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Professor Jaime Barreto O ESTADO NA CIÊNCIA POLÍTICA (parte II) 2. FINS DO ESTADO 1 FINS ESSENCIAIS OU JURÍDICOS 1 FINS NÃO-ESSENCIAIS OU SOCIAIS 1 FINS EXTENSIVOS, LIMITADOS E SOLIDÁRIOS 1 3. CLASSIFICAÇÃO DOS ESTADOS 2-3 AUTONOMIA VS. SOBERANIA 2 ESTADO UNITÁRIO 2 ESTADO FEDERAL 2 E 3 CONFEDERAÇÃO DE ESTADOS 3 4. ELEMENTOS DO ESTADO 3-8 O POVO E O DIREITO DE NACIONALIDADE 3 E 4 E 5 O TERRITÓRIO E OS SEUS ELEMENTOS 5 E 6 O PODER SOBERANO E A QUESTÃO DA SUA TITULARIDADE 6 E 7 E 8 5. SEPARAÇÃO DE PODERES 9- CONCEPÇÕES LOCKE, MONTESQUIEU E CONSTANT 9 E 10 SISTEMA DE PESOS E CONTRAPESOS 10 PODER LEGISLATIVO (SEPARAÇÃO DE PODERES NO BRASIL) 11 PODER EXECUTIVO (SEPARAÇÃO DE PODERES NO BRASIL) 12 PODER JUDICIÁRIO (SEPARAÇÃO DE PODERES NO BRASIL) 12 E 13 6. FUNÇÕES ESSENCIAIS A JUSTIÇA 14-16 ADVOCACIA 14 E 15 MINISTÉRIO PÚBLICO 15 E 16 1 2. Fins do Estado O Estado, de acordo com Jellinek, pode cumprir com fins essenciais ou jurídicos (aqueles que necessariamente todo e qualquer Estado, independentemente do seu perfil político e ideológico, tem que cumprir) e com fins não-essenciais ou sociais (aqueles que são acessórios, variáveis de um Estado para outro de acordo com sua ideologia). Os fins jurídicos se constituem pela defesa da soberania estatal e garantia da segurança pública, já que na visão de Jellinek, o Estado nasceu para garantir a paz social, através do direito, criando-o e aplicando-o. Percebe-se, portanto, a influência de Locke e Hobbes nesse pensamento. Os fins sociais são compostos pela garantia da educação, moradia, saúde, transporte, e outros. Em outras palavras, são aqueles que levam ao bem-estar social. O Estado que garante os fins sociais são os mais interventores, enquanto aquele que está vinculado somente aos fins essenciais caracteriza-se como liberal. Temos uma outra tipologia para os fins do Estado que, neste caso, se encontram dentro de uma ótica relacional com os indivíduos. O Estado pode, então, possuir fins extensivos, limitados e solidários. I - Os fins expansivos dizem respeito ao crescimento territorial do Estado, o qual se posiciona acima da sua população (o interesse público acima do privado). Como por exemplo, Estados absolutistas, ditaduras, etc. II - Os fins limitados se associam com a ideia de Estado-mínimo. Quando esse se relaciona com os indivíduos, os seus interesses servem a supremacia da esfera privada. Seria, isto posto, um Estado-liberal. III - Os fins solidários é vinculado ao Estado que anda lado a lado do indivíduo. Ao mesmo tempo que intervém na economia e promove políticas públicas, ele incentiva a liberdade individual e os meios de privatização. 2 3. Classificação dos Estados Para entender a diferença entre o Estado Unitário e Federal, precisamos diferenciar autonomia e soberania. Autonomia é a capacidade de criar normas jurídicas por si só . No âmbito do direito, temos a autonomia privada - a autonomia que a população tem para criar normas jurídicas, que irão vinculá-las em contratos (negócios) jurídicos; e a autonomia pública. Esta ú ltima está vinculada a capacidade que entes públicos possuem de criar normas jurídicas e fazê-las cumprir. Na teoria política, quando pensamos em autonomia pensamos em capacidade de auto-organização. Sendo assim, um ente autônomo seria aquele que tem a faculdade de auto-gestão. Já um ente soberano é aquele que age com imperatividade, ou seja, aquele que tem a habilidade de criar normas jurídicas e fazê-las cumprir. Todo ente soberano é autônomo, mas nem todo ente autônomo é soberano. A soberania engloba as dimensões interna e externa, enquanto a autonomia somente a interna. A soberania tem a personalidade jurídica do direito internacional. A autonomia tem a personalidade jurídica do direito interno ou nacional. Os estados são independentes entre si, mas todos servem a soberania ou supremacia jurídica da Constituição Federal. Ser Unitário ou Federal diz respeito a organização interna de um Estado. 