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Metodologia do Ensino Superior

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS - UFLA
FUNDAÇÃO DE APOIO AO ENSINO E EXTENSÃO - FAEPE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU"
DISCIPLINA DE METOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR
Questão 4. "Tem havido por parte das escolas, dos professores e principalmente dos pais e dos alunos maior preocupação com avaliações e provas do que com aprendizagem".
 O problema da avaliação tem que ser encarado no contexto da educação escolar e também numa visão mais ampla no contexto social. Num país em que segundo dados da UNICEF (Relatório "Situação Mundial da Infância - 1991"), morrem cerca de mil crianças menores de 4 anos por dia( ! ) em conseqüência de causas sociais, falar em avaliação escolar pode parecer irônico, face a desafios tão urgentes como a preservação da vida.
 A educação no contexto da Avaliação é muito sério, e têm raízes profundas: não é um problema de uma matéria, série, curso ou escola; é de todo um sistema educacional, inserido num sistema social determinado, que impõe certos valores desumanos como o utilitarismo, a competição, o individualismo, o consumismo, a alienação, a marginalização, valores estes que estão incorporados em práticas sociais, cujos resultados colhemos em sala de aula, uma vez que funcionam como "filtros" de reinterpretação do sentido da educação e da avaliação.
 Existe o problema da avaliação! Disto ninguém discorda; pelo contrário, percebemos um amplo consenso de que a avaliação escolar é hoje um grande desafio.
 Quando os professores são questionados a respeito da avaliação, suas respostas normalmente apontam: 1) nos alunos: porque são desinteressados, imaturos, carentes, pobres preguiçosos, por só pensarem em nota e não em aprender,
2) nas famílias: mães trabalham fora, não acompanham os filhos, pais analfabetos, alcoólatras, etc. Outras vezes, a questão é de ordem técnica e estrutural: tais como dimensionar o tempo, usar nota ou conceito, fazer avaliação objetiva ou dissertativa, corrige ou não os erros de português em outras disciplinas; número de alunos por sala de aula, número de aulas que o professor tem que assumir para poder sobreviver, o sistema que exige e cobra notas, etc.
 Há necessidade de se desmascarar o cinismo reinante, em torno da avaliação escolar. Devemos desmistificar meias-
-verdades ideológicas, que servindo ao poder, para a manutenção, escamoteiam reais contradições sociais. Entendemos que o grande entrave da avaliação é o seu uso como instrumento de controle, de inculcação ideológica e de discriminação social.
 O que observamos hoje em dia, é que houve de um modo geral, uma inversão na sua lógica, ou seja, a avaliação que deveria ser um acompanhamento do processo educacional, acabou, tornando-se o objetivo desse processo, na prática dos alunos e da escola; é o famoso "estudar para passar".
 Como se chega ao problema da avaliação? Ocorre na sala de aula, mas sua base está no sistema de ensino, que correspondem a interesses de um determinado sistema social.
 O professor mais aberto coloca a avaliação em questão a partir de um apelo de sua sensibilidade, quase que no nível ético: percebe os alunos sofrendo, preocupados em demasia com a nota. De modo geral, os professores não têm consciência de que é mais um agente desse jogo de discriminação e dominação social. Faz simplesmente aquilo que "sempre foi feito" na escola, e como recebeu os fundamentos na sua graduação. Não percebendo a real dimensão do problema, o professor deve procurar técnicas mais apropriadas, para que, tanto ele como seus alunos, possam se sentir melhor em relação à avaliação.
 A redefinição da avaliação educacional deve ter como unidade de análise o vínculo individuo-sociedade numa dimensão histórica. Para isso é necessário conhecer a realidade brasileira, alguns exemplos:
 O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez um perfil revelador dos eleitores. Em 1986, éramos 69 milhões de eleitores. Os analfabetos com ensino fundamental incompleto totalizavam 26 milhões. Isso quer dizer que quase 40% de todos os eleitores poderiam ser considerados analfabetos de fato. Eleitores com ensino médio completo eram 6,7 milhões e com superior completo 3,1 milhões. Outro exemplo:
 Uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) afirma que, em 1995, 47,8% dos empregados na Grande São Paulo não tinham o primeiro grau completo. Em todo o Brasil esse número cresce para 75%.
Essa escolaridade ajuda a explicar por que o Brasil, segundo a Organização Internacional do Trabalho, é o campeão mundial de acidentes de trabalho. O operário não conhece nem as regras básicas de segurança. Poucos patrões investem em segurança. E o pior: o governo não fiscaliza.
 Com esses exemplos que vimos acima, significa que devemos partir da descrição e identificação das desigualdades sociais decorrentes das diferenças de equilíbrio, as quais se apresentam tanto para a totalidade de nossa estrutura
sócio-econômica, como para cada um de seus setores.
 O papel político da avaliação está intrínseco; quando se observa a organização da sociedade, não deixa de vir à tona uma questão crucial: como é possível tão poucos dominarem a tantos? É claro que a resposta a essa pergunta demanda profundas análises, mas é certo também que podemos aí encontrar reflexos da avaliação escolar.
