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Brasília-DF. Fisiologia do ExErcício Elaboração Carlos Vinicius de Souza Heggeudorn Herdy Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE ÚNICA BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO ............................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 BIOENERGÉTICA ....................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 INTER-RELAÇÕES ENTRE CATABOLISMO E ANABOLISMO .......................................................... 19 CAPÍTULO 3 FISIOLOGIA CELULAR .............................................................................................................. 21 CAPÍTULO 4 HOMEOSTASE ........................................................................................................................ 27 CAPÍTULO 5 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS ......................................................................................... 31 CAPÍTULO 6 METABOLISMO DE LIPÍDIOS ..................................................................................................... 45 CAPÍTULO 7 METABOLISMO DE PROTEÍNAS ................................................................................................. 52 CAPÍTULO 8 SUPLEMENTAÇÃO ESPORTIVA .................................................................................................. 61 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 63 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 64 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Bem-vindo ao estudo da disciplina Fisiologia do Exercício. Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material básico dirigido aos conhecimentos iniciais necessários aos que trabalham diretamente com alunos e atletas praticantes de atividades físicas de lazer e de alto rendimento. Partindo dessa premissa, essa disciplina visa proporcionar um conhecimento inicial para os profissionais que atuam propriamente com montagens de treinamentos físicos. O Fisiologista estuda os funcionamentos e a regulação das alterações que ocorrem no organismo em exercício: além disso, mede e mensura informações metabólicas dos atletas para direcionamento de prescrições mais coerentes. Para que isso ocorra, é necessário obter o perfil morfológico, neuromuscular e cardiovascular da equipe. Esse serviço é, na maioria das vezes, feito por fisiologistas e preparadores físicos. Essa apostila irá lhe ajudar a iniciar seus trabalhos com atletas que atuam diretamente com a promoção da saúde e o alto rendimento. O presente material está organizado em unidades de estudo, subdivididas em capítulos. Os ícones que constam do Caderno são recursos de aprendizagem, que provocam e conduzem à reflexão, síntese, leitura complementar, consultas, entre outras atividades. Essa apostila terá como base 40 horas de carga horária. Esperamos que você, aluno-professor, tenha motivação e prazer em estudar essa disciplina visando ao seu sucesso profissional. Objetivos » Promover o conhecimento específico, em níveis bioquímicos e fisiológicos, de fatos ocorridos em atletas de alto rendimento. » Entender a importância da disciplina de fisiologia para o sucesso atlético. » Refletir criticamente acerca da importância dos metabolismos. » Apropriar-se dos conhecimentos sobre processos metabólicos em atletas para intervenção e prescrição do treinamento. 9 UNIDADE ÚNICA BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Nesta primeira Unidade da disciplina, iremos abordar os assuntos relacionados às questões bioquímicas e fisiológicas do organismo atuadas em exercício. No corpohumano, ocorrem diversas reações químicas a todo instante, que são denominadas de metabolismo. O metabolismo inclui vias metabólicas que resultam na síntese de moléculas (reação anabólica), assim como na degradação de moléculas (reação catabólica). Para gerar energia, todas as células necessitam converter os nutrientes alimentares como os carboidratos, as gorduras e as proteínas em uma forma de energia biologicamente utilizável. Esse processo metabólico é denominado bioenergética, segundo McArdle (2011). Para correr, saltar ou nadar, as células musculares esqueléticas devem ser capazes de continuamente extrair energia dos nutrientes alimentares. Na verdade, a incapacidade de transformar a energia contida nos nutrientes alimentares em energia biologicamente utilizável limita o desempenho nas atividades de endurance. A explicação é simples: para continuar a contrair, as células musculares devem ter uma fonte de energia contínua. Quando a energia não se encontra prontamente disponível, a contração muscular não é possível e, consequentemente, o trabalho deve ser interrompido. Por essa razão, considerando-se a importância da produção celular de energia durante o exercício, é fundamental que o professor possua uma compreensão ampla dos conhecimentos abordados acerca da bioenergética visando a um melhor entendimento dos processos aplicados ao treinamento. O objetivo desta unidade é introduzir tanto os conceitos gerais quanto os específicos associados à bioenergética. CAPÍTULO 1 Bioenergética A bioenergética é um dos principais conteúdos específicos da fisiologia, sendo essencialmente dedicada ao estudo dos vários processos químicos que tornam possível a vida celular do ponto de vista energético. Entre outros objetivos, procura explicar os principais processos bioquímicos que decorrem na célula e analisar as suas implicações 10 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO fisiológicas, principalmente em relação ao modo como esses processos se enquadram no conceito global de homeostasia. O entendimento daquilo que significa “energia” e da forma como o organismo a pode adquirir, converter, armazenar e utilizar é a chave para compreender o funcionamento orgânico tanto nos esportes de alto rendimento, como nas atividades recreativas. O estudo da bioenergética permite entender como a capacidade para realizar trabalho (exercício) está dependente da conversão sucessiva, de uma em outra forma de energias. Com isso, o exercício é, basicamente, uma questão de conversão de energia química em energia mecânica, energia essa que é utilizada pelas miofibrilas para provocar o deslize dos miofilamentos, resultando em ação muscular e produção de força. Para compreender as necessidades energéticas de qualquer modalidade desportiva, tanto no treinamento, quanto na competição, é importante conhecê-la profundamente. O sucesso de qualquer tarefa motora pressupõe que a conversão de energia seja feita eficazmente, na razão direta das necessidades energéticas dos músculos esqueléticos envolvidos nessa atividade. É importante referir que o dispêndio energético depende de vários fatores, entre os quais: a tipologia do exercício, a frequência, a duração e intensidade, os aspectos de caráter dietético, as condições do ambiente, a condição física do atleta e a sua composição muscular em termos de fibras (tipo I e II). Referindo- se à avaliação da performance, alguns investigadores classificam as atividades em três grupos distintos – potência, velocidade e resistência – aos quais associam um sistema energético específico, respectivamente, os fosfatos de alta energia, a glicolise anaeróbia e o sistema oxidativo. Como exemplos ilustrativos deste tipo de atividades, podemos citar o lançamento do peso (potência), a corrida de 400m (velocidade) e a maratona (resistência). Os dois primeiros sistemas energéticos são designados de anaeróbios, o que significa que a produção de energia nas modalidades que os utilizam preferencialmente não está dependente da utilização de oxigênio. Já a produção de energia no sistema oxidativo decorre na mitocôndria e só é possível mediante a utilização de oxigênio, razão pela qual se denomina esse tipo de sistema de aeróbio. Deste modo, o sucesso e a operacionalidade de cada um dos grupos de atividade encontram-se dependente do funcionamento do sistema energético preferencialmente utilizado. A vida depende essencialmente da nossa capacidade de realizar tarefas, tais como pensar, falar, ouvir, movimentar, entre outras. Estas atividades em termos bioenergéticos são traduzidas na execução de trabalho de diferentes tipos (trabalho osmótico, trabalho de síntese, trabalho mecânico etc.). Portanto, estaremos vivos, enquanto tivermos energia para realizarmos todos os trabalhos relacionados com a manutenção da vida da célula, dos órgãos, tecidos, sistemas e do corpo. Todas estas atividades essencialmente dependem do fornecimento adequado de energia, e o sistema biológico deve constantemente ajustar a produção ao gasto energético para não comprometer a sua 11 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA capacidade de realizar trabalho. O tipo de energia processado pelo sistema biológico é variável, e inclui a mecânica, elétrica, osmótica, sonora, etc. No caso da atividade física, a energia relacionada com o movimento é de natureza química, armazenada nas ligações químicas entre os átomos que formam as moléculas constituintes dos diversos alimentos (carboidratos, lipídios e proteínas). Esta energia deve ser processada