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CCJ0043-WL-B-RA-03-Filosofia Geral e Jurídica - Platão - Justiça e a Fundação do Estado

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Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e Silva 
Disciplina: 
CCJ0043 
Aula: 
003 
Assunto: 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado 
Folha: 
1 de 9 
Data: 
06/03/2013 
 
MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
Plano de Aula: Platão: Justiça e a Fundação do Estado. 
FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA 
Título 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado. 
Número de Aulas por Semana 
Número de Semana de Aula 
3. 
Tema 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado. 
Objetivos 
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: 
 
● Conhecer em linhas gerais a importância de Platão para tradição Filosófica; 
● Estudar a dualidade na Alegoria da Caverna; 
● Compreender o papel do filósofo na República e a relação entre justiça e lei; 
● Compreender a ideia de justiça retributiva apresentada no mito de Er. 
Estrutura do Conteúdo 
Unidade 2 - Fundamentos para uma Filosofia Jurídica 
 
2.1. Platão: justiça e a fundação do Estado. 
Aplicação Prática Teórica 
Orientação para realizar a atividade: 
 
O aluno deverá rever os pontos da aula ministrada por seu professor, consultar seu material didático e, se 
necessário, a biblioteca virtual da Estácio para responder e aperfeiçoar os casos concretos desta aula. A atividade 
deverá ser feita em arquivo word (.doc), com cabeçalho identificador da atividade e 
aluno/Instituição/Cursor/Campus/Disciplina/Turma/Aluno/Semana), contendo apenas as respostas fundamentadas 
e enriquecidas em pesquisa bibliográfica e com a indicação da fonte bibliográfica da pesquisa na forma da ABNT 
a ser inserida no item "Referências". As questões abaixo são discursivas, o que requer uma resposta na forma de 
redação. O arquivo deverá ser anexado no ambiente do webaula no prazo estipulado. 
 
Caso 1 - O papel do filósofo na República 
 
A discussão acerca dos melhores critérios para escolha daquele que deve governar uma determinada 
sociedade sempre foi tema de longos debates no decorrer da história. Tomando como exemplo as eleições 
americanas do ano passado, o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, surpreendeu jornalistas e 
eleitores quando anunciou sua escolha para vice-presidente: a governadora do Alasca Sarah Palin. Ela não estava 
entre os nomes mais citados nas apostas americanas, mas por ser uma figura feminina proeminente, Palin poderia 
trazer também uma boa parcela das eleitoras da ex-pré-candidata democrata Hillary Clinton. Durante a campanha, 
em razão da avançada idade de John McCain, muito se discutiu acerca da capacidade intelectual de Palin para 
administrar a mais poderosa nação do mundo. 
 
Diante da situação acima apresentada, responda: 
 
1- Que critério entendia Platão como o correto para a escolha daqueles que deveriam exercer os poderes da 
pólis? Fundamente sua resposta. 
 
RESPOSTA: A partir do dualismo platônico, desenvolver a questão do exercício do poder por aqueles que 
apresentam maior aptidão a conhecer a verdade, a justiça e a beleza: o rei-filósofo. Afinal, o governante máximo 
desta sociedade, que tem por objetivo uma perfeição assentada na razão, imaginada por Platão em "A República" 
(Politéia), era o rei-filósofo porque, segundo o pensamento desenvolvido pelo grande filósofo grego, apenas eles, 
por serem os que mais próximos estão das idéias do Bem, do Belo e do Justo, têm condições de agir como 
"condutores da sociedade", já que o governo da Razão deve sempre predominar sobre o instável Reino dos 
Sentimentos. 
 
 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e Silva 
Disciplina: 
CCJ0043 
Aula: 
003 
Assunto: 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado 
Folha: 
2 de 9 
Data: 
06/03/2013 
 
MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
2 - Pelo que você leu no texto acima e pelos seus conhecimentos acerca do processo eleitoral americano, a atual 
candidata a vice-presidência americana, muito popular entre certa camada social daquele país, cumpre os 
requisitos exigidos para exercer o poder, segundo aqueles que entendem como correta a visão platônica? 
 
