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CCJ0015-WL-B-AMMA-07-Usucapião de Imóveis

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DIREITO CIVIL IV 
PATRICIA ESTEVES DE MENDONÇA 
AULA 7 
 
Usucapião de Imóveis 
 
Conteúdo Programático desta aula: 
 Usucapião 
 Conceito e natureza jurídica 
 Requisitos gerais e específicos 
 Espécies e respectivos prazos 
 Direito intertemporal 
 Alegação em defesa e seus efeitos 
 
Modos de Aquisição da Propriedade Imobiliária 
Usucapião 
Etimologia da palavra: usus (do latim, uso) + capionem (do latim, aquisição), 
que significa aquisição pelo uso. 
 
A usucapião é entendida, assim, como a aquisição de direito real através do 
exercício da posse mansa, pacífica, continuada e duradoura. É sabido que não 
apenas a propriedade pode ser adquirida através da usucapião, mas outros 
direitos reais, tais quais a servidão e o uso (usucapião de uso de linha 
telefônica). Dessa forma, a usucapião transforma um estado de fato (posse) em 
um estado de direito (propriedade, servidão etc). A usucapião é forma 
originária de aquisição da propriedade. 
Fundamento 
Corrente subjetivista: o fundamento da usucapião é a presunção de que o 
proprietário abandonou o bem, renunciando-o tacitamente. 
 
 
Corrente objetivista: A usucapião tem, como fundamento a consolidação da 
propriedade, dando juridicidade a uma situação de fato: a posse unida ao 
tempo. A posse é o fato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação 
do fato em direito 
PRESSUPOSTOS: 
1) Posse contínua de alguma coisa: exercer poderes inerentes à propriedade, 
ininterruptamente. 
2) Posse mansa e pacífica: não pode haver resistência do proprietário. Essa 
resistência não pode ser física nem jurídica (ação possessória em face do 
possuidor). Se tiver algum interdito possessório, o tempo anterior é descartado. 
3) Lapso temporal: varia de 2 a 15 anos, dependendo da espécie de usucapião 
que será utilizada para aquisição da propriedade imóvel. Varia de 3 a 5 anos se 
tratar de bem móvel. 
4)“Ânimus domini”: intenção de propriedade em relação àquela coisa. 
Requisitos gerais e específicos 
A) Pessoais: referem-se às características pessoais, para usucapir, é 
necessário que o adquirente tenha capacidade jurídica, na forma da lei civil. 
Por outro lado, há que serem observadas as causas obstativas, suspensivas e 
interruptivas da prescrição elencadas nos arts. 197 a 202, CC/2002. 
B) Reais: referem-se ao objeto da usucapião, é dizer, aos bens e direitos 
suscetíveis de usucapião. Assim é que podem ser usucapidos os bens 
apropriáveis, estando, pois, excluídos os bens fora do comércio, os bens 
públicos e bens que, pela natureza da relação jurídica que autoriza a posse do 
possuidor, não podem ser usucapidos. 
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. 
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e 
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem 
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o 
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
(...) 
 § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 
C) Formais: os requisitos formais referem-se à posse (que deve ser exercida 
com animus domini), ao prazo e à sentença judicial (declaratória). A posse 
deve ser justa, não sendo condição essencial a boa-fé. Dessa forma, a posse 
há de ser: mansa, pacífica, pública, contínua e duradoura. 
STF Súmula nº 263 - 13/12/1963 - Possuidor - Citação - Ação de Usucapião 
 O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião. 
 
STF Súmula nº 391 - 03/04/1964 - Confinante Certo - Citação - Ação de 
Usucapião 
 O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião. 
 
ESPÉCIES DE USUCAPIÃO DE BENS IMÓVEIS 
 
1) Usucapião Extraordinária (art. 1.238, CC): não precisa ter justo título nem 
boa-fé. Poderá adquirir por usucapião mesmo de má-fé 
Prazo: 15 anos. 
Art. 1.238, parágrafo único, CC se adquirida a posse, mesmo que de má-fé, 
houver função social, o prazo será menor: 10 anos. 
2)Usucapião Ordinária 
(art. 1.242, CC): possuidor de boa-fé Prazo: 10 anos. 
Art. 1.242, parágrafo único, CC quando houver o cancelamento no RGI. 3 
requisitos: tem que ter sido adquirido onerosamente; quem transferiu a 
propriedade era quem tinha o registro no RGI; tem que ter a função social. 
Prazo cai para 5 anos. 
3) Usucapião Rural 
(art. 1.239, CC): morar e plantar em área rural, terreno de até 50 hectares. Não 
ter outra propriedade. 
Prazo: 5 anos. 
Se possuidor for proprietário de outro imóvel, poderá adquirir por outra 
usucapião, mas não a rural, e o prazo mudará, não será mais o de 5 anos. 
4) Usucapião Urbana 
(art. 1.240, CC): quando alguém, que não é proprietário de outro imóvel, e 
ocupa propriedade urbana de até 250m. Tem que morar. 
Prazo: 5 anos. 
5)Usucapião Matrimonial: 
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem 
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² 
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua 
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não 
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
 
