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Comportamentalismo Caroline Tozzi Reppold A escola comportamentalista 1 , também conhecida como Behaviorismo, surgiu no campo da ciência psicológica em 1913, a partir de um artigo2 de Watson, como uma tentativa de legitimar o caráter científico da Psicologia através do repúdio dos métodos de investigação introspectivos 3 das escolas Estruturalista e Funcionalista e da aceitação de que seria possível uma ciência do comportamento que explicasse os fenômenos através de causas naturais e não mais recorresse a explica- ções mitológicas ou subjetivas, como acontecia anteriormente. Nesse sentido, para compreender os princípios do comportamentalismo, é im- portante que o leitor conheça o contexto histórico no qual esta escola se desenvolveu e as características das escolas que a antecederam, contra as quais se originaram as idéias do Behaviorismo. 1 Os termos comportamentalismo e Behaviorimo provêm de uma tradução de Behaviorism, nome da escola teórica fundada por Watson, derivado do vocábulo behavior, que, em inglês, significa comportamento. 2 O artigo referido intitula-se "Psychology: as the Behaviorist Views It", cuja tradução é "Psicologia: Como os Behaviorista a vêem" 3 Os métodos introspectivos (do latim intro: interno; specção: observação) — referem-se ao exame das idéias e experiência internas, isto é, ao registro e observação de nossas próprias sensações, percepções e sentimentos (Atkinson, Atkinson, Smith, Bem, Nolen-Hoeksema, 2002) Antecedentes do Comportamentalismo Apesar da Psicologia ser uma ciência relativamente nova, cuja fundação data de 1879, quando Wundt, criador do Estruturalismo, orga- nizou o primeiro laboratório de Psicologia Experimental, o interesse por conhecer as peculiaridades da condição humana já era observado entre filósofos como Platão e Aristóteles na Grécia Antiga. Contudo, o método empregado por estes pensadores dependia não de observações recor- rentes ou experimentos, mas de especulações sobre o universo que visavam a captar a essência dos fenômenos através de um processo racional e que, muitas vezes, remetiam a suposição de que Deus era o responsável pela origem e funcionamento do universo e de tudo que nele ocorre, incluindo os modos de pensar e agir dos seres humanos (Baum, 1999; Schultz & Schultz, 1999). Nesse contexto, contra o pressuposto filosófico que a vontade divina determinaria as formas de ser e agir do homem e de todos os seres (em suas motivações, aparência física, traços de personalidade, etc), o método científico surgiu como um conjunto de atividades objetivas, dirigido a um conhecimento sistemático sobre determinado objeto de estudo. Portanto, como outras ciências, a Psicologia nasceu da Filosofia, mas dela se separou ao buscar definir seus próprios objetos de estudo e métodos de investigação. Assim, se na Física foi o surgimento das lentes e a descoberta da gravidade que possibilitou esse rompimento através do questionamento da origem do universo e da busca de uma explicação que prescindisse de um Deus criador, na Psicologia, o Estruturalismo foi a primeira escola a romper com a Filosofia e a buscar outras fontes de explicação para a consciência, recorrendo à Fisiologia, área de formação de Wundt. Segundo o Estruturalismo, a consciência deveria ser analisada a partir das estruturas que a compunham (as sensações — cores, formas geométricas, etc) e de suas relações com o sistema nervoso. Assim, seria possível descrever os componentes da consciência, tal qual acon- tece na Química, quando se analisa de que elementos é formada deter- minada molécula. Contudo, no Estruturalismo, o método empregado para coleta dessa descrição exigia que o sujeito passasse por um extensivo treinamento até que estivesse "apto" a relatar suas sensações a partir de auto-observações, o que excluía o estudo de crianças e animais (Schultz & Schultz, 1999). Tal limitação, somada à falta de aplicabilidade dos estudos realizados pelo Estruturalismo, impulsionou a emergência da segunda escola psicológica: o Funcionalismo, que se caracterizava pela preocupação em demonstrar o caráter prático ou funcional das pesquisas psicológicas. Todavia, o Funcionalismo, ao também assumir a consciência como seu objeto de estudo, mantinha como um de seus métodos de investigação a introspecção, ou seja, a prática de auto-observações e auto-relatos. Desse modo, ambas escolas incorreram no fato de assumir p a r â m e t r o s s u b j e t i v o s d e a v a l i a ç ã o , o q u e , s e g u n d o o Comportanientalismo, impedia a comparação e generalização dos resul- tados obtidos, conforme se observa na crítica de Watson aos modelos introspectivos, fundador do Behaviorismo: "Se você não conseguir reproduzir meus dados. ..