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CCJ0051-WL-B-LC-Tipos de Argumentos

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Tipos de Argumento 
1. Considerações Iniciais. 
Os argumentos são recursos linguísticos que visam ao convencimento. O 
argumento não é uma prova inequívoca da verdade. Argumentar não 
significa impor uma forma de demonstração, como nas ciências exatas. O 
argumento implica um juízo do quanto é provável ou razoável. 
2. Tipos de Argumento. 
2.1 Argumento pró-tese. 
A) Conceito. 
Caracteriza-se por ser produzido a partir dos fatos da realidade. 
Sugerimos ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. 
B) Estrutura. 
A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: Tese + porque + e 
também + além disso. Cada um desses elos coesivos introduzem fatos 
distintos favoráveis à tese escolhida. 
Exemplo: “O médico foi negligente porque utilizou água contaminada 
no tratamento de hemodiálise de paciente renais, e também não 
comunicou o fato à secretaria de saúde. Além disso, mesmo após ter 
conhecimento do alto índice de contaminação por bactérias, 
continuou a utilizá-la, colocando, pois, em perigo iminente a vida dos 
pacientes.” 
2.2 Argumento de autoridade. 
A) Conceito. 
Argumento constituído com base nas principais fontes do Direito e em 
pesquisas científicas. Indicamos, em especial, a legislação, a doutrina e a 
opinião fundamentada de especialistas. 
B) Estrutura. 
Não há para este argumento uma estrutura determinada, mas 
podemos afirmar que a simples menção ao dispositivo legal não funciona 
como argumento. É preciso relacionar o fato em questão à norma aplicável. 
Ou seja: 
O argumento de autoridade deve ser exposto de maneira a que se 
comprove seu percurso lógico. Ele não vale apenas porque está amparado 
pela legislação ou pela doutrina; espera-se que o ponto de vista sustentado 
seja também coerente e razoável. 
Exemplo: 
- Acompanhou-se o caso da eliminação de candidatos a professores da rede 
pública de São Paulo, ocorrida durante a realização dos exames de saúde, e 
motivada pela obesidade que os acomete. Um dos traços de maior destaque 
nos concursos públicos é a garantia de igualdade entre os participantes do 
certame, sendo que somente a lei pode estabelecer restrições de acesso a 
determinados cargos, e, mesmo assim, só nos casos em que determinadas 
características inerentes ao candidato forem incompatíveis com a natureza 
da função a ser desempenhada. Tal decorre do princípio da isonomia, o qual 
está explícito no art. 5º, caput e implícito no art. 3º, IV, ambos da Constituição 
da República. 
2.3. Argumento de senso comum. 
A) Conceito. 
Consiste no aproveitamento de uma afirmação que goza de consenso 
geral; está amplamente difundida na sociedade. Normalmente, funciona 
como reforço de outro argumento. 
Vale observar que, normalmente, após o argumento de autoridade, é 
sugerida a produção do argumento de oposição; entretanto, esse argumento 
será desenvolvido na a próxima aula. 
Exemplo: 
- Crime de homicídio - A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana 
em diversos níveis e não tolera mais essa prática. Certamente, a violência é o 
pior recurso para a solução de qualquer tipo de conflito. Uma pessoa sensata 
pondera, dialoga ou se afasta de situações que podem desencadear 
embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e, 
como um bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções 
pacíficas existentes, como a imediata separação que o afastaria 
definitivamente de quem o traiu. Aceitar sua conduta desmedida seria instituir 
a pena de morte para a traição amorosa. 
Caso Concreto 
Joana é professora de uma escola particular e sempre ministra as suas aulas 
utilizando-se de um computador portátil. Em um certo dia, um aluno seu veio tirar uma 
dúvida com ela, apresentando essa dúvida em um computador igual ao da 
professora. No final da aula, Joana acabou pegando o computador portátil do aluno 
pensando que era seu, levando-o para casa. 
O aluno Pablo, que era dono do computador, não percebeu que sua 
professora tinha pego por engano o seu computador, razão pela qual foi à autoridade 
policial competente informar o ocorrido. Joana foi denunciada pelo crime de furto, art. 
155 caput, do Código Penal. 
A denúncia foi recebida em 10/01/2011, tendo o réu sido citado e apresentado 
resposta à acusação por intermédio de defensor público constituído, no prazo legal. 
 
