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Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba Escola de Engenharia de Piracicaba Curso de Engenharia Mecânica Daniel Rodrigues Carlos Construção de um sistema de refrigeração MQL (Quantidade Mínima de Lubrificante) Piracicaba 2016 Daniel Rodrigues Carlos Construção de um sistema de refrigeração MQL (Quantidade Mínima de Lubrificante) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de Piracicaba como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Mecânica. Orientador: Prof. Antônio Fernando Godoy Piracicaba 2016 Daniel Rodrigues Carlos Construção de um sistema de refrigeração MQL (Quantidade Mínima de Lubrificante) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Engenharia de Piracicaba como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Mecatrônica. Piracicaba, 12 de dezembro de 2016 Banca Examinadora: __________________________________ Antônio Fernando Godoy – (Presidente) Mestre em Engenharia Mecânica Escola de Engenharia de Piracicaba __________________________________ __________________________________ Dedico este trabalho à minha esposa Hemily Karla Savelli Carlos, aos meus pais Jair Carlos e Diva Aparecida R. de Campos Carlos e especialmente ao meu filho Miguel Savelli Carlos. AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por sempre estar ao meu lado me ajudando em todos os momentos de minha vida. A todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho, em especial: Ao meu orientador Prof. Antônio Fernando Godoy, pela ajuda incondicional para a elaboração deste. Ao coordenador dos laboratórios de eletrônica, Sr. André Campioni, pela ajuda na construção do sistema eletrônico. Ao coordenador dos laboratórios de mecânica, Sr. Prof. João Paulo Araújo pelo incentivo na construção do equipamento. A empresa Unist, por fornecer o fluído e material didático para a realização deste trabalho. Aos amigos que fiz ao longo da graduação que pude dividir momentos de estudos e descontração dentre eles: Carlos Eduardo, Caio, Guilherme Vitti, Guilherme Alves, Gustavo Ferro, Jonathan Rodrigo, Juliano Toledo, João Paulo Pacheco, Márcio Pompermayer, Lucas Ruiz, Pedro Henrique Bonatti, Wesley Bortoletto entre outros. “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena Acreditar no sonho que se tem Ou que seus planos nunca vão dar certo Ou que você nunca vai ser alguém...” Renato Russo RESUMO Quando se remete a algum processo de fabricação, todo esforço para aumentar a produtividade e reduzir custo sem perder a qualidade é válida. Na usinagem de materiais o uso de fluido de corte adequado pode ser vital para determinados processos. Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma forma alternativa de mínima quantidade de lubrificação (MQL) que visa a incorporação de uma central eletrônica, possibilitando seu uso em máquinas convencionais e CNC’s. A central é independente do comando CNC da máquina, o acionamento do sistema se dará através da interceptação dos sinais elétricos do comando CNC M8 (jorro à baixa pressão) ou M9 (novo sistema de lubrificação), acionando-o assim um novo sistema de lubrificação podendo trabalhar perfeitamente em conjunto de forma alternada com o método de jorro a baixa pressão, pois ambos são ativados de forma independente. Em máquinas convencionais, seu funcionamento é feito de maneira rápida e simples, a central dispõe de botões de comando onde é possível ligar/desligar quando necessário. Para ambas as utilizações, o reservatório possui um sensor de nível que avisa para a central a ausência de fluído. O mesmo informa o usuário através de mensagens no visor e através de sinal sonoro, este se ignorado por mais de 200 segundo, o sistema automaticamente é desligado. Palavras-chave: MQL, Mínima quantidade de lubrificação, CNC, Refrigeração, Fluído de corte LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Resultado teste de esclerometria......................................................18 Figura 2 - Curva de resfriamento em função do fluído de corte........................19 Figura 3 - Classificação dos fluídos de corte....................................................20 Figura 4 - Esquema de aplicação de fluído de corte sob alta pressão.............27 Figura 5 - Método jorro a baixa pressão...........................................................28 Figura 6 - Layout funcionamento do sistema da alta pressão..........................29 Figura 7 - Influencia do jato de fluído sobre a formação do cavaco.................30 Figura 8 - Escopo do funcionamento de um coletor de névoa.........................31 Figura 9 - Comparação de emissões de partículas suspensas no ar entre MQL vs. jorro de baixa pressão..................................................................................34 Figura 10 - Fatores de influência no processo de manufatura com MQL.........34 Figura 11 - Locais de formação do aerossol.....................................................35 Figura 12 - Comercialização de lubrificante na Alemanha de 2007 a 2010......37 Figura 13 - Códigos M (miscelânea) pelo padrão ISO 1056 ............................38 Figura 14 - Detalhes construtivos do reservatório............................................39 Figura 15 - Central eletrônica...........................................................................40 Figura 16 - Montagem do sistema....................................................................41 Figura 17 - Medida da massa..........................................................................41 Figura 18 a – Medida da massa.......................................................................43 Figura 18 b - Teste de vazão...........................................................................43 Figura 19 a – Nível baixo, contagem regressiva..............................................43 Figura 19 b – Sistema desligado nível de fluído baixo.....................................43 Figura 20 – Posição do bocal de aplicação......................................................43 Figura 21 – Teste prático do equipamento.......................................................43 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Determinação da vazão volumétrica..............................................42 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS MQL: Minimun Quantity Lubrication FUMEP: Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba EEP: Escola de Engenharia de Piracicaba CNC: Comando Numérico Computadorizado ml/h: Mililitros por hora t/ano: Toneladas por ano Co2: Dióxido de carbono N2: Nitrogênio ISO: International Organization for Standardization DIN: Deutsches Institut für Normung EP: Extrema Pressão RPM: Rotações por minuto BAR: Unidade de pressão PVC: Policloreto de polivinila Ti-6AJ-4V: Liga de titânio LISTA DE SÍMBOLOS M00: Parada de Programa M02: Final de programa M07: Liga bomba para lubrificação em altapressão M08: Liga bomba de lubrificação M09: Desativa as funções M7 e M8 M30: Fim de programa 𝝆: Densidade Kg: Quilograma m: Massa s: Segundos Q: Vazão Volumétrica Ӫ: Fluxo de massa SUMÁRIO 1 – Introdução..................................................................................................14 2 – Revisão bibliográfica..................................................................................16 2.1 – Fluídos de corte............................................................................16 2.1.1 – Classificação dos fluídos de corte.................................16 2.1.1.1 – Óleos...................................................................20 2.1.1.2 – Emulsões............................................................21 2.1.1.3 – Soluções.............................................................22 2.1.1.4 – Aditivos..............................................................23 2.1.2 – Funções dos fluídos refrigerantes e lubrificante.........24 2.1.2.1 –Fluído de corte como refrigerante.....................25 2.1.2.2 – Fluído de corte como lubrificante....................26 2.2 – Formas de aplicação....................................................................27 2.2.1 – Jorro à baixa pressão.....................................................28 2.2.2 – Sistema de alta pressão..................................................29 2.2.3 – Atomização......................................................................32 3 – Metodologia................................................................................................36 4- Conclusão.....................................................................................................43 5- Bibliografia...................................................................................................44 6- Apêndice A – Placa do circuito impresso.................................................47 13 1 - INTRODUÇÃO Quando se remete a algum processo de fabricação, todo esforço para aumentar a produtividade e reduzir custo sem perder a qualidade é válida. Na usinagem de materiais o uso de fluido de corte adequado pode ser vital para determinados processos, aumentando a vida útil da ferramenta, melhorando ainda o acabamento superficial da peça. “1894, Frederick Winslow Taylor observou que aplicando grande quantidade de água na região de corte era possível aumentar a velocidade de corte em 33% sem prejuízo para a vida da ferramenta (MACHADO, 2009 apud RUFFINO 1977)”. Depois de Taylor diversas pesquisas desenvolveram novas tecnologias empregadas aos fluidos dando a eles aditivos para melhorar suas ações refrigerante/lubrificante além de ação antioxidante, antiespumante e bactericida, no entanto o método de aplicação de fluidos líquidos sempre fora o mesmo, seja ele por gravidade ou sob pressão. Nos últimos anos o MQL (Minimun Quantity Lubrication) vem se tornando uma saída para a diminuição do consumo no volume de fluido utilizado pelas indústrias metal mecânica. É nesse contexto que o MQL passa a ser visto como alternativa mais viável para a utilização de fluidos nos processos de usinagem. Ele utiliza uma quantidade muito pequena de fluido para reduzir o atrito entre uma ferramenta de corte e a peça de trabalho. Este método de lubrificação é considerado um processo próximo a seco, com menos de 2% do fluido aderente aos cavacos. A norma DIN 6909-1 determina que para ser considerado MQL o consumo de fluido de corte tem que ser até 50ml/h, porém, em casos excepcionais este valor pode chegar até 150ml/h. Segundo Walker (2013), o valor é um pouco subjetivo e vai depender muito sobre o processo de fabricação, materiais, e ferramentais utilizados. Alguns materiais têm auto lubrificação, alguns processos são capazes de direcionar o fluido para o lugar certo e as ferramentas maiores precisam de mais lubrificante do que ferramentas menores, porem comumente é utilizado em média de 5 a 80 ml/h. Ainda segundo Walker (2013), o MQL 14 funciona melhor em processos de corte, como serragem, fresamento, torneamento e furação. Não é eficaz em operações abrasivas. Segundo Diniz [et al 2010], no ano de 1992 na Alemanha, o volume de descartes de óleos utilizados em processos de transformação metal mecânica representou aproximadamente 60% do consumo total de lubrificantes, o equivalente a 115.131,2 t/ano. Isso envolve um custo significativo que varia de 7,5% até 17% dos custos de fabricação por peça, superior até mesmo aos custos relativos ao ferramental. De acordo com Dobbeler (2016), em 2010 foram comercializados na Alemanha 69.000 toneladas de fluídos para refrigeração e lubrificação e, ainda segundo Dobbeler, esse valor é muito pequeno em relação ao volume comercializado de óleos para motores. O objetivo deste trabalho é a construção de um equipamento de mínima quantidade de lubrificação (MQL), que visa incorpora-lo as máquinas ferramentas convencionais e CNC através de uma interface própria de comando, uma vez que em máquinas CNC os comandos seguem o padrão ISO 1056 e admitem 2 tipos de lubrificação, um convencional através de bombas que já são comumente utilizados nas máquinas através da função M8, e uma outra função M7 que poderá ser utilizada para o equipamento proposto. Ambos os comandos são desativados através da função M9. Para máquinas convencionais, por serem independentes, o equipamento terá uma pequena central eletrônica com um visor de cristal líquido onde exibirá algumas mensagens como: modo de operação automático, manual, ”nível baixo” e “reservatório vazio” 15 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os fluidos de corte se subdividem em 3 tipos: Gasosos, sólidos e líquidos. Dentre os citados destaca-se o fluído líquido devido à sua alta variedades de produtos podendo ser óleos integrais à base vegetal (mamona), à base mineral (petróleo), à base sintética (ésters e solventes sintéticos) ou solúvel em água (emulsionável). As emulsões contêm em média 60% de óleo além de conter aditivos como biocidas, anticorrosivos, antiespumante, antidesgaste, antissolda e EP (extrema pressão) que aumenta o poder de lubrificação do fluído. Esta diversidade de fluídos líquidos torna-o mais usual, pois se adaptam melhor a qualquer tipo de processos de fabricação. Os outros tipos de fluídos gasoso e sólido também têm suas aplicações, porém não abrange todos os processos de fabricação e não mantem a mesma eficiência e valor agregado se comparado aos fluídos líquidos. Ainda neste capítulo veremos mais detalhado os tipos de fluídos, além de suas vantagens e desvantagens. 