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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ BACHARELADO EM DIREITO EMILSON AVELINO DOS SANTOS FILHO RENÚNCIA FISCAL NA PARAÍBA E SEUS REFLEXOS ECONÔMICOS CAMPINA GRANDE – PB 2009 2 EMILSON AVELINO DOS SANTOS FILHO RENÚNCIA FISCAL NA PARAÍBA E SEUS REFLEXOS ECONÔMICOS Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Coordenação do curso de Direito da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. MSc. Fábio Severiano do Nascimento. CAMPINA GRANDE 2009 3 EMILSON AVELINO DOS SANTOS FILHO RENÚNCIA FISCAL NA PARAÍBA E SEUS REFLEXOS ECONÔMICOS Trabalho Acadêmico Orientado – TAO apresentado à Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, para conclusão da graduação em Direito. Aprovado em: 15 de dezembro de 2009. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Prof. MSc. Fábio Severiano do Nascimento Centro de Ciências Jurídicas da UEPB Orientador _________________________________________________ Prof. MSc. Alexandre Henrique Salema Ferreira Centro de Ciências Jurídicas da UEPB Examinador _________________________________________________ Prof. Esp. Dhélio Jorge Ramos Pontes Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da UEPB Examinador 4 Dedico a minha esposa Fátima Santos, aos meus pais Emilson e Rosinete, e as minhas irmãs Rosivânia e Rosiane. 5 “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”. Evangelho segundo Lucas, capítulo 14, versículo 33. 6 RESUMO A renúncia fiscal é uma forma de diminuição da carga tributária de determinados contribuintes em detrimento da captação de receita para o orçamento público. A Paraíba é um estado que possui uma das menores arrecadações financeiras do Brasil e o governo estadual estima uma renúncia fiscal com valores muito altos. Também não há uma transparência adequada de quanto foi realizado financeiramente com esta política fiscal, deixando-se por conseguinte de mensurar se estes benefícios fiscais influenciam de maneira satisfatória na economia. Este trabalho tem como objetivo estudar as renúncias fiscais do Estado da Paraíba referentes aos anos de 2006 a 2008, verificando o que elas causaram nos principais índices econômicos ligados ao mercado de trabalho. Coletamos os dados necessários a partir dos sites oficiais da internet dos órgãos e institutos públicos responsáveis pela divulgação das informações. De posse dos dados sobre a renúncia de receita pública, podemos constatar que houve um aumento dos valores concedidos como benefícios fiscais, onde estes foram desproporcionais ao retorno alcançado na variação dos postos de trabalho criados, seja para mais quando a renúncia fiscal cresce e o mercado de trabalho encontra-se estagnado, seja para menos quando a renúncia fiscal diminui e o número de empregos gerado cresce. Pela amostragem utilizada para dividir a renúncia fiscal por setores econômicos e comparar com as taxas do RAIS dos mesmos setores, o que se verifica é uma diferença entre os dois indicadores, onde a estatística da empregabilidade informada pelo RAIS referente as atividades econômicas que receberam incentivos fiscais sofreram influências de fatores diversos da renúncia fiscal, como por exemplo desenvolvimento econômico nacional ocorrido na época, condições climáticas no ano da plantação e colheita no campo, ano eleitoral, melhoria na distribuição de renda, etc. Com isso, podemos dizer que a renúncia fiscal pode ter influenciado de alguma maneira, contudo de maneira mínima, não sendo ela responsável pela melhora ou piora dos níveis de emprego na sociedade paraibana. Palavras-chave: Renúncia de receita. Benefícios e incentivos fiscais. Emprego. Economia. 7 ABSTRACT The fiscal resignation is a form of reduction of the determined tax burden of contributing in detriment of the prescription captation for the public budget. The Paraíba is a state that possesss one of the lesser financial collections of Brazil and the state government esteem a fiscal resignation with very high values. Also it does not have an adequate transparency of how much tax policy was carried through financially with this, leaving itself therefore of mensurar if these tax benefits they influence in satisfactory way in the economy. This work has as objective to study the fiscal resignations of the State of the Paraíba referring to the years of 2006 the 2008, verifying what they had caused in the main on economic indices to the work market. We collect the necessary data from the official sites of the Internet of the agencies and responsible public justinian codes for the spreading of the information. Of ownership of data on the public revenue resignation, we can evidence that it had an increase of the granted values as tax benefits disproportionate to the return reached in the variation of the work ranks created, either for more when the fiscal resignation grows and the work market it meets stagnation, either for less when the fiscal resignation diminishes and the number of jobs generated grows. For the used sampling to divide the fiscal resignation for economic sectors and to compare with the taxes of the RAIS of the same sectors, what it is verified is a difference between the two pointers, where the statistics of the occupation informed for the referring RAIS the economic activities that had received tax incentives had suffered influences from diverse factors of the fiscal resignation, as for example economic development national occurrence at the time, climatic conditions in the year of the plantation and harvest in the field, electoral year, improvement in the income distribution, etc. With this, we can say that the fiscal resignation can have influenced in some way, however in minimum way, not being responsible it for the improvement or worsening them levels of job in the paraibana society. Keywords: renunciation of revenue. Fiscal benefits and incentives. Job. Economy. 8 LISTA DE TABELAS Tabela I – Leis Orçamentárias do Estado da Paraíba ................................ 37 Tabela II – Renúncia de Receita da Paraíba ........................................................38 Tabela III – Comparação de indicadores da Paraíba .............................................42 Tabela IV – Setores econômicos da Paraíba: variação relativa dos indicadores ......................................................................................... 44 Tabela V – Produto Interno Bruto da Paraíba .......................................................75 Tabela VI – Estoque de Empregos Formais por Setor de Atividade Econômica – Estado da Paraíba ........................................................ 76 Tabela VII – Evolução do emprego por setor de atividade econômica em 2006 ................................................................................................ 77 Tabela VIII – Evolução do emprego por setor de atividade econômica em 2007 ................................................................................................ 78 Tabela IX – Evolução do emprego por setor de atividade econômicaem 2008 ................................................................................................ 79 9 LISTA DE QUADROS Quadro I – Comparativo entre RAIS e CAGED ................................................ 34 Quadro II – Repartição da Receita Tributária .................................................... 50 Quadro III – Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE/80 ..... 80 10 LISTA DE SIGLAS CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Lei n o 4.923, de 23 de dezembro de 1965) CEst Constituição Estadual da Paraíba CF Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CGE Controladoria Geral do Estado CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas CTN Código Tributário Nacional (Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966) FAIN Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Industrial da Paraíba (Leis Estaduais no 4.856/86, 5.019/88 e 6.000/94 e o Decreto no 17.252/94) FPM Fundo de Participação dos Municípios IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços IDEME/PB Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores ITCMD Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias LC Lei Complementar LOA Lei Orçamentária Anual LRF Lei de Responsabilidade Fiscal (LC no 101, de 4 de maio de 2000) MTE Ministério do Trabalho e Emprego ONG Organização não governamental PIB Produto Interno Bruto RAIS Relação Anual das Informações Sociais (Decreto n o 76.900, de 23 de dezembro de 1975) REFIS/PB Programa de Recuperação Fiscal do Estado da Paraíba (Lei Estadual n o 7.695, de 22 de dezembro de 2004, para REFIS I) SEPLAG/PB Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão do Estado da Paraíba TCE Tribunal de Contas do Estado Obs.: Legislações citadas com suas alterações até o dia 01/11/2009. 