, em casos que os contratos ultrapassam os limites fixados pelo legislador. 
OBS: Contratos no direito romano. No direito romano, os contratos também se baseavam na manifestação da vontade. No entanto, não se admitia que a simples manifestação geraria obrigação. Somente se admitiam quatro contratos consensuais, sobre os demais prevalecia sobre a vontade a materialidade de sua declaração, que deveria obedecer rigidamente ao rival consagrado. 
3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRATOS
3.1. Função social: como fonte criadora de direitos, o contrato se assemelha à lei, embora de âmbito mais restrito. Os que contratam assumem, por momento, toda força ????? social. A redação do Código Civil (art. 421) manteve o princípio de que a liberdade de contratar é exercida em razão da autonomia da vontade que a lei outorga às pessoas. A função social do contrato serve para limitar a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir a própria liberdade de não contratar, como ocorre nas hipóteses de contrato obrigatório. 
Considerando o CC que o regime da livre iniciativa assenta em temas do direito do contrato, na sua liberdade de contratar, enuncia a regra contida no art. 420, de subordinação dela à sua função social com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública, e atentando a que o contrato não deve atentar contra o conceito de justiça comutativa. A liberdade de contratar não pode divorciar-se da função social do contrato. Assim consagra-se a rescisão do contrato lesivo, anula o contrato celebrado em estado de perigo, combate-se o enriquecimento sem causa, admite-se a resolução por onerosidade excessiva e disciplina a redução da cláusula penal excessiva. 
Hoje, o contrato é visto como parte de uma realidade maior e como um dos fatores de alteração da realidade social. Isso faz com que terceiros não parte de um contrato possam nele influir. Ex: Esse reconhecimento da inserção do contrato no meio social e de sua enorme influência na vida das pessoas desafia sua concepção clássica e possibilita um maior controle da atividade das partes. 
Em síntese, de acordo com o princípio da função social do contrato, os interesses públicos/ coletivos/ sociais estariam acima dos individuais. Assim, tem o Estado dever de proteger o interesse das partes. Ex: um contrato de locação com prazo de 5 anos precisa ser interrompido por conta de uma obra. Nessa hipótese, o contrato está sendo interrompido por conta de sua função social, já que a obra é de interesse público. 
3.2. Obrigatoriedade: decorrência natural da função social do contrato é sua obrigatoriedade. O contrato obriga os contratantes. Lícito não lhes é arrepender-se; Lícito não é revogá-lo se não por consentimento mútuo; Lícito não é o juiz revogá-lo ou alterá-lo. O princípio da obrigatoriedade significa, em essência, a in????????????? da palavra empenhada. Com observância dos requisitos de validade, uma vez celebrado, o contrato tem plena eficácia. (Prof definiu como um ‘princípio do CC de 16): no código de 2002, embora permaneça, esse princípio passou a ser um princípio auxiliar da autonomia privada.)
3.3. Consensualismo: Loysel, “os bois se prendem pelos chifres, e os homens pela palavra” – força ?????? da palavra em si mesma, contratos se formam, em princípio, solo consensu. Pacta sunt servanda: não apenas os contratos devem ser cumpridos, mais a expressão do acordo das partes tem igual força cogente. Contrato nasce do consenso puro dos interessados, já que a vontade é entidade geradora. Princípio oposto ao do formalismo. Assim, os contratos, em regra, tem forma livre, sendo excepcional a hipótese de exigência formal, que deverá ser feita pelo legislador, com fulcro no art. 107 CC. Princípio fundamental do CC de 16 que, no CC de 2002, figura como princípio auxiliar da autonomia privada. 
3.4.. Relatividade: o contrato só produz efeitos relativos, ou seja, o contrato só produz efeitos entre as partes. Princípio auxiliar de autonomia privada, adveio do CC 16, onde figurava como princípio fundamental. 