é porque sua introspecção não foi bem treinada. Ataca-se o observador e não a situação experimental. Na Física e na Química atacam-se as condições experimentais. Diz-se que o equipamento não era suficientemente adequado, que foram usadas substâncias químicas impuras, etc. Nessas ciências, uma técnica melhor fornecerá resultados passíveis de reprodução. Na Psicologia é diferente. Se você não consegue observar de três a nove estágios de clareza na atenção, é sua introspecção que é deficiente. Se, por outro lado, um sentimento parece razoavelmente claro para você, sua introspecção é culpada de novo. Você está vendo demais. Os sentimentos nunca são claros."(Watson, 1913, p. 163, apud Baum, 1999) Nesse sentido, o Comportamentalismo deixa de lado o estudo da consciência que caracterizava as escolas anteriores e lança um novo objeto de estudo: o comportamento. Watson acreditava que, para que fosse possível tornar a Psicologia uma ciência confiável e generalizável, os dados psicológicos deveriam ser acessíveis aos olhos de qualquer pessoa. Princípios do comportamentalismo Ao assumir que a Psicologia constitui um ramo puramente objetivo da Ciência Natural, cujo objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento, o Behaviorismo releva sua vinculação com o movimento Positivista, uma corrente surgida no séc. XIX que estimava que a ciência deveria tirar dos experimentos reais (da experiência provinda de um dos cinco sentidos) as leis que o determinam, através de experiênci- as objetivas e bem controladas, passíveis de serem reproduzidas e gene- ralizadas a situações semelhantes. Daí provém a concepção determinista do Behaviorismo, ou seja, a noção de que o comportamento é determinado pela herança genética ou por eventos ambientais e não por fatores como a sorte, a religião, etc. Assim, pode-se predizer as possíveis conseqüências de urna situação a partir dos resultados obtidos anteriormente em situações parecidas, embora deva-se considerar que no dia-a-dia são muitos os fatores sociais, biológicos e psicológicos que competem para determinar a emissão de um comportamento e a sua conseqüência e, que, portanto, uma mesmo comportamento pode ter conseqüências distintas dependendo do contexto no qual ocorre. Ainda, é preciso esclarecer que a idéia de determinismo não deve ser confundida com fatalismo, crença que os fatos inoportunos não podem ser modificados no futuro, embora se saiba as conseqüências (indesejadas) das situações que o precedem (Baum, 1999; Catania, 1999). Embora possa-se dizer que o Behaviorismo sempre repudiou a idéia de comportamentos implícitos (mentalistas) e pressupôs que certos estímulos aumentam as chances de ocorrência de determinadas respostas em razão de reflexos inatos e de condicionamentos realizados ao longo da vida, como pressupunha a Escola Associacionista, deve-se enfatizarque a noção de comportamento modificou-se com o tempo na teoria comportamentalista, de modo a afirmar-se a existência de dois tipos de Behaviorismo: o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical. Behaviorismo Metodológico x Behaviorismo Radical O Behaviorismo metodológico, criado por Watson, postulava que o processo de aprendizagem era decorrente de um condicionamento reflexo, como já mostrava Pavlov no campo da Fisiologia. Isto é, de um processo no qual um estímulo anteriormente neutro torna-se associado a outro estímulo através da repetida combinação com aquele estímulo, produzindo uma resposta fisiológica inata, como temor, alegria, excitação, etc. Assim, por exemplo, seriam explicados comportamentos como a euforia de ver um carteiro aproximar-se de nossa casa quando se espera noticias de alguém ou o medo de um empregado ao receber um e-mail do departamento de recursos humanos mandando-o imediatamente procurar aquele setor. Segundo Watson, o comportamento humano seria explicado pelos mesmos princípios de investigação do comportamento animal e seria determinado exclusivamente por fatores ambientais (Atkinson e cols., 2002). A partir das idéias de Watson, Skinner voltou-se principalmente aos estudos do comportamento humano, o qual poderia ser explicado no modelo do Behaviorismo Radical' por ele proposto não apenas pelos condicionamentos reflexos, mas também por condicionamentos operantes. Ou seja, pela aprendizagem, obtida na vida cotidiana, das conseqüências que nossos atos produzem, as quais farão com que tais respostas sejam mantidas ou suspensas em situações análogas. Por exemplo, o