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ATPS_Psicologia Social.doc

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Serviço Social
Psicologia Social
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“Sofrimento psíquico dos trabalhadores invisíveis”
Tutora à distância: *
São José dos Campos
Abril de 2013
Interferência da política na humilhação social
	Muito pouco é feito em favor das classes menos favorecidas, ou seja, o mínimo do mínimo. Diferente, é o que acontece com as classes que detém o maior poder econômico, dando a impressão que o pobre recebe as sobras, ou simplesmente um agrado, é como se estivessem recebendo apenas um favor, uma caridade. A inclusão social só é lembrada, com a intenção de gerar votos. 
	Todos os políticos falam sobre esse tema em suas campanhas eleitorais, usando pessoas simples em seus programas de rádio e TV, pessoas com poucos estudos ou nenhum, que exercem as profissões mais degradantes, possuidores dos menores salários, moradores de loteamentos irregulares ou clandestinos, de favelas, cortiços, desprovidos de cultura. Esses indivíduos são usados, na sua maioria voluntariamente, sempre com a mesma expectativa, a de uma transformação social, e com isso, a esperança de um futuro digno, com a realização dessa inclusão tão falada, mas ao mesmo tempo, tão distante. Ao fim da eleição, o pobre cai novamente no esquecimento.
	Mas como todo ato tem uma consequência, essa violência que assombra toda a sociedade, que está corrompendo, degradando de uma forma até traumática, é resultado também da falta de interesse dos políticos em investir os recursos públicos de maneira uniforme. Vários condomínios são formados, cercados por enormes muros de concreto, equipados com câmeras de segurança, com vigilantes, visando pela segurança de seus condôminos, contudo, basta um descuido e pronto, a violência entra, e o cidadão se depara com a sua casa invadida por pessoas estranhas. A violência está tomando proporções alarmantes, resultado também de tanta desigualdade. O poder público não investe na educação e cultura, para as classes menos favorecidas. A saúde está doente e a segurança insegura.
	Aquele indivíduo que cresce vendo pai e mãe, se sujeitando a qualquer tipo de trabalho, se humilhando, de sol a sol, debaixo de chuva, muitas vezes sem nenhum tipo de proteção, se alimentado de marmita, usando uniformes que os tornam invisíveis ao mundo, limpando casas enormes, levando horas para chegar ao serviço, e outras tantas para voltar levando um mísero salário, para sustentar uma família inteira. Uns buscam a mesma dignidade de seus pais, mesmo em trabalhos degradantes, por total falta de opção, buscam com esforço uma melhor qualidade de vida, trabalhando num período e estudando em outro, apesar de tantas dificuldades e falta de recursos. Outros já agem diferente, cada um com seus valores, mas todos vítimas da ganância, resultando tanta divisão de classes.
	A humilhação destrói qualquer tipo de expectativa, privam direitos, degenera a alma. Leis não são respeitadas, verbas são desviadas. Uma nação arrecadadora de altos impostos, convivendo com tanta pobreza, recursos sendo usados para favorecer interesses de pessoas influentes, visando acordos políticos. A questão social precisa ser discutida, deveres do Estado cumpridos, em prol da nação.
Invisibilidade pública
	Ao longo dos anos, em parte por conta da pressa constante que temos, e por causa dos problemas que essa precipitação gera em nossas vidas, ou ainda por conta dos medos reforçados pelos noticiários em relação à violência, e consequentemente temos criado uma nova sociedade, uma sociedade que só enxerga à função e não o que as pessoas são além do trabalho que elas exercem.
	Tamanha invisibilidade, onde muitas vezes desviamos desses sujeitos, como quem desvia de um obstáculo. A sociedade é analisada a partir de noções de personalismo, familismo e patrimonialismo. A mudança nas estruturas familiares, a mudança no modo de viver e ter, leva a ser alvo de humilhação social e provoca um imenso sofrimento psíquico nos sujeitos invisíveis. Aqueles que não conseguem ser vistos, inseridos na lógica do capital, consequentemente serão estes socialmente vítimas da invisibilidade pública.
	Essa questão vem do passado, é nítido e retratado o sofrimento dos negros pobres e escravizados, onde surgem influências da Europa burguesa, a ocidentalização que aparece desde o século XIX, com a chegada da família real. Mas a modernização, a tecnologia, e a esfera privada reforçam esse traço do passado, e hoje é preciso articular a história de vida desses sujeitos invisíveis com teorias sólidas, e buscar explicações para compreender a constituição social dos brasileiros. Sendo assim a invisibilidade faz parte da história, e também faz parte dos nossos dias atuais.
