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2015 Rozimar de Campos Pereira CCA- 249- Silvicultura II Março de 2015 Implantação Florestal- Parte 1 I. Alguns conceitos importantes. 1.1. Definição O termo silvicultura provém do Latim silva (floresta) e cultura (cultivo de árvores), e tem sido definida de várias formas: Ford-Robertson (1971) considera a silvicultura, como a ciência e arte de manipular um sistema dominado por árvores e seus produtos, com base no conhecimento da história da vida, e as características gerais das árvores e do sítio. Lamprecht (1990) define a silvicultura, como sendo o conjunto de todas as medidas tendentes a incrementar o rendimento econômico das árvores até se alcançar quando menos, um nível que permita um maneio sustentável. Segundo Oldman (1990), silvicultura, é uma arte de planificação á longo prazo, com base em informação detalhada sobre as características da floresta com vista a alcançar o estado desejado. Para efeitos do presente apostila, será usada a definição de Louman et al (2001) que combina a definição de Ford-Robertson (1971), considerando que a floresta é manejada para se alcançar o estado desejado (Oldman, 1990), e que essas atividades sejam economicamente rentáveis (Lamprecht, 1990). 1.2. Subdivisões da Silvicultura e seus objetivos A silvicultura subdivide-se em silvicultura clássica e silvicultura moderna (Lamprecht, 1990). A clássica opera quase exclusivamente com as florestas naturais, recorrendo ás forças produtivas decorrentes do sítio, e os seus limites são determinados pela necessidade de não ameaçar a estabilidade natural, condicionada pelo ecossistema. A silvicultura moderna opera, quase exclusivamente com as florestas plantações, e o mais independente possível do sítio natural, isto é, num meio artificial, e só artificialmente mantido. Ambas as subdivisões tem por objetivo fundamental, a produção de madeira (Lamprecht, 1990). Porém, a silvicultura moderna para além de produzir madeira, assume outras funções tais como: serviços (proteção, lazer, bem estar) ou bens (postes, resinas, cortiça, etc..). Independentemente dos objetivos em questão, é tarefa do silvicultor saber quando e como intervir na floresta de modo a conseguir um alto rendimento, mas sem afetar o equilíbrio ecológico. Estas questões só podem ser respondidas através do conhecimento das condições de sítio (sítio ecológico), por forma a ter-se uma idéia do tipo de intervenção silvicultural, capacidade de regeneração e crescimento, intensidade de exploração, mas por outro, lado para se ter uma base para a planificação do orçamento das atividades florestais. 1.3. Conceitos e histórico da Silvicultura. O desenvolvimento da Ciência Florestal se baseia na crescente demanda de produtos florestais, na necessidade de se prevenir as conseqüências do desmatamento intenso e na correção desses efeitos em áreas degradadas. Para atender estas expectativas há necessidade de desenvolver novas técnicas, aperfeiçoar aquelas já existentes e construir novas máquinas e implementos que aumentem o rendimento e a produtividade da atividade florestal. A Silvicultura, segundo HAWLEY & SMITH (1972), tem como objetivo a produção e manutenção dos povoamentos, de forma a atingir os propósitos estabelecidos no tempo determinado, para proporcionar os benefícios decorrentes da atividade florestal. SOUZA (1973) apresentou o conceito de Antoine Jolyet como “a ciência que estuda os fenômenos relativos à vegetação da floresta e arte de explorá-la, sem entravar o seu funcionamento fisiológico”; de Gayer como a “ciência de implantar povoamentos satisfazendo as necessidades do mercado, de acordo com a capacidade do solo e conduzi-los a um determinado desenvolvimento para os entregar à exploração” e, finalmente, de Henry Solon Graves, como “a arte de estabelecer, desenvolver e reproduzir as florestas”. Já para ARRUDA VEIGA (1977), Silvicultura é o “ramo da ciência florestal que trata da propagação e cultivo dos povoamentos naturais e artificiais”, enquanto SEP (1983) conceituou como “a arte de controlar o estabelecimento, a composição e o crescimento dos povoamentos florestais”. É interessante notar os termos floresta e povoamento, que aparecerem nestes conceitos e fazer uma perfeita distinção entre eles. Para ARRUDA VEIGA (1977) floresta é uma área de terra mais ou menos extensa, coberta predominantemente de vegetação lenhosa de alto porte formando uma biocenose e pode ter diversos povoamentos. Sendo que biocenose é uma associação de seres de espécies diferentes numa mesma área alimentar. Os elementos bióticos são animais, vegetais, insetos e microorganismos, enquanto os elementos abióticos são solo, água e clima. Segundo SOUZA (1973) Povoamento Florestal é a soma, em número ou volume, de todas as árvores de um maciço, que pode ser estudado quanto à sua composição, idade, origem, estrutura e estado. Já para SAMEK (1974) é o conjunto de indivíduos que constitui a unidade de cultura florestal. Pode ser ainda o conjunto de árvores que se distingue de outros conjuntos por qualquer das suas características. Finalmente tratamentos silviculturais são os meios utilizados para manejar os povoamentos visando o máximo de produção e sua continuidade, sem prejudicar suas funções benéficas, segundo SAMEK (1974). Já no I Encontro Nacional de Pesquisadores para Padronização da Terminologia Florestal, segundo UFPr (1976), ficou estabelecido como as operações efetuadas no estabelecimento e formação de um povoamento florestal, que podem ser divididas em tratos culturais, que são as operações realizadas desde o estabelecimento até o fechamento do dossel e tratos do povoamento, que são operações realizadas a partir do fechamento do dossel até a colheita florestal. Dossel refere-se a copa das árvores ou ao estrato formado pelas copas das árvores. Não importa qual conceito de Silvicultura seja adotado, mas sim o conhecimento de sua abrangência, entendida como a parte da Ciência Florestal que se preocupa com o estudo das espécies florestais e das florestas, com a implantação de florestas artificiais, com as formas adequadas de intervenção nas florestas naturais ou plantadas e com a produção de bens e serviços, em qualidade e quantidade, para atender ao mercado. Segundo GALETI (1973), a Silvicultura teve seu início na Alemanha, por volta do ano de 1368, com o reflorestamento artificial de Abies sp., Abeto, Pinus spp., Pinheiros e outras espécies, considerando a importância das árvores como fonte de energia e madeira para habitação, além do aspecto estratégico, já que as florestas representavam uma barreira física de proteção. CARNEIRO (1981) citou que esta atividade teve seu início na Inglaterra apenas no século XVI por questões de segurança, principalmente para atender a indústria naval, o mais importante meio de transporte