2.1- Fluidos de corte De acordo com Machado [et al. 2011] as funções dos fluidos de corte são: •Lubrificação à baixas velocidades de corte; •Refrigeração a altas velocidades de corte; •Remoção dos cavacos da zona de corte; •Proteção da máquina-ferramenta e da peça contra a oxidação. No entanto, dentre as funções citada acima, as duas primeiras são consideradas as mais importantes, porém há situações em que a retirada do cavaco se torna crítica como em casos de furação profunda e serramento, onde a capacidade do fluido de corte em remover os cavacos gerados na zona de corte depende de sua viscosidade e vazão, além do tipo de processo utilizado e o tipo de cavaco a ser formado durante a usinagem. Segundo Ferraresi (1977), a melhoria poderá ter caráter funcional ou econômico. O funcional é constatado pelo melhor desempenho no mecanismo 16 da formação docavaco e pela facilidade da expulsão desse produzido na região de corte. A melhoria econômica é constatada pelo menor consumo de energia durante o processo, pelo menor desgaste da ferramenta, do que resulta em menor tempo passivo e menor custo de ferramenta por peça usinada. Ainda segundo Ferraresi (1977), ele destaca dentre as melhorias de caráter funcional distinguem-se: •Redução do coeficiente de atrito entre a ferramenta e o cavaco; •Expulsão do cavaco da região de corte; •Refrigeração da ferramenta; •Refrigeração da peça em usinagem; •Melhor acabamento superficial da peça em usinagem; •Refrigeração da máquina ferramenta. Já as melhorias de caráter econômico são aquelas que induzem a um processo mais econômico dentre elas distinguem-se: •Redução do consumo de energia de corte; •Redução do custo da ferramenta na operação; •Impedimento da corrosão da peça em usinagem; Para determinar a eficiência do poder lubrificante dos fluidos existe uma técnica chamada esclerometria pendular, que consiste em produzir riscos em uma superfície imersa em um fluido de corte por meio de um penetrador de dimensões conhecidas, determinando assim a energia específica para riscar os corpos de prova. 17 De acordo com Sales (1999), a informação da Figura 1 permitiu classificar os fluidos de corte em ordem crescente de energia específica em: Integral, emulsionável, seco, sintético 2, sintético 1 e água. As condições de maior capacidade de retirada de calor e menor qualidade lubrificante como o sintético 1 e a água, apresentaram maiores níveis de energia específica. Já as condições com menores capacidades de retirada de calor e maiores qualidades lubrificantes como o óleo integral, apresentaram menores níveis de energia específica Segundo Machado [et al.2011], a capacidade refrigerante dos fluidos também pode ser avaliada por meio de um ensaio na qual um corpo de prova padronizado é posto em movimento de rotação em um torno à 150 RPM enquanto o fluido de corte é aplicado, quando a temperatura atingir 300ºC (monitorado através de um sensor infravermelho), inicia-se então a aquisição dos dados até que a peça atinja a temperatura ambiente. A Figura 2 apresenta os resultados obtidos em um teste comparativo entre os fluidos refrigerante. As classificações dos fluidos foram feitas de acordo com sua capacidade de Figura 1- Resultado teste de esclerometria Fonte: XV congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica 18 resfriamento na seguinte ordem, corte a seco, óleo integral, fluido emulsionável, fluido sintético 2, agua e fluido sintético 1. 2.1.1 - Classificação dos Fluídos de corte De acordo com Diniz [et al.2010], “Os fluídos de corte podem ser classificados conforme mostra a Figura 3” No entanto esta classificação é feita somente para os fluidos líquidos. Figura 2 - Curva de resfriamento em função do fluido de corte Fonte: Teoria da Usinagem dos Materiais 2ª ed. Machado [et al.2011] 19 Segundo Machado [et al.2011], existem diversas formas de se classificar um fluído, entretanto não há uma padronização. Os fluidos de corte líquidos representam a grande maioria das aplicações durante os processos de fabricação. Os fluídos gasosos mais comuns é o ar comprimido, mais este em temperatura ambiente apresenta um baixo poder lubrificante e refrigerante. Entretanto experimentos feitos por Shaw (1982) descreve a utilização de fluidos resfriados a temperaturas negativas e sob pressão (ar, CO2 e N2). Shaw relata ainda que obteve aumentos significativos de vida da ferramenta, no entanto o uso destes fluidos em escala industrial é inviável devido ao alto custo do mesmo. Por outro lado, os lubrificantes sólidos representados pela grafita e o sulfeto de molibdênio, estes são aplicados de forma manual sobre a superfície de saída da ferramenta com o intuito de reduzir o coeficiente de atrito gerado entre ferramenta/peça e cavaco/ferramenta, porém devida ao modo de aplicação é comum a máquina ser desligada para evitar riscos de acidentes ao operador. Estas interrupções durante o processo, o torna ineficiente dentro do contexto produtivo. Figura 3 - Classificação dos fluídos de corte. Fonte: Tecnologia da Usinagem dos Materiais 7ª ed. Diniz [et al 2010] 20 2.1.1.1 – Óleos “Os óleos minerais são hidrocarbonetos obtidos a partir do refino do petróleo. Suas propriedades dependem do comprimento da cadeia, da estrutura molecular e do grau de refino. Os óleos integrais são basicamente, óleos minerais puros ou com aditivos em geral agentes EP (Aditivos de extrema pressão) ”. MACHADO [et al 2011]. Embora os óleos sejam bem eficientes na redução do atrito oferecendo um alto nível de lubrificação durante a usinagem, mas devido a sua baixa condutividade térmica e seu baixo calor especifico, ocasiona uma refrigeração muito menor que os fluidos aquosos. Devido ao seu alto custo, rápida deterioração, baixo ponto de fulgor (risco de incêndio), formação de fumos, ineficiência em altas velocidades de corte além de oferecer riscos à saúde do operador, os óleos vêm sendo substituídos por lubrificantes emulsionáveis em agua. Segundo Diniz [et al 2010], quanto mais baixa a viscosidade desses óleos, maior e seu poder de refrigeração. Os óleos leves normalmente são indicados para operações em usinagem em altas velocidades, por outro lado óleos mais viscosos são preferidos onde a velocidade de corte é menor. O avanço e a profundidade de corte são maiores, resultando em uma alta taxa de remoção de cavaco e alta geração de calor. Devido a estas condições tem-se a necessidade de um óleo que adere à ferramenta formando uma película de óxido que diminui o coeficiente de atrito e consequentemente o calor gerado. Os óleos integrais podem ser de base parafínica, naftênica ou aromática, no entanto somente o de base parafínica é utilizado na fabricação de fluídos de corte. Este tipo de fluido deriva do refino do petróleo com alto teor de parafinas (ceras) que tem alto poder lubrificante, além de manter sua viscosidade constante em uma ampla faixa de temperatura e ter elevada resistência a oxidação. Como esse óleo é encontrado em abundância, apresenta um custo menor. Os óleos de base naftênica e aromática tem diminuído em função dos problemas causados à saúde humana, entretanto são mais estáveis que os parafínicos e suportam cargas mais elevadas. 