3.5. Boa-fé objetiva: art. 422/CC – Apesar de norma constitucional, o princípio da boa-fé incide sobre todo o ordenamento jurídico, todas as relações jurídicas da sociedade. Configura cláusula geral de observância obrigatória. Não diz respeito ao estado mental subjetivo do agente, mas sim do seu comportamento em determinada relação jurídica de cooperação. Ela cria deveres negativos E POSITIVOS, do contrário da boa-fé subjetiva. Assim, à obstrução de prejudicar, soma-se o dever de cooperar: o agente deve fazer o que estiver ao seu alcance para colaborar para que a outra parte obtenha o resultado previsto no contrato, ainda que as partes assim não tenham convencionado, desde que para tal não sacrifique interesses legítimos próprios. Serve, assim, como elemento INTERPRETATIVO do contrato, como elemento de criação de deveres jurídicos, de limitação e até ruptura de direitos. Proíbe-se com a criação da boa-fé objetiva o comportamento contraditório (venire contra factum proprium), o inciviliter agere (proibição de comportamento violador da diginidade humana) e a tu quoque (invoação da cláusula ou regra já violada pela parte). 
Embora conceito flexível, mede-se pelos padrões do homem médio, “homem leal e honesto”; o comportamento que a sociedade espera do contratante. A violação dos deveres anexos criados pela boa-fé objetiva é denominada “violação positiva do contrato”. O princípio exercer-se-á tanto na fase pré-contratual, quanto na fase pós-contratual. 
3.6. Autonomia da vontade e liberdade contratual – princípio concebido pelo liberalismo econômico europeu, hodiernamentefigurado pela expressão “liberdade de contratar” – liberdade atribuída às partes que lhes dá o poder de deliberar sobre cláusulas, prazos e todos os demais assuntos do contrato, desde que observe a lei. Se divide em três exercícios:
a. faculdade de contratar e não contratar – arbítrio de decidir se e quando estabelecerá com outrem negócio jurídico-contratual. O CDC limitou expressivamente a faculdade ao dispor, p. ex., em seu art. 39, II e IX-A, que o fornecedor de produtos e serviços pode recusar atendimento as demandas dos consumidores. 
b. escolha da pessoa com quem contratar e o tipo de negócio a ser efetuado – princípio da livre escolha
c. poder de fixar o conteúdo do contrato, a escolha do tipo contratual e livre redação do instrumento – lei limita essa liberdade, art. 423 e 424/CC, em especial nos contratos típicos, art. 425/CC.
O princípio da autonomia da vontade dispõe que as pessoas têm a faculdade de livremente concluir seus contratos. Restrições são trazidas pela sob relevância da ordem pública e pelo dirigismo contratual, intervenção do estado na economia do contrato. 
O contrato reflete a autonomia volitiva das partes, mas, por outro lado, deve ser submetido à ordem pública, sendo, conseguintemente, o resultante desse paralelogramo de forças em que atuam ambas estas frequências. 
4. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
4.1. Quanto à tipicidade – art. 425. Diz que um contrato é A típico quando suas regras disciplinares são deduzidas de maneira precisa nos códigos e suas leis; essas espécies possuem denominação (nomem iuris). Já os B atípicos não recebem batismo legislativo, não foram tipificados, denominados “contratos sob medida”. Quando se faz contrato típico, se adota implicitamente as normas legais que compõem sua dogmática. Em um contrato típico, descem-se as partes a renúncias extremas, já que falta a regulamentação específica. 
4.2. Quanto à forma – A consensuais são aqueles formados exclusivamente pelo acordo de vontades (solo consensu). Para sua celebração, a lei nada mais exige, além do consentimento. Uma vez predominante o principio consensualista, essa espécie de contrato é regra. B em contraposição aos consensuais, as mais variadas exigências legais. Forma (pública) nesse caso, é determinante da validade do ato e impostergável. Objetiva-se conceder segurança a algumas relações jurídicas. C já real é aquele contrato para cuja perfeição a lei exige a “tradittio” efetiva do objeto – a entre da coisa não é fase executória, mas requisito da própria constituição do ato. São poucos os que compõem a categoria: comodato, mútuo e depósito. Uma convenção em que as partes estipulem o empréstimo de garantia sem sua entrega efetiva é promessa de ????????? (pactum de mutuando), não contrato de ??????. Assim também funciona o penhor e o arras. 
4.3. Quanto à relação entre si – encarados quanto ao objeto perseguido pelas partes. A onerosos são aqueles dos quais ambas as partes visam a obter vantagens ou benefícios, impondo-se encargos reciprocamente em benefício uma da outra. Ex: locação. B gratuitos, ou benéficos, dizem-se aqueles dos quais somente um aufere vantagem, enquanto o outro sozinho suporta o encargo. Ex: doação pura e simples. Nos contratos gratuitos, trata-se de forma mais rigorosa a hipótese de revogação por fraude contra credores. 
