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A LEI 1164508 NA EDUCAÇÃO BÁSICA: Um estudo de caso na Escola Estadual Humberto Mendes em Palmeira dos índios - AL

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1 
A LEI 11645/08 NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM ESTUDO DE 
CASO NA ESCOLA ESTADUAL HUMBERTO MENDES EM 
PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL 
 
Cássio Júnio Ferreira da Silva* 
Luan Moraes dos Santos** 
 
Resumo: Em 2008, foi sancionada a lei 11645/08 que tornou obrigatório o ensino de 
história dos povos indígenas nas escolas regidas pelo Ministério da Educação e Cultura. 
Mesmo com essas prerrogativas estabelecidas, nem todas as escolas aplicam os 
estudos sobre os povos indígenas de forma adequada; um ensino que não 
corresponde a pluralidade dos povos indígenas do Brasil e que os retrata, nos livros 
didáticos, como seres ainda puros e cuja presença só é notada nos primórdios da 
história do Brasil. Assim, o artigo que segue é resultado de um estudo de caso, na 
Escola Estadual Humberto Mendes, localizada no Município alagoano de Palmeira dos 
Índios, que evidencia a segregação dos indígenas em uma região rodeada por suas 
comunidades. O embasamento teórico, consiste nos estudos feitos sobre as 
comemorações do dia do índio pelo professor Edson Silva (2015), nas obras de Maria 
Teresa Nidelcoff (1979), Paulo Meksenas (1988) e Michael Pollak (1989). 
Palavras-chave: Ensino. Formação. Pluralidade. 
 
Abstract: In 2008, it was the law 11645/08 wich made compulsory the teaching of 
history of indigenous people in school governed by the Ministry of Education and 
Culture. Even wuth these established power, not all schools conduct studies on 
indigenous peoples appropriately; An education that does not correspond to the 
plurality of the indigenous peoples of brazil and portray, in textbooks, but also pure 
beings whose presence is only noticed in the early history of Brazil. thus, the following 
articles is the result of a case study, in the school Estadual Humberto Mendes, located 
in the municipality of Alagoas, Palmeira dos Índios, which shous the segregation of 
indians in a regions surrounded by their communities. The theoretical basis, consists of 
studies of the celebration on the Indian by teacher Edson Silva (2015), the works of 
Maria Teresa Nidelcoff (1979), Paulo Meksenas (1988), and Michael Pollak (1989). 
Keywords: Teaching. Formation. Plurality. 
 
 
* Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL e membro do Grupo de 
Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas - GPHI/AL vinculado ao Núcleo de Estudos Políticos 
Estratégicos Filosóficos - NEPEF. E-mail: cassiojunio3@gmail.com. 
** Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, membro do Grupo de 
Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas - GPHI/AL e pesquisador voluntário PIBIC/FAPEAL 
vinculado ao Núcleo de Estudos Políticos Estratégicos Filosóficos - NEPEF. E-mail: 
lmoraes2xm@gmail.com 
 
 
2 
Considerações iniciais: o campo da pesquisa 
 
Cidade da região agreste do Estado de Alagoas, Palmeira dos Índios 
é terra proveniente de missão indígena, distante cerca de 135 km de 
Maceió. Foi fundada em 1835 e emancipou-se politicamente em 1889. 
Atualmente, com 126 anos tem economia baseada principalmente na 
agropecuária, com predominância do latifúndio. Em sua história, já 
produziu algodão e foi um dos mais importantes centros comerciais de 
Alagoas, possui ferrovia que, outrora, escoava a produção à Maceió. O 
clima é semiárido por estar localizada em uma região de transição entre o 
litoral e o sertão. Dona de cultura extremamente rica, considerada a terra 
de Graciliano Ramos, Jofre Soares, Luiz B. Torres, dos extintos e suntuosos 
cinemas entre outros. 
Os índios são mencionados na história do município como seres 
míticos ou lendários1; o que por sua vez atribui caráter comercial, pois 
vários estabelecimentos se aproveitam da associação do município com os 
índios, como atrativo, na mesma medida que negam sua existência. 
Criaram-se lendas, popularizadas na região de forma romanceada e que 
encobrem os conflitos existentes gerando imagens estereotipadas, 
atípicas e pouco representativas das reais condições em que vivem as 
comunidades indígenas existentes nas cercanias do município. 
Folclorizados, os Xukuru-Kariri que habitam a região desde o 
século XVII (isso se considerarmos apenas o período datado), não 
 
