Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tipos de Argumento 1. Considerações Iniciais. Os argumentos são recursos linguísticos que visam ao convencimento. O argumento não é uma prova inequívoca da verdade. Argumentar não significa impor uma forma de demonstração, como nas ciências exatas. O argumento implica um juízo do quanto é provável ou razoável. 2. Tipos de Argumento. 2.1 Argumento pró-tese. A) Conceito. Caracteriza-se por ser produzido a partir dos fatos da realidade. Sugerimos ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. B) Estrutura. A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: Tese + porque + e também + além disso. Cada um desses elos coesivos introduzem fatos distintos favoráveis à tese escolhida. Exemplo: “O médico foi negligente porque utilizou água contaminada no tratamento de hemodiálise de paciente renais, e também não comunicou o fato à secretaria de saúde. Além disso, mesmo após ter conhecimento do alto índice de contaminação por bactérias, continuou a utilizá-la, colocando, pois, em perigo iminente a vida dos pacientes.” 2.2 Argumento de autoridade. A) Conceito. Argumento constituído com base nas principais fontes do Direito e em pesquisas científicas. Indicamos, em especial, a legislação, a doutrina e a opinião fundamentada de especialistas. B) Estrutura. Não há para este argumento uma estrutura determinada, mas podemos afirmar que a simples menção ao dispositivo legal não funciona como argumento. É preciso relacionar o fato em questão à norma aplicável. Ou seja: O argumento de autoridade deve ser exposto de maneira a que se comprove seu percurso lógico. Ele não vale apenas porque está amparado pela legislação ou pela doutrina; espera-se que o ponto de vista sustentado seja também coerente e razoável. Exemplo: - Acompanhou-se o caso da eliminação de candidatos a professores da rede pública de São Paulo, ocorrida durante a realização dos exames de saúde, e motivada pela obesidade que os acomete. Um dos traços de maior destaque nos concursos públicos é a garantia de igualdade entre os participantes do certame, sendo que somente a lei pode estabelecer restrições de acesso a determinados cargos, e, mesmo assim, só nos casos em que determinadas características inerentes ao candidato forem incompatíveis com a natureza da função a ser desempenhada. Tal decorre do princípio da isonomia, o qual está explícito no art. 5º, caput e implícito no art. 3º, IV, ambos da Constituição da República. 2.3. Argumento de senso comum. A) Conceito. Consiste no aproveitamento de uma afirmação que goza de consenso geral; está amplamente difundida na sociedade. Normalmente, funciona como reforço de outro argumento. Vale observar que, normalmente, após o argumento de autoridade, é sugerida a produção do argumento de oposição; entretanto, esse argumento será desenvolvido na a próxima aula. Exemplo: - Crime de homicídio - A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana em diversos níveis e não tolera mais essa prática. Certamente, a violência é o pior recurso para a solução de qualquer tipo de conflito. Uma pessoa sensata pondera, dialoga ou se afasta de situações que podem desencadear embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e, como um bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções pacíficas existentes, como a imediata separação que o afastaria definitivamente de quem o traiu. Aceitar sua conduta desmedida seria instituir a pena de morte para a traição amorosa. Caso Concreto Joana é professora de uma escola particular e sempre ministra as suas aulas utilizando-se de um computador portátil. Em um certo dia, um aluno seu veio tirar uma dúvida com ela, apresentando essa dúvida em um computador igual ao da professora. No final da aula, Joana acabou pegando o computador portátil do aluno pensando que era seu, levando-o para casa. O aluno Pablo, que era dono do computador, não percebeu que sua professora tinha pego por engano o seu computador, razão pela qual foi à autoridade policial competente informar o ocorrido. Joana foi denunciada pelo crime de furto, art. 155 caput, do Código Penal. A denúncia foi recebida em 10/01/2011, tendo o réu sido citado e apresentado resposta à acusação por intermédio de defensor público constituído, no prazo legal. No decorrer da instrução criminal, Joana alegou que não sabia que tinha