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CCJ0022-WL-A-LC-ECA - Aula 07 - Das Medidas de Proteção

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UNIDADE 2 - RESPONSABILIDADES
AULA 7 - DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO E SOCIOEDUCATIVAS
CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS (art. 98)
- Ao tratar das medidas de proteção, o legislador começa a apresentar os MECANISMOS capazes de SALVAGUARDAR OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS MENORES e indica como PARÂMETROS as situações arroladas no art. 98:
1) A 1ª situação contida nesse artigo consiste em que a AMEAÇA OU VIOLAÇÃO POR AÇÃO OU OMISSÃO SE DÁ POR PARTE DO ESTADO OU DA SOCIEDADE. 
 Exemplo: crianças em situação de rua, exploradas sexualmente ou sem acesso às políticas sociais básicas, como falta de vaga na rede regular de ensino ou de leito num hospital.
2) A 2ª situação está vinculada ao NÚCLEO FAMILIAR, onde A CRIANÇA SE TORNA VÍTIMA PELA FALTA, OMISSÃO OU ABUSO DOS PAIS OU RESPONSÁVEL. 
 Exemplo: a criança que se torna vítima de violência intrafamiliar ou em razão da morte dos pais ou quando o rendimento escolar não é acompanhado pelos pais ou responsáveis.
3ª) Por fim, justifica a aplicação da medida protetiva em razão da CONDUTA DA PRÓPRIA CRIANÇA OU ADOLESCENTE. 
 Exemplo: quando os menores cometem um ato infracional ou quando praticam atos capazes de colocá-los em risco, como ingestão de bebida alcoólica ou fuga de casa.
CAPÍTULO II – DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
 Arts. 99 e 100
Observem que, depois de indicar as situações nas quais justifica a aplicação das medidas protetivas, o legislador, nos artigos 99 e 100, preocupou-se em traçar as REGRAS PARA ORIENTAR O APLICADOR DESSAS MEDIDAS, sempre que houver a hipótese de AMEAÇA OU VIOLAÇÃO DE UM OU MAIS DIREITOS FUNDAMENTAIS.
O GRANDE NORTE NA ESCOLHA DAS MEDIDAS a ser aplicada é o FORTALECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES OU COMUNITÁRIOS. Dependendo das peculiaridades de cada caso, elas podem ser aplicadas isoladamente, cumulativamente ou substituídas a qualquer tempo. 
 Art. 101
O art. 101 apresenta um ROL DE MEDIDAS A SEREM APLICADAS PELA AUTORIDADE COMPETENTE. 
 A autoridade pode ser:
1) O Juiz da Infância e da Juventude (conf. art. 148, I), ou 
2) O Conselho Tutelar (art. 136 do ECA). 
Se observado o rol de medidas apresentadas, conclui-se que, apesar de o legislador não ter sido taxativo no rol destas medidas, procurou calçar todas as situações capazes de ensejar um crescimento harmonioso prevendo o encaminhamento aos pais, monitoramento via orientação, apoio e acompanhamento, matrícula na escola, inclusão em programa oficial de auxilio à família aos mais necessitados, requisição de tratamento médico ou psiquiátrico, inclusão em programas de desintoxicação, abrigo e colocação em família substituta.
Quanto ao ABRIGO, como essa medida deve ser vista como ÚLTIMA ALTERNATIVA, o legislador ressaltou, no art. 100 § único, que O ABRIGO NÃO IMPORTA EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE, deve ser utilizado como MEIO DE TRANSIÇÃO PARA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA.
 Art. 102
Aqui, o legislador destaca como medida de proteção a REALIZAÇÃO DO REGISTRO CIVIL, sempre que for constatada a sua inexistência, devendo o documento ser elaborado com os dados disponíveis, ou seja, com o nome da criança e sua provável idade, quando se desconhecer sua data de nascimento. O nome dos pais poderá ser inserido somente pelos próprios ou por decisão judicial. 
Vistos os mecanismos capazes de salvaguardar os direitos fundamentais dos menores, Acesse sua disciplina on-line, entre em Biblioteca da Disciplina e leia o texto Medidas socioeducativas.