21 2.1.1.2 – Emulsões As emulsões compõem-se de pequenas porcentagens de um concentrado de óleo emulsificável, comumente composto por óleo mineral ou vegetal. Segundo Diniz [et al 2010], os emulsificadores são substâncias que reduzem a tensão superficial da água, e com isso, facilitam a dispersão do óleo neste líquido. Portanto, não são soluções de óleo em água e sim partículas de óleos dispersas em seu interior, logo o nome comumente utilizado “óleo solúvel” é usado de maneira equivocada uma vez que óleo e água não se misturam, normalmente a proporção desses compostos varia de 1:10 a 1:100. Por serem constituídas essencialmente por água, as emulsões possuem um alto poder de refrigeração, portanto para evitar os efeitos nocivos da água presente nas emulsificações, empregam-se aditivos anticorrosivos, biocidas que inibem o crescimento de bactérias e fungos onde estes devem ser compatíveis com a pele humana, além de aditivos EP e antidesgaste, usado para aumentar as propriedades de lubrificação. As emulsões são especialmente indicadas para as operações de usinagem, onde o principal objetivo é a refrigeração das partes, portantoa principal aplicação das emulsões é para operações onde a retirada de material não é muito grande, ou seja, baixas e médias profundidade de corte e avanço e altas e médias velocidades de corte. De acordo com Diniz [et al 2010], em operações com baixas velocidades de corte (a tendência de aresta postiça de corte é alta), altos avanços e profundidades de corte (geração de calor é alta), a lubrificação é necessária e, então, o óleo puro e preferível. São exemplos dessas operações o corte de dentes de engrenagens e brochamento. Segundo Machado [et al 2011], os fluídos semissintéticos também são formadores de emulsões e se caracterizam por apresentar entre 5% a 50% de óleos mineral no fluído concentrado, além dos aditivos EP, anticorrosivos e agentes umectantes e compostos químicos. A menor quantidade de óleo mineral e a presença de biocidas aumentam a vida do fluído de corte e reduzem os riscos à saúde humana. 22 2.1.1.3 – Soluções “As soluções são compostos monofásicos de óleos que dissolvem completamente na água. Neste caso não há a necessidade de adição de agentes emulsificantes, pois os compostos reagem quimicamente, formando fases únicas. As soluções, também são chamados “fluidos sintéticos”. MACHADO [et al 2011]. Os fluidos sintéticos detêm aditivos de lubricidade, biocidas, inibidores de corrosão quando adicionados em água. Outra qualidade deste fluido é que apresentam vida mais longa já que são menos atacáveis por bactérias reduzindo consideravelmente o número de trocas da máquina. Segundo Machado [et al 2011], os fluidos sintéticos mais comuns oferecem boas proteção anticorrosiva e refrigerante, sendo que os mais complexos são de usos geral com boas propriedades lubrificantes e refrigerantes. 2.1.1.4 – Aditivos Com o objetivo de cumprir de maneira satisfatória o propósito, os aditivos têm que possuir as seguintes propriedades: ser antiespumante, anticorrosivo, antioxidante, antidesgaste, antissolda (EP), ter excelente capacidade de absorção de calor, ser inodoro e não provocar irritações na pele além de ser compatível com o meio ambiente. Machado [et al. 2011], destaca que, a maioria dessas propriedades é conferida aos fluídos de corte por meio de aditivos, os principais são: Antiespumantes: Evita formação de espuma que poderiam impedir a visibilidade na região de corte e comprometer o efeito da refrigeração do fluido. Anticorrosivo: Protegem a peça, ferramenta e máquina-ferramenta da corrosão, são produtos à base de nitrito de sódio. Detergentes: reduzem a deposição de lodo, lamas e borras, estes são compostos organometálicos contendo magnésio, bário e cálcio, entre outros. 23 Emulsificantes: são responsáveis pelas formações de emulsões de óleos na água e vice-versa, além de reduzir a tensão superficial. Surfactantes: de forma análoga aos emulsificantes, têm a função de garantir a uniformidade das emulsões quando este é acrescentado a dois fluidos imiscíveis, ele será absorvido na interface entre os dois líquidos. A parte hidrófila (solúvel em água) se orienta para se tornar parte da fase água por um lado, e por outro a parte lipofílica (miscível em óleo) se orienta para se formar parte da fase óleo. Biocidas: São substâncias ou misturas químicas, que inibem o desenvolvimento de microrganismo especialmente fungos e bactérias. Aditivos de extrema pressão EP: este confere aos fluído de corte a capacidade de suportar elevadas temperaturas e pressões de corte, reduzindo o contato ferramenta/cavaco. Os principais aditivos EP são compostos de enxofre, fósforo ou cloro, apesar de sua importância, esses aditivos podem atacar o cobalto, que se faz presente em ferramentas de metal duro. 2.1.2 – Funções dos fluídos refrigerantes e lubrificantes Segundo Diniz [et al 2010], durante o corte se desenvolve uma grande quantidade de calor devido a energia necessária para deformação do cavaco e a energia decorrente do atrito ferramenta/peça e cavaco/ferramenta, este calor precisar ser reduzido (Lubrificação) e/ou removido (refrigeração). O fluído tem também como objetivo minimizar o desgaste da ferramenta e a dilatação térmica possibilitando com isso a usinagem de peças com tolerâncias mais apertadas reduzindo também o dano térmico à estrutura superficial da peça, retirada do cavaco da região de corte além de proteção contra corrosão. A lubrificação fica facilitada em velocidades de corte baixas, onde o fluído penetra nas interfaces da ferramenta/cavaco e ferramenta/peça em um fluxo contrário ao fluxo do cavaco. 24 “Mesmo com todo esforço para sua redução, o calor continua sendo gerado, em maior ou menor escala, dependendo das condições de usinagem, do material da peça e da ferramenta. ” DINIZ [et al 2010]. 