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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES CAES “CEL PM NELSON FREIRE TERRA” CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS – CAO – II/ 09 Cap QAOPM Ricardo Robson da Silva IMOBILIZAÇÕES CORPORAIS – INDIVIDUAL E EM GRUPO NO USO DEFENSIVO DA FORÇA FÍSICA: PROPOSTA DE MANUAL DE TREINAMENTO POLICIAL São Paulo 2009 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES “CEL PM NELSON FREIRE TERRA” CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS – CAO – II/ 2009 Cap QAOPM Ricardo Robson da Silva IMOBILIZAÇÕES CORPORAIS – INDIVIDUAL E EM GRUPO NO USO DEFENSIVO DA FORÇA FÍSICA: PROPOSTA DE MANUAL DE TREINAMENTO POLICIAL Monografia apresentada ao Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores, como parte dos requisitos para a aprovação no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Maj PM Raul Santo de Oliveira – Orientador 2 São Paulo 2009 POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES “CEL PM NELSON FREIRE TERRA” CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS – CAO – II/ 2009 Cap QAOPM Ricardo Robson da Silva IMOBILIZAÇÕES CORPORAIS – INDIVIDUAL E EM GRUPO NO USO DEFENSIVO DA FORÇA FÍSICA: PROPOSTA DE MANUAL DE TREINAMENTO POLICIAL Monografia apresentada ao Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores, como parte dos requisitos para a aprovação no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. ( ) Recomendamos disponibilizar para pesquisa ( ) Não recomendamos disponibilizar para pesquisa ( ) Recomendamos a publicação ( ) Não recomendamos a publicação São Paulo, ____ de ______________________ de 2009. Ten Cel Res PM Luiz Carlos Martins Ten Cel Ex Israel Yehuda Carmi 3 Maj PM Raul Santo de Oliveira – Orientador Este trabalho é dedicado a: Minha esposa, Rafaela e filhas Viviane e Verônica pelo amor, compreensão e apoio dedicados no transcorrer da elaboração deste trabalho. Aos meus antepassados, pela origem familiar e formação educacional nos pressupostos da humildade e da honestidade no curso das gerações. Ao Sensei Jooji Sato (in memorian) pela legítima iniciação nos fundamentos da filosofia da Arte Marcial do Judô no Caminho do Guerreiro - o Bushido. Ao Sensei Miguel Suganuma pelos inestimáveis ensinamentos complementares e prática da Arte Marcial do Judô e o aperfeiçoamento nas Técnicas do Desporto de Combate e Defesa Pessoal Policial. À Polícia Militar do Estado de São Paulo, Instituição que considero como minha segunda casa, bem como aos companheiros de caserna a minha segunda família. 4 AGRADECIMENTO Ao Maj PM Raul Santo de Oliveira, pela dedicação e sabedoria por ocasião das reuniões de orientação nos momentos de dúvidas e divagações. Ao Ten Cel Res PM Luiz Carlos Martins, eterno Comandante da “Velha Escola”, pelo relacionamento profissional, de companheirismo e amizade estabelecido no serviço ativo que perdura mesmo na sua reserva do Oficialato. Ao Ten Cel PM Wandereley Mascarenhas de Souza, Comandante do Centro de Capacitação Física e Operacional – Escola de Educação Física, pelo incentivo e colaboração ao permitir o acesso e processamento das pesquisas junto aos Policiais Militares dos diversos Cursos e Estágios desenvolvidos no OAE. Ao Subtenente PM Antenil Pereira Ramos, Mestre de Kung Fu e Treinador de Defesa Pessoal, pela colaboração e apoio inestimável à elaboração do presente trabalho. Ao 1.º Sgt PM Eriquinilson dos Santos, Mestre de Judô e Treinador de Defesa Pessoal. A todos os Oficiais, Praças e Funcionários Civis do CCFOEEF, em breve EEFTP, extensivo a todos os demais Policiais Militares e Civis que contribuíram de forma direta ou indireta para a confecção desta Monografia. Ao Comando do CAES, Instrutores e Professores e demais integrantes desta digna e renomada Unidade Escola Militar, pelos conhecimentos ministrados que serão de grande valia na busca da minha realização profissional. 5 “O homem de mente destemperada que não controla os seus apetites e as suas paixões, forja suas próprias algemas e grilhões. Pois quanto menos houver dentro de nós, mais deverá haver fora de nós uma força de controle tal que nos permita viver em sociedade.” Sir Edmund Burke 6 RESUMO O treinamento é importante para atividade policial-militar, com relevância na área prática onde a realização dos procedimentos de padronização das técnicas permitirá maior eficiência e qualidade na prestação dos serviços pela Instituição Policial Militar. A disciplina de Defesa Pessoal na Instituição está entre as fundamentais na instrução do policial militar, quer seja na formação, na especialização ou treinamento contínuo da Praça ou do Oficial de Polícia Militar. Outro fator de destaque é firmar a compreensão de que o uso da força é um instrumento de trabalho da polícia e de seu funcionário, o policial. Conhecer as leis que balizam o seu uso seja no âmbito nacional ou internacional, bem como as várias circunstâncias e intensidades disponíveis do uso da força, é uma necessidade. A divulgação dos princípios de uso progressivo da força com a adoção das melhores técnicas e práticas pela polícia é uma forma de orientar os policiais a respeito dos vários fatores de influência da sua utilização ou não, do tipo de força e das possíveis reações do policial em relação às atitudes do suspeito encontradas no dia a dia operacional. Portanto, é certo que o exercício da profissão está ligado diretamente ao contexto do Uso Legal da Força, situação que impõe a necessidade emergente de dar suporte e embasamento para a capacitação teórica e prática aos componentes dos órgãos de segurança pública, possibilitando uma abordagem mais específica em torno do seu conteúdo. A presente proposta de um Manual de Imobilizações Corporais – Individual e em Grupo no Uso Defensivo da Força Física, que pode ser entendido como um complemento ao atual Manual de Defesa Pessoal (M-3-PM) é resultado de uma coletânea de conteúdos que vem dar subsídios técnicos e táticos (normas, processos, técnicas e atitudes), capazes de proporcionar o aprofundamento da 7 metodologia específica aplicada à disciplina com o atendimento dos aspectos legais, voltado, sobretudo, à atividade fim. A idéia central da proposta de criação de Manual, isto partindo do contexto atual no que tange a detectar problemas para o seu desenvolvimento satisfatório, principalmente quanto à aplicação de metodologias desfalcadas com a realidade, ou ainda a quebra de velhos paradigmas enraizados numa formação já superada, e que não atende mais à nova realidade para atual política de segurança pública em vigor no país, é que se possa utilizar este manual para uma melhor eficácia do trabalho do policial. Palavras-chave: Polícia Militar. Treinamento. Defesa Pessoal. Uso Defensivo da Força Física. Uso Progressivo da Força Legal. Padronização de técnicas. 8 ABSTRACT Training is very important for military police activity, mainly in the practice area where the execution of techniques standardization procedures will allow greater efficiency and quality in Military Police Institution services. The Self Protection discipline is a fundamental one in the institution for a policeman instruction for his education, expertise and continuous training to the policeman or to the officer. Another highlight point is confirm that force is a police and policeman work device. Knowing the laws that guide itsuse at national or international capacity, as well as the various circumstances and intensities available to use the force, is a necessity. The divulgation of progressive force usage foundation with adoption of best practices and technics by police, is a way to guide the policeman about the several facts of influence in its usage or not, about type of force and all the policeman reactions about the suspect behavior found in day by day. Therefore, it is certain that the professional tasks are straight linked to the context of Legal Force Usage, which imposes the forthcoming necessity of support to theorical and real practice for the policemen enabling a more specific approach to the matter. This proposal of a Bodily Immobilization Manual – Individual or Group, that could be understood as an addition to the current Self Defense Manual (M-3-PM) is the summary of tactical and technical content (rules, process, technics and attitudes), able to strengthen the specific methodology applied to the discipline while complying to the legal aspects. The main idea in this propose, based on detecting problems to its satisfactory development, specially concerning the old methodologies application and the breaking of old rules that no longer support the current public security policies in the country, is that this manual could be used to improve the police officer job. 9 Word-key: Military police. Training. Personal defense. I use Defensive of the Physical Force. I use Progressive of the Legal Force. Standardization of techniques. 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Escala de Proporcionalidade no Uso da Força ....................................... 42 Tabela 2 – Situação e Resposta no Uso da Força Legal ......................................... 42 Tabela 3 – Efeitos nos Sistemas Simpáticos e Parassimpáticos ............................. 