1
 Referência a lenda, escrita pelo comerciante e historiador local Luiz B. Torres, que narra a fundação do 
município de Palmeira dos Índios de forma romanceada e com forte apelo ao altruísmo do colonizador e 
ao auto sacrifício de um casal de índios apaixonados. 
 
 
3 
encontram reflexos de sua realidade nas manifestações culturais e nas 
demais festividades da cidade. Tampouco as escolas, que deveriam ser 
lugares de intersecção cultural e de troca de conhecimentos, oferecem um 
ambiente socialmente democrático para estes cidadãos, de vez que o 
ensino é puramente unilateral e voltado aos costumes da elite, não 
considerando os saberes e a oralidade indígena para a construção da 
história local. 
 
Palmeira dos Índios: estereótipos de um território dividido 
 
A ambiguidade é constante em Palmeira dos índios. De um lado 
permanece toda uma propaganda com a figura do índio, a ponto de 
existirem farmácias, postos de combustíveis, copiadoras, clubes de 
motociclistas e museus carregando em suas fachadas etnônimos de 
origem indígena; do outro lado, os Xukuru-Kariri existem nas ideias, nas 
memórias subterrâneas2 e nos embates políticos. Percebemos com isso, 
que a presença indígena na cidade é ignorada por suas elites, a ponto da 
história do município ter sido construída de forma unilateral. Nessa 
perspectiva, Michael Pollak destaca que: 
 
Por outro lado, essas memórias subterrâneas que 
prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de 
maneira quase imperceptível afloram em momentos de 
crise em sobressaltos bruscos e exacerbados. A memória 
 
2
 Ver: 
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio. IN: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 
1989, p. 3-15. 
 
 
4 
entra em disputa. Os objetos de pesquisa são escolhidos de 
preferência onde existe conflito e competição entre 
memórias concorrentes. (POLLAK, 1989, p. 4) 
 
Dessa forma, a memória e os acontecimentos que foram 
selecionados para compor o arcabouço histórico de Palmeira dos Índios, 
exaltam a colonização e denegrem os indígenas. Porém, até mesmo uma 
tentativa de esquecimento, fez surgir a disputa pela memória que, de 
tempos em tempos, vê o choque entre o oficial e o subalterno numa 
tentativa de sair das sombras e romper com o silêncio. “Uma vez rompido 
o tabu, uma vez que as memórias subterrâneas conseguem invadir o 
espaço público, reivindicações múltiplas e dificilmente previsíveis se 
acoplam a essa disputa da memória, no caso, as reivindicações das 
diferentes nacionalidades.” (POLLAK, 1989, p. 5) 
 Tentativas de marginalização permeiam o cotidiano de Palmeira 
dos índios. Graciliano Ramos, considerado um cidadão ilustre da cidade 
tornou, em seu romance ‘Caetés’, amplamente conhecida à ideia que não 
existiam índios na região e, se acaso existissem, provavelmente residiram 
na periferia. Fazendo isso, admitiu não reconhecer os índios como 
protagonistas da história local e expressou claramente qual o lugar dos 
índios nessa história: o passado. Ele enfatiza que: 
 
De indivíduos das minhas relações o que tem parecença 
moral com antropófago é o Miranda, mas o Miranda é 
inteligente, não serve para caeté. Conheço também Pedro 
Antônio e Balbino, índios. Moram aqui ao pé da cidade, na 
Cafurna, onde houve aldeia deles. São dois pobres 
 
 
5 
degenerados, bebem como raposas e não comem gente. O 
que me convinhaeram canibais autênticos, e disso já não 
há. Dos xucurus não resta vestígio; os da Lagoa 
espalharam-se, misturaram-se. (RAMOS, 2013, p.66) 
 