fato de uma pessoa ser bem sucedida em sua iniciativa de abordar alguém no qual esteja interessada ou em solicitar aumenta ao seu patrão fará com que em outra ocasião similar o sujeito lance mão das mesmas estratégias que lhe garantiram sucesso anteriormente. Todavia, diferente de Watson, Skinner não atribuía somente ao ambiente o resultado do comportamento de um indivíduo, mas considerava também suas características genéticas e o desenvolvimento de seu repertório comportamental durante sua história de vida. Ressaltava, na definição de comportamento, o caráter interativo entre o organismo e ambiente e a extensão do conceito de ambiente, o qual incluía todas as circunstâncias que afetam o comportamento, estejam elas dentro (emoções, pensamentos, sonhos, etc) ou fora da pele do sujeito (circunstâncias sócio-culturais). Nessa conceituação, afirmava que as causas de um comportamento devem ser buscadas nos acontecimentos do mundo na- tural/real e não em explicações mentalistas, visto que essas nada explicam sobre os reais motivos dos acontecimentos. Por exemplo, Skinner (1953/2000) afirmava que dizer que uma pessoa está chorando porque está triste em nada contribui para que se descubram as causas do com- portamento de chorar e se busquem estratégias para mudar os aconteci- mentos que a fazem chorar. De fato, Skinner era terminantemente contra a idéia de que o comportamento se reduzia às atividades cerebrais, conforme observa-se na passagem a seguir: "Os psicólogos cognitivistas 4 0 nome Behaviorismo Radical justifica-se pela amplitude do conceito de comportamento adotado nessa abordagem, que considera todas as interações do organismo com o ambiente e não apenas o comportamento motor, como o Behaviorismo metodológico, nem somente as "atividades mentais", como propõe a escola cognitivista. parecem dizer que 'a mente é o que o cérebro faz', mas seguramente o restante do corpo desempenha seu papel. A mente é o que o corpo faz. E o que a pessoa faz. Em outras palavras, é o comportamento, e isto é o que os comportamentalistas vêm fazendo há mais de meio século. Focalizar o organismo é voltar para os gregos homéricos" (Skinner, 1974, citado por Catania, 1999). Assim, Skinner assumia ser impossível antever a conseqüência de um comportamento qualquer sem avaliar-se as contingências (relações de causalidade), estabelecidas pelo sujeito ao longo das experiências vivenciadas sejam falsas ou verdadeiras. Para o autor, a manutenção dos comportamentos melhor ajustados segue os mesmos princípios da teoria da evolução proposta por Darwin, na qual os gens dos indivíduos mais adaptados ao ambiente sobressaem-se aos demais na luta pela so- brevivência das espécies. No caso do Behaviorismo, ocorre que a apren- dizagem obtida através das conseqüências satisfatórias de determinado comportamento que fora reforçado faz com que o mesmo comporta- mento seja mantido no repertório do sujeito e repetido futuramente. Assim, os principais processos determinantes da aprendizagem operante são o reforçamento e punição, definidos a seguir. Princípios do Condicionamento: — Reforçamento: processo no qual há a apresentação de uma conseqüência desejada quando o comportamento ocorre, de modo a aumentar as chances desse comportamento volta a acontecer. Para que ocorra, três critérios devem ser preenchidos: as respostas emitidas devem ter conseqüências; sua probabilidade deve aumentar; o aumento da probabilidade deve ocorrer porque a resposta tem esta conseqüência e não por qualquer outra razão. Ressalte-se que o reforço não necessariamente refere-se a algo material, mas pode-se tratar de demonstrações de afeto, satisfação, etc. — Pode-se distinguir duas formas de reforçamento: 1. reforçamento positivo: processo no qual aumentam as chances da ocorrência do comportamento em razão da apresentação de um estímulo agradável (recompensa). Exemplo: A comissão que um vendedor recebe pelas vendas realizadas serve como uma recompensa pelo seu trabalho e aumenta as chances desse esforçar-se mais a fim de obter uma recompensa ainda maior. 