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DIREITO CIVIL: OBRIGAÇÕES Aula 10 – 25/06/2015 5. DO ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (TEORIA DO PAGAMENTO) As obrigações cumprem seu ciclo vital em três momentos: a gênese da relação, as suas transformações ou vicissitudes, e, por fim, a sua extinção. A relação obrigacional é um PROCESSO, que desde o nascimento, marcha em direção ao adimplemento. * A ideologia individualista sempre valorizou a vontade geradora da obrigação (causa), em detrimento de sua finalidade e efeitos. ... O adimplemento é um ato real de extinção do débito que libera o devedor e converte em realidade a prestação devida. O principal efeito das obrigações é GERAR para o credor o direito de EXIGIR do devedor o CUMPRIMENTO da prestação, e para este o DEVER de prestar, acarretando, por fim, a sua LIBERAÇÃO. ***pagamento como direito subjetivo do devedor. A partir de agora falaremos sobre os meios necessários e idôneos para que o credor possa obter o que lhe é devido, compelindo o devedor a cumprir a obrigação. 5.1 DO PAGAMENTO A extinção dá-se, em regra, pelo seu cumprimento, que o Código Civil denomina pagamento. Embora a palavra pagamento seja usada, comumente, para INDICAR a solução em dinheiro de alguma dívida, o legislador a EMPREGOU no sentido técnico-jurídico de execução de qualquer espécie de obrigação. Ex.: *Assim, paga a obrigação o ESCULTOR que entrega a estátua que lhe havia sido encomendada. * Pagamento SIGNIFICA, pois, cumprimento ou adimplemento da obrigação. ... * Num conceito mais completo, pagamento é o ato jurídico formal, unilateral (uma parte é credora e a outra devedora), e corresponde a execução voluntária e exata por parte do devedor da prestação devida ao credor, no tempo, modo e lugar previstos o título constitutivo. Formal, pois deve ser feito na FORMA como foi estipulada. E a prova do pagamento é um recibo, é a quitação. Unilateral, pois é de INICIATIVA do DEVEDOR que é o sujeito passivo. Voluntária, isto é, NÃO SE PODE COAGIR o devedor a pagar, ele deve cumprir a obrigação voluntariamente. Exata, quer dizer que deve se pagar na exatidão do que foi contratado. Prestação, é o objeto da obrigação, o que foi estipulado deve ser cumprido, uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. Tempo, lugar e modo, o pagamento precisa atender essas regras previstas no contrato e na lei, atendendo aos questionamentos: o pagamento será a vista? Vai pintar a casa em quantos dias? O modo do pagamento será por transferência eletrônica? Quanto ao lugar, vou até o banco ou o banco vai até meu escritório? Quanto mais especificado a obrigação menores as dúvidas. TARTUCE faz uma ressalva quanto aos elementos subjetivos ou pessoais do pagamento. diz que “quem deve pagar” trata-se do solvens e “a quem se deve pagar” é o accipiens. Deve-se ter muito cuidado para NÃO denominar as partes como o DEVEDOR e o CREDOR, uma vez que a lei civil não utiliza tais expressões. JUSTIFICATIVA: Como se sabe, OUTRAS PESSOAS, que NÃO o devedor, podem pagar; ao mesmo tempo em que outras pessoas, que NÃO o credor, podem receber. 5.2 De quem deve pagar – Solvens (CC, arts. 304 a 307) 5.2.1 Pagamento realizado pelo interessado (art. 304, CC) A) principal interessado: O principal interessado na solução da dívida, a quem compete o dever de pagá- la, é o devedor. B) Terceiro Interessado: Só se considera interessado quem tem interesse jurídico na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao contrato, como o fiador, o avalista, o solidariamente obrigado, o herdeiro, o adquirente do imóvel hipotecado, o sublocatário etc., ou seja, aqueles que podem ter seu patrimônio afetado caso NÃO ocorra o pagamento. Obs. 1: Quando, no entanto, a obrigação é contraída intuitu personae (personalíssima), ou seja, em razão das condições ou qualidades pessoais do devedor, somente a este incumbe a solução. O credor NÃO é obrigado a receber de outrem a prestação imposta somente ao devedor, ou só por ele exequível (CC, art. 247). Ex.: Contratação do cantor 'tal'. No dia antes do evento o cantor comunica que não poderá comparecer, não será possível um terceiro cumprir a obrigação. Obs. 2: Havendo o pagamento por esse terceiro interessado, esta pessoa SUB-ROGA-SE automaticamente nos direitos de credor, com a transferência de todas as ações, exceções e garantias que detinha o credor primitivo. Em hipóteses tais, ocorre a chamada sub-rogação legal ou automática (art. 346, III, do CC). 