3.1 O Estado Unitário No plano internacional, é soberano. Não há internamente uma divisão política em entes autônomos. Exemplo: Brasil Império. 3.2 O Estado Federal 3 No plano internacional, é soberano. Internamente, o Estado Federal é dividido em unidades políticas autônomas com relativa independência. Exemplo: Brasil atual (república federativa). O federalismo se divide em duas tipologias. A primeira é o Federalismo clássico, típico de Estados liberais, no qual existe uma divisão muito clara entre as funções dos estados-membros e a União (dualidade: assunto local x assunto nacional). Surgiu na época do liberalismo, e foi superado, gradativamente, pelo Estado Social com fins solidários. A partir do momento que o Estado passou a realizar, principalmente, fins sociais, complexidade da máquina publica aumentou e transformou. Alterou-se, portanto, o federalismo, sendo agora, cooperativo. No Federalismo Cooperativo atribuições próprias de cada ente continuam existindo. Porém, existem determinadas matérias ou temas que a Constituição estabelece competência compartilhada entre os diversos entes. Exemplo: de acordo com a CF/88, a competência da garantia de escola pública é da União, dos estados e do município. 3.3 Confederação de Estados Conceitua-se como uma associação de Estados soberanos, usualmente criada por meio de tratados, mas que pode eventualmente adotar uma constituição comum. Exemplo: Os Estados Unidos da América formaram uma confederação de Estados logo após a independência das suas 13 colônias. No entanto, tornaram-se a primeira federação, ao unir os Estados e formar um único país. Contudo, mantiveram - cada Estado, agora estado - uma forte autonomia. Em outras palavras, nos EUA a Constituição Federal não é a principal, mas sim a lei estadual. 4. Elementos do Estado 4.1 O Povo e o Direito de Nacionalidade O povo é elemento constitutivo do Estado, pois guarda com este vínculos identitários permanentes e contínuos, enquanto a população é apenas um fator quantitativo. 4 Antes de existir o Estado, a principal forma de identificação de um grupo era a formação da identidade “nacional” , cultural. Posterior a constituição do Estado como elemento soberano, o termo “nacionalidade” continuou como título de identificação. Quando falamos de Direito de nacionalidade estamos nos referindo, juridicamente, a normas de identificação do povo e não de uma nação. Como dito anteriormente, “nacionalidade” é apenas utilizado por mera questão tradicional. Cada Estado no exercício da sua soberania, estabelece através da sua legislação quem é o seu povo. Critérios de classificação das nacionalidades Nacionalidade Primária ou Originária ou Nata - decorre de um fato natural (nascimento); nasce com o indivíduo. - “Jus solis.” Direito de solo (Pela CF/88, em regra quem nasce no Brasil é brasileiro, salvo quando o indivíduo nasce no Brasil, mas ambos os pais estão a serviço de Estado estrangeiro, ou quando um dos pais está a serviço do Estado estrangeiro e seu cônjuge, ainda que não esteja sob serviço público de Estado exterior, tenha outra nacionalidade). - “Jus sanguinis.” Direito de sangue. Você adquire a nacionalidade primária não pelo solo (local de nascimento), mas sim pelo sangue. (Pela CF/88, filhos de brasileiros nascidos em qualquer lugar do mundo tem direito a nacionalidade nata). é o critério mais utilizados pelos europeus. Nacionalidade Secundária ou Adquirida ou Derivada - decorre de dois atos de vontade (o ato do indivíduo de se nacionalizar e o ato do Estado como aceitá-lo como cidadão). - quando o indivíduo é naturalizado, ele passa a integrar o povo de um determinado Estado. - seo estrangeiro estiver residindo