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AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 TROPISMOS E NASTISMOS Os vegetais podem orientar seus órgãos no espaço, estimulados por agentes do meio externo. Esta orientação depende dos seguintes passos: 1. Percepção: o mecanismo envolvido neste passo vai depender do tipo de estímulo externo. Para que a planta possa perceber a luz, por exemplo, deve existir um pigmento fotorreceptor. 2. Transdução: o mecanismo de percepção transmite o estímulo externo para células num órgão onde o movimento vai ocorrer. Nesse passo mudanças bioquímicas ou biofísicas ocorrem em resposta ao sinal ambiental (sinal) que irão elicitar a resposta fisiológica. 3. Resposta: são os eventos que ocorrem em resposta ao sinal. Por exemplo, o encurvamento de órgão (raízes, coleoptiles). Todos os movimentos (násticos ou trópicos) apresentam duas características básicas: 1. Mecanismos similares dentro de uma planta freqüentemente causam respostas diferentes. Exemplo: variação de turgescência causada pelos fluxos de K+ e água causam abertura e fechamento estomático e fechamento da folha da sensitiva. 2. Diferentes mecanismos podem produzir resposta similar em organismos diferentes ou no mesmo organismo. Exemplo: sistemas de pigmentos diferentes são os responsáveis pelo encurvamento fototrópico em diversos organismos. A luz azul é a mais comum no fototropismo, mas em alguns casos há o envolvimento da luz vermelha. TROPISMOS São respostas de crescimento de órgãos vegetais em função de estímulos externos direcionados. Fatores externos: Luz: fototropismo positivo (partes aéreas como caules, coleoptiles, brotos, ramos e folhas) fototropismo negativo (raízes) Gravidade: gravitropismo positivo (raízes) gravitropismo negativo (parte aérea) Superfícies sólidas: tigmotropismo ou haptropismo (gavinhas) Gradientes de potencial químico: quimiotropismo (crescimento do tubo polínico) Camila Realce Camila Realce AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Fototropismo positivo: Percepção: a luz azul é a mais efetiva do espectro do visível, não correspondendo a nenhum espectro de absorção de pigmentos conhecidos. Se analisarmos o espectro de ação da resposta fisiológica em coleoptiles, percebemos um pico menor na região do ultravioleta próximo do azul (UVA:360-380nm) e dois picos maiores nas regiões do violeta e azul (450 e 480nm). Os fotorreceptor envolvidos nesta resposta são: a proteína fototropina, o criptocromo e o fitocromo. A fototropina é uma flavoproteína, ligada à membrana plasmática. O seu cromóforo é o FMN e a apoproteína é uma serina/treonina quinase. Ao se ligar a 2 moléculas de FMN, a fototropina sofre autofosforilação em resposta à luz azul O criptocromo é uma fotoliase (enzima ativada pela luz com função de reparo de DNA, danificado por UV). O cromóforo é o FAD e a apoproteína é uma pterina. Em Arabidopsis os três fotorreceptores interagem da seguinte maneira: A luz azul (unilateral) produz um gradiente percebido pela fototropina (nph1). O criptocromo (cry1 e cry 2) afetam a cascata de transdução do sinal de nph1.O tempo necessário à curvatura é reduzido por ativação do fitocromo (phyA ou phyB). Além disso, pré-tratamento de longa duração com luz vermelha conduz a um aumento dez vezes maior na resposta fototrópica, sugerindo que o fitocromo estaria sensibilizando o tecido aos fotorreceptores de luz azul (a fototropina e o criptocromo). O envolvimento desses pigmentos é denominado modelo cooperativo, que prevê o envolvimento de um terceiro receptor, o fotorreceptor de luz UV-B para outros processos fisiológicos. Taiz & Zeiger 2004 Camila Realce Camila Realce AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Transdução: Segundo o modelo de Cholodny-Went há uma redistribuição lateral de auxina, que migra do lado iluminado para o lado