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TEORIA GERAL DO PROCESSO Prof. Roberto de Araujo Vieira Universidade Federal Fluminense - UFF 2013 AULA 01 INTRODUÇÃO SOCIEDADE E DIREITO O ser humano possui uma vocação, que lhe é inerente, de viver em grupo, associado a outros seres da mesma espécie. Haveria Direito na ilha do solitário Robinson Crusué antes da chegada do Índio Sexta-feira? Sociedade e o direito nasceram e caminham lado a lado. Não há sociedade sem direito: ubi societas ibi jus. SOCIEDADE E DIREITO A existência de normas jurídicas que tem por objetivo regulamentar condutas não é suficiente para evitar ou eliminar conflitos. Há necessidade em muitos casos de provocar o Estado-Juiz (Judiciário) para eliminar os conflitos. CONFLITOS CONDUZEM À VIOLÊNCIA, À DESORDEM E À DISPUTA. SOCIEDADE E DIREITO Função ordenadora – CONTROLE SOCIAL; Insatisfação: através de uma não satisfação realizada por alguém ou o próprio direito impede esta satistação; SOCIEDADE E DIREITO Conflito de interesses – resistência - Lide O que é lide? Segundo Carnelluti “é o conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida (discutida) ou insatisfeita”. Lide nada mais é do que o conflito de interesses levados para o julgamento do juiz. SOCIEDADE E DIREITO Surgindo um conflito entre dois interesses contrapostos, é possível que ele se resolva por obra dos próprios litigantes ou mediante a decisão imperativa de um terceiro. Na primeira hipótese, ocorre uma solução parcial do conflito, porque resolvido pelas próprias partes e, na segunda, uma solução imparcial do conflito, isto é, por ato de terceiro desvinculado do litígio. SOCIEDADE E DIREITO Formas iniciais de Eliminação dos conflitos: autocomposição (desistência, submissão ou transação) ou autotutela; Estado Juiz em substituição à “lei do mais forte” - árbitro (alguém reconhecido pelas partes: ancião, religioso, etc); Evolução histórica: Autotutela – arbitragem facultativa – arbitragem obrigatória; Arbitragem obrigatória – processo – jurisdição estatal. SOCIEDADE E DIREITO A resolução dos conflitos pois, ocorrentes na vida em sociedade, pode-se verificar por: a) obra de um ou de ambos os sujeitos envolvidos no conflito de interesses: um dos interessados (ou cada um deles) consente no sacrifício total ou parcial do próprio interesse (autocomposição) ou impõe o sacrifício do interesse alheio (autodefesa ou autotutela) b) por ato de terceiro, estranho à contenda: Pontifica- se a interferência de terceiro estranho ao conflito, a mediação, arbitragem e Jurisdição, por meio do processo. SOCIEDADE E DIREITO Hoje em dia, se entre duas pessoas há um conflito, caracterizado por uma das causas de insatisfação, como solucionar o conflito? Em princípio o direito impõe que, se quiser pôr fim a esta situação, seja chamado o Estado- Juiz, o qual virá dizer qual a vontade do ordenamento jurídico para o caso concreto. Nem sempre foi assim, a seguir um resumo da evolução dos métodos de resolução de conflitos até chegarmos à Jurisdição: SOCIEDADE E DIREITO AUTOCOMPOSIÇÃO É também uma forma bem antiga de solução de conflitos humanos, pela qual os interessados na dissipação de suas controvérsias, e ausente o Estado jurisdicional, conciliavam-se pela RENÚNCIA, SUBMISSÃO, DESISTÊNCIA e TRANSAÇÃO. Renúncia Consistia em se tornar silente o prejudicado ante o fato agressor a si mesmo ou a seu patrimônio. Submissão Era a aceitação resignada das condições impostas nos conflitos. SOCIEDADE E DIREITO Desistência Era o abandono da oposição já oferecida à lesão de um direito ou o não-exercício de um direito já iniciado. Transação Distinguia-se pela troca equilibrada de interesses na solução dos conflitos. Com o surgimento do monopólio estatal da jurisdição (exclusividade de o Estado fazer cumprir o direito), as FORMAS DE AUTOCOMPOSIÇÃO foram acolhidas pelo direito processual dos povos, erigindo-se em INSTITUTOS JURÍDICOS que se definiram pela possibilidade de as partes em conflito destes se utilizarem, com as peculiaridades de cada legislação. SOCIEDADE E DIREITO Da Aututela ou Autodefesa utilizada nos primórdios da civilização (mesopotâmia antiga). Características: a) Utilização da força para solução do conflito. b) Repressão dos atos criminosos era pelo regime da vingança privada (lei de talião). c) Ausência de julgador distinto das partes d) Imposição da decisão por uma das partes à outra SOCIEDADE E DIREITO EXEMPLOS de AUTOTUTELA ainda