há mais de 15 (quinze) anos no Brasil, e consiga provar boa conduta e residência, ele tem direito a naturalidade secundária. - pela Lei Federal de 6815/80, o estrangeiro necessita, para ter direito a naturalidade secundária, ter mais de 4 (quatro) anos de residência, sem antecedentes criminais em 5 território brasileiro, boa saúde, renda própria, conhecimento da língua portuguesa (escrita e fala), etc. - O indivíduo estrangeiro oriundo de países de língua portuguesa: tem direito a naturalidade secundária se provar 1 (um) ano de residência e boa conduta. - O português possui caso especial. Pode se naturalizar brasileiro, mas se não quiser naturalizar-se, ainda sim pode exercer direitos políticos como se fosse brasileiros (português equiparado a brasileiro), e vice-versa (brasileiro equiparado a português). Em nenhum caso de naturalização secundária o Estado Brasileiro é obrigado a naturalizar, salvo a regra referente aos 15 anos que já é aceita e “absolvida” pela CF/88. Em regra não existe distinção entre brasileiro nato e o naturalizado. No entanto, salienta-se que os cargos considerados estratégicos a soberania nacional são destinados apenas a brasileiros natos. O restante pode ser assumido por brasileiros naturalizados. 4.2 O Território e seus elementos O território é a área - tridimensional - do globo terrestre sobre a qual o Estado exerce sua soberania. I. O domínio terrestre representa todo o solo e o sub-solo (exploráveis) do Estado, compreendido dentro das suas fronteiras. - “Usque ad inferos sidera.” Até chegar ao inferno. A extraterritorialidade diz respeito a espaços de soberania do Estado fora das suas fronteiras. Exemplo, a embaixada. A plataforma continental por dizer respeito a área do sub-solo marítimo que representa uma continuidade do continente faz parte mais do domínio terrestre do que do marítimo, mas consideramos que está compreendido pelos dois domínios. II. O domínio marítimo representa a(s) faixa(s) marítima(s) de soberania de um Estado. Mar territorial é uma faixa delimitada internacionalmente em 12 milhas marítimas (1852 metros) na qual o Estado costeiro tem plena soberania. Professor Jaime Barreto 6 No direito Internacional existe a previsão da chamada zona contígua (faixa do mar que também possui reconhecimento internacional assim como o mar territorial, só que é exclusivo para fins econômicos). Ou seja, o país costeiro mantém uma soberania econômica sobre uma determinada faixa marítima, mas não possui sobre esta soberania política. Existe ainda a chamada Zona Econômica Exclusiva. A principio seria sinônimo de zona contígua, contudo diferencia-se desta, pois na ZC o monopó lio econômico é reconhecido internacionalmente e na ZEE não há condecoração internacional. III. O domínio aéreo passou a ser regulamentado no plano internacional a partir do século XX na Convenção de Chicago, uma vez que até esta “data” não havia de fato uma preocupação com o domínio aéreo. De acordo com a convenção, todo espaço aéreo até a atmosfera que está acima do domínio terrestre e marítimo do Estado em questão é da sua soberania. No entanto, foi necessário o estabelecimento de regras para sobrevôo de territórios estrangeiros. Determinou-se, então, o direito de passagem inocente. Este consiste no direito de qualquer aeronave CIVIL, em regra, de sobrevoar zonas exteriores. Tal norma pode sofrer, basicamente, 3 restrições: 1. O país, ao qual pertence o espaço aéreo, possui o direito de monitorar o vôo. 2. O Estado Soberano, a quem pertence o espaço aéreo, pode de forma definitiva proibir o sobrevoo de determinadas áreas do seu território. 3. O Estado Nacional, ao qual pertence o espaço aéreo, de forma temporária e justificada, possui o direito de proibir qualquer sobrevôo de aeronaves. 