4.4. Quanto a formação. A bilaterais são aqueles contratos que originam obrigação para ambas as partes (arts. 476 e 477). Ex: compra e venda; B unilaterais são aqueles que criam obrigações para apenas um dos contratantes; C plurilaterais quando há mais de duas partes em sua formação. 
Nos contratos bilaterais, cada contratante é, ao mesmo tempo, credor e devedor. A teoria dos riscos só se aplica nos contratos bilaterais, neles, as obrigações das partes são RECÍPROCAS E INTERDEPENDENTES. Nos plurilaterais, todas as partes também restam obrigadas, vários contraentes emitem sua vontade, cada um com seu próprio interesse. Nem sempre os contratos unilaterais são gratuitos! (Mútuo, p. ex.) e nem sempre os bilaterais são onerosos” (mandato, p. ex.)
4.5. Comutativos ou aleatórios – A são comutativos aqueles contrato em que as prestações de amabd as partes são conhecidas de antemão e guardam entre si uma equivalência de valores. Assim, neles, cada contratante verifica de imediato a equivalência da prestação; B são aleatórios aqueles que a prestação de uma das partes é desconhecida e não é suscetível de estimativa prévia, inexistindo equivalência com a prestação da outra parte. Aqui, partes dependem de risco futuro e incerto, não sendo possível a antecipação do montante (art. 458-461/CC). Ex: rifa, seguro, loteria. Risco é essência do contrato. Incerteza é de ambas as partes. Pode versar sobre coisas futuras ou atuais, desde que sujeitas a riscos. Rescisão por lesão (art. 157) e ação redibitória (arts. 441 e seguintes) não têm lugar nos contratos aleatórios. 
4.6. Quanto à execução – A de execução instantânea são aqueles em que a solução se efetiva de uma só vez por prestação única, tendo por efeito a extinção da obrigação. Ex: compra e venda com pagamento à vista; B de execução diferida é aquele contrato em que a prestação se dá a termo, não ocorrendo a extinção da obrigação até se completar a solutio. Ex: venda a prazo com entrega imediata de mercadoria; C de execução sucessiva ou continuada (art. 478) é o contrato que sobrevive mesmo com soluções periódicas até que, via implemento de condição ou decurso de prazo, cessa-se a obrigação, pondo fim ao contrato. O pagamento não extingue a obrigação, que renasce. A duração ou continuidade da obrigação é querida pelas partes. Ex: locação: venda de determinado bem com pagamento em X prestações. 
4.7. Quanto a realização da prestação – A pessoal – só podem ser cumpridos pelas partes contratantes, as partes nele não podem ser substituídas; B impessoais são aqueles contratos que podem ser realizados por terceiros. 
4.8. Quanto à paridade – A de adesão são aqueles que não resultam do livre debate entre as partes, mas provêm do fato de uma delas tacitamente aceitar cláusulas e condições previamente estabelecidas pela outra. Excluem a possibilidade de discussão ou debate sobre seus termos, adere-se à situação contratual já previamente deferida. Neles, eventuais dúvidas acerca das cláusulas se interpretam em favor do aderente. Normalmente se celebra situação jurídica de consumo. Onexiste liberdade de convenção, embora esteja presente o acordo de vontades; B paritários são os contratos onde as partes estão em situação de igualdade no que tange o princípio da autonomia da vontade. Eles discutem livremente o termo do ato negocial. 
5. FORMAÇÃO DOS EFEITOS DO CONTRATO
Sendo o contrato um negócio jurídico bilateral, requer-se o acordo de vontades através de manifestação volitiva e consentimento, ou consenso das partes contratantes.
É de fundamental importância a fixação do momento em que se dá o acordo de vontades. No instante em que as manifestações volitivas, emanadas segundo a forma livre ou determinada, justapõe-se ou coincidem, nasce o contrato. 
Pressupõe proposta – declaração de vontade recipitícia e vinculante – e aceitação. Pode a declaração de vontade ser expressa ou tácita, quando a lei não exigir que seja expressa. Até o silêncio (silêncio conclusivo) pode constituir manifestação volitiva (art. 111/CC)
É de notar-se que o contrato não nasce todo pronto, sendo resultado de séries de momentos ou fases: negociações preliminares, proposta e aceitação. Enquanto se mantiverem tais, as negociações preliminares não obrigam esta fase não é contratual, embora dela possa surgir responsabilidade civil e outros deveres jurídicos distintos das obrigações contratuais, decorrentes do princípio da boa-fé. A proposta já traz força vinculante (art. 427/CC) para aquele que a faz (“policitante”) – deve ser ela séria e precisa – já que constitui impulso inicial de fonte obrigacional. Deve também conter as linhas estruturais do negócio em vista. 