à época, sendo que neste período foi publicado, por John Evelyn, o primeiro manual de Silvicultura, denominado “Sylva”. Contudo, PEREIRA (1950), citando Paulo Ferreira de Souza, informou que na China, na Dinastia “Tang”, do ano de 220 a 265, determinou-se de modo explícito o reflorestamento de áreas desmatadas; na Dinastia “Sung”, de 420 a 589, divulgaram-se os métodos de agricultura e silvicultura e, finalmente, na Dinastia “Ming”, de 1368 a 1644, foram criadas estações experimentais de Silvicultura. SAMEK (1974) citou que a Silvicultura nas regiões tropicais começou na Índia, apenas no final do século XIX e, mais recentemente, na América Latina. Observou, ainda, que o pouco desenvolvimento técnico nesta área, além de causas históricas e sociais, pode também ser atribuído às característicasdas florestas tropicais e, anteriormente, HAWLEY & SMITH (1972) já haviam levantado que as causas da pouca atividade silvicultural em florestas irregulares estava relacionada com a dificuldade para tratar estes povoamentos, com limitação de recursos e com falta de conhecimento ecológico destas matas. No Brasil a atividade silvicultural teve seu início em 1910, destacando-se que em 1909 Edmundo Navarro de Andrade introduziu o Eucalyptus sp., Eucalipto, no Horto Florestal de Rio Claro, estado de São Paulo, para a produção de lenha para a ferrovia Paulista, sendo que no final de década de 50 já existiam mais de 25.000 ha plantados, destinados também para dormentes e postes, conforme relatou FLINTA (1960). Em 23 de janeiro de 1934 foi editado o primeiro Código Florestal, através do Decreto No. 23.793, sendo este substituído pelo Novo Código Florestal, instituído pela Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965 que sofreu diversas alterações mas continuava em vigor até esta publicação. Foi também editada diversa legislação complementar com base neste Novo Código Florestal, como a de manejo florestal sustentado, de reposição florestal obrigatória, da recuperação de áreas degradadas e do plano integrado floresta indústria, PIFI, posteriormente substituído pelo plano integrado florestal, PIF. Com o advento da Lei 5.106 de 02 de Setembro de 1966 foi implantada a política de reflorestamento através de projetos incentivados, com parte do imposto de renda devido pelas empresas sendo aplicado em reflorestamento, contudo, com o plantio de exóticas como o Pinus spp. e Eucalyptus spp., sendo exigido que apenas um por cento da área plantada fosse com espécies nativas. Em 1980 a área reflorestada do Brasil foi estimada em 4.000.000 ha, sendo que 52% com Eucalyptus spp., 33% com Pinus spp. e o restante com espécies como: Acacia nearnsii, Acácia negra; Anacardium sp., Caju; Araucaria angustifolia, Pinheiro Brasileiro ou Pinheiro do Paraná; Carya pecan, Nogueira Pecan; Mangifera indica, Manga; Paulownia sp., Quiri; Prosopis sp., Algaroba, entre outras. Os estados de Minas Gerais e São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, destacaram-se pelos plantios de Eucalyptus spp., principalmente para carvão vegetal e matéria prima para fábricas de aglomerados e chapas de fibras, enquanto os plantios de Pinus spp. concentraram- se em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo, tanto para atender as indústrias de celulose e papel, como para produção de madeira para serraria. Os plantios de A. angustifolia concentraram-se mais no estado do Paraná. Como é possível observar o estágio atual da Silvicultura praticada no Brasil e, particularmente, na Bahia tem suas origens na própria tradição cultural da exploração seletiva das florestas, que sempre foram erroneamente consideradas inesgotáveis e na própria política florestal implementada mais intensamente a partir da década de setenta. Contudo, esta exploração seletiva e intensa também pode ser atribuída à política agropecuária que sempre incentivou a ampliação da fronteira agrícola para o Nordeste, Centro- Oeste e para a Amazônia; também à política fundiária que até hoje apresenta conflitos sobre área produtiva e improdutiva, quando existe uma cobertura florestal e não uma atividade agropecuária sobre a área e, finalmente, à política tributária que, no passado, indiretamente incentivou o desmatamento pela menor tributação das terras sob algum tipo de uso quando comparada com a terra coberta por floresta. De outro lado o aumento da atividade de reflorestamento se deve principalmente à maior facilidade na condução desses povoamentos quando comparados com o manejo silvicultural de florestas tropicais, que é bastante complexo. Quanto ao uso de espécies exóticas, isto é devido principalmente ao conhecimento silvicultural existente e ao melhor incremento apresentado por tais espécies. As características das florestas tropicais que dificultam o seu manejo silvicultural estão relacionadas com uma grande riqueza de espécies, mas com dispersão dos indivíduos exploráveis, que resultam em uma alta produção de biomassa total, mas com pequeno volume econômico, além das perdas oriundas por troncos defeituosos, apodrecidos ou atacados por insetos e fungos. Para exemplificar, o volume médio somado de Swietenia sp., Torresea acreana, Cedrela sp. e Cordia sp., na Amazônia, é de cerca de 0,5 m3/ha, sendo que os indivíduos exploráveis representam de 2 a 5% de população total, apesar dos indivíduos com mais 40 cm de diâmetro responderem por cerca de 100 m3/ha e outros 20 m3/ha por outras espécies de valor secundário. Outro aspecto a ser considerado diz respeito a estrutura espacial muito complexa, com diferentes espécies, espaçamentos, idades e estratos com presença excessiva de espécies indesejáveis, como cipós e epífitas, que prejudicam as atividades silviculturais e, em alguns casos existência de um sub-bosque denso. É importante salientar que nem sempre sob uma floresta tropical exuberante existe um solo de boa qualidade. Na Amazônia é muito comum encontrar solos de baixa qualidade sob florestas de grande porte, que só ali existem devido a uma situação bastante peculiar, que se caracteriza exatamente por um ambiente favorável e uma grande heterogeneidade de espécies, de modo que a ciclagem nutricional é muito rápida, otimizando a utilização dos poucos recursos disponíveis. Várias condições especiais concorrem para esta ciclagem rápida, sendo que a permanente alta umidade relativa do ar com temperaturas elevadas, sem grande variações, são as características climáticas mais marcantes, possibilitando uma intensa e permanente atividade fisiológica de todos os organismos desse ambiente. Além disto, a presença bastante heterogênea de insetos e microorganismos, que agem na rápida transformação de todo material orgânico liberado no ambiente, disponibilizam os nutrientes que são rapidamente reutilizados pelos vegetais, que apresentam grande concentração de raízes nas camadas superficiais do solo e na própria serapilheira. Associado a tudo isto uma população vegetal bastante heterogênea otimizando a ocupação do espaço terrestre e aéreo, além de inúmeras interações benéficas entre os componentes bióticos, como a micorriza, têm-se uma biocenose que se caracteriza pela presença do capital de nutrientes concentrado na biomassa e não no solo. Estudos devem ser desenvolvidos para um entendimento profundo dessas florestas que orientem para sistemas que simplifiquem esta estrutura e promovam o seu enriquecimento. Simplificar a estrutura significa torná-la menos heterogênea, com grupos de indivíduos com características de povoamentos mais simples ou componentes diamétricos e produção conhecidos, para estabelecer uma produção sustentada. De outro lado, o enriquecimento se refere ao aumento das espécies ou do número de indivíduos desejáveis e de valor econômico para os objetivos propostos. 