Caetés foi escrito nos anos de 1930, entretanto essas ofensivas 
contra as comunidades originárias foram perpetuadas até os dias atuais. 
As ideias do escritor contribuíram para a propagação de estereótipos 
contra a população indígena, uma vez que a elite atual faz uso dessas 
mesmas ideias para denegrir os indígenas. Através de rádios e jornais3, as 
elites assumem seu posicionamento nesses embates. 
Esses meios de comunicação tornam os indígenas um misto de 
mito e ameaça. Convivemos num mesmo espaço com a ideia de índios 
mansos, os habitantes exóticos que existiram aqui no século XVII e com a 
rebeldia de indígenas que podem ocupar e retomar seus antigos 
territórios a qualquer momento. Roland Barthes afirma que “*...+ a 
imprensa, a arte, o senso comum, mascaram continuamente uma 
realidade” (BARTHES. 2001, p.7). 
A realidade e o mito se condensam num mesmo tecido e “*...+ o 
mito é uma fala [...]” (BARTHES. 2001, p.131) e a fala vira mito pela sua 
reprodução de forma ordenada. Assim, os meios de comunicação 
corroboraram para a marginalização dos povos indígenas; deste modo 
queremos entender os efeitos dessa visão defeituosa que a população de 
Palmeira dos Índios tem em relação aos Xukuru-Kariri, dentro do âmbito 
 
3
 Todas as cinco transmissoras de Rádio FM e AM da Região de Palmeira dos Índios, pertencem a 
posseiros e grileiros das terras indígenas visadas no processo de delimitação territorial. Vale lembrar 
que a última proposta da FUNAI gira em torno de 7021 ha. 
 
 
6 
escolar e como os jovens indígenas lidam com problemas como o 
preconceito e a aversão tão incentivados nesses tempos de conflito. 
 
A lei 11645/08 e o caso da Escola Estadual Humberto Mendes 
 
Em 2008, o governo federal aprovou a lei 11645/08 que 
regulamenta e torna obrigatório o ensino de história dos povos indígenas 
nas escolas desde os anos iniciais. O intuito, era de que isso 
revolucionasse o aprendizado, porém nem todos os rincões do Brasil 
tiveram resultados realmente significativos. Um exemplo disso pode ser 
facilmente encontrado em Palmeira dos Índios, cerne dessa discussão. 
A maior escola da região é a Escola Estadual Humberto Mendes, 
conhecida nas imediações por oferecer Ensino Médio e pela sua estrutura 
de grande porte, contanto com um total de 27 salas de aulas, diversos 
laboratórios, quadra esportiva, piscina e campo de futebol. Os alunos 
matriculados na instituição são, em sua maioria, oriundos da zona rural e 
urbana, com renda per capta de até dois salários mínimos. Entre esses 
alunos encontramos jovens Xukuru-Kariri que cursam o ensino médio 
regular na escola. 
Mas é aí que encontramos os problemas que nos levaram a 
fomentar essa discussão. Mesmo vivendo e estudando em um município 
cujo nome carrega sua origem indígena e que conta com a existência de 8 
(oito) aldeias, esses jovens não se sentem à vontade para se afirmarem 
como indígenas, deixando-se passar despercebidos entre os demais 
 
 
7 
alunos, pois a disputa territorial e a eminência de embates permeiam seu 
cotidiano. O professor Edson Silva enfatiza que: 
 
O pouco conhecimento generalizado sobre os povos 
indígenas está associado basicamente à imagem do índio 
que é tradicionalmente veiculada pela mídia: um índio 
genérico, com um biótipo formado por características 
correspondentes aos indivíduos de povos habitantes na 
Região Amazônica e no Xingu, com cabelos lisos, pinturas 
corporais e abundantes adereços de penas, nus, moradores 
das florestas, de culturas exóticas, etc. (SILVA, 2012, p. 41) 
 
