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Historia cultura e identidades 1

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Prévia do material em texto

Histórias, Culturas e 
Identidades
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Yvone Dias Avelino
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A Historiografia à serviço dos Conceitos
5
• Introdução
• A Historiografia à serviço dos Conceitos
 · Apresentar conceitos significativos do processo cultural historiográfico postos 
na História por meio de interpretações de pesquisas de seus mais famosos 
interlocutores.
 · Refletir sobre o processo de desenvolvimento da História;
 · Apresentar conceitos e exemplos de teorias da História;
 · Desenvolver ideias em cima de outras colocadas pela Historiografia;
 · Apresentar o conceito de Representação, utilizado na contemporaneidade.
Caro(a) aluno(a),
Nesta unidade, vamos aprender os conceitos de História das Mentalidades, Longa Duração, 
História Cultural e Representação. Procure fazer as leituras e desenvolver todas as atividades 
propostas. Procure ler com atenção o conteúdo disponibilizado e o material complementar. 
Procure fazer as leituras e desenvolver todas as atividades propostas. Assim, certamente vai ter 
um excelente aproveitamento. É importante lembrar que vários recursos, como as atividades de 
sistematização e aprofundamento, assim como também o fórum de discussão e a aula em vídeo 
contribuem para o processo de aprendizagem. Após apreender todos esses recursos, registre as 
dúvidas e apresente-as ao professor tutor.
Nota:
• Para iniciar seu estudo e desenvolver o trabalho desta unidade, primeiro acesse o item Material 
Didático, no qual você vai encontrar o Texto Teórico, ou seja, o texto que vai servir de base para 
as atividades da unidade. Leia-o com atenção.
• Em seguida, verifique se houve uma suficiente compreensão do conteúdo, respondendo as 
perguntas das Atividades de Sistematização e, posteriormente, a Avaliação. Ambas tratam das 
questões fundamentais sobre o assunto abordado.
• Foram disponibilizados, ainda, Materiais Complementares, Apresentação Narrada e Aula em 
Vídeo, para aprofundar a análise do tema.
• Finalmente, realize a Atividade de Aprofundamento da unidade, pois, nela, você vai encontrar 
dicas para saber mais sobre os assuntos apresentados.
Bons estudos!
A Historiografia à serviço dos Conceitos
6
Unidade: A Historiografia à serviço dos Conceitos
Contextualização
A importância dos estudos históricos está em outros motivos, em perceber a relação que 
existe entre o tempo passado e o tempo presente, e como, diante das transformações, que 
ocorrem na vida humana, alguns aspectos residuais ainda permanecem, enquanto outros são 
emergentes, derivados de um determinado contexto.
Para iniciarmos esta unidade, vamos apresentar uma discussão pertinente entre especialistas 
que nos trazem o processo de mudanças e transformações pelas quais passaram a ciência 
histórica. Interessa-nos, neste momento, ressaltar a ideia de Representação, no sentido de 
trazer para o presente o que aconteceu no passado: um ato de “re-apresentar”. A representação 
pode ser narrativa, pode ser oral, pictórica, teatral, literária, fotográfica etc. É a representação 
das práticas do imaginário. Para esclarecer essas questões, elegemos artigos e filmes extraídos 
dos links apontados abaixo de cada matéria.
Cultura e Representações: uma Trajetória
Sandra Jatahy Pesavento
Neste artigo, a historiadora gaúcha Sandra Jatahy Pesavento traz uma enorme contribuição 
à historiografia contemporânea, ao fazer uma análise e um balanço dos caminhos percorridos 
pelo historiador, realizando uma verdadeira arqueologia e identificando os precursores da 
História e suas redercobertas, ou seja, a história e as transformações acentuadas universalmente 
por várias escolas do pensamento historiográfico.
Explore: Esse artigo encontra-se em formato pdf em: https://goo.gl/VRQeq8
Diário de Motocicleta
Para entendermos como Che Guevara mais tarde se tornou integrante da Revolução 
Cubana, em 1959, indicamos este filme, que nos retrata a figura de um jovem idealista. A 
nossa intenção é apresentar o personagem. 
Explore: O filme está localizado em: https://www.youtube.com/watch?v=WhGR-CEfcCA
American Life
Madonna
Para entendermos melhor a reapresentação de Che Guevara da cantora Madonna, na crítica que faz 
ao governo Bush, ressaltada em nosso Material Teórico. Veja as duas versões diferentes em:
Explore: https://youtu.be/sNAw3f5VXA8 e https://youtu.be/tQpgRYmiUFw
Tarsila do Amaral
Como tratamos e enfatizamos em nosso Texto Teórico o conceito de representação, ressaltamos agora a 
figura de uma personagem brasileira, Tarsila do Amaral. Desenhista e pintora, representou em suas telas 
o contexto social brasileiro. Escolhemos para isso a obra “Operários”, de 1933. 
