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SIGNIFICAÇÃO E SENTIDO Apontamentos sobre a questão em Lévinas

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SIGNIFICAÇÃO E SENTIDO:
Apontamentos sobre comunicação, e a questão da verdade a partir de Emmanuel Lévinas[2: 	Para maior aproximação da questão, sugiro a aproximação de alguns de nossos trabalhos anteriores, indicados na seção referências ao final do texto. ]
Hugo Allan Matos[3: 	 Mestre em Educação, Pós-graduado em Filosofia e História Contemporânea, Licenciado em Filosofia. Docente do curso de Filosofia da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM) e da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Contato: hugo.allan@gmail.com. ]
RESUMO: A partir do artigo: Significação e Sentido presente na obra: “Humanismo do Outro Homem” de Emmanuel Lévinas, farei alguns apontamentos sobre o fenômeno da comunicação de forma geral, focando na questão da verdade de forma particular. Como ocorre a comunicação da verdade? Não é só um problema da Teoria do Conhecimento e da Lógica, mas deve ser preocupação das teorias e sobretudo da prática dos profissionais da área de Comunicação. A Verdade existe? Esta é uma questão que ainda não foi superada e se ainda pode ser problematizada, como fica a comunicação? E a educação? Se a Verdade não existe, mas se dá em consensos, significa dizer que as verdades são subjetivas, sendo o subjetivismo moderno a melhor forma de lidar com a questão? Um pouco destas questões que serão abordadas de forma multidisciplinar, a partir da filosofia. Vale o convite a uma problemática central que será o eixo condutor da reflexão: a racionalidade moderna, em crise, ainda pode nos garantir a verdade? Emmanuel Lévinas propõe um outro modelo de racionalidade que pode fundamentar novas formas de saber e de comunicação.
Palavras Chave: Significação, Sentido, Verdade, Alteridade, Comunicação. 
COMO CONHECEMOS?
Uma coisa parece ser a realidade, outra o sentido que a ela atribuímos. A realidade parece ser a oferta da experiência sensível em sua multiplicidade: sabores, cores, odores, calores... que se apresentam a nós clamando metáforas que lhes animem, que transcendam o dado, que lhes dê sentido. 	
Habitualmente, numa visão racionalista tradicional, isso foi encarado como um problema da percepção. Quando não é possível atribuir racionalmente significação ao dado, entra a metáfora. Mas o que queremos propor, com Lévinas é que esse é um atributo da percepção e não um problema. A metáfora, sendo mais ampla que a razão, tendo sua lindeza de transcender o dado remetendo a outras coisas, nos permite transcender nossa condição racional rígida e de forma não menos racional, enriquecer o dado num mágico ato de criação nos possibilitando com certa ludicidade, exercitar uma liberdade - outrora ausente - de significar algo, potencializando-o em algo mais.
A percepção se liberta de sua função de representação do objeto, nos libertando da obrigação de descobrir uma significação – aletheia -, ficando a inteligibilidade também liberta da sisuda obrigação de desvendar o mistério que estaria por trás das coisas, a obrigação de desvendar a realidade. Dado que não somos Deus, não é a mesma coisa compreender e perceber, pois somos finitos e isso não é um demérito, mas algo natural em nós, intrínseco à nossa condição humana.
Deixamos também de ser recipientes da realidade. A consciência não quer mais ser apenas coletora de dados, seguida pela intuição, convencidas a não mais desvendar mistérios. Numa dança de outra música, não mais querem subordinar a figura à razão literal. A figura, imprime o figurado à não possibilidade de conhecer a realidade. A velha música dos intelectualismos, seja racionalistas, empiristas, idealistas ou realistas que defendiam ser a metáfora um falso prestígio da linguagem, não mais toca ou se o faz, escutamos um velho chiado, que já não soa mais, mas incomoda. Incomoda e deve incomodar a todos que querem dançar a vida, buscar o conhecimento, espantar-se com a realidade. Aliás não é o Thauma - espanto filosófico - o princípio disso tudo? Como pudemos nos deixar ludibriar pelo conto de uma deusa - razão - que pudesse compreender?