No decorrer da instrução criminal, Joana alegou que não sabia que tinha 
subtraído um computador portátil de um de seus alunos, tendo em vista que ele era 
igual ao que usava ao ministrar suas aulas. Na fase processual prevista no art. 402 do 
Código de Processo Penal, as partes nada requereram. Em manifestação escrita, o 
Ministério Público pugnou pela condenação da ré nos exatos termos da denúncia, 
tendo Joana, então, constituído advogado, o qual foi intimado, em 03/02/2011, para 
apresentação da peça processual cabível. 
Argumento Pró-tese 
 Joana incidiu em um erro de tipo (tese) porque não tinha consciência de que 
estava subtraindo um computador portátil de um de seus alunos, e também não teve 
a intenção de subtrair definitivamente para si tal bem, não existindo dolo. Além disso, 
como o computador do aluno era igual ao seu, o erro de tipo que ela incidiu é 
escusável, inevitável ou invencível. 
Argumento de Autoridade 
No mérito, a absolvição se impõe, pois os fatos deixam claro que o 
agente agiu sob a égide de um erro de tipo nos termos do art. 20, caput, do Código 
Penal. 
Conforme consta dos autos, a ré acabou subtraindo, por engano, um 
computador portátil de um de seus alunos, pois pensava que o computador lhe 
pertencia, já que era igual ao computador que sempre ministrava aulas. 
Ora, têm-se claramente a manifestação de um erro de tipo referente à 
conduta da acusada, pois esta se equivocou quanto a um dos elementos constitutivos 
do tipo penal incriminador, no caso, a subtração de coisa alheia móvel constante do 
art. 155, do Código Penal, tendo em vista que a acusada pensava que a coisa 
subtraída lhe pertencia. 
O instituto jurídico do erro sobre elementos do tipo está previsto no 
caput do artigo 20 do Código Penal. Neste, ocorre um equivoco que incide sobre 
elementos objetivos do tipo penal, eliminando o dolo e podendo levar a punição por 
crime culposo, nos casos em que a lei prevê esta possibilidade. 
O erro de tipo é aquele que recai sobre as elementares e circunstâncias 
do crime. Tal erro é tão grave que impede que o agente compreenda o caráter 
criminoso do fato ou que conheça alguma circunstância a ele relacionada. Significa 
dizer que a conduta do agente que, por ignorância ou má interpretação da 
realidade, não sabe que está realizando um tipo objetivo, não pode ser tida como 
dolosa. 
Ensina a melhor doutrina, que o erro de tipo sobre as elementares, 
dependendo da gravidade, produz efeitos diversos: se vencível ou inescusável, ou 
seja, se o fato podia ter sido evitado mediante o emprego de alguma diligência por 
parte do agente, o dolo será excluído, mas será permitida a punição por crime 
culposo, se houver previsão legal deste; sendo invencível ou escusável, ou seja, se o 
fato não podia ter sido evitado mesmo que o agente empregasse alguma diligência, 
o dolo e a culpa serão excluídos levando à atipicidade do fato e à conseqüente 
exclusão do crime. 
Destaque-se que o erro de tipo sempre exclui o dolo seja evitável ou 
inevitável. Como dolo é elemento do tipo, a sua exclusão acarreta obrigatoriamente o 
expurgo da tipicidade do fato doloso, podendo restar à responsabilização do agente 
por crime culposo, desde que seja típica a modalidade culposa. Assim sendo, sempre 
que o agente, apesar de objetivamente realizar a conduta prevista no tipo, mas 
desconhecer um dos seus elementos estará agindo em erro de tipo, não atuando, 
assim, com dolo. 
Ocorre que, na denúncia apresentada, a conduta imputada aacusada é definida nos termos do artigo 155, caput, do Código Penal, como “subtrair, 
para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. 
No caso concreto a acusada não sabia que estava subtraindo coisa 
alheia, pensando que estava de posse de seu computador. Desta forma, encontrava-
se em claro equivoco quanto ao fato de a coisa ser alheia, manifestando um erro 
quanto a um dos elementos objetivos constitutivos do tipo penal em questão de forma 
invencível ou escusável, tendo em vista que o computador a qual subtraiu era igual 
ao que sempre utilizou para ministrar aulas. 
Desta forma, como o erro de tipo foi invencível ou escusável será 
excluído o dolo e a culpa da acusada, restando excluído o crime de furto que foi 
atribuído a ré. 
Assim sendo, não existindo tipo, não existe crime. Consequentemente, 
trata-se um caso inequívoco motivador de absolvição da acusada, nos termos do 
artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, tendo por fundamento a 
manifestação de circunstâncias que excluem o crime. 
 