2.1.2.1 – Fluído de corte como refrigerante Quando se deseja retirar o calor gerado durante os processos de fabricação, utiliza-se fluído de corte refrigerante, no entanto o mesmo deve possuir algumas características para serem considerados eficientes: Baixa viscosidade a fim de que flua facilmente; Capacidade de “molhar” bem o metal para estabelecer um bom contato térmico; Alto calor específico e alta condutividade térmica. Segundo Diniz [et al 2010], em boa parte das operações o fluído de corte com ação refrigerante trabalha realmente no sentido de aumentar a vida da ferramenta. De acordo com Machado [et al 2011], em corte contínuos de qualquer material metálico (e vários não metálicos) realizados com ferramenta de metal duros (com ou sem revestimento), que normalmente é realizado com aplicação de fluído de corte. Neste caso, o fluído pode garantir uma economia considerável no processo por permitir efetivamente o aumento da vida da ferramenta. O fluído de corte além aumentar a vida da ferramenta, ele também pode beneficiar a peça a ser usinada a exemplo de operações de acabamento onde tolerâncias dimensionais são críticas, é necessário que o fluído minimize o efeito da dilatação térmica, o fluído refrigerante também pode ser utilizado para não causar dano a peça, como por exemplo em processos de retificação, pois o rebolo devido à seu diâmetro (se comparado ao diâmetro da peça a ser retificada) não é danificado pelo calor gerado durante o processo pois o mesmo é constituído de grãos abrasivos refratários, porém a peça a ser trabalhada tem que ser preservada suas características geométricas e dimensionais. Em usinagem de alumínio devido ao seu baixo ponto de fusão eles tendem a se deformar com o calor gerado durante o processo, neste caso a utilização do fluido deve evitar que a peça aqueça e consequentemente deforme-se, em processos de furação profunda de materiais que geram cavacos descontínuos. 25 O fluído tem a função de servir como meio de transporte do cavaco pelos canais helicoidais da broca, já em alumínio devido à formação de cavacos longos a utilização do fluído evita que o cavaco adira aos canais da broca impedindo o fluxo de cavacos, esta ação pode levar à quebra da broca. De acordo com Diniz [et al 2010], alguns materiais de ferramentas como os cerâmicos à base de óxidos de alumínio, por serem muitos duros e frágeis, não suportam variações de temperatura que os levam a trincarem ou mesmo quebrarem, a utilização de fluídos de corte nesses casos é evitada devido ao fato de não conseguir manter a vazão do fluído constante. 2.1.2.2 – Fluído de corte como lubrificante “A lubrificação permite uma redução do coeficiente de atrito entre cavaco e ferramenta principalmente, pois é na superfície de saídada ferramenta que se desenvolvem as maiores temperaturas, devido a zona de aderência que facilita o fluxo de cavaco reduzindo a força e a potência de corte, e consequentemente a temperatura” DINIZ [et al 2010]. O fluído com efeito lubrificante, para ter a ação desejada o mesmo tem que atingir a região de corte para isso conta com o fenômeno da capilaridade e pela vibração entre a peça e a ferramenta. Segundo Diniz [et al 2010], a ação lubrificante fica prejudicada quando se aumenta a velocidade de corte, pois para o fluído chegar na região de corte é necessário que ele seja impulsionado com alta pressão, o que vai exigir dele dentre outras características, que não se vaporize quando submetidos a essas pressões altas. Por outro lado, em processos com corte interrompido como no fresamento, segundo Diniz [et al 2010], a lubrificação fica facilitada pois o fluído toca a ferramenta enquanto está encontra-se fora da peça e é levado para interfaces cavaco/ferramenta e ferramenta/peça pela própria ferramenta. Ainda segundo Diniz [et al 2010], para que um fluído seja um bom lubrificante, é necessário que ele possua as seguintes característica: Resistência a pressões e temperaturas elevadas sem vaporizar; Boas propriedades antifricção e antisoldante; 26 Viscosidade adequada: a viscosidade deve ser suficientemente baixa para permitir uma fácil circulação do fluído e suficientemente alta para uma boa aderência do fluído às superfícies da ferramenta 2.2.- Formas de Aplicação Segundo Machado [et al. 2011], existem basicamente três métodos de aplicação do fluído. Jorro a baixa pressão; Sistema de alta pressão (até 163 BAR); Atomização (de 1 a 5 BAR). Entretanto, devido a sua simplicidade a facilidade na aplicação, o jorro a baixa pressão é o método mais utilizado presente em quase todos os processos de fabricação, já o sistema de alta pressão exige equipamentos mais complexos como bombas de múltiplos estágios, reservatório de elevada capacidade, no entanto, para o sucesso deste método de aplicação o fluído tem que ser aplicado de maneira correta sobre a ferramenta através do porta-ferramenta especiais como ilustrado na Figura 4. Figura 4 - Esquema de aplicação de fluído de corte sob alta pressão Fonte: Teoria da Usinagem dos Materiais 2ª ed. Machado [et al.2011] 27 Fonte: Chemlub “Nos últimos tempos, tem-se observado um esforço no sentido de reduzir o consumo de fluídos de corte, tanto pelo fator econômico quanto pela preocupação ambiental. Nesse cenário, a aplicação de fluído de corte pelo método da atomização (também conhecido como MQF “mínima quantidade de fluído”) tem sido intensamente investigada” (MACHADO, 2009 p.169 apud MACHADO & WALLBANK,1997; MACHADO 1997 e 1998; HEISEL,1998; WEINGAERTNER, 2000). 2.2.1- Jorro à baixa Pressão “Um fluxo abundante e sem direção específica sobre a região de corte é a forma mais tradicional de aplicação. Contudo este método perde a eficiência em altas velocidades. ” MICARONI. Este método de aplicação de fluído comumente é fornecido pelas empresas de máquinas ferramentas como sendo um sistema de lubrificação “standard” (padrão) devido a sua simplicidade e baixo custo (Figura 5), porém outros métodos de aplicação de fluído, também são oferecidos como opcionais. Seu funcionamento consiste em uma bomba acoplada a um reservatório devidamente projetado afim de atender à necessidade das operações realizadas pela máquina, o fluído então é levado através da bomba por condutos até o bico de aplicação que contém uma válvula para controle de vazão. Porém para Dobbeler (2016) diante dos avanços tecnológicos este método está ficando cada vez mais obsoleto. Essas tecnologias nos permitem trabalhar com maiores velocidades de corte, ter um melhor aproveitamento na vida útil da