RESPOSTA: NÃO. Pois as virtudes exigidas para o exercício do poder, segundo Platão, não estariam sendo 
levadas em conta. No caso em tela, segundo a reportagem, mais pesou o fato de ser a candidata do sexo 
feminino do que seu preparo para o exercício da função. 
 
Caso 2 - A relação entre justiça e lei 
 
Leia o texto abaixo, retirado do endereço eletrônico: 
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u422800.shtml 
Respondendo, a seguir, as questões que seguem: 
 
Governo argentino e ruralistas retomam disputa com protestos da BBC Brasil, em Buenos Aires 
 
Com duas manifestações que reuniram multidões em dois pontos diferentes da capital argentina nesta 
terça-feira, o governo da presidente Cristina Kirchner e os ruralistas retomaram a disputa após um período de 
trégua. Os protestos em Buenos Aires ocorreram um dia antes da votação no Senado da proposta do governo que 
prevê o aumento dos impostos sobre as exportações do setor agropecuário. (...) Em um discurso de quase 30 
minutos, o ex-presidente Kirchner fez fortes críticas aos ruralistas: "Quiseram destituir o governo nacional e 
popular (de Cristina)", disse o ex-presidente. "Damos a outra face, porque estamos em defesa do povo." Já o 
Presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens disse: "Essa medida não pode ir adiante", disse "É injusta, 
confiscatória e inconstitucional." (grifo nosso). 
 
1. A possibilidade de uma lei ser injusta é largamente discutida nos dias de hoje. A partir de uma perspectiva 
platônica de Estado, expressa na obra República, é natural que o filósofo-rei elabore regras concretas injustas? 
Justifique. 
 
RESPOSTA: NÃO. É interessante que se aborde a impossibilidade daquele que conhece o mundo essencial, agir 
em contrariedade a esse conhecimento. Nesse caso, ao conhecer a verdade e a justiça, é ilógico que o rei-filósofo 
elabore regras concretas injustas já que em "A República" a palavra do rei-filósofo poderia ser considerada justa e 
a melhor expressão das leis. 
Para Platão não, tendo em vista que quem fosse escolhido para ser o Rei seria a pessoa mais inteligente da 
Polis. Pois seria escolhido após diversas etapas em que essa pessoa superasse todos os níveis e mostrasse uma 
genialidade incomum. 
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se baseia na procura da verdade cuja posse definirá o 
verdadeiro filósofo e também o verdadeiro político. 
 
2. Tomando o caso argentino acima como referência, Platão consideraria possível que uma regra injusta pudesse 
ser emanada por um governo popular? Por quê? 
 
RESPOSTA: Platão não admitia tal possibilidade. Para ele o estado ideal deveria ser dividido em classes sociais. 
Três são, pois, estas classes: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos produtores, as quais, no organismo do 
estado, corresponderiam respectivamente às almas racional, irascível e concupiscível no organismo humano. À 
classe dos filósofos cabe dirigir a república. 
Com efeito, contemplam eles o mundo das idéias, conhecem a realidade das coisas, a ordem ideal do 
mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão, portanto, à altura de orientar racionalmente o 
homem e a sociedade para o fim verdadeiro. 
Tal atividade política constitui um dever para o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo 
é unicamente a contemplação das idéias. 
Então, compreende-se dai que, os filósofos, ao ver de Platão, eram as pessoas mais bem preparadas para 
governar. Todas as outras classes tinham seus afazeres e não deveriam se meter com o governo ou com a 
política que era apenas para eles, filósofos. 
 