V Jornada de Direito Civil STJ e CJF enunciados: 
498. A fluência do prazo de 2 anos previsto pelo art. 1.240-A para a nova 
modalidade de usucapião nele contemplada tem início com a entrada em vigo 
da Lei n. 12.424/2011. 
499. A aquisição da propriedade na modalidade de usucapião prevista no art. 
1.240-A do Codigo Civil só pode ocorrer em virtude de implemento de seus 
pressupostos anteriormente ao divórcio. O requisito "abandono de lar" deve ser 
interpretado de maneira cautelosa, mediante a verificação de que o 
afastamento do lar conjugal representa descumprimento simultâneo de outros 
deveres conjugais, tais como assistência material e sustento do lar, onerando 
desigualmente aquele que se manteve na residência familiar e que se 
responsabiliza unilateralmente pelas despesas oriundas de manutenção da 
família e do próprio imóvel, o que justifica a perda da propriedade e a alteração 
do regime de bens quanto ao imóvel objeto de usucapião. 
 
500. A modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil 
pressupõe a propriedade comum do casal e compreende todas as formas de 
família ou entidaes familiares, inclusive homoafetivas. 
501. As expressões "ex-cônjuge" e "ex-companheiro", contidas no art. 1.240-A 
do Código Civil, correspondem à situação fática da separação, 
independentemente de divórcio. 
502. O conceito de posse direta referido no art. 1.240-A do Código Civil não 
coincide com a acepção empregada no art. 1.197 do mesmo Código. 
CONFLITO INTERTEMPORAL DE NORMAS: 
Usucapião extraordinária (art. 1238, caput, CC): aplicação da regra contida no 
art. 2.028, CC: 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este 
Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da 
metade do tempo estabelecido na lei revogada. 
 
Usucapião extraordinária (art. 1.238, parágrafo único) e usucapião tabular: 
aplicação da regra contida no art. 2.029, CC: 
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos 
estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 
1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido 
na vigência do anterior 
 
STF Súmula nº 237 - 13/12/1963 - 
Usucapião - Argüição em Defesa 
O usucapião pode ser argüido em defesa. 
 
Caso concreto 01 
José ingressou mansa e pacificamente na posse de imóvel de propriedade de 
Emanuel em fevereiro de 1992, passando lá a morar com sua família. Em 
março de 2010, Emanuel ajuizou açãode reintegração de posse em face de 
José. 
E sua defesa, José alegou que já havia usucapido o referido bem, pois estava 
na posse mansa, pacífica, incontestada e exercida com animus domini há mais 
de 18 anos. O juiz, porém, aplicando a regra do art. 2.028, entendeu que a 
usucapião somente ocorreria em 2012, motivo pelo qual não acatou a tese de 
José e ainda determinou sua retirada do imóvel em prazo não superior a 30 
dias 
Considerando a disciplina da usucapião contida no Código Civil, responda 
JUSTIFICADA e FUNDAMENTADAMENTE: 
A) Qual a modalidade de usucapião alegada por José? 
B) Foi correta a decisão judicial? 
Questão objetiva 01 
(TRF 1ª Região – Juiz Federal) Pedro, residente em Brasília e casado sob o 
regime de comunhão parcial de bens, alienou uma casa de 400 m2 situada no 
Rio Grande do Sul. Na ocasião, ocultou sua condição de casado. A escritura 
pública foi lavrada e registrada no cartório de registro de imóveis. Após doze 
anos, nos quais o comprador, de forma pacífica, residiu com sua família na 
casa, descobriu-se o estado de casado do alienante. Considerando essa 
situação hipotética, julgue os itens a seguir. 
I- O comprador, para contar o tempo exigido para a usucapião, deve ter 
exercido pessoalmente a posse durante todo o período, pois não pode 
acrescentar à sua posse a de seus antecessores. 
II- O comprador pode adquirir a propriedade da casa pela usucapião urbana. 
III- No caso de aquisição da propriedade da casa pela usucapião ordinária, 
exige-se que o possuidor tenha exercido a posse de boa-fé. 
IV- O comprador pode adquirir a propriedade da casa pela usucapião ordinária. 
Estão certos apenas os itens 
A) I e II. 
B) I e IV. 
C) III e IV. 
D) I, II e III. 
E) II, III e IV. 
Questão objetiva 02 
(MPE 2010 – Promotor) Com relação à usucapião da propriedade imóvel, 
assinale a opção correta. 
A) Se um condômino ocupar área comum, como se sua fosse, e sem qualquer 
oposição, a duradoura inércia do condomínio, aliada ao prazo legal, poderá 
provocar a usucapião. 
B) Diferentemente do que ocorre com a usucapião ordinária, o prazo para a 
aquisição de propriedade por usucapião extraordinária é igual ao prazo para a 
posse simples e qualificada. 
C) O justo título que enseja a aquisição da propriedade por usucapião é aquele 
que foi levado a registro pelo possuidor. 
D) De acordo com a jurisprudência dominante, não é possível usucapião 
voluntária de bem de família. 
E) Se determinado condomínio for pro indiviso e a posse recair sobre a 
integralidade do imóvel, é possível que um dos condôminos usucape contra os 
demais comproprietários.

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