2. A Silvicultura como Empreendimento A atividade silvicultural como um empreendimento procura a perfeita integração entre os aspectos econômicos desejados pelo empresário e os aspectos legais exigidos pelo poder público, com a intervenção técnica do Engenheiro Florestal para disponibilizar os produtos e benefícios das florestas, em quantidade e qualidade, para o mercado. Conforme preconizou SAMEK (1974) o objetivo geral das práticas silviculturais é obter um rendimento sustentado de matéria prima dos povoamentos para abastecimento anual da atividade florestal. Em florestas naturais, também podem existir outros objetivos específicos, como a homogeneização, que trata do ordenamento, comoo adensamento, que trata do aumento do número de indivíduos desejáveis ou como o enriquecimento que trata do aumento do número de espécies desejáveis destas florestas. 2.2. Usos e Influências da Floresta Um fato importante a ser destacado é que o povoamento florestal não deve ser analisado apenas pelo seu aspecto produtivo, mas também pelo seu aspecto protetivo e social. Segundo TAYLOR (1969) as florestas podem produzir benefícios diretos e indiretos. Os benefícios diretos estão relacionados com os produtos e subprodutos que a floresta pode oferecer, além da geração de empregos. Já os benefícios indiretos são resultantes da proteção do ambiente e das influências positivas no microclima desses maciços e nas regiões circunvizinhas. Outros benefícios indiretos estão relacionados com a preservação ou conservação de sítios especiais, com o lazer e com a qualidade de vida. A floresta como fonte de matéria prima, destaca-se pela madeira que pode ser utilizada em estado bruto ou com pouca transformação, por desdobro primário, como postes, moirões, dormentes, andaimes, vigas e outros produtos. Na construção civil para sustentação de telhados, esquadrias, batentes, tacos, lambris e assoalhos. Pode também ser utilizada na confecção de pequenos objetos como cabos, caixas e fósforos. A madeira pode ser mais transformada e utilizada na produção de chapas de fibras, chapas de madeira aglomerada, compensados, lâminas para revestimento ou enchimento de compensados e, mais recentemente, para produção de chapas do tipo MDF, do inglês “medium density fiberboard”, que é um tipo de aglomerado. Na indústria mobiliária a madeira ainda é a matéria prima mais utilizada e espécies como Tectona grandis tem grande utilização na indústria naval. Outra utilização importante da madeira é como fonte de energia, que se caracteriza como renovável, principalmente como lenha ou transformada em carvão vegetal. A transformação em carvão é muito utilizada pelas indústrias, principalmente pelo aumento do poder calorífico em relação à massa, além de uma série de subprodutos da carbonização, como os gases, óleos e o alcatrão. TUSET (1980) informou que o carvão vegetal de Eucalyptus camaldulensis tem um incremento de 60% no poder calorífico, com redução de 60 a 65% de seu volume e de até 75% em peso. Outra alternativa energética é a obtenção de álcool de madeira, atividade testada de 1981 a 1986 em Uberlândia, mas que não teve sucesso devido ao alto custo de produção quando comparado com o álcool oriundo da cana-de-açúcar. Ainda como fonte de energia podem ser utilizados os resíduos de serragem ou maravalhas, pela sua queima direta ou para produção de briquetes, que serão futuramente queimados. A madeira ainda pode ser transformada em polpa ou pasta celulósica para obtenção de papel, além de outras importantes transformações da madeira. Existem outros produtos que podem ser fornecidos pela floresta, principalmente extrativos como a essência aromática extraída da folha do Corymbia citriodora, das resinas extraídas de Pinus spp., látex extraído da Hevea sp., gomas, tanino, cortiça, óleos, como o extraído de Orbygnia sp., Babaçu, tinturas e outros produtos. Finalmente, os produtos alimentares para o homem, como castanhas, erva- mate, pinhão e cupuaçu ou as leguminosas forrageiras, como Prosopis juliflora, Algaroba e Leucaena leucocephala, além de uma série de produtos de uso medicinal, como o bálsamo. Existe uma crescente necessidade de produtos florestais mas também é necessário prevenir as conseqüências do desmatamento indiscriminado, como a erosão do solo, escassez de água, prejuízos à fauna e flora ou inundações. As causas fundamentais do desmatamento, além da necessidade de matéria prima, são áreas para pecuária, expansão da fronteira agrícola e os grandes incêndios florestais. Em 1964 um grande incêndio no estado do Paraná dizimou milhares de hectares de florestas nativas de A. angustifolia, permanecendo ativo por mais de um mês. Em 1998 outro grande incêndio ocorreu na região Amazônica, de grandes proporções e prejuízos, com grande repercussão nacional e internacional, originado a partir de queima, em atividade agropecuária, sem os devidos cuidados técnicos. Outro aspecto protetivo está relacionado com o microambiente e o microclima formados no interior da vegetação florestal. A vegetação natural de determinada região é produto do meio, principalmente das características relacionadas com o solo e com o clima. IMPLANTAÇÃO DE POVOMENTOS FLORESTAIS Entende-se por implantação, o conjunto de operações que vai do preparo do solo até o momento no qual o povoamento possa se desenvolver de forma independente, ficando o restante da rotação por conta das operações de manejo e proteção florestal. A implantação dos povoamentos depende de um planejamento inicial das áreas destinadas a seus talhões e do número de mudas necessárias. A quantidade de mudas que ocupa um talhão é definida pelo espaçamento inicial que é a distância entre as linhas de plantio e a distância entre as plantas dentro de cada linha, cujo produto expressa a área disponível para o crescimento inicial de cada árvore. Esta ocupação do espaço também pode ser expressa pela densidade, que