e eficientemente transferida para os músculos solicitados na execução de uma determinada atividade física. A bioenergética trata exatamente dos princípios que fundamentam a realização dos processos ou reações químicas (catabolismo e anabolismo) responsáveis pela transferência de energia dos locais de produção pra os locais de consumo nos sistemas biológicos. O termo bioenergética refere-se às fontes de energia para a atividade muscular. O termo energia é simplesmente definido como a habilidade de fazer trabalho. A fonte de energia do organismo humano provém dos nutrientes encontrados em nossa alimentação. A energia adquirida por meio dos alimentos precisa ser transformada em um composto chamado trifosfato de adenosina (ATP) antes que possa ser aproveitada pelo organismo para a ação muscular. O corpo processa três tipos diferentes de sistema para a produção de energia. Os sistemas diferem-se consideravelmente em complexidade, regulação, capacidade, força e tipos de exercícios para cada um dos sistemas de energia predominantes. Cada um é utilizado de acordo com a intensidade e a duração dos exercícios. Eles são classificados em: ATP- CP, Sistema Glicolítico (Lático e Alático) e Oxidativo (Aeróbico). Atp-Cp Podendo-se assumir que o sistema ATP-CP supre a energia de, no máximo, 15-20 segundos para os exercícios de curta duração como sprints, lançamentos, chutes etc., e de maior duração, 30-45 segundos, como corridas de 100 e 200m., provas de natação de 50m., saltos de grande amplitude e levantamento de peso. Esse sistema tem predominantemente o uso de carboidratos, gorduras e proteínas. Podemos definir como via metabólica constituída pelo acoplamento entre duas reações químicas, a hidrólise da creatina fosfato (reação exergônica) e a reação de síntese de ATP (reação endergônica). Sua principal característica é o fornecimento rápido de energia livre, permitindo a rápida ressíntese de ATP a partir de ADP e Pi, porém limitado no tempo (cerca de 6 a 10s). Portanto, é um sistema de alta potência e baixa capacidade. Cabe destacar que os locais de fontes de energia do ATP e CP pelo acoplamento de uma reação endergônica (reação 1) a uma exergônica (reação 2), de tal modo que a variação de energia livre consumida pelareação 1 é suprida pela reação 2, que libera energia livre. 12 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO ADP + P + ENERGIA LIVRE = ATP ΔG1 = +7 Kcal/mol CrP + ADP = ATP + Cr (reação 2) ΔG2 = -12 Kcal/mol Assim, nesse acoplamento, a reação 2 é a exergônica, que cede 7 Kcal (na forma de energia livre ou trabalho) para o grupo fosfato se ligar ao ADP (reação 1 endergônica), e 5 kcal/mol são dissipados para o meio na forma de calor, utilizando a via priorizada em exercícios de alta intensidade e curta duração. Portanto, todas as vezes que iniciamos uma atividade física qualquer, ou ocorrem mudanças de ritmo dentro de uma mesma atividade, essa via, que se localiza no citoplasma, é utilizada pela célula. Exemplos: 50m de corrida salto em altura, cobrança de pênalti no futebol, 25m nado livre. Figura 1. Alemão David Sortl na prova de lançamento de peso no Mundial de Doha. Figura disponível em: <http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-peso>. Acessado em: 21 jun. 2012. Glicolítico (Lático e Alático) O sistema ácido lático também proporciona uma fonte rápida de energia, a glicose. Ele é a primeira fonte para sustentar exercícios de alta intensidade. O principal fator limitante na capacidade do sistema não é a depleção de energia, mas o acúmulo de lactato no sangue. A maior capacidade de resistência ao ácido lático de um indivíduo é determinado pela habilidade de tolerar esse ácido. Esse sistema proporciona energia para atividades físicas que resultem em fadiga de 45-90 segundos. Tendo como exemplo atividades tipo: corridas de 400-800 m., provas de natação de 100-200 m., também proporcionando energia para piques de alta intensidade no futebol, róquei no gelo, basquetebol, voleibol, tênis, badmington e outros esportes. O denominador comum dessas atividades é a sustentação de esforço de alta intensidade com duração de 1-2 minutos. A principal fonte de energia desse sistema é o carboidrato (McARDLE, 2011). 13 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Para definirmos o sistema glicolítico, observamos a via metabólica que permite a quebra da molécula de glicose em duas moléculas de piruvato. Caso ocorra a formação de duas moléculas de lactato, torna-se uma via anaeróbia, pois não consome o oxigênio. Essa via é usada para transferir energia armazenada nas ligações químicas entre os átomos que compõem a molécula de glicose para o ADP, sintetizando o ATP. Com isso a produção final de 2 moléculas de ATP/ molécula de glicose ou 3 moléculas de ATP/ molécula de glicose, se proveniente do glicogênio muscular. Fatos importantes sobre a glicólise anaeróbia: a) esta via metabólica é constituída de uma sequência de 10 reações químicas, cada uma delas controladas por enzimas específicas, sendo a glicose o produto de entrada e o piruvato o produto final. b) durante a glicólise, a glicose é quebrada em duas moléculas de piruvato, ocorrendo o consumo de 2 moléculas de ATP no início da via para fosforilar a molécula de glicose, formando a frutose 1,6, difosfato, e um acoplamento de oxirredução, com o NAD sendo reduzido a NADH. c) se a quantidade de O2 nas mitocôndrias não estiver perfeitamente adequada à necessidade de ATP, a célula acrescentará o metabolismo anaeróbio, ou seja, promoverá a redução do piruvato a lactato, para recompor os níveis citoplasmáticos de NAD na forma oxidada, garantindo assim a continuidade da glicólise no citoplasma. Esta última reação é catalisada pela enzima desidrogenase láctica. Figura 2. Usain Bolt, homem mais rápido do mundo dos 100 e 200m. rasos. Figura disponível em: <http://www.totalprosports.com>. Acessado em: 23 jun. 2012. Aeróbico O sistema aeróbico é um complexo de vários componentes diferentes. Por causa de sua habilidade de utilizar carboidratos, gorduras e proteínas como fonte de energia e porque produz somente o CO2 e água como produto final, esse sistema tem capacidade ilimitada de produzir ATP, mas a complexidade e a necessidade por constante suprimento de 14 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO oxigênio limitam, em parte, a produção de ATP. Esse sistema fornece energia para exercícios de intensidade baixa para moderada. Fornece energia para atividades como dormir, descansar, sentar, andar e outras. Quando a atividade vai se tornando um pouco mais intensa, a produção de ATP fica por parte do sistema ácido lático e ATP- CP. Atividades mais intensas como caminhada e ciclismo, por exemplo, também são supridas em parte pelo sistema aeróbico, até que a intensidade atinja o nível moderado- alto (acima de 75%-85% da Frequência Cardíaca Máxima), depois tal sistema aeróbico é recrutado para suprir energia suplementar. Os melhores exemplos de exercícios que recrutam o sistema aeróbico são: aulas de aeróbica e hidroginástica (de 40-60 min.), corridas mais longas que 5000m., natação (mais que 1500m.), ciclismo (mais que 10km.), caminhada e triátlon. Qualquer atividade sustentada continuamente em um mínimo de 5 min. pode ser considerada aeróbica. No metabolismo aeróbio, se o aporte de oxigênio está adequado à solicitação energética sofrida pela célula, o processamento da molécula de piruvato ocorre pela via aeróbia. Nesse caso, o piruvato é transportado para o interior das mitocôndrias e sofre uma descarboxilação oxidativa, formando a acetil-CoA, que é um dos produtos de entrada no ciclo de Krebs, e NADH. Esse acoplamento de reações químicas é promovido pela enzima piruvato desidrogenase. O outro produto de entrada no ciclo de Krebs é o oxalacetato, presente na matriz mitocondrial. Portanto, elétrons (e consequentemente hidrogênios ou prótons) são removidos do substrato no ciclo de Krebs por meio dos acoplamentos de oxidação-redução entre os substratos e as duas moléculas transportadoras de hidrogênio, NAD e FAD (acoplamento de oxirredução), presentes na matriz mitocondrial, que serão reduzidas a NADH e FADH2. Essas duas coenzimas, por sua vez, são regeneradas na forma oxidada durante o processo de fosforilação oxidativa na cadeia respiratória, esta via metabólica ocorre no interior das mitocôndrias. Figura 3. Atletas de futebol utilizando o treinamento aeróbio como aquecimento. Figura disponível em: <http://www.flickr.com/photos/galeriavasco>. Foto: Marcelo Sadio/vasco.com.br. Acessado em: 7 jun. 2012. 