Para conhecermos melhor sua trajetória e o motivo que a levou ao 
engajamento nessas veredas, indicamos o vídeo em:
https://www.youtube.com/watch?v=XkJ6MyETi2s
https://www.youtube.com/watch?v=WhGR-CEfcCA
https://www.youtube.com/watch?v=XkJ6MyETi2s
7
Introdução
Esperamos que este curso sobre História, Culturas e Identidades seja bastante prazeroso e 
incentive à leitura, reflexão, ao gosto pela história e pelo fazer dos homens que organizam a 
cultura e criam identidades, gerando grupos, nacionalidades e representações diferenciadas.
Em primeiro lugar, queremos destacar que alguns autores discutem a ideia de que a história 
não é uma ciência, mas sim, por ser uma narrativa, ela se encontra mais no campo da arte. 
Alguns historiadores adeptos da Nova História Cultural, que despontou recentemente, a partir 
da perspectiva cultural da Nova História Francesa, são os que mais defendem a proximidade 
da história com a arte, e não com a ciência. Isso é polêmico, pois a história se aproxima do 
gênero literário e, por ser também narrativa, valoriza a escrita. Mas a história é concreta, é 
refletida, demonstrada e comprovada, enquanto a literatura fica apenas no campo ficcional 
por ser arte. É claro que hoje o historiador lida tranquilamente com as diferentes linguagens, 
as quais lhe servem de mediação e inspiração para suas pesquisas.
 Saiba Mais
História Cultural é considerada a corrente historiográfica predominante 
atualmente, e que agrega amplo espectro de campos temáticos e diversidade de 
objetos de pesquisa. Sobre a História Cultural, “[...] é, na realidade, o empenho de 
historiadores e outras áreas do conhecimento em inventar e requalificar o passado, 
bem como imaginar e sonhar o futuro para melhor explicar e agir no presente.” 
Fonte: (PESAVENTO, Sandra Jatahy (Org). História Cultural. Experiências de Pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2003, p. 212.). 
Indicamos a leitura dessa obra para um melhor conhecimento sobre o tema.
A História não se debruça na originalidade dos acontecimentos individuais, mas sim nas 
especificidades deles, pois a escolha de um assunto é sempre livre. Eles não existem isoladamente 
e, nesse sentido, o tecido da História é que se chama “trama”. Essa trama não se organiza em 
uma sequência cronológica, ela pode passar de um plano para outro, sendo impossível descrever 
a sua totalidade. Porém, dentro da temática escolhida, os fatos e suas ligações são o que são, 
e nada poderá mudá-los. O historiador nunca faz o levantamento do mapa factual, ele pode, 
no máximo, multiplicar as linhas que o atravessam. A História é um caleidoscópio, no qual a 
reflexão crítica nas entrelinhas é necessária e fundamental, em que os cruzamentos de itinerários 
possíveis são rastreados e inteligentemente recuperados, ou seja, podemos comparar as imagens 
geradas nesse objeto cilíndrico com as figuras da sociedade, entrelaçadas pelo poder, pelas 
relações humanas, pelos fatos e dar uma interpretação a estas imagens, que mudam conforme o 
olhar do interpretante. Para nós, neste texto, vamos ressaltar o valor da História/Ciência, que é 
o que ela significa e é para nós, considerando-a um vasto repertório de interpretações temporais, 
culturais e identitárias que, ao longo de várias épocas, foi ocupando o pensamento do homem, 
que é, narealidade, o sujeito da História, sendo a sociedade o seu objeto.
Glossário
Um caleidoscópio ou calidoscópio é um aparelho óptico formado por 
um pequeno tubo de cartão ou de metal, com pequenos fragmentos 
de vidro colorido, que, através do reflexo da luz exterior em pequenos 
espelhos inclinados, apresentam, a cada movimento, combinações 
variadas e agradáveis de efeito visual. O nome “caleidoscópio” deriva 
das palavras gregas καλός (kalos), “belo, bonito”, είδος (eidos), “imagem, 
figura”, e σκοπέω (skopeō), “olhar (para), observar”.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caleidosc%C3%B3pio 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caleidosc%C3%B3pio
8
Unidade: A Historiografia à serviço dos Conceitos
Para um melhor entendimento sobre a relação entre História e Ciência, precisamos 
chegar a uma melhor definição sobre os conceitos de História e Cultura, que vamos trazer 
nas discussões de três autores, relatando um pouco da obra de cada um, por meio de uma 
síntese crítica, procurando, na medida do possível, estabelecer um diálogo entre eles e estas 
definições, que são Roger Chartier, Michel Vovelle e Jacques Le Goff. Serve este texto para 
esquentar as reflexões, para mais adiante podermos entrar em conceitos mais detalhados, que 
vão alcançar a atual História Cultural, na qual costuraremos todos os conceitos apresentados. É 
uma trajetória interdisciplinar, que aproveita os novos caminhos percorridos pelo historiador. 