5.2.2 Pagamento realizado por terceiro NÃO interessado P.Ú do Art. 304, CC - “Não é somente o devedor, ou terceiro interessado, portanto, quem pode efetuar o pagamento”. Podem fazê-lo, também, terceiros NÃO interessados, que não têm interesse jurídico na solução da dívida, mas OUTRA espécie de interesse, como o moral. Ex.: Caso do pai que paga a dívida do filho, pela qual não podia ser responsabilizado. Ou decorrente de amizade ou de relacionamento amoroso etc. Duas (2) Regras devem ser observadas: a) Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em seu próprio nome tem direito a reembolsar-se no que pagou, mas NÃO se sub-roga nos direitos do credor (art. 305 do CC). Não substitui o credor em todas as suas prerrogativas. Ex.: se havia uma hipoteca garantindo a dívida primitiva, o terceiro não desfrutará da mesma garantia real, restando-lhe, apenas, cobrar o débito pelas vias ordinárias. ***Se pagar a dívida antes de vencida, somente terá direito ao reembolso ocorrendo o seu vencimento (art. 305, parágrafo único, do CC). b) Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em nome e em conta do devedor, sem oposição deste, não terá direito a nada, pois é como se fizesse uma doação, um ato de liberalidade (interpretação do art. 304, parágrafo único, do CC). Ressalta-se que o terceiro não interessado NÃO poderá lançar mão dos meios conducentes à exoneração do devedor, a exemplo da consignação em pagamento. Obs.: CC, Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, NÃO obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ILIDIR A AÇÃO. Ex.: Devedor tinha a seu favor a alegação de prescrição da dívida. Se ele, sujeito passivo da obrigação, provar tal fato e havendo o pagamento por terceiro, NÃO haverá o mencionado direito de reembolso. 5.2.3. Pagamento efetuado mediante transmissão da propriedade Art. 307, CC enuncia que somente terá EFICÁCIA o pagamento que importar transmissão da propriedade quando feito por quem possa alienar o bem em que ele consentiu. Desse modo, somente se o solvens for TITULAR DE UM DIREITO REAL, será possível o pagamento. Esse dispositivo VEDA a alienação por quem não seja o dono da coisa. A solução dada pela norma, em sua literalidade, é a INEFICÁCIA, e NÃO a invalidade do pagamento. EXCEÇÃO: se a coisa entregue ao credor for FUNGÍVEL, e este a tiver recebido de BOA-FÉ e a CONSUMIDO, o pagamento terá EFICÁCIA, extinguindo-se a relação jurídica, ainda que o devedor não fosse dono. Só resta ao verdadeiro proprietário voltar-se contra quem a entregou indevidamente. EX.: A entrega a B cem sacas de café pertencentes a C, como forma de pagamento. Três são as possibilidades nesse caso: a) Se o café já foi consumido por B, de boa-fé, a ação de C é contra A. b) Se o café não foi consumido por B, a ação de C é contra B. c) Se o café foi consumido por B, de má-fé, a ação é contra B. Havendo má-fée perdas e danos, quanto às últimas respondem todos os culpados solidariamente. 5.5 A quem se deve pagar – Accipiens (arts. 308 a 312) 5.5.1. Pagamento efetuado diretamente ao credor Art. 308, CC enuncia que a prestação deve ser feita ao credor ou a quem o represente. Todavia, o credor pode ser também: o herdeiro (na proporção de sua quota hereditária); o cessionário; ou o sub-rogado nos direitos creditórios. Essencial é que a prestação seja efetuada a quem for credor na data do cumprimento. Se a dívida for solidária ou indivisível, qualquer dos cocredores está autorizado a recebê-la (CC, arts. 260 e 267). Obs.: Se a obrigação for ao portador, quem apresentar o título é credor. 5.5.2. Pagamento efetuado ao representante do credor A lei equipara ao pagamento realizado na pessoa do credor o efetuado “a quem de direito o represente”, considerando-o também válido. Há três espécies de representantes do credor: a) Legal: é o que decorre da lei, como os pais, tutores e curadores r espectivamente representantes legais dos filhos menores, dos tutelados e dos curatelados. b) Judicial: é o nomeado pelo juiz, como o inventariante, o síndico da falência, o administrador da empresa penhorada etc. c) Convencional: é o que recebe mandato outorgado pelo credor, com poderes especiais para receber e dar quitação. Obs.: Art. 311, CC dispõe que deve ser considerado