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Capitalismo Contemporâneo, Economia Política

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O “mundo novo” do capitalismo contemporâneo
O mundo em que vivemos, na entrada do século XXI, é muito diferente daquele que despontava na segunda metade do século XX – se, cronologicamente, dele nos separam pouco mais de três décadas, do ponto de vista societário a impressão que se tem é a de que experimentamos um “mundo novo”.
Além de haver surgido um “mercado mundial de bens simbólicos” mercadorias absolutamente novas se generalizaram (pense-se nos produtos e subprodutos da eletrônica, dos computadores de uso pessoal aos telefones celulares), mudaram muito as formas da sua circulação (do comércio disperso aos shoppings centers e, agora, via internet) e hábitos e padrões de consumo se alteraram radicalmente – o fetiche do automóvel foi deslocado pelos gadgets eletrônicos numa cultuta de consumo (Featherstone, 1995). Sobretudo, constata-se que o universo da mercantilização, já amplificado na fase anterior do estágio imperialista, cresceu até o limite do insondável: está longe de o exagero afirmar que atualmente tudo é efetivamente passível de transação mercantil, dos cuidados aos idosos ao passeio matinal de animais domésticos – em “serviços” (inclusive os sexuais) que se inserem na industrialização generalizada antes mencionada.
A velocidade não envolve apenas a circulação de coisas e materialidades, mercadorias e pessoas: as infovias permitem que informações, imagens, sons e toda uma simbologia girem rapidamente pela Terra, agora sim transformada na aldeia global mencionada pelo canadense Marshall MacLuhan (1911-1980), Os recursos informacionais estimulam a constituição de referências culturais comuns, desterritorializadas, e novas modalidades de interação social, que se operam no plano da virtualidade, alteram relações e valores (equalizando, no limite, a guerra aos games). Os mesmos recursos informacionais incidem em domínios diretamente relacionados à vida econômica – os exemplos mais óbvios são aqueles que afetam as atividades bancárias e financeiras (a “volatilidade” dos capitais referidos acima e sua ação especulativa explicam-se também por aqueles recursos). Essa velocidade é responsável pela emergência de uma nova percepção do espaço e do tempo – fenômeno que Harvey caracterizou como compressão do tempo-espaço: “o espaço parece encolher numa ‘aldeia global’ de telecomunicações [...] e os horizontes temporais se reduzem a um ponto em que só existe o presente [...]”.
Se, nos “anos dourados”, as cidades se metropolizaram – na resultante de um processo de urbanização geral que revelou como as forças produtivas comandadas pelo capital “produzem o espaço” (Lefebvre, 1999; 177) -, no capitalismo contemporâneo elas passam por “reestruturações” pilotadas pela “reestruturação produtiva”. Urbanização e suburbanização se mesclam, se confundem e se invertem e são refuncionalizadas segundo lógicas que concretizam processos de apartação socioespacial.
A experiência de um “mundo novo” é sobretudo impactante na esfera da produção. Se a fábrica fordista nem de longe desapareceu, é fato que em setores de ponta os processos de trabalho sofreram profunda metamorfose: além dos novos materiais, “a robótica, máquinas de comando numérico computadorizado, controladores lógico-programáveis (CLP’s), sistemas digitais de controle distribuído (SDCD’s) e demais aplicações da microeletrônica, da informática e da teleinformática” (Ferrari, 2005: 41), bem como as novas formas de controle e enquadramento da força de trabalho, configuram modalidades e espaços produtivos até então desconhecidos.
Justamente essa metamorfose está na base do conjunto de extraordinárias mudanças que sustentam o “mundo novo” – alterações no proletariado, no conjunto dos assalariados, na reconfiguração da estrutura de classes, nos sistemas de poder, enfim, na totalidade social que é constituída pela sociedade burguesa. É, impossível, aqui, sequer esboçar um resumo dos traços pertinentes ao “novo mundo”. Importante e decisivo é assinalar que esse mundo resulta da ofensiva do capital sobre o trabalho e, por isso mesmo, significa uma regressão social quase inimaginável há trinta anos.
A ofensiva do capital, no processo da sua mundialização, não resultou apenas na criação do maior contingente histórico de desempregados, subempregados e empregados precarizados e na exponenciação da “questão social”; nem o anverso do “pós-fordismo” é somente a restauração de formas de exploração de homens e mulheres que o próprio capitalismo parecia ter superado. Igualmente, não resultou só na criação do mito da “sociedade de consumo” nem numa retórica segundo a qual o cidadão consumidor deve ser o centro da atenção das empresas – resultou ainda na realidade das empresas que se valem, através da publicidade, de todos os recursos possíveis para enganar e manipular os consumidores, ocultando o fato de planejarem a obsolescência das suas mercadorias (Haug, 1997).
O capital parece vitorioso: em todas as partes, a competitividade e o mercado se impõem e, ao cabo de cerca de vinte e cinco anos da sua ofensiva, as taxas de lucro voltaram ao patamar dos “anos dourados”, porém, não só as taxas de crescimento permanecem medíocres, mas as crises se multiplicam, pulverizadas e frequentemente sob a forma de crises financeiras localizadas: são as crises típicas da financeirização. E se as megacorporações adquiriram poder planetário, a contrapartida disso é que várias dezenas de Estados nacionais foram obrigados a renunciar a qualquer pretensão à soberania, tornando-se verdadeiros “Estados-anões”.
O saldo da ofensiva do capital apreciado brevemente, explicita as três questões que aparecem como próprias do “mundo novo”: “o crescente alargamento da distância entre o mundo rico e o pobre (e [...], dentro do mundo rico, entre os seus ricos e seus pobres); a ascensão do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica do globo, que nos afetará a todos” (Hobsbawm, in Blackburn, org., 1992: 104). Nenhuma dessas questões pode ser resolvida nos marcos do capitalismo contemporâneo.
Mas o capitalismo contemporâneo, ao exacerbar todas as contradições do modo de produção capitalista, criou também a condição necessária para a sua substituição por uma outra organização societária, capaz de efetivamente instaurar um -sem aspas- mundo novo. O florescimento das forças produtivas, com o suporte de um fantástico crescimento do acervo científico e técnico, elevou a níveis altíssimos a produtividade do trabalho e socializou ao limite a produção de riquezas; as relações sociais capitalistas, conservando a apropriação privada dessa riqueza, funcionam como um poderoso freio ao desenvolvimento social. Constata-se, portanto, que está posto o primeiro requisito para uma época de revolução social. De fato, no capitalismo contemporâneo, “o monopólio do capital torna-se um entrave para o modo de produção que floresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um ponto em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista. [...] soa a hora final da propriedade privada capitalista (Marx, 1984, 1, 2: 294).
FONTE: NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo; ECONOMIA POLÍTICA; Editora Cortez.
Digitação: John K. S. Dutra

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