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 1 FINANÇAS PÚBLICAS.......................................................................................... 13 1.1 CONCEITOS PRELIMINARES ........................................................................ 13 1.2 CRÉDITO TRIBUTÁRIO .................................................................................. 18 2 RENÚNCIA DE RECEITA PÚBLICA ..................................................................... 21 2.1 CONCEITO E DISTINÇÕES ............................................................................ 21 2.2 COMPETÊNCIAS PARA SUA CONCESSÃO E CONTROLE ......................... 22 2.3 REGIME LEGAL E ESPÉCIES ........................................................................ 24 2.3.1 Isenção ..................................................................................................... 26 2.3.2 Anistia ....................................................................................................... 27 2.3.3 Remissão .................................................................................................. 28 2.3.4 Subsídio .................................................................................................... 29 2.3.5 Crédito Presumido ................................................................................... 30 2.3.6 Alteração de Alíquota ou Modificação de Base de Cálculo ................. 30 2.3.7 Outras Formas de Renúncia ................................................................... 32 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 33 3.1 TIPO DE PESQUISA ....................................................................................... 33 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................ 34 3.3 TÉCNICA DE COLETA DOS DADOS .............................................................. 36 3.4 TÉCNICA PARA ANÁLISE DOS DADOS ........................................................ 36 4 RENÚNCIA FISCAL NA PARAÍBA ....................................................................... 37 4.1 A LRF E A TRANSPARÊNCIA NA RENÚNCIA FISCAL ESTADUAL .............. 39 4.2 REFLEXOS DA RENÚNCIA DE RECEITA NOS ÍNDICES ECONÔMICOS .... 41 4.3 Principais Setores Empresariais Beneficiados ........................................ 49 4.4 Impactos da Renúncia Fiscal Estadual nas Contas Públicas Municipais ............................................................................................................................ 50 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 53 APÊNDICE ................................................................................................................ 55 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56 11 INTRODUÇÃO O orçamento anual do Estado é o documento que organiza as receitas estimadas e as despesas a serem realizadas. Neste documento, consta uma rubrica chamada Renúncia de Receita Pública ou Renúncia Fiscal. Esta renúncia é verificada quando o poder público estabelece situações onde os contribuintes são favorecidos por meio de incentivos e benefícios fiscais que diminuam a carga tributária, com o intuito de estimular determinados comportamentos e a realização de diversos interesses (MELO, 2005). O tema Renúncia Fiscal, do ponto de vista geral, é importante, pois pode causar um desequilíbrio orçamentário, ou seja, mediante ato do governante é dispensada uma receita que deveria resultar em recursos públicos. Trataremos neste trabalho da evolução da renúncia de receitas públicas do Estado da Paraíba (art. 167, §1o da Constituição Estadual) no período de 2006 a 2008 e seus principais reflexos nos mais relevantes índices econômicos. O presente tema foi escolhido como uma tentativa de apontar quais as implicações positivas e negativas para o Estado da Paraíba quando da não arrecadação total ou parcial de determinados tributos, onde se espera uma contrapartida dos beneficiários, seja por meio de geração de emprego e renda, aumento do consumo e crescimento da produção. Também tem a intenção de compreender se o mercado de trabalho da Paraíba responde aos estímulos propostos pela renúncia fiscal; destacar e dar mais transparência nas informações referentes ao erário estadual que está sendo dispensado, e se estes benefícios fiscais foram responsáveis por alguma mudança social, ou seja, se houve melhora na condição de vida dos cidadãos inseridos nesta sociedade. Buscando estimular os contribuintes a práticas que promovam o equilíbrio e incentivo ao desenvolvimento socioeconômico por meio de benefícios fiscais, os Estados vêm aumentando, a cada ano, seus dispêndios referentes à renúncia de receita. Neste sentido, tem-se a seguinte problematização: A renúncia fiscal da Paraíba produz reflexo na economia do Estado ? No campo metodológico, realizou-se uma pesquisa descritiva, com o intuito de observar, registrar e analisar as renúncias fiscais e os principais índices econômicos, correlacionando-os. O levantamento das informações necessárias para 12 que isso ocorresse fez-se mediante uma análise documental. Utilizando-se da pesquisa bibliográfica obtiveram-se conhecimentos prévios sobre o tema proposto. Para a apresentação do trabalho ele foi dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo traça conceitos preliminares sobre finanças públicas, abordando temas como receita e despesa pública, orçamento público, tributo, obrigação tributáriae sobre o crédito tributário. Em seguida, no capítulo dois, apresentamos a Renúncia de Receita Pública, com sua definição e distinção, indicando a competência para sua concessão e seu controle, bem como, o regime legal que disciplina a renúncia fiscal e sua divisão em sete espécies feita pela Lei de Responsabilidade Fiscal. No capítulo três delineamos a metodologia utilizada para a pesquisa, especificamente no que diz respeito aos reflexos da renúncia de receita nos índices econômicos, trazendo a demonstração de quais índices foram utilizados e o porquê da escolha deles. No capítulo quatro, nos detivemos sobre as renúncias fiscais da Paraíba. Expondo os principais pontos abordados na LRF quanto à transparência da renúncia fiscal estadual; depois, o ponto principal do trabalho foi tratado com a análise e interpretação dos resultados obtidos referente aos impactos nos principais índices econômicos causados pela ação da renúncia fiscal. E por fim, tratamos de maneira sucinta quais os setores empresariais que mais se beneficiaram desta política pública e como a renúncia fiscal estadual influencia nas contas públicas municipais. 13 1 FINANÇAS PÚBLICAS 1.1 CONCEITOS PRELIMINARES O Estado para atingir seus objetivos primários, como por exemplo, disponibilizar para a sociedade um serviço de qualidade na saúde, educação e segurança, precisa de recursos suficientes para atingir cada um destes anseios. Para atender essa necessidade pública, o Estado busca por meio da receita pública os valores pecuniários suficientes para arcar com as despesas públicas criadas para a construção de hospitais, universidades, delegacias assim como para a contratação de médicos, professores, policiais, e também para a compra dos materiais de trabalho utilizados por estes e demais funcionários públicos. A receita pública é o que entra permanentemente nos cofres públicos, sejam bens, valores ou dinheiro. Ela é responsável pelo custeio da máquina administrativa, dos investimentos, dos projetos sociais. Classifica-se quanto à origem em dois tipos: receitas originárias, quando o Estado por intermédio de uma atividade econômica a qual se explora obtém o apurado; receitas derivadas, quando ocorre o constrangimento legal do patrimônio de pessoas privadas com o intuito de arrecadar os tributos, as penas pecuniárias, entre outros. Na doutrina, receita pública é diferente de ingresso ou entrada: Denomina-se qualquer entrada de dinheiro nos cofres públicos de entrada ou ingresso, mas se reserva a denominação de receita pública ao ingresso que se faça de modo permanente no patrimônio estatal e que não esteja sujeito à condição devolutiva ou correspondente baixa patrimonial (ROSA JUNIOR, 2003, p. 53). Dessa diferenciação temos que receita pública é espécie, sendo gênero o ingresso ou entrada. Os dois termos são equivalentes para a contabilidade, assim como para a Lei no 4.320/64 a expressão receita é empregada em sentido lato. As receitas classificam-se em receitas patrimoniais ou originárias e receitas tributárias ou derivadas. A receita originária é oriunda do exercício da atividade estatal que capta valores por meio da venda de seus bens e uso dos seus recursos 14 próprios. Já a receita derivada tem origem dos tributos pagos pelos contribuintes e arrecadados pelo Estado (DEODATO apud BASTOS, 1994). Despesa pública é o gasto de recursos na gestão pública. A doutrina