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GUIA DE ESTUDOS PARA FISIOLOGIA VEGETAL Carmen Rachel S. M Faria Maria Elisa Ribeiro Calbo Linda S. Caldas Editores Segunda Edição 1995 1 GUIA DE ESTUDOS PARA FISIOLOGIA VEGETAL Conteúdo Capítulo 1. Absorção de Água pelas Plantas ⎯ Instrução Programada 2. Absorção de Sais Minerais ⎯ Conceitos Gerais e Gráficos 3. Metabolismo Secundário e Produtos Naturais 4. Fisiologia de Estresse 5. Auxinas 6. Giberelinas 7. Citocininas 8. Ácido Abscísico 9. Etileno 10. Questões de Provas Anteriores 2 APRESENTAÇÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO A presente edição, atualizada e aumentada, continua sendo oferecida aos alunos dos Cursos de Graduação que freqüentam as aulas de Fisiologia Vegetal como um complemento à bibliografia existente. Pretende-se cobrir áreas do conhecimento em que existe falta de bibliografia adequada, em português, para uma disciplina de um semestre de duração. Mais uma vez agradecemos as contribuições dos alunos, que, através de suas críticas, têm enriquecido estes trabalhos. Brasília, fevereiro de 1995. 3 Capítulo 1 ABSORÇÃO DE ÁGUA PELAS PLANTAS Linda S. Caldas INTRODUÇÃO A presente exposição de alguns conceitos ligados à absorção de água pelas plantas tem a forma de uma instrução programada, a ser seguida pelo aluno individualmente. Optou-se por esta forma devido à importância dos conceitos e à necessidade do aluno testar sua compreensão a cada passo. Assim, o texto é interrompido após a discussão de um conceito novo pelas perguntas ou exercícios que o aluno deverá responder. Conforme a resposta dada, ele será dirigido a outro parágrafo para seguir o estudo. Por sua multiplicidade de usos e sua contribuição de até 95% do peso fresco de um órgão vegetal, a água destaca-se dos outros componentes minerais e merece um tratamento mais profundo. A água é reconhecida como composto de grande importância para os seres vivos, devido a sua utilização como solvente (e, conseqüentemente, fornecendo um meio de transporte de outros compostos em solução), como reagente e produto de importantes reações bioquímicas tais como fotólise em fotossíntese e a hidrólise de ATP, e como agente responsável pela manutenção da forma de tecidos, por exemplo, nas folhas que murcham quando deficientes em água. A seqüência dos tópicos a serem tratados é a seguinte: 1. Potencial químico. 2. Potencial de água. 3. Componentes do potencial da água. 4. Difusão. A absorção de água pelas raízes ocorre principalmente pelo processo de difusão, e como a difusão de água ocorre em resposta a um gradiente de potencial de água, e o potencial de água é um caso particular de potencial químico, tornou-se essencial a construção dos conhecimentos por etapa. 1. POTENCIAL QUÍMICO #1. Um copo de água ou um litro de leite tem certa quantidade de energia livre, ou capacidade de fazer trabalho, contida neles. Ao se despejar uma metade da água num outro copo, diminui-se não só o número de moles de água mas também a quantidade de energia livre que tem no primeiro. A energia livre (chamada "G" porque é a energia livre de Gibbs) de um sistema, neste caso o copo e seu conteúdo, depende, portanto, da quantidade da substância presente. Dizemos que a energia livre e o número de moles são características extensivas da substância porque dependem da quantidade presente. Se temos dois copos, um com 100 ml de água e outro com 150 ml de água, é certo afirmar que: a) aquele com 150 ml tem a mesma energia livre daquele com 100 ml ... passe ao #2. b) aquele com 150 ml tem mais energia livre daquele com 100 ml ......... passe ao #3. 4 #2. A energia livre de Gibbs é maior no sistema com 150 ml de água, considerando que quanto maior a quantidade da substância, maior é a energia livre. (Isto é o caso quando nenhum outro fator varia.) Volte ao #1. #3. Realmente, a energia livre será maior naquele copo com a maior quantidade de água. Existe uma outra medida, μ, que é o potencial químico, e que dá a energia livre por mol de substância. (Este valor de μ é mais exatamente chamado "energia livre parcial molal" porque dá a energia por mol em joules/mol ou outra unidade equivalente.) O potencial químico de uma substância, multiplicado pelo número de moles da substância, dá a contribuição daquela substância à