66 Tabela 4 – Distribuição da Carga Horária no CFO/APMBB ..................................... 98 Tabela 5 – Distribuição da Carga Horária no CFS/CFAP.... ......................................98 Tabela 6 – Distribuição da Carga Horária no CFSd/CFSD - Pirituba........................ 98 Tabela 7 – Dez Regras para um Bom Nível de Eficiência em Defesa Pessoal ...... 101 Tabela 8 – Quadro Comparativo de Sistemas de luta e Principais Técnicas ......... 102 Tabela 9 – Quadro do Atendimento de Ocorrências Consolidadas na área do 8.º BPM/M no período de 02/09/09 a 03/09/09 ............................................................ 126 Tabela 10 – Quadro de denúncias registradas pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo referentes ao relatório do 1.º Semestre/2009 .................................. 129 Tabela 11 – Quadro de Ocorrências com real possibilidade do Uso Defensivo da Força Física .............................................................................................................130 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Círculo da Sobrevivência.......................................................................... 55 Figura 2 – Programa 190 ........................................................................................ 122 Figura 3 – Policiamento Rodoviário ........................................................................ 122 Figura 4 – Policiamento Ambiental ......................................................................... 122 Figura 5 – Mapa 1 - Localização Continental e Insular de Santa Catarina ............. 131 Figura 6 – Mapa 2 - da Região de Santa Catarina ................................................ 131 Figura 7 – Brasão de Armas do Estado de Santa Catarina ................................... 131 Figura 8 – Brasão da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina ......................... 132 Figura 9 – Reunião de CONSEG na Cidade de Florianópolis/SC .......................... 134 Figura 10 – Viaturas de Policiamento Comunitário PMSC ..................................... 134 Figura 11 – Base Comunitária de Segurança ......................................................... 134 Figura 12 – Identificação do BOPE/PMSC ............................................................. 135 Figura 13 – Esquema do Uso Defensivo da Força Física ...................................... 138 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Participação da Amostragem do CIEF/08 .............................................103 Gráfico 2 – Participação da Amostragem do CMEF/08 ...........................................104 Gráfico 3 – Aglutinação das Amostragens do CIEF/08 e CMEF/08 ........................104 Gráfico 4 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08, sobre a capacitação Técnica em Defesa Pessoal.................................................................105 Gráfico 5 – Demonstrativo do Tempo sem Treinamento de Defesa Pessoal dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08..........................................................................105 Gráfico 6 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08, na Capacidade Técnica em Imobilizar Agressor ...............................................................................106 Gráfico 7 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08, sobre a necessidade do Treinamento Contínuo ...................................................................107 Gráfico 8 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08, sobre a Eficácia do Treinamento das Técnicas de Imobilizações Corporais ........................108 Gráfico 9 – Opinião Valorativa dos Integrantes do CIEF/08 e CMEF/08, sobre a Edição do Manual de Imobilizações Corporais .......................................................109 Gráfico 10 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CEP do CCFOEEF, sobre a Capacitação Técnica em Defesa Pessoal ...............................................................110 13 Gráfico 11 – Demonstrativo do Tempo sem Treinamento de Defesa Pessoal dos Integrantes do CEP do CCFOEEF...........................................................................111 Gráfico 12 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CEP do CCFOEEF, na Capacidade Técnica em Imobilizar Agressor .............................................................................. 112 Gráfico 13 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CEP do CCFOEEF, sobre a necessidade do Treinamento Contínuo ...................................................................112 Gráfico 14 – Opinião Pessoal dos Integrantes do CEP do CCFOEEF, sobre a Eficácia do Treinamento das Técnicas de Imobilizações Corporais ....................... 113 Gráfico 15 – Valorativa dos Integrantes do CEP do CCFOEEF, sobre a Edição do Manual de Imobilizações Corporais ....................................................................... 114 Gráfico 16 – Participação de Amostragem do Efetivo da 2.ª Cia/PM do 51.º BPM/M ........................................................................................................................... ...... 115 Gráfico 17 – Participação do Efetivo da Cia de Força Tática do 51.º BPM/PM .......115 Gráfico 18 – Aglutinação das Amostragens dos Efetivos do 51.º BPM/M .............. 116 Gráfico 19 – Opinião Pessoal dos Integrantes do 51.º BPM/M, sobre a capacitação Técnica em Defesa Pessoal.................................................................................... 116 Gráfico 20 – Demonstrativo do Tempo sem Treinamento de Defesa Pessoal dos Integrantes da Amostragem do Efetivo do 51.º BPM/M ........................................ 117 Gráfico 21 - Opinião Pessoal dos Integrantes da Amostragem do 51.º BPM/M, na Capacidade Técnicaem Imobilizar Agressor ......................................................... 118 Gráfico 22 – Opinião Pessoal dos Integrantes da Amostragem do 51.º BPM/M, sobre a necessidade do Treinamento Contínuo ............................................................... 119 14 Gráfico 23 – Opinião Pessoal dos Integrantes do 51.º BPM/M, sobre a Eficácia do Treinamento das Técnicas de Imobilizações Corporais.......................................... 120 Gráfico 24 – Opinião Valorativa dos Integrantes do 51.º BPM/M, sobre a Edição do Manual de Imobilizações Corporais ....................................................................... 121 Gráfico 25 – Formas de Contato com a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo – 1.º Semestre de 2009 ...........................................................................................129 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APMBB – Academia de Polícia Militar do Barro Branco BOPE – Batalhão de Operações Especiais Bol G PM – Boletim Geral da Polícia Militar CAES – Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores CAO – Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais CCEAL – Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei CCFO – Centro de Capacitação Física e Operacional CEP – Curso de Especialização de Praças CF/88 – Constituição da República Federativa do Brasil CFAP – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças CFO – Curso de Formação de Oficiais CFS – Curso de Formação de Sargentos CFSD – Centro de Formação de Soldados – Pirituba 15 CFSd – Curso de Formação de Soldados CIEF – Curso de Instrutor de Educação Física CMEF – Curso de Monitor de Educação Física CONSEG – Conselho de Segurança Comunitário COPOM – Centro de Operações da Polícia Militar CSP – Curso Superior de Polícia EAP – Estágio de Atualização Profissional GRT – Grupos de Resposta Tática H1 – Hipótese número um H2 – Hipótese número dois H3 – Hipótese número três I – 22 – PM – Instruções para o Sistema Integrado de Treinamento Policial Militar M – 3 – PM – Manual de Defesa Pessoal da Polícia Militar do Estado de São Paulo M – 14 – PM – Manual Básico de Policiamento Ostensivo da Polícia Militar NORSOP – Normas para o Sistema Operacional de Policiamento PM ONU – Organização das Nações Unidas PBUFAF – Princípios Básicos sobre o Uso de Força e Armas de Fogo PM – Polícia Militar PMESP – Polícia Militar do Estado de São Paulo PMSC – Polícia Militar do Estado de Santa Catarina PPT – Pelotões de Patrulhamento Tático 16 TASER – “Thomas A. Swift’s Eletric Rifle” – Arma de contenção. 2.ª Cia/PM – Segunda Companhia de Policiamento Policial Militar 51.º BPM/M – Quinquagésimo Primeiro Batalhão de Polícia Militar Metropolitano 8.º BPM/M – Oitavo Batalhão de Polícia Militar Metropolitano Sumário Introdução ............................................................................................................... 21 Capítulo 1. A Polícia Militar e a Lei ........................................................................ 25 1. 1. A Constituição Federal e Princípios Constitucionais ........................................ 25 1.2. Legislação Infraconstitucional ............................................................................ 26 1.3. Constituição do Estado de São Paulo ............................................................... 