2. reforçamento negativo: processo no qual aumentam as chances da ocorrência do comportamento em razão da retirada de um estímulo desagradável. Exemplo: Em um dia muito quente no qual você tem um trabalho na rua para realizar, é provável que você se esforce por logo terminá-lo para evitar o calor. — Punição: Operação através da qual o comportamento emitido se torna menos provável em razão das conseqüências obtidas. Portanto, sua função é reduzir as tendências do indivíduo a comportar-se de certa forma. Ou seja, o efeito da punição é o oposto ao efeito do reforço. Conforme Skinner demonstra no livro Ciência e Comportamento Humana (1953/2000), a punição é uma das técnicas de controle mais difundidas na sociedade, sendo observadas nos sistemas legais e políticos (ex: multas, espancamento, encarceramento, trabalhos forçados), no controle religioso (ex: penitências, ameaças de excomunhão), na esfera da educação (ex: censuras, advertências, expulsões, reprovações) e mesmo no sistema familiar (ex: castigo, constrangimento, privações). Todavia, apesar de ser amplamente utilizada, não se deve esquecer que os estímulos punitivos (também chamados aversivos) geram emoções negativas que, além de suscitar ansiedade e baixo índice de bem-estar, aumentam as predisposições do sujeito para retrucar o punidor e/ou fugir da situação aversiva. Dessa forma, ao contrário do reforço, a punição funciona com desvantagem tanto para o organismo punido, quanto para o punidor. Também a punição distingue-se em função da apresentação de um estímulo aversivo ou da retirada de um estímulo desejado, conforme descrito abaixo: — Punição Positiva: processo no qual diminuem as chances da ocorrência do comportamento em razão da apresentação de um estímulo desagradável. Exemplo 1: Se você vai a uma festa em um novo bar que abriu na cidade e, durante anoite inteira, toca um tipo de música que você detesta, é provável que as chances de você voltar a este lugar sejam remotas. Exemplo 2: Se ao passar pela sua mesa no escritório, seu chefe lhe der uma bronca na frente de todos por ver uma pilha de tarefas que se acumulam enquanto você conversa com um amigo ao telefone sobre o passeio do fim-de-semana durante mais de uma hora, é provável que, em razão da vergonha que você passou, seu comportamento não volte mais a se repetir. — Punição Negativa: processo no qual diminuem as chances da ocorrência do comportamento em razão da retirada de um estímulo agra- dável. Exemplo 1: o fato de uma mãe proibir sua filha de ir a uma festa, em razão da menina ter desconsiderado o horário combinado de chegada na semana anterior. Exemplo 2: o fato de você ter sua carteira de habilitação cassada por ter ultrapassado o limite de velocidade ao passar por um radar. Em ambos os casos, observa-se que a punição, geralmente, apresenta uma eficácia limitadas, visto que a redução na freqüência do com- portamento indesejado tende a não ser permanente e a ser emitida so- mente na presença do punidor. Assim, como alternativas à punição, têm- se então as práticas de extinção do comportamento ou o reforçamento de outro padrão de comportamento mais adaptativo (Skinner, 1953/2000): — Extinção: Conforme já estudamos, quando uma resposta é re- forçada, sua probabilidade aumenta. Porém este aumento não é perma- nente: o responder volta aos níveis anteriores tão logo o reforço seja suspenso. A operação de suspender o reforço é chamada extinção. Se não ocorresse a extinção, os efeitos do reforçamento seriam para sempre, mas não é este o caso, visto que se trata de processo gradual. Assim, por exemplo, se as reuniões da empresa em que você trabalha sempre começam atrasadas, seu comportamento de chegar no horário marcado, com o tempo, será extinto; porém, isso não ocorre na primeira reunião a qual você comparece, mas trata-se de um processo sucessivo. — Modelagem do comportamento: Trata-se da modificação gra- dual de uma resposta por outra que seja mais apropriada ao sujeito através do reforçamento diferencial, isto é, do reforçamento de outros padrões de comportamento que vão sendo sucessivamente adquiridos e aprimorados pelo indivíduo a partir da aprendizagem obtida. Através desse processo aprendemos a maioria dos comportamentos que emitimos cotidianamente (andar, falar, dirigir, dançar, atravessar a rua, etc). A mode- lagem é empregada para produzir respostas que por serem infreqüentes ou muito complexas não seria emitida, ou a seria depois de um tempo considerável e da exposição a riscos desnecessários. Por exemplo: Não precisamos descobrir por tentativa e erro o que acontece ao arrancarmos o carro em terceira marcha ou colocarmos um pacote de sal para cozinhar um quilo de massa. Através da aprendizagem obtida — leituras, conselhos, aulas, experiências anteriores — esses comportamentos vão sendo progressivamente modificado, à medida que vamos descobrindo a melhor maneira de conduzir aquela situação, ou seja, quais os comportamentos foram reforçados e portanto devem ser mantidos. A possibilidade do reforço diferencial da modelagem do compor- tamento é bastante eficiente para modificar-se comportamentos inade- quados de outras pessoas, à proporção que você