Na música antiga a comunicação permanecia sem dançar, estática, não participava na constituição da significação ou na atribuição de sentido, numa pretensa neutralidade, de quem observa e narra o que viu, que contamina as bases de nossa ciência e do conhecimento moderno, pretendia ser apenas a transmissora da Verdade. 
A metáfora, contudo, nova música, enterra a frieza dos dicionários. Não há significação isolada possível, não há uma nota só que faça música, não há neutralidade possível. As palavras não remetem a conteúdos, mas a outras palavras que as adicionam e as tornam mais. Não as resume, sintetiza, como o faz a razão solitária. Enriquece-as, fazendo jus à sonoridade universal, remete-nos ao todo, mostrando-nos nossa pequenez diante dele. É como ouvir uma música que nos emociona, nos choca, nos afeta. Essa afeição nos aproxima de algo, deixando claro, contudo, que é infinita a distância para alcançá-lo. Sua compreensão é impossível! Espanta-nos, nos tira de um lugar fixo, coloca-nos em movimento rumo ao desconhecido, ao mistério. Joga-nos, nos projeta a não sabemos onde, exigindo uma postura de busca, não mais da verdade, mas de relações de proximidade.
A linguagem diz sobre a posição de quem escuta e de quem fala, da contingência de sua história. Cada significação verbal encontra-se na confluência de rios semânticos (mundos) inumeráveis. Como a linguagem, a experiência não é mais composta de entes isolados, que podem significar a partir de si. Significam a partir do mundo de quem olha. A significação precede os dados e os clareia. “A resistência não é um privilégio nem do homem, nem do rochedo, como o brilho não caracteriza, com mais autenticidade, um dia de maio do que o rosto de uma mulher”. (p.24-25) [4: 	Aqui Lévinas refere-se a resistência ao ataque de uma falange inimiga, narrada na Ilíada. ]
A essência da linguagem é fazer luzir para além do dado, o ser no seu conjunto, recebendo uma significação a partir de uma totalidade (mundo). Mas esta totalidade, este mundo, ao contrário de uma composição perfeita, é sim um ato de criação, mas uma criação limitada, finita, falha, de uma subjetividade que é na história, contingente, de um músico aprendiz. Além disso, o ato de criação é o ato de um corpo. O olhar é olhar de um olho, que está em um corpo. O criar e tocar canções só podem ser realizados por um corpo. O espectador é ator. A música deve ser tocada por alguém para ser. 
A obra de arte – objetos culturais – expressam mundos, iluminam, clareiam uma época, tornam as significações possíveis, como a linguagem. A música expressa realidades, quais não devem ser compreendidas, mas sentidas, entendidas na proximidade. A expressão, portanto, não mais deve se prestar a meio de comunicação ou transformadora do mundo em vista de nossas necessidades. Não deve mais se basear em pensamentos prévios, externos, tal como as outras obras culturais – de arte/linguagem –. 
O sujeito aventura-se pela palavra efetiva ou pelo gesto manual na espessura da língua e do mundo cultural preexistentes...espessura esta a qual a palavra e o gesto, enquanto encarnados, desde já pertencem, e que somente desta maneira sabem movê-la, reordená-la e revelá-la ao foro interno do pensamento, que a aventura do gesto cultural sempre já tinha transposto... A ação cultural não exprime um pensamento prévio, mas o ser, ao qual, como encarnada, ela já pertence. A significação não pode ser inventariada na interioridade de um pensamento. O próprio pensamento insere-se na Cultura através do gesto verbal do corpo que o precede e o supera. A cultura objetiva, à qual pela criação verbal, ela acrescenta alguma coisa de novo, ilumina-o e o conduz. (p.29-30)
A linguagem é encarnada, está no mundo, com o mundo, a partir do mundo. Não é mais o pensamento – puro – que visa o objeto. O corpo é o fato de que o pensamento mergulha no mundo que pensa e que, por consequência, exprime este mundo ao mesmo tempo que o pensa. O gesto corporal não é descarga nervosa, mas celebraçãodo mundo, poesia. É a união da subjetividade do perceber – subjetividade que visa o objeto- e a objetividade do exprimir, que cria linguagem e objetos culturais. (p.30)
A filosofia contemporânea opõe-se a Platão nesta questão que não existe nenhuma significação possível fora da contingência do dado. É necessário conhecer a história, reviver a duração, ou partir da percepção concreta e da linguagem nela instalada para se chegar ao inteligível. Sendo assim, “todo o pitoresco da história” não é mais obstáculo, mas a única via possível, insubstituível e implicada no próprio inteligível. 