energia total do sistema. A seguinte equação mostra esta relação: dG = (-SdT + VdP) + μdn (1) onde dG é a diferença da energia livre de Gibbs em função de alguma alteração no sistema, S é a entropia, dT é a diferença na temperatura, V é o volume, dP é a diferença na pressão e μdn é o produto da energia livre parcial molal vezes a diferença no número de moles (dn). Todos estes fatores influem na energia livre. No entanto, quando a temperatura é constante, o valor de dT é igual a zero e este fator (-SdT) não contribui ao valor de dG. O potencial químico é uma característica intensiva, que não depende da quantidade total de substância ou solução presente. Outras características intensivas são, por exemplo, a temperatura e a concentração de uma solução. Sabemos que tanto 100 ml de água como 200 ml de água podem estar numa temperatura de 25 C. Da mesma maneira, podemos ter 100 ml de uma solução 1M de sacarose como também podemos ter 200 ml desta mesma concentração (1 M sacarose). São características intensivas porque não dependem da quantidade total ou extensão do fator. Se dividirmos a água que está num bequer em duas partes, uma de 100 ml e outra de 150 ml, podemos dizer que: a) aquela parte com 150 ml tem o mesmo potencial químico da outra com 100 ml ........................................ passe ao #4. b) aquela parte com 150 ml tem maior potencial químico do que a outra com 100 ml ........................................ passe ao #5. #4. Sua resposta está certa, o potencial químico não varia com a diferença no volume de água. Já que está clara esta diferença entre os conceitos de característica extensiva e característica intensiva, vamos considerar a energia livre e os potenciais químicos dos compostos de uma solução. Neste caso, cada espécie química, i, terá seu próprio potencial químico, μi, que depende de vários fatores. A energia livre de Gibbs da solução será: dG = (-SdT + VdP) + Σ μidni (2) onde os termos têm o mesmo significado da Eq. (1) e Σ μidni é a soma dos produtos do potencial químico vezes o número de moles de cada espécie química i. 5 Agora se aumentarmos ou diminuirmos a quantidade da solução, teremos uma variação na energia livre de Gibbs porque o número de moles de todos os componentes da solução também varia, modificando o valor de Σ μidni. O potencial químico de cada espécie química permanece, porém, no mesmo valor. Acrescentou-se mais 100 ml de uma solução de sacarose a 200 ml de uma solução da mesma concentração: a) O potencial químico da espécie "sacarose" aumentou com esta operação ...................................................................................................... passe ao #6. b) A energia livre de Gibbs aumentou com esta operação .................... passe ao #7. #5. O potencial químico não é maior no volume maior. O número de moles, dni, realmente modificou-se, mas isto não influi no potencial químico ou energia livre por mol. Volte ao #3. #6. O potencial químico do componente “sacarose” não mudou como conseqüência do aumento de quantidade de solução,mas a energia livre do sistema (a solução) aumentou devido ao aumento no número de moles de água e de sacarose. Isto é, o valor de μs permaneceu constante enquanto dns aumentou. O mesmo ocorreu com a água. Os produtos da multiplicação μidni aumentando, aumentará também o valor de dG (Eq. 2). Volte ao #4. #7. A energia livre de fato aumentou devido ao maior número de moles tanto de água como de sacarose. E, como você escolheu esta resposta, e não aquela dizendo que o potencial químico da sacarose aumentou, mostrou-se ciente de que não houve modificação do μ. O potencial químico poderia ser modificado se fosse acrescentada ou mais água ou mais sacarose apenas. Neste caso a atividade química da sacarose, que é quase igual à concentração para este composto, seria diferente. Como o μ é função da atividade (μi = RT ln ai), o potencial químico da sacarose mudaria. Vamos examinar em mais detalhe como o potencial químico de uma substância depende da sua atividade química. A atividade química da sacarose é proporcional a sua concentração: quanto maior a sua concentração, maior a sua atividade. A atividade química da espécie i, ai, é igual à concentração de i multiplicada pelo coeficiente de atividade, γ. Este coeficiente corrige a concentração aparente, considerando as interações das moléculas ou íons em uma solução mais concentrada. O envolvimento da atividade no potencial químico tem grande importância para nós. A atividade da água, aa, é igual a γaca , onde ca é a concentração. Ao adicionarmos outras substâncias a água pura, a concentração da água diminui e seu coeficiente de atividade se modifica pouco. A atividade da água diminui, então, com o acréscimo de outras substâncias. Quando adicionamos sacarose ou sais à água: a) aumentamos a concentração e a atividade da água ........................ passe ao #8. b) diminuimos a concentração e a atividade da água ......................... passe ao #9. 6 #8. Volte ao #7 para reestudar a relação entre a (a atividade da água) e c (a concentração da água). Lembre-se de que quando acrescentamos sacarose à água, estamos diminuindo a concentração da água: tomando o mesmo volume de solução e de água pura, a quantidade de água na solução é menor do que na água pura. Como a concentração é a quantidade da substância por unidade de volume, a concentração será menor onde outras substâncias estiveram presentes. #9. Acertou que a concentração e a atividade da água, aa, diminuem com o acréscimo de solutos . A relação entre o potencial químico de uma substância e sua atividade é direta: quanto maior a atividade, maior o potencial químico, se todos os outros fatores permanecerem constantes. μi = RT ln ai (3) No mesmo caso, acrescentando sais à água, qual seria o efeito sobre o potencial químico da água (μa)? a) aumenta μa ........................................... passe ao #10. b) diminui μa ............................................ passe ao #11. #10. Você já acertou que a atividade da água diminui com o acréscimo de sais. E, em conseqüência, μa diminui também. O potencial químico varia diretamente com a atividade. Tente outro exercício. Se diluirmos 50 ml de solução de NaCl, acrescentando mais 50 ml de água pura, o μa da solução de sal: a) aumenta .................................................passe ao #11. b) diminui ...................................................passe ao #12. #11. Está certa a resposta. Agora mais um exercício: Em certo experimento, 100 ml de água foram acrescentados a 200 ml de uma solução de sacarose. a) o potencial químico apenas da água foi modificado ......................................................... passe ao #13. b) os potenciais químicos dos dois componentes, água e sacarose, foram modificados ......................................................... passe ao #14. #12. Volte ao #9, lembrando que, ao acrescentar água a uma solução aquosa, a concentração da água aumenta, portanto sua atividade também aumenta. #13. O potencial químico da água realmente foi modificado porque aumentou sua concentração, e assim a sua atividade, já que nenhuma sacarose foi adicionada. Por outro lado, o potencial químico da sacarose foi alterado porque foi diluida a sua concentração e sua atividade diminuiu. Volte ao #9. 7 #14. Muito bem. Vamos terminar agora a discussão da atividade química da água em relação ao seu potencial químico com mais uma transformação. Normalmente, em estudos de relações hídricas, procuramos utilizar quantidades que são relativamente fáceis de serem medidas. Para medir a atividade ou a concentração da água numa solução, teríamos certas dificuldades. Entretanto, há uma quantidade, a pressão osmótica, ou π, que está relacionada com a atividade da água e que pode ser medida num osmômetro. O osmômetro (Fig. 1) funciona da seguinte maneira: A água do béquer entra no tubo contendo a solução teste por difusão através da membrana semi-permeável (os solutos não conseguem passar por esta membrana). Quanto maior a concentração de solutos, maior será a pressão osmótica desenvolvida (mais alta a coluna da solução = x na Fig. 1). A pressão osmótica normalmente é dada em unidades como atmosferas (atm.), bars, kg/cm ou, atualmente, na unidade de pressão do Sistema Internacional (SI), que é Pascal (Pa). Fig.1. O osmômetro mede a pressão osmótica através do desenvolvimento de uma pressão (x = altura da coluna de água). Qual destas soluções tem a maior pressão osmótica? a) uma solução de sacarose 1M .................................. passe ao #15. b) uma solução de sacarose 