sombreado, causando a curvatura em direção à luz. Este modelo é descrito para coleoptiles de gramíneas. Resposta: a resposta envolve a curvatura da coleoptile, em decorrência do crescimento diferencial entre os lados, iluminado e sombreado. O lado iluminado cresce menos do que o lado sombreado, pois este lado apresenta uma concentração de AIA maior do que do lado iluminado. Gravitropismo: - Ortogravitropismo positivo: raízes primárias - Ortogravitropismo negativo: caules aéreos - Plagiotropismo: crescimento em ângulo em relação ao campo gravitacional: raízes laterais - Diagravitropismo: crescimento em ângulo reto em relação ao campo gravitacional: rizomas Percepção: Há correntemente três hipóteses para explicar a percepção da gravidade pela coifa. A primeira delas é a hipótese dos estatólitos, que envolve o movimento de queda livre de corpos dentro das células. As células sensíveis à gravidade são denominadas estatócitos. Os estatólitos são grãos de amido especiais, com densidade (1,3) maior do que os grãos de amido comuns do citoplasma (densidade=1,0). Esses estatólitos se sedimentam sob ação da gravidade nas partes inferiores da célula, exercendo uma pressão mecânica, especialmente sobre RE rugoso, rico em Ca+2. A segunda é a hipótese do protoplasto, que postula que a percepção da gravidade ocorre pelas alterações na correlação de peso de toda a massa do protoplasma. A terceira hipótese é o modelo da tensegridade, que propõe que o rompimento da malha de actina (citoesqueleto) causada pela deposição dos amiloplastos, levando a um aumento transitório da quantidade de Ca+2 no citoplasma. Em outras palavras, esta última hipótese representa uma sofisticação da hipótese dos estatólitos. Atualmente o papel do cálcio no processo tem sido questionado, e a redistribuição da auxina na raiz seria direcionada pela própria auxina que está vindo do ápice e que induz a uma redistribuição dos seus transpotadores (proteínas PIN) (ver abaixo). Transdução: a coifa libera um inibidor para a parte inferior da raiz colocada na posição horizontal. Esse inibidor causa uma desaceleração no crescimento dessa parte, em relação à parte superior. O inibidor desse processo é a auxina. As concentrações de auxinas na parte inferior da raiz são supra-ótimas, por isso o crescimento é inibido. Camila Realce Camila Realce Camila Realce http://www.nature.com/ncb/journal/v8/n3/ima ges/ncb1369-f7.gif Taiz and Zeiger 2009. As auxinas vindas da parte aérea, por transporte polar, são redistribuídas na coifa por diferentes tipos de proteínas de efluxo, as PIN: A PIN1 está envolvida na redistribuição acrópeta da auxina vinda da parte aérea pelo estelo; a PIN2 na redistribuição basípeta da auxina pela epiderme e recirculação pelo córtex; a PIN3 e a PIN7 na redistribuição pela columela e recirculação acrópeta para o estelo; a PIN4 na redistribuição acrópeta da auxina passando pelo centro quiescente até chegar na columela. A localização subcelular e a abundância de PIN2 são cruciais na mediação da resposta gravitrópica. PIN2 é regulada por um mecanismo que envolve a atividade do proteossomo. A figura ao lado mostra (a) o ciclo contínuo entre PIN2 (círculos vermelhos) entre a membrana plasmática e o compartimento intracelular (círculo verde). Uma fração de PIN2 ubiquitinada (círculos azuis) sofre endocitose e é degradada. A inibição da atividade do proteossomo interfere com a dsitribuição intracelular da PIN2, causando seu acúmulo; (b) Variação na localização e abundância das PIN direcionam o fluxo assimétrico nas raízes graviestimuladas. Nas raízes orientadas verticalmente PIN3 (verde) é igualmente distribuída na mp das células da columela, causando redistribuição uniforme de auxina (setas azuis). PIN2 (vermelho) assegura o Camila Realce AUTORA: ProfªDra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 posterior