é a quantidade de árvores em um hectare. O espaçamento inicial é inversamente proporcional a densidade. Em plantios de curta rotação o espaçamento inicial é o mesmo da colheita. Plantios de rotação média ou longa apresentam vários espaçamentos, normalmente irregulares, com diminuição gradativa da densidade. O arranjo espacial do espaçamento inicial pode ser regular ou geométrico, com as seguintes formas: quadrático, retangular e triangular, na forma de triângulo equilátero ou isósceles. Outra possibilidade é o arranjo irregular e, neste caso, é melhor expresso em densidade. Embora a implantação seja uma fase de alta importância para o bom desenvolvimento da cultura, ainda não se tem equipamentos adequados para todas as suas etapas, sendo utilizados, muitas vezes, equipamentos agrícolas adaptados. As operações de implantação consistem em: 1. Preparo da área 1.1. Construção de estradas e aceiros Esta operação representa mais de 30% do custo da madeira posta na indústria. Portanto o posicionamento e dimensões dos talhões devem ser planejados de modo a facilitar e racionalizar a exploração. Estudos têm demonstrado que a distância máxima de arraste ou transporte do ponto de corte até os carreadores deve ser ao redor de 150 m. Dessa forma os talhões devem ter 300 m de largura, podendo chegar a 1000 m de comprimento, embora haja casos de se optar por até 100 ha. Os talhões devem ser separados por aceiros de 4 a 5 m de largura, e a cada 45 a 120 ha deve haver um aceiro de 10 m de largura, com leito carroçável de 4 a 5 m. Os aceiros das divisas devem ser de 15 m de largura, com leito carroçável de 6 a 8 m. O maior comprimento dos talhões deve estar no sentido N-S, sempre ligados a uma estrada de escoamento L-O de 15 m com leito carroçável cascalhado de pelo menos 6 m. A Figura 1 ilustra a construção de estradas e aceiros. Entretanto, estes indicadores podem ser modificados de acordo com as condições de topografia, tipos de solos, equipamentos Figura 1 - Ilustração da construção de estradas e aceiros. de colheita e transporte e logística. Nas áreas planas ou levemente onduladas a porcentagem de vias de acesso não deve exceder 5% do total, ou seja 1 km para cada 15 a 20 ha. Já nas áreas inclinadas,esta porcentagem será maior, devido à extração manual e com animais, onde a distância de arraste não deve ultrapassar 40 a 50 m. Algumas empresas, para melhor proteção contra incêndios, utilizam faixas de mata nativa dentro dos talhões, que podem servir também como abrigo para animais. 1.2. Desmatamento e destoca Para o desmatamento, podem-se utilizar basicamente três processos: 1.2.1. Correntão É utilizado em áreas com vegetação mais fraca (diâmetro inferior a 45 cm), sem pedras ou depressões, de declividade suave e densidade inferior a 2500 árvores ha. Com uma corrente pesada, puxada por dois tratores de esteiras, passa-se sobre a área, cortando o declive em faixas de 25 a 50 m, e novamente em arrepio, para facilitar o trabalho de enleiramento (Figura 10). Em áreas leves de cerrado, dois tratores de pneus com proteções nas rodas e pesos, podem realizar um bom trabalho com correntes não muito longas. Figura 2 - Esquema de derrubada com o correntão. A corrente deve ter um comprimento total de 90 a 150 m, levando-se em conta que o seu tamanho deve ser de 2 a 3 vezes a distância entre as máquinas. O seu peso deve variar de 50 a 120 kg m. Deve ter de 30 em 30 m e no engate das máquinas, destorcedores para evitar rupturas. Devido à necessidade de grandes distâncias para que esse trabalho se torne econômico, recomenda-se que seja feito em áreas com pelo menos 400 ha, onde seu rendimento atinge 2 a 4 ha/h. As principais características dos diferentes tipos de correntão podem ser observadas no Quadro I. QUADRO I – Tipos de correntão mais utilizados para limpeza de área Tipos Peso Comprimento total (m) (Kg/metro linear) Normal(m) Pot. Trator(cv) Longo(m) Pot. Trator Leve 50 – 80 150-180 150-180 Médio 80 – 100 90 – 120 150-180 120–150 200-270 Pesado 100 – 120 200-270 > 300 FONTE: SAAD (1979) De acordo com as características acima, o peso total dos correntões varia de 4,5 a 18 toneladas. Modelos de tratores que podem ser utilizados: - Potência de 150 a 180 CV: - Fiat-Allis 14CS - Komatzu D60E - Komatzu D65E - Potência de 200 – 270 CV: - Caterpillar D7H - Potência > 300 CV: - Caterpillar D9H - Fiat-Allis FD30 - Caterpillar D8K 1.2.2. Lâmina KG e destocador Para vegetação mais pesada, onde não há preocupação com a permanência de tocos, a lâmina KG pode ser aplicada. Com ela é feito o corte das árvores a baixa altura por meio do estilhaçamento do tronco, ocasionado por uma lâmida pontiaguda e afiada (Figura 3a). O arrancamento dos tocos pode ser feito posteriormente com o stumper (destocador), procedendo-se ao enleiramento em seguida. O mercado internacional oferece dois modelos básicos de destocadores movidos a tratores de esteiras, estes os mais comuns, ou pneus: os que arrancam os tocos íntegros por meio de tração ou empurramento e aqueles com fragmentação por meio de discos dentados ou brocas. Os primeiros demandam mais custos, em função da necessidade de enleiramento dos tocos arrancados, enquanto os segundos formam pequenos cavacos ou serragem grosseira que é incorporada no processo de preparo do solo para reforma ou ainda, pode permanecer sobre o solo, fazendo parte do processo de ciclagem de nutrientes. 1.2.3. Lâmina "bulldozer" Empresas florestais e agrícolas com menos recursos, utilizam esse tipo de lâmina para desmatamento, acoplada ao trator de esteiras (Figura 3b) ou de pneus traçados. No entanto ela é preparada para terraplanagem, o que ocasiona o acúmulo de material orgânico e parte do solo nas leiras (Figura 3c). Análise de rendimento entre as lâminas KG e bulldozer demonstram a superioridade da primeira (Tabela 1). Tabela 1 - Comparação entre os rendimentos da Lâmina Rome KG e Bulldozer (109) Figura 3 - Tratores de esteiras equipados com lâminas tipo KG (a) e Bulldozer (b e c). Esses valores são uma referência geral, pois as características da vegetação, o tipo de solo, a umidade, a topografia e a largura das esteiras tem grande influência na potência exigida pelos correntões. Os correntões são arrastados pelas extremidades, por dois ou tres tratores de esteiras, que se movimentam paralelamente ao longo de picadas. Quando estes tratores são equipados com lâminas dianteiras, dispensam muitas vezes, o uso de picadas. A distância entre os tratores nunca deverá ser maior do que 1/3 do comprimento total do correntão (SAAD, 1979). Portanto, a faixa trabalhada varia de 30 a 50 metros de largura. Normalmente, torna-se necessário passar o correntão duas vezes no terreno, uma em cada direção, a fim de que a vegetação seja derrubada e posteriormente arrancada. SAAD (1979), recomenda o uso do correntão nos