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1-'· • HISTÓRIA DE PORTUGAL, DlRECÇÃO DE JOSÉ MATIOSO QUARTO VOLUME O ANTIGO REGIME (r620-r807) COORDENADOR: Prof. Doutor Antônio Manuel Hespanha AUTORES: Dr. Pedra Cardirn Dr. António Camóes Gouveia Prof. Doutor Antônio Manuel Hespanha Dr. Nuno Gonçalo Freitas Monteíro Dr." Maria Catarina Santos Dr. José Vicente Serrão Dr. o Ana Cristina Nogueira da Silva Dr. José Manuel Subtil Dr." Ângela Barreto Xavier 111 IIIIl/l 11IJll IIIjll 11/11/111111111 16..:.54 ':.'686 EDITORIAL ESTAMPA . .. I I.' , PARADIGMAS POLÍTICOS E TRADIÇÕES LITERÁRIAS ANTES DE INICIAR A EXPOSIÇ.:i.O dos equilíbrios concretos. na sociedade portuguesa dos séculos XVlJ e XVIII. dos vários poderes em presença, é útil dedicar alguma arcnrào aos modelos mentais com que essas9ciedade se .~E.!".e(':.n.dell ;1 si rn esrn a e a -p:irti r dós quais grupos distintos traçaram as sllasest~;ttêgi3s políticas. . ... . '.EnriqueéeúdOitradicional perspectiva de «biogr afia intelectual» da histó- ria das ideias políticas pretende-se. hoje, averiguar sobre as categorias men- tais profundas - [armas de ver. de nomear, de classificar e hierarquiz ar - que precedem e condicionam a "produção» intelectual dos autores indivi- duais e, por outro lado. sobre os condicionamentos mentais e conjunturais. que entorrnarn o modo de «recepção» social desses autores e das suas obras. A dinâmica das propostas políticas que podemos encontrar nestes .dois sé- culos vive de tudo isto. _Y__!E:lJsj9._en~te,doi5 .modelos muito profundos de apreensão dos tenórne- ,n9s.~ocicais ~UlTI tradicional. qU::',~2!:lfebea sociedade .corno <,corpOll inter- llamcnte,.9rgJl1izado e dot:lcliJ_.~c!eum destino mctafísico (à semelhança do horiiêm);i&o\ moderno. pós-carrcsiano, que explica os movimentos (as esta- .bilidades)"sociais na sua marcrialidadcpurnrnente externa -.parece estrutu- ral' o percurso das idcias políticas nos dois séculos em questão, precisamente porque estes dois modelos incidem sobre os amplos domínios da teoria so- cial e polírica, como a origem da sociedade política. a sua «consticuiçâo», os limites do poder da coroa (e. dentro deste tema. as relações entre igreja e coroa), sobre as formas de governo. Sendo pr ojccros alternativos de sociedade e de poder. decorrem. no en- tanto, de uma tradição largamente ~.9.rp.um. O universo literário dos juristas seisccntistas e sctccentisras era composto por obras (de teologia. moral, direito e,· mais tarde, política) de juristas e teólogos.' Daí -q'lle nos tópicos ocorrentes em ambos se encontrem mútuas contaminações: . . ·Em· todo o caso, quando nos apro ximarnosdos finais do século XVIll (em Portugal, sobretudo a partir da reforma pombalina da universidade). o corte no piano dos par adigrnas das doutrinas sociais e políticas tende a projectar- -se num corte no plano da própria tradição literária .. p.Q.~outras palavras,. os ,imoélerrios» tehdem·. J·le[coj'5à·s··9rfeieíi.ies=d()s~(,tradiGié)!1ais)). Estes conti- nuam a cultivara. doutrina política tardo medieval e pr irnornoderna.: de onde estavam interditos os "políticos ímpios e imorais" (como Maquia vel. Bodin ou Hobbes) e postos sob suspeição alguns políticos «idolarradores de tira- nos» (como Tácito), c, na segunda metade do século XVlIl. acrescentam às exclusões 05 cultores de ideias liberais Uacobinos), «materialistas» e «epicuris- tas», que reduziam à utilidade a fundamentação dos vínculos sociais, todos eles rlora vante incluídos nos lndices [jbrorlllll proliihitorum. Os modernos vão ex- cluindo os teólogos. os rratadistas da lógica e da dialéctica escolásrica (a "ló- gicJ Carvalha». J dialécrica do Curs[J [oJljlllhricellse), os juristas do período do ius WIIIJl/III1I' clássico (os «ba rto listas». ou «praxisras rançosos»}, e vão lendo não só os matemáticos e os cultores da "boa lógica». carrcsianos ou leibnizianos, mas ainda os novos juristas jusracionalistas do Centro europeu (sobrerudo holandeses, alemães e austríacos) e os cultores da «pol it ica» e da «ccorio m ia ». ou mesmo os polígrafos e publicistas dos ilu minis rnos trances. italiano e germ5nico. A «rnilitâricia» das indicações bibliográficas (ou das «nutor idadcs») de Luís Antonio Vcmey (Verdadeiro método de estudar ... 19.J.Ó) ~ Angela BaITeto Xavler . l e .~1tónio\Ianuel Hespanha { 1 <J Pâzina do Tesouro da Nobreza, de FrJ'ncisco Coelho (ANTT, Lisboa). FOTO: /IRQU1VO CÍRCUlO OE LEITORôS I A sociedade moderna concebia-se C1 si mesma com o um corpo. A sua constituição proviria. tal como o do corpo, d.i natureza. A vontade. quer do rei, quer dos súbdicos reunidos, n â o J poderia alterar. Os diversos órg:ios so ciais (farnilias. Igreja, cornunid.rdcs. grupos profissionais) teriam. cal como os órgãos do corpo, uma extensa capacidade de aU[Q- -regubmcnt:,ção, Esta constituição podia ser lida na cradiçio, 11:1 histó ria, tal como" consriruiçâo do corpo ele cada homem pode SCf lida, na 5\1:1 "história clínica u , A política era, então, um saber gémco da medicina. pelo q~c as imagens tiradas 11JS obras dos médicos c dos tisionomiscJs fecundavam. con t inua mcritc. a reflexão sobre sociedade. Na grJvura. ilustra câo do livro de G. B, Dclla Porra, DeI/a fisioll(ll/:ill ddl'lIll1l1C> (cd. ele IÓIO.·BN, Lisboa), obra lla quai se rcorizavam :1S rclaçócs entre o aspecto tísico c o rcrnpcrurncnro. FOTO: BN. Lisboa, " A ARQurTECTURA DOS PODERES do Conipcndio histórico da Ullivcrsi'dl1dc de Coimbm (1770), dos Estauuos da UI/il1t'l'sidl1dc (1772.) Oll de juristas como António B. Elescano de Aragão Morais iDcmcni» usotierno .. , , Lisboa, [785) ou P:Is(oJI de Mclo (InstilIlCiollcs iuris ál1ílis (c criminnlis } IIlsicilIli, Lisboa, 1789] é típica deste corte. Esta scpar açào do universo das leituras e a progressivJ hcgc rnoniz acáo do campo ela pro.lucâo da dou trina política pelo moderno vai ser dccisi VJ, pois, por um lado , reduz ao silêncio c ao esquecimento o formidável apare- lho tradicional de produção de ideias (citas sobre a sociedade e o Poder e, por outro, institui o moderno numa também forrnidá vcl máquina de pro- dução e difusão ele esquemas de compreensão c de raciocínio sobre os tcnó- menos sociais e políticos. [Vias, se estes acontecimentos no mundo dos esquemas mentais e dos apa- relhos instirucionais e discursivos que os produzem S30 importantes, tam- bém o seu contexto não discursivo o é, Neste plano, insiste-se usualmente na força dctcr rn inante dos fJctores so- ciais e económicos na gest.1ç50 e difusão das doutrinas sociais e políticas. rcndcndo-s c a apro xirnar o par adig ma moderno, geométrico, jusracionalisra das aspirações de certos estratos burgueses, "capitalistas» e progressistas; e associando o corporativisrno às «forças conservadoras» dn sociedade, Em con- U apartida, aquI, :J.. ,1l}~~li~edo contexto nâo dlSCIHSIVOincidirá sobre a lmpor- rância conforll1;)dQ! a_.qu~ ~i\;{ram ccrtás cirCUIlSt3I1Ci,lSdo ambiente político 110', / .. surgimento. fortuna ou Iriil:iiçãó 'de deter minadas idelas. Destacam-se. cori- ó'Ctanlcnt'e;"osEl'úos-p'ülíticos ,da Restauraçáo, a crise de r667 c: o atentado i i c?_ntrat~],?;ç-C:~:~brãligcnd6' ~n~Scis 'os'sécü!os, a censur; inquisirorial e polii:i(j:~.~~.!.1]"c:()!no? p~rr;l:\!lênci~1 até ao terceiro quartel do século XVIII da 'õroemJurídio c institucion al xio Ai1tigci8::gi,rI},c.,Ça~a um destes factos úioiJ"lIn~";mbicntcpolírico Favo r.ivcl ao desenvolvimento decerras doutri- .nas e, em contrnparjjdn. inibitório de outras. Passemos, primeiro. a uma breve descrição dos dois gr:tndes pa radig mas políticos da época moderna - o corporarivisra e o individualista. A CONCEPÇÃO CORPORATIVA DA SOCIEDADE EM TRABALHOS ,\NTEIllORES (norncadamcnrc Hespanh a, [989J, GIp. !I[, n." I) foi sintetizado, de forme válida, 0l2aradigmJ cor po ra tivo. Nos pará- grafos seguintes retoma-se, sinteticamente, essa c'xpO'sição,'" O pensamentO social e político medievalé dominado pela ideia da exis-- tência de uma ordem univcrsalfcõsmos). abrangendo os homens c 3S coi- sas, que orientava rodas :15 criaturas para um objcctivo último, que o pensa- mcnro cristão identificava com o próprio Criado!'. Assim, t anro o mundo tísico como o mundo humano nâoernrnexplicávcis sem a referência a esse fim que os transcendia, a esse t cl os, a eSS:1causa fir.l~1(para utilizar uma irn- pressiv.i forrnulacâo ela filosofíJ;ristotélic;;J;~õ--q-úe os transformava apenas na Cace visível de uma realidade rnais global, cujo (re)conhecimemo era in- dispensável como fundamento de qualquer proposta política. POI' isso teve cnrào r.mto cxiro um texto do Dioesto, que definia a prudência do direito (que, cntâo , desempenhava o papel de reoria política) C0l110 urna «ciência do justo c do injusto, baseada no conhecimento das coisas divinas L' hurn a- nas» (dil1il/(//'!oll atqin: ltIlI//O/lafloll rCi'1!/11 notitia , iusti atque in nist] scicutia, Oi- SCSI(1, I, I, 10,2), Por ourr o lado, J unidade dos objectivos da CrIação não exigia que 3S CUl1- çócs de cada uma das panes cio todo 113 consecução desses objeccivos tosse idêntica às outras, Pelo contrario, o, pensamento medieval sempre se manteve firmemente ag3rrado i idcia de gue cada parte do todo cooperava de forma diference 113 realização do destino'cósmico Por outras palavras, a unidade da,criJc)o eLI urna «unidade' de6rdenação>l (1Illilas ordiuis, totuu: univcrsolc ~;~<iill(/C!illl) - tIL seja, uma uI~'idade em 'virtude do arranjo das partcs em vis- ta de um fim comum -.9ll.e nào comprometia, antes pressupunha, a espc- cificidadc e irrcduribilidadc dos objectivos de cada urna das '<ordens da cria- ç50 e. dentro da espécie humana, de cada grupo ou corpo social». 122 A REPRESENTAÇÃO DA SOCIEDADE E DO PODER Ligada a esta, a idcia de indispensabilidade de todos os órgãos da socieda- de e.logo, da impossibilidade de um poder político «sirnples». "purol), não partilhado. Tão monstruoso corno um corpo que se~rêêflizisse à CJ bcça, seria umâ'iiociedade, em que todo o poder estivesse concentrado no soberano. O Poder era, porll:l.t.