2.4. Argumento de analogia. 
A) Conceito. 
Segundo o autor Miguel Reale, a analogia consiste, em sua essência, no 
preenchimento da lacuna verificada na lei, graças a um raciocínio fundado 
em razões de similitude, ou ainda, na correspondência entre certas notas 
características do caso regulado e as daquele que não o é. 
A analogia é, portanto, o procedimento por meio do qual se pode 
estabelecer uma relação de semelhança entre coisas diversas. Recorrer à 
analogia significa fazer uma espécie de comparação entre os termos em 
questão. 
B) Característica. 
O legislador, no Artigo 4º da Lei de introdução as normas brasileiras, 
facultou ao julgador a utilização da analogia como fonte do direito. O 
dispositivo legal prevê, textualmente, que “Quando a lei for omissa, o juiz 
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais 
do direito.” 
C) Exemplos. 
 Atualmente, o tema do direitos civis dos homoafetivos requer a 
argumentação por analogia para alcançar a tutela desses direitos, tendo em 
vista a ausência de legislação que trate do assunto. 
 Em um caso específico discute-se a possibilidade de os homoafetivos 
terem direito à inclusão de seu “companheiro”como dependente de plano de 
saúde. A problemática central da questão, passa pela suposta ausência de 
previsão legal expressa pra reconhecer tal direito. 
 Muitas das vezes, os argumentadores precisam recorrer a princípios 
gerais como a dignidade da pessoa humana ou a igualdade de todos 
perante a lei para ter condições de se posicionar quanto ao conflito. 
 Como o raciocínio analógico poderia ser desenvolvido: 
1º) A Constituição Federal pretende proteger a família: Art. 226, 
parágrafo 3º da CF – Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida 
a união estável entre homem e mulher como entidade familiar, 
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
2º) Todos são iguais perante a lei: Art. 5º, I, CF/88 – Todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: 
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos temos 
desta Constituição. 
3º) A proteção à entidade familiar deve ser estender aos homoafetivos, 
por analogia à entidade familiar composta entre o homem e a mulher. 
OBS: É necessário, porém, justificar fundamentadamente por qual 
motivo a proteção de um caso se estende ao outro. Ao resumir esse 
raciocínio em um enunciado, teríamos o seguinte: Assim como a 
entidade familiar composta por homem e mulher está amparada pela 
Constituição da República, a união entre dois homens – já que todos 
são iguais perante a lei – deve ser também amparada pelo Estado. 
2.5. Argumento de Causa e Efeito. 
A) Conceito. 
É o argumento que estabelece uma relação de causalidade, ou seja, 
apresenta as causas e as consequências jurídicas de um ato praticado. A 
causa e o efeito são duas faces da mesma moeda, pois para que haja um 
efeito, naturalmente deve ter havido uma causa que o motivasse. Desta 
forma, um fato só pode ser visto como causa de algo se houver outros eventos 
que deles derivam. 
OBS: Causa x Fator - antes de mais nada, entretanto, é necessário distinguir 
causa de fator, coisas diferentes, mas que por muitos são confundidas, pode-
se fazer a seguinte distinção: 
 Por causa entende-se aquilo que determina a experiência de uma 
coisa: a circunstância sem a qual o fenômeno não existe. É, pois, o 
agente causador do fenômeno social, sua origem, princípio, motivo ou 
razão de ser. Eliminada a causa, o fenômeno haverá de desaparecer. 
Ex: A causa de ter havido a morte de uma pessoa foi porque o autor do 
crime colocou um veneno em sua comida. 
 Já o fator, embora não dê causa ao fenômeno, concorre para a sua 
maior ou menor incidência. É a circunstância que, de qualquer forma, 
concorre para o resultado. 
Ex: Pode-se dizer, por exemplo, que a pobreza, a miséria, é um fator de 
criminalidade, porque, segundo as estatísticas, 90% ou mais da 
população carcerária são constituídas de pessoas provenientes de 
classes sociais mais humildes. Mas não é certamente a causa do crime, 
porque há um número muito grande de pobres que não delinquem. [...] 