sinaliza para o outro quais os comportamentos por ele emitidos são reforçados e quais os que devem extintos. Por exemplo: se você tem como aluno uma criança que, em sala de aula, fala muito alto para chamar sua atenção, você pode ensinar-lhe melhores formas de ação ao tentar extinguir seu comportamento de gritar e ao reforçar as vezes que ele fala moderadamente (prestar atenção a sua solicitação somente quando este não grita). A apresentação de tais pressupostos talvez tenha remetido o leitor a uma questão polêmica, central na teoria Behaviorista: a influência do ambiente sobre o comportamento, ou mais especificamente, o controle dos estímulos. Embora haja controvérsias sobre tal determinação, evi- denciadas por aqueles que afirmam a existência de um livre-arbítrio in- dependente de fatores contextuais, seria ingenuidade desconsiderar a ação do meio sobre os indivíduos. Nesse sentido, observa-se que a in- vestigação dos efeitos ambientais sobre os seres vivos permite aos pes- quisadores melhor compreender os mecanismos envolvidos no controle de estímulos, ou seja, na emissão de comportamentos diferenciados a partir de estímulos específicos, predizer comportamentos "esperados" e modifica-los à medida do possível e do desejável pelo sujeito (Baum, 1999). Dentre os processos envolvidos no controle de estímulos estão a generalização e discriminação. — Generalização: Refere-se à difusão dos efeitos do reforço (ou de outras operações como a extinção e a punição) para outras situações, ou seja, ao princípio de que, uma vez estabelecida uma resposta condici- onada a determinado estímulo, estímulos semelhantes também evocarão aquela resposta. Assim, diz-se que os estímulos foram generalizados quando o comportamento de um indivíduo é similar frente a dois estímulos diferentes. Por exemplo, quando uma criança aprende em casa que consegue o que quiser chorando e fazendo birra, é possível que ela venha a generalizar seu comportamento de birra em outros contextos, como na escola, na casa dos avós, etc. — Discriminação: Refere-se à capacidade de perceber as diferenças existentes entre dois ou mais estímulos e de responder de maneira diferenciada a cada situação. Através desse processo, aprendemos a discriminar as situações de convívio social nas quais certos comporta- mentos são mais ou menos convenientes. Exemplo 1: As expressões faciais de alguém podem servir como um estímulo discriminativo para eu me aproximar dessa pessoa ou evitá-la. Exemplo 2: quando criança, logo aprendemos que, para atravessar a rua, não basta apenas que uma luz qualquer no semáforo para pedestres acenda para que possamos seguir, mas que somente podemos avançar quando a luz verde acender. Assim evidencia-se o importante papel da discriminação na composição do re- pertório de comportamentos do indivíduo e, por conseqüência, na busca de sua proteção e adequação social. Abrangência multidisciplinar dos pressupostos comportamentalistas: Embora na Psicologia brasileira, especialmente no sul do país, o Behaviorismo seja pouco difundido em razão da falta de centros de for- mação especializados e, principalmente, da popularização dos enfoques dialéticos de compreensão do ser humano - o que fora determinado em grande parte pela expansão da Psicanálise na Argentina durante o perí- odo das Grandes Guerras e conseqüente alastramento desta perspectiva ao nosso país com a imigração de psicanalistas - atualmente observa-se que os princípios comportamentalistas encontram-se empregados não somente nas diferentes áreas da Psicologia (Clínica, Escolar, Organizacional, etc), como também difundido entre outros campos de atuação, tais como: — na publicidade. Ex: estudo de estímulos reforçadores e aversivos para uso na propaganda — na administração de empresas. Ex: estudo das estratégias de aumento da produtividade e da satisfação de empregados e clientes — na educação infanto-juvenil. Ex: estudo dos efeitos das práticas educativas parentais — nas intervenções jurídicas. Ex: Estudos dos efeitos das penas diante do acometimento de atos infracionais — nas intervenções desportivas. Ex: estudo das estratégias para treinamento de atletas. Referências bibliográficas ATKINSON, R., ATKINSON, R., SMITH, D., Bem, E.& NOLEN- HOEKSEMA, S. Introdução à Psicologia. Porto Alegre: ArtMed, 2002. BAUM, W. Compreender o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: ArtMed, 1999. CATANIA, C. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: ArtMed, 1999. SKINNER, B. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Original publicado em 1953.
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