15 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Substratos energéticos O carboidrato tem como função primária fornecer energia para o trabalho celular. Ele é o único nutriente cuja energia armazenada pode ser usada para gerar ATP anaerobicamente, sendo utilizado nos exercícios vigorosos que requerem a liberação de energia rápida (anaeróbicos). Nesse caso, o glicogênio acumulado e a glicose sanguínea terão de fornecer maior parte de energia para a resíntese de ATP. Em exercícios leves e moderados, os carboidratos atendem cerca de metade das necessidades energéticas do organismo. E são também necessários alguns carboidratos para que se processem nutrientes das gorduras e estes então sejam transformados em energia para os exercícios de longa duração (aeróbicos). Sendo assim, 1 MOL de carboidrato é capaz de produzir 38 ATP. Já a gordura armazenada representa a fonte mais abundante de energia potencial. Essa fonte comparada aos outros nutrientes é quase ilimitada. Existe alguma gordura armazenada em todas as células, porém, seu maior fornecedor são os adipócitos (células gordurosas especializadas para a síntese e o armazenamento de triglicerídeos) que compreendem cerca de 90% das células. Depois que os ácidos graxos se difundem para dentro da circulação, eles são entregues aos tecidos ativos e removidos do tecido adiposo, assim são transferidos para os músculos (particularmente as fibras de contração lenta), onde a gordura é desintegrada e transformada em energia,dentro das mitocôndrias, para ser utilizada como combustível. Dependendo do estado de nutrição, treinamento do indivíduo e duração da atividade física, de 30% a 80% da energia para o trabalho biológico derivam das moléculas adiposas intra e extracelulares. Com isso, 1 MOL de gordura é capaz de produzir 142 ATP. A proteína pode desempenhar um papel importante como substrato energético durante o exercício constante e treinamento pesado. Mas não é capaz de proporcionar mais que 10% à 15% da energia exigida na atividade, como o carboidrato e gordura. Para proporcionar energia, as proteínas são, primeiramente, transformadas em aminoácidos, de forma que estes possam penetrar prontamente nas vias para a liberação de energia, por meio da remoção de nitrogênio dos ácidos graxos, e assim serem transferidos para outros compostos. Dessa maneira, certos aminoácidos podem ser usados diretamente no músculo para obtenção de energia, e 1 MOL de proteína é capaz de produzir 15 ATP. 16 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 4. Vias metabólicas e o tempo de duração em exercício. O que é utilizado primeiro: a gordura ou o carboidrato? Esse assunto vem sendo discutido entre diversos cientistas pelo mundo. Sob condições de repouso, os ácidos graxos livres estão disponíveis e proporcionam a primeira fonte de combustível, ou seja, o metabolismo de gordura é acelerado enquanto o de carboidrato é inibido. Durante exercícios de intensidade moderada (a partir de 85% da Frequência Cardíaca Máxima), súbitas mudanças são observadas no nível de excreção de certos hormônios. A excreção de adrenalina, por exemplo, eleva-se ao mesmo tempo em que é reduzida a excreção da insulina no organismo. Esses hormônios influenciam diretamente na taxa de utilização de gordura e carboidrato pelos músculos, de tal maneira que o metabolismo dessa gordura tenha predominância e tenda a se elevar com o trabalho prolongado. Ao se elevar a intensidade do exercício (mais que 85% da F.C.M.), ocorrem mudanças que estimulam a inibição da utilização da gordura pelo organismo. O maior inibidor da gordura chama-se ácido lático. Como resultado, o metabolismo da gordura é reduzido e o carboidrato torna-se a fonte mais solicitada de energia, sendo tal fonte utilizada pelos sistemas ácido lático e aeróbico. 17 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Quadro 1. Características dos sistemas de energia (AFAA, 1995). CARACTERÍSTICA ATP – CP ÁCIDO LÁTICO AERÓBICO Combustível utilizado Fosfato de alta energia Carboidratos Carboidratos, gorduras e proteínas Localização Sarcoplasma Sarcoplasma Mitocôndria Fadiga devido à/ao... Depleção de fosfato Acúmulo de lactato Depleção de glicogênio Capacidade Muito limitada Limitada Sem limite Homem 8 - 10 Kcal 12 - 15 Kcal >90.000 Kcal Mulher 5 - 7 Kcal 8 - 10 Kcal >115.000Kcal Força Muito alta Alta/moderada Moderada/baixa Homem 36-40 Kcal/min. 16-20 Kcal/min. 12-15 Kcal/min. CARACTERÍSTICA ATP – CP ÁCIDO LÁTICO AERÓBICO Mulher 26-30 Kcal/min. 12-15 Kcal/min. 9-12 Kcal/min. Intensidade Muito alta Alta/moderada Moderada/baixa % máximo >95% FCM. 85%-95 FCM. <85% FCM. Tempo para fadiga Muito curto: de 1- 15 seg. Curto/médio: de 45 - 90 seg. Médio/longo: de 3-5 min. Corrida <100 m 400-800 m >1500 m Natação < 25 m 100-200 m > 400 m Ciclismo <175 m 750-1500 m >3000 m Remo < 50 m 250-500 m >1000 m Fonte: AFAA, 1995. Aspectos da produção energética Quando uma pessoa realiza uma atividade considerada suave por ela, ou porque a atividade necessita de pouca energia ou porque a pessoa está bem condicionada, apenas algumas fibras musculares são utilizadas. Nesse caso, a produção de energia ocorrerá pela via aeróbia, porque o oxigênio que chega pelo sangue é suficiente e alcança todas as fibras musculares ativas. Essas atividades são chamadas aeróbias e utilizam como substratos energéticos predominantes o glicogênio muscular e os ácidos graxos livres provenientes do tecido adiposo. Atividades mais intensas utilizam maior número de fibras musculares. Quando aproximadamente 30% das fibras musculares disponíveis são recrutadas, está-se em um nível de gasto energético de transição, chamado limiar anaeróbio. Acima desse nível de contração muscular começa a ocorrer oclusão parcial da circulação sanguínea, impedindo a adequada perfusão de todas as fibras musculares e assim precipitando o metabolismo anaeróbio. Nas fases iniciais de qualquer exercício, a produção de energia é anaeróbia, mesmo que a intensidade não seja alta, porque os mecanismos de captação, transporte e utilização do oxigênio levam algum tempo para aumentar a eficiência. Nas fases iniciais do metabolismo anaeróbio, o substrato energético predominante é a fosfocreatina, que não forma ácida lática, e, portanto, a via metabólica é denominada anaeróbica alática. Nas atividades mais intensas, após alguns segundos de anaerobiose alática, a produção energética passa a depender 18 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO mais do glicogênio, que decomposto parcialmente leva à produção do lactato. Sempre que ocorre aumento de lactato a atividade é chamada anaeróbia, mas as atividades muito curtas e intensas, dependentes da fosfocreatina, também são anaeróbias, mas sem produção de lactato. A produção aeróbia de energia sempre está presente mesmo nos exercícios anaeróbios, embora nas atividades intensas e muito curtas seja desprezível. No caso de exercícios contínuos intensos como pedalar ou correr com velocidade, a produção aeróbia de energia pode chegar à sua eficiência máxima, conhecida como VO2 máx. Nesses casos a produção energética depende da glicólise anaeróbia, da oxidação da glicose do músculo e do sangue, e também da oxidação dos lipídeos intramusculares. Estes exercícios são acompanhados de altos níveis de lactato sanguíneo e tecidual, caracterizando atividades anaeróbias muito intensas, toleradas apenas por pessoas hígidas. Os exercícios com pesos são sempre anaeróbios porque a oclusão da circulação sanguínea intramuscular é grande. Assim sendo, a aerobiose ocorre apenas nas fases de relaxamento muscular, que permitem a circulação do sangue, e é menor do que nos exercícios anaeróbios contínuos. Embora os exercícios com pesos sejam sempre anaeróbios, a intensidade somente será alta quando o grau de esforço também o for. SOBRINHO SANTARÉM, José Maria. Disponível em: <http://www.saudetotal.com/santarem.htm>. 19 CAPÍTULO 2 Inter-relações entre catabolismo e anabolismo Primeiramente, o metabolismo refere-se à síntese (anabolismo), à degradação (catabolismo) e à transformação de proteínas, ácidos gordos e hidratos de carbono. Chama-se metabolismo, em um sentido lato, ao conjunto de reações químicas que ocorrem na célula, e que lhe permitem manter-se viva, crescer e dividir-se. Classicamente, divide-se o metabolismo em catabolismo, em que a obtenção de energia e de poder redutor ocorre a partir dos nutrientes; e anabolismo, em que a produção de novos componentes celulares ocorre em processos que geralmente utilizam a energia e o poder redutor obtidos pelo catabolismo de nutrientes. O metabolismo é constituído por reações: o metabolismo biossintético tem reações anabólicas e o metabolismo degratativo tem reações catabólicas. As primeiras requerem energia e as outras libertam energia de que as outras precisam. No metabolismo, há uma transdução de energia, estando em jogo energia química. O anabolismo e o catabolismo são processos opostos que ocorrem nas células dos seres vivos e, embora divergentes, estão inter-relacionados. Esses processos, apesar de serem opostos, não são independentes. Como já dito, estão inter-relacionados, podendo os produtos do catabolismo constituíremsubstratos da outra forma. A glicólise, ou glucólise, é a sequência metabólica de várias reações enzimáticas, em que a glicose é oxidada produzindo duas moléculas de piruvato e dois equivalentes reduzidos de NAD+, que ao serem introduzidos, na cadeia respiratória, produzirão duas moléculas de ATP. O equilíbrio das nossas reações químicas é dinâmico, ou seja, adapta-se às variações do meio externo dentro de um intervalo, de modo a que as células funcionem bem ainda que as concentrações não sejam sempre exatamente as mesmas. O objetivo final das células é produzir energia e manter-se vivas, havendo