Glossário
Interdisciplinar, Interdisciplinaridade: discussão entre vários ramos do 
conhecimento ou disciplinas, em que se cruzam conceitos, saberes e práticas. 
Ver mais em http://www.dicionarioinformal.com.br/interdisciplinar/
A Historiografia à serviço dos Conceitos
O primeiro autor que queremos discutir é Roger Chartier. Historiador francês, Chartier foi 
o primeiro a utilizar a ideia de “representação” para entendermos as relações entre passado e 
presente e projeções para o futuro, ou seja, memória, presente e projeção. Escreveu o livro “A 
História Cultural. Entre Práticas e Representações”1, no qual não coloca palavras e noções de 
forma abstrata, mas recorre à história da Historiografia, à história vivida e à história pensada, 
trazendo um debate sobre a História e a Historiografia. Dá temporalidade à Historiografia 
quando afirma que a época faz parte da história vivida. O autor historiciza esses conceitos na 
introdução e no primeiro capítulo desse livro.
A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal 
objeto identificar o modo como em diferentes lugares e 
momentos uma determinada realidade social é construída, 
pensada, dada a ler. Uma tarefa deste tipo supõe vários 
caminhos. O primeiro diz respeito às classificações, divisões e 
delimitações que organizam a apreensão do mundo social como 
categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real.
Variáveis consoantes às classes sociais, ou os meios intelectuais, 
são produzidas pelas disposições estáveis e partilhadas, próprias 
do grupo. São estes esquemas intelectuais incorporados que 
criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir 
sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado.
As representações do mundo social assim construídas, embora 
aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, 
são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que 
as forjam. Daí para cada caso, o necessário relacionamento 
dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza.2 
1 CHARTIER, Roger. A História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
2 Op. Cit, pp. 16-17.
http://www.dicionarioinformal.com.br/interdisciplinar/
9
Chartier estuda, nessa obra, a historiografia francesa com crítica à História e uma reflexão 
da influência da sociedade francesa. A História Social é diferente da História Cultural, pois 
possuem tendências históricas que não são iguais, apesar de serem representações múltiplas 
de imagens da realidade social. Segundo Chartier, a História Institucional, dominante e forte, 
consequência dos princípios da Revolução Francesa e da necessidade de se manter a estrutura 
do Estado Nacional, e a “heroicização” de seus líderes, sentiu-se culturalmente ameaçada, 
diante dos acontecimentos resultantes do período das grandes guerras, sendo que, no pós-
guerra, a História dos Annales levou à discussão questionamentos sobre a História que era 
produzida, sobre sua metodologia e suas fontes. 
 Saiba Mais
Escola dos Annales é um movimento historiográfico que se formou em torno 
do debate de historiadores integrantes do período acadêmico francês Annales 
d’Histoire Économique et Sociale. Esse movimento se destacou por incorporar 
métodos das Ciências Sociais à História. Fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch 
em 1929, propunha-se a ir além da visão positivista da história, tornando-a uma 
ciência reflexiva, substituindo o tempo breve pela longa duração, com o objetivo 
de tornar inteligíveis a civilização e as mentalidades. A Escola dos Annales renovou 
e ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo da História para 
o estudo de atividades humanas até então pouco investigadas, desbloqueando-
se das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia 
humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares. 
Veja mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_dos_Annales 
A história oficial, apesar das severas críticas que sofre, não devia ser sentenciada e condenada, 
pois teve seu papel de destaque, fazendo parte integrante da historiografia, dela se retirando 
e utilizando a contribuição para os estudos históricos. Para Chartier, com o alargamento do 
campo da História, procurava-se trazer as grandes massas para a investigação. A partir da 
pressão exercida pelas ciências sociais, a História, preocupada por constatar o avanço das 
outras ciências sobre o seu campo, trilha por novos caminhos, novas histórias. 
A escrita positivista que amordaçava a imaginação e delimitava as fronteiras do estudo 
histórico deu lugar à ampliação do objeto de estudo, permitindo à História a recriação de 
suas abordagens. Com a História das Mentalidades, iniciando-se como Psicologia Histórica 
e, mais à frente, passando à História Cultural, esta procura identificar o modo como, em 
diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social é construída, pensada, 
dada a ler, trazendo a sensibilidade do historiador para a própria compreensão do fato/
fenômeno. Sobre o significado de História das Mentalidades, estudaremos logo mais à 
frente, no segundo autor trabalhado. 