 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e SilvaDisciplina: 
CCJ0043 
Aula: 
003 
Assunto: 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado 
Folha: 
3 de 9 
Data: 
06/03/2013 
 
MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
==XXX== 
 
 
RESUMO DE AULA (WALDECK LEMOS) 
 
3ª AULA – Platão - Justiça e a Fundação do Estado 
 
Platão - justiça e a fundação do Estado 
 
Debate sobre o tema. 
P/P/Aula Ler: Aristóteles. 
 
 
==XXX== 
 
 
RESUMO DE AULA (PROFESSOR - AULA MAIS - ESTÁCIO) 
 
3ª AULA – Platão - Justiça e a Fundação do Estado 
 
Filosofia Geral e Jurídica 
Professora Clara Brum 
Aula 03 
 
Unidade 2 – Fundamentos para uma Filosofia Jurídica 
Tema: Platão - Justiça e a Fundação do Estado. 
 
Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: 
 
● Conhecer em linhas gerais a importância de Platão para tradição Filosófica; 
● Estudar a dualidade na Alegoria da Caverna; 
● Compreender o papel do filósofo na República e a relação entre justiça e lei; 
● Compreender a ideia de justiça retributiva apresentada no mito de Er. 
 
2.1. Platão: justiça e a fundação do Estado 
 
Nesta parte da matéria conheceremos os filósofos que ofereceram interessantes contribuições à filosofia 
Jurídica. Deve-se observar, em linhas gerais, que Platão nasceu em 427 a.C. e faleceu na mesma cidade, Atenas, 
em 347 a.C. Filho de uma família da aristocracia ateniense dedicada à política, foi discípulo de Crátilo (séc. V 
a.C.) que por sua vez foi seguidor de Heráclito de Éfeso, posteriormente, Platão tornou-se discípulo de Sócrates. 
Fundou sua Academia em 387 a.C., nos arredores de Atenas, em cujo pórtico figurava o lema: “Não passe destes 
portões quem não tiver estudado geometria”. 
Em seu pensamento encontramos a primeira formulação clássica da Filosofia, ou seja, a problemática do 
conhecimento como possibilidade de tomada da realidade. Para isso, apresentou uma preocupação direta sobre o 
método, indagando se é possível o conhecimento; numa verificação se o conhecimento passa pelos sentidos ou 
pela razão; os mundos sensível e inteligível como objetos de conhecimento. 
 
Um pouquinho de história... 
 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e Silva 
Disciplina: 
CCJ0043 
Aula: 
003 
Assunto: 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado 
Folha: 
4 de 9 
Data: 
06/03/2013 
 
MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
Platão reproduziu em suas obras o jogo dialógico de Sócrates convidando o leitor a uma verdadeira 
investigação filosófica, inserindo-o na tarefa maiêutica de buscar a verdade pelo procedimento dialético. A partir 
dessa perspectiva, em que constrói o seu pensamento filosófico, ancorado na crítica do conhecimento verdadeiro, 
Platão toma a Filosofia como um conjunto de princípios cuja função é pensar os fundamentos de sua cultura no 
intuito de reformá-la. 
A realidade política de Atenas estava marcada pela injustiça e pela corrupção, fazendo com que Platão 
desistisse de ingressar na vida pública, o que fez, pois percebeu que a corrupção era um fenômeno desintegrador 
da cidade, mas que caberia à Filosofia resgatar a ordem e a justiça nas relações sociais. 
 
Diálogos: 
 
• Visava o desmascaramento da realidade, buscava o consenso fundado no conhecimento verdadeiro. 
 
Discurso: 
 
• Função comunicativa que exige sempre inteligibilidade e a sinceridade; 
• Regras que permitem desmascarar a manipulação e a opinião (doxa); 
• Interpelar o interlocutor, i.e., exigir explicações de seus discursos (O que se diz; por que se diz; o que 
significa aquilo que é dito). 
 