várias vias metabólicas responsáveis por esta finalidade, para além da preferencial. A integração metabólica é a integração das várias vias metabólicas e o seu funcionamento conjunto para o funcionamento da célula em questão. As inter-relações entre os diferentes tipos de compostos são numerosas e deve considerar-se todo o metabolismo celular como um conjunto de reações harmoniosamente integradas. Mecanismos gerais de regulação e integração metabólica O fluxo das vias metabólicas ocorre a uma velocidade determinada na reação mais lenta da via. Essa reação tem o nome de etapa limitante do fluxo e a enzima que a catalisa encontra-se fortemente regulada já que a sua atividade determina o fluxo da matéria 20 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO atrás da via. Se a velocidade da etapa limitante diminui, reduz-se também o consumo do substrato inicial, que fica livre para outras transferências e processos metabólicos. A velocidade da etapa limitante do fluxo pode alterar-se por diferenças de concentração do substrato, por uma mudança de atividade específica da sua enzima ou da sua quantidade. As diferenças na quantidade ou capacidade catalisadora das enzimas limitantes do fluxo estão frequentemente relacionadas com a regulação hormonal, o que proporciona mecanismos de integração complexos e versáteis. São vários os tecidos (músculos, por exemplo) em que a glicose se bloqueia para a inibição da fosfofrutoquinase (PFK), mediada pelo ATP. Assim, o consumo de glicose ajusta-se às necessidades energéticas de cada fibra muscular. No fígado, a frutose é um ativador da PFK e um forte inibidor de frutose. O segundo mecanismo comum da regulação da atividade específica das enzimas-chave é a fosforilação-desfosforilação, catalisada por proteínas cinases. Visto que a atividade das proteínas cinases está frequentemente sobre controlo hormonal, os equilíbrios de fosforilação-desfosforilação constituem um mecanismo capaz da regulação e integração. Como estão relacionados com o sistema endócrino, permitem a adaptação do fluxo das vias metabólicas a alterações no meio interno. Um exemplo é a atividade de regulação do metabolismo do glicogênio hepático em relação com a glicemia. A ativação em cascata do AMP cíclico, mediada por glucagon quando a glicemia é baixa, ativa a fosforilase responsável pela degradação de glicogênio e inibe a síntese de glicogênio. Esse efeito sobre o glucagon aumenta a capacidade do fígado de corrigir a glicemia. Transdução de energia no metabolismo As proteínas, hidratos de carbono e outros compostos são degradados no catabolismo, dando produtos pobres em energia, como água, CO2 e amônia. Essas reações degradativas libertam energia que é armazenada em energia química, em uma molécula, o ATP. Há transdução de energia, na medida em que ela passa de uma forma para outra. O NADH e o NADPH são moléculas importantes, formadas também no catabolismo. O anabolismo, o processo biossintético que requer energia, forma proteínas e hidratos de carbono, entre outros compostos, e a energia que estas reações requerem é fornecida pelo ATP formado no catabolismo. O anabolismo e o catabolismo não são processos independentes, relacionando-se. O anabolismo e o catabolismo são processos opostos e isso parece um conflito que não ocorreria em simultâneo nas células, mas, na verdade, ocorre. As vias metabólicas, quer catabólicas, quer anabólicas, têm regulação independente e, muitas vezes, as vias de regulação estão em compartimentos celulares diferentes. O local onde ocorre cada uma das vias é, de um modo geral, diferente. 21 CAPÍTULO 3 Fisiologia celular Figura 5. Estrutura celular. Figura disponível em: <http://fisiologiainteractiva.wordpress.com>. Acessado em: 12 maio. 2012. Retículo endoplasmático O citoplasma das células eucariontes contém inúmeras bolsas e tubos cujas paredes têm uma organização semelhante à da membrana plasmática. Essas estruturas formam uma complexa rede de canais interligados, conhecida pelo nome de retículo endoplasmático, que pode ser de dois tipos: rugoso (granular) e liso (agranular). O rugoso, ou ergastoplasma, é formado por sacos achatados, cujas membranas têm aspecto verrugoso devido à presença de ribossomos aderidos à sua superfície externa. O liso é formado por estruturas membranosas tubulares, sem ribossomos aderidos, portanto de superfície lisa. Os dois tipos estão interligados e a transição entre eles é gradual, observando o retículo endoplasmático, partindo do rugoso em direção ao liso, vemos as bolsas tornarem-se menores e a quantidade de ribossomos aderidos diminuir, progressivamente, até deixar de existir. 22 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO O retículo endoplasmático atua como uma rede de distribuição de substâncias no interior da célula. No líquido existente dentro de suas bolsas e tubos, diversos tipos de substâncias se deslocam sem se misturar com o citosol. Outras funções são: o armazenamento de substâncias e o controle da pressão osmótica do hialoplasma. O retículo endoplasmático liso também é responsável pela produção de lipídios, desintoxicação do organismo (fígado) e catalisação das reações químicas na célula, já o rugoso é responsável pela produção de proteínas graças à presença dos ribossomos. As proteínas fabricadas penetram nas bolsas e desloca-se em direção ao aparelho de Golgi, passando pelos estreitos e tortuosos canais do retículo endoplasmático liso. O retículo endoplasmático, além de conduzir substâncias pelo citoplasma, é o local de produção de várias substâncias importantes. Por exemplo, a síntese de diversos lipídios, como colesterol, fosfolipídios e hormônios esteroides, ocorre no retículo endoplasmático granular. Já o retículo endoplasmático granular, graças aos ribossomos, fabrica diversos tipos de proteínas. O retículo endoplasmático agranular também participa dos processos de desintoxicação das células. No retículo agranular das células do fígado, por exemplo, ocorre modificação ou destruição de diversas substâncias tóxicas, entre elas o álcool. O retículo endoplasmático rugoso ou ergastoplasma é formado por bolsas membranosas achatadas, com grânulos (os ribossomos) aderidos à superfície externa. Sua principal função, graças aos ribossomos presentes, é a síntese de proteínas. Já o retículo endoplasmático liso é formado por tubos membranosos lisos, sem ribossomos aderidos. Suas principais funções são a síntese de diversos lipídios, como o colesterol, hormônios esteroides e fofolipídios. É no retículo endoplasmático liso que também ocorre o processo de desintoxicação das células. Complexo de Golgi O aparelho de Golgi está presente em praticamente todas as células eucariontes, consistindo em bolsas membranosas achatadas, empilhadas como pratos, chamadas dictiossomos. Em células animais, os dictiossomos geralmente encontram-se reunidos próximo ao núcleo; já nas células vegetais, os dictiossomos geralmente encontram-se espalhados pelo citoplasma. O complexo de Golgi atua como centro de armazenamento, transformação, empacotamento e remessa de substâncias na célula, além de atuar na secreção do ácido pancreátil, na produção de polissacarídeos(muco, glicoproteína- RER), na produção de lipídios, na secreção de enzimas digestivas, formação da lamela média em células vegetais, formação do lisossomo e na formação do acromossomo do espermatozoide. O aparelho de Golgi desempenha papel fundamental na eliminação de substâncias úteis ao organismo, processo denominado secreção celular. 23 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Lisossomos Os lisossomos (do grego lise, quebra, destruição) são bolsas membranosas que contêm enzimas capazes de digerir diversas substâncias orgânicas. Existem mais de cinquenta tipos de enzimas hidrolíticas (atuam por hidrólise) alojadas no interior das pequenas bolsas lisossômicas. Os lisossomos estão presentes em praticamente todas as células eucariontes, sua origem é o aparelho de Golgi. O retículo endoplasmático rugoso produz enzimas que migram para os dictiossomos (complexo de Golgi), são identificadas e enviadas para uma região especial do aparelho de Golgi, onde são empacotadas e liberadas na forma de pequenas bolsas. Uma das funções dos lisossomos é a digestão intracelular. As bolsas formadas na fagocitose ou na pinocitose, que contêm partículas capturadas do meio externo, fundem- se com os lisossomos, originando bolsas maiores, onde a digestão ocorrerá. As bolsas originadas pela fusão de lisossomos com fagossomos ou pinossomos são denominadas vacúolos digestivos, em seu interior as substâncias presentes nos fogossomos ou pinossomos são digeridas pelas enzimas lisossômicas. Com a digestão intracelular as partículas capturadas pelas células são quebradas em pequenas moléculas que atravessam a membrana do vacúolo digestivo, passando pelo citosol. Essas moléculas fornecem energia à célula e serão utilizadas na fabricação de novas substâncias. Os materiais não digeridos no processo digestivo permanecem dentro do vacúolo, que passa a ser chamado vacúolo residual. Muitas células eliminam o conteúdo do vacúolo residual para o meio exterior. Esse processo é chamado de clasmocitose ou defecação celular. O vacúolo residual encosta-se à membrana plasmática, fundindo-se nela e lançando seu conteúdo para o meio externo. Outra função do lisossomo é a autofagia (do grego auto, próprio e phagin, comer). Autofagia é uma atividade indispensável à sobrevivência de qualquer célula. Ela é o processo pelo qual as células digerem partes de si mesmas, com o auxílio de seus lisossomos. A autofagia é, em outras situações, uma atividade puramente alimentar. Quando um organismo é privado de alimento e as reservas de seu corpo se esgotam, as células passam a digerir partes de si, como estratégia de sobrevivência. A autofagia permite destruir organelas celulares desgastadas e reaproveitar alguns de seus componentes. Esse processo inicia-se com os lisossomos, que se aproximam, cercam e envolvem a estrutura a ser eliminada, que fica contida em uma bolsa repleta de enzimas, denominada vacúolo autofágico. Uma célula do nosso fígado, a cada semana, digere e reconstrói a maioria de seus componentes. Além das funções citadas anteriormente, os lisossomos têm como função a citólise ou autólise, processo pelo qual a célula toda é digerida. Isto acontece com a cauda do girino, na sua transformação para a fase adulta. 