aborda seu conceito da seguinte maneira: despesa pública é a aplicação em dinheiro visando a execução de uma finalidade governamental, sendo realizado por um agente público competente mediante prévia autorização legislativa (BALEEIRO apud BASTOS, 1994). Este custeio dos serviços e investimentos feitos pelo Estado deve atender os requisitos da oportunidade, utilidade, legitimidade, dentre outros, que irá compor a despesa pública de uma legalidade jurídica. A classificação das despesas ocorre da seguinte maneira: despesas meramente produtivas que criam utilidades para a sociedade através de serviços que não aumentam a capacidade de produção do Estado, por exemplo, os serviços de polícia; as despesas reprodutivas se interessam em aumentar a capacidade produtora do Estado, aumentando a quantidade dos bens de produção e efetuando investimento econômico em capital fixo, seja no cuidado da saúde dos cidadãos, atuação no sistema educacional, criação de locais para prestação de serviços públicos, infra-estrutura de estradas, pontes, ruas e saneamento básico. Tanto as despesas públicas como as receitas públicas são organizadas num documento que demonstrará o quê, quanto, onde e quando se utilizará destes recursos. Dá-se a este documento o nome de orçamento público. O orçamento possui três elementos fundamentais: i) o elemento econômico, pois demonstra um plano financeiro estatal, efetuando uma previsão da gestão orçamental; ii) o elemento político que é visto quando da autorização mediante lei orçamentária por parte do Legislativo, controlando a atuação do Poder Executivo; e iii) o elemento jurídico por se tratar de uma peça formal de validade no direito. A doutrina conceitua orçamento como: Instrumento de ação do Estado. Através dele é que se fixam os objetivos a serem atingidos [...] o Estado assume funções reais de intervenção no domínio econômico [ ] deixa de ser mero documento estático de previsão de receitas e autorização de despesas para se construir no documento dinâmico solene de atuação do Estado perante a sociedade, nela intervindo e dirigindo seus rumos (grifo nosso) (OLIVEIRA; HORVATH, 2001, p. 89). A norma Constitucional no Brasil apresenta três tipos de orçamentos: plano plurianual, diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais (art. 165, I, II e II da CF). 15 Todos são de iniciativa do Poder Executivo. Temos o plano plurianual quando tratar de despesas de capital e programas de duração continuada, ou seja, que transcorram mais de um ano, acontecendo além da vigência do orçamento anual que lhe deu origem. As diretrizes orçamentárias traçarão as metas e prioridades escolhidas pela administração, servirão de base para a elaboração da lei orçamentária anual e demonstrarão as alterações na legislação tributária. As normas gerais para elaboração e controle dos orçamentos são previstas na Lei no 4.320/64. Trata da Lei de Orçamento que abarca a receita e a despesa bem como a classificação de ambas. Traz também orientação de como preparar a proposta orçamentária, efetiva elaboração da lei de orçamento e execução do orçamento. As receitas tributárias são os verdadeiros combustíveis para o andamento do orçamento público. O tributo é a receita pública derivada do patrimônio dos particulares, criado por lei para uma destinação pública e de prestação obrigatória, obedecendo princípios e competências constitucionais (MELO, 2005). É sem dúvida o principal instrumento de arrecadação pecuniária com intento a realização das despesas públicas. O artigo 3o do CTN conceitua-o assim: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. A razão de ser compulsória é que ocorre uma coerção legal quando da ocorrência de um fato descrito na lei, diferente das obrigações voluntárias que ocorrem devido acordo das partes, ou seja, baseiam-se no princípio da autonomia da vontade. A prestação pecuniária compulsória ocorre através da obrigação tributária que é um liame jurídico entre o sujeito ativo (tributante) que exige uma prestação em dinheiro do sujeito passivo (contribuinte), baseado na vontade da lei. O tributo apresenta as seguintes espécies: impostos, taxas, contribuição de melhoria, empréstimos compulsórios econtribuições especiais. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16 do CTN). Classificam-se em direto, quando a quantia do tributo é arcada pelo contribuinte de forma exclusiva, por exemplo, o IPVA (art. 115, III da CF), onde o proprietário do veículo automotor paga o valor devido. O imposto é indireto quando a carga financeira é transferida a 16 terceiro, como acontece com o IPI (art. 153, IV da CF), pois o tributo tem como contribuinte o industrial que fabricou, sendo repassado ao adquirente do produto industrializado no ato da sua compra. A classificação como pessoal, ocorre quando o imposto leva em consideração condição particular do contribuinte, ocorrência vista no Imposto de Renda (art. 153, III da CF), relacionando que quanto maior o gasto com saúde, educação, etc., menor será o valor recolhido na tributação, pois poderá ser deduzido/descontado na declaração prestada ao órgão tributante. E o imposto é real quando o valor da coisa é eleito como parâmetro para a quantificação do tributo, sendo o IPTU (art. 156, I) exemplo para a propriedade territorial urbana, ou seja, referente aos imóveis urbanos, como casas e apartamentos (MELO, 2005). As taxas referem-se a prestação de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte, ou postos a sua disposição e ao exercício regular do poder de polícia do Estado (art. 145, II da CF). Serviço público é a atividade oferecida pelo Estado ou por quem lhe represente, no intuito de oferecer utilidade e comodidade aproveitada diretamente pelos administrados (MELLO apud MELO, 2005). Os serviços públicos específicos ou singulares são os passíveis de cobrança de taxas pois se destinam a apenas uma pessoa ou a um número determinado de pessoas, por exemplo, as taxas de fornecimento domiciliar de água e gás, coleta de esgoto, certidões em geral, remoção de lixo, transporte coletivo etc. A contribuição de melhoria que a Constituição Federal dispõe em seu artigo 145, inciso III, requer o entendimento de dois pontos principais: a realização de uma obra pública e a valorização imobiliária. O ente tributante irá cobrar um tributo que teve como motivação a geração de um custo oriundo de obra pública situada numa determinada região que causou a valorização dos imóveis situados na proximidade. O proprietário do bem imóvel que se valorizou por causa da realização desta obra pública será o contribuinte. O empréstimo compulsório tem a finalidade de atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência e no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional (art. 148 da CF). Fato especial a este tributo é a restituição que irá acontecer para quem emprestou (de forma coativa) o dinheiro ao ente tributante. A restituição tem sentido jurídico-tributário e não apenas financeiro, pois para que se configure a constitucionalidade do tributo à norma que instituí-lo trará o procedimento de recomposição do patrimônio do contribuinte. 17 Por fim, temos como espécie de tributo as contribuições especiais. Característica básica das contribuições sociais, corporativas, interventivas, de seguridade social e educacional, previstas nos artigos 7o, III; 149, 149-A, 195, 212, §5°; 239 e 240 da CF, consiste na vinculação a fund os, entidades, categorias profissionais, alcançando os benefícios aos não contribuintes (MELO, 2005). Para se cobrar o tributo, é necessário que nasça a obrigação tributária, sendo esta materializada por meio da ocorrência do fato gerador. A norma descreve a situação que caso aconteça será a causa do nascimento da obrigação tributária. Esta descrição feita pela norma recebe o nome de hipótese de incidência, já o acontecimento verificado é chamado de fato gerador. Destacamos a diferença de hipótese de incidência frente ao fato gerador dada por renomado tributarista: Não obstante seja possível, em princípio, o uso das expressões hipótese de incidência e fato gerador indistintamente, é importante observar que a primeira significa a descrição, na norma, do fato que, se e quando ocorre, faz nascer a obrigação tributária, enquanto a segunda designa a própria ocorrência, no mundo fenomênico, daquilo que na norma está descrito (MACHADO, 1999, p. 20). Descrevemos o caminho que se segue para o nascimento de um tributo assim: certa hipótese de incidência está descrita em lei e sendo realizada, cria-se o fato gerador (fato jurídico) determinando a incidência do tributo e o nascimento da obrigação tributária. A obrigação tributária pode ser principal ou acessória. A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se com crédito dela decorrente (§1o do art. 113 do CTN), visualiza-se uma obrigação de dar, quando do recolhimento de valores pelos particulares aos cofres públicos. A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos (§2o do art. 113 do CTN), neste caso vimos uma obrigação de fazer, não fazer e de tolerar, pois estão inclusos os comportamentos dos administrados (contribuintes, responsáveis, etc.) para que se registre e documente fatos que tenham interesse tributário, como a emissão de notas fiscais, escrituração de livros, auxílio nas fiscalizações com fornecimento de informações necessárias quando solicitadas pelos agentes e auditores (MELO, 2005). 