4.3 Poder Soberano e a questão da sua titularidade A soberania representa o poder que é inerente ao Estado e que lhe da condições de independência e criação e imposição de normas jurídicas. Possui duas dimensões: a interna e a externa. A primeira significa a imperatividade do Estado, ou seja, a sua faculdade de criar normas jurídicas e fazê-las cumprir, enquanto a segunda representa a independência do Estado perante entes políticos estrangeiros. A questão da titularidade do poder soberano relaciona-se com correntes ideológicas. Estas se subdividem em democracia (teorias democráticas) - soberania nacional e popular - e religiosa (teorias teocráticas) - natureza divina, investidura divina e investidura providencial. Professor Jaime Barreto 7 [analisa-se, então, as teorias teocráticas] O poder político que torneia o Estado é de origem divina, ou seja, a soberania é produto da vontade do(s) deus(es). A base de legitimidade do poder do Estado, isto posto, é de ordem divina. - Doutrina da Natureza Divina dos Reis: o poder do Estado será sintetizado na figura de um individuo, o Rei, que é o proprio deus; o Rei é uma divindade. Exemplo: Faraó do Egito. (surge na antiguidade, antes, portanto, da expansão do monoteísmo) No entanto, após a expansão do monoteísmo (cristianismo, judaísmo e islamismo), passou a acreditar que o Rei não poderia ser deus. Em substituição a doutrina da ND, surge a Investidura Divina, como forma de tentar manter o poder divino - religioso - na mão da figura do líder político. - Doutrina da Investidura Divina dos Reis: o Rei não é mais um deus, mas em compensação é o represente de deus; é a voz de deus na Terra. A vontade do Rei é a vontade divina. (aprimoramento da doutrina da ND) Persiste até inicio da Idade Moderna, passando pela Idade Média, quando ainda na época do Absolutismo Monárquico, “propaga-se” a mitigação do poder absoluto do rei devido a ascensão das ideias democráticas da classe burguesa, na tentativa de estabelecer a ideia humanista do poder. Em contrapartida a essa tentativa, tentava-se também legitimar a monarquia. Ainda que, a Doutrina da Investidura Providencial seja considerada parte das teorias teocráticas, é na verdade uma doutrina transitória entre a democracia e a teocracia. - Doutrina da Investidura Providencial : o Rei é um representante de deus (ideia teocrática). Porém, o poder que o Rei exerce é limitado pelo povo (ideia democrática). O rei é escolhido por deus, mas a voz de deus é a voz do povo; Preserva-se, portanto, a figura real com um caráter relativamente divino, mas ao mesmo tempo democratiza o poder ao entregar este ao povo. Na Inglaterra, prevalece até hoje a doutrina da IP. No entanto, no “resto do mundo” Com a Revolução Francesa (ruptura total com o poder da figura real), já não cabia mais falar em doutrinas teocracias e legitimar o poder divino dos reis. [analisa-se as teorias democráticas] Rompe com a concepção divina do poder. O Poder do Estado, isto posto, nasce e se fundamenta nos homens. - Doutrina da Soberania Nacional: aquela que inicialmente apresentou-se como mais forte e defendida na França por Sieyes (figura importante do Direito Constitucional); todo poder nasce da NAÇÃO (a sociedade como um todo, o coletivo, e não o indivíduo). Em resumo, a teoria da SN pressupõe que o poder nasce da Professor Jaime Barreto 8 COLETIVIDADE. Não é necessário que todos falem em nome da sociedade, mas necessita-se a escolha de alguns para que falem em nome de todos. Defende, portanto, que o sufrágio é uma função que deve ser dirigida àqueles que estão preparados (alguns componentes do Terceiro Estado/burguesia) para falar em nome de todos, caracterizando, então, tal sufrágio como restrito, censitário, capacitário. (remete a tradição platônica) elitista, humanista, mas não democrática no sentido de sufrágio universal. Doutrina da Soberania Popular: concepçãodifundida por Rousseau, na qual acredita-se