transporte de auxina na zona de alongamento da raiz. Nessas condições a raiz irá crescer na direção do vetor gravidade. Após graviestimulação, PIN3 é realocada no lado inferior da columela, redirecionando o fluxo de auxina para a parte inferior do ápice radicular. A distribuição assimétrica de auxina, controlada pela PIN2, media o crescimento diferencial resultando no encurvamento da raiz. Após o término do processo de reorientação ocorre degradação da PIN2 mediada pela auxina, até que a sua distribuição volte ao padrão normal. Além das auxinas, o Ca+2 parece tomar parte no gravitropismo. O assentamento dos estatólitos sobre o RE rugoso leva a uma liberação de um pouco de Ca+2, que ativa a calmodulina. Esta proteína ativa as bombas de Ca+2 e de auxina nas membranas celulares, liberando Ca+2 e auxina em direção à base de uma raiz graviestimulada. A auxina normalmente flui do estelo (centro da raiz) para a coifa. Se a raiz estiver na posição vertical, a auxina e o Ca+2 serão distribuídos simetricamente para o córtex da raiz. Mas se ela estiver na posição horizontal, a redistribuição será assimétrica, com maior deposição no lado inferior. O papel do Ca+2 poderia ser o de aumentar a taxa de transporte de auxinas, pois em algumas plantas as esses hormônios requerem a presença de Ca+2, especialmente no transporte basípeto. O papel do cálcio na redistribuição de auxinas foi bem aceito até por volta de 2003. Atualmente há uma controvérsia sobre o seu papel. Taiz e Zeiger (2009) mencionam um papel apenas no tigmotropismo. Entretanto, Morita et al (2008) além de outros pesquisadores continuam atribuindo um papel do cálcio no gravitropismo, embora considerem que os mecanismos de redistribuição ainda não estão elucidados. O Ca poderia ter um papel na localização assimétrica das PIN durante as primeiras fases da resposta gravitrópica. Resposta: a resposta para uma raiz na posição horizontal é o crescimento diferencial dos dois lados, o superior e o inferior. O crescimento deste lado é inibido, e a raiz curva para baixo, pois o lado superior continua crescendo normalmente. NASTISMOS Nastismos são movimentos não resultam em crescimento diferencial direcionado, pois todas as partes do órgão são igualmente pelo fator causador do estímulo (externo ou interno). As respostas násticas são de dois tipos: 1. Movimento por crescimento diferencial nos lados opostos do órgão. 2. Variações de turgescência de certas células. Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Os movimentos por crescimento são permanentes, embora possam eventualmente ser eliminados nos órgãos em crescimento. Os movimentos por variação, que são provavelmente de natureza química e que operam, freqüentemente com periodicidade definida, são reversíveis e podem se repetir inúmeras vezes. Movimentos por crescimento: Epinastia: quando a taxa de crescimento do lado superior de um órgão é maior do que a do lado inferior. O hormônio envolvido nesta resposta é o etileno ou altas concentrações de auxinas, que induzem formação de etileno. Hiponastia: quando a taxa de crescimento do lado inferior de um órgão é maior do que a do lado superior. Termonastismo: movimento de abertura e fechamento de flores controlados pela temperatura. A resposta ocorre em virtude de reações de crescimento epinástico e hiponástico. Em tulipa, quando aumentamos a temperatura de 7o para 17o C, as partes internas crescem mais do que as externas e a flor abre. Fotonastismo: movimento de abertura e fechamento de flores controlados pela luz. A resposta ocorre em virtude de reações de crescimento epinástico e hiponástico. Os botões florais iniciam a abertura no final da tarde, atingindo um clímax no meio da noite e fecham novamente ao amanhecer. Tanto para o fotonastismo como para o termonastismo, alem de agentes internos também estão envolvidos fatores internos