seguintes casos: - vegetação em estágio inicial, onde o diâmetro das árvores não excede a 30 cm; - solos bem drenados, planos ou com leve declividade e sem obstruções (escavações, montículos, cupinzeiros); - área de trabalho superior a 400 hectares. O rendimento do trabalho de limpeza de área com correntão oscila entre 2,0 a 4,0 hectares/hora. 1.2.3 Trator com Lâmina Frontal Em áreas menores ou onde a densidade de árvores seja muito elevada, pode-se fazer a retirada da vegetação usando-se lâmina frontal acoplada a trator de esteira ou trator agrícola. As lâminas frontais são classificadas em: Empurradoras ou Lisas - Não apresentam esporões ou cortes afiados - Foram projetadas para corte, transporte e nivelamento - São montadas na frente de tratores de esteira, ou trator de rodas - São utilizadas em desmatamento leve, médio ou pesado - Em capoeirinha o rendimento varia de 4 a 6 horas/ha - Podem ser fixas – buldozer – para operações de movimentação de terra - Podem ser com ângulos flexíveis – angledozer Cortantes ou Anguladas (Rome KG) - É especial para derrubada da vegetação - Tem rendimento 40% superior às lâminas lisas - Apresenta as seguintes partes: - Esporão – para fender e destruir a resistência do tronco; - Corte da Lâmina – entra em função após a destoca do caule; - Deflector – orienta a queda da árvore para frente e à direita do operador - Também é utilizada para enleiramento devido à grande superfície côncava Quando, após a limpeza permanecem tocos na área, e deseja-se fazer o preparo de solo mecanizado, deve-se retirá-los, bem como as suas raízes, até uma profundidade que seja compatível com o trabalho das máquinas de preparo do solo. O trabalho de destoca, de acordo com SAAD (1979) pode ser realizado por: - trator de esteira com lâmina frontal empurradora - trator de esteira com lâmina frontal angulável (angledozer) ou fixa (buldozer) - trator de esteira com lâmina cortadora (Rome KG) - trator de esteira com retroescavador - trato com ancinho desenraizador O trabalho de destoca é esquematizado da seguinte forma: - preparação do toco – envolve o desenterrio e o corte das raízes principais do toco (“descalçar” o toco); - arrancamento – sucessivos impactos da lâmina contra o toco, provocando o seu tombamento e a sua remoção total; - desenraizamento – retirada das raízes remanescentes com o ancinho desenraizador ou com outra ferramenta. 1.2.4 Limpeza manual É recomendado para áreas pequenas e, ou, locais de dificil mecanização. Faz-se uma roçada da vegetação mais fina e cortam-seas árvores de maior porte com motossera. Os tocos das árvores abatidas devem ser cortados o mais próximo possível do nível do solo, para não prejudicar as operações subsequentes. 1.2.5 Traçamento e retirada da lenha Após a derrubada da vegetação natural, faz-se o corte em peças de 0,90 a 1,0 m, com o uso de motosserras, sendo então empilhada próximo de estrada. A retirada e o transporte deste material é feito com carreta tracionada por trator ou caminhão. A madeira oriunda deste tipo de vegetação em geral é utilizado para lenha ou carvão vegetal. O uso deste material para carvão vegetal deixa a área com menos resíduos, dispensando muitas vezes o uso do fogo para execução do plantio, pois são coletados também os galhos finos e parte das raízes. 3.2.5 Enleiramento Nos locais onde não é possível o aproveitamento da madeira ou não é econômica a coleta dos resíduos da vegetação, há necessidade de se fazer o enleiramento. Consiste no empilhamento do material lenhoso derrubado. O espaçamento entre a s leiras depende da declividade do terreno, da quantidade de material lenhoso a ser enleirado e do equipamento utilizado. Normalmente as leiras são distanciadas de 30 a 100 metros umas das outras. De acordo com SAAD (1979), o enleiramento pode ser feito de duas formas: - no momento da derrubada – é feito à medida que as árvores vão sendo derrubadas. Só é possível com o uso de lâminas cortadoras Rome KG, que são aptas para ambas as operações; - após a derrubada – é aplicado quando se utiliza equipamento específico para a derrubada, como o correntão. Equipamentos mais utilizados para o enleiramento: - lâmina frontal lisa (bulldozer ou angledozer) – é o equipamento menos indicado, pois arrasta muita terra para a leira, raspa a camada superficial do solo e pode dificultar a operação de combate a formiga. - Lâmina frontal cortadora (Rome KG) – quando bem regulada, essa lâmina enleira o material derrubado sem raspar a camada superficial do solo; - Lâmina frontal enleiradora (ancinho enleirador) – é o equipamento mais indicado, pois é específico para este fim. As lâminas cortadoras e os ancinhos enleiradores apresentam uma capacidade de trabalho de 30 a 40% maior que os equipamentos convencionais de terraplanagem (lâmina frontal lisa) (SAAD, 1979). QUADRO 02: Rendimento do enleiramento (hectares/hora) Tipo de Vegetação Trator de Esteira Trator Escavo-carregador Equipado com ancinho Equipado com ancinho Enleirador Enleirador Porte médio Porte pesado Porte médio Cerrado leve/ Campo limpo 0,65-0,84 2,53-4,36 Cerrado 0,58-0,77 1,74-3,08 Cerradão 0,40-0,50 0,53-0,70 1,59-2,90 Floresta -- 0,40-0,50 -- Fonte: Portela, apud SILVEIRA (1989). As carregadeiras de rodas com ancinho apropriado realizam um trabalho de alta qualidade, com rendimentos três vezes superior ao do trator de esteira com potência equivalente, e são indicadas para qualquer tipo de vegetação (SILVEIRA, 1989). 1.3. Desdobramento e retirada da lenha Se houver na área a ser desmatada madeira para serraria, esta deve ser retirada antes da derrubada. O restante da madeira deve ser aproveitada para lenha, de modo a diminuir os custos de preparo de área, e para não desperdiçar material. 1.4. Enleiramento Após a derrubada e secagem do material, faz-se o enleiramento a distâncias de 40 a 120 m dependendo da quantidade de resíduos a ser empurrada. Algumas empresas fazem a queima antes do enleiramento, mas não é aconselhável, devido ao desperdício de matéria orgânica, que se não for queimada, pode ser incorporada na gradagem. Para a operação de enleiramento deve-se dar preferência ao uso do ancinho enleirador que não leva a camada superficial do solo para as leiras. A terra nas leiras pode facilitar o aparecimento de formigas e dificultar a queima. 