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DIREITO PENAL II DANIELA DUQUE-ESTRADA AULA 19. ABORTO OBJETIVOS DA SEMANA DE AULA ● Compreender a relevância da proteção ao bem jurídico-penal vida, intra ou extra-uterina. ●Diferenciar, nos casos concretos apresentados, as condutas típicas aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante e os delitos previstos no art. 129, §§ 1° e 2°, incisos IV e V do Código Penal. ESTRUTURA DE CONTEÚDO ABORTO 1. Bem jurídico tutelado. Considerações gerais sobre o início da vida intra- uterina (teorias). 2. Classificação do delito Elementares do Tipo Penal. 3. Sujeitos do delito. 4. Consumação e tentativa. 5. Figuras típicas. 5.1. Auto-aborto. 5.2. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante. 5.3. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante: dissenso real e presumido. A capacidade para consentir. 5.4. Aborto qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave ou morte. 6. Aborto Legal. 6.1. Aborto necessário. 6.2.. Aborto humanitário. 7. Questões Controvertidas 7.1 Confronto do delito de aborto com os delitos de lesão corporal qualificada pelo resultado previstas nos §§ 1° e 2°, incisos IV e V, todos do art. 129 do Código Penal. 1. Bem jurídico tutelado. ● Considerações gerais sobre o início da vida intra-uterina (teorias): compreendida a partir da adoção da teoria da Nidação, estudada no primeiro encontro acerca dos delitos contra a vida, a saber: “ com a implantação do óvulo fecundado no endométrio, ou seja, com a sua fixação no útero materno” (PRADO, Material Didático, pp 86) . ► Vida Intrauterina ou Dependente. ● Conceito de Aborto: Eliminação dolosa da vida intrauterina, seja por meio da expulsão do útero materno, seja por meio da interrupção dolosa da gravidez, levada a termo por terceiro – gestante (art.124, CP) ou terceiro (art.125 e art. 126, CP). É irrelevante para a caracterização do delito de aborto o estágio de desenvolvimento da gestação, bem como a capacidade de vida independente. ● Espécies de Aborto: A doutrina classifica as espécies de aborto para fins de tipificação das condutas ou para o reconhecimento de condutas atípicas e justificadas, ou seja, acobertadas por causas excludentes de ilicitude. Acerca do tema, cabe apresentar algumas das espécies elencadas por Rogério Sanches Cunha: (CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal – parte especial. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp 39) a) natural: geralmente ocorre por problemas de saúde da gestante – irrelevante penal (atípico). b) acidental: decorrente de quedas, traumatismos e acidentes – em regra, atípico. c) criminoso: previsto nos art. 124 a 127, CP d) legal ou permitido: previsto no art. 128, CP. 2. Classificação do delito Elementares do Tipo Penal. A figura típica, em todas as suas modalidades é dolosa, material e de forma livre, pois admite a sua prática por meios químicos, físicos ou psíquicos. Compreendem-se por meios químicos, os meios internos, ou seja, uma vez introduzidos no organismo da gestante, estimulam as contrações dirigidas à expulsão do produto da concepção. Por meios físicos, mecânicos, térmicos ou elétricos e, por meios psíquicos, choques morais, provocação de terror etc. (PRADO, Material Didático, pp 88). 3. Sujeitos do delito. 3.1. Sujeito Ativo - gestante (art. 124, CP) - gestante e terceiro (art. 126, CP) - terceiro (art.125, CP). 3.2. Sujeito Passivo – ser humano em formação; nas figuras típicas dos art. 125 e 127, CP, também será sujeito passivo a gestante. 4. Consumação e tentativa. Por tratar-se de delito material, ou de dano, consuma-se com a morte do produto da concepção, sendo irrelevante que a mesma ocorra dentro ou fora do útero materno. 5. Figuras típicas. 5.1. Auto-aborto. Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. Nesta figura típica, é possível a prática das condutas do auto-aborto pela gestante ou do consentimento, pela gestante, para que terceiro o pratique. Na primeira modalidade, estamos diante de um delito de mão própria, logo, não será admissível, no caso de concurso de pessoas, a coautoria, mas, somente, a participação. Na segunda modalidade, aborto consentido, o legislador optou pelo rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas, sendo a conduta da gestante tipificada no art. 124, CP e a do terceiro, no art. 126, CP. ● Questão controvertida: No caso da conduta do auto-aborto, com a participação de terceiro, no qual resulte lesões corporais graves ou a morte da gestante, qual será a responsabilização penal do partícipe? Neste caso, o melhor entendimento é no sentido de que o terceiro será responsabilizado pela participação na figura típica do art. 124, CP em concurso formal perfeito com a modalidade culposa afeta aos resultados mais gravosos – art.121, §3º ou art. 129, §6º c.c art. 124 n.f art. 70, 1ª parte, todos do CP. ● Questão controvertida: a gestante que tenta suicidar-se responderá pelo delito de aborto na modalidade tentada ou consumada, haja vista a lesão ao bem jurídico vida intrauterina. 5.2. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Como dito anteriormente, nesta figura típica há o rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas no que concerne à conduta da gestante que consente com a prática do aborto, sendo sua conduta tipificada como incursa no art. 124, CP. A presente figura típica por configurar crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa, admite a ocorrência de concurso de pessoas em quaisquer de suas modalidades (coautoria ou participação). ● Questão controvertida: A gestante poderá desistir da conduta mesmo após o início dos atos executórios (durante a operação), desde que, antes da interrupção da gravidez. ● Questão controvertida : Validade do Consentimento e capacidade para consentir. A menor de 18 anos pode consentir para a prática do aborto e, portanto ser a conduta do terceiro que praticar o aborto tipificada no art. 126, CP. Entretanto, se a gestante for menor de 14 anos, consoante o disposto no art. 126, parágrafo único, CP, o terceiro será responsabilizado pelo delito de aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante. 5.3. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante. Nesta figura típica, a gestante e o produto da concepção (óvulo, embrião ou feto) são sujeitos passivos da conduta praticada por terceiro. Questão de suma importância é a compreensão acerca da ausência de consentimento da gestante, podendo ser o dissenso real ou presumido. Dissenso real: nos casos de emprego de fraude, grave ameaça ou violência contra a gestante. Dissenso presumido: nos mesmos moldes da caracterização da “vulnerabilidade” da vítima prevista no art.217-A, CP - se a gestante não é maior de quatorze anos. Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 .................................................................................................Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. ● Questão controvertida: terceiro que mata a gestante ciente da gravidez responde pelos dois resultados – homicídio e aborto sem o consentimento da gestante, em concurso formal imperfeito de crimes (art. 121 c.c art. 125 n.f art. 70, parte final, todos do CP). 5.4. Aborto qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave ou morte. A figura majorada prevista no art. 127, CP, Configura-se como figura preterdolosa e, somente, é aplicável às figuras típicas previstas nos art. 125 e 126, CP, ou seja, ao terceiro que pratica o aborto e não à gestante, no caso de lesões corporais de natureza grave por questões de política criminal, haja vista o ordenamento jurídico não sancionar, em regra, a autolesão (princípio da alteridade). Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. ● Questão controvertida: caso, dos meios empregados para provocar o aborto não advir a morte do feto, embora ocorra a lesão de natureza grave ou a morte da gestante, o melhor entendimento é no sentido de aplicar-se a figura majorada consumada, pois por tratar-se de delito preterdoloso, não há que se falar em tentativa ( PRADO, Luiz Regis. Material Didático, pp 92) 6. Aborto Legal. Configura causa especial excludente de ilicitude e compreende os denominados aborto necessário e aborto humanitário. Possui por fundamento o disposto no item n. 41, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, in verbis: Item n. 41. (...) Mantém o projeto a incriminação do aborto, mas declara penalmente licito, quando praticado por médico habilitado, o aborto necessário, ou em caso de prenhez resultante de estupro. Militam em favor da exceção razões de ordem social e individual, a que o legislador penal não pode deixar de atender. 6.1. Aborto Necessário ou terapêutico. Neste caso, face à ponderação de interesses, o melhor entendimento é no sentido de que não há a exigência do consentimento da gestante e tampouco a autorização judicial para a prática do aborto. Cabe salientar que, aplica-se à junta médica, no caso de erro de diagnóstico a descriminante putativa prevista no art. 20,§1º, CP (CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. v.2. 10 ed. São Paulo: Saraiva, pp 159) . São requisitos para a sua realização que o aborto seja praticado por médico, que haja perigo para a vida da gestante e que não seja possível a outro meio para salvá-la. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 6.2.. Aborto Humanitário, ético ou sentimental. Esta norma permissiva tem por escopo o “reconhecimento claro do direito da mulher a uma maternidade consciente” (Jimenez de Asúa apud Luiz Regis Prado, material didático, pp 95). Ainda é possível falar-se no direito ao afeto, bem como “nada justifica que se obrigue a mulher a aceitar uma maternidade odiosa, que dê vida a um ser que lhe recordará, perpetuamente, o horrível episódio da violência sofrida” (HUNGRIA, Nelson apud CUNHA, Rogério Sanches, op. cit. pp 43) Neste caso é indispensável o consentimento da gestante ou de seu representante legal. Por outro lado, não é necessária a autorização judicial ou a existência de uma sentença condenatória pelo delito contra a dignidade sexual, cabendo ao médico, por questões de cautela, verificar a existência de certidões ou cópias de boletins de ocorrências policiais, testemunhos colhidos perante a autoridade policial ou, na ausência destes, de atestado médico ou prontuário de atendimento médico afeto às lesões decorrentes da conjunção carnal ou da prática de ato libidinoso forçada. II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Trailer do filme: Tartarugas podem voar. http://www.youtube.com/watch?v=EES-sJMV4UU 7. Questões Controvertidas 7.1 Confronto do delito de aborto com os delitos de lesão corporal qualificada pelo resultado previstas nos §§ 1° e 2°, incisos IV e V, todos do art. 129 do Código Penal. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: § 1º Se resulta: IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
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