~lE~za.,(ep:J.Ctido;e, numa sociedade bem governada, esta partilha natural deveria ..traduzir-se na autonomia político-jurídica (ivris- diciio) dos corpos sociais. emboraestáautonomia não devessedestruir a sua 'àrriêUlàçãõnúuj~;íl~~Iê(iJlãereTJliâ,ordó·,·di.iVósiiio IlQwrae) - entre a cabeça e a mão deve existir o ombro e o braço, entre o soberano e os oficiais executi- vos devem existir instâncias interrnédias. A função da cabeça [cap ut} não é, pois, a de destruir a autonomia de cada corpo social {paniun: corporis operatio propria), mas a de, por um lado, representar externamente a unidade do corpo e, por outro, manter a harmonia entre todos os seus membros, atri- buindo a cada um aquilo que lhe é próprio (il/5 5l1!l/ll cuique tribuendi], garan- tindo a cada qual o seu estatura ("foro», "direito», «privilégio»}; numa pa- lavra, realizando a justiça. E assim é que.a realização da justiça - finalidade que os juristJ.s e polirólogos rardomcdicvais e prirnomodcrnos consideram como o primeiro ou até o único fim,ªg,pqdqpolítico - se acaba por COI1- fqn.Çl.i.r.,c9m a manurençâoria 'àrcl.el:TI.social e política objccrivarnente estabe- lecida. ... --"Por outro lado, faz parte deste património doutrinal a idcia, já antes csbo çada, de que cada corpo social, como (;J,da óégã,ocprporal, tem a sua própriafunção (offi'dillíi),de'rií6do Cj\!e~ac_ada corpo deve ser conferida a 'al!,t9_ri'?IT1ianecessátia para que apossa. desempenhar ["deIJel (. .. ) quií ihet in SIlO gradtl dClJilall1 liabere disp ositionem et operationem»; Pralomeu de Luca, officium Regis, ofncium Capitis. EM'BLEMA XIII . En Caput: bLCOp(fi:xj0!lus Nútura locecuit; Et toto jCJlus corpete taâus in.cJl. " Sic Caput Impe.rf~ Populi cui. corpus obedit, Gujtttt pro cunciis , úypicit, audit, det, , : "A função do rei e a função da cabeça I) (Francisco António Moracs de Campos, Príncipe perfeito, Bib, Nac. do Rio de Janeiro. [790). A obra de que se extraiu esta gravura constitui um exemplo (já bastante tardio) de um género muito popular da literatura política moderna. Tal corno nos antigos hieróglifos, por meio de um desenho exprimia-se um conceito, neste caso da política. Aqui ':.xprime-~e _a idcia de que «3 função do rei c a função da cabeça». Ele constitui a parte "sensitiva» da república, residindo no resto do corpo apenas o sentido mais rude e imediato do «cacto». Ao rei cabe, portanto, garantir a harmonia do todo e zelar pela sua conservação. Mas não lhe cabe, em contra partida. chamar a si todas as [unções dos membros. Embora, progressivamente. se vá dando cada vez mais destaque :i função da cabeça, esta metáfora sempre apontou para uma concepção limitada do poder régio que. DI como a cabeça, acenes rcorcscnra simbolicamente o· corpo, 'não o podendo, no entanto. substituir nas suas funções. t I I 1 I I l l i !', 00 o -:o!unrar:s:no à2 :..scc~:.~:.:.:;;::.-anmCat1d, estabeleceu-- =~~2.5 c-= :.:rr~a cconsrruçâo da- :~::-:-:::?::::::::a e juridica. em que, _. :::: "':::12 2:r:icid funC::imCiltJ.i ~:~~~:~~~~~~=~~~JL 2 -õ_=-': . .:: = ::':;::-0 ::::1 iJ.rí1 já . .1 ascirumtc da A ARQUITECTVRA DOS PODERES o f''g . orinci .. vol. n, P: 231. A esta ideia de autonomia funcional dos COf- pos anda iz ada, como se vê, J ideia de autcgoverno, que o pensamento ju- ridi medieval designou por iurisdictio e 113 qual englobou o poder de Cncr leis e estatutos (poleS!aS lc»: ac statuta condcndi), de constituir magistrados (po- testas m,.:,.:isirr1l!lS coustituendi ) e. de um modo mais geral, de julgar os confli- tos {pai '-Ias ius diccndi) e de emitir comandos (potestos praeceptiva}, Por fim, saliente-se a idcia do caráctcr natural da constituição social. Da- qui decorre a natureza indisponível das leis fundamentais (a «constituiçâo») de uma sociedade (de uni reino), pois estas dependem tão pouco da vontade como J fisiologia do corpo humano OLla ordem da Natureza. Como escre- vc Manuel Rodriguc5 Lcitâo, pelos meados do século XVII {Tratado a/wlytico c apologe1i((J. publicado em 1715), «há-de haver leis, que presidem aos ho- mem. que isto é dar a presidência J Deus; não hão-de presidir os homens com seu arbítrio à lei, c à razão, que isto é dar a ,Presidência às feras, à cobi- ca, J ira e às paixões, como disse Áristótcles". E certo que soberano ..~_Yªs- salos podem temporariamente afastar-se das 1~"l.s··iNtllraís--Cle·c)raenação so- ~í~Lpela tirania 011 pela rC.".ClIlIÇ.~l)dn:ts9JIlauboVernQ,- contra O qual as próprias pedras c1amar3o·,-·(sclnpre um episódio político passageiro. O que cipovos jãpodcrâo .~.eleger - emborack·ocorclo, também, com caracre- rís-tic:is' objccrivas d~s ,':a;:;;15 naçôes - as formas de governo. A monarquia, .ª aristocracia, a democracia ou qualquer forma de governo misto, prove- mente do cruzamento destes 'regimes-tipo referidos por Aristótelcs. Como pódérncxplicirare -adaptar às condições de cada comunidade, através do di- reiro civil (ius civi!e, isto é, do direito da cidade). os princípios jurídicos de- correntes da natureza das sociedades humanas (ins naturalc), Mas a cqnsti- cuiçâo natural conserva-se sempre CO[11.9:.Llmcritério superior para aferir J legitimidade do direito estabelecido pelo Poder, sendo tão vigente e positivo como este. Nestes tcrrnos..o direito ~ todo ele, mas sobretudo o natural e-> desempenha uma função con·~;tit~c~onaL Impõe-se a todo o poder. Não po- .de o~l,.pçlQ.rnel1o·s,.l1ão.devLseLalter:àPO: E isto porque se funda nos prin- cípios necessários de toda a convivência humana lalfectio societatis J- . Enão porque se fundamente nU\11pacto primitivo, ou um pacto histórico estabe- J.ecido;por(!;{emplo,ern.cortes, cornosupôemos .historiadores .que ...sobre- valorizam~o:~(Pa.<:tis.l2lOj) medieyaróUrii.9:Q,S.wo. Pois, para a doutrina políti- cacorporariva, não é o pacto que fundamenta Q.dicçito, mas é antes este que !1:!1~~,a_,.{)brigatoriedade dos pactos. Como não é o pacto que limita o Poder, mas a lirnitaçâo or iginár ia dos poderes que obriga a pactuar. Nos sé- culos xvn e)(VIIl, conceitos políticos como este tinham um enorme impacto polêmico. Não apenas contra as doutrinas voluntaristas e contratua listas da origem do Poder, a que nos rcfcrirhos, mas também em relação a uma prá- tica política guiada pela busca, por quaisquer meios, da utilidade e da vanta- gem política. Tais eram nâo só as propostas teóricas dos "políticos» ma- quiavélicos, como a prática dos alvitristas Ide alvitre; arbirrilll11), inventores de expedientes para re·àliZ:i~·a utilidade (normalmente financeira) da coroa. Em virtude desta função constitucional do direito, toda a actividadc polí- tica apncce subsurnida ao modelo «jurisdicionalisra». Ou seja. toda a activi- dadc dos poderes superiores - ou mesmo do poder supremo - é tida como ·orientada para a resolução de um conflito entre esferas de interesses, confli- to que o Poder resolve "fazendo justiça}), ou seja, atribuindo a cada um o que, em face da ordem jurídica, lhe compete (Slllil/l CIIiqlle tribuere], Daí que, na linguagem jurídico-política medieval, a palavra que designa o Poder seja iurisdictio, Iurisdictio é, antes de mais, o acto de dizer o direito, A erupção, no plano d:J teoria filosófico-social, destas concepções teve correspondência no domínio da dogrnática jurídica. Aí surgIram novos ins- trumentos conccituais, que permitiram justificar, do ponto de vista dourri- nal, e regular, do ponto de vista insriru cio na] , novas realidades sociais e no- vos arranjos de Poder '. O car.icrcr aparentemente «técnico» de algumas destas novidades iurid icas não nos deve engarur quanto ao seu alcance político, pelo papel central que elas têm como investimento simbólico. Na verdade, cs doarnã i d é o meio através do qual a auto-representação da sociedade cio ."'r.ci6o Rc irne assegura a sua reprodução política alargada. De facto, não 5~ (:-ao de ropo- 12.1 A REPRESENTAÇAo DA SOCIEDADE E DO PODER ~- ~ ,.:...à ••• 2,·i>:L· 1 O A N N I S .J ,-iJ~)"arJ. A TVRRE CP"EMA TA o R D I N I S PR AE D I C AT OR V M SABINENSIS EPISCOPl oAe .r. ':8... E. 'PR..r.ES'l3IT E R [ C ARDI NALIS doilOrútj, cm;n:núfom"IJuLr ponrificiJ acfocroftnéil.lJ)(olat:,h mtrrprrtu .:..rc;Qlflij1Imi. , \" Cl P R [ M v M V O L V M E N C A V S A R V M -;;:/0.- ,:-r~.- D o C T ~ ~~~: SCe::t~~Eu:.TA n, 1 I. c~,;;[ L- 9..!;id':Jrràb., f"J11rtTTU noJlra ,diti,nc pnJ7i/rrim'u -ut longe onmd. ••tir-ru ..J~:""'ch"c imprcfiJ tn lJ."",-, prrubrcnLfori/c "'gnrfcrt '!'ú cum 'Ü((atPUI ,xtmptAnbJlJ cont ulrrit , Acccfsic prretcr ea lndcx locuptcufsimus: sições meramente especulativasquanto ao ser da sociedade: trata-se, antes, de proposições doglTlát!~as~··_qüe pressupôemuma verdade e se destinam 3 modelar normativamenrea-sociedade. Através delas, e das regras concretas 'acerca do governo' da cidade que delas continuamente se desentranha, a imagem corporativa insritucionaliza-sc, transformando-se numa máquina de reprodução de símbolos, mas, mais do que isso, de permanente acrualiz ação desses símbolos em normas jurídicas efcctivas e, logo, em resultados pr áti- co-institucicnais. Resultados" estes que, por sua vez, de novo recorrem ao esquema reór ico-dogrnárico para se legitimarem, num permaneme e inter- minável jogo de reflexos. o PARADIGMA INDIVIDUALISTA EMBORA SE LHE POSSAM ENCONTRAR antecedentes mais recuados (oposição entre estóicos e aristotélicos. entre agusrinianismo e rornisrno). a genealogia maisdirectad~paradigma individualista deve buscar-se na escolásrica fran- ciscana quarroccncista (Duns Scotto. 