1.5. Combate à formiga (ver apostila Xerox) A formiga é a praga que causa os maiores prejuízos ao empreendimento florestal, podendo destruir florestas inteiras. O eucalipto, por exemplo, morre após o terceiro desfolhamento O primeiro combate deve ser feito antes do revolvimento do solo, para facilitar a localização dos olheiros. Existem dois gêneros de maior importância: Acromyrmex spp - A chamada quenquém. Seu formigueiro pode ser de difícil ou fácil localização, dependendo da espécie. Em algumas, o formigueiro tem uma construção de pequenos ramos secos. O controle químico é feito com isca ou qualquer inseticida ou formicida em pó. Para o casos das formigas com ninhos superficiais, estes devem ser revolvidos e o agrotóxico aplicado sobre as panelas. O controle cultural consiste de aração e/ou gradagem do solo. Trezentos formigueiros por ha podem levar à perda de 60% de cepas de eucalipto em brotação. Atta spp - Chamadas saúvas ou cortadeiras. Para o controle químico com iscas deve-se observar a espécie, cálculo da área do formigueiro, produto e época de aplicação, constantes nas embalagens e sob orientação de um profissional habilitado. Vale a pena um comentário sobre o produto formicida a ser usado. Não há dúvidas quanto à eficácia dos produtos a base de hidrocarbonetos clorados para o combate à formiga, que tiveram sua inauguração como isca granulada no início da década de 1960, com o uso do dodecacloro. Produtos com esta formulação, para o controle de formigas, foram os únicos permitidos após a proibição dos clorados, em 1985, por falta de alternativas ao controle eficiente destes insetos. No entanto, em 1992 foram lançados no mercado os inseticidas a base de sulfluramida e em 1993 o uso do dodecacloro foi definitivamente proibido. Em seguida, novos produtos, tendo como principio ativo o fipronil também foram colocados à disposição dos produtores rurais. A sulfluramida, lançada originalmente no mercado com 0,3% de princípio ativo (PI) foi testada quanto à eficiência no controle de Atta bisphaerica em 1993, concluindo-se que este produto necessita de apenas 8 g m para fazer o mesmo efeito do que aqueles compostos por dodecacloro a 0,45% de PI, tornando portanto a sulfluramida a isca mais econômica. A termonebulização é outro método utilizado no controle de saúvas, sendo viável economicamente apenas para grandes áreas e grandes formigueiros, tendo como formicida o Fenitrotion e o Clorpirifos do grupo dos organofosforados. Os equipamentos de propulsão de gases constituídos por pequenos motores de motosserras ou adaptados a escapamentos de tratores são os mais utilizados. É um sistema de controle bastante eficiente quando utilizado em períodos de intensa atividade dos formigueiros, pois pode ser aplicado com o solo úmido e apresenta grande capacidade de dissipação por toda a estrutura das colônias, nos sentidos horizontal e vertical. Os pós secos também são recomendados, utilizando-se bombas manuais ou motorizadas. Sua eficiência costuma ser menor do que os dois métodos anteriormente citados. A dificuldade deste tipo de controle está relacionada com a complexidade da estrutura dos formigueiros, que podem atingir grandes profundidades e possuírem centenas de panelas; com osolo úmido o produto pode aderir às paredes, dificultando a movimentação do pó pelos canais da colônia; os eventuais entupimentos dos canais impedem a disseminação do pó. Na tentativa de evitar o uso indiscriminado de formicidas, reduzindo custos e evitando danos ambientais, pesquisas foram implementadas na tentativa de encontrar espécies e clones florestais resistentes à saúva. Na Tabela 2 observam-se os resultados de um teste de resistência de eucalipto às saúvas. Nota-se, no entanto, que das espécies testadas, as mais utilizadas (E. urophylla, E. saligna, E. tereticornis e E. camaldulensis) são susceptíveis ou altamente susceptíveis às duas espécies de formigas testadas, não demonstrando, por enquanto, ser uma técnica muito promissora. 2.6. Preparo do solo O preparo do solo florestal é feito uma vez em cada rotação. Portanto, deve reduzir ao máximo a competição com ervas daninhas e melhorar a capacidade de retenção de umidade e propriedades físicas. Algumas culturas são mais exigentes no prepara do solo, como é o caso dos eucaliptos, justificando-se do ponto de vista técnico e econômico. Em solos leves e permeáveis, faz-se um revolvimento com grade aradora pesada, aplica-se o calcário se for o caso e passa-se uma grade leve. A gradagem pesada, principalmente logo após o desmatamento, deve ser bastante profunda (35 a 40 cm), se a profundidade do solo permitir. Já a gradagem leve é feita em torno de 15 cm. Para o primeiro caso o diâmetro dos discos deve ser de 30" ou mais, e no segundo, de 22" a 26". A pesquisa e mapeamento dos solos da área devem ser feita, para que se faça um bom preparo de solo, visto que em alguns casos a camada de solo fértil é pequena e uma gradagem profunda pode trazer subsolo infértil para a superfície. Preparo de área em dias chuvosos, além de forçar as máquinas, forma torrões e compacta mais o solo. Nos terrenos de inclinação média, ao invés do revolvimento total, usa-se passar enxada rotativa numa faixa de 70 cm de largura por 15 cm de profundidade onde serão as linhas de plantio. Para fortes inclinações, usa-se a abertura manual de covas. Um equipamento bastante difundido é a grade bedding (construtora de camalhões). Possui em geral seis discos de 32" por 1,27 cm de espessura, pesando até 3.047 kg com lastro, proporcionando uma largura de corte de 2,13 m, própria para atividades florestais. Na sua passagem, forma um camalhão, pois seus discos são voltados para dentro. É tracionada por tratores de 140 HP, de esteiras ou pneus tração 4 x 4. A grade bedding faz de uma só passada, o revolvimento, o camalhão (Figura 3), o alinhamento do plantio e dependendo da adaptação, faz também a adubação. Vem sendo utilizada freqüentemente na reforma de povoamentos, onde o centro da grade passa sobre os tocos, sufocando-os com o camalhão, evitando o rebrotamento. Figura 3 - Camalhões construído com o uso da grade bedding. Figura 3.1. Gradagem e plantadeira mecanizada nos camalhões. Tabela 2 - Graus de resistência das espécies de Eucalyptus spp. em função das médias de amostras foliares carregadas segundo a espécie de Atta. 2. Plantio 2.1. Escolha do espaçamento O espaçamento tem influência ecológica/silvicultural nos incrementos, qualidade da madeira, idade de corte, práticas de manejo (desramas e desbastes), tratos culturais, práticas de exploração, custos de produção. Existem alguns fatores que podem afetar a definição do espaçamento, como a qualidade de sítio, que são as características climáticas, do solo e do meio biótico que podem influenciar o desenvolvimento vegetal; de modo geral em sítios melhores o espaçamento inicial pode ser menor. O segundo fator está relacionado com o objetivo do plantio e, de modo geral, a rotação maior pode implicar na adoção de espaçamento inicial maior. Também a espécie a ser plantada pode afetar nesta definição, pois espécies de crescimento mais rápido, normalmente devem ser plantadas em espaçamento inicial maior, pois logo entram em competição por espaço aéreo e radicular. Finalmente a mecanização também pode afetar o espaçamento, pois exige um espaçamento mínimo entre as linhas de plantio