República (Politéia) 
 
• Obra mais importante que representou um compêndio do pensamento sobre a vida ideal; 
• Tema: as condições ideais para o florescimento da vida perfeita na comunidade natural; 
• Concebeu a teoria das ideias ou formas puras; 
• Elaborou um projeto político pedagógico; 
• A Filosofia era necessária como resposta a uma situação histórica injusta e ilegítima; 
• Fundou sua Academia em 387 a.C. 
• A sua teoria das ideias marcou o início da Metafísica Clássica, ou seja, o estudo sobre a natureza dos 
conceitos e definições para o conhecimento verdadeiro; 
• Platão concebeu o mundo em uma dualidade: mundo sensível e mundo inteligível (Alegoria da Caverna); 
• Usou a linguagem mitológica por ser uma referência importante para ajudar na compreensão; 
 
A obra a República representa um projeto político pedagógico e contempla a ideia de uma comunidade 
alternativa àquelas existentes, daí a relevância da educação no seu pensamento como marca singular de sua 
filosofia, que buscava edificar uma sociedade a partir de novos laços integrativos, implicando, logicamente, a 
criação de uma identidade cultural cujo sentido passasse por uma unidade comunitária. 
O seu programa pedagógico visava instaurar uma política fundamentada no saber cujo fim primeiro era 
norteado pelo princípio de justiça. 
Nessa perspectiva, Platão é o primeiro pensador a defender o caráter público da educação, entregando ao 
poder comunitário a responsabilidade não só de sua execução como também sua formulação teórica. Portanto, 
como o fundamento da educação é comunitário, e a política visa por meio daquela estabelecer laços integrativos, 
no interior da polis, a razão é a medida de tudo que possa ser perceptível pela inteligência e, nesse contexto, a 
justiça afigura-se como a virtude suprema do cidadão, o fundamento da polis, pois, se para Platão sua carência 
propicia a degeneração dos regimes políticos, a obediência às leis configura um quanto de harmonia como cópia 
da ordem cósmica. Partindo dessa premissa temos que compreender o paralelo que o autor do Banquete 
estabeleceu entre a tripartição da alma e sua teoria sobre a polis. 
 
República, Livro IV... 
 
Na República, livro IV, Platão concebe a alma como tripartite, ou seja, a mesma se divide em uma parte 
racional, e outra irracional que, ao seu turno se subdivide em irascível (impulsos e afetos) e concupiscente 
(necessidades elementares). 
A parte racional é regida pela sabedoria ou prudência, capaz de estabelecer o que convém a cada um. A 
parte irascível corresponde à fortaleza e coragem que permite seguir os imperativos da razão. 
 
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Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e Silva 
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Já a parte da concupiscência está relacionada ao sentido das necessidades elementares. As duas 
dimensões da parte irracional da alma devem se submeter à parte racional através da virtude da temperança ou 
moderação. 
Com tais virtudes surge a virtude da justiça que estabelece o equilíbrio de cada uma das faculdades em seu 
âmbito próprio e função específica. 
 
E a relação da tripartição da alma com a polis? 
 
Estabelecendo uma analogia da alma com a cidade, Platão apresenta o que podemos chamar de 
concepção organicista de sociedade, na qual a Cidade constaria de três classes diferenciadas por suas funções 
próprias. 
 
As classes na República! 
 
A primeira seria a dos magistrados (filósofos) ou governantes, guiados pela sabedoria; a segunda dos 
guerreiros que defenderiam a polis interna e externamente, cultivando a fortaleza; a terceira seria constituída pelos 
artesãos (artífices), comerciantes, agricultores e aqueles que formavam a base econômica da cidade. As classes 
dos guerreiros e dos artífices aceitam o domínio dos governantes pela ação da temperança ou moderação. Assim 
como na alma, a justiça, na cidade, apresenta-se primordialmente para garantia do funcionamento do todo e da 
manutenção da hierarquia baseada nas tarefas específicas de cada classe. 
O pensamentopolítico de Platão inspirou-se no postulado segundo o qual a parte se subordina ao todo, o 
que significa dizer que as classes se subordinariam ao bem comum da cidade, dado pela razão divina, que por 
sua vez é contemplada pela dialética ascendente, o que leva Platão a operar uma inversão na concepção 
individualista da sofística quanto à relatividade das coisas, buscando a universalidade pela superação da 
individualidade absoluta. 
Nesse modo de ver, o indivíduo se situa no plano coletivo, e não em uma autonomia absoluta perante a 
polis, que por sua vez existe para tornar possível a vida humana. Destarte, o horizonte do indivíduo seria o 
horizonte do cidadão. 
Ressalte-se que as classes da República não se baseiam em uma ordem hereditária, já que o ponto fulcral 
repousa sobre as aptidões pessoais dos membros da polis, desenvolvidas pela cidade através do processo 
educacional. 
 