26 Capítulo 2. Aspectos Legais e Éticos do Uso da Força ...................................... 29 2.1. Abordagem Policial ............................................................................................ 29 2.1.1 Polícia e a Preservação da Ordem Pública na busca da harmonia e paz social .............................................................................................................................. ......29 2.1.2. Abordagem Policial – Aspectos da Relação Interpessoal com o Cidadão...... 29 Capítulo 3. Obrigações das Autoridades pelo Uso da Força ............................. 31 3.1. Legalidade e Legitimidade do Uso da Força e Controle da Atividade Policial ...31 3.2 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo .............................. 32 3.3. Atuação da Polícia no Uso da Força Legal ........................................................ 32 3.4. Código de Conduta Policial ................................................................................ 34 17 3.5. Tipos de Uso de Força ....................................................................................... 38 3.6. Níveis do Uso da Força Legal ............................................................................ 40 3.7. Os Elementos do Uso da Força Legal ............................................................... 42 3.8. Medidas de Força .............................................................................................. 44 3.9. Fases Dinâmicas do Encontro ........................................................................... 45 Capítulo 4. Dimensões do Perfil Policial .............................................................. 47 4.1. Perfil Exigido ...................................................................................................... 47 4.2. Fatores de Contra Indicação .............................................................................. 51 Capítulo 5. O Círculo da Sobrevivência ................................................................ 53 5.1. Preparação Mental ............................................................................................ 54 5.2. Preparação Física .............................................................................................. 56 5.3. Preparação Tática .............................................................................................. 57 5.4. Equipamento ...................................................................................................... 58 5.5. Habilidade no Tiro .............................................................................................. 58 Capítulo 6. O Medo da Morte – Coragem X Temeridade ..................................... 60 6.1. Efeitos Psicofísicos nos Encontros de Combate ............................................... 61 6.2. Efeitos Psicomotores no Organismo .................................................................. 62 6.2.1. Sistema Límbico ............................................................................................. 63 6.2.2. No Sistema Nervoso Autônomo ...................................................................... 63 Capítulo 7. Percepção e Realidade ....................................................................... 67 7.1. Sensopercepção ................................................................................................ 67 7.2. Sensação ........................................................................................................... 68 7.3. Unidade dos Sentidos ........................................................................................ 69 7.4. Percepção .......................................................................................................... 70 18 7.5. Alterações da Sensopercepção ......................................................................... 73 7.6. Alterações na Intensidade das Sensações ........................................................ 74 7.7. Alterações na Síntese Perceptiva – Agnosias ................................................... 75 7.8. Reações Fisiológicas em Confronto .................................................................. 76 Capítulo 8. Do Processo Educacional e Treinamento.......................................... 83 8.1. Conceito de Educação ....................................................................................... 858.2. Taxionomia dos Objetivos Educacionais ........................................................... 87 8.3. Níveis do Domínio Cognitivo .............................................................................. 88 8.3.1. Domínio Cognitivo ........................................................................................... 88 8.3.2. Domínio Afetivo ............................................................................................... 90 8.3.3. Níveis do Domínio Psicomotor ........................................................................ 91 8.4. Oficina de Treinamento ...................................................................................... 91 8.5. Comunicação e Treinamento ............................................................................. 92 8.6. A Importância do Treinamento Policial Militar .................................................... 93 8.7. Treinamento como início de uma mudança profissional .................................... 94 8.8. Os Objetivos do Treinamento Policial Militar ..................................................... 96 8.9. O Treinamento de Defesa Pessoal na Polícia Militar do Estado de São Paulo . 96 Capítulo 9. Análise Comparativa das Diversas Artes Marciais e Desportos de Combate e sua Utilidade para a Defesa Pessoal ................................................ 99 9.1. O que é Defesa Pessoal ? ................................................................................. 99 9.2. Comparação dos Principais Sistemas de Luta ................................................ 100 Capítulo 10. Análise Contextual da Pesquisa de campo sobre a Perspectiva do Treinamento de Defesa Pessoal e das Imobilizações Corporais na PMESP .. 102 19 10.1. Da coleta de dados, processamento e resultados da pesquisa de opinião e outros dados relevantes junto a amostragem Não - probabilística intencional ....... 102 10.2. Da coleta de dados, processamento e resultados da pesquisa de opinião e outros dados relevantes junto 1.ª amostragem Não - probabilística acidental ....... 108 10.3. Da coleta de dados, processamento e resultados da pesquisa de opinião e outros dados relevantes junto a 2.ª amostragem Não - probabilística acidental .... 114 Capítulo 11. Contexto da Realidade Policial na Cidade de São Paulo ............ 121 11.1. Um dia de da rotina de atendimento área territorial do 8.º BPM/M ............... 122 11.2. Apuração de Resultados junto a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo .............................................................................................................................. ... 125 Capítulo 12. Viagem de Estudos da “II Jornada de Polícia Comparada” – Estado de Santa Catarina .................................................................................................. 130 12.1. Síntese Histórica da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina ................. 130 12.2. Entrevista tendo por Tema a Defesa Pessoal e o Uso Defensivo da Força Física ...................................................................................................................... 133 Conclusão .............................................................................................................. 138 Referências Bibliográficas ................................................................................... 140 Apêndice: Minuta de Proposta do Manual Técnico de Imobilizações Corporais – Individual em Grupo no Uso Defensivo da Força Física ................................... 