1266-130E, e Guilherme dOccam, 1300-C. 1350). É com ela - e com uma célebre querela filosófica, a questão «dosuniversais» - que se põe em ~~4yiçl_a_5enãoé.legítimo,nJ compreen- são da sociedade. partir do indivíduo e não dos grupos. Na verdade, passou a entender-se que aqueles atributos ou qualidades que se predicam dos indi- víduos (ser paler famílias, ser escolar, ser plebeu) e que descrevem as relações sociais em que estes estão integrados não são qualidades incorporadas na sua essência, n50 S30 «coisas» sem a consideração das quais a sua natureza nâo pudesse ser integralmente apreendida - como queriam os "realistas». Antes sendo meros «nomes 1). externos ~ essência, e que, portanto, podem ser dei- xados de lado na consideração desta. Se o fizermos, obtemos uma série de indivíduos «nus.', incar acrer ísticos. iricer mur ávcis , absrracros , «gerais», iguais. Verdadeiros átomos de uma sociedade que, esquecidas as tais «quali- dades» tornadas descarrá vcis. podia também ser esquecida na teoria social e política. Estava quase criado, PQ!:' ~~.a discussão aparentemente tão absrrarra , um modelo intelectual que iria presidir a roda a rcflexâo social durante. pelo lT)enos.:õs.·dois últimos séculos - O indivíduo. absrracro e igual -. ao mesmo tempo quedesaparecia 1 do proscénio 35 "pessoas concretas». liga- das essencialmente urnas js outras por vínculos naturais c, com das, dcsa- pareciam os grupos c J xocicdade. Para se completar ;J rcvolucâo intcicccual da rcoria política moderna só taltava desligar -;j sociedade de C!:lÍ cr realidade mcrafisica. laicizando a Embora castclhano, Suarez vive em Coirnbra desde 1596, onde. incorporando influências diversas - algumas de lentes pormgucses. como Francisco Rodrigucs e Francisco Dias -, ensina (desde 1601) e publica (em /612) o seu famoso tratado D~ legibJ15 ac Deo fegislacore. Com dinheiro da Univcr sidadc, adquire um apreciável conjunto de livros jurídicos, que detém em usufruto, enquanto vive em Coimbra. Um deles é o reproduzido na gravura que ostenta no rosto um ex libvis manuscrito do famoso teólogo ("Da livraria do P.' Ooarcs. Colégio de Jesus, Co imbra •.). (Biblioteca do autor.) A ARQUITECTUHA DOS PODERES i ! teoria social e libertando o indivíduo de quaisquer limitações transcendeu- rcs, Essa revolução levou-a a cabo um novo enrcndimcnro das relações en- tre o Criador e as criaturas. A tcologia tcrnisra, sobretudo através da «teoria 'das causas segundas» - ao insistir na relativa autonomia e estabilidade da ordem da criação (das «GIUSaS segundas" em relação ao Criador. a «causa prirneira») - garantira uma certa auronornia da Natureza em face da graça e. conseguentemcnte. do saber temporal em face da fé. Mas foi. paradoxal- 'rneme. uma recaída no tideísmo. na concepção de urna completa dependên- cia do homem c do Mundo em relação à vontade absoluta c livre de Deus. que levou a uma plena laicização da teoria social. Se Deus se move por "im- pulsos» (teoria do unpetus, de raiz cstóica), se os seus dé?sígni.Qs s;'í.o,insondi- ,v,~.i.?,_.nãoresta outro remédio senão tentarcorripfcéuder" (racional menre ou por observação crnpírica) a-ordem do MUflçLq..l1ªs_suas.r:nal}if~.~g.çôes pura- mente ~xt.exna~, como se Deus não existisse, separando rigorosamente as verdades da fé das aquisições inrelecruais. E justamente esta lnicização da teoria sociaL::-7~ le\l.ª4~.,;!..~a~g p()10 _P,~.QS,~.lIV;.n~2.jllrt9.iççt~., 8ºJi~Ü;(U;k~º,e,H.C:trócio, a Hobbes - que a liberta de todas as anteriores hipotecas à reologia moral. d6~iesmo passo queIibéftaósindividuos de todosos vínculos ernrclaçâo a outra coisague nâo-scjarn as suas evidências,racionais·c ..os -scusjmpulsos naturais. reconhecidos por uma longa tradição antropológica de raiz csróica [eL 'I' .. ~., "1/1od QlliSq/lC o I,! unciarn colpOl'is sui [ecent, jure [ecisse cxisliIllClllI'j) (comi dera-se feira de acordo com o direito tudo aquilo que alguém faz em defesa do seu corpo). Dioesto. I. r. 3]. Esta laicizaçâo ua teoria social e colocação no seu centro do indivíduo. geral e igual. livre e sujeito a impulsos naturais, tem consequências centrais para a compreensão do Poder. Apartir daqui, este não pode mais ser rido como fundado numa ordem objccriva das coisas; vai ser concebido como' fundado na «vontade» .. Numa ou noutra de duas.perspectivas. Oq;na vou- I~ pde soberana.d.:[)el.~s, manifestadanaTerra, também soberanamente, pelo seU-lu'gar...:rerlcnte':"""" o"riríl1êipe' (providcncialismo, direirodivino dos reis). " 'Ou pela vontade dos homens que, levados oupelosperigos ..e insegurança ., da sociedade natural ou pelo desejo de rnaxirnizar a felicidade e o bem-estar. instituem r- poruirn: acordo de vontades,.:P.QLUm,,,,p,acto», a sociedade civil {contratualisrno): A vontade (e não um equilíbrio - ratio - preestabclcci- do) é. também, a·origeí11·ç!,():.~direi'to. Guilherme dOccarn descrevera-o ou como o que 'Deus cscabelcccu nas Escrituras. ou como o que decorre racio- nalmente de algum pacto. E. laiciz ada a teoria jurídica, Rousseau definirá a lei Como «une déclaration publique ct solcrnnelle de Ia vo lo nté générale sur un objecr dintcrét cornmun» (Lcttres étrites de Ia 1I101lWg1lC. vol. 1. p. Ó}. Peranrecste volunrarismo cedem rodas as limitações decorrentes de uma ordem superior J vonradeIordcrn natural ou sobrenatural). l\ constituição e o direito tornam-se disponíveis e a sua legitimidade niio pode ser questiona- da em nome de algum critério nor marivo de mais alta hierarquia. Daqui se extrai (na perspectiva providcncialista) que Deus po de enviar tiranos para governar os homens (pecadores. empedernidos), aos quais estes devem. apesar de tudo, obedecer. Extrai-se também que as leis fundamentais, como todos os pactos. SJO disponíveis. isto é. flCtívcis c alteráveis pelos homens num dado momento histór ico. E. finalmente. que rodo o direito positivo, bem C01110 todas as convenções. enquanto produto dirccro ou indirccro de j.1acc.Qs._são justos. O que: corno' logo se vê . .: o fundarncn ro do moderno individualismo. Note-se. no ent auro, que ;i·:idei:lde um"p3C'tOna origem das sociedades civisnãoera estranha :. teoria pohricat radicional+Só-que ..estepacto apenas detin1a:l· forma de gO\TF-no '(qucAristóttlts'considcrara rnurávcl). n50'já.a forma depqflc.r.,--E._iT'~CSmO .aquelavuma-vezestabelecida. consolidava-se em direitos adquiridos t ium=radicata ) impossiveis-denlterar. E note-se. por ou- tro lado. que J!gU;-J1J CO,Te,][C menos radical do pens;J!1lenro político indivi- dualista (norncada men tc Sarnucl Pufcndorf, 1632-1(49) procurou temperar o volunrar ismo corn JlgllJ S ingredientcs objcctivistas, considerando que. urna vez instituída J sociedade civil. J própria natureza desta impõe aos i;-J- divíduos direitos ~ue. ?O .sso que são - direitos-deveres (l:Oiriaj -. eSCJ- pam JO arbicri ';] vontade; como lhe escapam aquelas normas qu' 'ncm A REPRESENTAÇÃO 01\ SOCIEDADE E DO PODER i , parte da natureza mesma de urna sociedade (como as que definem o que c o Poder e quais são as relações entre principe e súbditos). Para além destes pontos comuns. O parndigrna individualista e voluntaris- ta na coriccpcãoda sociedadeedo _PÇ~_clSr.dcsdobra-sc:cm,.ccrtas correntes ti- .picas. f . .' 'Por u rn lado.ino «providcncialisrno» , que concebe o Poder como produ- to da livre vontade de Deus_~c~:;.:t:.rc:i~,~clana Terra pelas dinastias reinantes, -Qllc:lssim e r:úTi-r'e \;esrÍeEli-cl e uma clignidac!e quase sagrada; 'que as aurorizn- va-riâo.cs ó ••• a exercer. llrÍlpodCi-''(emporal ilimitado; -rnas-ainda a rutclar.vas próprias igrejas l1ai:i6nái5'(gâii'c~nism.9), A sua expressão mais caractcrfstica é a do pensamentciJ.b501~ltist-;i'TrJncês (jacques-Benigne Bossuet [1627- -1704]. Politinuc tiréc de l'Ecriture Saillle, 1709; Cardin Lc Bret [15S8-165S], De Ia souveraineté du n>i, de SO/l doniainc et de sa COIO'OlIl1C, 'j"Ó32; Armand-Jean du Plessis. cardeal de Richclieu [1585-1642], Ménioires, niaximcs ri pnpicrs d'Élac. Tcsla/IJCUI jJt1/iriqllc), mas aparece também numa célebre obra de Jai- me I de Inglaterra (r 566- r (25), The (me law oIJi-ce monarclties, 1598; Basili- lion daron (1599). J que Francisco Suarcz (r 548- r 6 f7) respondeu. do lido do ,pensa m cnro político tradicional (De(l'IIsiv Jidá cathotiou: .. " Coirnbra, 1 <i 1 J)~, . -, Por outro lado. no «contr arualisrnoabsolutjsta». ..que concebe o pacto so- cial como transtcrilldi:l,-p:i:r;i--9S.go·vcrnanrestodos os- poderes dos cidadãos, e corno definitivo. Esgotando-se os direitos naturais naqueles transfcr idos c Q$C:i,,?t:.rec(:úilíccendo outra tome válida de obrigações (nomeadamente. a re- ligião), o soberano ficava, então, livre de qualquer sujeição (a não ser a de manter a- forma geral e nh.rracta dos comandos, o que distinguiria o seu go- verno da arbitrariedade do governo despótico). O nome exemplar é, aqui, Tho rn as Hobbcs (1588-1679, Leviatlian ... , 165 T), numa versão em que o ateísmo prático foi limado c em qUE, apesar de tudo. subsistel11'o.fficia in- derrog:íveis, mas em que o absolutismo é mantido; daqui se aproxima também Sarnucl Pufendorf (De officio lioniinis ri civis prout ips! procscribuntur lege naturali, 1(73) que, por isso, se torna a cartilha dos regimes absolutos europeus, Por fim, neste quadro apenas sinóptico,o «contratualisrno liberal". pJra , o qual o conteúdo do contrato social estaria limitado pela natureza mesma .dos seus objcccivos - instaurar uma ordem social c política maximizadora 'dos instintos hcdonistas dos homens. pelo que os direitos naturais permane- cerram eficazes mesmo depois de instaurada a sociedade civil. mantendo os indivíduos «rhr. suprcrnc power to reverso _or alter thc Icgislarivc, when }hey find chc lcgislative act conrr'úy::to_ 'thc-chrust reposcd in rhern» Oohn 'Lo'ckc:--Oll cil'il,t!(ll'crllilll·/IC"(690;'·XIll), Por aqui alinham, além de J. Locke (1632-1704), J.