ferramenta, aumento do rendimento da máquina-ferramenta além de minimizar a utilização do fluído de corte. Figura 5 - Método de jorro baixa pressão 28 2.2.2- Sistema de alta pressão Os sistemas de refrigeração de alta pressão, o fluído de corte é transmitido de uma bomba de transferência para a unidade de alta pressão onde é realizada a filtragem do fluído, o mesmo segue por uma tubulação que atravessa o eixo árvore da máquina, passa por dentro da ferramenta e é expelido sobre a superfície de corte com a pressão e vazão necessária (Figura 6). Esta técnica de lubrificação permite refrigerar e lubrificar regiões onde desenvolve a maior temperatura de corte, permite ter também uma melhora no controle de cavaco além de permitir o aumento da velocidade de corte, o fluído aplicado a alta pressão facilita a refrigeração de interface cavaco/ferramenta favorecendo a redução do calor gerado contribuindo também na redução do atrito facilitando o escoamento do cavaco sobre a superfície de saída aumentando a integridade da ferramenta, o fluído quando aplicado de maneira eficiente, reduz-se o ângulo do plano de cisalhamento primário, através de sua atuação sobre o cavaco criando assim uma cunha entre a ferramenta e a peça, devido à alta pressão, o impacto favorece a curvatura do cavaco e consequentemente sua quebra (Figura 7). Figura 6 - Layout de funcionamento sistema de alta pressão Fonte: Machsystem 29 Para Aronson (2004), esta técnica é melhor aproveitada quando se pode aplicar o fluido de corte através do eixo árvore da máquina-ferramenta ou da própria ferramenta, Aronson destaca ainda que a pressão e a vazão também são fatores importantes, pois, a força de aplicação não deve defletir a peça que está sendo usinada. Segundo Bragoni (2010), a utilização deste sistema, permite-se ter um aumento de 30% na produtividade isto é possível, por conta da precisão na pulverização do fluído de corte o calor gerado é reduzido e desta forma é possível aumentar a velocidade de corte. O aumento da vida útil da ferramenta é outro fator a ser levado em consideração, por estar operando em temperaturas mais baixas o desgaste do inserto será menor segundo testes realizados pela empresa CHIP BLASTER ressaltam que a vida útil das ferramentas pode aumentar de 3 a 5 vezes. Rieger (2010), destaca que para se ter um melhor aproveitamento do sistema de alta pressão, a filtragem do sistema é o cuidado mais importante a ser tomado neste tipo de lubrificação. Onde a manutenção dos filtros é a condição básica para o bom funcionamento do sistema a longo prazo, como os orifícios onde escoa o fluído são muitos pequenos qualquer cavaco pode prejudicar os equipamentos que compõem a unidade. Partículas maiores que 30 microns podem acabar desgastando tanto a bomba de alta pressão quanto a bomba rotativa, esta última por manter atrito constante entre as partes fixas e Fonte: Revista Máquinas e Metais março 2016 Figura 7 - Influência do jato de fluído sobre a formação do cavaco 30 móveis pode ter seu selo de cerâmica riscado, consequência disto pode fazer com que a junta fique desgastada causando vazamento no sistema, quanto mais eficiente for a filtragem mais vezes o fluído de corte poderá ser reaproveitado. Para Bragoni (2010), outro fator importante a ser considerado, é a preocupação com relação à névoa que se forma dentro da máquina ferramenta que pode causar sérios danos à saúde do operador, para isto se faz necessário a instalação de um coletor de névoa (Figura 8) que ainda segundo Bragoni é considerado um equipamento fundamental para quem utiliza o sistema de lubrificação de alta pressão. Naves (2011) ressalta que a utilização deste método de aplicação, normalmente é aplicadoa usinagem de materiais nobres como: titânio, níquel e suas ligas devido à alta taxa de calor gerado na formação do cavaco, o fluído aplicado em jatos bem direcionados ele pode ser vantajoso em diversas aplicações. Alguns pesquisadores investigaram a utilização deste método de aplicação de fluído em aços ligas especiais, destes destacam-se Machado (1990) usinando uma liga Ti-6AI-4V e inconel 901, Da Silva (2006) torneamento de uma liga Ti-6AI-4V, Bonney (2004) torneamento de uma liga a base de Níquel Figura 8 - Escopo do funcionamento de um coletor de névoa Fonte: www.MachSystem.com.br 31 Inconel 718, Machado e Wallbank (1994) força de corte e temperatura de corte formação do cavaco e integridade superficial de uma liga Ti-6AI-4V. Ambos chegaram à conclusão que este método de aplicação de fluído a alta pressão, reduz-se a temperatura de corte e consequentemente obteve um aumento considerável da vida útil da ferramenta. Naves (2011) Em contrapartida, Sales [et al. 2011], em sua pesquisa sobre o torneamento de Ti-6AI-4V, concluiu que utilizando uma pressão de 7 MPa conseguiu excelentes resultados pertinentes à vida útil da ferramenta e na rugosidade superficial, porém ao realizar os testes com pressão de 11 MPa, notou-se que com o aumento da pressão, aumentou o desgaste da ferramenta em comparação ao teste anterior, a justificativa para este comportamento foi pelo fato da troca de calor na interface cavaco/ferramenta aumentar, fazendo que a temperatura na zona de corte fique reduzida significativamente, comprometendo a usinagem devido ao encruamento do material. NAVES, 2011 apud SALLES 2011 2.2.3- Atomização De acordo com Walker (2013), a mínima quantidade de lubrificação se define por utilizar uma quantidade muito pequena de um fluido para reduzir o atrito entre uma ferramenta de corte e a peça de trabalho. A quantidade exata de "mínimo" varia dependendo da aplicação, porém a norma DIN 6909-1 determina que para ser considerado MQL, o consumo de fluido de corte tem que ser até 50ml/h, entretanto, em casos excepcionais, essa vazão pode atingir até 150 ml/hora. Ainda segundo Walker (2013), esse valor é um pouco subjetivo e vai depender muito sobre o processo de fabricação, ferramentas e tipos materiais a serem trabalhados. Porém, como regra geral comumente se adota uma vazão de 5 a 80 ml/hora. Diniz [et al 2010], também ressalta a importância da utilização da técnica de MQL que visa uma maior vida da ferramenta quando comparado à usinagem a seco, além de apresentar uma melhora considerável no acabamento superficial em alguns materiais. Segundo Zeilmann (2009) e Walker (2013), existem 3 tipos principais de sistema de lubrificação por MQL. O primeiro sistema é de atomização a baixa 32 pressão utilizando o princípio de funcionamento do venturi, onde o fluído é aspirado por uma corrente de ar e levado à superfície como uma mistura. Esse sistema tem um fluxo