149 20 Introdução A Polícia Militar do Estado de São Paulo possui aproximadamente cem mil homens e mulheres em seu efetivo, dispostos diuturnamente, em todo o Estado de São Paulo, para atender a premissa constitucional de manter e preservar a ordem e segurança públicas de toda a Sociedade e das Instituições, por meio do policiamento ostensivo fardado e preventivo, com respeito à dignidade e aos direitos da pessoa humana mesmo com o sacrifício da própria vida. Não se trata de poesia ou slogan institucional, mas de uma realidade que afeta o profissional Militar do Estado em seu dia a dia. O estudo teve por objetivo geral analisar a importância do treinamento, ou seja, o processo de atualização e aperfeiçoamento dos conhecimentos referentes às práticas policiais, na definição de novos padrões de resposta por parte dos policiais nas atividades de policiamento. As situações em que os policiais se envolvem dão origem a opiniões e interpretações dos atos policiais. Essas opiniões e interpretações da comunidade podem ser positivas ou negativas para a organização policial e para o policial alvo da observação. Entre os objetivos específicos busca-se analisar o uso da 21 força quando da realização de uma abordagem policial, a técnica utilizada, bem como o treinamento policial como fator de mudança no serviço prestado. Em toda abordagem policial o uso da força será utilizado podendo ser com comandos verbais, ou até mesmo com o uso de força letal em casos de ameaça letal ao policial ou a terceiros (outros cidadãos). Os níveis de força apresentam seis alternativas adequadas ao uso da força legal. Cada situação enfrentada pelo policial é única. O bom julgamento e as circunstâncias de cada uma delas ditará o nível de força que o policial utilizará. As circunstâncias são percebidas pelos policiais de acordo com o ambiente e a ação do suspeito abordado. É um trabalho que se justifica pela importância da discussão sobre o uso da força não letal e as garantias legais para a execução de uma abordagem policial, para que durante o policiamento ostensivo respeite os direitos do cidadão abordado. Mostrando a importância do treinamento aos policiais como forma de reduzir o emprego abusivo de força nos encontros da polícia com o público, melhorando a qualidade do trabalho policial, aumentando a proteção do policial e do abordado. Este trabalho observa como problema o fato de que o policial militar desempenha suas atividades operacionais, na maior parte do tempo sem supervisão direta, ou seja, o acompanhamento mais frequente por parte do supervisor, Tenente ou Subtenente ou Sargento, em razão da própria estrutura do policiamento ostensivo motorizado. Nesses casos policiais que adotem condutas impróprias, do ponto de vista procedimental, que quando não corrigidas tendem a serem incorporadas no comportamento e naturalizadas. Dessa forma o policial adota posturas erradas com a crença que está agindo corretamente. Essa conduta expõe o policial ao risco e em consequência expõe ao risco o cidadão. A hipótese central do trabalho estabelece que o treinamento constante tem um papel expressivo como um fator capaz de reduzir o uso abusivo da força nos encontros do policial com o cidadão e de melhorar a qualidade do serviço prestado pelo policial de uma maneira geral, aumentando o grau de segurança, tanto ao policial quanto ao cidadão, e diminuindo a exposição de ambos ao risco. 22 No estudo serão testadas as seguintes hipóteses (H): H1: As garantias legais para o exercício das atividades de polícia ostensiva são suficientes para proporcionar segurança e correção na execução de uma abordagem policial? H2: O treinamento policial permanente diminui a possibilidade de o policial usar a força de maneira excessiva, contra pessoas submetidas a abordagem policial, o que gera uma redução dos casos de abuso policial? H3: O treinamento policial permanente aumenta a capacidade do policial em oferecer proteção ao público e em aumentar sua própria segurança durante as abordagens policiais, o que gera diminuição da exposição de ambos ao risco? A pesquisa utilizao método hipotético-dedutivo, ou seja, a partir das hipóteses formuladas deduz a solução do problema. Quanto aos objetivos é uma pesquisa bibliográfica, para a elaboração do embasamento teórico, e quanto aos procedimentos é uma pesquisa do tipo documental, para a coleta de dados, aliando- se a pesquisa de campo com o aperfeiçoamento e mesmo elaboração de novas formas de Técnicas de Imobilizações Corporais no Uso Defensivo da Força Física (UDFF) Com relação à primeira hipótese (H1) as técnicas e fontes utilizadas foram levantamentos bibliográficos, principalmente nas fontes relacionadas com normas do direito brasileiro e normas da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), observação de normas referentes ao uso da força e treinamento policial. E, na segunda (H2) e na terceira (H3) hipóteses foi utilizada pesquisa documental, com acesso a fontes primárias, e análise discricionária do banco de dados estatísticos publicado no site da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo através do Relatório do 1.º Semestre/2009. Desse relatório é possível analisar os desvios de conduta, principalmente os de uso excessivo da força quando do contato do policial com o cidadão no Estado de São Paulo. São Paulo possui vários órgãos que atuam, principal ou acessoriamente, no controle da atividade policial, são eles: Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de SP, Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da 23 Câmara Municipal de São Paulo, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos em São Paulo, e Ministério Público Estadual/ Promotoria de Direitos Humanos. O presente trabalho está dividido em 12 capítulos. No primeiro se faz referência à legislação pátria que fundamenta a existência da Instituição Policial Militar. O capítulo segundo descreve a abordagem policial, fato primordial no desenvolvimento das atividades operacionais das instituições policiais, podendo ser considerado o momento culminante da ação do profissional de Polícia. No terceiro disserta-se sobre o uso da força, estudo das normas legais sobre abordagem policial que o policial militar necessita conhecer para realizar com segurança uma abordagem. O quarto capítulo trata sinteticamente do perfil profissiográfico exigido para o exercício da função Policial, bem como as suas contra-indicações. No quinto capítulo se faz menção ao Círculo da Sobrevivência, que traz os fundamentos da preparação do homem e da infraestrutura adequada à proficiência na atividade policial. O sexto capítulo trata sumariamente dos efeitos psicomotores no organismo humano quando submetido ao estresse do confronto. Já no sétimo capítulo tratamos dos aspectos relacionados às sensações e percepções humanas diante dos diversos contextos de exercício da atividade policial. O oitavo capítulo versa sobre a origem do processo educacional e a sua aplicação ao treinamento. No capítulo nove busca- se conceituar o termo Defesa Pessoal, e se faz uma breve análise comparativa entre os principais sistemas de lutas e técnicas de artes marciais, demonstrando a sua ligação histórica com as técnicas de autodefesa. O capítulo dez expõe uma análise contextual da pesquisa de campo sobre a perspectiva do treinamento de Defesa Pessoal e das Imobilizações Corporais na PMESP. O capítulo onze apresenta o contexto da realidade policial na Cidade de São Paulo em um único dia de atendimento de ocorrências na área de um Batalhão Policial Militar. Na seqüência trata de dados coletados do relatório do 1.º Semestre de 2009. O Relatório permite fazer uma análise discricionária dos principais desvios de comportamento policial denunciados pela sociedade paulista no 1.º Semestre de 2009. No capítulo doze relata-se a Viagem de Estudos da “II Jornada de Polícia Comparada” – Estado de Santa Catarina, onde foram realizadas visitas aos diversos órgãos de segurança pública (PM, CB), sendo dada ênfase na presente pesquisa aos arquivos da Diretoria 24 de Instrução e Ensino e ao BOPE onde foi realizada importante entrevista acostada a esta monografia. Por fim, apresentação das considerações finais do trabalho monográfico. 1. A Polícia Militar e a Lei 1. 1. A Constituição Federal e Princípios Constitucionais A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988 (CF/88), determinou um novo Estado para toda a nação brasileira, um Estado Democrático de Direito, onde, in tese, o poder, delimitado nesta Lei Maior, é fruto da vontade popular. Art. 1º. (...) Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. A primeira das leis, na qual a Polícia Militar encontra-se incluída, é a Constituição Federal da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988.1 No Título V “ Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, no Capítulo III “Da Segurança Pública”, encontramos o seguinte texto: (...) 1 Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988. 25 Artigo144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. Parágrafo 5.º - Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas, em lei, a execução de atividades de defesa civil. No parágrafo 5.º o legislador salienta a função primordial da Polícia Militar por lei, o policiamento ostensivo, fardado, de preservação da ordem pública. Parágrafo 6.º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e Territórios. No parágrafo 6.º salienta-se a subordinação da Polícia militar, juntamente com as Polícias Civis, aos Governos Estaduais e a situação de ser força auxiliar e reserva do Exército, significando que pode ser convocada por esta força a qualquer momento em situação necessária, principalmente as que se referem a graves perturbações da ordem pública. Além deste aspecto, a Constituição Federal também trata sobre os servidores públicos militares, no Título III “Da Organização do Estado”, Capítulo VII “Da Administração Pública”, Seção III “Dos Servidores Públicos Militares”. Diz o texto: Artigo 42 – São servidores militares federais os integrantes das Forças Armadas e servidores militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal, os integrantes de suas polícias militares e de seus corpos de bombeiros militares. 26 1.2. Legislação Infraconstitucional Após a Constituição Federal, a lei mais importante que trata da definição, competência, finalidade e organização da PMESP é o Decreto Lei 667, de 02 de julho de 1969. 