2M ................................. passe ao #16. #15. Uma solução de sacarose 1M tem uma menor concentração de sacarose, o soluto que contribui à pressão osmótica neste caso. Assim a maior pressão osmótica será encontrada na solução de sacarose 2M. Volte ao #14. #16. Como a pressão osmótica aumenta com o aumento na concentração de solutos, realmente a maior pressão osmótica será encontrada na solução de sacarose 2M. Ressaltamos que uma das vantagens do osmômetro é de medir o efeito somado de todos os solutos sem discriminar entre os mesmos. Verificamos que a concentração ou atividade da água na solução de sacarose 2M é menor do que a sua atividade na solução de sacarose 1M. Podemos concluir, então, que quanto maior a pressão osmótica, π, menor será a atividade da água. Em conseqüência, menor será o μa. Nas duas soluções de sacarose, 1M e 2M, aquela com o maior μa é: a) a de 2M ............................................ passe ao #17. 8 b) a de 1M ........................................... passe ao #18. #17. A solução de sacarose 2M tem maior concentração de solutos, portanto menor concentração de água. O potencial de água neste caso será menor do que na solução de sacarose 1M. Volte ao #16. #18. Está certa a resposta. Atualmente, ao invés de usarmos a pressão osmótica para indicar o efeito dos solutos, utilizamos o potencial osmótico, ψs ("psi" dos solutos). O potencial osmótico é igual numericamente à pressão osmótica mas com sinal negativo. Indica o potencial da solução de desenvolver uma determinada pressão osmótica, quando colocada num osmômetro. Podemos passar a citar alguns outros fatores, além da atividade da água ou pressão osmótica, que também influenciam no seu potencial químico. A temperatura é um fator importante, mas um que desprezamos em estudos de relações hídricas porque normalmente comparamos o potencial químico da solução ou do sistema com o da água pura na mesma temperatura. A pressão hidrostática, Ψp, é outro fator muito importante. Usamos o ψp para significar a pressão em excesso ou abaixo à do ambiente, uma vez que asplantas estão sujeitas a esta pressão atmosférica por todo lado. Tanto a temperatura como a pressão hidrostática são diretamente relacionadas com o potencial de água. Quanto maior estes fatores, maior o μa. Dois outros fatores, a gravidade e as interações com superfícies, são também de importância em relações hídricas. Voltaremos a discutí-los em mais detalhe após a definição do potencial de água. 2. POTENCIAL DE ÁGUA O potencial de água, Ψa, para a água de uma solução dentro da célula ou no ambiente é definido como a diferença entre o potencial químico da água desta solução e o potencial químico da água pura, dividida pelo , o volume parcial molal da água. V a _ Ψa a a aV = −μ μ * _ (4) onde μa* é o potencial químico da água pura, na mesma temperatura da solução e à pressão atmosférica. Por que dividimos a diferença entre μa e μa* pelo volume parcial molal da água? Pelo seguinte: μ μ a a a p a s V V− = +* _ _ Ψ Ψ (5) Portanto, seguindo a transformação, 9 Ψ Ψa a a a p s V = − = +μ μ * _ Ψ (6) Ao dividirmos a diferença entre os potenciais químicos pelo volume parcial molal d'água, passamos a ter, essencialmente, a energia livre por volume (por exemplo, a energia livre por litro ou cm3) e não por mol de água. E, mais importante do ponto de vista experimental, temos o potencial de água como função da pressão hidrostática Ψp e do potencial osmótico Ψs. Essas são duas quantidades com grande significado fisiológico. Obviamente, um aumento no potencial químico da água causa um aumento no Ψa. Qual é o valor de Ψa de água pura a Ψp = pressão atmosférica = 0? a) Zero (0) ............................................................................... passe ao #19. b) é impossível calcular sem os valores de Ψp e Ψs .............. passe ao #20. #19. Se a pressão é igual à pressão atmosférica, o potencial químico de água, μa, é o mesmo do μa* por definição. Assim a diferença entre eles é igual a zero e o valor de Ψa = 0. Usando a outra relação da Eq. (6), também pode-se chegar à mesma conclusão: Ψ Ψ Ψa p= s+ (7) O potencial osmótico Ψs da água pura é igual a zero e, por definição, Ψp = pressão atmosférica = 0. Então Ψa = 0 MPa (MPa = mega Pascal = 106 Pascals). Outro fator que