A proposta é elemento de formação da relação contratual, tem efeito jurídicoe é negócio jurídico, ao contrário da negociação. Não tem ela, contudo, força absoluta, não sendo, em alguns casos (art. 427) obrigatória. 
Quanto à vinculação da proposta, exitem três sistemas: A francês ou clássico, onde a proposta não cria qualquer vínculo; B alemão, onde o proponente é obrigado a manter a proposta; C misto, adotado no Brasil, onde se vincula o proponente, embora admitam-se exceções (art. 427/428). 
O contrato pode ser celebrado entre presentes (pessoas que estavam no mesmo lugar) ou entre ausentes (celebrado de forma epistolar) – classificações obsoletas! Entre presentes = mensagens simultâneas; entre ausentes = não simultâneas. 
A RETRATAÇÃO só será eficaz caso chegue antes ou simultaneamente à proposta. 
A aceitação é manifestação receptícia e VINCULANTE. Pode ser tácita ou explícita, aquiescência plena. Aceitação modificativa = contra-proposta. 
5.1. Momento de formação do contrato “entre ausentes” – A Teoria da cognição – considera perfeito o contrato quando o proponente toma conhecimento da aceitação do oblato; B Teoria da Recepção – entende-se celebrado o contrato quando o proponente recebe a resposta, mesmo que não a leia; C Teoria da Agnição/Declaração – Celebrado o contrato no momento em que o oblato escreve resposta positiva, quando este concorda com a proposta; D Teoria da Expedição – afirma a sua realização no instante em que a aceitação é expedida. É a adotada pelo nosso OJ (art. 434), embora mitigada nas hipóteses de seus incisos. Contrato é formado no momento em que oblato envia sua resposta positiva. 
5.2. Lugar – aquele em que o impulso inicial teve ou teve lugar; enuncia-se que deve reputar celebrado no lugar que for proposto (art. 435). Se os contratantes residem em países diversos, a obrigação resultante do contrato reputa-se concluída no lugar em que residir o proponente, com fulcro no art. 9, §2º da Lei de Intro ao CC. 
5.3. Efeitos : A gerais – encontrados em toda as modalidades de contratos; B particulares – específicos de alguns contratos. 
Os efeitos gerais se classificam em: (i) EFEITOS OBRIGATÓRIOS OU COM FORÇA VINCULANTE – todo contrato é dotado de irretratabilidade, ensejando que as partes cumpram as obrigações dele decorrentes. Admite exceções no caso de força maior ou caso fortuito. O contrato também é, em regra, unilateral, sob pena de desrespeito à segurança jurídica; (ii) RELATIVIDADE – subjetiva quando trata-se das partes ou objetiva, tratando-se do objeto da obrigação e a prestação a ele remetente. Objetivamente, o contrato só gera efeitos obrigacionais (contrapondo-se, p. ex. à França, onde também gera efeitos reais). 
6. EXTINÇÃO DO CONTRATO
Como todo negócio jurídico, o contrato cumpre seu ciclo existencial. Nasce do consentimento, sofre as vicitudes de sua carreira, e termina. Normalmente, cessa com a prestação. A solutio é seu fim natural, com a liberação do credor e a satisfação do devedor. 
Umas vezes, o contrato é fulminado pela sua declaração de invalidade, quando ocorre defeito em sua formação, de ordem subjetiva, objetiva ou formal, impedindo o pleno desenvolvimento da declaração de vontade e produção de seus efeitos. 
6.1. Causas prévias ou simultâneas – Como todo negócio jurídico, o contrato cumpre seu ciclo existencial. Nasce do consentimento, sofre as vicitudes de sua carreira, e termina. Normalmente, cessa com a prestação. A solutio é seu fim natural, com a liberação do credor e a satisfação do devedor. 
6.2. Causas supervenientes – posteriores à formação do contrato, versam sobre sua eficácia. Contrato é válido, mas ineficaz. Ex: lapso temporal. 