As representações são apreensões do real, e as subjetividades são mais vulneráveis do que 
as objetividades das estruturas. Portanto, não há na História Cultural ruptura com a História 
das Mentalidades, mas acréscimos importantes na historiografia, e acúmulo de conhecimento 
para a disciplina histórica, pois o terreno das construções de representações é no social, e 
as representações do mundo social ocorrem à revelia dos atores sociais, pois são os sistemas 
estruturais nos fatos sociais que condicionam o comportamento.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_dos_Annales
10
Unidade: A Historiografia à serviço dos Conceitos
O conceito de “Representação” é o de “re-apresentar”, ou seja, atualizar o passado na 
realidade do presente, sendo, portanto, uma apresentação em uma realidade diferente, com 
novos significados ou não.
[...] a representação como dando a ver uma coisa ausente, o 
que supõe uma distinção radical entre aquilo que representa 
e aquilo que é representado; por outro, a representação como 
exibição de uma presença, como apresentação pública de 
algo ou de alguém. No primeiro sentido, a representação é 
instrumento de um conhecimento mediato, que faz ver um objeto 
ausente através da sua substituição por uma “imagem” capaz 
de reconstitui-lo em memória e de figurá-lo tal como ele é.3
Como exemplo concreto, podemos apontar a 
veiculação da imagem mítica de Che Guevara, o qual 
se tornou ídololatino-americano após sua participação 
na Revolução Cubana. Médico argentino que percorreu 
a América Latina e conheceu Fidel Castro no México, 
resolveu acompanhá-lo em uma embarcação com lotação 
acima do permitido, indo para Sierra Maestra, tornando-
se herói ao lado de Fidel na Revolução Cubana em 1959. 
Sua figura foi disseminada em toda América Latina pela 
juventude dos anos 1960, em plena contracultura e 
em alguns países que vivenciavam a experiência de um 
governo militar ditatorial, sendo retratado em camisetas 
que eram vendidas em lojas de grandes marcas, ou lojas 
populares, como um símbolo de representação da liberdade e do desejo de uma América 
livre da influência e da exploração norteamericana. Hoje, vemos uma nova apropriação 
dessa imagem icônica de um líder revolucionário aplicada nas representações artísticas e 
políticas, como cantores, personagens de comédias televisivas e de figuras presidenciais, 
como é o caso das cantoras Madonna e Cher, ou no personagem Seu Madruga do programa 
cômico mexicano “Chaves” e, ainda, do presidente americano Barack Obama, conforme 
vemos ilustrados ao lado.
A significação de Che Guevara como um “herói revolucionário” alcançou todo o mundo, 
sendo mais pontual e explorado na América Latina. Madonna, a chamada “Rainha do Pop”, 
tem como característica, em sua carreira, sempre mudar de imagem, reinventando-se. Em 
2003, a mesma assumiu uma posição anti-Bush, presidente dos Estados Unidos na época, e, 
morando em Londres durante as duas gestões presidenciais desse governante, lançou o álbum 
“American Life”, em que, por meio de suas letras e canções, questionou o sistema de vida 
americano, assumindo para si, na capa do referido trabalho, a imagem do líder oposicionista 
aos Estados Unidos na Revolução Cubana. A artista já havia passado por diversas fases, 
como menina sedutora, contestadora das religiões, mulher sexual e provocadora, entre 
outras, e assumiu em definitivo, nesse período, o papel de artista militante, questionando 
os fatos acontecidos nessa gestão, provocando o Governo Bush, tendo, no videoclipe da 
3 Op. Cit, p. 20.
11
canção homônima, sósias de personalidades e do próprio Bush fumando um charuto com 
Saddam Hussein, líder muçulmano ditatorial e terrorista, colocando-os em posição de 
igualdade e caráter. De acordo com o conceito de representação, o álbum de Madonna é 
uma reapresentação dos valores e significados atribuídos, na imaginação da mídia, sobre 
a revolução que participou Che Guevara, no qual a artista ressalta a posição negativa do 
Governo Bush, reapresentado, então, como imperialista, antidemocrático e explorador.
Já a cantora Cher aparece na capa da revista Sleazenation de 2001, caracterizada também 
de Che Guevara, simbolizando-a como uma militante do pop, conforme entrevista no 
interior da revista, visto que Cher, desde muitas décadas, está no show business. Todas essas 
reapresentações levam a um novo significado cultural, de acordo com as intenções da mídia. 
No caso do personagem Seu Madruga, do seriado humorístico Chaves, a desconstrução e 
reconstrução de sentidos se dá por uma leva dos ontem jovens e hoje adultos que acompanharam 
nos anos 1970, 1980, 1990, o seriado e, saudosistas, imprimem ao personagem de caráter 
duvidoso, que não gostava de trabalhar e vivia de trambiques, uma significação de herói, não 
pelas ações praticadas pelo personagem, mas sim pela saudade que possuem dos heróis da 
infância, que passam a ser catalizadores das experiências e sensações vividas na época. 
