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CCJ0043-WL-B-AMRP-02-Objetos de Estudo da Filosofia Jurídica

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AULA 2 – Filosofia Geral e Jurídica 
Título da unidade: Filosofia: Origem, conceito e objeto. 
Tema: Objetos de estudo da Filosofia Jurídica 
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: 
 Conhecer o conceito de Filosofia jurídica; 
 Estudar os objetos de investigação da Filosofia Jurídica; 
 Compreender o valor da Filosofia para uma leitura crítica das doutrinas 
jurídicas. 
 
O que é Filosofia Jurídica? Que significa incluí-la no curso de Direito? Que conexão 
existe entre Filosofia e Direito? 
 
Cretella Jr.( 2006, p. 4) afirma que Gustavo Hugo, um dos fundadores da Escola 
Histórica, teria usado a expressão “filosofia do direito” pela primeira vez, quando 
elaborou a obra editada em 1797, denominada de Tratado do direito natural ou 
Filosofia do direito positivo. Observa, ainda, que 
O estudo do direito, em qualquer dos aspectos em que se 
desdobra, não pode desvincular-se do estudo da filosofia, a não 
ser que se pretenda ter do mundo jurídico apenas uma visão 
técnica e prática, imediatista e utilitária. Na realidade pode-se 
advogar mediocremente (e até razoavelmente) sem conhecer 
filosofia do direito, mas não pode haver jamais um expoente, 
na arte de advogar, que não conheça lógica, filosofia e filosofia 
do direito, porque é impossível versar grandes questões de 
direito com o emprego tão-só da técnica de advogar. 
 
Segundo Herkenhoff( 2010, p. 19), por ocasião da fundação dos cursos jurídicos em 
Olinda e São Paulo, em 11 de agosto de 1827, o currículo apresentava a disciplina 
‘Direito Natural” no sentido de uma disciplina propedêutica.Assim permaneceu até 
1891, até a reforma de Benjamim Constant.Com a reforma a disciplina passou a ser 
designada como “Filosofia e História do Direito”, ministrada do primeiro ano do curso. 
Em 1895, a disciplina foi desdobrada e passou a ser “Filosofia do Direito”. Todavia em 
1931, ocasião da organização da Universidade do Rio de Janeiro, a disciplina foi 
substituída pela “Introdução à Ciência do Direito” e passou a integrar o currículo do 
Doutorado em Direito.Atualmente, a “Filosofia” e a “Filosofia do Direito” são 
disciplinas obrigatórias. 
 