presentes: Exs: art. 25 CP – legítima defesa; art. 24 CP – estado de necessidade; art. 23, III, do CP – estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular do direito; art. 301 CPP – prisão em flagrante; art. 1210 CC – garante o direito do possuidor manter-se ou restituir-se pela própria força. etc. SOCIEDADE E DIREITO Período sacerdotal ou pré-romano: Transferência de uma solução parcial (autocomposição) para uma solução imparcial (árbitros). Inicialmente não prevista em lei, se dava pela livre escolha de terceiros. Os mediadores e árbitros eram os sacerdotes (vontade divina), anciões (Direito costumeiro), líderes, místicos, reis, nobres, caciques, etc., predestinados à compreensão do direito humano e divino para decidirem os litígios, escolhidos pelos próprios litigantes. O árbitro (juiz) surge antes do legislador. SOCIEDADE E DIREITO Período da legis actiones (séc. VII ao V a.C.) Os cidadãos em litígio compareciam perante o pretor, comprometendo-se a aceitar o que viesse a ser decidido pelo árbitro (escolhido pelas partes). O processo romano desenvolvia-se, assim, em dois estágios: perante o magistrado, ou pretor(in jure- nesse primeiro estágio, aquele compromisso das partes em aceitar a indicação do decisor, chamava- se litiscontestatio), e perante o árbitro (apud judicem – para o julgamento). SOCIEDADE E DIREITO O período das legis actiones corresponde à realeza e antecede o "formular", que corresponde à República. Esse sistema apresentava três características: JUDICIAL – porque se iniciava perante o magistrado (in jure) e, em seguida, perante o árbitro particular (apud judicem); LEGAL – porque previsto em regras do magistrado FORMALISTA – por se vincular a formas e palavras sacramentais. A FORMA de tais ações (em número de cinco) era a mais solene possível e um simples erro de petição ou de rito conduzia o pedido à improcedência. SOCIEDADE E DIREITO Período Formular –Direito Romano Arcaico (a partir do séc.V a.C.) Com a expulsão dos reis e o advento da república romana, aboliu- se o sistema rígido da legis actiones. A função do árbitro (judex) foi exercida pelos peritos que se notabilizaram como juristas, surgindo a figura dos juris consultos (convocadores do povo para deliberar sobre projetos de lei) e do pretor, nomeado pelo governo (magistrado), que, por via de éditos (um programa público de critérios de aplicação do direito vigente), exercia funções jurisdicionais de fornecer a fórmula ao árbitro (instrumento regido pelo próprio pretor) que continha o resumo, limites e objeto da demanda, o nome do árbitro livremente escolhido pelos demandante se o compromisso a ser assinado pelo árbitro e pelos litigantes de seguirem os termos da fórmula e de os litigantes obedecerem a decisão (sentença) a ser proferida pelo árbitro. SOCIEDADE E DIREITO Criou-se, portanto, uma ARBITRAGEM OFICIAL que consistiaem duas etapas, pelo magistrado (pretor – servidor público – in jure) e pelo juiz (árbitro particular – apud judicem). SOCIEDADE E DIREITO Período formular – direito romano clássico – do séc. II a.C. ao séc. III d.C. Nesse período, o pretor (servidor público), com a ampliação dos seus poderes, passou a nomear o árbitro e instruí-lo, por fórmulas, sobre como deveria conduzir as demandas e proferir sentenças. Marcou o encerramento do que se chama de ciclo do período formular, no qual A ARBITRAGEM já assume feições de instituto jurídico público e cogente com impositividade governamental na escolha do árbitro pelo pretor. SOCIEDADE E DIREITO Período da Cognitio extraordinem – direito romano pós clássico (do séc. III d.C. ao séc. IV d.C. ) Enfraquecimento do Império Romano: há a necessidade do Estado avocar para si a função de julgar Ampliação dos poderes do pretor: ele próprio aprecia a demanda e julga, sem interferência, não podendo mais os particulares utilizarem da arbitragem não obrigatória, por qualquer de suas formas. Essa fase assinala a passagem do modelo romano de Justiça Privada para a Justiça Pública. SOCIEDADE E DIREITO Evolução do conceito de arbitragem, se tornando obrigatória: a justiça passa a ser inteiramente pública, surgindo a Jurisdição (arbitragem estatal obrigatória). Ao assumir o Estado Romano o monopólio da atividade de dizer o direito, abolindo oficialmente a ARBITRAGEM FACULTATIVA, era o PRETOR o órgão jurisdicional do Estado e O ESTADO o único e exclusivo árbitro dos litígios.
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