18 Porém, o tributo só poderá ser exigido do sujeito passivo após a constituição do crédito tributário, que se dá mediante o lançamento. 1.2 CRÉDITO TRIBUTÁRIO O tributo é o elemento principal ou a essência da composição da receita pública. Por isso, o Poder Público não pode abrir mão ou dispor da arrecadação destes recursos. A arrecadação dos tributos ocorre a partir do surgimento do crédito tributário como demonstraremos a seguir. A constituição do crédito tributário ocorre com o lançamento. A doutrina assim o conceitua: “Lançamento é o procedimento administrativo pelo qual se formaliza a obrigação tributária nascida abstratamente na lei e concretizada com a ocorrência do fato gerador” (ROSA JUNIOR, 2003, p.606). O ente público por meio de seus agentes é responsável pelos procedimentos que visam a criação do crédito tributário. Não pode o Estado se afastar desse ônus. O caminho que se segue para a constituição do crédito tributário é bem claro ainda no CTN: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. A lei tributária determinou a competência para a constituição do crédito tributário, conceituando lançamento, e os passos para individualizar a obrigação tributária mediante indicação da matéria tributária, cálculo para apuração do valor a ser pago, e identificação do sujeito que irá pagar, bem como concluindo que trata-se de um dever administrativo o procedimento do lançamento e não uma mera faculdade. A doutrina traça a conceituação do crédito tributário, como colocamos adiante: O crédito tributário nada mais é do que a própria obrigação tributária principal formalizada pelo lançamento, ou seja, [...] a conversão dessa 19 obrigaçãoilíquida em líquida e certa, exigível no prazo estatuído na legislação tributária (HARADA, 2007, p. 507). A obrigação tributária é autônoma referente ao crédito tributário, visto que ela pode existir sem este, mas o contrário não poderá ocorrer (HARADA, 2007). Estão os dois termos intimamente ligados quanto ao objetivo elementar de arrecadar o tributo. O passo a passo para que isso ocorra é devidamente elencado pelas leis tributárias. Assim como as formas de suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário. A suspensão é uma interrupção temporária do crédito tributário, um adiamento a possibilidade de efetuar sua cobrança ao contribuinte obrigado a recolher o tributo. O CTN elenca os casos: Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela conseqüentes. A suspensão atinge a exigibilidade do crédito tributário. O art. 151 acima dá significado ao termo exigibilidade quanto à possibilidade jurídica de cobrança judicial desse crédito (MACHADO, 2005). É evidente que só se pode suspender a exigibilidade de um crédito tributário quando este já esteja constituído. Logo, entende-se que o crédito tributário já está formado, “continua intacto desde sua constituição definitiva pelo lançamento1, notificado ao sujeito passivo” (HARADA, 2007, p. 513). A extinção acontece quando o crédito tributário existente, devidamente lançado e exigido, vem a deixar de existir com o acontecimento de um dos casos enumerados no CTN: 1 Não há dúvidas que o lançamento foi realizado antes da suspensão do crédito tributário. A Fazenda efetua o lançamento visto que as situações trazidas no art. 151 não são impeditivas para este procedimento; só se pode suspender um crédito quando ele já esteja exigível. 20 Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Das formas extintivas do crédito tributário expostas acima, a remissão é a que mais nos interessa por ser um dos tipos de renúncia fiscal. A exclusão do crédito tributário dá-se pela isenção e pela anistia (art. 175 do CTN). Ambas as formas são tratadas em espécies de renúncia fiscal. Já para entender o termo exclusão temos que fazer uma interpretação no tocante ao impedimento da constituição do crédito tributário, colocando-se como exceção à regra estabelecida no art. 142, parágrafo único, do CTN, que obriga a administração realizar o lançamento (ROSA JUNIOR, 2003). O nascimento do crédito tributário é interrompido pela maioria dos tipos de renúncias de receitas, ocasionando a diminuição da receita pública por consequência. Esta conclusão imediata de que ocorre uma redução na receita é combatida pelos defensores da política governamental de renúncias fiscais, justificando-se na contrapartida benéfica que pode ocorrer com esta situação. 21 2 RENÚNCIA DE RECEITA PÚBLICA 2.1 CONCEITO E DISTINÇÕES A palavra renunciar, de origem latina renuntiare, significa “abrir mão de, não querer, desistir da posse de” (Dicionário Larousse Cultural, 2000, p.782). Logo, Renúncia de Receita Pública é o ato em que o governo recusa-se a arrecadar determinada receita por orientação de lei. Como o tributo é majoritário nesta receita, temos uma expressão mais conhecida que é a Renúncia Fiscal, relativo ao fisco, tesouro público, erário. Em nosso trabalho utilizaremos as duas expressões como sendo sinônimas, além do termo renúncia tributária. Para a doutrina, as renúncias fiscais equivalem a gastos tributários, uma vez que produzem os mesmos resultados econômicos da despesa pública, demandando uma receita tributária não recebida pelo Estado e desequilibrando o orçamento (TORRES apud ROSA JUNIOR, 2003). Quando o Estado estipula estes gastos está intervindo na sociedade mediante decisões no campo da economia. Conhecemos três maneiras de sua presença na sociedade com estas interferências: o intervencionismo fiscal, parafiscal e extrafiscal. O intervencionismo fiscal dá-se pela cobrança dos tributos. O Estado se apodera do patrimônio da coletividade com vista à necessidade de satisfazer interesses desta mesma coletividade. Tudo isso deve acontecer segundo parâmetros tributários dispostos em lei, para a segurança jurídica do contribuinte. A competência tributária é a aptidão para criar o tributo, sendo esta indelegável. Já a aptidão para arrecadar o tributo é a capacidade tributária ativa. A parafiscalidade é observada no instante que o titular da competência tributária delega, mediante lei, sua capacidade tributária ativa a outra pessoa pública ou privada que arrecada e fica com o produto desta arrecadação para utilizá-lo em favor dos seus desígnios. Os tributos costumam ser arrecadados pela mesma pessoa política que o institui, contudo no caso da parafiscalidade ocorre uma delegação da atividade de arrecadar os tributos. O intervencionismo extrafiscal que o Estado pode adotar é a “intervenção por aumento ou diminuição da carga tributária global mediante o aumento ou diminuição, 22 em conjunto, da carga dos impostos, obtendo-se resultados econômicos válidos” (DUVERGER apud ROSA JUNIOR, 2003, p. 9). A diminuição de alíquotas e/ou base de cálculo dos tributos irá tornar o produto atrativo para o consumo, como acontece com os livros, jornais dentre outros produtos que o governo busca disseminar pela sociedade. Já o aumento visa onerar o produto com o intuito de dificultar o consumo, como acontece com a tributação de cigarros. A renúncia fiscal tem caráter de extrafiscalidade, pois sua finalidade não é a de apenas abastecer os cofres públicos como ocorre com a fiscalidade, e sim a de atingir objetivos sociais, políticos ou econômicos. Mediante a outorga de renúncia fiscal o Estado tem o interesse de incentivar ou favorecer determinados setores, atividades, regiões ou agentes da economia. A renúncia fiscal não se confunde com a não-incidência. A não-incidência tributária é tudo aquilo que não esteja descrito como hipótese de incidência. Deve-se consultar a lei para verificar o que está tipificado como tributo, o que não estiver enseja uma situação de não incidência. Podem ocorrer casos em que o legislador preferiu dizer de forma expressa a hipótese de não-incidência, tendo o intuito orientador e preventivo quanto a possíveis querelas que poderiam aparecer para o caso. Temos como exceção a renúncia de receita o disposto no inciso II do art.14, §3o da LRF que se refere a uma questão de economia processual, quando ao verificar que os custos de cobrança são maior que o próprio débito, pode a administração efetuar o cancelamento desta dívida tributária, afastando de qualquer responsabilização quem assim proceder.2.2 COMPETÊNCIAS PARA SUA CONCESSÃO E CONTROLE O