(Desembargador Sérgio Cavalieri Filho ) 
B) Importância para o direito. 
Para a ciência do Direito, o nexo causal existente entre dois eventos 
tem grande relevância, porque todo indivíduo tem direitos e obrigações 
decorrentes dos atos que pratica em face das demais pessoas que vivem sob 
as regras de um mesmo ordenamento jurídico. 
No direito civil e do consumidor, por exemplo, o nexo de causalidade é 
extremamente importante para gerar o dever de indenizar. 
Ex: Se uma pessoa contrata um hospital para fazer uma cirurgia e, em 
decorrência da conduta imperita adotada pelo médico durante a 
realização do procedimento cirúrgico, o paciente passa por problemas 
graves, a responsabilidade por danos causados à saúde do consumidor 
é da contratada. Pode-se perceber que o vínculo causal entre a 
conduta adotada e o resultado alcançado gera a obrigação jurídica 
de indenizar. 
Entretanto, vale ressaltar que, se houver dano, mas sua causa não está 
relacionada ao comportamento do agente, inexiste a relação de 
causalidade, e também, a obrigação de indenizar. 
Mesmo havendo nexo de causalidade, porém, não se podem 
desprezar as excludentes da responsabilidade civil, como a culpa exclusiva da 
vítima, o caso fortuito e a força maior. 
 No direito penal, considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o 
resultado não teria ocorrido, nos termos do Art. 13, caput, do CP, sendo 
adotada a teoria da equivalência dos antecedentes causais e tudo que 
concorrer para o evento pode ser considerado causa. Ou seja, se existirem 
várias causas para um determinado crime, não dá para escolher se houve 
uma causa preponderante, pois todas as causas serão levadas em 
consideração. 
Ex: Se duas pessoas foram imprudente e atropelaram o mesmo 
pedestre, só que uma pessoa estava em excesso de velocidade e a 
outra também, mas além disso não tinha carteira de habilitação, neste 
caso os dois eventos foram causa, não existindo uma causa 
preponderante. 
Ex: Sujeito quer matar inimigo, terceiro empresta moto e arma, no final 
da tarde o sujeito ganha camisa de irmã e à noite utilizou a moto para 
se locomover até a residência da vítima e a matou com o revólver. Ter 
ganho a camisa da irmã não foi causa do homicídio, já a arma e a 
moto foram. 
OBS 1: Se tomarmos o vínculo causal entre dois eventos como elemento 
estruturante de um raciocínio argumentativo, três possibilidade são 
inicialmente vislumbradas. Perelman as enumera da seguinte maneira: 
a)A argumentação facilita a relação entre dois acontecimentos 
sucessivos, por meio de um vínculo causal. 
b) A argumentação seleciona um acontecimento e busca descobrir 
qual a causa que pode tê-lo determinado. 
c) A argumentação analisa um acontecimento e tenta evidenciar quais 
os efeitos que dele devem resultar. 
OBS 2: O argumento de causa e efeito funciona de forma eficiente 
como elemento introdutório da fundamentação, pois quando no início 
de um texto dissertativo argumentativo já se garante o vínculo causal 
entre dois acontecimentos sucessivos, resta apenas fundamentar as 
consequências jurídicas advindas da obrigação estabelecida. 
2.6. Argumento de oposição. 
A) Conceito. 
O argumento de oposição serve como uma estratégia discursiva 
eficiente para a redação de uma boa argumentação. Compõe-se da 
introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo 
argumentador, admitindo-o como uma possibilidade de conclusão, para 
depois apresentar, como argumento decisivo, a perspectiva contrária. 
B) Estrutura. 
Apoiada no uso dos conectores argumentativos concessivos e 
adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis manobras 
discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a busca de 
solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os fundamentos 
mais fortes da parte oposta. 
Observe os quadros abaixo: 
Estrutura do argumento de oposição concessiva 
Operador argumentativo 
Concessivo 
Ponto de vista contrário à 
tese defendida 
Ponto de vista favorável à 
tese defendida 
Embora, apesar de, ainda 
que ... 
 