Quem deve governar? 
 
A aristocracia de Platão, diferentemente daquela calcada na propriedade fundiária ou na riqueza advinda do 
comércio, é uma aristocracia do espírito cujo saber legitima o poder, porque só pode governar a cidade aquele que 
é justo por conhecer as implicações e mecanismos das ações justas, fornecidas, obviamente, pelo conhecimento 
filosófico. 
 
Por quê? 
 
Ademais, Platão, preocupado com as bases integrativas de sua sociedade, não admitia que o poder 
estivesse nas mãos daqueles que manipulavam a vida econômica ou a estrutura bélica, pois a cidade se 
constituiria em uma verdadeira tirania, ao passo que uma sociedade comandada por filósofos estaria ordenada 
sob princípios universais dados pela razão. 
 
Uma curiosidade! 
 
É bom lembrar que os governantes, submetidos a esse conjunto de princípios, deveriam ter por escopo, 
através do seu projeto político-pedagógico, suprimir a instituição família como também a propriedade privada para 
as duas classes superiores dos magistrados e dos guerreiros, isso a fim de afastar interesses particulares que 
pudessem conduzir à corrupção. 
 
A classe dos filósofos e guerreiros 
 
 
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Disciplina: 
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Somente as duas classes superiores teriam participação na vida pública, enquanto que o complexo dos 
artífices estaria limitado à vida na esfera privada. 
Na cidade platônica, governada pelo sentido da filosofia, não seria necessário o direito positivo, pois os 
magistrados (filósofos) deveriam decidir, em cada caso particular, o que a justiça exigiria segundo as 
circunstâncias. 
Esse pensamento não perdura nos diálogos considerados tardios, O Político e As leis, em que Platão, mais 
velho e desiludido com as experiências na Sicília, admite a necessidade de fixar princípios de governo em leis 
positivas. Reconhece ainda a importância da família e da propriedade privada, evitando-se o excesso de riqueza e 
de pobreza, pois, no seu entender, seria essa relação de contradição a causa de toda a discórdia civil. 
Assim, a cidade descrita na obra As Leis se afigura como uma teocracia em que os magistrados (filósofos) 
assumem a dignidade de intérpretes da vontade divina. No diálogo Político, apresenta a necessidade de uma 
legalidade como ordem estável da cidade, muito embora confirme a aristocracia como sistema ideal na 
administração da coisa pública. 
 