constituinte e os legisladores das normas infra-constitucionais tributárias dedicaram atenção quanto a responsabilidade de cada pessoa no tocante ao caminho que se segue desde a criação do tributo, passando por sua descrição legal, arrecadação e utilização para os objetivos propostos pelo Estado. A competência é a capacidade que certos entes políticos detêm para desempenhar uma atribuição 23 definida por lei. No caso da competência tributária tem origem da Constituição Federal. A competência para concessão da renúncia fiscal é do mesmo ente que detém a competência tributária para criar o tributo renunciado, recaindo então sobre as pessoas políticas de Direito Público interno (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Esta titularidade é traçada de maneira harmônica pela Constituição Federal que concretizando o caráter federal do Estado Brasileiro distribuiu as competências para os entes federados. Ela é disciplinada pelo Direito, mediante regras preceituadas na Constituição, afastando-se da utilização do termo “poder tributário” que dá a ideia de algo absoluto e que não pode ser contestado. A competência de legislar sobre impostos estaduais, por conseguinte a de renunciar tais tributos, é dos Estados-membros e Distrito Federal. A renúncia de receita estadual concentra-se nos seguintes impostos elencados no artigo 155 da CF: • Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) tratado, na Paraíba, pela Lei Estadual no 6.379/96, onde aborda os pontos específicos deste tributo; • Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD) instituído, na Paraíba, pela Lei Estadual no 5.123/89; • Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) tratado, na Paraíba, pela Lei Estadual no 7.131/02. As leis referentes aos impostos citados acima constam, respectivamente, nos anexos F, G e H. Não pode ocorrer sobreposição de competências, como num caso em que o Estado isenta imposto que é de competência Municipal ou vice-versa, desrespeitando assim o princípio federativo encontrado no art. 151, III da CF, onde proíbe à União a concessão de isenções de tributos estaduais e municipais, como preleciona a doutrina: A Constituição atual veda a isenção heterônima, ou seja, a concedida por ente político não titular de competência tributária, só admitindo a isenção 24 autônoma, ou seja, concedida pelo ente político que tenha competência para instituir o tributo objeto de isenção (ROSA JUNIOR, 2003, p.318-319). Para manter-se o equilíbrio financeiro estatal, não basta apenas instituir tributos e renunciá-los, deve-se manter o controle sobre estas ações administrativas, tanto pelos órgãos definidos por lei como por qualquer cidadão que tome conhecimento de algum comportamento governamental danoso ao patrimônio público. O art. 70 da CF, e por coincidência o artigo de mesma numeração na Constituição Estadual da Paraíba, trata dos responsáveis pela fiscalização das renúncias fiscais, que se dá por meio de dois mecanismos, o de controle externo e o de controle interno. O controle externo da execução orçamentária será exercido pela Assembléia Legislativa, contando com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado (TCE), enquanto que o controle interno se dará de forma integrada dos três poderes, quais sejam, o Legislativo, Executivo e Judiciário (art. 71 da CF e 76 da CEst). A Controladoria Geral do Estado da Paraíba (CGE/PB) funciona como órgão vinculado ao poder executivo para exercer o controle interno. Devemos destacar também o papel do Ministério Público como fiscal da lei que deve manter-se atento quanto à obediência das renúncias de receitas às suas leis instituidoras. Com a atuação eficiente destes órgãos, temos a aplicação do princípio da transparência fiscal que visa a prestação de contas da administração tornando as informações públicas e de fácil acesso para consulta. Recentemente tivemos uma notícia publicada em portal da internet onde ocorreu uma demonstração de controle referente a uma renúncia de receita ocorrida na Paraíba. A Procuradoria Geral do Estado da Paraíba sendo o órgão de representação e defesa dos interesses do Estado em juízo, impetrou uma ação por improbidade administrativa contra o ex-governador Cássio Rodrigues da Cunha Lima e o ex-secretário de Estado da Receita, Milton Gomes Soares. A medida se refere ao Programa ‘Gol de Placa’, instituído pela Lei nº. 7.727, de 6 de maio de 2005, que liberou cerca de R$ 3,5 milhões para clubes de futebol nos exercícios de 2005 a 2009 sem a dotação orçamentária exigida (CAÇA, 2009). 2.3 REGIME LEGAL E ESPÉCIES 25 A Fazenda Pública só poderá cobrar qualquer tributo quando existir uma autorização definida em lei (CARRAZZA, 2005). Este entendimento é efeito do princípio da legalidade tributária, que limita o poder de tributar do ente político com o intuito de proteger o contribuinte de surpresas desagradáveis, como a instituição de um tributo por um caminho diferente do que é seguido quando da edição de uma lei. Este princípio da reserva legal aparece positivado nos artigos 150, I da CF e art. 9o, I do CTN. Resultado do princípio acima é o princípio da especificidade e exclusividade das leis tributárias benéficas, orientando que a outorga da renúncia fiscal tem que ser específica, para cada tributo renunciado uma lei para regulá-lo, sendo criada pela pessoa política competente para a matéria. Trouxe a Carta Magna, em seu art. 150, § 6o, o seguinte: Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2o, XII, g. Já a exigência de constar demonstrativo regionalizado do efeito sobre as receitas e despesas, decorrentes das renúncias fiscais é fruto do princípio da universalidade orçamentária, onde as leis do orçamento (LDO e LOA) trarão além da receita e despesa bruta, as previsões de renúncia de receitas do mesmo modo. Extraímos o art. 165, § 6o da CF para comprovar este requisito normativo: O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. A Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe também as exigências que o administrador público deve se atender quando se concede a renúncia fiscal, como colocamos abaixo: Art. 4o A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2o do art. 165 da Constituição e: [...] § 2o O Anexo conterá, ainda: [...] 26 V - demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. E traz ainda seção específica a respeito do tema: Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprioda lei de diretrizes orçamentárias; II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. § 2o Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. Quanto à divisão legal da renúncia fiscal temos seis espécies explícitas e uma exemplificativa como elenca o artigo 14, §1o da LRF que traz a isenção, anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, alteração de alíquota e modificação de base de cálculo, e outras formas de renúncia. Vejamos a seguir cada uma delas. 2.3.1 Isenção Quando um dos fatos inclusos numa determinada hipótese de incidência tributária, venha a ser excluído por uma lei da incidência do imposto, ou ainda quando estabelecer que pessoas ou grupo de pessoas não devem certo tributo, temos a estipulação de uma isenção tributária. O fato gerador é excluído (BECKER; BORGES apud BARBOSA, 2004). Entretanto, existe entendimento doutrinário diverso (SOUZA; FALCÃO apud BARBOSA, 2004) onde lecionam que a obrigação tributária existe pois ocorre o fato 27 gerador e é dispensado o débito tributário. Esta corrente, considerada clássica, não é a mais aceita atualmente. A lei que concede isenção deve especificar as condições e os requisitos para quem pode usufruir deste benefício. Temos duas formas de isenção: a de caráter geral, quando atinge determinada categoria de contribuintes, bastando a lei para que ocorra, independente de requisição do contribuinte e ato ou controle da administração; e a de caráter não geral2, exigindo esta forma que o interessado faça requerimento perante a autoridade que verificará se ele faz jus, ou seja, se preenche as condições legais. Em caso positivo será deferido o pedido (art. 179, do CTN). Compete esclarecer sobre a especificidade feita no § 1o do art. 14 da LRF, tão somente para isenção em caráter não geral é que ocorre a renúncia de receita. Podemos distinguir a isenção da imunidade pois esta é tratada como uma limitação constitucional ao poder de tributar servindo como obstáculo à incidência da norma de tributação (MACHADO, 1999). O tipo de norma servirá como referencial distintivo; se parte da Constituição temos uma imunidade e caso a regulamentação vier de norma infra-constitucional é uma situação de isenção. Na imunidade, a competência das pessoas de Direito Público interno em instituir tributos é excluída como o intuito de proteger diversos valores sociais tidos como de interesse nacional, por exemplo, as atividades religiosas, o funcionamento de instituições educacionais, assistenciais e de filantropia é dotado de algum tipo de imunidade tributária. 