como AUTORIZADO a receber o pagamento AQUELE que está munido do documento representativo da quitação (o recibo), SALVO se as circunstâncias afastarem a presunção relativa desse mandato tácito. A ressalva do dispositivo trata da hipótese de ter sido extraviado ou furtado o recibo ou haver outra circunstância relevante. Assim, NÃO deve o devedor efetuar desde logo o pagamento, pois as circunstâncias o aconselham a, pelo menos, verificar a autenticidade do mandato presumido. Se pagar sem tomar aquelas providências de comezinha cautela, paga mal. E quem paga mal paga duas vezes. Ex.: aquele que toma posse das notas promissórias e efetua cobrança em seu proveito. 5.5.3. Validade do pagamento efetuado a terceiro que NÃO o credor O pagamento a quem não ostenta a qualidade de credor na data em que foi efetuado NÃO tem efeito liberatório, NÃO exonerando o devedor. Porém a segunda parte do art. 308, considera válido o pagamento feito a terceiro se for ratificado pelo credor, ou seja, se este confirmar o recebimento por via do referido terceiro ou fornecer recibo, OU, ainda, se o pagamento reverter em seu proveito. 5.5.4. Pagamento efetuado ao credor putativo Art. 309, CC - Credor putativo é aquele que se apresenta aos olhos de todos como o verdadeiro credor. Recebe tal denominação, portanto, quem aparenta ser credor, como é o caso do herdeiro aparente. Assim, o pagamento feito a este de boa-fé É VÁLIDO. (no direito do consumidor – 47, CDC – interpretação mais favorável) Ex.: Assim, Arnaldo deve a Beltrano, que morre e deixa testamento para Carlos como herdeiro, quando Arnaldo pagar à Carlos a obrigação será extinta; só que depois o juiz anula o testamento. Se o testamento era válido ao tempo do pagamento, encerrou-se o vínculo obrigacional. Arnaldo NÃO vai ter que pagar novamente. Ex. 2: Imagine-se o caso em que um locatário efetua o seu pagamento na imobiliária X, há certo tempo. Mas o locador rompe o contrato de representação com essa imobiliária e contrata a imobiliária Y. O locatário NÃO é avisado e continua fazendo os pagamentos na imobiliária anterior, sendo notificado da troca seis meses após. Logicamente, os pagamentos desses seis meses devem ser reputados válidos, não se aplicando a regra pela qual quem paga mal, paga duas vezes. Dessa forma, cabe ao locador acionar a imobiliária X e não o locatário. 5.5.5. Pagamento ao credor incapaz Art. 310, CC - Em princípio, o pagamento efetivado a pessoa absolutamente incapaz É NULO. De acordo com a doutrina o realizado em mãos de relativamente incapaz PODE SER CONFIRMADO pelo representante legal ou pelo próprio credor se, relativamente incapaz, cessada a incapacidade (CC, art. 172). Obs.: Se o devedor tinha ciência da incapacidade, o cumprimento é inválido, tendo o devedor que pagar segunda vez ou provar que o pagamento efetuado reverteu, em parte ou no todo, em proveito do incapaz. No entanto, o devedor desconhecia, sem culpa, a incapacidade do credor, o cumprimento será válido independentemente de comprovação de que trouxe proveito ao incapaz. 5.5.6. Pagamento efetuado ao credor cujo crédito foi penhorado Art. 312, CC trata da hipótese em que, mesmo sendo feito ao verdadeiro credor, o pagamento NÃO valerá. Pois, quando a penhora recai sobre um crédito, o devedor é notificado a não pagar ao credor, mas a depositar em juízo o valor devido. Se mesmo assim pagar ao credor, o pagamento NÃO valerá contra o terceiro exequente ou embargante, “que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor”. 5.6. DO OBJETO DO PAGAMENTO O objeto do pagamento é exatamente A PRESTAÇÃO. O devedor NÃO estará obrigado a dar, e o credor NÃO é obrigador a receber, qualquer coisa distinta da que constitui o conteúdo da prestação. O devedor não liberar-se cumprindo uma prestação de conteúdo diverso. (Art. 313) Sob pena de a obrigação converter-se em perdas e danos. Obs.: QUANDO o objeto da obrigação é COMPLEXO, abrangendo diversas prestações (principais e acessórias, plúrimas ou mistas de dar e de fazer, p. ex.), o devedor NÃO se exonera enquanto não cumpre a integralidade do débito, na sua inteira complexidade. (Art. 314) 5.6.1. Pagamento em Dinheiro O pagamento em dinheiro é a forma mais importante e na qual TODAS AS DEMAIS PODEM TRANSFORMAR-SE. (Art. 315) Dívida em dinheiro é a que se representa pela moeda considerada em seu valor nominal (aquele expresso no título); ***Quando o dinheiro NÃO constitui o objeto da prestação, MAS apenas representa seu valor, diz-se que a dívida é de valor. Obs.: Toda moeda, admitida pela lei como meio de pagamento, que tem curso legal no País, NÃO pode ser recusada. 