Atualmente, podemos citar como exemplo mais marcante dessa apropriação do sentido de 
líder revolucionário o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, representado na capa da 
Revista Veja, datada de 24 de dezembro de 2014, sob o título de “O Amigo Americano”, que, 
travestido de Che Guevara, aparece como símbolo de fraternidade americana, num momento em 
que se reestabelecem relações diplomáticas, pondo fim aos desentendimentos econômicos, sociais 
e políticos entre seu país e Cuba, iniciados durante a Revolução de Che ao lado de Fidel, em 1959. 
A figura líder de Che emoldurada no rosto de Obama é 
marcada pelas cores do comunismo, num vermelho gritante, 
e pela cor acinzentada de uma democracia americanizada, 
ressaltando os interesses de ambos os países em uma relação 
mais estreita. Essas cores também aparecem, como já vimos, 
nas outras apropriações de Che já citadas. Nesta imagem de 
Obama, podemos observar duas representações de sentidos 
das cores: a já citada sobre a simbologia de Che, e a utilizada 
na campanha presidencialista de Obama, em 2008, na qual 
o então candidato apresentava propostas que levavam a 
interpretações de uma democracia economicamente forte, 
era o candidato da mudança. Interessante observarmos 
que, na imagem original de Che, em sua boina, aparece 
uma estrela vermelha, símbolo de uma luta libertária, e, na 
de Obama, há a bandeira dos Estados Unidos. 
O segundo autor que trazemos para este diálogo é Michel Vovelle, também historiador 
francês do período dos Annales. Em sua obra “Ideologias e Mentalidades”4, na Introdução e 
na Primeira Parte de seus escritos, reflete a forma como os anos 1980 pensaram o conceito 
de mentalidades. As problemáticas levantadas em sua obra centram-se em interrogar se 
mentalidades são exemplos de representações.
4 VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. São Paulo: Brasiliense, 1987.
12
Unidade: A Historiografia à serviço dos Conceitos
Michel Vovelle conceitua mentalidade como o que não está organizado ou sistematizado, e 
afirma que o tempo da mentalidade é diferente do tempo do econômico, do político, pois é 
um tempo mais longo, constrói-se na longa duração. Vovelle reúne tendência historiográfica 
contemporânea francesa em forma de síntese: restos do positivismo, marxismo, representando 
a primeira geração dos Annales. Segundo o historiador, o conceito de mentalidade passou por 
metamorfoses, ou seja, mudanças. Passou de uma coleção de valores para uma história das 
atitudes e dos comportamentos, do estudo das elites para os marginalizados desviantes. Ideologia 
é intelectual e, mentalidade, é experiência, empirismo, prática. Segundo Ana Maria Mauad: 
Não é de hoje que a história proclamou sua independência dos 
textos escritos. A necessidade dos historiadores em problematizar 
temas pouco trabalhados pela historiografia tradicional levou-
os a ampliar seu universo de fontes, bem como a desenvolver 
abordagens pouco convencionais, à medida que se aproximava 
das demais ciências sociais em busca de uma história total. Novos 
temas passaram a fazer parte do elenco de objetos do historiador, 
dentre eles a vida privada, o quotidiano, as relações interpessoais, 
etc. Uma micro-história que, para ser narrada, não necessita perder 
a dimensão macro, a dimensão social, totalizadora das relações 
sociais. Neste contexto uma história social da família, da criança, 
do casamento, da morte etc. passou a ser contada, demandando, 
para tanto, muito mais informações que os inventários, 
testamentos, curatela de menores, enfim, tudo o que uma 
documentação cartorial poderia oferecer. A tradição oral, os diários 
íntimos, a iconografia e a literatura apresentaram-se como fontes 
históricas da excelência das anteriores, mas que demandavam do 
historiador uma habilidade de interpretação com a qual não estava 
aparelhado. Tornava-se imprescindível que as antigas fronteiras e 
os limites tradicionais fossem superados. Exigiu-se do historiador 
que ele fosse também antropólogo, sociólogo, semiólogo e um 
excelente detetive, para aprender a relativizar, desvendar redes 
sociais, compreender linguagens, decodificar sistemas de signos 
e decifrar vestígios, sem perder, jamais, a visão do conjunto.
Michel Vovelle, na primeira parte de “Ideologias e Mentalidades”, 
discute a relação entre iconografia e história das mentalidades, 
destacando a sua utilização por parte dos historiadores da Idade 
Média que – ao analisarem ex-votos, altares, estátuas etc.– 
buscaram traçar tanto uma geografia do sagrado como o perfil 
das sensibilidades coletivas no passado. Os problemas levantados 
por Vovelle convergem para uma única questão: “Pode-se, 
efetivamente, elaborar uma verdadeira semiologia da imagem?”.5
Com isto, a autora afirma que, para Vovelle, a História das Mentalidades não é uma história 
antimarxista, pois não há embate entre as duas escolas. O marxismo serve de base, de terreno 
para as mentalidades, sendo a longa duração uma lógica histórica inovada e interpretada em 
um dos estudos mais importantes sobre este conceito, que é o de Fernand Braudel, em sua Tese 
intitulada “O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Felipe II”6. A importante 
figura desse historiador nos faz voltar um pouco no tempo e nos fatos para entendermos o 
significado de sua obra para os estudos de Vovelle. Para que possamos conhecer melhor esse 
personagem, trazemos alguns dados pertinentes sobre a trajetória acadêmica braudeliana.