2.3.2 Anistia Vejamos um conceito doutrinário: A anistia é um benefício que visa excluir o crédito tributário na parte relativa à multa aplicada pelo sujeito ativo ao sujeito passivo, por infrações cometidas por este anteriormente à vigência da lei que o concedeu (CASSONE apud BARBOSA, 2004, p. 330). A anistia é um tipo de exclusão de crédito tributário previsto no art. 175, I e nos arts. 180 a 182 do CTN. A lei que concede anistia abarca apenas as multas 2 Sinônimos de isenção não geral é a isenção especial, isenção particular, ou ainda isenção específica. 28 oriundas da falta do pagamento dos tributos, ou a valores estabelecidos a um montante limite, dispensando o pagamento das penalidades (não inclusas as criminosas) advindas da obrigação tributária descumprida pelo contribuinte. O pagamento desta pena pecuniária é tida como uma obrigação tributária acessória, pois tem o intuito de desestimular o contribuinte a práticas desonestas ou do descumprimento da obrigação tributária principal. Essas penalidades foram praticadas antes da vigência da lei concedente de anistia, logo este benefício tem efeitos ex tunc3. Subsiste o débito referente ao valor do tributo, uma vez que só a infração administrativa foi anistiada, concedendo-a antes da constituição do crédito tributário. 2.3.3 Remissão Remissão tem o sentido do credor perdoar a dívida fiscal de forma gratuita, ou ainda, consiste na “liberação graciosa da dívida” (BEVILÁQUA apud BORBA, 2004, p. 349). Não se confunde com a palavra remição que significa o ato de resgatar uma dívida. O instituto da remissão surge sempre após o lançamento, sendo um tipo de extinção do crédito tributário conforme art. 156, IV do CTN. A dívida fiscal em que a remissão atua compreende o quantum debeatur (valor do tributo, principal) mais as penalidades (custas pela mora, acessório), diferente da anistia que é forma de exclusão do crédito tributário e só perdoa a penalidade pecuniária. Critérios para que a autoridade administrativa efetue a concessão de remissão total ou parcial do crédito tributário estão observados nos incisos do art. 172 do CTN, onde se deve atender: à situação econômica do sujeito passivo; ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato; à diminuta importância do crédito tributário; a considerações de eqüidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso e a condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante. 3 Ex tunc significa dizer que é “retroativo” à data que ocorreu o fato. 29 2.3.4 Subsídio Entende-se subsídio como uma concessão de dinheiro feita pelo governo para empresas com o intuito de aumentar suas rendas, seja pela diminuição de preços dos seus produtos, que leva ao aumento das vendas, ou para estimular a exportação no país. Os subsídios são muitas vezes concedidos por motivos sociais, militares, políticos ou não-econômicos. Já com o objetivo de satisfazer necessidades públicas que visam o bem estar social quanto a promoção de educação, saúde, cultura e lazer, o ente estatal auxilia empresas, instituições ou entidades que promovam obras de interesse coletivo por meio de patrocínio pecuniário, denominando-se esta ação de subvenção. Vejamos exemplo literal na Lei no 4.320/64: Art.12 [...] § 3o Consideram-se subvenções, para os efeitos desta lei, as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas, distinguindo-se como: I - subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa; II - subvenções econômicas, as que se destinem a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril. A Lei que traça as normas gerais sobre elaboração e controle dos orçamentos, trouxe a subvenção como um tipo de transferência corrente incluída na classificação das despesas correntes. As subvenções destinam-se a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado, ou seja, os valores pecuniários transferidos devem cobrir despesas de custeio operacional das entidades beneficiadas (MACHADO JUNIOR, 2001). Temos duas categorias de subvenções: a social e a econômica. A subvenção social tem o objetivo de atender instituições que não objetivam lucro, e possuem obras assistenciais e culturais.Ocorre a suplementação aos recursos de origem privada aplicados na prestação de serviços essenciais de assistência social, médica e educacional, conforme preceitua o art. 16 da Lei no 4.320/64. As instituições para serem aptas ao recebimento deste benefício devem obter o aval dos órgãos oficiais de fiscalização quanto a suas condições de funcionamento (art. 17 da Lei no 4.320/64). Não poderia o ente público desperdiçar o 30 erário com entidades que se encontram na precariedade e que não tenham demonstrado o resultado financeiro dos recursos públicos captados (art. 74, II da CF). A subvenção econômica alcança as empresas que buscam obter lucros em sua atividade. Objetiva a cobertura dos déficits de manutenção das entidades da Administração indireta, bem como cobrir a diferença entre os preços de mercado e os preços de revenda, pelo governo, de gêneros alimentícios ou outros materiais, e ainda a respeito do pagamento de bonificações a produtores de determinados bens (MACHADO JUNIOR, 2001). O subsídio e a subvenção têm objetivos diferentes. O subsídio visa a estimular setores da economia ou beneficiar consumidores, e a subvenção tem como objetivo auxiliar instituições que têm atividades similares às do Estado. 2.3.5 Crédito Presumido Presumir significa “julgar segundo certas probabilidades, supor, suspeitar” (DIC MICHAELIS UOL). Qualificando-se como presumido, assume o crédito esta adjetivação quando ele pertence ao Estado e é transferido para o contribuinte parte deste crédito, mediante adoção de um percentual fixo sobre ele. Ou ainda, “Crédito fiscal presumido é aquele que não representa montante do imposto cobrado na operação anterior” (BARBOSA, 2004, p. 331). O crédito presumido é um incentivo fiscal oferecido pelo Estado para algumas operações, que reduz um tributo a ser pago pela empresa. Ou seja, se o Estado concede um crédito presumido do imposto de 60%, a empresa só pagará 40% do imposto devido. É tido como renúncia de receita, quando o percentual fixado como forma simplificada de apuração do imposto for maior que um crédito considerado normal para o segmento beneficiado, visto que dessa maneira causa perda de arrecadação. 2.3.6 Alteração de Alíquota ou Modificação de Base de Cálculo 31 Trataremos da renúncia fiscal que acontece mediante alteração dos dois aspectos quantitativos do tributo: a base de cálculo e a alíquota. Ambos “constituem a dimensão da obrigação pecuniária, positivando o quantum devido pelo contribuinte/responsável, ou seja, o efetivo valor a ser recolhido aos cofres públicos” (MELO, 2005, p. 218). O legislador quando elaborar normas constitutivas de tributos deve determinar a base de cálculo e a alíquota que serão utilizadas para obter o valor exato a ser recolhido aos cofres públicos. O produto da multiplicação entre a alíquota e a base de cálculo resulta no montante a pagar como tributo. Base de cálculo é a unidade de medida ou o valor pertinente a materialidade onde incidirá a alíquota. Tal matéria sobre a qual poderá incidir o tributo diz respeito a um fato, estado, negócio, serviço público, enfim, conforme disciplina a norma tributária. A modificação de base de cálculo expressa na norma que regula a responsabilidade fiscal sobre a renúncia de receita refere-se a redução deste valor, resultando consequentemente numa perda de receita imediata. O termo alíquota, para o Direito Tributário, designa “um determinado percentual aplicável sobre a base de cálculo” (MELO, 2005, p. 218). Costumeiramente é aplicado para determinação dos impostos, mas há possibilidade do uso de alíquota para taxas, contribuições de melhoria e contribuições especiais. A diminuição da alíquota resulta em renúncia fiscal, uma vez que implica em redução discriminada de tributos ou contribuições. Encontramos por muitas vezes o uso da expressão “alíquota zero”, que na verdade é uma outorga de isenção tributária, pois ao multiplicar a base de cálculo por uma alíquota de valor zero temos um resultado nulo. Estipular o valor de uma alíquota para zero é mudar o seu objetivo principal que é o de apurar com base num percentual válido o valor devido do tributo. Desrespeita-se neste caso o princípio da legalidade, mesmo que a Constituição Federal permita a mudança de alíquotas de alguns tributos pelo Executivo, pois para instituir uma isenção, mesmo disfarçada por um nome diferente (“alíquota zero”), deve-se editar uma lei especial, como já comentado no presente estudo. Exceção de alteração de alíquota que não implica em renúncia de receita referente a impostos é encontrada no art. 14, §3o, I da LRF4. 