Formas de governo 
 
Platão nos oferece duas classificações distintas das formas de governo, uma na República, livros VIII e IX e 
outra no Político. Na República descreve cinco formas. Entretanto, somente uma assume o caráter de justa e 
legítima: a aristocracia do espírito ou governo dos sábios. Todas as restantes são formas corruptas que não 
permitem a realização da justiça. 
Se os guerreiros tomarem o poder, teremos uma timocracia ou timarquia que significa governo da honra, 
caracterizado pela ambição do espírito belicoso. Esta forma poderia conduzir a uma oligarquia que liga o poder à 
fortuna. Todavia, o enriquecimento de poucos e a extrema pobreza de muitos poderá gerar a democracia, o 
governo da multidão, que aspira à igualdade absoluta, desrespeitando hierarquias naturais e legítimas. 
Dessa forma, a democracia, desemboca na desordem, que acaba por ser aproveitada por algum indivíduo 
ambicioso e audacioso, capaz de instaurar uma tirania que desvelaria um caráter violento e desenfreado. Os seus 
excessos provocariam a reação dos mais decididos e com seu derrube encerra-se o ciclo constitucional, ou seja, a 
dinâmica política. 
No Político apresenta dois critérios de formas de governo: o número dos que participam do governo e a 
legalidade ou ilegalidade dos mesmos. Encontramos três formas legais e três ilegais de governo. As legais são a 
monarquia ou realeza, a aristocracia e a democracia. As formas corruptas das formas legais, respectivamente, 
são: a tirania, a oligarquia e a democracia (demagogia). 
Na verdade, Platão confere maior rigor sistemático às teorias de Heródoto e Eurípides. Nas Leis, 
acrescenta um novo termo: uma forma mista de governo, ou seja, uma mistura de monarquia e democracia que 
se apresenta como a única capaz de assegurar a paz social. Esta concepção assimilada por Aristóteles 
influenciará seu pensamento político. 
A ideia socrática de que a Cidade (o poder político), na qual a família e o indivíduo formavam um todo 
harmônico, permanece na obra República e se torna o fundamento da ideia de justiça como virtude, que significa a 
observância permanente da lei e, ao mesmo tempo, como ideia da razão. 
 
A política ideal 
 
O sentido de ordem política ideal é o de justiça que correlaciona intrinsecamente lei e justiça. As leis são 
justas porque são editadas por quem pratica a virtude da justiça e a conhece em sua estrutura para além do plano 
das aparências, isto é, numa imagem divina. Nesse sentido, encontramos a ligação entre as duas perspectivas do 
conceito de justiça em Platão: justiça como ideia (forma pura) e justiça como virtude, ação do homem virtuoso. 
 
 
 
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Aula: 
003 
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Folha: 
7 de 9 
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06/03/2013 
 
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A Justiça 
 
Segundo Joaquim Carlos Salgado (1995, p. 24-29), o pensamento platônico sobre a justiça é o ponto de 
partida para uma reflexão sobre a ideia de justiça como igualdade. Platão apresenta duas perspectivas de sua 
concepção de justiça na obra República, a saber: a justiça como ideia e a justiça como virtude ou prática 
individual. Nas primeiras obras, Platão apresenta o conceito de justiça comprometido com a ideia de virtude do 
cidadão ou do filósofo. 
Ao relacionar o célebre livro VII, da República, que narra a Alegoria da Caverna em conjunto com sua teoria 
da reminiscência, compreendemos com maior clareza o que o fundador da Academia assinala na Carta VII, isto é, 
“só conhece a justiça àquele que é justo”, ou seja, só conhece a justiça aquele que a compreende na perspectiva 
divina, pelo conhecimento da alma e não dos sentidos, o conhecimento verdadeiro dado pela matriz dialética e 
desenvolvido pela educação. 
 
Alegoria da Caverna 
 
República, Livro VII: 
 
“Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro, cuja entrada permite a passagem 
da luz exterior. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos ali vivem acorrentados, sem poder 
mover a cabeça para a entrada, nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo, e sem nunca 
terem visto o mundo exterior nem a luz do Sol.”(trad. Livre Marilena Chauí). 
 
• Mundo material ou sensível: lugar dos objetos visíveis, particulares, mutáveis, perecíveis. Também 
denominado de mundo das sombras, reflexos, conhecimento sensível, imediato, incompleto e superficial. 
• Mundo inteligível ou das ideias: lugar das realidades abstratas, perfeitas, eternas, imutáveis, 
inteligíveis, lugar das formas ou natureza essencial das coisas. A existência prévia das ideias condiciona o 
ser e o conhecer no mundo empírico. 
• A caverna: o mundo sensível; 
• Os prisioneiros: as pessoas comuns e sua doxa; 
• Fogueira: a luz artificial; 
• Sombras na parede: a doxa; 
• Prisioneiro que se liberta: filósofo; 
• Saída da caverna: dialética ascendente; 
• Homens com objetos: sofistas; 
• O sol: a luz da razão; 
• Retorno à caverna: diálogo filosófico; 
 