Destarte, o silêncio dos jovens Xukuru-Kariri é um resultado da 
imagem errônea difundida pela mídia local e, consequentemente, 
reproduzida pelos educadores; “*...+ se vê claramente a impotência da 
escola para tornar iguais aqueles que a realidade social e econômica 
tornou distintos.” (NIDELCOFF, 1978, p. 13) Omitem sua real identidade, 
porque a história dos indígenas que é ensinada nas escolas é limitada ao 
período colonial, fazendo entender que os índios desapareceram com a 
conquista dos seus territórios por não índios, invasores louvados pela 
colonização. (MONTEIRO, 2001) 
Um dos raros momentos em que os indígenas aparecem na escola 
(e isso é uma constante nacional) é no dia 19 de abril, marcado no 
calendário como o dia do Índio, mas os educadores, despreparados, 
acreditam homenagear os índios confeccionando penas de cartolina e 
saiotes de fita. Uma dança caricata, acompanha as comemorações. 
Portanto, o crescimento intelectual é prejudicado e os estereótipos são 
 
 
8 
fortalecidos, pois “*...+ a escola é a instituição mais eficiente para segregar 
pessoas, por dividir e marginalizar parte dos alunos com o objetivo de 
reproduzir a sociedade de classes.” (MEKSENAS, 1988, p. 65) 
Isso perpetua, de fato, uma imagem não representativa dos índios 
e compromete todo o entendimento dos alunos, pois essas festinhas são 
realizas principalmente nos anos iniciais, o que significa dizer: os anos do 
aprendizado e da construção de ideias e do próprio ser nas crianças. É 
salutar destacar as preocupações de Edson Silva, que revelam a 
inquietação de uma gama de intelectuais. 
 
Dizem que estão imitando os índios numa tentativa de 
homenageá-los! Entretanto, tal homenagem se refere a 
qual índio? As supostas imitações correspondem às 
situações dos povos indígenas no Brasil? Como essas 
imagens ficarão gravadas na memória dos estudantes 
desde tão cedo? Quais serão suas atitudes quando se 
depararem com os índios reais? Quais as consequências da 
reprodução dessas "desinformações" sobre a diversidade 
étnica existente no nosso país? (SILVA, 2015) 
 
Então, parafraseando o professor Edson Silva (2012), quais são as 
atitudes dos alunos ao se depararem com índios reais? Espanto! Essa é a 
resposta. Um espanto acompanhado de preconceito e perguntas, tais 
como: "Eles têm celulares?"; "Não moram em ocas?"; "Por que não estão 
nus?". Reações que entram em contradição com o mundo que criaram 
durante toda a sua vida e que institivamente defenderão, algo mais 
acentuado na adolescência, período onde a personalidade é definida. 
 
 
9 
A lei está aí. Mas como aplica-la tendo em vista a péssima 
qualidade da maioria dos livros didáticos, que insistem em ignorar a 
pluralidade indígena? Como dizer aos nossos alunos que as imagens de 
ocas, utensílios e etc., são de índios amazônicos e não dos índios que são, 
em algumas vezes, seus colegas de sala? Um caminho possível é a crítica 
aos conteúdos prontos e enlatados dos livros didáticos e uma 
contextualização com a vivência dos índios. 
 
As dificuldades de professores e demais profissionais da 
Educação Básica consistem, particularmente, em responder 
à questão de como caracterizar com clareza e correção as 
sociedades indígenas em seus aspectos comuns (comuns a 
todas, por serem os que as distinguem de outras 
sociedades), ressaltando, entretanto, a singularidade de 
cada uma delas, sem reforçar estereótipos e preconceitos. 
(SILVA, 2011, p. 2) 
 
 
A formação docente também é um caminho a ser problematizado. 
Aprovou-se a lei, tudo bem! Mas não foram oferecidos aos professores os 
subsídios necessários ao ensino da trajetória e situação atual dos 
indígenas. Todos os dias, geram-se problemas ainda maiores, pois 
despreparados os professores continuam a perpetuar os mesmos 
estereótipos e reproduzir a patifaria da colonização. Estudar os povos 
indígenas sem ressaltar as singularidades de cada povo éo mesmo que 
insistir no erro de repetir discursos elitistas e acríticos. 
 