5 MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: Fotografia e história interfaces. In: Revista Tempo. Rio de Janeiro: Vol. I, nº 2, 
1996, pp. 5-6.
6 BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II - 2 vols. Lisboa, Publicações D. Quixote.
13
No começo do século XX, a cidade de São Paulo, embora enriquecida pelo resultado da 
exportação do café, ainda não possuía uma universidade, possuía apenas faculdades. Em 
1934, o jornalista Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal O Estado de São Paulo, convidou 
Fernand Braudel e o antropólogo Claude Lévi-Strauss para ajudarem na criação de uma 
universidade paulistana com cunho no pensamento francês dos Annales. Era uma resposta a 
Getúlio Vargas, Presidente do Brasil, ao fracasso da “Revolução” Paulista de 32. Isto resultou 
na criação da Universidade de São Paulo, onde Braudel lecionou de 1935 a 1937. Anos 
depois, Braudel afirmou que esse tempo no Brasil foi “o melhor período de sua vida”.
Com o surgimento da 2ª Guerra Mundial, em 1939, Braudel foi convocado para o serviço 
militar francês. Em campo de guerra, posteriormente, foi preso, em 1940, pelos alemães e 
permaneceu prisioneiro em um campo em Lübeck, na Alemanha. Foi lá que Braudel elaborou 
o trabalho acima citado. Não tendo acesso a seus livros ou notas, baseou-se apenas na sua 
grandiosa memória e numa biblioteca local, visitada anteriormente. Dentro da Escola dos 
Annales, Braudel tornou-se um dos principais historiadores da segunda geração de historiadores 
dos Annales após 1945, entre outros, como Georges Duby e Pierre Chaunu.
 Saiba Mais
Para entendermos o processo da criação da Universidade de São Paulo e o encaixe 
do pensamento francês, junto aos temas estudados, vejamos o documentário da 
TV Cultura sobre a Criação da USP, em:
https://www.youtube.com/watch?v=Etza5IiTeZY 
O reconhecimento acadêmico sobre os estudos de Braudel decorre em parte de sua obra, mas 
principalmente de seu sucesso em fazer da escola dos Annales o mais importante incentivador 
da pesquisa histórica, na França e em grande parte do mundo, após a década de 1950. 
Sendo como já afirmamos acima, o principal líder da escola historiográfica dos Annales, nas 
décadas de 1950 e 1960, exerceu enorme influência na escrita da História, refletindo, assim, 
nos trabalhos de Vovelle. Braudel é considerado um dos maiores historiadores modernos, 
grande crítico do papel dos fatores socioeconômicos em grande escala na pesquisa e escrita da 
História. Ele também é considerado um dos primeiros estudiosos da teoria dos sistemas-mundo, 
teoria das relações internacionais, da geoeconomia e da economia política internacional, que 
diz respeito ao estudo dos núcleos sociais e suas inter-relações com o avanço do capitalismo 
mundial como força determinante entre os vários países, sejam de pequeno ou grande porte.
Para entender o que é a teoria dos sistemas-mundo, acesse:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_sistema-mundo 
Uma característica do trabalho do Braudel era sua atenção sempre voltada para o sofrimento 
dos povos marginalizados, o que Michel Vovelle também ressalta. Braudel observou que muitas 
das fontes históricas que permaneciam em circulação apenas valorizavam as classes ricas 
alfabetizadas. Valorizou a considerada vida efêmera dos escravos, servos, camponeses e dos 
pobres urbanos, demonstrando contribuição destes personagens para o acúmulo de riqueza 
e poder dos seus respectivos senhores e das sociedades. O trabalho de Braudel foi muitas 
vezes ilustrado com representações contemporâneas da vida cotidiana destes esquecidos pela 
história positivista, e raramente com imagens de nobres ou reis. Nesse sentido, podemos fazer 
uma conexão entre os autores com os quais estamos dialogando, ou seja, Chartier, Vovelle e 
Le Goff e que, inseridos dentro da Nova História, dão a ela uma nova roupagem.
https://www.youtube.com/watch?v=Etza5IiTeZY
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_sistema-mundo
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Unidade: A Historiografia à serviço dos Conceitos
Após nosso contato com o “pai” da história de longa duração, figura de destaque para 
que saibamos que os acontecimentos e as temporalidades são importantes para novas 
definições postas no processo da representação, voltemos à nossa proposta inicial, que é 
estabelecermos, entre três autores e suas respectivas obras, um diálogo entre os conceitos de 
cultura e representação, formulados por eles.