como ritmos circadianos. Movimentos por variação Esses movimentos são causados por variação de turgescência em certas células especializadas, com alteração de volume. Como esta alteração de volume não é permanente, o retorno à posição original pode ser repetido muitas vezes. Em células guarda dos estômatos, a variação de turgescência causa abertura e fechamento do ostíolo. Hidronastismo: é o enrolamento das folhas de gramíneas causado pelo estresse hídrico. Próxima da nervura central ocorrem células buliformes, que são grandes com Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce Camila Realce AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 paredes finas e praticamente sem cutícula. Em situação de estresse hídrico, essas células são as primeiras a perder água para o ar atmosférico, causado um murchamento nessa região, mas não nas células vizinhas, que exercem pressão e causam o fechamento da folha. Tigmonastismo: a) Percepção: envolve o toque, agitação mecânica, pressão externa. b)Transdução: sinal elétrico. Os folíolos possuem células parenquimáticas, denominadas células motoras. Na parte inferior dos pulvinos estão as células flexoras e na parte superior as extensoras. O sinal elétrico ativa bombas de H+ que comandam a abertura de canais de K+ e cotransporte H+/Cl-, nas células flexoras, ao mesmo tempo são inativadas bombas de H+ nas extensoras e o folíolo fecha. Quando os fluxos de íons se alteram em relação às células extensora e flexoras o folíolo abre. c) Resposta: quando os influxos de íons acontecem nas células flexoras, ocorre uma entrada de água simultânea, as células tornam-se túrgidas, enquanto que as células extensoras murcham. Esta variação de turgescência causa o fechamento dos folíolos. A abertura ocorre via efluxo de íons das células flexoras e influxo nas células extensoras. Nictinastismo: a) Percepção: a luz ativa o sistema de fitocromo e o de criptocromo. b) Transdução: são produzidas turgorinas (sinal químico) que é transmitido rapidamente a todos os folíolos. Os folíolos possuem células parenquimáticas, denominadas células motoras. Na parte inferior dos pulvinos estão as células flexoras e na parte superior as extensoras. As turgorinas ativam bombas de H+ que comandam a abertura de canais de K+ e cotransporte H+/Cl-, nas células flexoras, ao mesmo tempo são inativadas bombas de H+ nas extensoras e o folíolo fecha. Quando os fluxos de íons se alteram em relação às células extensora e flexoras o folíolo abre. Para haver fechamento, a transição da luz branca para escuro (fim de tarde) induz a um efluxo de íons nas células extensoras e influxo nas flexoras. Quando amanhece os fluxos se alteram. c) Resposta: idêntica à do tigmonastismo. BIBLIOGRAFIA Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology. (1962-2008). Annual Reviews, Palo Alto, California. Camila Realce Camila Realce AUTORA: Profª Dra Lourdes Isabel Velho do Amaral 2011 Buchanan, B.B., Gruissen, W. & Jones, R.L. 2000. Biochemistry & molecular biology of plants. American Society of Plant Physiologists, Rocckville. Fosket, D.E. 1994. Plant growth and development: A molecular approach. Academic Press. Hopkins, W.G. 1999. Introduction to plant physiology. John Wiley & Sons, Inc. New York. Kerbauy, G.B. 2004. Fisiologia vegetal. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Mohr, H. & Schopfer, P. 1995. Plant physiology. Springer, London. Raven, P.H., Evert, R.F. & Eichhorn, S.E. 2007. Biologia vegetal. 7ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Salisbury, F.B. & Ross, C. 1992. Plant physiology. 4a ed. Wadsworth, Belmont. Site do Livro Taiz & Zeiger, Plant Physiology: www.plantphys.comTaiz, L. & Zeiger, E. 2009. Fisiologia vegetal. Artmed Editora. Porto Alegre. Toyota M, Furuichi T, Tatsumi H and Sokabe M. 2008. 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