A cultura técnica e científica pretendeu superar o equívoco do ser e o equívoco da significação. A busca pela verdade deve centrar-se em criar uma linguagem cientifica algoritimica, que permanece metáfora, mas dá aparência de precisão matemática. Essa linguagem pode reconduzir o homem aos complexos da psicanálise, reconduz a sociedade à suas estruturas econômicas que têm a função de satisfação de suas necessidades. Esta tornou-se a única via possível, abafando toda a descoberta recente da multiplicidade de mundos. Apenas a economia é verdadeiramente orientada e significante, ficando a significação cultural apenas como ornamento. Mas ficou escondida a verdade que não existem necessidades humanas para além das animais, todas as necessidades outras são criadas culturalmente. Esta via econômica – materialista – deu tom ao retorno de uma busca de um sentido único do ser. Mas já Platão advertiu em sua República que não pode subsistir um Estado que se funde sobre as necessidades dos homens. 
Percebemos que esta busca por um sentido único do ser é frequente na história. E isso não anula a multiplicidade do ser. Ao contrário, garante orientação para ela. A filosofia moderna tirou Deus como sentido único (o que propunha Aristóteles o motor imóvel), mas colocou um ser incapaz de fazer convergir todos os sentidos a ele: o homem. Por sua finitude e imperfeição. A satisfação das necessidades, sentido econômico, também não é capaz, dado o que dissemos de todas as necessidades serem “fabricadas” pelo próprio homem. Não tendo sentido, ou com um sentido ilegítimo, como estamos atualmente, caímos numa opressão daqueles que defendem este sentido com o poder do Estado. Portanto o solipsismo ou subjetivismo modernos que vêm da não submissão a estes sentidos, só serão superados com a retomada de um sentido único.
Percebemos que a tendência a um sentido único é um desejo – e não uma necessidade - . Este desejo é Desejo do Outro. Desejo da relação com o Outro. Este desejo põe o eu em movimento, rumo ao outro, numa atitude de bondade, de aventura, de jogar-se, doar-se pelo outro. É um desejo anterior a qualquer significação, é um desejo anterior à cultura. É o desejo do infinito. Desejo este que só se alimenta na relação com o Outro, que nos provoca por não ser significável, por revelar-se a nós como sem sentido, como fragilidade que clama a bondade e a justiça. Desejo este, que se faz sentido único, transcendente, anterior e além de qualquer coisa, próprio de nossa existência, qual não podemos ignorar. Apenas responder ou não.
A comunicação, a educação, a filosofia e a tecnologia têm um papel preponderante no alimentar o desejo do infinito em nós. Sendo este o sentido único, estando toda significação agora orientada pela alteridade, é necessário questionar os mecanismos dessa sociedade que quer fazer da economia o sentido único, ao passo que necessariamente para isso, suprime a alteridade, a epifania do outro, ideologicamente orientando-nos a uma sociedade caótica, na qual toda significação tornou-se ilegítima. Resta-nos de forma utópica ir respeitando as alteridades e a partir das relações de respeito das alteridades, criando redes de relações e ações práticas da criação de novas significações a partir do desejo do infinito.

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