6.3. Formas específicas de extinção dos contratos 
6.3.1. Resilição: dissolução do vínculo contratual mediante alteração da vontade que o criará. Pode ser bilateral ou distrato, onde há declaração de vontade das partes no sentido oposto ao que havia gerado o vínculo (art. 472). É o chamado “contrario consensus”: Qualquer contrato pode cessar pelo distrato, basta que queiram as partes e estejam aptas a manifestar esta vontade. Produz, usualmente, efeitos ex. nunc. A resilição pode também ser unilateral, também chamada de resilição propriamente dita. Com caráter de exceção, é admitida no rol taxativo do art. 473, e se traduz na cessão do contrato por manifestação volitiva unilateral. O comodato, mandato e depósito admitem resilição unilateral. Observando a CLT (aviso prévio, etc), comporta a resilição unilateral o contrato de trabalho (art. 487) Extingue o contrato e suas consequências a resilição bilateral, enquanto a resolução unilateral, não obstante gerar a extinção do contrato, compadece-se com a extinção dos efeitos do contrato atingido. Aplicável somente a contratos de tempo indeterminado. 
Já a resilição voluntária se dá quando é manifestada declaração unilateral de vontade no âmbito de cláusula ajustada em contrato bilateral e que produz as consequências de distrato. Assim não obstante a unilateralidade da notificação, esta é efeito da vontade manifestada bilateralmente. 
Se um contrato é celebrado “intuito personae”, a impossibilidade da execução sem culpa enseja sua resilição atomática (“resilição convencional tácita”) já que é insubstituível a parte falecida. 
6.3.2. Resolução – cessação do contrato em consequência do devedor ter faltado ao cumprimento de sua obrigação. Em todo contrato bilateral, sua inexecução por uma das partes tem como consequência facultar a outra a promover sua resolução (“cláusula resolutiva tácita”). Pode se dar por inexecução culposa, que promove a extinção do contrato e enseja responsabilidade civil (parte pode requerer perdas e danos) ou por inexecução não culposa que promove apenas a extinção do contrato. 
Resolução pressupõe negócio jurídico válido! Diferente de declaração de invalidade.
6.3.3. Exceptio non adimplente contractus (exceção do contrato não cumprido) – contrato bilateral caracteriza-se pela reciprocidade das prestações. Com isso, nenhuma delas, sem ter cumprido o que lhe cabe, pode exigir que a outra o faça – ideia da independência das prestações. Defesa oponível pelo contratante demandado contra o co-contratante inadimplente: o demandado recusa sua prestação sob fundamento de não ter aquele que reclama dado cumprimento a que lhe cabe (art. 476). É causa impeditiva de exigibilidade da prestação por parte que não efetuou a sua. 
6.3.4. Resolução por onerosidade excessiva – sentindo que o desequilíbrio na economia do contrato afeta o próprio conteúdo de juridicidade, entende-se que não deveria permitir a execução seja do ajuste, quando a força das circunstâncias ausentes viesse a criar um estado contrário ao princípio da justiça no contrato, elaborando-se a tese de resolução do contrato em razão de onerosidade excessiva da prestação, disciplinada nos arts. 478-480. Não justificam sua aplicação por apreciação subjetiva do desequilíbrio das prestações, mas a ocorrência de acontecimento extraordinário, que tenha operado a mutação do ausente objetivo, em tais termos que o cumprimento do contrato em si excessivo implique ao enriquecimento de um e o empobrecimento do outro. 
7. CONTRATOS EM ESPÉCIE
7.1. Compra e venda – art. 481/CC. Contrato pelo qual uma das partes obriga-se a transferir propriedade sobre bem material para a outra, recebendo como contraprestação valor fiduciário. Por si só, a compra e venda NÃO transfere propriedade, visto que ela se distingue em dois momentos distintos: o ato causal ou contratual e o ato da transferência: o primeiro sendo o contrato (obrigação de transferir) e o segundo a transferência em si. Assim, a compra e venda não opera a transmissão do domínio, tendo caráter meramente obrigacional (caráter meramente obrigatório do contrato). Com isso, é imprescindível a tradição da res vendita móvel ou inscrição do título aquisitivo no registro de imóvel. Pode ter por objeto bens corpóreos (móveis, imóveis e ??????) ou incorpóreos (aí se tratando de cessão). 