que a representação política é algo inaceitável, e que o poder popular deve ser, de fato, exercido pelo povo sem intermediários (na teoria, há sucesso, na prática, não); todo poder emana do povo. A soberania do Estado é a soma das frações de soberania presentes em cada indivíduo. Enquanto Sieyes falava que o poder nasce da coletividade e, portanto, nem todos precisam falar por ela, Rousseau afirma que o poder não nasce da coletividade, mas sim de cada um. A vontade coletiva, então, pressupõe que TODOS falem (defesa do sufrágio universal), sem exceção, sem representatividade. No Brasil, temos a previsão da Soberania Popular CF/88, art. 1º , parágrafo único. Professor Jaime Barreto 9 5. Separação de Poderes 5.1 Concepções de Locke, Montesquieu e Constant I. Inglaterra - perspectiva de acordo entre Rei e Burguesia. Locke: deveria existir no Estado uma BIPARTIÇÃO (entre executivo e legislativo) de poderes, uma vez que o judiciário, na visão de Locke é um poder menor, um apêndice do Poder Executivo, uma vez que o Executivo e o Judiciário são essencialmente aplicadores do Direito, enquanto o primeiro aplica para realizar a administração, oe o segundo para resolver conflitos. Por ambos possuírem a mesma “função” , o judiciário era considerado como desnecessário, e o Executivo realizava a atividade judicial. Ademais, a perspectiva de Locke foi limitada pela Revolução Gloriosa. Para ele, o poder maior e mais importante era o Legislativo. Em sua visão, a ideia de harmonia não existia de forma plena, visto que havia hierarquização entre os poderes. O Legislativo possuía duas funções essenciais: legislar (criar leis) e fiscalizar o executivo e, por isso, era considerado o centro do Poder. II. França - perspectiva de real ruptura com o antigo Regime. O Direito criado e positivado no papel pelo poder Legislativo e Judiciário independente. Montesquieu: defende a ideia de que o poder do Estado democratizado deverá ser dividido em TRÊS (tripartição dos poderes): Legislativo, Executivo e Judiciário. Além disso, difere-se de Locke ao pregar a ideia de que os poderes são independentes e harmônicos entre si. Na visão de Montesquieu, não existiria hierarquia entre os três poderes, pois estão no mesmo patamar. Salienta-se que tal teoria fora desenvolvida durante o auge do expansionismo da teoria liberal. Tal evento levou Montesquieu a acreditar que essa harmonia existente entre os poderes ocorreria de modo natural. Cada um cumpriria a sua função - legislativo, legislar e fiscalizar o executivo; judiciário, julgar; executivo, executar - de forma harmônica, sem haver riscos de interferências entre si. Mas na realidade política, as relações se comportam de forma diferente, dado que há uma tendência natural de que um poder interfira no outro. Diante dessa realidade, a doutrina de Montesquieu passou a ser questionada. Será que de fato haveria possibilidade de equilíbrio entre os três poderes ou isso seria uma utopia? III. O Suíço Constant requisitou, então, a doutrina de Montesquieu, e fez um aprimoramento desta, propondo uma outra forma de divisão dos poderes do Estado. Benjamin Constant: o equilíbrio natural dos poderes é inviável. Como solução, criou uma nova teoria de separação dos poderes, que pressupõe, portanto, uma TETRAPARTIÇÃO dos poderes (Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador). O Poder Professor Jaime Barreto 10 Moderador serviria, em tese, para moderar, equilibrar os outros três. O Poder Moderador seria exercido para que um poder se sobressaísse sobre os demais. Este, por sua vez, caberia ao Chefe do Estado, ao Rei. Essa teoria possui uma relevância com a história do Brasil, uma vez que nossa 1ª Constituição de 1824 previa a existência do Poder Moderador, inspirado nas ideias de Constant. Na prática, D. Pedro II - o qual era atribuído o poder moderador - exercia um poder (quase) absoluto, devido as suas inúmeras prerrogativas. No entanto, tais ideais foram adotados durante todo o período monárquico brasileiro, até 1889 quando fora proclamada a República, e o poder moderador fora extinto no Brasil. 