24 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Peroxissomos Peroxissomos são bolsas membranosas que contêm alguns tipos de enzimas digestivas, semelhantes aos lisossomos, como a catalase, que transforma o H2O2 (água oxigenada, formada na degradação dos aminoácidos e das gorduras) em H2O (água) e O2 (oxigênio), e outras, em menor quantidade, que degradam gorduras e aminoácidos. Além disso, os peroxissomos também atuam no processo de desintoxicação das células, pelo qual os peroxissomos absorvem substâncias tóxicas, modificando-as de modo a que não causem danos ao organismo. Os tipos de enzimas presentes nos peroxissomos sugerem que, além da digestão, eles participem da desintoxicação da célula. O peróxido de hidrogênio, que se forma normalmente durante o metabolismo celular, é tóxico e deve ser rapidamente eliminado. Centríolos No citoplasma das células animais encontramos dois cilindros formando um ângulo reto entre si, que se chamam centríolos. Eles estão localizados em uma região mais densa do citoplasma, próxima ao núcleo. Essa região chama-se centrossomo. Cada centríolo é formado por microtúbulos dispostos de modo característico. Há sempre nove grupos de três microtúbulos, formando a parede do cilindro. Os centríolos podem se autoduplicar, isto é, orientar a formação de novos centríolos. Eles têm duas funções: divisão celular das células animais e formação de cílios (estruturas curtas e numerosas) e flagelos (estruturas longas e em pequeno número), pelo corpo basal, que servem para a locomoção ou para a captura de alimento. Ribossomos Presentes em todos os seres vivos são grãos formados por ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Nas células eucarióticas, os ribossomos podem aparecer livres no hialoplasma ou associados à membrana do retículo (retículo endoplasmático rugoso). É nos ribossomos que ocorre a síntese das proteínas. A síntese é feita por meio da união entre aminoácidos, sendo o mecanismo controlado pelo RNA. Este é produzido no núcleo da célula, sob o comando do DNA. O RNA, apoiado em um grupo de ribossomos chamado polirribossomo ou polissoma, comanda a sequência de aminoácidos da proteína. Durante esse trabalho, os ribossomos vão “deslizando” pela molécula de RNA, à medida que a proteína vai sendo fabricada. 25 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Vacúolos São cavidades do citoplasma visíveis ao microscópio óptico. Além destes, há outros dois tipos de vacúolos, como o vacúolo contrátil e o vacúolo de suco celular. O vacúolo contrátil está presente nos protozoários de água doce e encarrega-se de eliminar o excesso de água das células, além de eliminar substâncias tóxicas ou em excesso. O vacúolo de sulco celular é característico das células vegetais, que armazena diversas substâncias. A coloração das flores, por exemplo, deve-se às antocianinas, pigmentos que se encontram dissolvidos nesse vacúolo. Vacúolos digestivos Fagossomos e pinossomos, que contêm material capturado do meio pela célula, fundem- se com lisossomos, originando bolsas membranosas chamadas vacúolos digestivos. As enzimas lisossômicas digerem as substâncias capturadas, quebrando-as e reduzindo- as a moléculas menores. Estas atravessam a mesma membrana do vacúolo digestivo e saem para o citosol, onde serão utilizadas como matéria-prima ou fonte de energia para os processos celulares. Eventuais restos da digestão, constituídos por material não digerido e enzimas, permanecem dentro do vacúolo, agora denominado vacúolo (ou corpo) residual. Este expulsa o conteúdo da célula por clasmocitose. Vacúolos autofágicos e heterofágicos Partes da célula, como, por exemplo, organelas velhas e desgastadas são constantemente atacadas e digeridas pela atividade lisossômica. Dessa forma, seus componentes moleculares podem ser reaproveitados. Os lisossomos fundem-se em torno de uma parte celular a ser digerida, formando uma bolsa membranosa chamada vacúolo autofágico. Essa denominação ressalta o fato de o material digerido no vacúolo ser uma parte da própria célula. Quando o material digerido vem de fora da célula, capturado por fagocitose ou pinocitose, fala-se em vacúolo heterofágico (do grego heteros, outro, diferente). Mitocôndrias As mitocôndrias são organoides celulares (presentes nos eucariontes) delimitadas por duas membranas lipoproteicas. A membrana externa é lisa, e a interna apresenta inúmeras pregas, chamadas cristas mitocondriais, que se projetam para o interior da organela. Entre as cristashá uma solução chamada matriz mitocondrial. Essa solução viscosa é formada por diversas enzimas, DNA, RNA, pequenos ribossomos e outras 26 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO substâncias. A mitocôndria é a organela onde ocorre a respiração celular. A respiração celular é, em linhas gerais, uma queima controlada de substâncias orgânicas, por meio da qual a energia contida no alimento é gradualmente liberada e transferida para molécula de ATP. Cloroplastos Como as mitocôndrias, são delimitados por duas membranas lipoproteicas. A membrana externa é lisa e a interna forma dobras para o interior da organela, constituindo um complexo sistema membranoso. Nesse sistema, destacam-se estruturas formadas por pilhas de discos membranosos, semelhantes a pilhas de moedas, cada uma chamada granum. Nas membranas internas dos cloroplastos, estão presentes os fotossistemas, cada um deles constituído por algumas moléculas de clorofila, reunidas de modo a formar uma microscópica antena captadora de luz. Nos cloroplastos ocorre a fotossíntese. 27 CAPÍTULO 4 Homeostase Figura 6. Ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Cítrico. Figura adaptada e disponível em: <http://www.fisiologia.kit.net/bioquimica/ck/ck.htm>. Acessado em: 7 dez. 2010. Quando um organismo tem qualquer alteração em seu metabolismo, isso pode significar muitos problemas. Os sistemas apresentam propriedades especiais que devem ser mantidas para que funcionem adequadamente. Se a pressão sobe, se há muito sal, se o corpo esquenta, o organismo encontra meio para chegar a um equilíbrio. Para todas essas e outras circunstâncias, o indivíduo tem mecanismos para reverter a função alterada para padrões adequados, considerados normais. A estabilidade das funções de um organismo, garantida por mecanismos fisiológicos e comportamentais é chamada de homeostase. Por exemplo, qual a temperatura homeostática do corpo humano? É a nossa temperatura normal, ou seja, por volta de 36 graus. Para mantê-la, alguns mecanismos são utilizados. O sangue é importante condutor de calor. Sendo assim, quando o corpo tende a esquentar, promove-se uma dilatação dos vasos periféricos facilitando a irradiação desse calor através da superfície do corpo. Quando o corpo sente frio, ocorre a vasoconstrição dos vasos, o que naturalmente diminui essa perda. Outro mecanismo é a sudorese. Na pele, existem milhares de glândulas sudoríparas e são elas que eliminam suor quando o corpo esquenta. A liberação da água favorece a diminuição da temperatura. Vale dizer ainda que a gordura e o pelo têm papéis fundamentais. A presença de uma camada de gordura subcutânea auxilia na manutenção da temperatura final do corpo. A gordura age como 28 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO uma barreira térmica. Os pelos também são importantes para esse isolamento. Quando se arrepia, os pelos mantêm o ar estagnado rente à pele. Essa espécie de “colchão” de ar reduz a troca de calor com o meio. Muitas das vezes, ações deliberadas do indivíduo ajudam na manutenção da temperatura. Buscar um lugar mais fresco, tomar um banho, vestir uma roupa mais quente, esfregar as mãos. Comportamento também ajuda a não sentir frio. Nem calor. O hipotálamo é responsável por várias ações do corpo ligadas à fome, à sede e ao sono. Também secreta hormônios que controlam a hipófise, glândula ligada a ele. É também nosso centro térmico. De acordo