Assim, esse contrato é bilateral, oneroso, geralmente comutativo, consensual e translativo de propriedade, por ser o ato causaldesta e fundamento da transição ou tradição. 
	Cria obrigações para o vendedor e comprador, ambas as partes extraem proveito ou vantagem, normalmente tem suas prestações determinadas e equivalentes, forma-se comumente pelo acordo de vontades (embora as vezes seja solene) e é ato causal que fundamenta a tradição. 
É obrigatório e perfeito, desde que as partes acordem no objeto e seu preço (art. 482), devendo os agentes serem aptos a fazê-lo – Elementos essenciais, coisa, preço e consentimento (essentiali negotii).
7.1.1 Elementos: A coisa – objeto da compra e venda. Deve ser possível, disponível e presente. Pode ser corpórea ou incorpórea. Venda de coisa inexistente é nula, já que o contrato forçosamente deve ter em que incidir, embora seja perfeitamente possível a venda de coisa futura, condiocionando o contrato a sua existência (objeto não é res, é spes – expectativa). Portanto, a coisa precisa ser dotada de EXISTÊNCIA POTÊNCIAL. Além disso, o objeto da compra e venda precisa ser DETERMINADO ou DETERMINÁVEL – suscetível de individualização no momento da execução. Mais ainda, a coisa precisa ser DISPONÍVEL ou estar no comércio (a indisponibilidade pode ser legal, natural ou voluntária). Por fim, precisa ser POSSÍVEL de transferência ao comprador – ex: a coisa não pode ser do comprador já que, se for, é intransferível a ele, uma vez que ninguém pode adquirir o que já é seu; B preço – art. 481. É preciso que o preço seja estabelecido em DINHEIRO ou valor fiduciário (título representativo de dinheiro) – pecúnia é essencial somente quando no momento de celebração do contrato, que não se caracteriza, p. ex., se a posteriori for feita dação em pagamento. Além disso, o preço tem que ser certo ou determinado para que o comprador possa efetuar a solutio na forma devida, cabendo, então, que seja fixado. Em suma, precisa ser determinado/ determinável, verdadeiro e de conhecimento das partes; C consenso ; D partes capazes de contratar expressando livre e plenamente suas vontades. 
7.1.2. Diferença com outros institutos – A troca: na compra e venda, A recebe de B pagamento pecuniário em troca da coisa, não outra coisa, como na troca; B doação: na doação não há contraprestação; C locação: enquanto na compra e venda a entrega do bem é definitiva, na locação é temporária; D empreitada: empreitada é obrigação de dar e fazer, obrigação cumulativa, enquanto compra e venda é obrigação de dar, apenas. 
7.1.3. Efeitos da compra e venda – A transferência do domínio – obrigação do vendedor de efetuar a tradição da res vendita no tempo e lugar convencionados. A coisa imóvel só se adquire após inserção do título do registro; B garantia contra os vícios redibitórios (defeitos ocultos – art. 441); B garantia contra evicção; D responde o vendedor por todos os débitos sobre a coisa, até a tradição (art. 502); E arca o vendedor com as despesas da tradição até o lugar combinado – obrigação do devedor. F obriga-se o comprador a pagar o preço integral e pontualmente; G arca com despesas do contrato e seu registro, salvo cláusula em contrário (art. 480).
7.1.4. Risco – a coisa perece para seu dono até que seja feita a entrega (res perit dominio) – sofre o alienante em seu perecimento ou classificação. Art. 492,§1º. Não obstante, se a coisa é posta à disposição do comprador, em tempo e modo, este, se não a levanta, suporta o risco e não se pode queixar do dano eventual (mora accipiendi). 
7.1.5. Modalidades de compra e venda – compra e venda não se confunde com cessão; na compra e venda há bem material e na cessão cede-se ou doa-se bem material. 
Mobiliários
Imobiliários – ad corpus – imóvel em sua integralidade – coisa certa e determinada (art. 500)
		Ad mensuram – venda imobiliária com preço estipulado a medida da extensão da área declarada pelo vendedor. 