	Temos obras que analisam todo esse processo de invisibilidade pública, como o livro “A invisibilidade da desigualdade brasileira” de Jessé Souza e o livro “Homens Invisíveis: relatos de uma humilhação social” de Fernando Braga da Costa. Nota-se que o sociólogo esforça-se muito para dar conta deste contexto sócio-histórico, que possibilitou a construção da desigualdade; já o psicólogo vai direto ao relato dos seus sujeitos e propõe interlocuções, desenvolve estratégias para lidar com questões sociais tão complexas.
	Com a força de interesse de hoje em torno desse sistema, os meios de comunicação vivenciam e dividem a humilhação dessa invisibilidade no nosso dia-a-dia. É necessário valorizar nossos dias de forma diferente, ter a sensibilidade de ver o que ninguém quer ver, buscando novas respostas, novas relações em comunidade, combater a individualidade.
Humilhação social
	Tese desenvolvida sobre Invisibilidade Social através de observações, relatos de histórias de vida e procedimentos de métodos desenvolvidos no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Realizada com desempenho pelo estudante e pesquisador Fernando Braga da Costa, exercendo o trabalho de gari para sua pesquisa de iniciação científica, mestrado e doutorado. Dez anos de trabalho e pesquisa em campo duas vezes por semana com os garis da USP. Estabeleceu um diário de campo com interpretações dos fenômenos psicossociais, buscou o conceito de Invisibilidade Social nos estudos de Karl Marx e Sigmund Freud.							Os garis desse estudo sabem a respeito da invisibilidade e falam dela de forma coerente sem ter o entendimento científico, relataram a humilhação que sofreram, dizem ouvir comentários desagradáveis, passam por constrangimentos que lhes causam angústia e sofrimento. Para os garis o obstáculo é humano, por isso evitam o contato, vivem continuamente sob o fantasma do insulto. Na história da humanidade sempre existiram sujeitos invisíveis. No caso dos brasileiros, começou com o trabalho servil dos nativos, africanos, depois sobre os imigrantes, violação da terra, perda de bens, ofensa contra crenças, trabalho forçado à dominação dos engenhos e depois nas fazendas e nas fábricas. Foram constatados nessa tese que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são realizados por seres invisíveis, sem nome. Comprovou a existência da invisibilidade pública, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano, “Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado-se a um poste, ou em um orelhão”, diz. 
	Concluímos que os problemas sociais na sua essência são problemas morais. A moral do ser humano se manifesta na sociedade e determina as relações sociais. A invisibilidade social é uma doença psicossocial, onde a sociedade está doente, as pessoas enxergam somente a função social do outro. Vemos pessoas degradadas moralmente com a falta de valores como o respeito, fraternidade, amor ao próximo e isso reflete na classe menos favorecida que são excluídos, ignorados e humilhados.
Independente de classe social essa cegueira psicossocial também se encontra nas classes menos favorecida, pois as pessoas pobres também humilham e ignoram o outro, é só ela se sentir privilegiada de alguma forma. As pessoas são rotuladas pela função que exercem como o gari, o pedreiro, a cozinheira, a faxineira, o cobrador, o motorista... Essas pessoas têm um nome, uma vida, uma história, são seres humanos que merecem serem vistos e respeitados independente da profissão que exercem. 
	É preciso uma transformação do homem tornando-o capaz de moralmente realizar a construção de uma sociedade mais justa, contribuindo na formação de um homem consciente de suas responsabilidades com a vida, com o mundo, com o meio ambiente, com a sociedade, com o próximo e consigo mesmo, essas realizações são construídas com a prática da solidariedade, do amor ao próximo, do combate ao orgulho e ao egoísmo, valores capazes de fazê-lo brilhar no meio social em que vive. 
Conclusão
	Os profissionais que realizam a limpeza das	cidades, os agentes ambientais ou popularmente chamados de “garis”, e os coletores de resíduos sólidos das residências e dos estabelecimentos genericamente reconhecidos como “lixeiros”, são considerados uma classe invisível aos olhos da população. Com essa cegueira psicossocial da população, os trabalhadores da limpeza urbana se tornam apenas objetos de limpeza, como uma vassoura, uma pá, um saco de lixo ou muitas vezes são tratados como o próprio lixo, apenas um uniforme que faz a limpeza, e não um ser humano que sente e sofre sendo humilhado diariamente.
	Varrer ruas, parques e praças, aparar grama, retirar a sujeira que é acumulada com as chuvas, lavar e desinfetar as vias públicas são algumas das atividades exercidas pelos garis na sua rotina diária; já a retirada dos entulhos e detritos, o transporte e o despejo do que é descartado, são tarefas dos coletores; ou seja, fazem a manutenção da limpeza nas áreas urbanas. Convivem com o mau cheiro do lixo; com a falta de educação ambiental das pessoas, que se livram do lixo indevidamente; com uma rotina fisicamente e psicologicamente cansativa, pois um trabalhador braçal vive a margem da sociedade, por exercer um trabalho insalubre, arriscado, e que não exige uma escolaridade mais elevada, sendo assim, desqualificados e pouco remunerados, são vitimas do capitalismo, marginalizados por suas condições econômicas.