com a temperatura do corpo, ele aciona os mecanismos para regulá-la. Em algumas circunstâncias, é possível que ele não consiga efetivamente manter a temperatura. Fala-se em hipotermia e em hipertermia. As causas de hipotermia são quase sempre determinadas por fatores ambientais, ou seja, temperaturas baixas. No caso da hipertermia, além do ambiente, algumas drogas são capazes de induzi-la, como as anfetaminas e o ecstasy. A febre é um quadro hipertérmico. Febre Quando há uma infecção, os leucócitos (nossas células de defesa) liberam a substância pirogênica. Essa substância atinge o hipotálamo provocando-lhe um ajuste na temperatura a ser obtida para o corpo. Como essa temperatura é maior que a atual, o corpo sente frio, é a fase do calafrio. Aos poucos, a temperatura aumenta ocasionando a febre. A febre é benéfica, pois favorece uma maior atividade imunológica. Quando se faz uso de um antitérmico, ou após algum tempo, o nível de substância pirogênica cai. Assim, o hipotálamo volta a destacar para o corpo a temperatura de 36⁰C. Como a temperatura ainda está acima disso começa a sudorese. Essa fase marca o fim da febre. O termo homeostasia é utilizado pelos fisiologistas para significar a constância do meio interno. No corpo humano, todos os órgãos e tecidos contribuem para a manutenção dessa constância. Em síntese, os grandes sistemas contribuem, de maneira particular, para a constância homeostática de todo o organismo. Os sistemas funcionais básicos, e suas contribuições para a homeostase do organismo, guardam relações fundamentais com os seguintes conceitos: » O sistema de transporte do líquido extracelular. » A origem dos nutrientes do líquido extracelular. » A remoção das escórias metabólicas. » A regulação das funções corporais. » A reprodução. 29 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA O sistema de transporte do líquido extracelular O líquido extracelular é transportado pelo corpo em duas etapas distintas, a primeira quando o sangue flui pelos vasos sanguíneos, e a segunda, quando ele flui dos capilares até as células. Em um indivíduo no estado de repouso, o sangue leva cerca de um minuto para percorrer todo o corpo, e quando este se encontra em intensa atividade física, ele pode percorrer o corpo até seis vezes em cada minuto. Enquanto o sangue percorre o seu trajeto, há uma intensa troca entre a porção plasmática do sangue e o líquido intersticial, devido à permeabilidade dos capilares sanguíneos que permite a difusão de grande parte dos constituintes dissolvidos no sangue, à exceção de grandes moléculas. Esse processo de difusão se deve ao movimento cinético das moléculas do plasma e do líquido intersticial, que estão continuamente em movimento. Como poucas células encontram-se afastadas mais de 50 micrômeros de um capilar, é assegurado o aporte de substâncias a qualquer parte do corpo, dentro de poucos segundos. A origem dos nutrientes do líquido extracelular Cada vez que o sangue completa uma volta pelo organismo, ele passa pelos pulmões, e capta o oxigênio nos alvéolos, configurando uma das características fundamentais do sistema respiratório. Em seu circuito, o sangue passa também pelos capilares do trato gastrintestinal, onde incorpora substâncias oriundas do processo de digestão. Nem todas as substâncias incorporadas no trato gastrintestinal podem ser diretamente utilizadas, necessitando, portanto, de um processamento prévio. O fígado, assim como os rins, as células gordurosas, a mucosa intestinal e as glândulas endócrinas, modifica a estrutura química de muitas dessas substâncias, tornando-as utilizáveis para os demais tecidos. O sistema musculoesquelético também tem um papel fundamental na manutenção da homeostasia, pois é ele que propicia a movimentação até o local adequado para a retirada dos nutrientes necessários da alimentação, além de promover a mobilidade para a proteção de todo o sistema. A remoção das escórias metabólicas Ao mesmo tempo em que o sangue capta o oxigênio nos pulmões, ele libera o dióxido de carbono, a mais abundante das escórias metabólicas. As demais substâncias, tais como a ureia e o ácido úrico, são eliminadas juntamente com a água e os íons pelos rins. Os rins respondem, não só pela função de filtragem do plasma sanguíneo, mas também pela reabsorção de substâncias necessárias ao metabolismo, que são filtradasjuntamente com as escórias metabólicas, tais como água, íons, glicose e aminoácidos. 30 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO A regulação das funções corporais As funções corporais encontram-se a cargo do sistema nervoso e dos sistemas hormonais de regulação. O sistema nervoso pode ser dividido em três porções: sensorial, de processamento e motor. Os receptores sensoriais detectam o estado do corpo e do ambiente ao seu redor, encaminhando estes estímulos ao sistema nervoso central. A porção processadora do sistema nervoso é composta pelo encéfalo e pela medula espinhal, que, após processarem os estímulos recebidos, enviam à porção motora. Pelo chamado sistema hormonal, respondem oito glândulas endócrinas. Os hormônios são substâncias que participam da regulação do funcionamento celular. Enquanto o sistema nervoso regula as atividades musculares e secretórias, os sistemas hormonais regulam, principalmente, as funções metabólicas. A reprodução Muitas vezes, a reprodução não é considerada uma função metabólica, mas é ela que garante a reposição dos indivíduos mantendo a continuidade da vida. 31 CAPÍTULO 5 Metabolismo de carboidratos Os carboidratos são compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Os carboidratos armazenados provêm o corpo com uma forma de energia rapidamente disponível, um grama de carboidrato fornece cerca de 4 kcal de energia. Os carboidratos existem sob três formas: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Monossacarídeos são açúcares simples, como a glicose e a frutose. A glicose é familiar para a maioria das pessoas e, frequentemente, é referida como “açúcar no sangue”. Ela pode ser encontrada nos alimentos ou formada no trato digestivo como resultado da clivagem de carboidratos mais complexos. A frutose encontra-se nas frutas ou no mel e é considerada o carboidrato simples mais doce. Os dissacarídeos são formados a partir da combinação de dois monossacarídeos. Por exemplo, o açúcar de mesa é denominado sacarose e composto por glicose e frutose. A maltose, também um dissacarídeo, é formada por duas moléculas de glicose. A sacarose é considerada o dissacarídeo dietético mais comum e constitui aproximadamente 25% da ingestão calórica total da maioria das pessoas. Ocorre naturalmente em muitos carboidratos, como a cana-de-açúcar, a beterraba, o mel e o xarope de bordo. Polissacarídeos são carboidratos complexos que contêm três ou mais monossacarídeos. Podem ser moléculas bem pequenas (cerca de três monossacarídeos) ou moléculas relativamente grandes, com centenas de monossacarídeos. Em geral, são classificados em polissacarídeos vegetais ou animais. Há dois tipos mais comuns de polissacarídeos vegetais: a celulose e o amido. O homem não possui enzimas digestivas necessárias para dirigir a celulose e, por essa razão, a celulose forma fibras e é descartada como subproduto no material fecal. Por outro lado, o amido, encontrado no milho, nos grãos, nos feijões, nas batatas e ervilhas, é facilmente digerido pelos seres humanos e é uma fonte de carboidratos importantes na dieta. Após a ingestão, o amido é quebrado, formando monossacarídeos que podem ser imediatamente utilizados como energia pelas células, para as futuras demandas energéticas. 32 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 7. O açúcar é um termo genérico para carboidratos cristalizados comestíveis. Figura disponível em: <http:// http://www.fotosgratis.fot.br>. Acessado em: 4 jun. 2012. Glicogênio é o termo utilizado para os polissacarídeos estocados no tecido animal. Ele é sintetizado no interior das células pela ligação das moléculas de glicose. As moléculas de glicogênio geralmente são grandes e podem consistir em centenas a milhares de moléculas de glicose. As células armazenam glicogênio para suprir carboidratos como uma fonte energética. Por exemplo, durante o exercício, as células musculares transformam o glicogênio em glicose (processo denominado glicogenólise) e a utilizam como fonte de energia para a contração. Por outro lado, a glicogenólise também ocorre no fígado, e a glicose livre é liberada na corrente sanguínea e transportada aos tecidos por todo organismo. O que importa para o metabolismo do exercício é que o glicogênio é armazenado tanto nas fibras musculares quanto no fígado. No entanto, o estoque total de glicogênio no organismo é relativamente pequeno e pode ser depletado em poucas horas em decorrência do exercício prolongado. Consequentemente, a síntese de glicogênio é um processo contínuo no interior das células. As dietas pobres em carboidratos tendem a dificultar a síntese de glicogênio, enquanto as dietas ricas em carboidratos tendem a aumentá-la. As funções dos carboidratos são bastante diversificadas, incluindo a sustentação (celulose e a reserva do glicogênio