subtraído um computador portátil de um de seus alunos, tendo em vista que ele era igual ao que usava ao ministrar suas aulas. Na fase processual prevista no art. 402 do Código de Processo Penal, as partes nada requereram. Em manifestação escrita, o Ministério Público pugnou pela condenação da ré nos exatos termos da denúncia, tendo Joana, então, constituído advogado, o qual foi intimado, em 03/02/2011, para apresentação da peça processual cabível. Argumento Pró-tese Joana incidiu em um erro de tipo (tese) porque não tinha consciência de que estava subtraindo um computador portátil de um de seus alunos, e também não teve a intenção de subtrair definitivamente para si tal bem, não existindo dolo. Além disso, como o computador do aluno era igual ao seu, o erro de tipo que ela incidiu é escusável, inevitável ou invencível. Argumento de Autoridade No mérito, a absolvição se impõe, pois os fatos deixam claro que o agente agiu sob a égide de um erro de tipo nos termos do art. 20, caput, do Código Penal. Conforme consta dos autos, a ré acabou subtraindo, por engano, um computador portátil de um de seus alunos, pois pensava que o computador lhe pertencia, já que era igual ao computador que sempre ministrava aulas. Ora, têm-se claramente a manifestação de um erro de tipo referente à conduta da acusada, pois esta se equivocou quanto a um dos elementos constitutivos do tipo penal incriminador, no caso, a subtração de coisa alheia móvel constante do art. 155, do Código Penal, tendo em vista que a acusada pensava que a coisa subtraída lhe pertencia. O instituto jurídico do erro sobre elementos do tipo está previsto no caput do artigo 20 do Código Penal. Neste, ocorre um equivoco que incide sobre elementos objetivos do tipo penal, eliminando o dolo e podendo levar a punição por crime culposo, nos casos em que a lei prevê esta possibilidade. O erro de tipo é aquele que recai sobre as elementares e circunstâncias do crime. Tal erro é tão grave que impede que o agente compreenda o caráter criminoso do fato ou que conheça alguma circunstância a ele relacionada. Significa dizer que a conduta do agente que, por ignorância ou má interpretação da realidade, não sabe que está realizando um tipo objetivo, não pode ser tida como dolosa. Ensina a melhor doutrina, que o erro de tipo sobre as elementares, dependendo da gravidade, produz efeitos diversos: se vencível ou inescusável, ou seja, se o fato podia ter sido evitado mediante o emprego de alguma diligência por parte do agente, o dolo será excluído, mas será permitida a punição por crime culposo, se houver previsão legal deste; sendo invencível ou escusável, ou seja, se o fato não podia ter sido evitado mesmo que o agente empregasse alguma diligência, o dolo e a culpa serão excluídos levando à atipicidade do fato e à conseqüente exclusão do crime. Destaque-se que o erro de tipo sempre exclui o dolo seja evitável ou inevitável. Como dolo é elemento do tipo, a sua exclusão acarreta obrigatoriamente o expurgo da tipicidade do fato doloso, podendo restar à responsabilização do agente por crime culposo, desde que seja típica a modalidade culposa. Assim sendo, sempre que o agente, apesar de objetivamente realizar a conduta prevista no tipo, mas desconhecer um dos seus elementos estará agindo em erro de tipo, não atuando, assim, com dolo. Ocorre que, na denúncia apresentada, a conduta imputada aacusada é definida nos termos do artigo 155, caput, do Código Penal, como “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. No caso concreto a acusada não sabia que estava subtraindo coisa alheia, pensando que estava de posse de seu computador. Desta forma, encontrava- se em claro equivoco quanto ao fato de a coisa ser alheia, manifestando um erro quanto a um dos elementos objetivos constitutivos do tipo penal em questão de forma invencível ou escusável, tendo em vista que o computador a qual subtraiu era igual ao que sempre utilizou para ministrar aulas. Desta forma, como o erro de tipo foi invencível ou escusável será excluído o dolo e a culpa da acusada, restando excluído o crime de furto que foi atribuído a ré. Assim sendo, não existindo tipo, não existe crime. Consequentemente, trata-se um caso inequívoco motivador de absolvição da acusada, nos termos do artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, tendo por fundamento a manifestação de circunstâncias que excluem o crime. 