também afeta o potencial químico da água, além da concentração de solutos e a pressão hidrostática, é a interação da água com superfícies, chamada pressão de matriz. Esta é a interação da água com as superfícies das partículas do solo, das fibrilas da parede celular e até das proteínas e outras macromoléculas no citoplasma. Às vezes, a pressão de matriz é considerada como sendo uma parte da pressão osmótica, de modo que π = πs + πm , onde πs é a pressão devido aos solutos e πm é aquela de matriz. Outras vezes pode ser considerado como parte do termo Ψp , a pressão hidrostática. De uma maneira semelhante à pressão osmótica, a pressão de matriz também é utilizada com sinal negativo como potencial de matriz. Enfim, a equação para o potencial de água é: Ψ Ψ Ψ Ψa p s m= + + (8) Um aumento na pressão hidrostática aumenta Ψa ; valores de Ψs e Ψm mais negativos tornam o Ψa também mais negativo. Estas relações são essenciais para o estudo da absorção de água. Se a concentração de sacarose numa célula da folha aumenta após a fotossíntese: a) o Ψs se torna mais negativo ........................ passe ao #21. b) o Ψm se torna mais negativo ........................ passe ao #22. #20. Pela Eq. (6) podemos calcular o potencial de água se sabemos o valor de μa - μa* e o de Va. A água pura quando Ψp = 0, tem μa = μa* por definição. Portanto a sua diferença é igual a zero e o potencial de água é zero. Volte ao #16. 10 #21. A sacarose é composto solúvel em água e tem o efeito de diminuir a atividade de água. Realmente é o potencial osmótico que se torna mais negativo. Agora, no mesmo caso, qual é o efeito sobre o Ψa da célula? a) aumenta .......................................... passe ao #23. b) diminui ............................................ passe ao #24. #22. Um aumento na concentração de sacarose aumenta os solutos mas não afeta o potencial de matriz. Volte ao #19. #23. Se o potencial osmótico era mais negativo após a fotossíntese, podemos verificar através da Eq. (8), #19, que o potencial de água foi reduzido (se tornou mais negativo). Volte ao #21 . #24. Está certo. O potencial de água decai com o aumento da concentração de solutos, tornando o Ψa mais negativo. Na Eq. (8), temos a relação entre os valores de Ψp , Ψs e Ψm e o potencial de água quando não há diferença na posição vertical da solução de interesse e a água pura. Mas quando se trata do movimento de água em árvores grandes, as diferenças verticais podem atingir até 100 m. Neste caso, precisamos introduzir um outro termo na equação que reflete o efeito da gravidade. Ψ Ψ Ψ Ψa p s m a gh= + + + ρ (9) Aqui ρa é a densidade da água, g é a constante gravitacional e h é a altura. Uma solução a um metro acima da água pura terá um potencial de água maior do que a mesma solução na mesma altura da água. Levantando a solução em relação à superficie da terra aumenta Ψa . Calculando o valor do componente invariável neste último termo, temos que ρa g = 0,0098 MPa/m (ou aproximadamente 0,01 MPa/m). Portanto, este termo tomará valores significativos apenas quando a altura atinge mais de 5 m, por exemplo. Quando não há diferença na posição vertical, a forma da Eq. 6 pode ser usada para calcular Ψa . 3. COMPONENTES DO POTENCIAL DE ÁGUA NO SISTEMA SOLO-PLANTA Além da fotossíntese, outros processos fisiológicos como a absorção de sais, degradação de macromoléculas e a liberação de compostos acumulados no vacúolo, podem aumentar a pressão osmótica no citoplasma de células vegetais. Estes processos, operando no sentido oposto, diminuiriam a pressão osmótica. Assim este fator varia de acordo com as diferentes atividades fisiológicas da célula ou planta. Os outros elementos do potencial de água também variam. A pressão hidrostática positiva é desenvolvida quando entra água dentro da célula vegetal e esta encontra a resistência oferecida pela parede celulósica. Esta parede é relativamente rígida. A grandeza de Ψp dependerá da elasticidade da parede e da capacidade da célula de absorver água do ambiente em qualquer instante. 