nos animais, amido nos vegetais). Além disso, eles podem estar ligados a lipídios e a proteínas, formando os glicolipídios e glicoproteínas, componentes de membrana. Oxidação de glicose a piruvato: glicólise A glicose é, quantitativamente, o principal substrato oxidável para a maioria dos organismos, quase todas as células são potencialmente capazes de atender suas demandas energéticas apenas a partir deste açúcar. Apesar de a dieta humana conter pouca glicose livre, esta aparece em proporções consideráveis como amido, sacarose 33 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA e lactose. Todas as células oxidam glicose e piruvato para obter ATP. O piruvato pode ser oxidado a CO2, aumentando muito a produção de ATP. Para obterem ATP a partir de glicose, todas as células lançam mão de sua oxidação parcial a piruvato. Nas células anaeróbicas, a oxidação para neste ponto. A conversão de glicose a piruvato permite aproveitar apenas uma parcela da energia total da glicose. Nas células aeróbicas, entretanto, o piruvato é subsequentemente oxidado, trazendo, naturalmente, um enorme ganho na produção de ATP. A etapa inicial da oxidação da glicose (até piruvato) ocorre por meio de uma sequência de reações denominada glicose, uma via metabólica que se processa no citossol. Seus produtos são ATP, (H + e-), recebido por coenzimas, e piruvato. A posterior oxidação do piruvato é feita no interior da mitocôndria, nas células que dispõe desta organela. Na mitocôndria, o piruvato, um composto de três carbonos, sofre uma descarboxilação, transformando-se em um composto com dois carbonos (C2). Este se combina com um composto de quatro carbonos (C4), dando um composto de seis carbonos (C6). Por meio de uma sequência cíclica de reações (ciclo de Krebs), C6 perde dois carbonos sob a forma de CO2 e regenera C4. Na mitocôndria, o piruvato é, portanto, totalmente oxidado a CO2, com a concomitante produção de grande quantidade de (H+ + e-), que são recebidos por coenzimas. Da oxidação destas coenzimas pelo oxigênio deriva-se a grande produção de ATP conseguida pela oxidação adicional do piruvato perfazendo cerca de 90% do total obtido com a oxidação completa da glicose. As coenzimas que recebem os (H+ + e-), produzidos na oxidação da glicose são NAD+ e FAD. Nas três etapas da oxidação da glicose – a glicólise, a descarboxilação do piruvato e o ciclo de Krebs – os (H+ + e-) são produzidos em reações catalisadas por desidrogenases. Algumas desidrogenases utilizam como coenzima a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+); outras, a flavina adenina dinucleotídeo (FAD), derivadas, respectivamente, das vitaminas nicotinamida e riboflavina. Nas reações com participação de NAD+, há transferência de dois elétrons e um próton do substrato para o NAD+ que se reduz a NADH; o outro próton é libertado no meio. O FAD recebe dois elétrons e dois prótons, reduzindo-se a FADH2.Na glicose, ocorrem duas fosforilações por ATP e duas por fosfato inorgânico. Os quatro grupos fosfato são transferidos para ADP, formando quatro ATP. 34 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO A glicose pode ser dividida em quatro etapas para salientar os eventos fundamentais dessa via: 1. Dupla fosforilação da hexose, à custa de 2 ATP, originando uma hexose com dois grupos fosfato. 2. Clivagem dessa hexose, produzindo duas trioses fosforiladas. 3. Oxidação e nova fosforilação, desta vez por fosfato inorgânico (P1) das trioses fosfatos, constituindo duas moléculas de um intermediário para ADP; formando 4 ATP e 2 piruvatos. 4. Transferência dos grupos fosfato deste intermediário para ADP; formando 4 ATP e 2 piruvatos. A equação geral da glicólise A oxidação da glicose e a produção de ATP estão associadas à redução de NDA+. Como o NDA+ existe nas células em concentrações limitantes, a manutenção do funcionamento da glicólise depende da reoxidação do NADH. Em aerobiose, utilizam o oxigênio para oxidar o NADH; em anaerobiose, o próprio piruvato produzido pela glicólise serve como aceptor dos elétrons do NADH, sendo reduzido a lactato. Esse é o processo utilizado por algumas espécies de bactérias e pelas fibras musculares submetidas a esforço intenso. Em outros organismos, como as laveduras, o piruvato é descarboxilado, que, servindo como aceptor dos elétrons do NADH, se reduz a etanol. A oxidação anaeróbica da glicose é chamada fermentação (lática ou alcoólica, segundo o produto final). As fermentações são processos autossuficientes, ou seja, independem de outras vias, por serem capazes de regenerar as coenzimas que utilizavam para produção de ATP. Conversão de piruvato a acetil-CoA Em condições aeróbicas, o primeiro passo para a oxidação total do piruvato é a sua conversão a acetil-CoA. Nas células eucarióticas, o piruvato do citossol entra na mitocôndria, onde é transformado em acetil-CoA, conectando, portanto, a glicólise e o ciclo de Krebs. A reação de formação de acetil-CoA, a partir de piruvato, é irreversível e ocorre em quatro etapas sequenciais, catalisadas por um sistema multienzimático, chamado complexo piruvato desidrogenase. 35 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Uma única partícula do complexo piruvato desidrogenase é maior do que um ribossomo e consiste em um núcleo central formado por dezenas de moléculas de diidrolipoli transacetilase, cada uma com dois resíduos de ácido lipóico, as quais se associam dezenas de moléculas de piruvato desidrogenase e diidrolipoli desidrogenase. Fazem parte ainda da partícula várias moléculas de quinase e fosfatase, responsáveis pela regulação da atividade do próprio complexo, através de fosforilação e desfosforilação. A primeira etapa é a descarboxilação do piruvato pela piruvato desidrogenase, que transfere o grupo hidroxietil para o TPP, em uma reação análoga à do piruvato descarboxilase, que participa da fermentação alcoólica. Em seguida, a diidrolipoli transacetilase oxida o grupo hidroxietil a acetil, ligando-o ao ácido lipóico. Nesta oxidação, os elétrons são transferidos para o ácido lipóico (forma dissulfeto), reduzindo-o a ácido acetil lipóico. A mesma enzima transfere o grupo acetil para coenzima. A, formando acetil – CoA. O ácido lipóico (forma ditiol) é reoxidado pela diidrolipoli desidrogenase, uma flaoproteína contendo FAD como grupo prostético, que recebe os (H+ + e-) e os transfere finalmente para o NAD+. O NADH formado será oxidado na cadeia de transporte de elétrons. Ciclo de Krebs O piruvato proveniente de glicose origina acetil-CoA mitocondrial. Além da glicose, vários aminoácidos produzem piruvato e, portanto, acetil-CoA, ao serem degradados. A acetil-CoA pode, portanto, ser originária de carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos e, qualquer que seja sua proveniência, será totalmente oxidada a CO2 pelo ciclo de Krebs, com a concomitante produção de coenzimas reduzidas. O ciclo de Krebs inicia-se com a condensação de acetil – CoA e oxaloacetato, formando citrato, uma reação catalisada pelo citrato sintase. O citrato é isomerizado a isocitrato por ação da aconitase, com a formação intermediária de cis-aconitato. A isocitrato desidrogenase catalisa a oxidação de isocitrato a a-cetoglutrato, com redução de NDA+ e liberação de CO2. O cetoglutrato é então transformado a succinil-CoA, em uma reação catalisada pela cetoglutrato desidrogenase, complexo enzimático semelhante ao complexo piruvato desidrogenase. A succinil – CoA sintetase catalisa a transformação de succinil – C0A a succinato, em uma reação que forma GTP (guanosina trifosfato), a partir de GDP (guanosina difosfato) e P. O GTP tem o mesmo nível energético do ATP e, portanto, a formação de GTP equivale à formação de ATP: o GTP pode reagir com ADP, dando ATP e regenerando GDP, por ação da nucleosídio difosfato quinase. A succinato desidrogenase é a única enzima do ciclo de Krebs que é parte integrante da membrana interna da mitocôndria: as demais estão em forma solúvel na matriz mitocondrial. O fumarato é hidratado a malato pela furmarase. 36 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Como o oxaloacetato é sempre regenerado ao final de cada volta, o ciclo de Krebs pode oxidar acetil-CoA continuamente, sem gasto efetivo de oxaloacetato O ciclo de Krebs depende da cadeia de transporte de elétrons para a reoxidação de coenzimas. A equação de Krebs Acetil-CoA + 3NAD+ + FAD + GDP +Pi + 2H2O 2CO2 + 3NADH + 2H+ + FADH2 + GTP + HS-CoA Embora o ciclo de Krebs produza diretamente apenas 1 ATP, ele contribui para a formação de grande parte do ATP produzido pela célula, pois a energia da oxidação da acetil-CoA é conservada sob a forma de coenzimas reduzidas e, posteriormente, usada para síntese de ATP. A oxidação das coenzimas é obrigatoriamente feita pela cadeia de transporte de elétrons e, portanto, o ciclo de Krebs, ao contrário da glicose, só pode funcionar em condições aeróbicas. A redução de coenzimas não é a única função do ciclo de Krebs A mais importante função do ciclo de Krebs é a de levar à formação de oxaloacetato a partir de piruvato, catalisada pela piruvato carboxilase. A degradação de vários aminoácidos também produz intermediários do ciclo de Krebs. Por outro lado, em plantas e certas bactérias, o ciclo de Krebs aparece complementado por duas reações adicionais que permitem a produção líquida de intermediários do ciclo a partir de acetil-CoA. Este “novo” ciclo, chamado ciclo do glioxilato, será descrito a seguir. O ciclo do glioxiato permite a síntese de glicose a partir de acetil-CoA Nos vegetais e em algumas bactérias, encontra-se uma via alternativa de metabolismo de acetil-CoA, chamada ciclo do glioxilato. Essa via consiste de uma modificação do ciclo de Krebs, por acréscimo de duas enzimas ausentes de tecidos animais: a isocitrato liase e a malato sintase. Nesses organismos, o isocitrato é cindido pela isocitrato liase em succinato e glioxilato. O glioxiliato condensa-se com acetil-CoA, produzindo malato, em uma reação catalisada pela malato sintase. 