5.2 O Sistema de Freios e Contrapesos É o aprimoramento das ideias de Montesquieu a partir da seguinte perspectiva: todos os poderes do Estado devem realizar todas as funções Estatais, porém cada um desses poderes terá uma determinada função que será considerada típica, própria desse poder, enquanto as demais funções exercidas pelo poder específico serão consideradas atípicas. Em um sistema de Freios e Contrapesos o: a) Executivo, não realiza somente a função administrativa/executar (função típica do Executivo), mas também, de forma atípica, legisla e julga. Exemplo: quando o Presidente da Republica “estabelece” uma medida provisória, ele está realizado uma função atípica de Legislar. b) Judiciário, não realiza somente a função de julgar (função típica do Judiciário), mas também, de forma atípica, administra e legisla. Exemplo: o Tribunal de Justiça da Bahia é um órgão estadual, e ao se auto-administrar (pelo seu presidente), está realizando uma função atípica de Administrar. c) Legislativo, não realiza somente as funções de legislar e fiscalizar (funções típicas do Legislativo), mas também, de forma atípica, administra e julga. Para se garantir de fato a harmonia entre os poderes é necessário que todos os poderes realizem, de certa forma, todas as funções. Ainda que haja harmonia entre os poderes, esse equilíbrio não diz respeito a pacificidade. A harmonia existente, em contrapartida, é caracterizada como “tensa”. Professor Jaime Barreto 11 5.3 Separação de Poderes no Brasil - Separação Horizontal dos Poderes (repartição de competências) O Brasil conforme a CF/88 adota o modelo da Tripartição dos Poderes a partir do sistema de pesos e contrapesos. Cada poder realiza a sua atividade típica, e também a sua atividade atípica (atividades típicas de outros poderes). - Também é chamado de Separação Vertical dos Poderes - federalismo. (Jaime discorda) 5.3.1 Poder Legislativo - legislar e fiscalizar (funções típicas) executar/administrar e julgar (funções atípicas) Atividade legislativa no Brasil: criação de leis. Atividade fiscalizatória no Brasil: com a prerrogativa de convocar ministros para comparecer e prestar esclarecimentos a cerca das suas atividades, analise das contas do gestor público, comissão parlamentar de inquérito (CPI - investigar determinado fato de interesse público). - Se organiza de duas formas: Unicameralismo e Bicameralismo a) Poder Legislativo Unicameral: uma única casa legislativa. b) Poder Legislativo Bicameral: duas casas legislativas. No Brasil adotamos, na verdade, os dois modelos, pois depende da esfera federativa. Na esfera municipal, a casa legislativa é única: a Câmara dos Vereadores (no mín. 9 vereadores, e máx. 55). Na esfera estadual, a casa legislativa é única: Assembleia Legislativa (deputados estaduais, 63 na Bahia). Na esfera do Distrito Federal, a casa legislativa é única: a Câmara Distrital ou Legislativa (deputados distritais) - ao ser considerado estado e município ao mesmo tempo, Brasília tem duas características excepcionais: não é nem estado nem município, é os dois concomitantemente; atribuí-lhe todas as competências legislativas municipais e estaduais. Na esfera Federal, temos duas casas legislativas: Câmara dos Deputados e Senado Federal. - A Bicameralidade surgiu como um controle de poderes. Enquanto a Câmara dos Deputados representa a voz do povo (a fervecência), o Senado Federal representa o lado conservador da nação (a seriedade, o controle). Professor Jaime Barreto 12 5.3.2 Poder Executivo - administrar (função típica)legislar, fiscalizar e julgar (funções atípicas) O Poder Executivo é dividido em quatros grupos: I. Executivo Municipal - prefeito com mandato de 4 anos, com possível reeleição para mandato subsequente. II. Executivo Estadual - governador com mandato de 4 anos, com possível reeleição para mandato subsequente. III. Executivo Distrital - governador com mandato de 4 anos, com possível reeleição para mandato subsequente. IV. Executivo Federal - presidente com mandato de 4 anos, com possível reeleição para mandato subsequente. 