No caso particular da Filosofia Jurídica, percebemos que em todas as épocas se 
meditou sobre o problema dos fundamentos do Direito e da Justiça. Assim, podemos 
dizer que a Filosofia Jurídica (BITTAR; ALMEIDA, 2004, p. 50-54): 
• É um saber crítico a respeito das construções jurídicas e práticas do Direito; 
• Apresenta como tarefa buscar os fundamentos do Direito; 
• É uma reflexão atenta às modificações no mundo jurídico e seus institutos; 
• Oferece suporte reflexivo ao legislador; 
• Desvela as ideologias que fundam certas práticas jurídicas. 
Considerando tais afirmações podemos dizer que uma filosofia jurídica é o campo de 
investigação da Filosofia que tem por objeto o Direito. Esta área de saber pode ser 
estudada do ponto de vista filosófico, por filósofos de formação ou por juristas, 
focalizando temas como Justiça, Propriedade, Liberdade, Igualdade, o conceito de 
Direito, Legitimidade das normas e o papel do Direito nas sociedades. 
Se buscarmos uma história da Filosofia Jurídica teremos que percorrer um caminho 
que parte da investigação filosófica sobre temas considerados jurídicos. Quando tais 
temas são os objetos de investigação filosófica, estamos no âmbito de uma Filosofia 
Jurídica, parte da Filosofia. 
Outra definição relevante que precisamos considerar é a oferecida por Paulo Nader 
(2003, p. 11) segundo a qual “a Filosofia Jurídica consiste na pesquisa conceitual do 
Direito e implicações lógicas, por seus princípios e razões mais elevados, e na reflexão 
crítico-valorativa das instiuições jurídicas.” 
Vamos conhecer algumas definições? 
João Baptista Herkenhoff: 
“A Filosofia do Direito procura captar a realidade jurídica por meio de sua relação com 
as causas primeiras e os princípios fundamentais. Debruça-se sobre o estudo da 
natureza do Direito e de sua significação essencial” (2010, p. 16). 
António Braz Teixeira (Portugal) 
“a Filosofia do Direito é uma parte da Filosofia, é reflexão filosófica sobre o Direito ou 
consideração do Direito sob o ponto de vista filosófico” (TEIXEIRA apud HERKENHOFF, 
2010, p. 16). 
Miguel Reale 
“a Filosofia do Direito, esclareça-se desde logo, não é disciplina jurídica, mas é a 
própria Filosofia enquanto voltada para uma ordem de realidade, que a ‘realidade 
jurídica’. Nem mesmo se pode afirmar que seja Filosofia especial, porque é a Filosofia, 
na sua totalidade, na medida em que se preocupa com algo que possui valor universal, 
a experiência histórica e social do direito” (REALE, 2002, p. 9). 
É importante observar, ainda, a advertência que o autor (NADER, 2003, p. 3) faz, a 
saber: “Se é verdade que a condição de filósofo não se adquire por título universitário, 
senão pela constância do pensamento dialético, também é certo que somente atinge a 
situação de jurisfilósofo o jurista que exercita, como hábito, a atitude filosófica”. É 
nesse sentido, que é relevante frisar que a Filosofia jurídica provém de filósofos, 
juristas e jurisfilósofos e que é um exercício contínuo do pensamento crítico. 
Deve-se destacar neste ponto a figura do jurisfilósofo. Trata-se daquele que conhece 
as correntes filosóficas, bem como as categorias lógicas do Direito, com o objetivo de 
avaliar o rigor lógico dos conceitos jurídicos e a adequação do Direito Positivo às 
necessidades sociais atuais. 
Nas reflexões de Miguel Reale (1998, p. 9), a Filosofia Jurídica é a própria Filosofia 
voltada para a realidade jurídica, porque o Direito é um fenômeno universal que 
decorre da existência humana e o jurisfilósofo problematiza o que para o operador do 
Direito se configura como seguro. E nos sugere algumas indagações típicas dos 
jurisfilósofos: “Por que o Juiz deve apoiar-se na lei? Quais as razões lógicas e morais 
que levam o juiz a não se revoltar contra a lei, e a não criar solução sua para o caso 
que está apreciando, uma vez convencido da inutilidade, da inadequação ou da 
injustiça da lei vigente? Por que a lei obriga? Como obriga? Quais os limites lógicos da 
obrigatoriedade legal?” (p. 10). 
A Filosofia Jurídica é um estudo reflexivo sobre o Direito e se divide em dois planos de 
reflexão: o plano da reflexão epistemológica em que se observa o conceito de direito. 
Entendendo epistemologia como uma teoria da ciência, logo um estudo da ciência do 
Direito e, por outro, um plano axiológico que promove uma reflexão valorativa. Sendo 
o termo axiológico entendido como estudos dos valores. 
O que é o Direito? 
Indagar “O que é o Direito?” é uma preocupação do jurisfilósofo e provoca outras 
pesquisas importantes sobre norma jurídica como expressão do Estado; sobre coação 
como essência do Direito; se o Direito é justo e se sua efetividade é essencial à 
validade (NADER, 2003). 
Trata-se de uma investigação norteada pelos princípios éticos, mormente pelo valor 
Justiça. Um bom exemplo está nos debates contemporâneos sobre eutanásia, aborto 
de anencéfalos, tortura etc que extrapolam os limites da ciência jurídica em direção 
aos postulados éticos. Por conseguinte, enquanto na esfera epistemológica o debate 
se limita ao âmbito do Direito sob o ponto de vista conceitual, na esfera axiológica, se 
pretende uma reflexão valorativa que se preocupa com os fundamentos do agir 
correto. 
Com Radbruch (1997, p. 45) precisamos considerar o Direito mergulhado no mundo 
dos valores, porque Filosofia Jurídica considera o Direito como um valor de cultura. É 
pertinente relembrar o conceito de cultura para que se compreenda a concepção do 
Direito como fenômeno cultural e a importância que a Filosofia assume nesse 
contexto. 
O Direito nasce no mundo da vida, mundo dos fatos e valores, por isso suacompreensão precisa ser alcançada a partir de sua relação com as correntes de 
pensamento que pressupõem escolhas ideológicas. Suas normas revelam ao longo do 
tempo diferentes interpretações sobre a vida, o ser humano e seus institutos. Por isso 
é objeto de investigação da Filosofia e não pode ser investigado isoladamente. Nos 
dizeres de Paulo Nader (2011) “o fenômeno jurídico, por influenciar a vida humana, 
deve ser estudado paralelamente à análise do homem, e as suas formulações devem 
desenvolver projetos homogêneos de existência”. 
Se observarmos a história do Direito, perceberemos doutrinas com diferentes 
interpretações, muitas discussões e controvérsias na interpretação da realidade 
jurídica. E podemos dizer que os jurisfilófos contribuem para o seu desenvolvimento 
quando apresentam novos caminhos. 
Segundo Nader (2011, p. 13) o Direito comporta diferentes planos de investigação, a 
saber: na sua dimensão legal encontramos a Ciência do Direito que focaliza o 
ordenamento jurídico. Do ponto de vista factual é objeto da Sociologia do Direito e 
nesse horizonte investigam-se as relações entre o fenômeno jurídico e a sociedade. 
Sob o aspecto histórico, é objeto da História do Direito que analisa o desenvolvimento 
das instituições. Há, também, o plano comparativo em que se analisam diferentes 
experiências jurídicas – o Direito Comparado, por exemplo. 
No caso da Filosofia Jurídica, busca-se conceituar o Direito, analisar valorativamente 
seus institutos sob o pano de fundo da justiça e da segurança jurídica. 
Qual a utilidade da Filosofia para a experiência jurídica? 
Embora desinteressada, a Filosofia é útil ao Direito quando, na busca da verdade, 
fertiliza a compreensão da experiência jurídica e possibilita novos caminhos. Quando 
transcende o mundo fático epromove discussões éticas, porque a atividade jurídica 
exige a sensibilidade ética (NADER, 2011, p. 19). 
Segundo Herkenhoff (2011, p. 20), a Filosofia possui um duplo papel:na universidade, 
lugar da pesquisa, se afigura como elemento provocador de novas pesquisas; na vida 
profissional, preside o pensamento e a prática jurídica. 
O Direito como fenômeno cultural está sujeito a diversos olhares. Pode ser estudado 
sob a ótica da História, da Antropologia, da Psicologia, da Economia e, também, da 
arte. Logo, não poderia fugir à reflexão Filosófica! 
 
Referências 
BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. A. Curso de filosofia do direito. 3. ed., São Paulo: 
Atlas, 2004. 
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de filosofia do direito. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. 
HERKENHOFF, J. B. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: GZ, 2010. 
NADER, P. Filosofia do direito. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. 
REALE, M. Filosofia do direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

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