 
10 
Por um viés representativo a trajetória de reivindicações dos 
diversos povos indígenas na atualidade aponta alternativas para a 
abordagem da história indígena em sala de aula. Sem embargo, as 
querelas territoriais podem se configurar em valiosos temas para 
discussão e, ao mesmo tempo, em impedimento ao ensino de história 
indígena. Basta lembrar que, falar em índios em Palmeira dos Índios é um 
interdito ainda constante. 
 
O conflito: das salas de aula para o território 
 
Importa ainda, entender o que é território nessa discussão e como 
podemos percebê-lo nas acepções do índio e do posseiro. Compreender 
que o território não depende de posse ou uso momentâneo, mas dos 
laços de dependência criados com ele, onde todas as relações sociais, 
políticas e econômicas se realizam a partir desse território é um passo 
importante para compreender a trajetória dos índios do Brasil e, 
especialmente, os índios do Nordeste, categoria onde os Xukuru-Kariri se 
enquadram. 
O território é definido pela prática engendrada nele. (RAFFESTIN, 
1993) Então demarcar extensões de terra para os indígenas é essencial 
não só para eles, mas para o município pois acarretará em produção 
cultural e agropecuária, contribuindo assim para a economia local, uma 
vez que, a demarcação permitirá o aumento da produção agrícola nas 
aldeias que, com o devido incentivo, poderá ser escoada e vendida nas 
cercanias, gerando lucro e movimento na economia local. 
 
 
11 
Quando da chegada dos colonizadores, os indígenas já haviam 
estabelecido relações econômicas nestas terras. Caçavam, pescavam, 
plantavam, guerreavam por territórios como qualquer civilização 
conhecida. Essas atividades, assim realizadas fizeram com que 
conhecessem a terra e com ela estabelecessem um pertencimento que 
foi, abalado durante a exploração, expulsão e captura dos nativos. 
Como haviam criado uma rede de intrínsecas relações em 
determinado território (neste caso, na região de Palmeira dos Índios) os 
indígenas ofereceram resistência, o quanto lhes foi possível e após a 
conquista portuguesa, mesmo escravizados, continuaram resistindo. Sua 
língua, religião e hábitos eram praticados as escondidas e seus 
conhecimentos passados subliminarmente. Aldemir B. da Silva Júnior 
evidencia isso: 
 
Alta madrugada. O toré, ritmo marcado em caixas de 
fósforos, à meia luz, nos fundos de uma casa na periferia da 
cidade de Palmeira dos Índios, agreste alagoano, varava a 
noite, despercebido pela sociedade palmeirense. (SILVA 
JUNIOR, 2013, p. 55) 
 
Logo, resistir não seria possível se não conhecessem ou tivessem 
criado vínculos com a terra, ou seja, territorialidade, tessitura e um motivo 
de ser. Pois a história se constrói nas tramas diárias e configura-se, 
fundamentalmente pela “*...+ faculdade de intercambiar experiências. 
(BENJAMIN, 1987, p. 198) É importante entender esses procedimentos 
 
 
12 
diários se quisermos pensar em novas abordagens ao ensino de história 
indígena. 
Planejar abordagens que rememorem a trajetória dos povos 
indígenas em contexto com sua realidade palpável é nossa obrigação 
diária. Assim, desafios, como o da Escola Estadual Humberto Mendes, 
podem ser superados permitindo a expressão indentitária e o diálogo 
como caminhos imprescindíveis para a construção de um currículo de 
qualidade e que possibilite a cognoscibilidade do entorno que cerca os 
estudantes. 
Mas perpetuar o preconceito e permitir o silêncio, contribui para o 
fortalecimento de uma história que já conhecemos; cheia de fábulas e 
folclore e repleta de desígnios elitistas. “E em função disso muitas vezes 
ao invés de fomentar as ‘discussões e debates a respeito da diversidade 
sociocultural, optam por silenciá-los.” (SILVA, 2012, p. 8) Calados, os 
alunos não produzem e a educação deixa de ser uma via de mão dupla 
tornando-se uma imposição. 
 