4 Dispõe do caso em que o Poder Executivo da União tem a faculdade de alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição Federal. 32 2.3.7 Outras Formas de Renúncia Qualquer benefício que corresponda a tratamento diferenciado será uma nova forma de renúncia de receita. A intenção do legislador em concluir o parágrafo primeiro do artigo 14 da LRF com uma expressão “qualquer benefício” foi de torná-lo exemplificativo. Poderá surgir um novo tipo de renúncia fiscal, tendo nomenclatura diversa, entretanto, basta ter tratamento diferenciado para obter a atenção do dispositivo legal supracitado e que privilegie ou beneficie individualmente certo contribuinte. Exemplo é a “manutenção de crédito” (anexo A, p. 74) tratada no art. 87 do RICMS/PB5, incluída no capítulo da Lei que trata da sistemática de apuração do imposto, elencando diversas situações em que não se exigirá o estorno do crédito quando relativo: às mercadorias e serviços que venham a ser objeto de operações ou prestações destinadas ao exterior; à entrada de mercadorias ou dos respectivos insumos objeto de saídas internas de casulo do bicho-da-seda (Convênio ICMS 76/93); etc. 5 Regulamento do ICMS da Paraíba (Decreto no 18.930, de 19 de junho de 1997). Disponível em <http://www.receita.pb.gov.br/regicms.php>. Acesso em 22 nov. 2009. 33 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA Quanto à finalidade, ou seja, para alcançar os objetivos pretendidos, adotou- se a pesquisa descritiva (SELLTIZ apud MARCONI; LAKATOS, 2009), com o intuito de observar, registrar e analisar as renúncias fiscais e os principais índices econômicos, correlacionando-os. Quanto ao objeto, foi utilizada a pesquisa bibliográfica (RUMMEL apud MARCONI; LAKATOS, 2009) pelo fato de se analisar documentos escritos, que são as tabelas com os valores das estimativas de Renúncia Fiscal, PIB, RAIS e CAGED, todos os dados referentes ao Estado da Paraíba; estas tabelas constam, respectivamente, nos anexos A, B, C e D. Os três indicadores econômicos tratados foram o PIB, a RAIS e o CAGED, sendo que o primeiro reflete uma relação mais ampla dos impactos da renúncia fiscal na economia paraibana, já os dois últimos indicadores informam a evolução do trabalho formal, tendo o enfoque dos efeitos econômicos que a renúncia fiscal causa na empregabilidade. O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer seja, países, estados, cidades), durante um período determinado (no nosso caso anual). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia6 com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. Na sua contagem, consideram-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os bens de consumo intermediário (insumos7). Isso é feito com o intuito de evitar o problema da dupla contagem, quando valores gerados na cadeia de produção aparecem contados duas vezes na soma. O CAGED (Cadastro Geral de Empregadose Desempregados) constitui importante fonte de informação do mercado de trabalho de âmbito nacional e de periodicidade mensal. Foi criado como instrumento de acompanhamento e de 6 A macroeconomia é o setor da ciência econômica responsável pelo estudo de fatores globais relacionados aos recursos produtivos de âmbito regional ou nacional. 7 Insumo é tudo aquilo usado para produzir um determinado bem ou serviço, como ocorre com as matérias-primas, mão-de- obra, energia e tributos, que são transformadas e utilizadas para se obter o produto final. 34 fiscalização do processo de admissão e de dispensa de trabalhadores regidos pela CLT, com o objetivo de assistir os desempregados e de apoiar medidas contra o desemprego (CAGED, 2009). Trabalharemos com a variação do saldo de empregos (total de admissão menos o total de desligamento) em relação ao total de empregados. A RAIS (Relação Anual das Informações Sociais) é um Registro Administrativo, de periodicidade anual, criada com a finalidade de suprir as necessidades de controle, de estatísticas e de informações às entidades governamentais da área social. Constitui um instrumento imprescindível para o cumprimento das normas legais, como também é de fundamental importância para o acompanhamento e a caracterização do mercado de trabalho formal (RAIS, 2009). Segue quadro constando suas principais diferenças: QUADRO I COMPARATIVO ENTRE RAIS E CAGED Item Indicadores RAIS CAGED Levantamento Anual Mensal Tipo de vínculo Qualquer tipo: estatutários, celetistas, temporários, avulsos; apenas os celetistas Abrangência todos os empregados do ano base em 31/12 e movimentação dos admitidos e desligados mês a mês apenas a movimentação de admitidos e desligados Obrigatoriedade todos os estabelecimentos, mesmo aqueles que não apresentaram movimentação apenas os estabelecimentos que apresentaram movimentação Útil para estudos estruturais do mercado de trabalho formal de análise de conjuntura do mercado de trabalho formal FONTE: < http://www.mte.gov.br/pdet/o_pdet/reg_admin/comparativo.asp>. Acesso em: 18 out. 2009 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA O universo ou população utilizada foram os valores da renúncia fiscal, PIB, RAIS e CAGED do Estado da Paraíba nos anos de 2006, 2007 e 2008. 35 Concentramos a pesquisa nestes anos devido a dificuldade na coleta das informações atuais referentes ao ano de 2009 quanto aos índices econômicos do PIB, RAIS e CAGED, visto que o Instituto Estadual responsável pela divulgação dessas informações não publica os dados no mesmo ano. Como também se trouxéssemos os anos de 2005 e 2004 causariam uma dificuldade maior pelo grande volume de informações a serem trabalhadas. São muitos os tipos de renúncia fiscal, de tal forma que ficaria inviável se trabalhar com todas elas. Por isso, tomamos como amostra na pesquisa, as renúncias de receita orçadas que atingissem o valor igual ou maior que R$ 500 mil (Quinhentos mil Reais) em qualquer um dos anos estudados, totalizando uma representatividade média de 76% do universo, conforme demonstrado no apêndice A, que indica cada item referente ao tipo de renúncia fiscal extraída para a classificação. O processo adotado foi o da amostragem não probabilista por tipicidade (MARCONI; LAKATOS, 2009) que considera um subgrupo típico, quando este possui um conjunto de propriedades comuns possível de alterar a característica da população como um todo quando se altera a comunidade típica. Sua escolha se deu porque os erros de amostragem e desvios não podem ser computados já que se trata de uma técnica não probabilista. Para a organização dos subgrupos adotamos o CNAE/80 do IBGE que é uma base de dados utilizada para classificar as atividades econômicas conforme exposto no anexo E. Com isso classificamos os benefícios fiscais por setor de atividade econômica conforme suas características principais. Na RAIS agrupamos como Indústria os dois setores: Indústria de Transformação e Serviços Industriais de Utilidade Pública. Excluímos da amostra duas situações. A primeira foi o custo do REFIN/FAIN não ser considerado no levantamento para o setor indústria, devido o seu valor ser o maior dentre todos os benefícios fiscais. Ele vem informado nas estimativas da Renúncia de Receita da LDO após todos os benefícios fiscais demonstrando o seu caráter especial e diferente perante os demais benefícios fiscais, sendo sua localização no documento imediatamente antes do total da renúncia estimada para o orçamento. A segunda situação não tratada foram os benefícios fiscais que se encaixassem na classificação como pertencente a categoria Construção Civil, visto que seu valor não alcançou o limite estipulado em R$ 500 mil para a compor a amostra da pesquisa. 36 3.3 TÉCNICA DE COLETA DOS DADOS A técnica utilizada para levantamento de dados foi a consulta de documentação indireta, esta se constitui em levantamento de dados em local diverso donde ocorreu o fenômeno registrado (MARCONI; LAKATOS, 2009). Por meio de uma pesquisa documental tendo como fontes primárias os sites oficiais da internet dos institutos responsáveis pela divulgação das informações. No portal da internet do IDEME/PB conseguiram-se os valores do PIB e do RAIS. No site do MTE foram coletados os dados referentes ao CAGED e os valores da Renúncia Fiscal da Paraíba foram encontrados no site da SEPLAG/PB na parte de divulgação dos Orçamentos Anuais. 3.4 TÉCNICA PARA ANÁLISE DOS DADOS Os dados foram tabulados e criados gráficos com a utilização do software Microsoft Office Excel 2003. Efetuamos duas análises distintas dos dados coletados. Primeiro, de forma mais genérica, comparamos os quatro indicadores utilizando seus valores totais (universo ou população) perante os três anos estudados (2006, 2007 e 2008), demonstramos a variação relativa de cada um dos quatro, ou seja, quanto em termos percentuais representou a diferença (valor absoluto de um indicador no ano tratado menos o valor absoluto do mesmo indicador no ano anterior) em relação ao valor do ano apresentado. Num segundo momento, de forma mais específica, comparamos a variação relativa apenas da renúncia fiscal e do RAIS, tratando estes dois indicadores de maneira segmentada por quatro setores da economia, quais sejam, indústria, agropecuária, serviços e comércio. Para a renúncia fiscal utilizamos a amostra obtida conforme explicamos anteriormente. 