Justiça e Alteridade 
 
Platão enfatiza o agir justo na medida em que considera o outro como portador dos mesmos direitos para a 
superação da ótica individualista dos sofistas, assinalando para a alteridade como descoberta de si numa 
dimensão exterior ao comprometimento do homem com a sua polis. 
Tanto na República quanto no Górgias, Platão enfatiza através de seu personagem, Sócrates, que fazer a 
justiça é melhor que recebê-la, e sofrer a injustiça é melhor que praticá-la. Na República, afirma que o melhor 
modo de viver é o viver praticando a justiça, correlacionando, desse modo, os atos justos com uma alma sadia. A 
justiça é uma virtude que fundamenta e fortifica a alma. 
Embora no Críton, a concepção de justiça se apresente como a conformidade das ações com a lei, a 
essência da ideia de justiça platônica não se limita somente a esse entendimento. 
 
Justiça 
 
Na República, livro I, Platão expressa a difusa ideia de justiça em um conceito preciso a partir do 
entendimento do poeta Simônides, (PLATÃO, República, 322c, 433a e 433e) que afirmava a ideia de justiça como 
dar a cada um o que lhe é devido. Platão amplia essa ideia para além da simples relação entre particulares e a 
 
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MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
relaciona diretamente com a estrutura de sua cidade. 
No dizer de Salgado: “O que é devido a cada um, o que lhe pertence por natureza é o posto que 
corresponde às suas aptidões e a função que cada um, por força dessas mesmas aptidões, pode desempenhar no 
Estado”( PLATÃO, República, 433a; SALGADO, 1995, p. 27). 
Platão concebe a justiça como uma preocupação política que repousa na ideia de igualdade; uma igualdade 
geométrica, na medida em que garante a cada um o que lhe é devido, segundo suas aptidões. O seu conceito de 
justiça assume também o caráter de universalidade enquanto se vincula à ideia de representação da harmonia do 
cosmos. 
A justiça é um compromisso do cidadão com a Cidade, na dedicação ao bom funcionamento da vida 
coletiva a partir das aptidões naturais de cada um. Sendo assim, Platão elabora duas vertentes do conceito de 
justiça: a justiça como ideia norteadora do direito e da lei, e a justiça como virtude norteada e determinada pela lei. 
Ou, dizendo de outro modo, a ideia de justiça como hábito de cumprir o direito. 
 
Justiça Retributiva Transcendente 
 
Por fim, Platão desenvolve um conceito de justiça retributiva e transcendente. Vejamos. Na República, livro 
X, encontra-se o mito de Er que consagra o sentido de justiça retributiva e transcendente. O mito narra a história 
de um guerreiro chamado Er que vivencia a experiência da justiça como recompensa no além-túmulo. 
 
Síntese do Mito de Er: 
 