volumétrico de aproximadamente 0,5 a 10 litros por hora e produz uma atomização notável, onde partículas de aerossol mede em média 0.5 μm à 5 μm, porém a sua regulagem é grosseira e o fluído se condensa na parede interna do conduto. O segundo sistema utiliza bombas dosadoras com alimentação pulsatória de uma quantidade definida de lubrificante, onde as taxas de fluxo são ajustáveis numa faixa de 0,1 e 1 ml por ciclo podendo atingir até 260 ciclos por minutos. A maioria dos sistemas à base de bombas são modulares, que permitem múltiplas saídas facilitando assim a personalização do sistema de acordo com a máquina ou a necessidade do processo. O terceiro e mais utilizado é o sistema de pressão em que o lubrificante é bombeado para o bocal / câmara de mistura através de uma tubulação independente. No bocal o lubrificante é misturado com o ar comprimido de forma que as quantidades de ar e lubrificantes, podem ser ajustadas de modo independente, este sistema de atomização possibilita um baixo consumo de lubrificantes na ordem de 10 a 100ml/h. De acordo com Walker (2013), estudos realizados na Alemanha destacam que o sistema de lubrificação MQL tem menos emissões de partículas suspensas no ar e é mais seguro, se comparado ao método jorro de baixa pressão. No estudo, mediram as emissões em 3 pontos distintos: Operadores de máquinas; Ao redor da máquina; Dentro da máquina. Os dados coletados, são apresentados na Figura 9. 33 Zeilmann (2009), destaca que para a adoção desta técnica, existe uma criteriosa análise e adequação de todos os fatores que influenciam no processo, como mostra a Figura 10. Fonte: MQL Handbook A guide to machining with Minimun Quantity Lubrication (2013) Figura 9: Comparação de emissões de partículas suspensas no ar entre MQL vs. Jorro de baixa pressão Fonte: Rodrigo P. Zeilmann (2009) Figura 10: Fatores de influência nos processos de manufatura com MQL 34 Zeilmann (2009), destaca ainda, que outra variável do sistema MQL, se deve ao local aonde ocorre a formação do aerossol, que pode ser dividido em dois grupos: a injeção do lubrificante externamente, por meio de jatos separados e internamente através do orifício da ferramenta. Neste caso, os sistemas internos recebem ainda distinção quanto ao número de canais. Em sistema de canal único (single-channel), a mistura aerossol é formada fora do fuso e o canal funciona como rota de alimentação da mistura. No caso em sistema de dois canais (Dual-channel), óleo e ar são alimentados separadamente e a mistura é produzida no interior do fuso como ilustra a Figura 11. Segundo Walker (2013), devido ao baixo custo de instalação e a capacidade de adaptação em qualquer ferramenta, esses são as principais vantagens da utilização de bocais externos. No entanto, existem várias desvantagens: os bocais têm que ser posicionados manualmente de forma que não interfiram com as partes móveis da máquina, além de precisar ser ajustada para acomodar diferentes comprimentos e tamanhos das ferramentas; em furações profunda ela se torna inadequada; existem situações que apenas um bocal não pode cobrir completamente toda circunferência de uma ferramenta (fresas). Walker (2013) ainda destaca que apesar destas imperfeições, um Fonte: Rodrigo P. Zeilmann (2009) Figura 11: Locais de formação do aerossol 35 grande número de máquinas opera com bocais externos, podendo ter bons resultados em operações de serrar, fresamento, brochamento e rosqueamento. Com a alimentação interna (Walker,2013), o lubrificante é transportado através do eixo árvore da máquina, sendo aplicado diretamente sobre a ferramenta de forma consistente e com precisão para o corte. Este sistema é utilizado principalmente em centros de usinagem de alta velocidade. Entretanto este sistema tem como principais desvantagens o alto custo de implementação, que vai desde a máquina até as ferramentas. Porem para ambas as formas de alimentação, o sistema de canal duplo apresenta os melhores resultados. 3- METODOLOGIA Com legislações ambientais cada vez mais rígidas, centros de pesquisa e universidades foram influenciados a desenvolverem processos de produção alternativos. O ministério alemão de Educação e Pesquisa (BMBF) criou um projeto de 3 anos chamado de “Forschung für die Produktion von Morgen" (Pesquisa para a produção do amanhã), que tinha como um dos objetivos estudar o MQL e outros sistemas de lubrificação que deixam menos de 2% de resíduo de fluído na geração de cavaco. O resultado deste estudo reflete na diminuição do uso desses fluídos por parte das empresas como mostra a Figura 12. A utilização desses fluídosfoi de 69 mil toneladas, valor considerado baixo. 36 Neste capítulo, abordar-se-á a forma construtiva do equipamento proposto, onde o objetivo é incorpora-lo à utilização em máquinas ferramentas convencionais e CNC, sendo neste caso através de uma interface própria de comando que capta o sinal emitido quando for acionado, já que os comandos seguem o padrão ISO 1056 (Figura 13) e admitem 2 tipos de lubrificação, uma convencional através de bombas que já são comumente utilizados através da função M8, e uma outra função a M7 que será utilizada para acionar o sistema eletrônico, que podem ser desativados através da função M9, M02, M00, M30 ou ainda diretamente na central. Fonte: Revista Maquinas & Metais Março 2016 Figura 12: Comercialização de lubrificante na Alemanha de 2007 a 2010 37 Para o uso em máquinas convencionais, por ter uma central independente, é possível ligar e desligar o sistema de lubrificação através de botões. Em ambas as aplicações, tanto para o uso em máquinas convencionais e CNC’s, quando acaba o fluído de corte, será emitido um sinal sonoro acompanhado de uma mensagem que será exibido no visor de cristal líquido da central. O sinal sonoro será emitido por duas vezes com intervalo de 1 minuto, então o sistema desliga automaticamente para que o operador complete o nível do reservatório, que poderá ser religado ao toque de um botão. O reservatório foi desenvolvido para ter uma capacidade volumétrica de 750ml, dando ao sistema uma autonomia de até 75 horas para uma vazão de 10ml/h. Foi construído utilizando um cano de PVC com diâmetro de 75mm por 150mm de altura, teve ambas as extremidades tampadas por duas flanges confeccionadas em acrílico. Os flanges além de vedar o reservatório servirão como condutor do ar comprimido para pressurizar o mesmo e também como Figura 13: Códigos M (Miscelânea) pelo Padrão ISO 1056 Fonte: Mundocnc, 2016. 