para deslocamento das máquinas e implementos. De outro lado, a definição do espaçamento também afeta outros fatores como o custo, a taxa de crescimento e os tratamentos silviculturais. O custo é afetado pois, espaçamento inicial menor implicará no preparo de um maior número de mudas encarecendo tanto este processo como o plantio por hectare. Apesar da produção de um determinado sítio ser aproximadamente constante, a utilização de espaçamento menor implicará em uma produção inicial maior, atingindo mais rapidamente a plena ocupação do espaço de crescimento (POEC), contudo os indivíduos se caracterizarão mais altos, com menor diâmetro e menor volume individual. Espaçamento inicial maior implicará em mais tempo para atingir o POEC e os indivíduos serão um pouco menores, mas com maior diâmetro e volume individual maior, apesar da produção total ser aproximadamente igual. O espaçamento inicial menor afeta os tratamentos silviculturais, pois mais cedo haverá fechamento do dossel, implicando na necessidade de desbaste mais cedo, contudo isto pode favorecer a derrama natural. De outro lado espaçamento inicial maior implicará em mais operações de limpeza e desfavorecerá a derrama natural, mas também retardará a aplicação do primeiro desbaste. Espaçamentos maiores podem ser indicados genericamente para locais sem perigo de erosão ou invasão de ervas daninhas; solos de boas qualidades físico-químicas; espécies com as seguintes características: rápido crescimento, boa derrama natural, geneticamente melhoradas e de crescimento apical bem definido e, finalmente, quando forem utilizadas sementes e mudas selecionadas. O espaçamento menor faz com que a competição ocorra mais cedo, acelerando o ciclo de corte e os desbastes. O passar da idade aumenta o número de árvores dominadas, o que é intensificado nos espaçamentos mais apertados, prejudicando o volume final. Se há necessidade de cortar árvores muito jovens, a densidade deve ser maior. No entanto deve-se observar a espécie em uso. O Eucalyptus dunnii e E. saligna são intolerantes a alta densidade, aumentando o número de dominadas e a mortalidade, o que já é menor no E. grandis. No caso dos pinus, o Pinus caribaea var. hondurensis em densidade menor que 2.500 árvores ha apresenta maior percentagem de defeitos tais como fox-tail, bifurcações e árvores tortas. Já o P. caribaea var. caribaea pode ser plantado a 2.000 árvores ha. A Gmelina arborea e Cordia goeldiana necessitam de espaçamentos mais apertados para produzirem fustes retos, enquanto que o Didymopanax morototoni tem um fuste de boa qualidade em quaisquer condições. Para florestas energéticas, tem-se tentado reduzir o espaçamento dos eucaliptos para 1,0 x 1,5 m. Isto pode aumentar o consumo de carvão em até 35%, porém pode ser compensado pela maior produtividade em relação à floresta tradicional (3 x 2 m). Entretanto, deve-se levar em consideração que uma rotação extremamente curta (3 anos), pode levar à exaustão do solo, e conseqüente necessidade de recuperação com aplicação de quantidades maiores de fertilizantes, aumentando muito os custos. Isso ocorre porque o corte é feito muito antes do povoamento entrar no processo de ciclagem de nutrientes, quando então as plantas devolveriam ao solo, parte dos elementos absorvidos, através da queda de folhas, galhos, ramos, flores, frutos e raízes mortas. Para minimizaro efeito da grande exportação de nutrientes nas florestas energéticas, pode-se estudar a possibilidade de deixar na área, as folhas e galhos, e ainda espalhar a cinza que é rica em K, Ca, Mg e outros elementos. Em trabalhos de pesquisa, verificou-se que aos 18 meses de idade, apenas 18% dos nutrientes totais do eucalipto estava no tronco, e que 50 a 65% encontravam-se nas folhas. Observou-se também que o E. grandis é mais eficiente na relação consumo de nutrientes/produção de biomassa, do que E. urophylla e E. saligna, em espaçamento 1,0 x 1,5 m. Para se diminuir o espaçamento, deve-se considerar também a qualidade do sítio, já que a competição torna-se maior. Um sistema de plantio que tem sido utilizado é o de linhas duplas, onde o espaçamento é apertado entre as plantas destas, e maior entre estas. Isso aumenta o número de plantas por ha, e ao mesmo tempo, proporciona espaço suficiente para o desenvolvimento das árvores. Para esse desenho, o espaçamento mais usado para o eucalipto é de 3 x 1 x 1 m. Entretanto, se for E. saligna as dimensões devem ser de 4 x 1 x 1 m. 2.2. Fertilização mineral Se for coletada uma amostra de solo e enviada a um laboratório, provavelmente não virá uma recomendação precisa sobre a fórmula e doses a serem aplicadas em povoamentos florestais, pois as pesquisas ainda estão em andamento. As empresas que vão se instalar por muito tempo em um determinado local, junto com programas de melhoramento, devem aplicar recursos na experimentação, e verificar os elementos e a quantidade a ser aplicada no plantio. Quanto ao teor de Al do solo, as árvores também são afetadas, embora em menor grau que culturas agrícolas. Verificou-se para P. elliottii var. elliottii que uma concentração de Al maior que 0,5 m.eq. 100 g de solo não afetou a sua capacidade produtiva, quando os teores de Ca e Mg trocáveis não foram menores que 0,5 m.eq. 100 g de solo. Já o P. caribaea var. hondurensis não parece ser afetado por teores de Al de quase 1 m.eq. 100 g-1 de solo e menos de 0,5 m.eq. 100 g de solo para Ca e Mg. De um modo geral os pinus tropicais são menos exigentes em nutrientes do que os eucaliptos, não respondendo bem à adubação, a não ser em condições extremas de pobreza, quando se aplica calcário e adubo fosfatado. Isto ocorre devido ao pouco desenvolvimento de micorrizas em solos extremamente pobres. A deficiência de boro provoca seca dos ponteiros, prejudicando o crescimento. No caso da rebrotação do eucalipto, aplica-se antes do corte em sulco, ou a lanço após a colheita. No entanto, a resposta das árvores não tem sido satisfatória para adubação em cobertura, exceto para o E. saligna, aplicando-se 5 g de bórax (11% de B) na projeção da copa, aos 6 meses, no final da estação chuvosa. Em termos de formulações de NPK a serem utilizadas, elas são escolhidas mais em função do mercado do que de pesquisas. Usa-se em geral 100 a 150 g de qualquer das fórmulas seguintes: 10-34-6; 10-28-6; 5-30-10; 10-30-10; 5-30-6, para os eucaliptos. Se for para pinus, pode-se diminuir a proporção de fósforo. Em geral, maiores teores de matéria orgânica no solo diminuem o efeito do Al+3 pela formação de complexos matéria orgânica versus Alumínio. No gênero Eucalyptus a calagem resulta em maior crescimento em diâmetro, podendo-se estabelecer 0,4 m.eq. de Ca+2 + Mg+2 como mínimo para se aplicar Ca, podendo ser de 1,0 m.eq. em sítios bons (50 m ha ano). A calagem será usada para suprir Ca e Mg e não para