Apresentamos, agora, nosso terceiro autor, Jacques Le Goff, com seu texto “As 
Mentalidades: Uma História Ambígua”7, escrito nos anos 1970, que trouxe a contribuição 
da História das Mentalidades para o estudo das representações. Deu esse historiador francês 
à Historiografia novos subsídios, pois mostrou a delimitação da História das Mentalidades 
e o que a mesma já vinha produzindo desde o início do Século XX. O autor não faz uma 
crítica à estrutura marxista, mas indica quais os pontos que estavam obscuros e que não 
conseguiam ser mostrados pela História oficial.
[...] a história das mentalidades não se define somente pelo contato 
com as outras ciências humanas e pela emergência de um domínio 
repelido pela história tradicional. É também o lugar de encontro 
de exigências opostas que a dinâmica própria à pesquisa histórica 
atual força ao diálogo. Situa-se no ponto de junção do individual e 
do coletivo, do longo tempo e do quotidiano, do inconsciente e do 
intencional, do estrutural e do conjuntural, do marginal e do geral.8
Outras dimensões dos fatos/fenômenos históricos dos debates dos anos 1960 no estudo 
das mentalidades faz surgirem agora novas abordagens. Le Goff reflete sobre a história 
das mentalidades, mas sem abandonar os aspectos econômicos e sociais. Mentalidades 
e representações podem ser repetições, e a coerência dos fatos históricos é a mistura de 
temporalidades e tensões existentes numa falta de linearidade e de múltiplas faces. O lugar de 
construção das mentalidades é sempre no coletivo, e manifesta-se de maneira impessoal, pois 
uma pessoa carrega as mentalidades porque ela é uma construção coletiva. A mentalidade se 
constrói no social, e não é um indivíduo que a constrói. Segundo Le Goff:
A história das mentalidades obriga o historiador a interessar-
se mais de perto por alguns fenômenos essenciais de seu 
domínio: as heranças, das quais o estudo ensina a continuidade, 
as perdas, as rupturas (de onde, de quem, de quando vem esse 
hábito mental, essa expressão, esse gesto?); a tradição, isto é, as 
maneiras pelas quais se reproduzem as sociedades, as defasagens, 
produto do retardamento dos espíritos em se adaptarem às 
mudanças e da inegável rapidez com que evoluem os diferentes 
setores da história. Campo de análise privilegiado para a crítica 
das concepções lineares a serviço histórico. A inércia, força 
histórica capital, mais fato referente ao espírito do que à matéria, 
uma vez que esta evolui frequentemente mais rápido que o 
primeiro. Os homens servem-se das máquinas que inventam, 
conservando as mentalidades anteriores a essas máquinas. Os 
automobilistastêm um vocabulário de cavaleiros; os operários 
das fábricas do Século XIX, a mentalidade de camponeses, seus 
pais e avós. A mentalidade é aquilo que muda mais lentamente. 
História das mentalidades, história da lentidão na história.9
7 LE GOFF, Jacques. As Mentalidades: Uma história ambígua, In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: Novos objetos. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
8 Op. Cit, p. 72.
9 Op. Cit, p. 72.
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Com isso, Le Goff quer nos dizer que a ideia de coletivo é sociológica, e a sociedade 
é campo do coletivo, e comprova a relação da História com os outros campos de 
estudo, principalmente com as ciências sociais. O método utilizado pelo historiador das 
mentalidades é realizar um estudo arqueológico e, depois, definir um estudo psíquico, pois 
tudo é fonte para o estudo das mentalidades, alargando o campo da pesquisa e do estudo 
da História, diferentemente do que ocorria na História Oficial, que somente aceitava fontes 
e documentos ditos oficiais.
Recuperando as ideias até agora aqui apresentadas, gostaríamos de ressaltar a importância 
desses avanços históricos que entrelaçam outros campos do conhecimento, onde o historiador 
se desbloqueia e dialoga com a música, com a literatura, com o cinema, com a fotografia, 
com as artes plásticas, com o teatro, com a dança etc. Esses autores, sobretudo Chartier, 
debruçam-se muito sobre a Literatura, campo que muito nos agrada, assim como as artes 
plásticas, ressaltadas, aqui, em nossa citação de Ana Maria Mauad. 
Um de nossos estudos sobre arte urbana e reminiscências rurais10 traz essa discussão 
tão bem elaborada desses autores numa análise da História por seus agentes sociais menos 
expressivos, exemplificados na obra da pintora e desenhista brasileira Tarsila do Amaral, 
que nasceu em Capivari, cidade do Estado de São Paulo, “[...] cuja obra é um verdadeiro 
documento/monumento da pintura moderna no Brasil, aliás, um dos mais expressivos 
exemplos dessa época”11. Tarsila, pela sensibilidade feminina e dotada de forte intuição e 
sólida educação, percebe dentro da cultura brasileira elementos que passam a ser expressos 
através de outras linguagens. 