11 TABELA 1. Valores representativos dos componentes do potencial de água no solo e na raiz. (Dados modificados de Kramer, 1974; Nobel, 1991; e Slatyer, 1967.) Valores em MPa Local no sistema Solo-Planta-Atmosfera Ψp Ψs Ψm Solo arenoso com 0,15 g H2O/g solo a 1 cm da raiz 0 -0,05 -0,05 Solo argiloso com 0,15 g H2O/g solo 0 -0,05 -0,9 Solo arenoso próximo à raiz 0 -0,05 -0,15 Planta com transpiração lenta células corticais da raiz 0,4 -0,6 -0,05 seiva do xilema da raiz 0,05 -0,3 -0,05 Planta com transpiração rápida células corticais da raiz 0,1 -0,6 -0,05 seiva do xilema da raiz -0,6 -0,05 -0,05 Os valores dos componentes de Ψa no solo e na planta também podem variar, por exemplo, quando o solo ou a parede celular resseca. Vamos examinar alguns valores típicos destes componentes do potencial de água no solo e na planta (Tabela 1). A pressão Ψp no solo é zero porque a solução do solo está aberta à atmosfera. Normalmente Ψm está relativamente grande no solo (principalmenteem solos argilosos) e mínimo na célula, principalmente no vacúolo. O potencial osmótico está quase sempre mais negativo nas células do que no solo. O potencial de água na argila úmida, calculado com os dados na Tabela 1 e a Eq. (8), é igual a -0,95 MPa. Qual é o potencial de água das células corticais da raiz com transpiração rápida? 12 a) -0,55 MPa ....................................... passe ao #25. b) -0,75 MPa ....................................... passe ao #26. #25. Como o potencial de água é dado pela Eq. (8) Ψ Ψ Ψ Ψa p s m= + + teremos neste caso Ψa = 0,1 - 0,6 - 0,05 = -0,55 MPa. Acredito que você não teve dificuldade em chegar a este valor. (Como outro exercício, calcule o valor de Ψa nas outras partes do sistema cujos valores são dados na Tabela 1.) Agora todos os conceitos básicos sobre o potencial de água devem estar relativamente claros. Podemos entrar na discussão da difusão da água, que é o principal mecanismo de sua absorção . 4. DIFUSÃO A difusão de qualquer espécie química ocorre no sentido do seu menor potencial químico ou sua menor energia livre. A água então terá um movimento no sentido do seu menor potencial (Ψa mais negativo), enquanto o movimento dos solutos por difusão no mesmo sistema será no sentido oposto ao da água, mas ainda no sentido do seu menor potencial químico. Se temos um tubo em que o açúcar colocado no fundo do tubo está se dissolvendo aos poucos, sem mexer, a concentração do açúcar será maior no fundo do tubo do que na parte superior. Então existirá um gradiente do seu potencial. A difusão do açúcar será de baixo para cima e a da água de cima para baixo. Em outro exemplo, a raiz da planta absorve água do solo próximo à superficie do tecido. Assim diminui a concentração, ou melhor a atividade, da água ali e a difusão de água ocorrerá das partes do solo mais distantes onde o Ψa está maior. Quais os componentes do potencial de água no solo perto da raiz que se modificam neste último caso, durante a absorção de água pela raiz? a) apenas o potencial osmótico ................... passe ao #27. b) os potenciais osmótico e de matriz ......... passe ao #28. #26. Este foi um exemplo relativamente simples em que se aplica a Eq. (8): Ψ Ψ Ψ Ψa p s m= + + No exemplo, o Ψp = 0,1 MPa. Deste valor temos que subtrair os valores de Ψs (= -0,6 MPa) e Ψm (= -0,05 MPa). Volte ao #24 e calcule o resultado. #27. De fato o potencial osmótico se torna mais negativo quando a raiz absorve apenas a água, mas o potencial de matriz também pode se alterar (se tornar mais negativo) porque as partículas de solo passam a segurar com mais força a água que ficou. Volte ao #25. 13 #28. Está certo. A absorção de água altera tanto o potencial de matriz como também o potencial osmótico, tornando-os mais negativos. O conceito da difusão da espécie química ao longo de um gradiente de seu potencial químico ou energia livre nos permite descobrir qual é o sentido da difusão. Agora a velocidade com que a difusão se procede depende de uma série de fatores, principais entre eles a temperatura (aumento da temperatura aumenta a velocidade), o gradiente existente (quanto maior a diferença nos potenciais, ou menor a distância sobre a qual a diferença existe, maior será a velocidade) e a viscosidade da solução (quanto menor a viscosidade, maior é a velocidade da difusão). Num sistema fechado, o gradiente do potencial químico tende a diminuir com o tempo da difusão. Podemos entender isto no caso do açúcar dissolvendo-se no fundo de um tubo de ensaio. No início, a concentração do açúcar no fundo é bem maior do que a de cima (= 0). A velocidade de difusão é relativamente grande. Com o tempo, o açúcar se difunde para cima, a sua concentração diminui no fundo e aumenta em cima. Com isso, o gradiente de concentração diminui e, em conseqüência, a velocidade de difusão diminui. Qual dos gráficos abaixo melhor representa a velocidade da difusão da água neste caso? Perguntamos sobre a velocidade com o tempo, relativo à velocidade inicial (tempo 0), quando o açúcar está inicialmente dissolvido. a) Passe ao #29. b) Passe ao #30. 