Considerações finais: caminhos para a aplicação da lei 11645/08 
 
Vimos até agora, que o município alagoano de Palmeira dos Índios 
é o palco de um conflito físico, material e ideológico travado há gerações. 
Nesse campo de guerra, a tomada de controle da memória tem sido uma 
constante, bem como a sua forma de transmissão mais rápida: a 
educação. Intuímos que, os conteúdos das aulas de história são 
estrategicamente direcionados para o ocultamento da presença indígena 
 
 
13 
nos discursos oficiais. Mesmo com a lei 11645/08, os desafios 
permanecem grandes e, sem os arranjos necessários, os professores 
encaram sua aplicação como tarefa exclusiva de um único dia no ano. 
O professor não pode se sentir obrigado a trabalhar a temática 
indígena, antes ele precisa entender a importância desses povos no curso 
da história do Brasil, possibilitando não só a compreensão da realidade de 
seus alunos, mas das comunidades indígenas existentes no hoje. Um dos 
caminhos que auxiliam na construção desse currículo multiétnico é a 
formação dos professores; é necessário trabalhar a diversidade fazendo 
um contraponto às vozes da elite local. 
Cercada por 8 (oito) aldeias, Palmeira dos Índios é uma cidade 
privilegiada como campo de pesquisa e trabalhar história indígena de uma 
forma eficiente, implica, necessariamente, entrar em contato com os 
índios dessas aldeias. Nesse sentido, as aulas de campo podem ser 
momentos de aprendizado prático, porquanto os alunos e professores 
podem comprovar como vivem os índios atualmente. Não é inteligente 
criticar os índios como eles são no hoje, mas entender como chegaram a 
ser assim. 
 
Referências 
BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai 
Leskov. In: Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: 
Brasiliense, 1987. 
 
 
14 
MEKSENAS, Paulo. Sociologia da Educação: introdução ao estudo da 
escola no processo de transformação social. São Paulo: EDIÇÕES LOYOLA, 
1988. 
MONTEIRO, John. Tupis, Tapuas e Historiadores: estudos de história 
indígena e do indigenismo. Campinas: Tese apresentada para o concurso 
de Livre Docência Área de Etnologia, subárea História indígena e do 
Indigenismo. Antropologia. UNICAMP, 2001. 
NIDELCOFF, María Teresa. Uma Escola Para o Povo. 1ª edição, 17ª edição. 
São Paulo: Editora Brasiliense, 1978. 
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio. IN: Estudos 
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15. 
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. Tradução de Maria 
Cecília França. São Paulo: Editora Ática, 1993. 
RAMOS, Graciliano. Caetés. Organização Elizabeth Ramos e Erwin 
Torralbo. Rio de Janeiro: Editora Record 2013. São Paulo: Editora Record: 
2013. 
BARTHES, Roland. Mitologias. 11ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2001. 
SILVA, Edson. Dia do Índio: a folclorização da temática indígena na 
escola. Disponível em: 
http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=2090 
Acessado em 07 de março de 2015 
SILVA, Edson. Povos Indígenas: história, culturas e o ensino a partir da lei 
11.645. In: Revista Historien, v. 7, p. 39-49, Petrolina: UPE, 2012. 
SILVA, Giovani José da. Ensino de História e Diversidade Étnica e Cultural: 
desafios e possibilidades da história indígena na educação básica. In: Anais 
Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de 
História. Florianópolis/SC, 2011. 
 
 
15 
SILVA, Maria da Penha da. A diversidade étnico-racial na escola e a 
temática indígena em questão: discutindo políticas públicas para a 
efetivação da lei 11.645/08. In: Anais do IV EPEPE – Encontro de Pesquisa 
Educacional em Pernambuco. Eixo temático 1- Educação, diversidadecultural e processos de produção de desigualdades. Caruaru, 2012. 
SILVA JUNIOR, Aldemir Barros da. Aldeando sentidos: os Xucuru-Kariri e o 
serviço de proteção aos índios no agreste alagoano. Maceió: EDUFAL, 
2013.

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