37 4 RENÚNCIA FISCAL NA PARAÍBA A economia paraibana encontra-se na 19a posição entre os 27 estados brasileiros8. Com a política de renúncia fiscal do governo estadual deixa-se de arrecadar muito dinheiro para compor as receitas orçamentárias, contudo busca-se obter como resultado destes incentivos tributários um retorno no crescimento econômico, pois as empresas e as indústrias são as principais beneficiadas, o que ocasiona uma melhoria social no campo da empregabilidade. Espera-se também um efeito “bumerangue”, onde num primeiro momento são disponibilizados incentivos fiscais sobre determinados tributos, para que após o crescimento do setor beneficiado ele aumente sua contribuição quando do pagamento dos impostos, pois havendo uma melhoria na sua produtividade haverá um retorno financeiro aos cofres públicos. Segue abaixo as Leis orçamentárias do Estado da Paraíba que trazem em seu conteúdo as previsões e demonstrativo do impacto da renúncia fiscal nos anos de 2006 a 2008. TABELA I LEIS ORÇAMENTÁRIAS DO ESTADO DA PARAÍBA ANO9 LDO LOA Decretos 2006 7.780/05 7.944/06 26.805 2007 8.070/06 8.171/07 27.979 2008 8.264/07 8.485/08 29.040 Fonte: <http://www.seplag.pb.gov.br/legislacao.php>A seguir, veremos a tabela e o gráfico da evolução das estimativas de Renúncia de Receita da Paraíba nos anos de 2006 a 2008. Na coluna “% da Variação” demonstra-se o avanço percentual em relação ao ano anterior. Com base nessas informações faremos comentários sobre os valores. 8 Com base no PIB de 2007 apresentado pelo IDEME/PB. Disponível em <http://www.ideme.pb.gov.br /index.php?option=com_content&task=view&id=102&Itemid=72>. Acesso em 22 nov. 2009. 9 O conteúdo das leis, orçamentos e anexos estão disponíveis em: 2006: <http://www.seplan.pb.gov.br/LOA2006/> 2007: <http://www.seplan.pb.gov.br/LOA2007/index.htm> 2008: <http://www.seplag.pb.gov.br/loaorcamento2008/> 38 TABELA II RENÚNCIA DE RECEITA DA PARAÍBA Ano Valor (R$) % da Variação 2006 208.129.148,31 7,68 2007 236.263.257,00 13,52 2008 318.334.274,80 34,74 FONTE: SEPLAG/PB, 2009 - Estimativa de Renúncia de Receita GRÁFICO I EVOLUÇÃO DA RENÚNCIA DE RECEITA DA PARAÍBA (milhões de Reais) 0 50 100 150 200 250 300 350 2006 2007 2008 FONTE: SEPLAG/PB, 2009 - Estimativa da Renúncia de Receita Os três documentos que serviram de fonte para a tabela II e gráfico I, acima expostos, seguem no anexo A deste trabalho. O primeiro documento traz a renúncia fiscal de 2006 apresentando os dados em quatro colunas. A primeira coluna traz a descrição da receita (tipo, impostos e espécie de renúncia); na coluna dois da tabela a legislação pertinente; na terceira o valor estimado a renunciar e na quarta aborda a vigência do benefício ou início da sua concessão. Esta formatação adotada na elaboração deste documento facilita a consulta bem como identifica de forma mais precisa o tributo renunciado e a lei que concedeu o benefício com seu prazo de validade. Já nos dois documentos seguintes que trazem os valores da renúncia fiscal dos anos de 2007 e 2008, ocultaram-se dois dados que vinham sendo divulgados de forma expressa no ano de 2006: a legislação pertinente ao tipo de renúncia fiscal e a data em que começou sua vigência ou início da concessão. Com isto, ficaram menos 39 precisos e transparentes os dados referentes aos benefícios concedidos durante estes dois anos. Comparando-se a renúncia fiscal de 2006 até 2008, houve um aumento de 53% nestes três anos, o que implica numa forte política de benefícios fiscais oferecidos pelo governo no período. Por exemplo, a renúncia fiscal de 2006, que foi de R$ 208 milhões, representou 1% do valor do PIB da Paraíba10 que foi de aproximadamente R$ 20 bilhões no mesmo ano. Nos anos de 2007 e 2008 continuou essa mesma representação percentual. 4.1 A LRF E A TRANSPARÊNCIA NA RENÚNCIA FISCAL ESTADUAL É certo que a Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe avanços na técnica orçamentária, equilíbrio orçamentário real, ajuste fiscal para controle das dívidas interna e externa etc. Contudo, o legislador não se atentou para detalhes no tocante ao monitoramento mais ativo da administração pública, que fosse por meios de mensurar o desempenho dos seus objetivos realizados e os não alcançados. Comenta a doutrina a respeito da edição da Lei de Responsabilidade Fiscal: Não representa uma alternativa única para o equacionamento do problema de necessidade de financiamentos do setor público e é bastante tímida em questões como: aumento efetivo de transparência, participação popular e avaliação de eficácia da gestão pública (RIBEIRO, 2002, p.26). Quanto à transparência orçamentária na Paraíba, a publicidade das informações sobre renúncia de receita é vista apenas em estimativas faltando os dados efetivados, para que possamos confrontar os valores renunciados ora programados e os que realmente ocorreram. Não se tem o acompanhamento pelos órgãos controladores, conforme verificamos em consulta realizada através do acesso aos sistemas disponibilizados na internet para consulta pública referente aos orçamentos estaduais. Nem no “SAGRES on line”11 do TCE/PB, e nem no “Contas Públicas”12 do Sistema Integrado 10 Produto Interno Bruto da Paraíba nos anos de 2006, 2007 e 2008 constam no anexo B. 11 Disponível em: <http://sagres.tce.pb.gov.br/estado_index.php>. Acesso em 30 out. 2009 12 Disponível em: <http://www.siaf.cge.pb.gov.br/SIAFWEBLIVRE/SIAFWEB>. Acesso em 30 out. 2009 40 de Administração Financeira (SIAF) da CGE/PB não é disponibilizado os valores da renúncia fiscal. O “Contas Públicas” foi criado recentemente seguindo orientação da LC no 131/09 (Lei de Transparência) que alterou o art. 48 da LRF, detalhando ainda mais uma norma legal já existente a respeito da divulgação em meios eletrônicos. No mesmo sentido desta Lei Complementar já tínhamos a Lei no 9.755 que desde 1998 trata da criação da homepage na internet do Tribunal de Contas da União. Já para vislumbrarmos uma participação popular de que trata o parágrafo único, inciso I do art. 48 da LRF, os órgãos responsáveis pelo controle, especialmente o governo estadual, deveria apresentar os dados referentes as renúncias fiscais propostas e realizadas de maneira simplificada, como também estimular a realização de audiências públicas, alcançando assim um efetivo comprometimento social tão esperado para as finanças públicas. A participação da sociedade viria a permitir uma avaliação da gestão pública, com critérios sobre seu desempenho. A ação do Poder Público Estadual de renunciar tributos padece de uma análise qualitativa dos seus resultados e de melhora na sua fiscalização. Os artigos 56 a 58 da LRF ao disciplinar a prestação de contas examinam tão somente o controle da receita e os limites de despesa, não estabelecem uma avaliação das dimensões de eficiência, eficácia e efetividade da Gestão Pública (RIBEIRO, 2002). O caput do art. 14 da LRF estipula os deveres do Estado quando se aplica a renúncia de receita sobre seu orçamento. São três exigências sendo uma delas com duas alternativas. A primeira exigência é que deve se expor a estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, para que se tenha publicidade dos valores que serão renunciados da receita orçamentária; a segunda exige que a renúncia de receita deve atender ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias; e a terceira exigência é o cumprimento de uma das duas condições seguintes: • Demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; ou 41 • A concessão de Renúncia de Receita deve estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. A primeira exigência acima foi obedecida pelo governo do Estado da Paraíba no período de 2006 a 2008 por intermédio da elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, que trouxeram em seus anexos as informações das estimativas dos valores referentes ao exercício fiscal que iria dar início a concessão do benefício, e pela edição do Plano Plurianual para os dois exercícios seguintes. Já a segunda exigência foi cumprida quando se obedeceu o disposto nas Leis de Diretrizes Orçamentárias que tratavam sobre a renúncia fiscal programada pelo governo. Mostramos a numeração destas leis na tabela I apresentada na página 37. E a terceira exigência seguiu-se conforme orientou o art. 14, inciso I da LRF, ou seja, que na elaboração do orçamento fosse considerada
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