-J, Rousscau (1712-1778):--. ..' o CORPORATIVISMO DA SEGUNDA ESCOLÁSTICA EM ESPANHA. EM I?ORTUGAl E N/I ITAuA, circunstâncias varias de natureza eSfrútu-~;r~-conjunrurai promoveram uma mais longa sobrevivência do pensa- mel~f6j)Ql(iii:9 ~co~por~ti VO, Facrorcs esses que - mais do que o prcdorn í- 1116 de um "estilo n : como querem alguns (que. de resto, parecem CqUI- .vocar-sc pr ofundarr.cnrc quanto ao que seria o «barroco» no pensamento político') - cxplica rn o franco-preriominiodo corporativisrno até aos mca- dos do século XVJ!. .. .. .. .. A estreita vinculaçâo do pensamento político seisccntista português às concepções corporarivas na sociedade foi já rcalçada por Martirn de Albu- querguc e Luís Reis Torgal '. 'este texto, retomam-se JS suas conclusões no qucrcspcira JO século X':!I, procurando-se detalhar um pouco mais a evolu- ção dos períodos joan.no e joscfino. A.idciad.:l~.1l1ediaç;;o popular é.,. de longe, ;1 mais comum na literatura P.9- Iftic;t .ponugu~sa~<5ç(':n.,-S_t2: Logo em )6;'7. 'übreITi"-liriú.'imprcssiva tradu- ção naLey rc.{!iade POT:lgd ,\1 Iadr id. rÓ27}. em que Joã.g SalgJ9.9 A~,::\raújo. invocando J autoridade do cardeal Bcllar mino, de Francisco-de Vitória e de Azpilcueta Na varro. explica 2 origem do poder civil e-dos direitos dos reis "a 127 ./ / " Trotado .Hlhn' (1 S{l(Jcrl1o da Rrpúblicn cristâ, de Bapristn Fragoso (1559-1(,.19). Uma das obras fundamentais do pensamento jurídico-político da Segunda Escolãscica cborcnsc, na linha dos cnsinarncnros de Francisco de Vitória. Francisco Suarcz c Luís de Molina. rarnbérn ele professor de Évora, Tratando do "gO\'t:rIlO da república ». Fraaoso nâo deixa de incluir aí o governo da Igrt:ja e o governo da t:lmilia, Ou st.:ja, ordem sobrenatural. ordem da cidade t.: ordem da família aparecem aqui lado a lado, como se tivessem a mesma natureza. R. P. ,BAPTIST 1E FRAGOS! SQCIETATIS JESU, SYLVENSIS EX •••!.. G A JI.B 1o L.U 51T A N "t, REGIMINIS REIPUBLlC&: CHRISTlAN&: • .u.t~l"O&tJ'{~ic. '1"0 M U S P R J ~I U S, gr Ql:O. @.L ~ IoUOUTU1t1VW CITIllVIoI C.CII.U.4T1IlWl'll.,-.,.......-.11_.-- ....- , e t r •.• rI. tI f ~.(rJJlr , •• r •• 1:1.•• 11 ••.•..COLO~L~ ALLonP..OGU~1. " ., I ,.... ) "0,1 \ [> O ca r ictcr regulado do Poder na so cied.ide do Antigo Regime exprime-se por uma série de aforismos que sublinham a cstrira dependência do rei em relação à lei. A fórmula princeps a legiblls .çollllllS (o príncipe está excuso da obediência à lei) não libertava o rei dos Iigames da lei divina c- natural; c. corno esta última continha o preceito de que pncta SWII scrllauda (os pactos devem ser cumpridos). acabava por se entender que n.10 era nem justo nem honesto que o rei faltasse à palavra dada, num pacto ou numa dcclaraçào solene como a lei (Francisco Antônio Moracs de Campos, Principe perjcito, Bib. Nac. Rio de Janeiro. 1790). Fronrispicio do l ud ex perfectlls, de Torné de Vclasco, 1652. Também J imagem da Justiça e dos juizes modela roda a reflexão sobre o Governo e os governantes. Na sua missão de manter a ordem estabelecida, de dar J cada um',o seu (ius SIIHJ1! CIIiqHe tribucrcv. o rei é. antes de tudo. um juiz. O rei perfeito é um juiz perfeito. Pelo que lircrnrura como a que se reproduz só aparentemente deixa de se relacionar estreitamente com a literatura "política». D.D-CAtll\H!..JS "I.VAiu.r DE VELAS'CQ, RfGLE 5ANcre FIDE.I ChNCGLLAR.1}J ,__ ~VJ.~~A!!:l,~~t::J;tw.TOP.1.S.: rVDEX PERFECTVS r 5 y t)l: IV DiCE [Til F;:CTO CHl\.[STO íESV DOMINO NOSTRO V N I C E P r: F.. F E C T 0, ",:"".1:. <>~;~~.~;~f.O\ \VD1Ç"1 ~_-.......,t.o-.f_:'}...o~_ -.''':' '~I...·",•••••'" J.f;- C;;..:.z. •• CW:z.!-e.: .•• I.·•..•.,...,·.,w, (4)' A AfiQUiTECTURA DOS PODERES partir de uma lei régii (J que j5 se referiam conhecidas fontes romanas, Di- .í!este , I, 4, I)estabe!t:cid;! por um panos. Na doutrina polirica portuguesa. o. principio da origem pactícia do Poder t:stãvi,·10dà\rii~ subordinado ao principio hereditário (" Os povos dos Rei- nosdePõrtugalcdos Algzú'vesrüo podem eleger Rei enquanto houver pa- rente algum que descenda do sangue' Real [... lu, Ailegaçãc5 de direito r ..j por parte da Senhora Dona Catarina ... , 158 I, apu d Torgai, 19S I, vol. I, P: 262). Mas. por sua vez - e aqui reside a vinculação tradicional deste ponto de vista -, o princíp"i_~_(I~_~tJS:c!!S~()~~t~ subordinado ao bem comum, pcrrni- ti!l99. ..quer '0' ãfastamento de herdeiros que «n âo tenham as panes nccessá- rias» (como acontecerá COIll D. Afonso VI), quer. do rei que governe m-al, pois, como escreve João Salgado de Araújo, "CD Ia succsión de un Reyno, se considera Ia urilidad de 10 vasallos. y no el provccho particular de 13 pcr- so n a dei Rey que sucede, porque e l Rey no se e li g c para sí, ni para su provecho, sino para cl proco munal dei Rcyno [ ... 1)) (Lc)' regia ... ; cit., fl. 107 v.]. Por isso - a inda que este pacto não tosse invocável pelos súbdiros, no p!àno-'do direito civil. para obter satisfação judicial dos deveres do rei. como. defendiam os rnonarcórnacos e como foi praticado. em lnglarcrra, ;]0 trazer: o rei a julgamento do Par larncnco, sempre: ficava aos povos - parJ. além do direitO de exigirem do rei, inclusiva mente em juizo, o respeito '9g?,·~i-i:ã~·iiqlli. sTiiq5õrpac'ros'''sübsequen tes·( (!,<'Z>_lcispactâdás' cillprivil~gips) - o direito de denunciarem opacrc de sujeição, no. ~_a!i.9Aejncu.'JlprilTIento grJ.ve dos :aeVeres reais [tvrania- in 'exi'rcilio),:~~s,i:S:êióªge privando o rei do .seu poder.' (inclllsiv~meme, matando-o. como é aceite por Fi':iliEi'sco Vclasco de Gou-". veia [Torgal, 1981,voLH,p. 39]. Estas iJJ.çimas conscquências "- que são as i centrais da corrente política em causa - foram, porém. mais claramente formuladas quando as circunstâncias políticas o exigiram. Assim. no ASSei/ta/cito emcortes r ..] da aclamação [de D.João [VI (Lisboa, [641: cd. moderna em J. J. de Aridradc e Silva, [640-1 Ó47, pp. 343 e scgs.) .-::'- depois divulgado junta mcnrc com a obra teórica central do movimento restaurador, a .jusiaocdainaçào. do Serenissinio Rr}' de p(JrIIIJ~al D. João (J JV (Lisboa, (644) de Francisco Velascode Gouveiaü - declara-se que, «confor-. :.me as rcuras do direito natural. e humano, ainda que os Reinos transferis-/l;cm nos .Reis todo o seo poder c irnpcrio. para os governar, foi debaixo' de .' ;.'uma racita condição, de os regerem, e mandarem. com justiça e sem tyr"a- \ nia. E tanto que no modo de governar, usarem dclla, podem os Povos pri- val-es dos Reinos. em sua legitima c natural defensâo. - c nunca nestes C3- ~(;s---[or;;:;~-'~ist~s obrigar-se,~ nem o vinculo do juramento estender-se a elles» (p. 337). . ; Este «parlamenrarismovvolrou a ter condições para florescer aquarído da ;cris·é--ac'í"667. No seu manifesto de Novembro, o infante D:.,Peqm, depois ·~d~r-~!~Ea:r--o«mau goyernol> do rei seu irrnào, declara aceitar tomar o ~over- :D$J--ªç{ qlie'~estes Reinos, juntos em Cortes [... ], determinem, com toda a ju.risdição que rem, o remcdioquc julgarem conveniente" U. J. de Aridradc e Síl\;~~'··i{j57-167Ii"p. (33). Como já sucedcra em' 1640, era necessário fun- .~amentar o afastamento do rei e, si multanca menre. -legitimar a assunçào do gQvei'rio e coroa, agora por pane do infanic D. Pedro. Para o primeiro ca- so, e pressupondo oipr'incipio "pacticio (c não é um acaso o recurso a cita- ções'ilt 'obra de Vclasco de Gouvcia). são afirmadas a tirania c incapacidade P3.r~o governo do .rei7, vistas como causas legítimas para «pri var dos rei- nos, ou pello menos da adrninistr açâo dellcs os reys incapazes de governar. e isto geralmente se uza em todas :JS Naçoens, c he O' que geralmente se cha- m a Direito d as Gentes (Cunes do rCyl10 de Fcrt nç a}, vol. VII, 1668, pp. [73-173 v."). ~!.".mesma altura, foi posto J circular um "papel» em que se afirmava que ;'0 reino pode justamente pri'Jar o seu Prmcipe, ainda que ele seja legitimo, quando no exercício he tyranc: e no Reyno de Portugal '::..não padece dúvida esta Proposição» iDcdvcoio crollo1ógi((J ... , § 572). Partindo destes princípios. J assunção do governo por D. Pedra não é posta em cau- SJ. Mais problemática parece ser, IlO cnranro, a legitimidade da aceitação da coroa pelo infante. Tendo sido convocadas duas juntas teológico-jurídicas para se pronunciarem sobre i) se um reino pode tirar ao rei, IlJO só o gover- A REPRESENTAÇAo DA SOCIEDADE E DO PODER Pnre to lrgj, quífqnis ltgem tule ris , Re-gulll Tribullal. Principis 111ljôni/. Princcps Preteriu» arma .Dirna Ti:.,/,in(J Toce notat a capit, Hoc.f.fàs Ri;'7Jem, r= Ncb/s /ltcl'Cjcrro. silÍ mU7!iS [11 NOjti'l1l1l pIK[W lIf'1ligc [,rput. Firmius baud atire}', Princrpsjàcr(( iura p11l·,:rbíl. Q!!,àm dum tcfv.bdis /rgiblls ipJi: tuis, LM'BLEMA LXllI . Ifle Ath(.n~& !>fadercttol' 4uLc,. '. ' Provcde CLrcwn praprlUm Tribunal, CrJl1fcias âulcis SophiJ:.7Jolcbcr.t , !ingm Mufos, , Ncmpc ubi lcJGS pl<lcidogcnmwr , Ore, [un: doéTo dccovata cultu Scc:.pt)·a.: dum Reges SopbitfC JÕ"01'um; Jura marttant, . h.JY['BLEJi..ll LXIX. no, nus também o rindo e íi) se o príncipe tem na Terra superior qLle co- nhcca as suas accócs c se, em P()rtugal, 'JS corresconstituíam tal tribunal, obtiveram-se respost3s::d'iscordes, ..Mas, ainda assim, cerca de metade dos membros destas JUlltJS defendeu l~!Ila ,respost3 ..positivaàs duas questões. Marti m Affonso de Mcllo, 'deputado do SJnlO Ofício e membro da primei- ra junta, afirma que .«:\ privação de Sua Magestadc do título, c da dignidade real tinha o Rcyuo junto em Cortes legftima jurisdição para o fazer, e [que I V. A. não pcccar ia nem venialmente se asseitasse o título de Rey offercccn- do-lhe os povos» (Corres .... pp. r83-197). Por SUJ vez, o padre jesuíta NUilO da Cllnha (dast:gunda junta) dá lima csclarcccdora resposta. Partindo do conhecido princípiopactício. afirmaque ..H3. doação, e obrigação, com que a principio os Re ynos Sê cntrcgar âo 3, seus Principes. ainda que foi livre, foi.' absoluta c. conforme as Leis da Justiça, de natureza irrcvogávcl: e contra d- ..Ia podemsó aquilo. que a principio reservaráo expreSSJmeme, como em al- 'gullS Reynos tizerão. ou o que for ncccssario para a sua conservação, e de- 'fcnsão natur al » (Dedlicí,l[l chnJllologica .. , , "Provas", Parte r,p. 232.). E que, portanto.