14 c) Passe ao #31. #29. A velocidade de difusão em cada instante depende do gradiente existente naquele instante. Como a gradiente diminui com o tempo, a velocidade da difusão também diminui. Você acertou a relação entre os dois fatores. Se analisarmos mais esta situação, fica claro que a difusão continuará até não existir mais diferença nas concentrações dos componentes da solução. O gradiente é igual a zero e a difusão também. Dizemos que o sistema está em equilíbrio. Em sistemas fechados, a tendência é de chegar ao equilíbrio. Em plantas inteiras, alguns processos funcionam no sentido de estabelecer gradientes. Assim a fotossíntese aumenta a concentração de sacarose nas folhas, e a respiração a diminui; a transpiração diminui a atividade da água nas folhas; no crescimento são utilizados compostos das partes mais velhas, etc. Por outro lado, em certas situações o conceito de equilíbrio também é importante para células vegetais. Vamos considerar o caso de uma célula da raiz com Ψa igual a -1,1 MPa, sendo que Ψp célula = 0,4 MPa, Ψs célula = -1,4 MPa e Ψm = -0,1 MPa. Se esta raiz for colocada em água pura da mesma temperatura, que acontecerá? O Ψa da água pura = 0, então um gradiente existe para a difusão da água da solução até a célula. Com a entrada da água, Ψp célula aumenta. Quando Ψp célula iguala 1,5 MPa, o Ψa da célula terá o valor de zero, o mesmo da água pura. A difusão pára; o sistema está em equilíbrio. Consideramos neste caso que houve movimento apenas da água para dentro da célula e o valor ao equilíbrio será o valor do Ψa da água. Se a célula inicialmente tem Ψp = 0,2 MPa, Ψs = -1,4 MPa e Ψm = -0,1 MPa e for colocada em água pura da mesma temperatura, qual será o valor de Ψp célula quando o sistema está em equilíbrio? a) Ψp = 1,3 MPa ....................... passe ao #32. b) Ψp = 1,5 MPa ......................... passe ao #33. #30. Neste problema estamos considerando a velocidade da difusão. Você talvez tenha pensado na quantidade de água que está "acumulada" no fundo do tubo com o passar do tempo e assim está certo o gráfico. Mas se interpretarmos este mesmo gráfico como se fosse da quantidade de água no fundo, do ponto de vista da sua inclinação, teremos a velocidade da difusão. A inclinação maior no início vai diminuindo; com tempo, a linha aproxima-se da horizontal, ou a inclinação iguala-se a zero. Volte ao #23. 15 15 #31. A linha horizontal deste gráfico significa que a velocidade está constante com o tempo. Mas, como as concentrações de água e do açúcar vão ser cada vez mais uniformes nas duas regiões do tubo, os gradientes de suas concentrações serão cada vez menores. No final, não existirá mais gradiente ou diferença no potencial químico para servir de força motriz para a difusão. Volte ao #28. #32. Um valor de Ψp = 1,3 MPa, com valores dados de Ψs = -1,4 MPa e Ψm = - 0,1 MPa, daria um potencial de água na célula de Ψa = -0,2 MPa. Como o Ψa da água pura é igual a zero, o sistema não estaria em equilíbrio ainda. Volte ao #29. #33. No equilíbrio, Ψp = 1,5 MPa desde que os potenciais osmótico e de matriz não se modifiquem. Está certa sua resposta e pode-se notar que o valor de Ψp no equilíbrio não depende do seu valor inicial mas sim do Ψs e Ψm da célula e da solução. Esta conclusão é válida também quando a célula está em contato com soluções, e não somente no caso de água pura. Duas situações podem ocorrer: a primeira, e mais simples, quando a membrana plasmática ou plasmalema da célula não é permeável às moléculasdo soluto. Assim os cálculos procedem de uma maneira análoga aos do #29. Uma célula com Ψa = -0,2 MPa (Ψs = -2,2 MPa e Ψm = -0,15 MPa) foi colocada numa solução, da mesma temperatura e aberta à atmosfera, com Ψs = -1,3 MPa. O soluto não penetra na célula. Qual será o