Er, natural da Panfília, na Ásia Menor, bravo soldado que morreu em combate, estendido na pira funerária 
dez dias após sua morte. Subitamente, volta à vida e narra o que viu no mundo além-túmulo. Disse que, depois de 
morto, viajou até uma terra estranha onde o solo era rasgado por dois grandes abismos. Por cima, havia dois 
buracos correspondentes no Céu. Entre os abismos estavam sentados os juízes que julgavam todas as almas e as 
marcavam com um sinal: os justos entravam pelo abismo da direita, para o Céu; os injustos entravam pelo abismo 
da esquerda, que conduzia ao mundo subterrâneo. Er não foi autorizado a entrar em qualquer um dos dois 
buracos, mas foi escolhido para levar uma mensagem aos mortais. Observou que as almas dos injustos passavam 
por uma longa experiência vivenciando dez vezes mais todo o mal que causaram. Este é o sentido retributivo da 
justiça em Platão. 
As almas dos justos falavam em felicidade e alegria, recompensas de uma vida virtuosa. As almas vindas 
dos subterrâneos, após expiarem todo o mal que praticaram, vivenciam as dores do arrependimento, eram 
encaminhadas ao trono das Parcas: Láquesis, Átropo e Cloto para receberem novas vidas como mortais. Cada 
alma poderia escolher a vida que desejasse, algumas eram sensatas outras tolas. Todas as almas, após suas 
escolhas, bebiam a água do rio do esquecimento, de modo que perdessem todas as recordações da vida passada, 
para renascer em novas vidas. Muitas praticavam os mesmos erros. 
Assim, podemos concluir que a justiça para Platão não é deste mundo, mas se configura como a 
recompensa para aquele que escolhe a vida moral e conforme ao direito. Considerando o mito acima descrito, 
pode-se compreender o sentido das palavras que Platão, colocadas por Sócrates no final da Apologia, onde este 
após beber cicuta se dirige aos que estavam presentes e assevera: “Mas, está na hora de irmos: eu, para morrer; 
vós para viverdes. A quem tocou a melhor sorte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divindade” 
 
Concluindo... 
 
Platão, através de dois mitos - o da caverna e o de Er - recupera a antiga noção da alétheia (o não-
esquecido), ainda que a transforme profundamente, como vimos. Para um pensamento que toma a verdade como 
evidência, o verdadeiro é a retidão do olhar espiritual, isto é, a correspondência entre a ideia e a sua 
representação intelectual. Somos coautores do verdadeiro. (Marilena Chauí). 
 
Sugestão de vídeos: 
 
Platão: http://www.youtube.com/watch?v=O-EcCDZ9DxY&feature=related 
Platão: Vida e obra: http://www.youtube.com/watch?v=wV5v4R8aHvw&feature=related 
Matrix – A pílula: http://www.youtube.com/watch?v=te6qG4yn-Ps 
Mito da Caverna (Alegoria da Caverna) – Platão: http://www.youtube.com/watch?v=YlREcUSztSE 
 
 
Curso de Direito 
Turma A – Manhã - 2012.1 
Filosofia Geral e Jurídica 
Profa.: Luiza Maria Pontual Costa e Silva 
Disciplina: 
CCJ0043 
Aula: 
003 
Assunto: 
Platão: Justiça e a Fundação do Estado 
Folha: 
9 de 9 
Data: 
06/03/2013 
 
MD/Direito/Estácio/Período-03/CCJ0043/Aula-003/WLAJ/DP 
 
Sugestão de filme: 
 
Matrix 
Direção: Andy e Larry Wachowski 
Duração: 136 min. 
Sinopse: Num mundo dominado por máquinas dotadas de inteligência artificial, alguns rebeldes humanos lutam 
pela preservação de sua espécie. Trata-se de uma aventura cibernética em que é tratada uma série de temas 
filosóficos, dentre eles, a caverna em Platão. 
 
Indicação de sites: 
 
WIKIPÉDIA. Platão. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o>. Acesso em: 22 jun. 2010. 
WIKIPÉDIA. Mito da caverna. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna>. Acesso em: 22 jun. 
2010. 
MUNDO DOS FILÓSOFOS. Disponível em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/>. Acesso em: 22 jun. 2010. 
 
Resumindo... 
 
Nesta aula conhecemos em linhas gerais a importância de Platão para tradição Filosófica. Estudamos a 
dualidade na Alegoria da Caverna e o papel do filósofo na República. Compreendemos, também, a ideia de 
justiça retributiva apresentada no mito de Er. 
 
Na próxima aula estudaremos osseguintes pontos: 
 
• A importância de Aristóteles para tradição Filosófica; 
• Estudar os conceitos de igualdade, proporcionalidade, equidade, justiça distributiva e comutativa; 
• Compreender a relação entre Ética e Direito. 
 
 
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