>« pode o Re yno [.. ,] tirnr-lhc o governo, quando assim for neces- 'sario paLl" a SUl couscfvaçâo, e dcfcnsâo natural, mas não pode eximir-se, nem limitar a obcdicncia que deve aos Reys, seria só para ° mesmo fim da .dcfcnsáo natural" (i/lid., p. 234). Q,uvoto" de Nuno da Cunha-é muito es- clareccdor do estado da doutrina política da época. Por um !acl.o,irIsiste-se ainda - çgnC9.9pro\iidencialismojá largarnel1te doÍninantellj:Lcç[1t[oda Europa - l1a.origem. J,J.J.crícia.do Podere nos direitosnparlamenraresu que dJÍ advinharn. MJs, opor outroIado. to mam-scdistâncias-ern relação:lº~,!TI.0nar- cómacos e,l)q.,Ç~?2;.de Portugal; aos partidários do "governomis[Q»>QuaÍ1to JOS primeiros, reflltJ-g:" que, salvo nos casosd« o pactooriginal ter 'institLlí- do 1I111goverI1o misto, os parlamentos possam normalmente limitar os'po- dcrl'5.,do .c n;i.,Muito menos, depô-Ia e julg;i..:lo, como o tinham feito os In- glcs~s, r uj o exemplo é expressamente citado. Quanto aos segundgs, reconhece-se que a monarquia portuguesa é "pura» e que, portanto, os. ]30- deres.da5.cortesnã05ãopt:rmaner:te~(iH,J!qll).mas apenas potenciais (ín ha- úiw), para os casgs. de tira[liâ:' Seja como for, J concepção corporativa com ;J SU;J referência a uma or- dem «natural I) de governo e aos deveres régios daí decorreriresvintroduzia irnporrantcs limitações ao poder.real, advindo daí imporrantesc'Oni~Llê'n- cias jurídicas e instituciona is. De facro, urna vez que a doutrina cor por ativa do poder estabelecia como núcleo dos deveres do rei o rcspéitóriajusriça, 129 !". "O Tribunal dos Reys, sabio c hrilhnnrc» (Francisco António Moracs de Campos. Príncipe perfeito, 1790). "Porque as Scicncias todas de igual sorte, I Dia as maos entre si, e todas tecem, / Hurn discreto direito inda mais forte." Este «emblema» - e, sobretudo, a legenda que o acompanha - destaca a relação estreita que deve existir entre o direito e a sapiência. Na verdade, decorrendo o direito da natureza das coisas, de nutre-se permanentemente do saber, objcctivo, baseado na observação c' na prática. sobre as mesmas coisas, t ! I I '1b~~ ;~ Numa sociedade dominada pela ideia da Justiça, os juristas desempenham um papel central. quer como produtores de saber social c político, quer como mediadores de conflitos. Aula universitária de Direito, no rosto de uma edição quinhentista de um comentário do jurista italiano tardo-medieval, Alexandre de Imola ("Prima et secunda pars commenrariorum super Codice». 1535, biblioreca do aura r). A cencralidade social dos juristas ainda se reforçava pelo facto de: consrieuírern um grupo que instituía os seus próprios mecanismos de disciplina e de reprodução social, em quase total independência de poderes externos. Caixa de tiragem à serre cios poncos de exame da Faculdade de Leis de Coimbra (século xvrn) (Reitoria da . Iniversidade ce Coirnbr a). A ARQülTECTURA DOS PODERES .~.?~e.ticavaobrigac!.Çl".,a.c9"~~~r.:,a.r ..,odjreiro, quer enquanto conjunto de co- mandos (dever de obediência à lei), quer enquanto instância geradora de di- reiros particulares (dever de respeito dos direitos adquiridos). Quanto ao p'rimeiro'aspecto, a dourrina seiscentista -é dominante. nosentido desujeirar o rei às leis. Nâo apenas :15leis fundamentais. às quais o rei, desde que pro- meteu guardá-Ias antes de ser confirmado na coroa está atado «como si rue- ra con fortissima cadcna, y desobligarse el Príncipe de semejanres leyes fun- damenrales seria 10 mismo que atropcllar 105 derechos de! Reyno. arrancar Ia cabeza de Ias micmbros, arruinar todo su Imperial> (Luis Marinho de Azevedo, Exclamaciones politicas ... , Lisboa, 1645, exclamação 11, P: 32), Mas rambérnàsIeis ordinárias (Hespanha, 1989, pp. 392 c segs .. c Albuquerquc, 1968, pp . .235-276). Quando ao segundo - talvez de maior imporrãncia-. ele implicava que a derroguçáo de um direito adquirido - fosse a proprie- dade de bens, J. posse de ofícios ou as expectativas protegidas a estes, a de- tençào de um privilégio irrevogávcl, o direito de não pagar impostos ilegal- mente criados - apenas fosse possível em sede judicial (por meio de um iustum hldiâl//1l) (Hespanha, 1989, ibid,). .Dito isto, já se vê como os tribunais. como instâncias de salvaguarda da justiça e de defesa dos direitos de cada um, ocupam, na constituição jurídica do Antigo Regime, uma função constitucional dcterrninanrc. Por isso é que:: se explica que, na literatura scisccnrista e sctecentista, apareça quem defenda que, funcionando os tribunais pala tinos de justiça, não tinha por que se con- vocar cortes. pois as suas funções de garantia (e também d"e"oc::omunicação com o reino) eram desempenhadas pelos conselhos". D()P9r1t9;,,(k.v.,~g~.}n.ºgL;8.'oc:;,2,r.B9r:;1,iyismoproclaJl1av;J,o:primado 'da éti-' :ça,.sobre,a.çQnYo~I},tfn!7i;\.:,é);~~t.ilidade, Daqui, a férrea oposiçãO a Maquiavel, Bodin e, nalguns casos, mesmo a Tácito, bem co moji lit.ep,Iura alvirrisra c aáestil6 governarivo olivarisra", _ ,_.P'O_PO~~9,;.slr=-:v,isr~.soci~I;~,oo,;ço.~pp~ati:yi~.l11,º:promovia a imagem de uma s9,ç~edade,fjgbi'ôsame'riWhierarql:li2jada, pois, numa sociedade naturalmente ordenadi,a"'irredutibilidade das funções sociais conduz à. irredutibilidadc dos estatutos jurídico-instirucionais (dos «estados», das ordens)!". O direito e o governo temporais não Fadem fazer outra coisa que não seja ratificar es- ta ordenação superior. A ideia é impressivamente expressa nas Ordenações afonsinns (n, 48, pr.): "Quando Nosso Senhor Deos tez as criaturas assim ra- zoaveis. como aquellas. que carecem de razorn. non quiz que duas fossem iguacs, mas estabelcceo, e hordcnou cada hua sua virtude, e poderio de par- tidos, segundo o grao em que as põs; bem assy os Reys, que em iogo de Deos na terra som postos para reger, e governar o povoa nas obras que harn de fazer, assy de justiça, 'como de graça, ou mereces devem seguir o exemplo daquello, que elle fez, e hordenou, dando, e distribuindo nom a rodos por hua guisa, mais a cada huu apartadamenre, segundo o g rao e con- diçom, e estado de c;ue for ".» f30 A REPRESENTAÇAO DA SOCIEDADE E DO PODER Como a «consriruicâo» radica na natureza da sociedade e esta 5C observa na tradição, o «estado" é algo de «natural» e «tradicional», objcctivado nu- ma "possen. ou seja, num direito, adquirido pelo tempo, a um reconheci- mento público de um cerro estatuto. ' ,,-' Este estatuto comportava certos direitos, mas também certos deveres. E, sobretudo. uma obrigação de assumir em tudo uma atitude social corres- pondente ao :'5t;j,do. atitude que a teoria moral da época definia comovhon- ra ,,'(Jiotiái-)lê., Por oposição ~ virtude (virtus) - disposição puramente irire~' rior -, tratava-se de uma disposição externa, de se comportar de forma conveniente às _regras .sociais do seu estado.' . ", Na sUa-formo mais difundida, a aura-representação da sociedade ~edieval c moderna via-a. como se sabe, como dividida em três estados: clero, no- breza e povo (Ordenações -afollsi/las, I, 63, pr.: [... ] «defensores são um dos três estados que Deus quiz per que se mantivesse o mundo, ca assi como os que rogam pelo povo chamam oradores, e aos que lavram a terra, per que os homens hão de viver e se mantêm são ditos manrcnedorcs, e os que hão de defender s50 cha rn ados dcfcnsores»). Mas a estrutura estatutária era mui- to mais complicada na sociedade moderna. Desde logo, tende-se a distinguir, dentro do povo. os estados «limpos» (como o dos letrados. lavradores, militares) dos estados "vis» (como os ofi- ciais mecânicos ou ar tesàos). É este o sentidodaclassificaçâo de um jurista sciscentista português, Melchior Febo (século XVIl)- «tripticem in nobilitatcstatum, altenn» uobilcm, nicchanicum, artlfi'iliqi'ie 5ede"rilllrilllll altcrum, ultinnun príviiegialoru/II, qui niilitiae, vei arte a sordida muneribus eximantur. [no que res- peita à nobreza (secular), existem três estados: mil, o nobre, outro, o mecâ- nico e artesão. o último, o dos privilegiados. que, pela milícia ou pela arte, se libertam das profissões sórdidas]. Também progressivamente, este estado popular intermédio entre a nobreza e as profissões vis - "estado do meio", «privilcgiados », "nobreza simples» - vai sendo assimilado à nobreza e, no seio desta, vai-se construindo um novo conceito diferenciador, o de ('fidal- guia», ou mesmo. mais tarde e por influencia espanhola, o de "grandeza» (Monteiro, 1987) f}. Esta extensão do estado da nobreza (Hespanha. [989a, pp. 274 e segs.) - e sua consequente pulverização por classificaçôes.suplernentares --:-:-fica mani- festa ao ler tratados da época .sobrc.a.natureaa do 'estado nobre!' , Aí. reco- lhendo classificações anteriores (Arisróreles, Bártolc) e adaptando-as a anti- gas classificações das fontes portuguesas, distingue-se nobreza «natural" e nobreza" política» (ibid., n . .200 e segs). Na primeira, incluem-se o príncipe, os nobres «ilustres» (correspondentes aos titulares e "fidalgos de solar»; cf Ordenações fi1ípinas, v, 92-120), os nobres matriculados nos livros da no- breza (cfidalgos rasos»; cf Ordenações fi1ipinas, n, n, 9; I, 48,15; m, 29; 11I, 59, [5 e V, 120); os nobres por fama imernorial (Ordenações [ilipinos, lI, ll, 7-8); aqueles cujo pai era nobre (Ordenações filipittas, v, 92). Neste caso, a pertença ao estatuto decorre da natureza das coisas e prova-se pelos diversos modos de manifestação da tradição (desde a prática de acres que competem aos nobres até à «fa ma comum e firme», ibid., n . .209 e scgs.), eventualmen- te ratificada por 3C[O Jurídico forrnal (como a sentença). Como natural. esta nobreza é. também. «gencrunva» , ou seja, transmissível por geração. Já a nobreza "política" decorre, não da natureza, mas de normas de direito posi- tivo, dos costumes da cidade (n. 26.1-e segs.). Deste cipo é a nobreza que se obtém pela ciência", pela rnilícia'", pelo exercício de certos ofícios.", pelo privilégio e pelo decurso do ternpo ". Também ° estado do clero (Hespanha, 1989a, pp. 257 e segs.) se estende progressiv;;mence. embora em muito menor grau do que o da nobreza. Para além dos clérigos de ordens maiores, gozavam do estaruto eclesiástico cléri- gos de ordens menores (censurados e de hábito, servindo ofícios eclesiásci- COSi'): Ordenacôes jílipíuas. [I. 1,4; n, 1,27) (Manuel Alvares Pegas, Commen- faria ui Ordinotiones Regn! PorlUgalliae, Lisboa, 1669- [7 59, tom. 8, p. 281, n. 3 c seg s.), os cavaleiros das ordens militares de Cristo. Sanr'Iag o e Avis (Ordetlações flipillas, I. 12), desde que tivessem cornenda ou teriça de g e se mantivessem; ou 05 Cavaleiros da Ordem de Malta (lei de 18 de Setembro de r602 e 6 de Dcaernbro de 1612). Mas, para além disto, não poucos lei- [31 o doutor António de' Sousa de Maccdo (m. 1682), jurista e: diplomata, é o autor de uma interessante obra sobre as qualidades do jurista (Perfwt/J doctor i/I i)lIaCllmqlle scieutia, nia xime in jure canonico, et civile, Londres. 