...não exista lei que obrigue 
alguém a ser pai, nem que 
garanta reaproximações 
indesejadas, ... 
... a Justiça pode, sim, fazer 
valer o direito de um filho em 
relação aos cuidados 
paternais, por meio de uma 
reparação afetiva. 
Conector sintático que põe 
em foco a evidência 
contrária 
Evidência que apóia a 
argumentação contrária à 
tese em defesa 
Argumento decisivo, 
contrário à perspectiva 
anterior 
 
 A concessão é uma estratégia discursiva em que primeiro se usa um 
conector sintático que põe em evidencia a tese contrária, sendo logo 
em seguida indicada a tese contrária, para somente depois apresentar 
a tese favorável. 
Estrutura do argumento de oposição restritiva 
Ponto de vista contrário à 
tese defendida 
Operador argumentativo 
adversativo 
Ponto de vista favorável à 
tese defendida 
Não existe lei que obrigue 
alguém a ser pai, nem que 
garanta reaproximações 
indesejadas, ... 
... mas, porém, todavia ... 
 
... a Justiça pode, sim, fazer 
valer o direito de um filho em 
relação aos cuidados 
paternais, por meio de uma 
reparação afetiva. 
Evidência que apóia a 
argumentação contrária à 
tese em defesa 
Conector sintático que 
permite uma manobra 
discursiva, que desarticula o 
argumento introdutório 
Argumento que anula a 
proposição inicial do 
parágrafo, gerando uma 
quebra de expectativa 
 
 Na estrutura restritiva afirmação que precede o “mas” aparece como 
uma coisa que se concede, que se reconhece e que a afirmação 
seguinte vai desqualificar do ponto de vista argumentativo. 
OBS: Jurisprudência do STJ 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.242 - SP (2009/0193701-9) 
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI 
RECORRENTE : ANTONIO CARLOS JAMAS DOS SANTOS 
ADVOGADO : ANTÔNIO CARLOS DELGADO LOPES E OUTRO(S) 
RECORRIDO : LUCIANE NUNES DE OLIVEIRA SOUZA 
ADVOGADO : JOÃO LYRA NETTO 
EMENTA 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR 
DANO MORAL. POSSIBILIDADE. 
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à 
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito 
de Família. 
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico 
brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas 
diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88. 
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em 
se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o 
non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de 
criação, educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição 
legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais 
por abandono psicológico. 
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de 
um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados 
parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao 
menos quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica 
e inserção social. 
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores 
atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática – não podem ser objeto 
de reavaliação na estreita via do recurso especial. 
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em 
recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem 
revela-se irrisória ou exagerada. 
7. Recurso especial parcialmente provido. 
ACÓRDÃO 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do 
Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas 
constantes dos autos, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro 
Paulo de Tarso Sanseverino, a retificação de voto da Sra. Ministra NancyAndrighi e a 
ratificação de voto-vencido do Sr. Ministro Massami Uyeda, por maioria, dar parcial 
provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Votou 
vencido o Sr. Ministro Massami Uyeda. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de 
Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. 
Brasília (DF), 24 de abril de 2012(Data do Julgamento) 
MINISTRA NANCY ANDRIGHI 
Relatora 
 