TÍTULO III - DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL
CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS
Partindo-se da idéia de que a lei 8.069/90 se constitui num instrumento de transformação e de garantias de direitos, o legislador, em alguns momentos, abandonou a técnica tradicional legislativa para utilizar técnica própria, com o fim de preservar a sua proposta inicial. Assim, como destinou esse capítulo para regulamentar as MEDIDAS DE PROTEÇÃO EM SENTIDO AMPLO:
- primeiro regulamentou as medidas a serem aplicadas aos carentes (art. 101); 
- em seguida, as medidas a serem aplicadas aos infratores (art. 112); 
- e, por fim, as medidas a serem aplicadas aos pais (art. 129). 
Depois de regulamentar as medidas protetivas, começa a preparar o aplicador da norma para utilizar as MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS. Como estas medidas são aplicáveis somente aos adolescentes infratores, houve o cuidado de:
- conceituar ato infracional no art. 103, 
- definir a imputabilidade infantojuvenil no art. 104 
- e, por fim, cuidar da criança infratora no art. 105. 
Como se pode verificar, ATO INFRACIONAL NÃO É CRIME NEM CONTRAVENÇÃO, e sim apenas um ATO ANÁLOGO AO CRIME OU À CONTRAVENÇÃO. 
Daí a pergunta: em que esses dois atos diferem? 
Para responder a essa pergunta, devemos partir da comparação analítica desses dois atos. Assim, se crime é a conduta, típica, antijurídica e culpável, a conclusão a que vamos chegar é que O ÚNICO ELEMENTO QUE FALTA AO ATO INFRACIONAL É A CULPABILIDADE, visto que a culpabilidade se compõe de dois fatores:
1. psicológico (que envolve a capacidade de discernimento);
2. biológico (que decorre da idade penal). 
Como não temos o elemento biológico, essa conduta não tem como se constituir num crime, e sim num ato análogo a um crime. E, se não há crime, não pode haver como resposta uma pena, e sim uma medida socioeducativa. 
Com base nessa premissa, o legislador não vinculou as medidas aos atos infracionais, diferentemente dos crimes, na medida em que, a cada crime, está acoplada uma pena.
 Art. 104 § único: Possibilidade de aplicação de medida socioeducativa ao jovem adulto, ao determinar que a IDADE DO ADOLESCENTE DEVE SER CONSIDERADA À ÉPOCA DO FATO, e não na data da apreensão, captura ou sentença. Este limite é muito importante, pois evita que jovens criminosos acabem impunes por conta da idade.
 Exemplo: se um adolescente comete um ato infracional bárbaro às vésperas de completar 18 anos e só é apreendido com mais de 18 anos, poderá ser aplicada a ele uma medida socioeducativa. Outro aspecto importante abordado pela lei diz respeito à criança infratora: o legislador definiu o tipo de medida a ser aplicada a ela e a autoridade competente que, conforme dispõe o art. 136, é o Conselho Tutelar.
CAPÍTULO II - DAS GARANTIAS INDIVIDUAIS
O legislador, antes de abordar as medidas socioeducativas, teve a preocupação de definir os direitos individuais e as garantias processuais do adolescente infrator. Conforme dito anteriormente, os direitos fundamentais dos menores nada mais são que os direitos fundamentais do cidadão comum acrescidos do status de prioridade absoluta.
Assim, o legislador entendeu por bem ratificar que os direitos individuais previstos para o criminoso também são aplicáveis aos adolescentes infratores, tanto que, no art. 106 do ECA, praticamente transcreve o disposto nos incisos LXI e LXIV do art 5º da CF, ao garantir que nenhum adolescente poderá ser apreendido senão em flagrante delito ou por ordem de autoridade judicial competente.
 Art. 106:
- Esta RESSALVA EM RELAÇÃO À AUTORIDADE COMPETENTE é importante por:
LIMITAR A PRERROGATIVA SOMENTE AO JUIZ DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE, e não a outro juiz, e também por 
Determinar que o adolescente infrator tem o direito de saber quem são os RESPONSÁVEIS PELA SUA APREENSÃO e ser ALERTADO ACERCA DE SEUS DIREITOS, inclusive o de permanecer calado em sede policial. 
 Importância prática dessa regra: com relação à identificação dos responsáveis pela apreensão, permite aos menores identificar o autor de um abuso de autoridade, caso ocorra.