1643), um verdadeiro compêndio da auto-rcprcscnraçâo dos juristas, contendo normas que vão da alimenração e vestuário até às leituras (Banco de Portugal. cota: ::'.::'..71). li) Banco de Portugal, Lisboa. FOTO: A_ SEQUEm •••. A ARQUITECTURA DOS PODERES CORPORIS IVRIS CANONICI rostss j'g/J'VS G:iATIANI DISCORD_'\NTIV~l CA:ím,-Y:-'I '"DECRETVM A COHRECTORI[1\,S RU~I/l.l\IS t.ucrtcxmvs xovrs \',,,ItAI.nnrs C1ITJCII, u i t r o e r c r s • ClIlIOSOlOlilCl1 ~í 1,;1'''' •. \rlIHI> D. A coroa nâo dominava uma boa pane do próprio direito vigente: um exemplo típico disco é constituído pelo direito canónico. Na imagem. o C"'P"' iuris cnnoniri (ed. de Hallc, 17n), 'colecção canón ica do direito da 19n:ja, compilada entre os séculos XII e xv. Vigorou <:01 Portugnl, mesmo n05 tribunais civis, basicamente até j lei da Boa Raz.io, de 18 de Agosto de 1769. Em algumas matérias como o regime do casamento canónico, a sua vigência prolon- gou-se até aos n05SOS dias (1975). V Também no domínio do direito secular, as principais _ fontes não provinham do rei. E o caso do direito romano, espinha dorsal do ordenamcnto jurídico. medieval e moderno. A sua rradiçâo textual remonta VJ ao Corpus iuris civilis (5.19-56-;), sendo sucessivamente renovada pelos comentários (glosas) das várias escolas jurídicas medievais e modernas. Na gravura, edição quinhentista do Diçesto, com as glosas rodeando o tCX(Q original. ~ . ll~ apMItl! t"OSTl.1 I~C.lATlClt I-tl P ,r n- .•...•..••. CHII "~11"1 ••1t1 I •.•• t IWl'CI.UTI f.t:~~ .....r-;:.=..~~\.-. .- •• i • ··,I',..I...r e: g ~ _~.:~~·:2;2.~;.~~:-~~~ .1,I~i gos, desde que ciVe3SCl11alguma relacâo com os anteriores. Assim. gozavam de :llguma pane do estatuto clerical (nomeadamente em matéria de foro) os escravos c criados dos Cavaleiros de lVblta::oJ, os oblaros da mesma Ordem. vivendo sob obediência (Lei da Reforrnaçâo da jUStiÇ2. n. 12), os familiares c criados dos coleirores apostólicos, desde que nâo exerçam oficies mccáni- (OS (ibid., 11. S), os "frades leigos» e os noviços (ihid .. n. q e 15). E, mesmo no «estado do POVO)), muitos são os privilégios - de cerras (negarias profissionais, dos cidadãos de certa terra, das mulheres, dos an- ciâos. dos lavradores. das amas, dos rendeiros de rendas reais, dos criadores de cavalos - que eximem ao estado comum (Hespanha. 19S9a, pp. 279 e segs.). . Esta multiplicação dos estados privilegiados (isto e, com um estatuto ju- rídico-político particular) prossegue incessantemente, cada grupo tentando obter o reconhecimento de um estatuto difer cnciador, cujo conteúdo tanto podia ter reflexos de natureza policico-inscirucicnal" ou, mesmo, econórni- ca (I'. g., isenções fiscais), como aspectos jurídicos (u. g., regime espécial de provJ, prisão dorniciliãria) ou meramente simbólicos (I'..~., precedências. tórmulas de tratamento). Com tudo isto, o que se verifica é a progressiva scpar acáo entre «estado» \ " e as funções sociais tradicionais. Nobres s50 cada vez. m<:1105os apenas "dc- tens~re~l\ (militares), ao mesmo tempo q~e,com o aparccirncnro de exércitos \ protissioriais c massificados , muitos militares não são nobres, Uma cxte n- são do conceito de consiliun, (que, inicialmente era apenas o consilinnt tcudal. í apanágio dos nobres do séquito real) permite nobilitar os conselheiros ;')~- beus, nomeadamente os letrados. E mesmo a riqueza - originariamente era funda mcnraimcnte indiferente do ponto de vista da nobreza - já é conside- rada nob ilitnnre a partir do século XVI21; mas, em Portugal. sobretudo após a legislação pornbalina que promovia a nobilitaçâo dos comerciantes c in- dustriais. Ou seja, a progressiva diferenciacâo social obriga a um rcdcscnho das raxinornias sociais, embora se conserve fundamcncalrncnrc. como ma- triz geral de classificação, o antigo csquema trinit.irio, a que, de resto, cor- respondia a representação do reino nas cones. Resra salientar como J classificação social continua a ser entendida como decorrente da natureza das coisas - da transmissão familiar, de uma consri- tuição que se plasma na tradição. E como, embora o direito feudal medieval inclulsseriósdirciros do rei (re<~a{ia) o poder de conceder ar mas c brasões (para-além-dos-senhorios das terras e dos títulos correspondentes), J nobreza é entendida como urna virtude essencialmente natural. quer CSS:l natureza seja Uma disposição familiar, rransrnissível pelo sangue, para servir nobrcrucn- re,Cjll.er seja a reputacâo ou fama que objectivamcnte decorre do exercício de ccrtast'llnçóe's sociais: lnovaçócs drásticas nesta ordem natural inrroduzidas pelo arbítrio régio (privilégio real) são sempre m:'11recebidas(HeSPJIlha. j 991), pelo menos até ao momento em ql:le,_s.l!.~y'çn.istil.a..C:9_nc:epção corporativa e substiruída por uma matriz voluntarista. se comece a ligar o estatuto das pessoas - como, em gerJ.l, a constiniiçãó política - a um acro de vontade soberana . ..Ad ura\:lilic!.4c!i!j;.em:;eºJ:.~.lIg;Il.- des te ..pªH8\gmiL é.·notá vel.,Nos ..fin ais .do "sé.c1110.,xvlI::frei'joiÔ·dosePi'J:zere·s··'(no seu Abecedavio real, c n:gia instrução de príncipes lusitanos, Lisboa, I692}.continua-'a:·recomendar.moderaçãó- i<iíã-pró- .:pr.ja-,ly1ageseadcu (p. 65) c cuidado na introdução de novos costumes: "OS costumes C .. ) noveleiros, ame ação a Republica » (p. 72). O bem cornurn , por sua vez, continua a ser tido como compatível com a "honesta convc- nicncia parricular» e esta com aquele (p. 127). Mas ainda nos. meadosdosé- .wloxvlIl;·numa··obra 'cnCidopédifOadeDamião:decfaria.,e:.CagrçJdcqjcada à instrução. rias elite~PCJlí~ip~(Çastro, ...1749), 05 =alicerces- teóricos -da=rcoria social':c"políticã'cor1ti"fiúám"â-ser'ôs·tr:iâiCie'-i1J.is: "As Ethicas de Aristorclcs serão o Norte» (Castro, 1749, vol. I, «Proemio» , inurncrado 5). Na indica- çJO dos seus modelos não VJi mais além do tacitisrno criscianizado. da oo li- tica cristã. A proposta de uma política dirigida pela moral (<<sea Polític~ Ci- vil o não for Moral, pouco merece este nome», íbid., inurrier ado 5), pela justiça [«a justiça C .. ) cinje o Real diaderna da magcstadc, e empunha o cep- tro do lrnpcrio», ibid., 40)], pela obediência às leis naturais (<<fazer que os 132 .a••••••••••••••~ ••••------------------•• A REPRESENTAÇÃO DA SOCIEDADE E DO PODER outros observem as Leys. e desajusrarsc clee dJ.5 da razâo, hc querer hl1ID bruto formar homens», ibid.] e pela medida da prudência (":I Prudencia (... ) Princczn das virtudes». ibid .•• p.]. G.'.pr:iIKip-~:i,fi~9.,.c_o.rno~8l?J:ig~,:h=l,;,<lQ::,~,J?~!:D publicü.t;c3.".utilidade dOSSCl,l5 ya~s?cllgs1) (ibid .. 114: note-Se. em todo o ca- so. o sentiClo·'iíi'(Jtciso"cl";l·'for'm:ú!âçao). A aproxirnacâo entre o goyerno da república e o governo da casa. entre política C economia, e a consequente atenuação da espccificidadc do «público» em relaçâo :10 «privado»: são con- tínuas (ibid .. pp. 132 e segs.). A POLÍTICA CATÓLICA . A PRINcrPAL CORRENTE da "política católica» - relernbrarnos urna pro- posta que. condenando o pragrnatisrno arnoral de Maquiavcl ou de Bodin, estio em todo o caso, atenta às exigências da construção e engrandecimento do Poder nos rnucávcis condicionalismos históricos ----,é o cacirismo, divul- gado sobretudo a partir da obra de joosr Lips UUStllS Lipsius, Potíricorun. si- I'C civilis dactrinn i.:.) q.ri ar! principnuun maxirne spectatit . ! :;il91. que propõe lima po liticn prng nuirica. atenta aos condicionalismos de momento, tJI .C:()1110 est~va 90C:~lmcllt:ld:l.llas obras do historiador romano. Mas que. além de-obeber nestas fontes pagãs. beba' também nas fontes cristãs, adoptando um calculis rn o político moderado, que combine a atcnçâo pelo realidade po- lírica concreta e pelas SUJS exigências práticas com o respeito pela natureza sobrcn arural da sociedade e do Poder". Com o mesmo s-entido e neste mes- mo ano. edita-se em Itália uma outra obra que. inspirada também em Táci- to, será por muito tempo o catecismo da «política católica». Referimo-nos 30 livro de Giovanni Botcro. Dclíu ragio/lc di Stato; 1:;1\9. divulg:::díssimo em Espanha e Portugal, e. em geral. em todos 05 ambientes da Europa ca- rólica da Contra-Reforma". Também em Portugal esta corrente intcrmédia encontrou expositores. Na verdade, nessas décadas conturbadas do inicio do século XVII. em que a 'crise financeira, militar e administrativa atingia níveis dramáticos. era de ur- gente necessidade lima reflexão sobre as matérias de governo que não se es- gotasse em tópicos moralistas. Do lado dos CÍrculos do Poder c dos próprios pr:íticos da política. rnulti plicavàm-se os alvitres. mais Oll menos sccroriais. }~t,'io_Ld<:c~tranhar que. no plano da reflexão menos conjuntural. se tenha rnanifcsrado uma atraccâo por uma .nova problemática política que destacas- se os aspectos «técnicos» ou ,,;t:ícti.coslI do exercício do Poder, ou seja, (Ias regras que tornam um 'Príncipe experimentado ou para manter na sua pes- soa os Estados que possui. ou para os conservar os mesmos Estados na for- ma e grandeza original que têm, ou para com novos aumentos ilustrar, ou acrescentar a antiga massa de que eles se formam» (Pedra Barbosa Homem, Discurso de Ia [uridica y verdadcim ra zén de Estado, Coimbra, 1626). Logo em I 'g t\~_ 1616. é editada em Portugal J Verdadeira razóII de Estado. de Fernando Alvia I::' i ,,":jji' ~:-~.