corrigir acidez. Segue algumas informações a respeito de alguns nutrientes: Boro (B) - o E. saligna responde à aplicação de Bórax: 5 g na projeção da copa aos 6 meses de idade, no final da estação chuvosa. As outras espécies do gênero só respondem à aplicação em sulco. Enxofre (S) - apresenta interação com o fósforo, especialmente em solos de textura média, onde a aplicação de 50 a 100 g de gesso por cova pode resultar em ganhos da ordem de 200 a 225%. Nitrogênio (N) - não se tem observado efeitos em aplicações em dose única, devido à perda por lixiviação e o distanciamento raiz-adubo. Recomenda-se parcelar, iniciando algum tempo após o plantio. Deve ser usado preferencialmente o sulfato de amônio devido à presença de enxofre em sua fórmula e porque muitas espécies de eucalipto são mais eficientes na absorção de N nesta forma. Tem-se conseguido bons resultados com a aplicação de 25 a 75 kg de N ha (ganho médio de 17% a 28%). Fósforo (P) - os superfosfatos devem ser aplicados na cova ou no sulco do plantio, reduzindo as possibilidades de retenção pelo solo. Os fosfatos naturais devem ser aplicados a lanço ou em faixas ou sulcos antes do plantio e incorporados, ou algum tempo depois do plantio em faixa de 1,2m a 1,5m na entrelinha e incorporados. Com a aplicação de 1 kg de fosfato de Araxá e 400 g de superfosfato triplo por cova já se conseguiu em experimentação, um ganho de 1400% em volume (10 m ha para 150 m ha ). Potássio (K) - a necessidade de potássio no eucalipto aumenta com a idade (mudas = 15 ppm, campo = 40 ppm) mas deve estabilizar-se com o início da ciclagem entre 4 e 5 anos. A dose de 40 kg de K2O ha (24 g de K O por planta) é satisfatória, aplicada em dose única para o solo argiloso ou parcelado (30 e 360 dias) no solo arenoso. 2.3. Subsolagem, sulcamento e coveamento a- Sulbsolagem Utilizada em solos com restrição de crescimento radicial . Pode-se utilizar diferentes profundidades da haste subsoladora de60 cm, 80 cm 1,0 m. b. Sulcamento Utilizado em solos livres de tocos, raízes e pedras e de topografia pouco acidentada. Após o revolvimento do solo, abrem-se sulcos de 20 a 25 cm de profundidade, acompanhando o nível do terreno. c. Coveamento Utilizado em solos de topografia acidentada, com pedras ou tocos que possam dificultar o trabalho de máquinas. É operação comum em áreas de reforma e onde se usa a grade bedding. As covas têm as dimensões suficientes para o tamanho das mudas. 2.4. Prevenção e controle a cupins Os cupins, que em florestas nativas vivem em equilíbrio, alimentando-se de matéria orgânica vegetal, incluindo grande quantidade de resíduos sobre o solo florestal, tem seu alimento reduzido à madeira das árvores plantadas em caso de substituição da vegetação original pelo reflorestamento em monocultivo. Reconhece-se que apenas 10% das espécies de cupins, e eles fazem parte de mais de 500 espécies nas Américas, podem ser consideradas pragas. Como esta praga costuma se instalar nas plantas ainda jovens, durante o período de implantação, didaticamente a prevenção e controle a cupins foi inserida deste capítulo, até mesmo quando o ataque se da em árvores adultas. Estas pragas podem ser divididas em dois grupos, quanto aos prejuízos florestais: a. Cupins que atacam mudas Os insetos destroem o sistema radicular ou anelam o colo, concentrando seu ataque até aproximadamente 70 a 80 dias após o plantio, gerando alto percentual de falhas. Sob condições de umidade favorável as plantas podem emitir novas raízes acima da área descortiçada, porém não gerarão árvores de boa qualidade, pois terão sistema radicular superficial e em geral se tornarão dominadas. No viveiro, se o sistema de produção for o de canteiros suspensos, os ataques de cupins praticamente não ocorrem. Se for de solo, o uso de endossulfan a 35%, 350 g.L aplicado nas mudas garante suficiente proteção. O controle no campo é preventivo, podendo-se usar o carbossulfan, sendo constituído por grânulos de matriz termoplástica de liberação controlada, com 0,6 a 2 mm de diâmetro, que no campo pode ser depositadono fundo da cova. Ficou demonstrado que as doses de 5 a 10 g foram mais eficientes na proteção de mudas de eucalipto do que o Aldrin, já proibido, tornando-se, portanto um substituto adequado deste clorado. O Aldrin, sendo um organoclorado de grande persistência no solo, permaneceu com uso liberado apenas para combate a formigas e cupins em reflorestamentos (Portaria nº 329 do Ministério da Agricultura, de 2 de setembro de 1985) até 1998, quando então o Ministério da Saúde proibiu definitivamente seu uso no Brasil, por meio da Portaria nº 11 de 8 de janeiro daquele ano. Outras opções são: o uso do ensossulfan 35% nas linhas das covas; a imersão do sistema radicular das mudas na base de 20 ml.L-1 do mesmo produto em 100 L de água; a pulverização das mudas antes do plantio com cloropirifós ou com um piretróide. Prioritariamente o tratamento deve ser feito na fase de viveiro, deixando a aplicação na cova para regiões onde as possibilidades de ataque forem grandes e o tratamento das mudas não tenha surtido o adequado efeito. b. Cupins que atacam árvores As árvores têm o cerne atacado, com a penetração dos insetos ocorrendo a partir do sistema radicular, resultando em fustes ocos, o que pode atingir até 8 m de altura em muitos casos. Neste caso, os insetos são denominados cupins do cerne. Quanto maior o diâmetro das árvores, maior o percentual de ataque. Como o ataque se dá na parte interna, morta da árvore, dificilmente os danos são detectados antes do corte. Os prejuízos estão relacionados à perda de volume e qualidade da madeira, além de prejudicar a brotação de cepas. Cupins pertencentes às famílias Rhinotermitidae e Termitidae tem sido observadas atacando plantações de eucalipto em todo o Brasil. É possível também que o ataque parte de cupins de montículo. Esta é a única situação na qual é possível e viável um controle químico, aplicando-se misturas de concentrados emulsionáveis (cloropirifós, fention, abamectina) em furos verticais sobre a estrutura do cupinzeiro. Introduzir pastilhas de fosfina também é eficiente, porém de custo mais elevado. A simples quebra ou arrancamento dos montículo por si só, não constitui boa pratica, pois a colônia se reorganiza rapidamente, além de ser uma operação cara por usar máquinas em sua execução. O controle biológico ainda não é eficiente, exceto se houver disponibilidade dos fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. Embora já tenha sido detectada patogenicidade de alguns vírus e bactérias, ainda não há comprovação prática de sua recomendação. É comum a presença de cupins do gênero Nasutitermes, que constroem características estruturas de cor preta nos galhos, mas não são causadores de prejuízos às arvores.
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