 O Brasil é identificado internacionalmente como um dos países de pior distribuição de renda no mundo. Os 20 % mais ricos concentram 63,3 % da renda nacional, ou PIB(Produto Interno Bruto), os 50 % mais pobres detêm 11,6 % da renda, os outros 30 % da população brasileira têm a Renda per capita de 1 a 4 salários-mínimo por família.
 A avaliação escolar colabora com este processo de dominação, ajudando a formar um autoconceito negativo desde a mais tenra idade, até jovens e adultos, especialmente das camadas populares mais baixas, que têm o "privilégio" de sentar num banco escolar.
 O problema central da avaliação, portanto, é o seu uso como instrumento de discriminação e seleção social, na medida que assume, no âmbito da escola, a tarefa de separar os "aptos" dos "inaptos", os "capazes" dos "incapazes". Além disso, cumpre a função de legitimar o sistema dominante.
 O papel da ideologia burguesa é lançar a todos o convite, a sedução de chegar lá e convencer a quem "eventualmente" não chegar de que, se não chegou, foi por sua própria responsabilidade.
 Dentro do contexto político, uma avaliação deve ser feita; é rotineiro escutar a expressão falta vontade política, muito comum nas épocas de eleições nos discursos políticos, quando os candidatos fazem promessas para ganhar votos; uma vez eleitos, as esquecem. É o que se chama de político demagogo ou demagogia.
 Democracia, não significa apenas direitos políticos iguais (direito de voto, por exemplo), mas também maior acesso à renda nacional. Isso garantiria maiores condições de igualdade. É o que se chama de justiça social, condição para a cidadania.
 Quanto mais democrático for um país, mais os governantes se sentem obrigados, devido a pressão de populares a explicar como usam o dinheiro público, detalhando suas prioridades. Governar é escolher prioridades.
 Durante o processo educacional, a avaliação deve ser contínua para que possa cumprir sua função de ensino- aprendizagem. A avaliação importante é aquela em que o professor acompanha o processo de construção do conhecimento pelo aluno. Um exemplo interessante é a avaliação do ENEM, desenvolvido pelo MEC; uma avaliação continuada que permite ao estudante de 2º grau, entrar na faculdade sem passar pelo vestibular.
 Alterar a postura diante dos resultados da avaliação.
 O que se espera de uma avaliação numa perspectiva transformadora é que seus resultados constituam parte deum diagnóstico e que, a partir dessa análise da realidade, sejam tomadas decisões sobre o que fazer para superar os problemas constatados: perceber a necessidade do aluno e intervir na realidade para ajudar a superá-la.
 Outro aspecto de relevância no processo de avaliação é a questão do Erro.
 Como o professor trabalha o seu erro? Uma das dificuldades em se trabalhar os erros dos alunos, encontra-se justamente na dificuldade que o próprio educador tem em trabalhar os seus erros, em decorrência de uma formação distorcida, onde não havia lugar para o erro. Saber trabalhar com seus próprios erros é, portanto, condição para trabalhar com os erros dos alunos, entendendo-os não como "crime", mas como hipóteses de construção do conhecimento.
 É freqüente a valorização exclusiva da resposta certa: o raciocínio que o professor usou de nada vale se errou a resposta. Isto é um absurdo, pois nega todo o processo de construção do conhecimento, inclusive o científico. Atualmente o erro é tão indesejável que se tornou comum o uso de "corretivos" (líquido corretor) por parte dos alunos, numa tentativa de eliminar qualquer vestígio de erro.
 Portanto, no processo avaliatívo, de posse dos resultados, o erro é um excelente material de análise para o educador, pois revela como o educando está pensando, possibilitando ajudá-lo a reorientar a construção do conhecimento.
 A avaliação, sob uma falsa aparência de neutralidade e de objetividade, é o instrumento por excelência de que lança mão o sistema de ensino para o controle das oportunidades educacionais e para a dissimulação das desigualdades sociais, que ela oculta sob a fantasia do Dom natural e do mérito individualmente conquistado.
 Não podemos, entretanto, cair no erro de considerar que a escola é a responsável pela organização social; na verdade, a escola apenas reforça e realimenta toda uma organização já existente - da qual ela não é a origem nem a causa principal - , que tem uma base material muito concreta. Basta lembrar da "pedagogia do cotidiano" do trabalhador: pouco tempo de descanso, má alimentação, ônibus superlotado, baixo-salário, acidentes de trabalho, desemprego, hierarquia, burocracia, etc.
 O problema existe na base da sociedade brasileira.
 Esta é a raiz do problema.
 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
DIMENSTEIN, Gilberto . O CIDADÃO DE PAPEL - A infância, a Adolescência e os Direitos Humanos no Brasil . 16ª Ed. São Paulo : Ática, 1999.
SOUZA, Clarilza Prado de . et alli.(Org.). Avaliação do rendimento escolar . 2ª ed. (Coleção magistério: Formação e Trabalho Pedagógico) Campinas , SP: Papirus, 1993.
VASCONSELLOS, Celso dos Santos . AVALIAÇÃO : Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar . 4ª ed. (Cadernos pedagógicos do Libertad; v. 3) São Paulo : Libertad, 1994.

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