1.3. Constituição do Estado de São Paulo Constituição do Estado de São Paulo, promulgada em 05 de outubro de 1989, na qual encontramos matéria que dispõe sobre a Segurança Pública, a Polícia Militar e os integrantes da Corporação, com destaque para o seguinte: Título III, “Da Organização do Estado”, Capítulo II ”Dos Servidores Públicos do Estado”, Seção II “Dos Servidores Públicos Militares”: Art.138 – São servidores públicos militares estaduais os integrantes da polícia Militar do Estado. § 1.º - Aplica-se, no que couber, aos servidores a que se refere este artigo, o disposto no art. 42 da Constituição Federal. § 2.º - Naquilo que não colidir com a legislação específica, aplica-se aos servidores mencionados neste artigo o disposto na seção anterior. No seu Capítulo III “Da Segurança Pública”, Seção I “Disposições Gerais”: Art. 139 – A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e patrimônio. § 1.º - O Estado manterá a segurança pública por meio de sua polícia, subordinada ao Governador do Estado. § 2.º - A Polícia do Estado será integrada pela Polícia civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros. § 3.º - A Polícia Militar, integrada pelo Corpo de Bombeiros, é força auxiliar, reserva do Exército. 27 Ainda na sua Seção II, “Da Polícia Militar”: Art. 141 – À Polícia Militar, órgão permanente, incumbe, além das atribuições definidas em lei, a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Na Polícia Militar do Estado de São Paulo, registramos as definições e conceitos contidas no MANUAL BÁSICO DE POLICIAMENTO OSTENSIVO DA POLÍCIA MILITAR (M-14-PM) publicado no Bol G PM 213/932, que estabelece um verdadeiro glossário do vocabulário jurídico e técnico policial. Acompanhando a dinâmica evolutiva da Sociedade, foram publicadas as NORMAS PARA O SISTEMA OPERACIONAL DE POLICIAMENTO PM (NORSOP), através da DIRETRIZ Nº PM3-008/02/06, de 01AGO063, estabelecendo normas e mesmo revalidando conceitos e definições para as competências e atribuições legais da Milícia Bandeirante. Destarte, A polícia ostensiva é uma das faces mais visíveis do estado e sua atuação é fundamental na determinação do grau de segurança subjetiva da população, além de empregar uma imagem de ordem às relações cotidianas das pessoas. A polícia comunitária implica a tentativa de certa reorganização operacional da polícia brasileira, uma vez que institucionaliza uma maior preocupação com a qualidade da interação entre agentes policiais e a população. 2 M-14-PM – Manual Básico de Policiamento Ostensivo- Setor Gráfico do CSM/M Int 1.993-2ª Edição Tiragem: Publicado no Bol G PM 213/93. 3 NORMAS PARA O SISTEMA OPERACIONAL DE POLICIAMENTO PM (NORSOP), através da DIRETRIZ Nº PM3-008/02/06, de 01AGO06 28 2. Aspectos Legais e Éticos do Uso da Força. Pelo conceito moderno, adotado pelo direito, o poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público, tem por atributos a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilidade, além do fato de corresponder a uma atividade negativa. No direito brasileiro, encontra-se o conceito legal de poder de polícia no Código Tributário Nacional: Art. 78 – Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando o direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos. 2.1. Abordagem Policial 2.1.1. Polícia e a Preservação da Ordem Pública na busca da harmonia e paz social 29 A paz, a estabilidade e a segurança numa cidade, num Estado ou mesmo num país, em grande medida, dependem da capacidade de suas organizações de aplicação da lei em fazer cumprir a legislação nacional garantindo os direitos e exigindo o cumprimento dos deveres da população. No cumprimento de sua missão constitucional as polícias militares realizam várias operações preventivas como: policiamento ostensivo, blitz (bloqueios), buscas pessoais, dentre outras, com o intuito de evitar a prática de delitos e garantir a ordem pública. 2.1.2. Abordagem Policial – Aspectos da Relação Interpessoal com o Cidadão A abordagem policial envolve invasão da intimidade e da privacidade das pessoas, podendo, dependendo da pessoa e da situação, produzir ações constrangedoras e muitas vezes reações emocionais e agressivas. É preciso que o policial esteja preparado para essas situações e equipado conceitualmente com critérios de ações que incorporem o respeito à dignidade humana das pessoas que estarão submetidas ao seu poder. 30 3. Obrigações das Autoridades pelo Uso da Força Portanto, sintetizando o enunciado acima, é certo que ao policial cabe agir de ofício para preservar e manter a ordem pública, estando legitimado a fazer o uso da força dentro da legalidade, isto de forma técnica, assunto que abordaremos mais amiúde ao seu tempo neste trabalho, sendo apesar da primeira afirmação de que a profissão policial não se guia por padrões imutáveis, uma ocorrência e sempre diferente da outra, porém é crível que existem similitudes das ações humanas no teatro social, e que é possível o treinamento de técnicas para fazer face aos fatos e atos humanos agressivos à sociedade, pois é certo que a prática e experiência de situações análogas é o grande laboratório de criação e aperfeiçoamento das técnicas policiais. 3.1. Legalidade e Legitimidade do Uso da Força e Controle da Atividade Policial No “encontro entre polícia e população”, o policial, no cumprimento de sua missão constitucional, pode para conter o suspeito utilizar da força para quebrar a resistência do infrator dentro dos princípios legais. Conforme afirma LIMA4: 4 LIMA, João Cavalim de. Atividade Policial e Confronto Armado – 1ª ed. – Juruá – Curitiba – 2007. p. 18. 31 “A polícia não constitui uma profissão em que se possa utilizar soluções padronizadas para problemas padronizados que ocorrem em intervalos regulares. Trata-se mais da capacidade de compreender o espírito e a forma da lei, assim como as circunstâncias únicas de um problema particular a ser resolvido. Espera-se que os agentes da lei tenham a capacidade de distinguir entre inúmeras situações que se adaptam apenas a uma única norma legal e necessitam de soluções diferentes.” As palavras-chave na aplicação das leis são: - Negociação; - mediação; - persuasão; - resolução de conflitos. Comunicação é o caminho preferível para alcançar os objetivos da aplicação da lei. Contudo, se os objetivos da aplicação da lei não podem sempre ser atingidos pelos meios de comunicação, permanecendo basicamente duas escolhas. Ou a situação é deixada como está e o objetivo da aplicação não será atingido, ou os encarregados da aplicação da lei decidem usar a força para alcançar o objetivo. Os legisladores concedem a suas organizações policiais autoridade legal para usarem a força, se necessário, para servirem aos propósitos legais da aplicação da lei. Isto significa que as forças policiais têm o dever de usar a força se, em dada situação, o objetivo não puder ser alcançado de outro modo. Apenas em situações em que o uso da força seria considerado inapropriado de acordo com as circunstâncias, isto é, dada a importância do objetivo a ser alcançado e a quantidade de força requerida para realmente atingi-lo, a força não deveria ser usada. 3.2 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo Os Princípios Básicos sobre o Uso da Forçae Armas de Fogo (PBUFAF) foram adotados no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 07 de setembro de 1990. Apesar de não ser um tratado, o instrumento tem como objetivo 32 proporcionar normas orientadoras aos Estados-Membros, na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos encarregados da aplicação da lei. 3.3. Atuação da Polícia no Uso da Força Legal A constituição da República Federativa do Brasil subordina o Estado, e seus agentes (os policiais entre eles), ao respeito à legalidade e a dignidade humana. Nas relações entre Estado e cidadãos, os poderes de coerção e os meios de constrição que a autoridade está legitimamente autorizada a exercer e utilizar só se justificam se voltados para a garantia da paz social e do exercício dos direitos e garantias fundamentais. O exercício do poder está limitado pela Constituição e pela lei e não deve violar ou agredir ou negar a dignidade humana. O policial tem de estar apto a cumprir seu dever de aplicação da lei e de prestação de assistência em situações em que seja necessário. Poder e autoridade estão relacionados, entre outros, à detenção e ao uso da força e da arma de fogo. O policial, autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso letal de arma de fogo em situações em que se torna necessário e inevitável para os propósitos legais da aplicação da lei, cria, em toda ação policial, uma situação na qual policiais e membros da comunidade se encontram em lados opostos. Esse relacionamento será ainda mais prejudicado no caso de uso de força ilegal, isto é, desnecessária e desproporcional. Anos de boas práticas de policiamento e de confiança da comunidade podem ser comprometidos por único ato de uso excessivo de força ou menos pela percepção de seu cometimento. Assim, todo policial deve conhecer os princípios e pressupostos essenciais para o uso da força: Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e Conveniência. Legalidade, o policial deve amparar legalmente sua ação atendendo os seguintes pressupostos: Necessidade, ação utilizada pelo policial é a menos danosa para se atingir o objetivo desejado. 