5.6.2. A cláusula de escala móvel Quanto ao valor nominal da moeda corrente, gerou por muito tempo problemas para o credor relativo à inflação, e "PARA FUGIR desses efeitos os credores adotaram a cláusula de escala móvel na qual a prestação deve variar segundo índices de custo de vida”. CONCEITO: escala móvel é aquela que estabelece uma revisão, PRÉCONVENCIONADA pelas partes, dos pagamentos que deverão ser FEITOS de acordo com as variações do preço de determinadas mercadorias ou serviços ou do índice geral do custo de vida ou dos salários (Art. 316). “DÍVIDA DE VALOR” Obs.: De acordo com a lei 10.192/2001, tornou nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano (art. 2º, §1º). Cláusula de Escala Móvel x Teoria da Imprevisão O aumento progressivo de prestações sucessivas é possível baseado em algum dos índices da cláusula e escala móvel, que é critério de atualização monetária proveniente de prévia estipulação contratual. A TEORIA DA IMPREVISÃO poderá ser aplicada pelo juiz quando fatos extraordinários e imprevisíveis tornarem excessivamente oneroso para um dos contratantes o cumprimento do contrato, e recomendarem sua revisão (Art. 317). 5.7. DA PROVA DO PAGAMENTO Realizando a prestação devida, o devedor tem o direito de exigir do credora quitação da dívida. Esta é a prova do pagamento. 5.7.1. A Quitação A quitação é a declaração unilateral escrita, emitida pelo credor, DE QUE A PRESTAÇÃO FOI EFETUADA e o devedor fica liberado. É a declaração escrita a que vulgarmente se dá o nome de recibo. ***A entrega da nota promissória ou letra de câmbio, também faz presumir o pagamento. É interessante transcrever o entendimento do Enunciado n. 18, aprovado pela I Jornada de Direito Civil, aplicável à quitação regular e aos CONTRATOS ELETRÔNICOS, permitindo a quitação por e-mail. É a sua redação: “A ‘quitação regular’, referida no art. 319 do novo Código Civil, engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação à distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou dos seus representantes”. 5.7.2. Direito de Retenção Via de regra, a quitação não se presume. Por tal razão, o devedor que efetua o pagamento a quem de direito, TEM direito de receber regular quitação. Caso o credor, ou terceiro a quem se deve pagar, recusar-se a dar-lhe quitação, o devedor poderá reter o pagamento. “Art. 319, CC/02” 5.7.3. Elementos da Quitação Os elementos da quitação estão previstos no art. 320 da codificação privada, a saber: a) valor expresso da obrigação; b) especificidade da dívida quitada; c) identificação do devedor ou de quem paga no seu lugar; d) tempo e lugar de pagamento; e) assinatura do credor ou o seu representante, dando quitação total ou parcial. OBS. 1: Os requisitos NÃO são obrigatórios como aponta o p.u. do art. 320, aduzindo que ainda que não estejam presentes tais requisitos, valerá a quitação, se de seus termos e circunstâncias a divida tiver sido paga. Permite que o JUIZ possa, analisando as circunstâncias do caso concreto e a boa-fé do devedor ao não exigir o recibo (às vezes por inexperiência ou ignorância), CONCLUIR ter havido pagamento e declarar extinta a obrigação. OBS. 2: Prevê o art. 321 do CC/2002 que nos débitos cuja quitação consista na devolução do título, uma vez PERDIDO este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, UMA DECLARAÇÃO DO CREDOR que inutilize o título desaparecido. Essa previsão tem por objetivo proteger futuramente o devedor para que o título não seja cobrado novamente. 5.7.4. As presunções de pagamento O meio probatório normal consiste na ENTREGA da quitação/recibo. Mas existem TRÊS presunções, que facilitam essa prova, dispensando a quitação (presunções juris tantum/relativas): a) No pagamento realizado em quotas periódicas, a QUITAÇÃO DA ÚLTIMA estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores (art. 322 do CC). Obs.: Para afastarem essa presunção, os credores (escolas, por exemplo) costumam inserir no título a advertência de que o pagamento da última mensalidade em atraso não quita as pretéritas. b) Sendo a quitação do capital sem reserva de juros (que são os frutos civis do capital), estes presumem-se pagos (art. 323 do CC). Como os juros não produzem rendimento, é de supor que o credor imputaria neles o PAGAMENTO PARCIAL da dívida, e não no capital, que continuaria a render. c) Nas dívidas literais, a entrega do título (nota promissória, cheque, letra de câmbio etc.) ao devedor firma presunção de pagamento (art. 324 do CC). OBS. GERAL: Todas essas presunções de pagamento, todavia, SÃO RELATIVAS. Vale dizer, firmam uma presunção vencível, cabendo o ônus de provar o contrário (a inexistência do pagamento) ao credor. 