5.3.3 Poder Judiciário - julgar (função típica) legislar, fiscalizar e administrar (funções atípicas) No Brasil, possuímos uma peculiaridade: não existe judiciário municipal, ainda que a CF/88 estabeleça o Município como ente federativo. Isto posto, o município só possui 2 poderes. Professor Jaime Barreto 13 STF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - instância extraordinária; na prática atua como 3ª ou 4ª instância, mas entra apenas em matérias quando há violações constitucionais. [lê-se diagrama da direita para esquerda] 2ª instância STM – SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR I. PROCESSA E JULGA INFRAÇÕES PENAIS ADMINISTRATIVAS COMETIDAS NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE MILITAR. II. É FEDERAL; SERVIDORES FEDERAIS (mantida pela união). 1ª instância AM – AUDITORIA MILITAR - órgão jurisdicional constituído por juízes. 3ª instância TST – TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 2ª instância TRT – TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 1ª instância JT – JUSTIÇA DO TRABALHO – servidores federais 3ª instância TSE – TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 2ª instância JE – JUSTIÇA ELEITORAL – servidores federais (mantida pela união) peculiaridade: juízes emprestados de outros tribunais 1ª instância JUNTA – JUNTA ELEITORAL 3ª instância STJ – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 2ª instância TJ – TRIBUNAL DE JUSTIÇA 1ª instância J – JUSTIÇA - processa e julga matérias comuns que não estão dentro das competências dos tribunais eleitoral, do trabalho e militar. 2ª instância TRF – TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL - processa e julga matérias comuns que não estão dentro das competências dos tribunais eleitoral, do trabalho e militar. 1ª instância JUSTIÇA FEDERAL A matéria se qualifica como matéria do TJ ou do TRF quando define há envolvimento ou não de interesses da União. OS TRIBUNAIS SUPERIORES ATUAM COM DUAS FUNÇÕES PRINCIPAIS: 1. CONTROLE DA LEGALIDADE 2. UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA Quinto constitucional – UM QUINTO DOS DESEMBARGADORES DOS TRIBUNAIS SÃO advogados ou membros dos MP que entram para a atividade do tribunal (como desembargador) sem ter passado pelo exercício de juiz. Professor Jaime Barreto 14 6. Funções Essenciais à Justiça: Advocacia e MP ADVOCACIA - A advocacia, no Brasil, pode ser privada ou pública. Os requisitos para exercício de ambas são o Bacharelado de Direito e aprovação no exame da OAB (instituído em 1994). No entanto, há casos excepcionais na advocacia pública que pode ser alcançada mediante Concurso Público, o que não exige o exame da Ordem. Neste caso, temos duas subdivisões: Defensoria Pública e Procuradorias (AGU). - Defensor público: advogados pagos pelo Estado e contratados por este (concursados) para defender aqueles que não possuem condições financeiras de contratar um profissional da esfera privada. *Salienta-se que em via de regra, o defensor público não possui a liberdade de aceitar ou recusar casos. Ele é obrigado a aceitar “o que vier pela frente”. *Ainda que um dos primeiros requisitos seja a precariedade dos recursos materiais, o sujeito que possui condições necessárias para a contratação de um advogado na área privada pode solicitar a defensoria pública, visto que este tenha encontrado fortes dificuldades