33 Proporcionalidade, a ação policial está conforme a resistência do suspeito/agressor. Conveniência, mesmo sendo legal, necessária e proporcional há de se observar a conveniência da ação, ou seja, a ação não pode trazer danos a pessoas externas a abordagem. Legal, Necessário, Proporcional, Conveniente, Estes princípios exigem, respectivamente, que a força somente seja usada pela polícia quando estritamente necessária para fazer cumprir a lei e manter a ordem pública, e que a aplicação da força seja proporcional, isto é, só seja aplicada na medida exigida pelos legítimos fins do cumprimento da lei e da manutenção da ordem pública, e que essa força não atinja a terceiros. O uso arbitrário da força é uma violação aos direitos humanos e, consequentemente, do direito penal. O policial, antes, responsável por manter e preservar direitos, acaba por se tornar um violador de normas, um infrator. Na atividade policial o uso arbitrário da força, ou uso da violência é considerado um impulso arbitrário, um ato ilegal, ilegítimo, amador. Enquanto que o uso da força é um ato discricionário, legítimo, legal, profissional. 3.4. Código de Conduta Policial Todas as Instituições Policiais possuem o seu próprio código de conduta, o qual de forma explícita ou implícita regula o comportamento dos agentes da lei no Uso da Força. Porém existem normas internacionais que servem de parâmetro, como o Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL). Este código busca criar padrões para práticas de aplicação da lei que estejam de acordo com as disposições básicas dos direitos e liberdades humanos. Por meio da criação de uma estrutura que apresente diretrizes de alta qualidade ética e legal, procura influenciar atitude e o comportamento prático dos encarregados da aplicação da lei. O código reconhece que o mero conhecimento dos Direitos Humanos, por si só, não é suficiente para dar corpo à noção de manutenção e sustentação dos Direitos Humanos. A experiência do público e sua percepção de qualidade, com os 34 direitos e liberdade básicos, é formulada nos contatos dos agentes do Estado, como, por exemplo, os encarregados da aplicação da lei. É esta a razão pela qual o ensino dos Direitos Humanos aos encarregados da aplicação da lei não pode ser visto separadamente de sua implementação e aplicação na realidade diária. No artigo 3.º do CCEAL está estipulado que: “Os encarregados da aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida ao cumprimento do seu dever.” As disposições do código de conduta enfatizam que o uso da força pelas agências e forças policiais deve ser excepcional e nunca ultrapassar o nível do razoavelmente necessário para se atingir os objetivos legítimos de aplicação da lei. O uso da arma de fogo deve ser visto como medida extrema. O policial deve ter sempre em mente, ao executar uma abordagem, que para cada grau de risco ou ameaça corresponde a um nível de resposta da organização policial. O policial disciplinado e profissional reconhece a importância do seu trabalho, alinhando sua conduta a questões de natureza ética com o uso da força. A ação de cada policial tem forte relação com a imagem e a percepção da organização policial. Numa abordagem o policial desconhece a reação do suspeito quando da presença dos policiais, sendo necessário que reconheça qual situação está presente no momento da abordagem. E, dentro dessa situação, saiba qual nível de força deva ser empregada com o intuito de evitar excessos ou abusos. Dentro dessa afirmação o Manual de Prática Policial5 da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais é elucidativo (2002, p. 78): Basicamente os suspeitos com que você lida se enquadram em uma das seguintes situações: a) Normalidade 5 MINAS GERAIS. Polícia Militar. Abordagem, Busca e Identificação. Manual de Prática Policial Nº 1. Belo Horizonte, 1981. 35 É a situação rotineira do patrulhamento em que não há a necessidade de intervenção da força policial. b) Cooperativo O suspeito é positivo e submisso às determinações dos policiais. Não oferece resistência e pode ser abordado, revistado e algemado facilmente, caso seja necessário prendê-lo. c) Resistente passivo Em algumas intervenções, o indivíduo pode oferecer um nível preliminar de insubmissão. A resistência do sujeito é primordialmente passiva, com ele não oferecendo resistência física aos procedimentos dos policiais, contudo não acatando as determinações, ficando simplesmente parado. Ele resiste, mas sem reagir, sem agredir. d) Resistente ativo A resistência do individuo tornou-se mais ativa, tanto na amplitude quanto em intensidade. A indiferença ao controle aumentou a um nível de forte desafio físico. Como exemplo, podemos citar o suspeito que tenta fugir empurrando o policial ou vítimas. e) Agressão não letal A tentativa do policial de obter uma submissão à lei chocou-se com a resistência ativa e hostil, culminando com um ataque físico do suspeito ao policial ou a pessoas envolvidas na intervenção. f) Agressão letal Representa a menos encontrada, porém mais séria ameaça à vida do público e do policial. O policial pode razoavelmente concluir que uma vida está em perigo ou existe a probabilidade degrande dano físico as pessoas envolvidas na intervenção, como resultado da agressão. 36 Para conter o suspeito durante uma abordagem policial é necessário o uso da força para quebrar a resistência. Os níveis de força apresentam seis alternativas adequadas ao uso da força legal. O Manual de Prática Policial descreve que cada situação enfrentada pelo policial é única. O bom julgamento e as circunstâncias de cada uma delas ditará o nível de força que o policial utilizará. As circunstâncias são percebidas pelos policiais de acordo com o ambiente e a ação do suspeito abordado. Já na sua obra, Lima6 aponta que no encontro de um ou mais policiais com civil(s) propõe a identificação de três níveis de respostas e respectivos subníveis, como segue: 1) Encontro cooperativo – o cidadão é extremamente cooperativo com as ordens emanadas pela autoridade policial. 2) Encontro resistente – o cidadão é revel à ordem policial, porém não emite ações agressivas que exijam o uso de resposta de defesa por parte do policial, sendo que essa resistência se classifica em três subtipos, ou seja: (1) Resistente passivo – ele não tenta fugir, mas também não segue a orientação do policial como, por exemplo, fica estático, agarra-se a um poste, etc. (2) Resistente ativo – quando o civil resiste à ação sem, contudo agredir o policial, opondo forte resistência física a sua atuação, como espernear-se, debater- se, resistir à entrada da viatura, gritos desesperados, etc. (3) Agressivo – o cidadão agressivo constitui-se naquele que imediatamente à aproximação policial e logo após a abordagem, reage violentamente, sendo que este tipo de resposta divide-se em quatro subtipos: (a) Primeiro nível – O movimento do civil contra o policial envolve tentativa de contato físico, e provavelmente essa ação não causará danos físicos significantes no policial, a não ser exigir um esforço físico. 6 LIMA, João Cavalim de. Atividade Policial e Confronto Armado – 1ª ed. – Juruá – Curitiba – 2007. p. 29/30. 37 (b) Segundo nível – Envolve provavelmente contato físico na tentativa de agressão contra o policial, exigindo o emprego de técnicas de defesa pessoal ou emprego de outro meio não letal para defesa. Geralmente os resultados envolvem o uso de força física, lesões corporais, etc. (c) Terceiro nível – Envolve ações que provavelmente provocarão danos físicos ou ameaça à vida de policiais ou civis inocentes. O modo de ação envolve armas brancas, veículos, objetos contundentes, armas de fogo ou grupo de agressores em número maior que as forças policiais. (d) Quarto nível – Refere-se especificamente à recepção do policial pelo cidadão através de confrontos armados, sem possibilidade de abordagem verbal ou outros meios. A forma de avaliar o emprego de força contra agressores da lei e da ordem, da sociedade de uma forma geral, deve ser objetiva, podendo essas fases ocorrerem individualmente ou progressivamente e a ação do policial ser adequada a cada uma das fases e seu preparo psicológico para entender essas fases é essencial para que não acabe provocando evolução de uma fase para outra. 3.5. Tipos de Uso de Força O uso da força pela Instituição Policial não se restringe apenas ao uso da arma de fogo, a mais divulgada pela mídia e mais temida por todos, mas também existem outros tipos de emprego do uso da força, intencional ou não, que aparentemente não são letais e podem ser usados e que incluem: - perseguição (acompanhamento) em altas velocidades; - técnicas de defesa pessoal como a “asfixia”; - ataques com cães policiais; - aparelho de choque; - agentes químicos; - emprego de equipamentos como o bastão. 