37 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA Nos vegetais, esse ciclo localiza-se em organelas chamadas glioxissomas, que também efetuam a beta-oxidação de ácidos graxos e têm, portanto, uma fonte de acetil-CoA. Finalmente, o malato será transformado em glicose no citossol. O ciclo do glioxilato, desta forma, permite a conversão de acetil-CoA introduzida, e são liberadas duas moléculas de CO2, não havendo punho líquido de carbonos para a formação de oxaloacetato. Cadeia de Transporte de Elétrons O substrato doador de elétrons é, invariavelmente, uma coenzima reduzida, e o aceptor final de elétrons,o oxigênio. A maioria dos transportadores de elétrons tem natureza proteica, contendo grupos prostéticos associados à cadeia polipeptídica; a óxido- redução do composto se processa no grupo prostético. Os transportadores de elétrons estão agrupados em 4 complexos: Complexo I (NADH-CoQ redutase): NADH desidrogenase Proteínas ferro-enxofre Complexo II (succinato-CoQ redutase): Succinato desidrogenase Proteínas ferro-enxofre Citocromo b Complexo III (CoQ-citocromo e redutase): Citocromos b e c 1 Proteínas ferro-enxofre Complexo IV (citocromo c oxidase): Citocromos a e a3 Átomos de cobre Esses complexos são conectados entre si por meio de dois outros transportadores que também fazem parte da membrana interna: coenzima Q e citocromo c. A coenzima Q ou ubiquinona (CoQ) é uma quinona com uma longa cadeia isoprênica lateral. Existem várias formas de CoQ, que diferem pelo número dessas unidades isoprêmicas. As características hidrofóbicas da CoQ permitem sua mobilidade na fase lipídica da membrana, ao contrário dos outros componentes da cadeia de transporte de elétrons, que têm posições fixas. A coenzima Q, ao reduzir-se, recebe 2H+ e 2- e, passando então à forma CoQH2. 38 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Fosforilação oxidativa Os componentes da cadeia de transporte de elétrons apresentam-se organizados em ordem crescente de potenciais de óxido-redução, desde as coenzimas reduzidas até o oxigênio. Desta forma, as transferências de elétrons de um componente para o seguinte constituem reações de óxido-redução que se processam sempre com liberação de energia, que é aproveitada para síntese de ATP. O processo chamado fosforilação oxidativa refere-se à fosforilação do ADP a ATP, utilizando a energia liberada por essas reações de óxido- redução. A energia do transporte de elétrons é aproveitada para a formação de um gradiente de prótons, que possibilita a síntese de ATP O acoplamento do transporte de elétrons à síntese de ATP é explicado pela teoria quimiosmótica de acoplamento. Segundo essa teoria, a energia do transporte de elétrons é primeiramente utilizada para bombear prótons para o exterior da mitocôndria. A consequência do bombeamento é a produção de um gradiente de prótons, isto é, uma concentração diferente de prótons dentro e fora da mitocôndria, que é expressa como uma diferença de pH e uma diferença de carga elétrica. O gradiente assim formado constitui uma força próton-motriz capaz de levar à síntese de ATP: como a membrana interna é impermeável a prótons, estes só podem retornar ao interior da mitocôndria e desfazer o gradiente por intermédio de sítios específicos da membrana interna, constituídos pelo complexo sintetizador de ATP: a ATP sintetase. A ATP sintetase constitui as microesferas da membrana interna da miticôndria. Muitos resultados experimentais apoiam a teoria quimiosmótica A teoria quimiosmótica vem sendo consubstanciada por um número crescente de evidências experimentais. A fosforilação oxidativa em mitocôndrias intactas ou em vesículas fechadas, compatíveis com a formação de um gradiente de prótons. As medidas de concentração de prótons durante o transporte de elétrons revelam acúmulo de prótons no exterior da mitocôndria ou no interior de vesículas invertidas. A síntese de ATP pode ser obtida mesmo na ausência de transporte de elétrons, desde que exista o gradiente de prótons. 39 BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO │ UNIDADE ÚNICA É importante assinalar que, apesar dos progressos obtidos nesta área, ainda são mal conhecidos pontos fundamentais da fosforilação oxidativa, como o mecanismo do bombeamento de prótons e a sequência de eventos que, finalmente, provocam a síntese de ATP quando os prótons retornam ao interior da mitocôndria pela ATP sintetase. As velocidades do transporte de elétrons e da síntese de ATP são reguladas pela concentração de ADP. O transporte de elétrons e a síntese de ATP são processos acoplados, isto é, só há oxidação de coenzimas (com consumo de oxigênio), se houver síntese de ATP e vice- versa. Os substratos desses processos são: coenzimas reduzidas, oxigênio, ADP e Pi. Entre esses, o ADP é o único que atinge concentrações limitantes nas células, por isso, o regulador de ambos os processos de ADP chama-se controle respiratório. A velocidade das vias que dependem da reciclagem de coenzimas oxidadas pela cadeia respiratória (por exemplo, o ciclo de Krebs) é também regulada pela razão ATP/ADP. Além disso, o próprio ADP participa de regulações alostéricas dessas vias (Regulação do Metabolismo). O resultado do controle respiratório e da ação alostérica do ADP é, então, um perfeito ajuste entre a velocidade de produção de coenzimas reduzidas e a velocidade de sua oxidação pela cadeia de transporte de elétrons, com produção de ATP. Este ajuste fino regulará, portanto, a produção de energia pela célula. Em condições especiais, o transporte de elétrons pode ocorrer sem a síntese de ATP. Algumas substâncias lipofílicas, capazes de dissociar o transporte de elétrons da fosforilação oxidativa, são chamadas desacopladores. Quando os dois processos são desacoplados, o transporte de elétrons, termodinamicamente autônomo, pode prosseguir; a síntese de ATP para. A produção de calor artificialmente provocada pela presença de desacopladores tem seu correspondente fisiológico no tecido adiposo marrom. A membrana da mitocôndria deste tecido contém, além da ATP sintetase, uma proteína transportadora de prótons. Assim, o gradiente de prótons nunca se estabelece com a mesma eficácia, e uma fração considerável da energia derivada do transporte de elétrons é continuamente dissipada como calor. Desta forma, a oxidação de substratos neste tecido corresponde a uma termogênase, importante na proteção de certas zonas corpóreas de recém-nascidos e na recuperação de temperatura normal de animais em hibernação. 40 UNIDADE ÚNICA │ BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO A oligomicina é um inibidor da ATP sintetase A oligomicina é um antibiótico que inibe tanto a síntese de ATP quanto o transporte de elétrons. Esta inibição é provocada pela ligação do antibiótico ao componente Fo da ATP sintetase, que se torna então impermeável a prótons. A fosforilação ao nível do substrato não é afetada por desacopladores Chama-se fosforilação ao nível do substrato a síntese de ATP em reações que fazem parte da glicólise e do ciclo de Krebs e que utilizam como substratos compostos ricos em energia: 1,3 difosfoglicerato, fosfoenolpiruvato e succenil-CoA. Na reação de óxido-redução, a energia é acumulada em uma ligação com fosfato ou CoA. Na reação seguinte, a ligação com fosfato ou CoA é rompida e a energia é utilizada para a síntese de ATP ou GTP. A produção de ATP pela fosforilação ao nível do substrato responde por uma pequena fração do total produzido em condições aeróbicas, e, por ser independente do transporte de elétrons, não é afetada por desacopladores. A oxidação completa da glicose produz 38 ATP O cômputo geral de produção de ATP pela oxidação da glicose pode ser obtido a partir das equações gerais das etapas em que o processo se divide, ou seja: » oxidação de glicose a 2 piruvato. » oxidação de 2 piruvato a 2 acetil-CoA. » oxidação de 2 acetil-CoA pelo ciclo de Krebs. » oxidação das coenzimas pela cadeia de transporte de elétrons e fosforilação oxidativa. A oxidação biológica da glicose em condições aeróbicas produz, portanto, 38 ATP. Oxidação do NADH citossólico A membrana interna da mitocôndria é impermeável a NDA- e NADH e, portanto, a oxidação ao NADH citossólico não pode ser feita diretamente pela cadeia de transporte de elétrons. Os elétrons do NADH são transferidos para um composto