5.8. DO LUGAR DO PAGAMENTO As partes podem, ao celebrar o contrato, escolher livremente o local. Todavia, se não o fizerem, nem a lei, ou se o contrário não dispuserem as circunstâncias, nem a natureza da obrigação, efetuar-se-á o pagamento no DOMICÍLIO DO DEVEDOR. (art. 327, CC) ATENÇÃO: De acordo com o art. 327, a regra geral PODERÁ SER AFASTADA: Pela própria LEI (Ex.: imagine que lei municipal crie determinado tributo, determinando que o pagamento seja feito na prefeitura, ou em determinado banco), OU... pelas circunstâncias ou natureza da obrigação (Ex.: a prestação decorrente de um contrato de trabalho, por exemplo, poderá ser cumprida fora do domicílio do devedor) 5.8.1. Classificação: a) Obrigação quesível ou quérable – situação em que o pagamento deverá ocorrer no DOMICÍLIO DO DEVEDOR. b) Obrigação portável ou portable – é a situação em que se estipula, por força do instrumento negocial ou pela natureza da obrigação, que o local do cumprimento da obrigação será o DOMICÍLIO DO CREDOR ou DE TERCEIRO. Mais de um lugar: Se o contrato estabelecer mais de um lugar para o pagamento, caberá ao CREDOR, e não ao devedor, ESCOLHER o que mais lhe aprouver (p.u. do art. 327 do CC). Atenção: Compete ao credor cientificar o devedor, em tempo hábil, sob pena de o pagamento vir a ser validamente efetuado pelo devedor em qualquer dos lugares, à sua escolha. Tradição de imóvel: se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações a ele relativas, far-se-á no lugar onde SITUADO O BEM (art. 328 do CC). Motivo grave: à luz dos princípios da razoabilidade e da eticidade, PODE o devedor, sem prejuízo do credor, havendo motivo grave, efetuar o pagamento em LUGAR DIVERSO do estipulado (art. 329 do CC). Ex.: É o que ocorre se, no lugar do pagamento, houver sido decretado estado de emergência por força de inundação. Pagamento reiterado em lugar diverso: Prevê o art. 330 do CC, que o pagamento feito reiteradamente em outro local faz presumir a renúncia do credor ao lugar previsto no contrato. (supressio) 5.9. DO TEMPO DO PAGAMENTO Não basta saber ONDE a obrigação deve ser cumprida. Importa saber, também, o MOMENTO em que deve ser adimplida (tempo do seu vencimento). Nas obrigações Puras: Pelo art. 331, salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Em suma, em regra, a obrigação deve ser reputada instantânea. Nas obrigações Condicionais (Futuro e Incerto): Estas são CUMPRIDAS na data do implemento ou ocorrência da condição, CABENDO ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor (art. 332 do CC). Nas obrigações a Termo (Futuro e Certo): em sendo o prazo concedido a FAVOR DO DEVEDOR, nada impede que este antecipe o pagamento, podendo o credor retê-lo. Em caso contrário, se o prazo estipulado for feito PARA FAVORECER O CREDOR, não poderá o devedor pagar antecipadamente. Tudo dependerá de como se convencionou a obrigação. 5.9.1. Exigência antecipada do pagamento pelo Credor: Apenas em três casos previstos no art. 333: a) no caso de falência do devedor ou de concurso de credores — nesse caso, o credor deverá acautelar-se, habilitando o crédito antecipadamente vencido no juízo falimentar; b) se os bens, hipotecados ou empenhados (objeto de penhor), forem penhorados em execução de outro credor — aqui, a antecipação do vencimento propiciará que o credor possa tomar providências imediatas para garantir a satisfação do seu direito; c) se cessarem, ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias (fiança, por ex.), ou reais (hipoteca, penhor, anticrese), e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las — a negativa de renovação ou reforço das garantias INDICA que a situação do devedor não é boa, razão por que a lei autoriza a antecipação do vencimento.
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