7.1.6. Cláusulas especiais de compra e venda
A retrovenda: pacto adjeto a compra e venda, mediante o qual o vendedor estipula o direito de recobrar, em certo prazo, o imóvel que vendeu, restituindo ao adquirente o preço acompanhado das despesas realizadas. Com efeito, também é chamada de resgate ou retrado. É pacto adjeto sob pena de, se figurar em ato apartado, exigir como CONDIÇÃO RESOLUTIVA oposta ao contrato de compra e venda. Não constitui dirieto real, mas direito de transformação ou configuração. Seu objetivo é tão somente a venda imobiliária. Prazo decadencial de 3 ANOS. Precisa estar escrita em registro de imóveis. STJ – precedente abriu margem para retrovenda em bens que são imóveis, p. ex., retrovenda para ações financeiras. Pouco utilizada. Criticada por ser empecilho a livre circulação de riquezas já que possui prazos de vigência curtos. 
B venda a contento: contrato de compra e venda subordinado à condição de ficar desfeito se o comprador não se agradar da coisa. Em nenhuma hipótese pode ser prejudicada (art. 509). Em princípio tem condição suspensiva, não obstante possam as partes lhes atribuir caráter resolutivo. Subordinação da opinião pessoal do comprador, cujo gosto foi exigido em conditio do negócio. O contrato está formado, embora sob condição suspensiva. Ao contrário do entendimento do CC 16, no CC 2002, estabeleceu-se que o direito é transmissível por ausência de redação legal já que não é da natureza do contrato o intuito persona. É faculdade conferida ao comprador. É oponível aos sucessores do vendedor. ≠ venda sob amostra, pois nessa o comprador só pode recusar a comprar caso se o todo não estiver de acordo com a amostra. 
C venda sujeita à prova: vendedor apresenta ao comprador amostras que indiquem a qualidade do produto a ser vendido. É assegurado que a coisa a ser vendida possui mesma qualidade da amostra (art. 510/CC).
D Cláusula especial de perempção ou preferência: pacto adjeto à compra e venda em virtude do qual o comprador de uma coisa, móvel ou imóvel, fica com a obrigação de oferecê-la a quem lhe vendeu, para que este uso do seu direito de prelação em igualdade de condição, no caso de pretender vendê-la ou dá-la em pagamento. Assim, o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa, caso venha vendê-la a terceiro ou dá-la em pagamento. Direito de preferência do comprador. Arts. 513 e 504. O pacto é personalíssimo, só podendo exercê-lo o próprio vendedor; somente tem lugar na compra e venda; somente é exercido quando pretende o comprador vender coisa ou dá-la em pagamento; pode ser pactuado para a venda de qualquer bem. Obrigação do comprador é ?????? a direito do vendedor. Prazo decadencial máximo? 180 dias se móvel, 2 anos se imóvel. 
E compra e venda com reserva de domínio: no contrato de compra e venda de coisa MÓVEL, vendedor reserva para si a propriedade do bem até o pagamento da última parcela, passando o negócio a ter eficácia plena no momento em que se realiza o pagamento integral do preço. Transfere-se ao comprador a posse da coisa, mas conserva-se a propriedade até a integralização do pagamento. Deve observar a forma escrita. Para valer contra terceiros, deve ser total ou parcialmente transcrita no registro público de títulos e documentos do domínio do comprador. 
F venda sobre documentos: considera-se cumprida a obrigação de tradição uma vez colocada a documentação nas mãos do comprador ou confiada sua entrega a p.f. ou p.j. Substituida a tradição real pela ficta, vigora presunção de que o vendedor se desincumbiu de seu dever contratual, competindo ao comprador efetuar o pagamento. 
7.1.7 Invalidades da compra e venda – partes que compõe compra e venda precisam ser capazes, autorizadas a negociar e estarem legitimadas a fazê-lo, ou seja, não pode haver qualquer impedimento para comprar ou vender. 
Não podem vender: (i) falido; (ii) pessoa casada sem autorização do cônjuge; (iii) tutor ou curador sem autorização judicial; (iv) ascendente quando vendendo para descendente salvo com expresso consentimento de cônjuge ou alienante. 
Não podem comprar: (i) tutores, curadores, testamentores e administradores os bens confiados à sua guarda ou administração; (ii) servidores públicos os bens ou direitos da p.j. a quemservirem ou que estejam sob sua administração; (iii) leiloeiros; (iv) juízes, etc. 