~~i:~ de Castro. E, em 1626, sai a antes referida obra de Barbosa Ho mcrn.j O ad- I§., .. ~lIJ; venro da Rcstauraçâo - ideologicamente apoiada na critica cerrada ao ~:: ..". , ~":~ ~ ~~~:~;J;:Jl~~~r;;:~f;fi:l~~i:j~::~~Hot~:;;~~~~~~Ptl~,7~~~~·diII_,...,~~i~.J ",6;:...:1 Manuel de Meio (rn. Ió50; v, Hospital das letras, 1(57), criticam Tácito e, com . '. ele, as concepções da política menos «purit;J.nasll25 vinculadas à ordem mora (Torgal, 198 t , vol. n, pp, (70 e segs.)", A «política» é. então. uma pala Ta maldita (Arll' de Iurtav; capo LX. ar. por Torgal, 1981: 'vol. íi,p·. 175). Era todo o caso, podem enquadrar-se numa corrente. mitigada. de «políticos cris- tãos» Antônio Carvalho da Parada (Arte de reinar, 164j), P.•n ónio de Sousa de Maccdo (Amz<lllia política. 1(51) e. sobretudo, Sebasriâo César de I .ene- ses (Srl/IHlla política, 1649), em que. decerto sobre um fundo tradicional (ou não se tr:H3.SSe de uma política «crisrã»). estão presentes algu 5 d05 , :-:Oc1- pais ternas da «política» (poder, reputação. dissimulaçâo, cx e irnerua.isrno político):". Note-se que estes dois últimos estão associados :10 periodo de governo do conde de Castelo Melhor. responsável por um projecro ée go- verno "político » , 1.1.1 A imagem da tàmília (Ja «casa») dominava também a auto-representação da sociedade e do Poder. O rei era visto como o pai dos súbditos, a República. como sua esposa. o reino como sua Casa. Os laços políticos eram vistos como laços de amor e o governo como uma técnica de disciplina semelhante à da «economia» (ou disciplina dornésrica»}, Família dos finais do séc. XVIIl. Museu Nacional do I' zulcjo. Lisboa. c rHoo. : _\/;':''':':''::;~J'~,.;: ;'.{::~~~~.~;~:.'1:"; 11.]:.J ;:~'~;~J:i:~::laJ:;' L. ~l·; .•;a:11I ',:t:: " ',;'''. ; t :.r:· :~'::.. ";.. ~_G.;:;rl~:i'.:.I,:1':.: r;!····:h:'r .. 2-·,~:~~l~::~g:~:;;~;::;':;;:~~,:r~~::;,:~::~..:··:~~:~,~:~:~:!~ ~'~~:~.:,~::I~'~~'\;:~;;,';;',':I~.~;~~~::~:~;;:~.~il~~II:",';1:lt~U~~~l~;:;:~~~;:~ ;r.::~::;;:~:~:E.:::::~·:,.:,:::;~::';i:!:::~r':;~:;~;:~:'I:::" \ t·"· l~fJ"/fllfl'; ;J'I".ÚIIII," rc."t;i:;17/'j li:,. :J\.::tl!l.l;~llll. Ivlliti.{.·il r•.outLlII\.:'.: f'·\":l('{U.J \"\.,jul~t:\~ill~ 11I~\J11Uh}'ll' tllb'h:II,:I h. I~ I~IIi1 p: .l:(qll:1 • !1:lll h:: ~::;,,- l.dli-I'I\I'.ll.:n:' •.dH':4101 nc.t Irdcrc n, "\:\IIn ~·tJlq\1I." r rt- h, •..:Jc". !. ~ Iunv prtl\h:!I~i.\ rir ,ijllln:1r111U." •.It,J"!:· ;IU' m.\Õl.1fUll\l· n:ru:;:t';':.:.~~:~~/;.':,~l;~:;;~~;:1II1~1'1 1~"·II:I.l. 11.1'''lli;" l.h.'..I ..•,j ).I;,intlln. I"~i,lunlo.mo,iJ~ ,ji..:it~I:.Vuo m odo cum i.I.q'!C':·~.1'l:f;r~III\tIIl·'..I1: h,m\HII ~'Il. I\1S .:I'l1U:: v IU:,II,I'II· :':i',t~;'r'-:;,I,L~~I~':,';i:~l;1~II'I",I,~~':~,I::I[;;~\H<~~~I,',i:i::~~:::~:~~~:!; .1:'1,,:11.11111 W':\I'II.\tl.'lI"ltIJ.II:-lh'\l":.I:IIlIII. i\.t"'l;' Fragmento "I1//I~S populi do Digl'Slt> (D., I. :1, l)). Foi com base nesta «lei» que os juristas legitimaram a cxistôncia de dirciros próprios de cada reino. para além do, ou em oposição. ao direito natural e comum (do império) e. com isto. possibilitaram o dcscnvolvimcnro de um saber jurídico fundado na legislação e na prática dos tribunais de cada reino. I> ,•.•. equiparação do príncipe ao pastOr(e, por cxrcnsão. ao Bom Pastor) é ccntrnl no imaginário polirico moderno. Mais do qlle no temor, o governo da República funda-se no amor e exerce-se pela brandura. Nos tinais do século x vnr sublinha-se, no entr nto , a função dirigente do rei, embora este a deva exercer de forrr:J suave e pastoral. .0 cevo é o rebanho; o Príncipe. o pastor; o ccptro. a vara. Por isso. que o Rei =?Jscencc. dirija c veja" (Fr ancisco António Moraes de Campos. Princip c [wjêílO, Bib. :-;;:c. Rio de janeiro, 1790). A ARQurTECTURA DOS PODERES No entanto. J arcnuação da pclérnica anti-habsbúrgica e o progresso das influencias das correntes mais modernas do pensamento político (seja. da «razão de Estado católica» espanhola e italiana, seja da "política cristã" fran- cesa) vérn vulgarizar as referências a uma "política católica». No terceiro quartel do século XVII. Jacinto de Deus vê a sua Brac!ri/"gia de príncipes (Lis- boa. 1671) definida por um dos censores como obra de «doutrina política. política católica». Trata-se, na verdade. de um texto de transição. em que. a r~r de fórmulas de acordes absolutistas, como a cornparacão do príncipe ao Sol - invocando a sabedoria gnósrica dos hieróglifos egípcios. em que o Sol era o símbolo dos reis (p. 96) -r= ou a insisréncia na importância da fama e da reputação. se: segue dizendo. à maneira tradicional, que a república não ~ para o rei, mas este p:tra a república (p. 275). ou que «a fama. & a cons- ciencia são as azas com que voa a soberania» (p. 2-1-.1). O mesmo se poderia dizer da Polítíca prcdic.ivel (1693). de Frei Manuel dos Anjos. o PENSAMENTO POLÍTICO CURIALISTA EM TODO o C:\SO. IMPORTA DIZER que dÇlW:.I],~~I"T1CI?.ro:p.ClF.tiC:Qda Contra- -Rcforrna fazia. tam~~n.~p'aneuma()l!.EaE9i·i~ú,t,c).que.l.loj~ classifica ría mos dcsen·(iüõ·!;·integrista";: protagonizada pelo ·ç~rdeal Roberro Bcllnr rn iào (1542-1621, De 5/(/11/)/0 {J()J//(ficc. 1586. e Tractatus til' Pll/I'S(,lIC sununi pOllri/his in icbu, tcmporolíbus, 1(10), '.CJ..~s.jfirnlaVa urnasupremacia dCl·:p;Jp.a.Q.Qsobre ospcderesre ..mp9r~i.s: aliccr~ada;í~·doutrinade que era o vigário dcCrisro qü<:n-i -mediava a ouiórga do Poder aos príncipes (pO(I'S{(/S d Dco pC/" Pa- p,llÍi)2~. Asúa· rtcep_ç~q"emrPortugal foi. porém, muito ..dificultada pela iu- fluêucia do rcgalisrnoibérico (Francisco Salgado de Sornoza, Tratuuus de rc- ~~la pl"orwi,,·/Ic ...• ·I<526, i·d2? 1647. e Cabric] Pereira de Castro, De /1)(//1/1 rcsia trcctaius, 1622. I(25). Mas. muito em especial, pela particular conjun- tura poiírica portuguesa dos séculos XVII e XVIIl. de contínuos conflitos ju- risdicionais com J Igreja. Este facto - que pesou até ao ponto de se discutir se da biblioteca de um "político católico» deveriam fazer pane obras de eclesiásticos (cf. Sebastião Pachcco Varela , Numero vocal. .. , Lisboa. 1702)- explica que. durante os séculos XVII e XVflI, as correntes filosófico-políticas dominantes tenham contrariado as pretensões de uma supcr iorida dc do pJp:t in {cl//pt'r,llilllls. Exemplar é a posiç:io de Francisco Vclasco de Gouvcia (fusco! accuimaçâo ... , §§ 3 ti 4-; êr:·Torgal. [981, vol. I. pp. 31 e scgs.). Ou de Scbas- .ti~()..César de Menescs que. numa junta de clérigos convocado em i6t'53 para se-pronunciar sobre a provisão dos bispados. teria sugerido a separacâo da igreja portuguCSJ da jurisdição de Roma (Torgal. 1981. vol. I, pp. 277-278). Como também o é o facto de uma corrente jurídica brgal11enre rnaioritá- ria2'! defender. seguramente apoiada no direito positivo. de origem concor- datária", o primado das jurisdições régias. a legitimidade do bcncpláciro. a faculdade real de proteger os súbdiros dos abusos eclesiásticos (regi(/ PI"(I{('(- tio) c a possibilidade de o rei se substituir ao poder eclesiástico na etccriva- ção das punições eclesiásticas". ::;l::l_() ..discurso político pornbalino-c-c- sobretudo na sua pr irncir a fase . .1 do discurso ·;'teolõgico-canónicoll (lia periodizaçâo de J. S. Silva Dias) (Oi35, 1983. pp. 45 e scgs.) -. esta correme.,rçg.a[ista refor9:-sc ainda.em.obras como Doarina vctcris E(clesiade:;i~pre;rtà fégâi;'l~ill,cli:i:iéOS.p~l{es{,lIc.-" .. de :'in:õ- ilio-Rilliradc Figucircdo;;Lisboa·,:L7º.5.0J!4yç.c!gAIJoJWlp.~icQ c analítica ...• deJos~Scabrada Silv3..(?) Li~boa.1768.eDe5acer.do.(i.pe(il/locri() .. :. de :\r:;:ó::io R:~bt;irod~s ..sal}tos;Lisbôâ~'ii7.9 .•;.'(P~ér-e;-i;;··;;·98i..pp '.::8'7·e segs-) 'P~r2 esta coi:fcl!tc.::is tln;Jlicbde~A~tçida.de_t~.r,r:~.r.~L\?~_P.9JÜL~?>.._dQ império) 520 3'-1Cé- n9II1Js_exn~ it;.Eiçaóàs,dacidadedivina. a poder. rcal.. vem direcrarr.enr •.· ::e Qeu.s -;pc,lg que.os reis nâoj-cconhcccrn superior na Terra c o p2p;; ::2~ p,i?<~.dep9I. Mas. mais do que isso. a tradicional isenção éC5 c!::"i;~ :l~ causas temporais não é tida como de direito divino. pelo ~ue F:1c:.e 5<:'. se- prirnida. crn vista do interesse público (Dias, 1983. Illaxim!'. ?:: ::-.:"''I:,=:::S que. de algum modo, estavam já consignadas nas Ordêll::;=:"; ):. ••--:;:: ;,) e eram legitimadas pelas correntes jurisprudenciais dominar.res. :-:0 =:::<:::C. a defesa cão ~Jé!ra.e.a[[icu!ada .das teses rcgaliscas é urnz no-, :-="",...;=_ 13-1 • A REPRESENTAÇAo DA SOCIEDADE E DO PODER o ABSOLUTISMO PROVIDENCIALISTA o TEMA DO AIlSOLUTISMO é conhecido da literatura pro videncialista do absolutismo francês. Bossuct escreve que "Deus govenü'todõs 'os povos, darido-lhcs a codos os seus reis. Os Príncipes são ministros de Deus para o bem: são sagrados pelo seu ofício como representantes da lVbjescade divina, depurados pela sua providência para a execução dos seus desígnios» (Politi- quc lirér de l'Ecriiure Sainte, 1709). Era a tese da origem divina imediata elo Poder, curro-cir cuitando quer a mediação popular, defendida por monarcó- macas e por Jesuítas (mediante tonsilio mil electioue humana, cardeal Bellarrni- no), .guer..a mediação papal ". purantco ·século.:.X'yII, ..a. influência do. pensamento absolutista francês em Portugal'parece Ser muito pequena, reduzindo-se pratica mente a Manuel Fer- nandcs Vila Real (EI político cnstiano, Parnplona, 1641, Paris, 1642 c António Hcnriqucs Gomes (Politica angelica, Ruâo, [647), a quem mesmo D. Francisco Manuel de Meio chama, signíficarivarnenre. "portugueses enxertados em ga- los» (Torgal, 191)1, vai. I. pp. 208 e segs.). Assim, o primeiro - num passo que a lnquisicão condenou - considera os desacatos à pessoa do rei mais nc- ccssitados de castigo do que os desacatos à rcligiâo (Torgal, 198 I, vol. 11, p. 220). Mas o providt;:l1sialisn1{:J' das correntes sebastianistas " - nomeada- mente o do padre Anto,~io\/i~ir3' '=-~aodeixade favorecer; afirial, a ideia' de . que no rei cnus .dinastias depôs Deus uma função escarolôgica.orevelável.pelo .eS[tld~dç ..