 Art. 107: Objetivando dar MAIS VISIBILIDADE À APREENSÃO DO ADOLESCENTE, determinou o legislador que deverá o delegado comunicar a chegada do menor à DP ao juiz, à família ou à pessoa por ele indicada. Como a privação da liberdade se constitui numa exceção, deverá o Delegado, ainda nesse mesmo momento, verificar se é o caso de liberação imediata e, para tanto, deverá tomar por base as regras contidas no art. 122 desse mesmo diploma legal. Ainda relativamente às garantias individuais, o legisladorfez questão de estabelecer que o prazo máximo da internação provisória do adolescente infrator é de 45 dias e de determinar que essa internação provisória só poderá decorrer de decisão judicial pautada em indícios de autoria e materialidade, ou seja, ser uma decisão fundamentada. Para concluir o rol das garantias individuais, estende ao menor infrator o direito à não-identificação datiloscópica na DP, salvo em caso de dúvidas.
CAPÍTULO III - DAS GARANTIAS PROCESSUAIS
Estas estão previstas nos art. 110 e 111. Neste item, o legislador resgata uma grande injustiça do passado em relação ao delinqüente juvenil, ao prever que nenhum adolescente hoje poderá ser privado de sua liberdade, sem o devido processo legal. Como corolário do devido processo legal, garantiu o direito de citação, igualdade na relação processual, defesa técnica por advogado, assistência judiciária gratuita, bem como o direito de ser ouvido pessoalmente e de solicitar a presença de seus pais em qualquer fase do processo.
CAPÍTULO IV - DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Observem a técnica utilizada pelo legislador em relação ao menor infrator. Antes de definir as medidas socioeducativas, preocupou-se em (1) preservar a dignidade do infrator por meio das garantias e ainda (2) definir as regras para a sua aplicação. 
 Art. 112: O legislador, ao cuidar das medidas a serem aplicadas ao ADOLESCENTE INFRATOR, o fez de forma a garantir a sua completa RESSOCIALIZAÇÃO, tanto que:
Aponta as 6 espécies de medidas socioeducativas e
Prevê a possibilidade de cumulá-las com as medidas previstas no art. 101, exceto as que visem à colocação em família substituta.
 Art. 112 §1º
- C/C art. 113: O legislador indicou os CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS PELO JUIZ NO MOMENTO DA ESCOLHA DA MEDIDA MAIS ADEQUADA, a saber:
a) a capacidade para cumpri-la;
b) as circunstâncias e conseqüências do fato;
c) a gravidade da infração;
d) as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
 Art. 112 §2º
Como uma das espécies de medida se constitui na prestação de serviço, o legislador teve a preocupação de ressaltar que, em nenhuma hipótese, será admitida a prestação de trabalho forçado. Isso porque as medidas socioeducativas:
Têm caráter pedagógico e 
Visam à proteção e à educação do adolescente em conflito com a lei. 
 Art. 112 §3º
- Aqui o legislador não eximiu os ADOLESCENTES PORTADORES DE DOENÇA MENTAL da aplicação dessas medidas. Apenas previu que sejam aplicadas de forma individual e em local especializado, o que ainda é uma utopia nos dias de hoje, em razão da inexistência dessas entidades em nosso país.
 Art. 113
- Outra peculiaridade do sistema socioeducativo diz respeito à possibilidade de APLICAÇÃO CUMULADA DAS MEDIDAS E A SUA SUBSTITUIÇÃO A QUALQUER TEMPO, por força do art. 113, c/c art. 99. 
 Art. 114
- Como a MEDIDA SOCIOEDUCATIVA deve guardar NEXO DE PROPORCIONALIDADE com o ATO PRATICADO, exigiu o legislador que, para a IMPOSIÇÃO DAS MEDIDAS DESCRITAS NOS incisos II a V do art. 112, com EXCEÇÃO DA REMISSÃO (art. 127), restem suficientemente comprovadas a autoria e a materialidade do ato infracional. 
 Já para a medida de advertência (inciso I), a exigência ficou restrita à prova da materialidade e INDÍCIOS de autoria.
 Exemplo: um determinado aluno da escola é conhecido por pichar os seus cadernos, aí, num determinado dia, toda a escola amanhece com a pichação desse aluno, mas ninguém o viu praticando o ato, e ele nega. Nesta situação, como temos apenas indício da autoria com materialidade, a única medida a ser aplicada será de advertência, não cabem as demais.
Depois ultrapassar todas essas etapas, o legislador começa a esmiuçar as medidas.
I) DA ADVERTÊNCIA (art. 115)
- Consiste numa espécie de admoestação verbal, reduzida a termo e assinada pelo adolescente e seus responsáveis, com o objetivo de alertar o menor dos riscos do seu envolvimento. Na prática, esta medida está restrita aos ATOS INFRACIONAIS DE NATUREZA LEVE.
II) DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO (art. 116) 
- O legislador estatutário reservou esta medida aos atos infracionais de NATUREZA PATRIMONIAL. 
- Como envolve um tipo de obrigação que normalmente deve ser exercida pelos pais, nos moldes da lei civil, o legislador determinou que esta medida só poderá ser aplicada se o adolescente tiver condições de cumpri-la por si mesmo. Caso não tenha, a medida terá de ser substituída por outra (§ único). 
 Ainda para facilitar, determinou que esta medida possa ser cumprida com:
1) A restituição da coisa
2) O ressarcimento ou 
3) Outra forma que compense o prejuízo. 
 O exemplo que se tornou conhecido pela sociedade foi aplicado pelo Dr. Siro Darlan, que condenou alguns adolescentes a pintarem o muro do Maracanã como forma de reparação do dano.
III) DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE (art. 117) 
- Esta medida é de grande valia poque:
1) Preenche o tempo ocioso do adolescente infrator
2) Traz nítida sensação à coletividade de resposta penal à sua conduta. 
- Não obstante o seu caráter pedagógico, como envolve o trabalho do menor, o legislador:
Condicionar a sua aplicação às condições pessoais do menor e
Estabeleceu prazo máximo de 6 meses, com a possibilidade de extensão a uma jornada máxima de 8 horas semanais, sem prejuízo do horário escolar ou profissional.
IV) DA LIBERDADE ASSISTIDA (art. 118 e 119)
- Esta medida será aplicada sempre que se mostrarem necessários:
1) O acompanhamento
2) O auxílio e 
3) A orientação ao adolescente infrator (art. 118). 
- O legislador determinou o prazo mínimo de seis meses para a sua aplicação (art. 118 §2º).
 Observem que foi fixado um prazo mínimo, e não máximo. Isso porque não se pode prever o tempo necessário para se ressocializar um adolescente que esteja envolvido com a prática de ato infracional.
- Esta medida, nos dias de hoje, é a que mais tem resgatado os nossos adolescentes, porque, na prática:
1) O menor continua sob os cuidados de sua família e, ainda 
2) O menor é monitorado pelo juiz, na pessoa de um orientador. 
 Dada a importância do papel desse orientador, o legislador apontou uma gama de compromissos a serem observados por ele (art. 119), dentre os quais o de diligenciar a freqüência escolar e a profissionalização do adolescente e apresentar relatório, de forma a subsidiar a análise judicial acerca da necessidade da manutenção, substituição, extinção ou regressão da medida.
V) DA SEMILIBERDADE (art. 120)
- Trata-se de uma medida que pode ser aplicada desde o início ou como forma de transição para o meio aberto (art. 120 caput). 
- Aplicam-se a ela as disposições relativas à internação, desde que compatíveis (§2º). 
 Tal como na medida de internação:
Não comporta prazo determinado
Sua manutenção deve ser reavaliada pela autoridade judicial, no máximo, a cada seis meses. 
- É da essência dessa medida o EXERCÍCIO DE ATIVIDADES EXTERNAS (escolarização e profissionalização - §1º). Como conseqüência, o adolescente tem liberdade para estudar e trabalhar.
VI) DA INTERNAÇÃO 
- Esta medida será tratada na aula a seguir, em separado.
TÍTULO IV - MEDIDAS APLICÁVEIS AOS PAIS (arts. 129 e 130)
Consiste em uma série de MEDIDAS A SEREM APLICADAS AOS PAIS QUANDO RESTAR COMPROVADO QUE A ORIGEM DO PROBLEMA DO MENOR ESTÁ NA FAMÍLIA.
Nesse contexto, foram previstas medidas capazes de orientar e preparar os pais para assumirem os seus reais papéis. Tal preparação visa a proporcionar aos filhos um ambiente compatível com a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Ainda nessa trilha de preservação do crescimento harmonioso do menor, trouxe uma grande novidade, que consiste na possibilidade do afastamento do lar do agressor do menor, como medida cautelar (ECA, art. 130).
Atenção: acesse sua disciplina on-line para participar do Fórum de Discussão, tirar suas dúvidas e realizar os exercícios de autocorreção desta aula. Isto é essencial para fixar o conteúdo e marcar sua presença na aula.Para aprofundar seu estudo sobre medidas socioeducativas, vale conferir o livro:
KONZEN, Afonso Armando. Pertinência socioeducativa: reflexões sobre a natureza jurídica das medidas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

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