7.2. TROCA – seu mecanismo consiste na entrega de uma coisa por outra (bem a bem) objetivando a prestação de casa um dos contratantes uma coisa em espécie. Somente foi possível quando se encontrou valor-paradigma. Seus caracteres jurídicos são: bilateral, oneroso, comutativo, translatício de domínio e consensual. – ato causal de transferência de propriedade
Equivalente à compra e venda, tudo que pode ser objeto desta pode ser trocado. Despesas entre permutas deve ser igualmente dívida (art. 533), à diferença da compra e venda, o contrato é anulável se os ascendentess e descendentes não consentiram expressamente. Já na troca, ambos são alienantes, sendo anulável a troca de valores desiguais entre os ascendentes e descendentes. 
Obrigação entre as partes: (i) entregar coisa, transferindo-lhe propriedade; (ii) garantir evicção; (iii) responder pelos vícios; (iv) arcar com despesas do contrato de forma pro rata. 
7.3. DOAÇÃO – Contrato em que a pessoa, por liberdade, transfere de seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita (art. 538). É contrato gratuito (gera benefício ou vantagem apenas para o donatário), unilateral (obriga apenas uma das partes), formal (tendo que obedeceu a forma prescrita no art. 541. Além disso, pressupõe liberalidade do doador e tem proporcionalidade inversa: doador perde e donatário ganha patrimônio. Tem que ser ato inter vivos. Pode-se estabelecer obrigação, desde que não beneficie doador. Ex: coisa vai para creche. Não se limita bens PATRIMONIAIS, embora se limite a bens corpóreos (não-corpóreos = cessão)
Pressupostos: capacidade de fato do doador (poder de disposição do bem). Bem em domínio do doador. Bem alienável. 
Modalidades: (i) doação pura e simples – nada além de liberdade do doador de entregar ao donatário; (ii) com encargo – contrato com elemento acidental decorrente de acordo entre as partes (voluntariedade). Podem ser A condicionais – doação ocorre se acontecer o fato previsto; B modais – impõe obrigação ao donatário. 
Dentre as modais: remuneratória (art. 540/CC); a termo – fixa-se um prazo pra que doador aceite a proposta. Silêncio significa negação (539). Continuada – feita em parcelas – bem divisível; propter nuptias – condicionada a realização de casamento; manual – feita de bem móvel com imediata tradição; universal – 584/CC: doação integral do patrimônio de alguém. OBRIGATORIAMENTE NULA! Correto: dar usufruto vitalício; inoficiosa – NULA. Ultrapassa o limite legal do doador que possui herdeiros necessários. 
7.3.1. Invalidades
Art. 104 – Causas invalidade qualquer ato. 
Nulidade: (i) doação de coisa futura; (ii) doação universal; (iii) doação inoficiosa; (iv) doação simulada; (v) doação feita pelo curador de bem do incapaz.
Anulação: (i) doação (ii) autorização do cônjuge adultéro. 
7.3.2. Revogação – pode ser revogada por inexecução se for com encargo ou ingratidão se for pura e simples. Arts. 555, 557, 558. 
A revogação é ato personalíssimo (art. 560). O prazo para revogação é de 1 ano se for por ingratidão (art. 559). O donatário não é obrigado a restituir frutos recebidos (art. 563). Perdão expresso ou tácito exclui a revogação. Não se revogam por ingratidão (art. 564): permanente ?????; oneradas com encargo já cumprido; que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; feitas para determinar casamento. 
7.4. LOCAÇÃO – Contrato pelo qual uma pessoa se obriga a ceder temporariamente o uso e gozo de uma coisa não fungível mediante certa remuneração. 
Características: impessoalidade (arts. 577); temporariedade; locador não precisa ser proprietário do bem; forma livre; bens infungíveis e não consumíveis; onerosidade comutativa (aluguel).
Modalidades de locação:
1. móvel
2. imóvel – rústica/ rural
		Urbana – residencial: dura min 30 meses
				Não residencial 
				Para temporada: não pode exceder 30 dias – não precisa garantia locatícia. Se for registrado em cartório, contrato tem efeito erga omnes. 
Obrigações do locador (art. 566) – garantir posse do locatário, indenizar benfeitorias necessárias e as úteis previamente autorizadas. A priori, locador tem direito de retenção das benfeitorias. Dar preferência ao locatário em caso de venda. 
Obrigações locatário – pagar aluguel pontualmente; conservar o bem, inclusive pagar taxas e impostos; dar fim previsto no contrato restituir o bem no final do contrato; informar o locador de qualquer ????? de terceiro.

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