38 condutor do fluido para a válvula solenoide, além de servir de apoio para o sensor de nível, conforme ilustra a Figura 14. A central eletrônica foi desenvolvida exclusivamente para o funcionamento do sistema. A mesma foi construída em uma placa de circuito impresso e programada utilizando o software Protheus (Apêndice A). A programação foi feita através da linguagem C++ e compilada usando o software Mikroc Pro e a placa foi montada em uma caixa plástica e nela foi incorporado a tela de lcd 16 x 2 (sendo 16 caracteres e 2 linhas), botões de comando, conectores para válvulas solenoides e conector que receberá sinal de máquinas CNC’s. Ela conta com funções lógicas designadas para executar tarefas como liga e desliga diretamente utilizando as botoeiras ou através do comando M07 desligando ao receber o sinal M09, M00, M02, M30, além de emitir sinais sonoros e mostrar no visor a mensagem “reservatório vazio”, conforme ilustra a Figura 14. Figura 14: Detalhes construtivos do reservatório. Fonte: Do Autor 39 O ar comprimido proveniente do compressor será ligado a um filtro de ar com regulador de pressão, que será acoplado em um dos flanges do reservatório utilizando mangueira pneumáticas de 6 mm. Será ligado à uma válvula solenoide e uma saída da válvula irá para a câmara de mistura e a outra para o reservatório afim de pressurizar o fluído. Na saída do fluído terá outra válvula solenoide com regulador de vazão, que será interligado com mangueiras pneumáticas de 4 mm até a câmara de mistura, conforme ilustra a Figura 16. Fonte: Do Autor Figura 15: Central eletrônica 40 A câmara de mistura consiste em um bloco de alumínio medindo 38x23x12,7mm (L x C x E), a mangueira de ar comprimido proveniente da válvula solenoide alimenta a entrada 1, conforme Figura 17 e a mangueira com fluído alimenta a entrada 2. Nesta, encontra-se uma válvula reguladora de fluxo Figura 16: Montagem do sistema Fonte: Do Autor Fonte: Do Autor Figura 17: Câmara de mistura 2 1 41 Para determinar o consumo de fluído utilizado pelo sistema de lubrificação, procedeu-se da seguinte maneira: Determinando o fluxo de massa dado pela equação: Onde: Ӫ: Fluxo de massa (Kg/s) m: massa (Kg) t: Segundo (s) Após, determinamos a vazão volumétrica: Onde: Q: vazão Volumétrica (M³) Ӫ: fluxo de massa (Kg/s) 𝜌: densidade (Kg/m³) Para a coleta de dados do consumo de fluído, foram realizados 3 testes utilizando balão erlenmeyer. Em cada balão foram colocados pedaços de algodão para absorver o fluído e em ambos foram medidos sua massa utilizando uma balança analítica (Figura18 a). Ajustado a vazão no equipamento, direciona- se o erlenmeyer para o bocal de aplicação (Figura 18 b), e com o auxílio de um cronômetro, é feita a tomada de tempo. Cada teste foi realizado utilizando vazões diferentes ajustadas diretamente na câmara de mistura. Os dados coletados estão apresentados da tabela 1. Ӫ = 𝑚 𝑡 𝑄 = Ӫ 𝜌 42 Fonte: Do autor Fonte: Do autor Fonte: Do autor Abaixo está ilustrado através das Figura 19a e 19b, as mensagens exibidas quanto ao fim de fluído no reservatório. Amostra Massa (Kg) Tempo (s) Fluxo de massa (Kg/s) Vazão volumétrica ml/h 1 0,0001488 56,28 2,6439*10^-6 9,518 2 0,0003673 55,84 6,5777*10^-6 23,679 3 0,0006913 64,25 1,0759*10^-5 38,7324 Figura 18 a: Medida da massa Tabela 1: Determinação de vazão volumétrica Fonte: Do Autor Figura 18 b: Teste de vazão Fonte: Do Autor Figura 19 a: Nível baixo contagem regressiva. Figura 19 b: Sistema desligado nível de fluído baixo. 43 Fonte: Do autor Fonte: Do autor A Figuras 20 ilustra a posição do bocal de aplicação sobre a ferramenta de corte, e a Figura 21, teste prático do equipamento. Figura 20: Posição do bocal de aplicação. Figura 21: Teste prático do equipamento 44 4 – CONCLUSÃO Após os estudos realizados, ficou notória a importância de se estudar formas alternativas para o uso de lubrificantes na usinagem de materiais, e o MQL se destaca neste quesito por diversos motivos não obstantes somente à quantidade de fluído utilizado em comparação com os métodos convencionais, mas também pelos benefícios à saúde do operador e respeito ao meio ambiente. Como foi visto, os gastos com lubrificantes em alguns casos chegam a ser superiores ao gasto com ferramental. Isso se deve pelo fato das empresas utilizarem grande volume de fluído nas máquinas durante o processo de fabricação, além de toda a tecnologia empregada nos fluídos como aditivos. Entretanto é sabido que o custo do fluído de corte para o método proposto é superior ao do óleo emulsionável (mais comumente utilizado). Ao se utilizar menor quantidade, automaticamente acaba tendo um retorno financeiro rápido mesmo tendo que inicialmente investir na compra do equipamento de MQL. Portanto, conclui-se que o equipamento proposto se destaca pelas vantagens: Autonomia de até 75 horas de trabalho sem precisar reabastecer o reservatório; Facilidade de operação nos modos manual/automático; Pode ser facilmente adaptado a qualquer máquina; Controle de vazão diretamente na câmara de mistura, proporcionando assim uma melhor condição de lubrificação em função do processo executado. Porem apresenta como desvantagem: Em situações, no caso de torneamento que normalmente se utiliza mais que uma ferramenta, se faznecessário ajustar o posicionamento do bocal de aplicação de forma a atender todos as ferramentas disposta na torre. 45 5- Bibliografia ARONSON, R.B. Using high-pressure fluids. Manufacturing Engineering. SME Publications, v.132, n.6 jun 2004. DOBBLELER, B. Otimização do uso do fluído de corte. 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Disponível em <http://www.mundocnc.com.br/basic8.php> Acesso em: 09/10/2016. 46 NAVES, Vitor T., Da silva, Marcio B. Usinagem com fluído de corte à alta pressão. In: Simpósio do Programa de Pós-graduação, 2011., 21º POSMEC Universidade Federal de Uberlândia. SALES, Wislei F., Fernandes, Jorge P., Machado Álisson R.,Mello José Daniel B. Utilização da esclerometria pendular no estudo da performace de fluídos de corte. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica, 15., 1999, Águas de Lindoia. Anais...Águas de Lindoia: COBEM, 1999. TUCHUMANTEL, Thaís. Sistema de refrigeração de alta pressão reduz o aquecimento em usinagem de alta velocidade O Mundo da Usinagem, São Paulo, n. 63, p. 06-10 2010. WALKER, Tim. The MQL Handbook - A guide to machining with minimum quantity lubrication. V1.0.7, 2013. ZEILMANN, Rodrigo P., Vacaro,Tiago, Bordin, Fernando M., Sonda, Vania Processos de usinagem e responsabilidade ambiental através da redução da utilização de fluídos de corte. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2009. 47 Apêndice A – Placa do Circuito Impresso
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