2.4. Argumento de analogia. A) Conceito. Segundo o autor Miguel Reale, a analogia consiste, em sua essência, no preenchimento da lacuna verificada na lei, graças a um raciocínio fundado em razões de similitude, ou ainda, na correspondência entre certas notas características do caso regulado e as daquele que não o é. A analogia é, portanto, o procedimento por meio do qual se pode estabelecer uma relação de semelhança entre coisas diversas. Recorrer à analogia significa fazer uma espécie de comparação entre os termos em questão. B) Característica. O legislador, no Artigo 4º da Lei de introdução as normas brasileiras, facultou ao julgador a utilização da analogia como fonte do direito. O dispositivo legal prevê, textualmente, que “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.” C) Exemplos. Atualmente, o tema do direitos civis dos homoafetivos requer a argumentação por analogia para alcançar a tutela desses direitos, tendo em vista a ausência de legislação que trate do assunto. Em um caso específico discute-se a possibilidade de os homoafetivos terem direito à inclusão de seu “companheiro”como dependente de plano de saúde. A problemática central da questão, passa pela suposta ausência de previsão legal expressa pra reconhecer tal direito. Muitas das vezes, os argumentadores precisam recorrer a princípios gerais como a dignidade da pessoa humana ou a igualdade de todos perante a lei para ter condições de se posicionar quanto ao conflito. Como o raciocínio analógico poderia ser desenvolvido: 1º) A Constituição Federal pretende proteger a família: Art. 226, parágrafo 3º da CF – Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 2º) Todos são iguais perante a lei: Art. 5º, I, CF/88 – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos temos desta Constituição. 3º) A proteção à entidade familiar deve ser estender aos homoafetivos, por analogia à entidade familiar composta entre o homem e a mulher. OBS: É necessário, porém, justificar fundamentadamente por qual motivo a proteção de um caso se estende ao outro. Ao resumir esse raciocínio em um enunciado, teríamos o seguinte: Assim como a entidade familiar composta por homem e mulher está amparada pela Constituição da República, a união entre dois homens – já que todos são iguais perante a lei – deve ser também amparada pelo Estado. 2.5. Argumento de Causa e Efeito. A) Conceito. É o argumento que estabelece uma relação de causalidade, ou seja, apresenta as causas e as consequências jurídicas de um ato praticado. A causa e o efeito são duas faces da mesma moeda, pois para que haja um efeito, naturalmente deve ter havido uma causa que o motivasse. Desta forma, um fato só pode ser visto como causa de algo se houver outros eventos que deles derivam. OBS: Causa x Fator - antes de mais nada, entretanto, é necessário distinguir causa de fator, coisas diferentes, mas que por muitos são confundidas, pode- se fazer a seguinte distinção: Por causa entende-se aquilo que determina a experiência de uma coisa: a circunstância sem a qual o fenômeno não existe. É, pois, o agente causador do fenômeno social, sua origem, princípio, motivo ou razão de ser. Eliminada a causa, o fenômeno haverá de desaparecer. Ex: A causa de ter havido a morte de uma pessoa foi porque o autor do crime colocou um veneno em sua comida. Já o fator, embora não dê causa ao fenômeno, concorre para a sua maior ou menor incidência. É a circunstância que, de qualquer forma, concorre para o resultado. Ex: Pode-se dizer, por exemplo, que a pobreza, a miséria, é um fator de criminalidade, porque, segundo as estatísticas, 90% ou mais da população carcerária são constituídas de pessoas provenientes de classes sociais mais humildes. Mas não é certamente a causa do crime, porque há um número muito grande de pobres que não delinquem. [...] (Desembargador Sérgio Cavalieri Filho ) B) Importância para o direito. Para a ciência do Direito, o nexo causal existente entre dois eventos tem grande relevância, porque todo indivíduo tem direitos e obrigações decorrentes dos atos que pratica em face das demais pessoas que vivem sob as regras de um mesmo ordenamento jurídico. No direito civil e do consumidor, por exemplo, o nexo de causalidade é extremamente importante para gerar o dever de indenizar. Ex: Se uma pessoa contrata um hospital para fazer uma