	A humilhação social é um fato tanto psicológico quanto político, o humilhado se vê impedido de se humanizar, por conta da sua profissão e de seu poder econômico, e encontra mais barreiras quando não tem acesso a serviços básicos oferecidos pelo Estado, com seus direitos violados o sujeito passa por humilhações, que resultam muitas vezes em falta de expectativas e motivação, há um nível baixo de aspiração nos profissionais da limpeza urbana, gerado pela invisibilidade pública, as humilhações sofridas, e pela a classe social em que eles estão inseridos. A invisibilidade é uma questão atual, porém histórica, casos de humilhação e de sujeitos invisíveis vem do passado; são trabalhadores esgotados pelas duras tarefas e deteriorados mentalmente.
	Chegamos à conclusão de que a sociedade está doente quando não enxerga o seu próximo como seu semelhante, e ignorara a sua condição de ser humano evidenciando apenas o que ele produz, ou até mesmo como no caso dos trabalhadores da limpeza, não ocorre à devida valorização do trabalho exercido. A não aproximação, o não reconhecimento, o não enxergar, caracteriza a invisibilidade pública sofrida por garis e coletores que são humilhados socialmente. A capacidade de ver que o sujeito possuí sentimentos, família, religião, e que sofre, mas sorri e sonha com uma vida melhor, e por sua dignidade merece ser reconhecido como ser humano, interfere nas relações sociais. Fernando Braga da Costa em seu livro “Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social” mostra o que observou na experiência que teve com os garis, 
“Os garis abriram meus olhos. Alguma consciência emergiu. Passei a ver coisas que não via. Passei a sofrer por coisas pelas quais não sofria. Pano de fundo tornou-se figura. O drama da luta de classes, já tão enraizado socialmente, contaminando a seiva que vitaliza nossas relações com o outro, transformando nossa visão em cegueira, escancarou-se.” (Costa, 2004).
	Constata-se que a classe de trabalhadores da limpeza urbana é menosprezada, ao ponto de não receberem muitas vezes um cordial comprimento, um olhar mais humano, fraterno e solidário; a sociedade recusa-se a enxergar a condição de cidadão desses trabalhadores.
	Vulgarmente chamados de “lixeiros”, sendo igualados ao lixo por quem não valoriza o trabalho e os seres humanos acima de tudo, que recolhem o que a população descarta diariamente, um trabalho que ninguém quer, porém necessário, pois cuidam não só da beleza de uma cidade limpa, mas cuidam da saúde dessa cidade.
	
	Além da humilhação, invisibilidade e todos os sofrimentos psíquicos sofridos diariamente, os trabalhadores responsáveis pela limpeza das vias públicas lidam com a falta de conscientização da população, que joga o seu lixo em lugares não apropriados, causando danos ao meio ambiente, o que dificulta ainda mais a varrição. 
	A invisibilidade marginaliza esses trabalhadores, pouco remunerados, com rotinas árduas, perturbados psicologicamente, são tidos como a inutilidade da sujeira, e sem perspectiva, pois realizam um trabalho pouco reconhecido, porém com muitas marcas profundas e negativas em suas vidas.
Referências
GONÇALVES FILHO, José Moura. Humilhação social – um problema político em
psicologia. Psicol. USP vol. 9 nº 2. São Paulo, 1998. Disponível em: 
< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-65641998000200002>
CARNEIRO, Ava da Silva Carvalho. A desigualdade e a invisibilidade social na formação da sociedade brasileira. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19360.pdf>
COSTA, Fernando Braga. Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=_2JuzFRZOTwC&pg=PA55&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q&f=false>
E seu eu fosse gari? Disponível em:
<http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3954%3Aorquidario-cuiaba-7122008&catid=44%3Anoticias&Itemid=95&lang=pt>
PROGRAMA AGENTES AMBIENTAIS. Disponível em:
<http://urbam.com.br/Site/Programas/EducacaoAmbiental/AgentesAmbientais.aspx>
DO ALTO DE NOSSAS VASSOURAS. Disponível em:
< http://blogdogari.blogspot.com.br/2010/12/do-alto-de-nossas-vassouras.html>
SANTOS, Gemmelle Oliveira; SILVA, Luiz Fernando Ferreira da. Há dignidade no trabalho com o lixo? Considerações sobre o olhar do trabalhador. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482009000200013>

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