valor de Ψp no equilíbrio? Sabemos que, no equilíbrio, Ψa da célula é igual ao Ψa da solução. O potencial de água da solução é Ψa = -1,3 MPa, porque Ψp = 0 (solução aberta a atmosfera) e Ψm = 0 (a solução não possui partículas em suspensão). Então, no equilíbrio, Ψa da célula = -1,3 MPa = Ψm - 2,2 MPa - 0,15 MPa e Ψp = 2,35 MPa - 1,3 MPa = 1,05 MPa. A segunda situação é aquela em que a célula absorve, além da água, o soluto também. Neste caso, os valores do potencial osmótico na solução e na célula variam de acordo com a quantidade de soluto absorvido, cujo valor não pode ser calculado sem uma série de outras informações. Porém, esta situação reflete melhor as condições reais de absorção de água do solo porque, além da água, os solutos (sais minerais) também são absorvidos pela raiz. Quando aumenta a concentração de solutos na solução do solo (potencial osmótico do solo mais negativo), o potencial osmótico da raiz se torna mais negativo também, através da absorção destes sais, mantendo um valor de 0,1 a 0,3 MPa mais negativo do que no solo (veja Tabela 1). Uma célula com Ψs = -1,8 MPa e Ψm = -0,1 MPa, estava em equilíbrio com uma solução de Ψa = -0,8 MPa. Depois esta célula foi transferida para uma outra solução de Ψs = - 1,0 MPa, aberta à atmosfera e sem partículas sólidas. A temperatura de todos os componentes é a mesma. Qual é o valor inicial de Ψp e seu valor (Ψp final) após chegar ao equilíbrio na segunda solução? a) Ψp inicial = 1,9 MPa e Ψp final = 1,9 MPa ...... passe ao #34. b) Ψp inicial = 1,1 MPa e Ψp final = 0,9 MPa ..... passe ao #35. #34. Para escolher esta alternativa, seria necessário responder a pergunta "Qual seria o valor de Ψp se a célula fosse colocada em água pura?" No entanto, o exemplo citado não trata mais da colocação da célula em água pura mas em soluções de potencial hídrico conhecido e diferente de zero. O Ψp toma seu valor de equilíbrio no ponto em que Ψa célula = Ψa solução , 16 e neste caso, Ψa solução não é igual a zero. Portanto, o valor de Ψp na célula será aquele que aumenta o potencial químico da água da célula até igualar ao da solução. Se Ψa solução = -0,8 MPa, então Ψa célula = Ψp + Ψs + Ψm = -0,8 MPa no equilíbrio. E, se Ψs e Ψm são conhecidos e constantes, podemos calcular Ψp . Volte ao #33. #35. Acertou mais uma resposta. Estes cálculos não são difíceis, no entanto, não são os mais úteis para situações reais, como foi discutido acima. Além do problema de absorção de solutos e variações em Ψs devido ao metabolismo das células, na realidade teremos que reconhecer que o volume da célula não é constante. A parede celular tem maior ou menor elasticidade, o que permite uma certa variação no volume. Também a difusão da água para dentro da célula dilui os solutos presentes, tornando Ψs menos negativo. Um gráfico clássico de Hofler, relacionando estes efeitos, encontra- se abaixo. (O valor de Ψm é considerado insignificante.) Fig. 2. Relação entre o volume relativo de uma célula e os componentes do potencial de água durante a absorção da água pela mesma. O ponto em que o volume relativo é igual a 1,0 é chamado o ponto de "plasmólise incipiente." A plasmólise ocorre quando a célula perde tanto água ao meio que a plasmalema se desloca do contato com a parede celulósica. Em plasmólise incipiente, a pressão hidrostática tem o valor de zero, então Ψa = Ψs + Ψm . Esta relação é utilizada para determinar inclusive o valor de Ψs + Ψm experimentalmente. A plasmólise pode ser observada no microscópio em muitas células; sabendo-se o valor de Ψa daquela solução, numa série de soluções testes, que leva à plasmólise incipiente, sabe-se também o valor de Ψs + Ψm . BIBLIOGRAFIA 17 KRAMER, P.J. 1974. Relaciones hídricas de suelos e plantas. Una sintesis moderna. Centro Regional de Ayuda Tecnica. Edutex, Mexico. NOBEL, P.S. 1991. Physicochemical and Environmental Plant Physiology. Academic Press, New York. SALISBURY, F.B. & ROSS, C. 1992. Plant Physiology. 4a. ed. Wadsworth Publ. Co., Belmont, California. SLATYER, R.O. 1967. Plant-Water Relationships. Academic Press,New York. SUTCLIFFE, J.F. 1980. As Plantas e a Água. EPU, São Paulo. TAIZ, L. & ZEIGER, E. 1991. Plant Physiology. Benjamin/Cummings, Redwood City, California. 18 Capítulo 1
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