~lIi:ai~~~~i)f.º~·qt~s.,_(li,tc:.~.~.~~raprofétlca·ecabalística. manipulaçôes.nu- ll1éricas,etc:).·· . ... . .. . '-Nó-s&ulo seguinte. UIll providcncialismo deste tipo continuava a vicejar. Logo no início de Setecentos, Sebastião Pachcco Varcla, um monge asceta preco- cemente morro. aproveita algunsconcêií'os-musícâ"is'c aritméticos para propor :10 príncipe (D. José) cnsinamcntos de política". Parte de um tópico corrente na literatura conccptisra - O da proximidade entre J música e a política -. explorado com a «aguc.h:za» típica da época. A política em causa é a «virtuosa» (p. (I). ou «carholica» (a que se refere o título), atacando-se duramente Maquia- vcl e os «athcisras praticos» - e mesmo Tácito. «imitador de tiranos» (p. 345). Mas o providcncialisrno que repassa toda a obra - e que chega aos conheci- dos extremos da teoria csotérica dos números, descobrindo nas datas, por ma- nipulações aritméticas. significações ocultas (v. g., p. 40-,P) - reforça a rligrii- dadc do rei, escolhido por Deus. Ele nâo é apenas o "Sol da Magesrade» (p. 1); é também o «Desejado» (p. '1-7). \l "Povo sem Rcy, hc sem Pastor rebanho» (Francisco Antônio Moraes de Campos. Principe perfeito.BibI. Nac. Rio de Janeiro, 1790). A oposição entre a lei cega da natureza (abelhas). a desordem anárquica (gafanhotos) e a ordem das sociedades humanas. sob O governo da lei temperada pelo governo político (rei) constitui O mote deste «emblema », HOlntllLLlllRegilllenDeos pofci ti Lx Icx Gi'CX, uni 11011clt Rcx , EM'BLElvfAXI. EM'BLE.MA XX. 0Ji.l Grex} Suni haminc):Paflor~C;!lCilill5 almus. n« papas Numen poJi ul<2t, =e=dccct; QEi rcgit, f§pafcit lrfortalc5,Numinis tnftar 8!gmlt;, haud abra, qui rega!, aptus ;rlt .. , G,(X papullls,Princ~ps Pajtor,Sctplrum fi: bacillus. Rcx .erga paflat, dirigaL, atquc rei7t. D'j'pcrrlil (dIa prf<vo!ollslu cufla, R"iga/( tu III{áa jhiC corngentcm, Ar componu Apll {trvfIJ titiaca , . fJ.!!.inJlol"i noaat: Regu quidtm illatn Dux cxauunis :gere Jla! liilanci Ji'tlllfld, '1.'r! In/jfr;c j!flIUS Corone , Ahjil munere , pUcRré10r adJit; SI G rrx: ,ilngii ar, regaf '<,cfi ipfom. 135 o car.irtcr «pnstor a!» cio poder real rem l..Ii11J traducáo ccnu:a cru diversos CLTlt11011iJi5~ que inculcam a idc ia de quc reinar " um serviço e de ql!C ao rei compctL' sobrc mdo " defes;] dos pobres c dos m iscr ávcis. Por isso. o rribunal real': o toro privilegiado dos pobres. das viúvas t," dos rniscr.ivcis. 1). jo.io V na ccrimónia do lava-pés (C(!!tÍ!()S\.) ,ili C.\'jJ{1.';Í(ljl1 dt' do (HII/C'1l rl'.\ c obras fl.'fclfil'LTS â Histôriu de Ld"',,. csr. I ,~. DN. Lisboa. cora: DA Co :!-Iv.), FOTO: BN. Lisboa. \! Dur.uitc o ~l:rlllo li:VrI houve duas u-ntat ivas dc instaurar em Porruual modelos muis .iccivos de gover"iio. llue rc voluci ona sscrn. sob o impulso do poder da coroa. ;1 «constituição» do reino c o seu viver habitual. Uma delas foi J do conde-duque de Olivarcs (lÓ21-IÓ40); outra. a de D. Afonso V!. apoiado nu conde de Castelo Melhor (IM2-1ó6~); qualquer delas t"Jlholl.' tendo-se n:gress;1do a \Im governo baseado no primado da ordem rradicional . C nos modelos jusricialistas. Na toco: Conde-duque de Olivarcs. por Vel izqucz (Nov.i Iorquc, Thc Hispanic Socicr y 01' Amcricn). A ARQUITECTURf'. os PODERES A tJ .•••.•.'l1rJrr. xr..\\l'l\f~ ;'\1 'C\':'; Tn ,\\~~."IJ·H·H,,," i.L R~:vDO.\\ J O"Jl (lI'ISTu j)f.I"lIUI";AJ.~, ' .J:Y--",.1..Ã..- ..r-...,L J-..r-.~A.I......,..J....--...J..._,.--..;., __ -" '.~'~~"" ~....:......_ ..... _ ...........•..., '_~/··· ..•.·~ti r,-.,L..,irJ.)J..o.i SENHOR . ,·~.C~~ Jlilio de Mcllo de Cusrr o. uurn elogio feito a Luís Como F01ix, o au t o r de uma versão de Tácito (T.ic;f(1 p"HU,I!JlCZ. Lisboa. 1715:>' chega a COI11prar o príncipe à divindade. atirmando, simultaneamente. a sua cornplcra autonomia do JUÍzo humano: «Sâo 05 Priucipc« divindades humanas: inrcutar pl':leer~r- -lhcsas rcsolucôcs, parece que hc cscrupuliz.ir-lhes os artriburos 1 ... 1 só nasce- rão p3ra ser julgados do Alrissimo, & parece huma espécie de hous.idia. COJ11 cirrunsraucias de sacrilcgio, quereqllOs dcrogar C0111J censura, os privilcg:os que Ihes dco o Cco C0l110 nascirncnro.» [lnurnerado] Também o juriSLl Diogo Guerreiro C:1I11Jcho de Aboim. apesar de autor de uma obra de políric.i (<<v 'r- dadcira ••) bastante tradicional (EsCt,Jn moral. politica, christ«, [uridic«, Li..bo.; Oc- cidcntal, 1773. pp. 21)-30), pela mesma medida da piedade, se recusa J dissertar sobre JS virtudes dos príncipes, :10 mesmo tempo que decora os reis com o cpírcro de liVicc Dcoscs 11:1 terra» .(p. 2J), 05 declara «de roda a lcv hi mana izcnros, são [cvs vivas, c tazcrn entre os homens a tigura de ])COS', (p. .j.,'). Em 1750, Filipe de Oliveira. numa Omç.iojil/ll.'lm' pnllL:~yr;((/. /' ";s/(1r;[<1 JJrh !'.\Tql!Í,l.' do sClI/prc tll/.I!1I51O, e)idl'i;ssilHo SCllh,'r D. J!ltlIlI [/ (Lisboa, 1750)·~'. .irr -sccnra qu' «os Rcvnos de Dcos s50 os Rcys de Portugal », e que «o Rcvno era ";Ir;; o Rey, e o Rcy era Rcvno paraDcos» (p. 5) - invcrsâo clara do sentido rradi- cionalmcntc dado :i rclaçâo entre rei e reino (que subordinava o ofício uo rei ao bem comum do república). Damiâo de Far ia e Castro. autor da tradicio- nalisra AIl/a p"litiCtI. ... escreve um dos atlor amcntos mais inrcrcssan cs do absolutismo providcncialisra. Numa rcsposta" à censura severo da obra Cia- lIIores potiticos, elogio fúnebre J D. João V (provavelmente não publica o). revela tanto o conteúdo do texto primitivo C0l110 o sentido da censura polí- tica oficial, :l qual n50 deixa sistematicamente passar as frases mais em lc- m:iticas do pro vidcncia iis rno de influência francesa. Na cx pr cssào "Sua ,;1:1- gestadc já está no Cco sendo hurna Divindade" (p. y). o censor substi uiu «Divindade» por "Coroado do mais soberano Diadcma». Na rcsposr.i. D,,- J 'Ií.' • A REPRESENTAÇÀO DA SOCIEDADE E DO PODER miâo de: F~,ri~ insiste. dizendo que -não lu duvida, que os Reys sam Se mi- dcoscs na rcrru. e Vicercgentcs o Supremo Ornnipotcnrc. e por isso lhcs torna a competir o nome de Divindades» (p. (1)0 "Deste modo. participan- do cllcs no Sl:O StT humano hurna grande parte dos Attributos Divinoso que provem de Dcos da sua independente simplicidade. podemos dizer. que e1- les por virtude da SUJ simples. e indcpcndcnrc absrraccão. sarn puros. sarn pertcvros. su m unires. SJm hurn na csscncia , e rnuyros nos applauzos [o o 01 e sarn J maneira de Dcos sirn plicissunos Revs completos 11 (p. (9)0 110 que pa- rcce Ser uma clara relação com o rema bodiniano da indivisibilidadc da 50- berania. E. ;1 propósito de outra crítica. termina Damião de Faria com a afirrnac.io de quc os reis usam Imagens de Deus. Delegados do seo poder, Legisladores supremos por participacáo da authoridade Divina, Vicc Dcoses na cerra. com pleno. absoluto: e disporico domínio; no oficio de governar semelhantes :10 mesmo Dco s. e que rcprezenram nos seos Estados a Digni- dadc de Ponrificcs» (p. 3/). Enfim. Trata-se do pr0t:r:1I11a completo do absolutismo providcncialisra c reg~lista d.i corte franccs.i. sugerindo leituras desse quadrantc. indiciadas. de resto. por :J!guns galicisruos que o censor :1Il0tOLl ("llIontar ao rrono» i. E. na verdade .. o csrúndalo docensor c justificado. Pois uma rápida cxplor acâo da literatura cong011erc da C-pOCl (I'o g o. elogios e orações acadêmicas ou fú- ncbrcs ;1 Do )030 V) mostra que as torrnulaçôcs de Dumiâo de Faria destoa- vam do habitual. em que à comparação do rei com o Solou com J divindn- de se prc tcr ia LIma sua consagração C0l110 herói (tópico vulgarizado com C/I neille)l'o O atcn tad oxon tr a Do José (175::\) vem propiciar o cxaccrba mcnto do n:- galismo. A pessoa do monarca é sacralizuda c qualquer crúicu OLIatentado qlH: lhe sejam dirigidos sân considerados sucrílcgos. Em 1700, Br az josé Re- bcllo Leite rctcrc-s c em termos duríssimos a qualquer nrro menos respeito- so da pessoa do monarc.r'". Para ele. «uo Vassallo não pertence indagar [000J quando o seu !vIOl1arCJ l11JnJa pôr em prática este, ou aqucllc systcrna» (p, :i)o Assim, "11~() SOl11l'lHCos que obram. mas os que proferirem palavra contra a sagr::da PCSSOJ do Rei. incorrem L'J11culpa grave, e se lhe pódc, se- gundo as leis ['atriJso .•plic.ir de JIgul11 modo :J pena até J de morte» (p. 1))0 Sígniticatinlllclltl·. J or.icáo toi stlspenSJ por ter sido considcr.ida injuriosa parJ a ulra nobrczn. Apesar destas manitcsrucócs (embora sujeitas, como vit11os.~):ontestação. Sl1ti~~CIHel11l'IHCoj"t-irre PAr;1'090roig\D;lr;\sua SUSP<':llS;lO).uma SlIJ rcorizaçâo ac- " rualizad.i =: dcsvinculada do providcncia lisrn o e fundada na idéia laicizada da razJo natural. mais abraugcute c01llcnos sujeita :I contcsraçâo - não esta- VJ aillc!J cstabchxida em Portugjl:~J~s obras que J hão-de levar 01cabo vão aparecer dur ant c o consulado "i;~olllo~alinoo o ABSOLUTISMO DE RAIZ CONTRATUALISTA A CONCEP<,:.:\O INDIVIDUALISTA e volunrarista da sociedade e do .Podcr é. por vcuturu. ;1 mais difícil de cnraizur. quer J1J5 rcprcscnracócs sociopoliricas rradiciona is. quer nos contextos polírico-instiruciouais