38 Para auxílio na compreensão do tema, LIMA7 , afirma “não há nenhum consenso do que se constitui ‘Força Mortal Policial’, pois que eles sempre têm uma gama de opções de qual escolher uma situação de confrontação (tático). Estes níveis são descritos frequentemente, condições do uso necessário da força.” Neste entendimento cita Desmedt e Pântano (1990) que definiram os níveis seguintes de resposta policial quanto ao uso contínuo da força mortal: 1) Controle Social: Constitui-se no uso da imagem e da presença do policial para gerenciar a situação de risco. A presença física do policial na cena pode impedir uma situação violenta, porém, se o policial não estiver preparado psicologicamente para gerenciar situações de risco ou de alta tensão, sua presença pode induzir ao pânico ou ao aumento da agressividade no local. 2) Controle verbal: O emprego de uma linguagem verbal adequada pode proporcionar uma obediência ou uma resposta agressiva por parte do civil abordado. O emprego da terminologia certa para o momento, com a intensidade e tonalidade necessárias pode solucionar uma ocorrência ou terminar de forma trágica, sendo necessário bastante treinamento, por parte do policial, na sua execução. 3) Técnica de Neutralização: As técnicas de neutralização provocam um aturdimento temporário, eliminando a resistência, sem causar danos físicos permanentes (em geral). O uso dessas técnicas subjuga temporariamente e provoca desorientação no oponente em curto prazo. Golpes em pontos vitais: o impacto de golpes fulminantes em pontos vitais, seja nos músculos, esqueleto ou pontos sensíveis do oponente, pode provocar lesões corporais, porém é uma técnica não letal de enorme valia no controle do agressor. 4) Imobilização: Técnica empregada no contato corpo a corpo, com o uso do bastão, bastante eficiente, podendo provocar sérias lesões corporais. 5) Dispositivos de choque: Arma de descarga de choques elétricos, não letal, tendo como desvantagem a dificuldade de imobilização e possíveis consequências colaterais para pessoas com determinados históricos de doenças, 7 LIMA, João Cavalim de. Atividade Policial e Confronto Armado – 1ª ed. – Juruá – Curitiba – 2007. p. 18. 39 como, por exemplo, as que usam marcapasso, não sendo assim aceitas como instrumento de defesa policial. 6) Agentes químicos: Essa classe de opção de controle de oponente tem uma variedade de substâncias químicas e com efeitos diversos, conforme sua composição e a reação das pessoas. Estas podem provocar os seguintes problemas: a) incapacidade imediata, não garantida; b) efeitos imprevisíveis no oponente, variando da neutralização para a reação violenta. 7) Armas de Fogo: Instrumento policial de emprego extremo, devendo ser usado apenas para a proteção à vida. São diversas as armas que podem ser empregadas pelo agente policial, sempre adequadas à situação específica. 3.6. Níveis do Uso da Força Legal A força utilizada deve ser calcada na situação imediata que o policial enfrenta. A força utilizada tardiamente caracteriza punição ao indivíduo, não sendo competência do policial julgá-lo, proferir e executar a sentença. O objetivo é utilizar a força para neutralizar o indivíduo em sua ação que caracterize desrespeito às lei, ou que possa causar mal à sociedade em que esse indivíduo convive. É importante definir que o agressor é quem comete a ação e o policial apenas reage, gerando uma resposta defensiva. O nível de ameaça que o agressor representa é proporcional à força que será utilizada para contê-lo. A avaliação da situação deve ser a somatória de vários fatores relacionados ao policial e ao agressor, como, por exemplo, a idade, o sexo, tamanho, porte, preparo físico, nível de habilidade e relação numérica, bem como circunstâncias especiais, como a proximidade do oponente a uma arma de impacto ou de fogo,o conhecimento de informações relevantes sobre a periculosidade do oponente, o fato de o agente de segurança estar ferido ou exausto ou em posição vulnerável, etc. Um policial sozinho pode utilizar um nível de força maior contra vários oponentes, mas, se o oponente for muito mais fraco, representando um risco menor, 40 é recomendado não escalar no uso da força. A percepção da totalidade da situação deve proporcionar a escolha e dosagem do nível de força que será utilizado para conter o agressor. Em casos onde o agressor está nervoso é recomendado negociar, tentando diminuir a tensão, como, por exemplo, se a situação envolve reféns, um bom negociador pode fazer o marginal se entregar preservando tanto a vida do próprio marginal quanto a dos reféns. Numa situação, com presença de um familiar nervoso ou um agente de segurança em público, devemos optar por técnicas que não causem constrangimento, ao mesmo tempo em que se preserva a integridade física do agressor. Nesses casos é altamente recomendado o uso de técnicas de imobilização. (grifei) Em alguns casos, por não termos o treinamento necessário par aplicar uma técnica de controle ou para restringirmos os movimentos, o uso de armas não letais intimida o agressor e inibe a escalada da violência. É mais difícil para o agressor avançar contra um policial que exibe seu bastão ou que usa um agente químico. A última opção é o uso de armas letais, e se justifica em situações de legítima defesa, especificadas na lei. São importantes o bom senso, prudência e responsabilidade, além, é claro, do treinamento adequado. É importante ressaltar que podemos pular etapas no gradiente de força, no caso de uma pessoa estar apenas agredindo verbalmente o policial, e tentarmos negociar, este escala na violência e tira um revólver repentinamente. Podemos, então, fazer uso de meios letais para nos defender. As circunstâncias do momento é que irão determinar a melhor resposta. Existem subníveis, em cada nível de força, que devem ser constantemente treinados para que em uma situação de risco possa o policial decidir rapidamente qual a resposta adequada para cada situação. Escala de Proporcionalidade do Uso da Força TIPO SITUAÇÃO AÇÃO NÍVEIS 41 PREVENTIVO Posicionamento; Postura; Presença Menos força. Ameaça verbal; Ordem; Negociação; Aviso Voz do policial. REATIVO Resistência passiva Uso do corpo; Controle de contato. Resistência ativa Chave de braço; Ponto de pressão; Controle físico. Agressão não letal Armas não letais; Golpes contundentes Força não-letal. Armas Força letal Força letal. Tabela 1 – Escala de Proporcionalidade do Uso da Força Situação e Resposta no Uso da Força Legal RISCO RESPOSTA Agressão letal Força letal Agressão não-letal Força não-letal Resistência ativa Controle físico Resistência passiva Controle de contato Tabela 2 – Situação e Resposta no Uso da Força Legal 3.7. Os Elementos do Uso da Força Legal Os estudiosos em polícia enfatizam a necessidade de se medir a quantia de força usada por agentes policiais e por suspeitos. A tarefa de medir a quantia de força requer o conhecimento dos comportamentos específicos dos atos do que se constitui a “força” e a quantidade de força empregada em cada situação. Estudos do Instituto Nacional de Justiça do Departamento de Justiça dos Estados Unidos identificam cinco elementos de força: armas, táticas de defesa pessoal, restrições, movimento e voz. 1) Armas – Há consenso geral de que o uso de uma arma constitui uso de força e que o uso de certos tipos de arma, por exemplo: carabinas e rifles, envolvem mais força que outras armas como bastões e armas de gás (tipo spray de pimenta). O que não é muito claro é o significado “uso”. Por exemplo, uma arma de fogo tem que ser descarregada para ser usada? Também não é clara a de aceitação pacífica 42 por especialistas, se a posse, ameaça de uso, ou exibição de uma arma constitui uso de força por policiais ou por suspeitos. 2) Táticas de defesa – Os policiais utilizam e são treinados para usar uma variedade de táticas de defesa, desde técnicas de asfixia, até segurar o suspeito ou detido pelo braço. Cada uma destas táticas envolve contato físico entre o policial e o suspeito e não envolve uso de objetos específicos para aplicar o uso da força. 3) Restrições – Um elemento de força que os policiais adotam bastante é o uso de restrições. São listados três possíveis tipos de restrições: algemas, revista e chave de braço. O uso de restrições é frequente, mas não universal. Algemar é tipicamente percebido como emprego de força, apesar de ser uma defesa do policial contra o agressor. Esta técnica está sujeita a sérias restrições legais, mas que, em nossa compreensão de força, poderia incluir no uso de restrições mais severas, por exemplo, os casos de controle com o suspeito ajoelhado ou deitado no chão. 4) Movimento – Um aspecto de encontros de polícia-público em situações de confronto é a fuga de suspeitos e perseguição policial ou tecnicamente chamada de acompanhamento tático. Embora a maioria das pesquisas e discussões de política no uso de força fale de fuga ou perseguição, incluímo-los como elementos potenciais de força. 5) Voz – É um elemento potencial de força, que a polícia emprega para controle dos suspeitos. As pesquisas policiais listaram quatro categorias de voz ou comando policial: sociável, comandos, gritando e ameaças verbais. Embora o principal do que se entende como típico uso de força não envolva o que é dito, mas o que é determinado, a natureza da comunicação verbal, especialmente se envolver ameaças, enquanto gritando, pode ser um elemento de força e precisa ser incorporado em como nós entendemos, como limite de força. 