cirurgia e, em decorrência da conduta imperita adotada pelo médico durante a realização do procedimento cirúrgico, o paciente passa por problemas graves, a responsabilidade por danos causados à saúde do consumidor é da contratada. Pode-se perceber que o vínculo causal entre a conduta adotada e o resultado alcançado gera a obrigação jurídica de indenizar. Entretanto, vale ressaltar que, se houver dano, mas sua causa não está relacionada ao comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, e também, a obrigação de indenizar. Mesmo havendo nexo de causalidade, porém, não se podem desprezar as excludentes da responsabilidade civil, como a culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito e a força maior. No direito penal, considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, nos termos do Art. 13, caput, do CP, sendo adotada a teoria da equivalência dos antecedentes causais e tudo que concorrer para o evento pode ser considerado causa. Ou seja, se existirem várias causas para um determinado crime, não dá para escolher se houve uma causa preponderante, pois todas as causas serão levadas em consideração. Ex: Se duas pessoas foram imprudente e atropelaram o mesmo pedestre, só que uma pessoa estava em excesso de velocidade e a outra também, mas além disso não tinha carteira de habilitação, neste caso os dois eventos foram causa, não existindo uma causa preponderante. Ex: Sujeito quer matar inimigo, terceiro empresta moto e arma, no final da tarde o sujeito ganha camisa de irmã e à noite utilizou a moto para se locomover até a residência da vítima e a matou com o revólver. Ter ganho a camisa da irmã não foi causa do homicídio, já a arma e a moto foram. OBS 1: Se tomarmos o vínculo causal entre dois eventos como elemento estruturante de um raciocínio argumentativo, três possibilidade são inicialmente vislumbradas. Perelman as enumera da seguinte maneira: a)A argumentação facilita a relação entre dois acontecimentos sucessivos, por meio de um vínculo causal. b) A argumentação seleciona um acontecimento e busca descobrir qual a causa que pode tê-lo determinado. c) A argumentação analisa um acontecimento e tenta evidenciar quais os efeitos que dele devem resultar. OBS 2: O argumento de causa e efeito funciona de forma eficiente como elemento introdutório da fundamentação, pois quando no início de um texto dissertativo argumentativo já se garante o vínculo causal entre dois acontecimentos sucessivos, resta apenas fundamentar as consequências jurídicas advindas da obrigação estabelecida. 2.6. Argumento de oposição. A) Conceito. O argumento de oposição serve como uma estratégia discursiva eficiente para a redação de uma boa argumentação. Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo argumentador, admitindo-o como uma possibilidade de conclusão, para depois apresentar, como argumento decisivo, a perspectiva contrária. B) Estrutura. Apoiada no uso dos conectores argumentativos concessivos e adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis manobras discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os fundamentos mais fortes da parte oposta. Observe os quadros abaixo: Estrutura do argumento de oposição concessiva Operador argumentativo Concessivo Ponto de vista contrário à tese defendida Ponto de vista favorável à tese defendida Embora, apesar de, ainda que ... ...não exista lei que obrigue alguém a ser pai, nem que garanta reaproximações indesejadas, ... ... a Justiça pode, sim, fazer valer o direito de um filho em relação aos cuidados paternais, por meio de uma reparação afetiva. Conector sintático que põe em foco a evidência contrária Evidência que apóia a argumentação contrária à tese em defesa Argumento decisivo, contrário à perspectiva anterior A concessão é uma estratégia discursiva em que primeiro se usa um conector sintático que põe em evidencia a tese contrária, sendo logo em seguida indicada a tese contrária, para somente depois apresentar a tese favorável. Estrutura do argumento de oposição restritiva Ponto de vista contrário à tese defendida Operador argumentativo adversativo Ponto de vista favorável à tese defendida Não existe lei que obrigue alguém a ser pai, nem que garanta reaproximações indesejadas, ... ... mas, porém, todavia ... ... a Justiça pode, sim, fazer valer o direito de um filho em relação aos cuidados paternais, por