Na obra “Operários”, de 1933 – óleo sobre tela de 150 cm por 205 cm, numa coleção do 
Governo do Estado de São Paulo, no Palácio Boa Vista em Campos do Jordão –, o cenário 
urbano está em destaque, com arranha-céus, torres e chaminés. As cores são variadas, onde 
se destacam argila/pele, marrons, brancos, negros, azuis, cinzas e carmim, que dão sensação 
de intensidade, de luz e do sombrio. A obra é totalmente marcada por rostos, que representam 
as etnias e as origens dos personagens, oriundos em sua grande maioria do campo, tanto 
europeu, africano e brasileiro, propondo uma leitura de inter-dependência campo/cidade, 
estabelecendo uma dinâmica de relações humanas, técnicas e econômicas. A tessitura da tela 
traz a identidade dos operários, nos múltiplos rostos de diversas origens étnicas, de variedade 
de culturas, mas com a expressão de uma mesma realidade, promovida pelo capital.
10 AVELINO, Yvone Dias, Et. Al. Arte Urbana e Reminiscências Rurais na Obra de Tarsila do Amaral. In: Revista Projeto 
História. Nº 19. Campo e Cidade. Programa de Estudos Pós-Graduados em História – PUC-SP. São Paulo: EDUC, 1999.
11 OP. Cit, p. 102.
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Operários (1933) – Tarsila do Amaral
Coleção do Governo do Estado de São Paulo, no Palácio Boa Vista – Campos do Jordão.
A obra é uma denúncia da massificação do mundo do trabalho, como sendo a peça de 
uma engrenagem. As posições dos rostos distinguem o feminino do masculino, onde as 
mulheres aparecem mais sofridas, e suas expressões são contraditórias, alegria/esperança, 
dor/tristeza, sendo mais significativas que as correspondentes masculinas. Lembremos que, 
no século XX, a presença da mulher na sociedade e na cultura começa a ser apresentada 
de forma diferente da do século XVII ou XVIII, ou seja, já é uma nova representação do 
feminino. Os homens, na sua maioria, são brancos, aparecendo apenas dois negros e um 
mulato. Curiosamente, o escritor Mário de Andrade, amigo íntimo de Tarsila, com quem 
travou várias trocas de correspondências ao longo do tempo, aparece pintado nesta obra. 
Na étnica feminina, aparece apenas uma mulata. As representações do masculino valorizam 
os bigodes, os cabelos curtos e penteados. O mesmo acontece com a iconografia das 
mulheres, destacando seus traços femininos, o que demonstra a preocupação, na época, 
pela higienização e assepsia do trabalhador, veiculados nos discursos médicos, sanitaristas 
e arquitetônicos. Podemos afirmar que Tarsila demonstra uma grande simpatia pelo 
movimento operário internacional e, nessa pintura, valoriza as múltiplas expressões étnicas, 
culturais e sexuais dessa composição. A pintora tem uma grande sensibilidade pelas questões 
sociológicas, antropológicas e políticas, que estão sendo objeto de outras manifestações 
culturais discursivas, sobretudo nas relações entre o arcaico e o moderno, a tradição e a 
ruptura, o popular e o erudito, o campo e a cidade.
Dessa forma, encerramos aqui essas reflexões sobre História, Cultura e Representação, 
esperando que, com este aprendizado, possam ser captados outros elementos da História, 
Culturas e Identidades, por meio dos estudos da Representação e da História Cultural.
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Material Complementar
Sites:
Para um melhor entendimento sobre a força e os significados da imagem icônica de Che 
Guevara e a sua trajetória histórica, leia o artigo que se encontra no site:
https://pormaopropria.wordpress.com/2012/10/09/che-a-viagem-de-uma-imagem/, de Alberto Bonnet. 
Faça um texto sobre um exemplo de reapresentação de um símbolo forte imagético, de 
sua escolha.
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Referências
AVELINO, Yvone Dias. et. al. Arte Urbana e Reminiscências Rurais na Obra de Tarsila 
do Amaral. In: Revista Projeto História. Nº 19. Campo e Cidade. Programa de Estudos Pós-
Graduados em História – PUC-SP. São Paulo: EDUC, 1999.
BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II. 
2 vols. Lisboa, Publicações D. Quixote.
CHARTIER, Roger. A História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1990.
LE GOFF, Jacques. As Mentalidades: Uma história ambígua, In: LE GOFF, Jacques; NORA, 
Pierre. História: Novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: Fotografia e história interfaces, In: Revista 
Tempo. Rio de Janeiro: Vol. I, nº 2, 1996, pp. 5-6.
VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Anotações

Outros materiais