em contratar algum profissional que esteja disposto a defendê-lo devido a possível barbaridade do crime cometido. - A Defensoria Pública se subdivide em: Defensoria Pública Estadual (funcionário público estadual - advogado concursado - atua junto ao Justiça Estadual em suas matérias de competência) e Defensor Público da União (funcionário publico federal - Professor Jaime Barreto 15 advogado concursado - atua junto a Justiça Federal em suas matérias de competência). - Procuradorias Municipais, Estaduais e da União: advogados concursados (funcionários públicos) que servem para atuar na defesa do município, do estado ou da União. *Salienta-se que em via de regra, o procurador não possui a liberdade de concordar ou discordar com a matéria dos “atos” municipais, estaduais ou da União. Ele é obrigado a defender o ente federativo. - Em via de regra, o advogado é necessário a justiça, sendo indispensável a sua presença. Mas, há casos nos quais o JUS POSTULANDI - o direito de postular - é atribuído as partes (na Justiça do Trabalho, Juizados Especiais e HC): caracterizando, então, a excepcionalidade da não-necessidade ou desnecessidade do advogado. MINISTÉRIO PÚBLICO - O Ministério Público não constitui um outro poder, além de ser entidade autônoma financeiramente e administrativamente. - O MP sofreu alterações depois de 1988. Ainda que continue como Titular da Ação Penal Pública, ele perdeu a função de ser advogado do Estado após a instituição da CF/88. - A grande maioria dos crimes previstos na nossa Legislação são crimes de Ação Penal Pública: a vítima do crime não é só o indivíduo que sofrera com a violência, mas sim toda a sociedade. Tal premissa sustenta o fato do MP ser Titular da Ação Penal Pública. - Antes de 1988, quando algum sujeito ingressava um processo contra um ente federativo, o MP era responsável pela defesa, seja do município, seja do estado, seja Professor Jaime Barreto 16 da União. Após a CF/88, as Procuradorias foram criadas e o MP perdeu a função de advogar para o Estado. - Em compensação, com a CF/88, o MP ganhou um novo “status”: guardião da ordem jurídica e dos interesses da sociedade - que não necessariamente são os mesmos que os interesses do Estado, expandindo suas atuações nos mais diversos setores jurídicos: penal, ambiental, cível, consumidor, e outros. *Ainda que o MP tenha perdido a função de ser advogado do Estado, eles ainda mantêm o título de procurador. - O MP se subdivide em Estadual e da União. O primeiro atua perante a Justiça Estadual, os promotores de justiça. Já o segundo atua perante o poder judiciário da União, e divide-se em três ramos: a) MP Federal, os procuradores da república: Ministério Público da União que atua junto com a Justiça Comum. b) MP do Trabalho, os procuradores do trabalho: Ministério Público da União que atua apenas em matéria trabalhista, exercendo fiscalizar o cumprimento da lei trabalhista e ingresso de ações civis trabalhistas públicas. c) MP Militar: Ministério Público da União que atua perante a Justiça Militar. d) MP Eleitoral (não é previsto expressamente na CF/88): assim como não existe um quadro próprio de magistrados eleitorais, não existe também um quadro próprio de promotores eleitorais; Junto a cada juiz eleitoral, a zona eleitoral, atua um promotor eleitoral - promotor de justiça estadual emprestado que irá cumprir com a função federal na justiça eleitoral. Junto aos TRE’s, atua o Procurador da República que irá possuir a função de Procurador Regional Eleitoral (chefe do MP eleitoral do estado); Junto ao TSE, teremos a figura do Procurador-Geral Eleitoral, que é também membro do MPF que irá atuar como representante do MP no TSE. O Procurador-Geral Eleitoral é, na verdade, o Procurador- Geral da República, ou seja, o chefe do MP da União.
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