meio de uma reparação afetiva. Evidência que apóia a argumentação contrária à tese em defesa Conector sintático que permite uma manobra discursiva, que desarticula o argumento introdutório Argumento que anula a proposição inicial do parágrafo, gerando uma quebra de expectativa Na estrutura restritiva afirmação que precede o “mas” aparece como uma coisa que se concede, que se reconhece e que a afirmação seguinte vai desqualificar do ponto de vista argumentativo. OBS: Jurisprudência do STJ RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.242 - SP (2009/0193701-9) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : ANTONIO CARLOS JAMAS DOS SANTOS ADVOGADO : ANTÔNIO CARLOS DELGADO LOPES E OUTRO(S) RECORRIDO : LUCIANE NUNES DE OLIVEIRA SOUZA ADVOGADO : JOÃO LYRA NETTO EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE. 1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, a retificação de voto da Sra. Ministra NancyAndrighi e a ratificação de voto-vencido do Sr. Ministro Massami Uyeda, por maioria, dar parcial provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Votou vencido o Sr. Ministro Massami Uyeda. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 24 de abril de 2012(Data do Julgamento) MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Qualquer relação parental em que haja sofrimento, mágoa e tristeza pode gerar pagamento de indenização à parte provocadora de tais sentimentos. Foi a partir desta tese que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, nesta semana, que um pai terá que pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais decorrentes do abandono afetivo de sua filha. A decisão inédita indica que os danos decorrentes das relações familiares não podem ser diferenciados dos ilícitos civis em geral. A relatora do processo no STJ, ministra Nancy Andrighi, proferiu a frase: amar é faculdade. Cuidar é dever durante o julgamento. Segundo ela, não se discutia o amor do pai pela filha, mas sim o dever jurídico de cuidar dela. O pai ainda poderá recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal. Cuidar e educar a prole é ação de natureza objetiva e isso está explícito no Código Civil. No caso desse descumprimento, pode haver, sim, indenização, diz a presidente da Comissão de Direito de Família do Instituto dos Advogados de São Paulo, Regina BeatrizTavares da Silva . Segundo a advogada, a falta de cuidado é um dano e essa falta se revela na ausência de proximidade, que pode ser avaliada de forma material e moral. Aula 8 Coesão e coerência no texto jurídico-argumentativo. Os elos coesivos entre parágrafos reforçam a tessitura do texto, permitindo uma maior eficiência discursiva por parte do argumentador. Eles podem ser utilizados de acordo com o objetivo de cada parágrafo elaborado, devendo-se levar em consideração algumas possibilidades interpretativas: Por enumeração Ressalta(m)-se Além desses fatores... É de verificar-se que... Registre-se, ainda, que... Assinale-se, ainda, que... Convém ressaltar... Além desses fatores... Soma(m)-se a esses aspectos o(s) fato(s)...Mister se faz ressaltar que... Registre-se, ainda, que... É de ser relevado... Por oposição É bem verdade que... Não se pode olvidar que... Não há olvidar-se que... Bom é dizer que... Por outro lado... Ao contrário do que foi dito... Conectores de oposição: conjunções adversativas e concessivas. Verbos que indicam oposição (contrariar, impedir, obstar, vedar...) Por causa Como se há verificar... Como se pode notar... É de verificar-se que... Devido a... Em virtude de... Em face de... Substantivos: causa, motivo, razão, explicação, pretexto, base, fundamento, gênese, origem, o porquê. Verbos que indicam causa (determinar, permitir, causar, gerar...) Locuções prepositivas: em virtude de..., em razão de..., por causa de..., em vista de..., por motivo de... Conjunções: porque, pois, já que, uma vez que, porquanto, como. Por consequência Neste sentido, deve-se dizer... Oportuno se torna dizer que... Cumpre-nos assinalar que... Diante do exposto... Diante disso... Em face de tal situação... Em virtude desses fatos... Em face dessa questão... Substantivos: efeito, produto, decorrência, fruto, reflexo, desfecho. Verbos que indicam consequência (ocasionar, gerar, provocar...) Locuções e conjunções: logo, então, portanto, por isso, por conseguinte, pois.
Compartilhar