3.8. Medidas de Força O uso da força tem limite ou medidas, e estudos classificaram-na, para efeito de análise, em força física, ameaça de vantagem de força física, quantidade contínua de força e força máxima. Cada uma dessas medidas é um resumo de comportamentos derivados, combinando ações específicas dos agentes policiais e suspeitos em diferentes modos. É reconhecida a probabilidade de que nenhuma 43 medida capture bem todos os enfoques diferentes do uso de força. Assim, as pesquisas usam medidas múltiplas de força para incorporar, mais precisamente os vários modos nos quais a força e conceptualizada pela polícia, o público e investigadores. 1) Força Física – A primeira medida é uma dicotomia conceitual tradicional das preocupações dos especialistas, estudiosos e principalmente organizações de defesa dos direitos humanos: quando a força física pode ou não ser usada? Para a concepção policial é preciso definir o uso da força física de policiais e para suspeitos de forma paralela, mas de maneira ligeiramente diferente. Para as demais instituições não policiais, a definição de força física inclui qualquer abordagem na qual qualquer arma ou tática de defesa pessoal são usadas. Para a polícia e para suspeitos, o emprego de força física na abordagem policial é quando os mesmos usam restrições mais severas, como agressão, algema, chaves de braço, etc., porém dentro de uma técnica ou procedimento padrão aprendido no curso do treinamento policial. 2) Ameaça de vantagem de força física – A segunda medida inclui todos os elementos de força física mais a soma do uso de ameaças e exibições de armas. Esta medida combina força física atual com ameaças de força. Além de ser esta combinação imprópria para algunspropósitos, são comuns as reclamações de civis do uso de ameaças por parte de policiais que, apesar do uniforme, armas e força física, ainda se socorrem do uso de ameaças de sua condição para intimidar o oponente. 3) Quantidade contínua de força – A terceira medida, estabelece as posições de força geralmente usadas através das instituições policiais para indicar níveis distintos de resistência civil e níveis de resposta policial. A quantidade contínua de medidas de força tem uma posição natural de categorias do menos forte para o mais forte, considerando a diferença entre presença do policial, as ordens emanadas e o uso da arma letal. Ela envolve sequencialmente a resistência à ação policial ou o uso da força e quando esses fatores não forem suficientes para o controle do civil, o agente policial, no cumprimento de sua missão, aumenta a intensidade de seu repertório de respostas. 44 4) Força máxima – A concepção de uso da força máxima compreende o exercício máximo do poder de polícia para restabelecer uma ordem violada e à resistência do civil à ordem policial, obrigando-o a utilizar-se sequencialmente das medidas de força para cumprimento de sua missão. Em algumas situações as medidas de forças não são sequenciadas, podendo o policial partir para a última medida, como o uso direto da força letal, para poder sobreviver. 3.9. Fases Dinâmicas do Encontro Na falta de obras ou artigos específicos na área de Defesa Pessoal, especificamente no combate corpo-a-corpo, será utilizada descrição da Dinâmica de Encontro Mortal, elaborada por Salomon (1990), citado por LIMA8, que descreveu cinco fases dentro de uma dinâmica de encontro mortal em potencial que pode ser enfrentado por um policial. Essas fases são extremamente flexíveis, podendo o policial pular as fases instantaneamente, como da fase 01 para a fase 05. O tempo para cada fase depende da dinâmica do evento, assim como a velocidade de reação para cada fase depende da capacidade individual de cada policial. Essas fases são: 1) Primeira fase – Preocupação – O policial tem elementos para se preocupar com uma situação aparentemente normal, mas que pode ter potencial em transformar-se numa situação problemática. 2) Segunda fase – Alerta de vulnerabilidade – O policial pode acreditar que está ficando vulnerável a uma ameaça pessoal ou pode perder o controle imediato de uma situação. 3) Terceira fase – Mudança de foco – Ocorre uma mudança cognitiva da fase de foco interno de vulnerabildade percebida para estratégias de ação. 8 Apud LIMA, João Cavalim de. Atividade Policial e Confronto Armado – 1ª ed. – Curitiba – Juruá – 2007. p. 30. 45 4) Quarta fase – Sobrevivência – A possibilidade de ameaça à vida do policial pelo agressor contínua e a percepção se estreita para focalizar-se apenas na ameaça e nesse momento são elaboradas estratégias de ação. 5) Quinta fase – Luta ou vôo – O policial ocupa-se de estratégias de sobrevivência como única opção viável à ameaça percebida à sua vida. Na mesma obra Scharl e Agudo (1983) elaboraram outras concepções para análise de fases identificáveis de encontros de altos riscos, assim descritas: 1) Fase da antecipação – Essa fase envolve o período no qual o policial toma conhecimento da necessidade de uma intervenção (ocorrência) até a chegada ao local do evento. 2) Fase da entrada na cena – É a fase em que o policial entra em cena fisicamente e faz contato inicial com o cidadão. Elaboram-se decisões táticas sobre a cobertura e as melhores técnicas de ação no evento percebido. 3) Diálogo e informação (fase de definição) – É a fase na qual o policial faz avaliação da situação, estabelece prioridades, ordem na situação ou tenta do problema, possíveis soluções ou ambas, visando solucionar a ocorrência. 4) Fase das táticas e de controle não-letais – O policial analisa e considera qual é a tática de controles não-letais poderá utilizar efetivamente para solucionar ou não a ocorrência. 5) Fase de decisão final – Nesse ponto crítico, o policial tem que tomar a decisão sobre se utiliza ou não sua arma de fogo. 6) Fase do resultado – São consequências pós-evento, seja institucional, administrativo ou jurídico relacionado ao encontro. Autores policiais acreditam que a elaboração de tais pensamentos ocorre de modo semelhante ao agressor. O medo das consequências é contagioso. Se o policial tem medo das consequências, também é provável que o agressor o tenha. A capacidade que uma pessoa tem para responder a uma situação estressante envolve uma relação complexa entre estimulação e percepção do fato e a capacidade de responder eficazmente e efetivamente ao fato. 46 4. Dimensões do Perfil Policial O trabalho policial, assim como todas as profissões, exige de seus integrantes um perfil específico adequado às dimensões do trabalho que irá enfrentar. A avaliação psicológica assume, nessa fase, uma importância vital, pois qualquer erro praticado pelo agente da lei vai, por conseguinte, refletir no seu desempenho futuro e na própria instituição, visto que esse erro assume quatro dimensões distintas: 1) Afeta diretamente o cidadão, vítima do despreparo ou erro policial; 2) Afeta a imagem da instituição à qual pertence, maculando sua imagem e a confiabilidade pública; 3) Afeta genericamente a sociedade que deve ser protegida pelo aparelho de segurança; 4) Afeta o próprio policial que tem prejuízos funcionais com o seu desempenho. 4.1. Perfil Exigido Segundo Lima (2007, p.35/38), foram identificados diversos perfis, que são necessários na execução das atividades policiais, ou seja, perfil exigido conforme estudos elaborados por especialistas em análise ocupacional e perfis profissiográficos ideais para o policial, requerendo os seguintes itens: 47 1) Autoridade – É necessário que o agente da lei concorde e internalize que é membro de uma instituição onde deve aderir prontamente às ordens, acatar as políticas institucionais, aceitar e respeitar os regulamentos, procedimentos operacionais, orientações de seus superiores tanto na área administrativa como nas atividades operacionais ou de campo. 2) Atenção aos detalhes – Muitas tarefas atribuídas aos policiais são bastante complexas, saindo do modelo de tarefas rotineiras. Atuando em ocorrências difíceis como local de morte, incêndios, conflitos civis, acompanhamentos táticos, confrontos armados, etc., requerem do agente da lei atenção aos detalhes, elementos essenciais para o sucesso de sua atividade. 3) Controle emocional – Rotineiramente, os policiais atuam em situações de alto risco ou simplesmente pequenas ocorrências nas quais são submetidos a pressões psicológicas, confrontados moral e psicologicamente por cidadãos que usam de agressões verbais e ofensas. Todavia, o policial deve manter o controle emocional e o autocontrole para poder executar sua missão de maneira adequada. 4) Resistência – A necessidade de atuar eficaz e eficientemente às mesmas tarefas por longo período de tempo ou continuar a executá-las eficazmente , quando desgastado física e mentalmente, requer do agente da lei uma resistência acima do normal. A característica específica da atividade policial, tanto pelos aspectos da emoção como pela rotina de poucas atividades, em determinados turnos, jornadas ou horários pode criar fadiga, e não obstante esses fatores, o policial deve superar-se e desempenhar a missão com eficiência. 5) Inteligência – Potencial individual para
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