Qualquer relação parental em que haja sofrimento, mágoa e tristeza pode gerar 
pagamento de indenização à parte provocadora de tais sentimentos. Foi a partir desta 
tese que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, nesta semana, que um pai terá que 
pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais decorrentes do abandono afetivo 
de sua filha. A decisão inédita indica que os danos decorrentes das relações familiares 
não podem ser diferenciados dos ilícitos civis em geral. 
A relatora do processo no STJ, ministra Nancy Andrighi, proferiu a frase: amar é 
faculdade. Cuidar é dever durante o julgamento. Segundo ela, não se discutia o amor 
do pai pela filha, mas sim o dever jurídico de cuidar dela. O pai ainda poderá recorrer 
da decisão ao Supremo Tribunal Federal. 
Cuidar e educar a prole é ação de natureza objetiva e isso está explícito no Código Civil. 
No caso desse descumprimento, pode haver, sim, indenização, diz a presidente da 
Comissão de Direito de Família do Instituto dos Advogados de São Paulo, Regina 
BeatrizTavares da Silva . Segundo a advogada, a falta de cuidado é um dano e essa 
falta se revela na ausência de proximidade, que pode ser avaliada de forma material e 
moral. 
 
 
Aula 8 
Coesão e coerência no texto jurídico-argumentativo. 
 
Os elos coesivos entre parágrafos reforçam a tessitura do texto, 
permitindo uma maior eficiência discursiva por parte do argumentador. Eles 
podem ser utilizados de acordo com o objetivo de cada parágrafo elaborado, 
devendo-se levar em consideração algumas possibilidades interpretativas: 
Por enumeração 
Ressalta(m)-se 
Além desses fatores... 
É de verificar-se que... 
Registre-se, ainda, que... 
Assinale-se, ainda, que... 
Convém ressaltar... 
Além desses fatores... 
Soma(m)-se a esses aspectos o(s) fato(s)...Mister se faz ressaltar que... 
Registre-se, ainda, que... 
É de ser relevado... 
 
Por oposição 
É bem verdade que... 
Não se pode olvidar que... 
Não há olvidar-se que... 
Bom é dizer que... 
Por outro lado... 
Ao contrário do que foi dito... 
Conectores de oposição: conjunções adversativas e concessivas. 
Verbos que indicam oposição (contrariar, impedir, obstar, vedar...) 
 
Por causa 
Como se há verificar... 
Como se pode notar... 
É de verificar-se que... 
Devido a... 
Em virtude de... 
Em face de... 
Substantivos: causa, motivo, razão, explicação, pretexto, base, fundamento, 
gênese, origem, o porquê. 
Verbos que indicam causa (determinar, permitir, causar, gerar...) 
Locuções prepositivas: em virtude de..., em razão de..., por causa de..., em 
vista de..., por motivo de... 
Conjunções: porque, pois, já que, uma vez que, porquanto, como. 
Por consequência 
Neste sentido, deve-se dizer... 
Oportuno se torna dizer que... 
Cumpre-nos assinalar que... 
Diante do exposto... 
Diante disso... 
Em face de tal situação... 
Em virtude desses fatos... 
Em face dessa questão... 
Substantivos: efeito, produto, decorrência, fruto, reflexo, desfecho. 
Verbos que indicam consequência (ocasionar, gerar, provocar...) 
Locuções e conjunções: logo, então, portanto, por isso, por conseguinte, pois.

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