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ORGANIZACAO DA JUSTICA E DO MP 2012 2

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GRADUAÇÃO
 2012.2
ORGANIZAÇÃO 
DA JUSTIÇA E DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO
AUTORES: ANABELLE MACEDO SILVA E CARLOS ROBERTO DE C. JATAHY
Sumário
Organização da Justiça e do Ministério Público
INTRODUÇÃO AO CURSO DE ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................. 3
AULAS 1 E 2: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL. 
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ........................................................................................................................ 6
AULA 3: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .................................................................................................................. 44
AULAS 4 E 5: O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E A JUSTIÇA FEDERAL .......................................................................... 76
AULA 6 E 7: A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ............................................................................................................. 106
AULA 8: JUSTIÇAS ESPECIAIS INDIVIDUALIZADAS ................................................................................................... 122
AULAS 9, 10 E 11: O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO ............................................................................................ 144
AULA 12: A POLÍCIA FEDERAL ............................................................................................................................. 191
AULA 13: ADVOCACIA, DEFENSORIA PÚBLICA E ADVOCACIA PÚBLICA........................................................................... 199
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 3
INTRODUÇÃO AO CURSO DE ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, visando evi-
tar o arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a 
existência dos poderes constituídos do Estado e da instituição do Ministério 
Público, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as fun-
ções estatais e prevendo prerrogativas e imunidades para que bem pudessem 
exercê-las, assim como criando mecanismos de controles recíprocos, sempre 
como garantia da perpetuidade do Estado Democrático de Direito.
É a célebre Separação de Poderes, esboçada pela primeira vez por Aristó-
teles na obra “Política”, detalhada, posteriormente, por John Locke, no “Se-
gundo Tratado do Governo civil” e, fi nalmente, consagrada por Montesquieu 
no “O Espírito das Leis”.
É no estudo de algumas dessas instituições que iremos nos ater neste se-
mestre que se inicia.
O curso de Organização da Justiça e do Ministério Público tem como 
objeto o exame da estrutura constitucional e infraconstitucional das institui-
ções que integram o Sistema da Justiça Brasileira, ou seja:
- Poder Judiciário;
- Ministério Público; e
- as demais Instituições constitucionalmente incumbidas das funções 
essenciais à Justiça, que são: Advocacia Pública, Advocacia e a De-
fensoria Pública.
Um capítulo referente à Polícia Federal foi acrescentado, visando a uma 
análise desta instituição, que vem chamando a atenção da sociedade.
O Poder Judiciário é um dos Três Poderes clássicos previstos na Consti-
tuição (Art. 2º), e que tem como função a administração da Justiça e como 
verdadeiro mister a guarda da Constituição.
Não se consegue conceituar um Estado Democrático de Direito sem a 
existência de um Poder Judiciário, autônomo e independente, para o pleno 
exercício de suas funções. Daí as garantias que seus membros gozam, assegu-
radas pela própria Constituição, como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a 
irredutibilidade de subsídios.
Já o Ministério Público, consagrado em nossa Constituição e situado fora 
da estrutura dos demais poderes da República, é instituição permanente, es-
sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem 
jurídica, do regime democrático de Direito e dos interesses sociais e individuais 
indisponíveis (Artigo 127 da CF). Para tanto, também lhe foi conferida uma 
estrutura organizacional própria, com autonomia, independência e garantias.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 4
1 D’ÁVILA, Thiago Cássio. Conceito e 
características da advocacia. Disponível 
em jus2.uol.com.br. Acesso em 07 de 
dezembro de 2007.
A Advocacia Pública, inovação da Constituição de 1988, é instituição 
que, diretamente ou por intermédio de órgão vinculado, representa a União, 
os Estados e os Municípios, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe as ati-
vidades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
A advocacia é uma função essencial à justiça, que visa à garantia das li-
berdades e ao cumprimento da ordem jurídica vigente, solucionando con-
fl itos com base em normas e princípios jurídicos pré-estabelecidos, através 
da mediação, ou por postulação perante os órgãos administrativos ou ju-
risdicionais, sendo privativa de bacharel em ciências jurídicas, atendidas as 
demais qualifi cações exigidas em lei, que a desempenha com múnus público 
em atendimento a ministério conferido pela Constituição Federal1.
Por fi m, a Defensoria Pública, prevista na Constituição Federal como ins-
tituição essencial à função jurisdicional do Estado, está incumbida da orien-
tação jurídica, da promoção dos direitos humanos e da defesa em todos os 
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma 
integral e gratuita, dos necessitados.
Este é o panorama a ser vislumbrado.
O curso foi montado com base na constatação de que um bom profi ssio-
nal do direito necessariamente precisa conhecer as instituições estatais que 
integram o sistema de Justiça, a forma como operam, que funções institu-
cionais desempenham e que competências lhes foram atribuídas pelo consti-
tuinte e pelo legislador.
Só assim, tendo o domínio desses conceitos técnicos, o futuro profi ssional 
poderá maximizar a utilização do sistema em todas as suas instâncias, for-
mando opinião e pensamento crítico para o aprimoramento e transformação 
das estruturas examinadas.
Procura-se, por meio da utilização de diferentes metodologias, uma abor-
dagem analítica e uma visão crítica como elementos permeadores de todo o 
curso. O objetivo é a interatividade dos alunos com o conteúdo apresentado 
e o caráter cooperativo que deve propiciar uma aproximação maior entre 
alunos e professor.
Como o programa incorpora conteúdos dos mais variados, como ciência 
política, direito constitucional, direito administrativo, teoria geral do proces-
so e organização judiciária, algumas aulas serão mais expositivas enquanto 
outras serão mais abertas a discussões. Em todos os momentos, porém, ire-
mos adotar uma postura de incentivo ao aluno no estabelecimento de links 
com assuntos correlatos.
Durante todo o curso, casos práticos serão apresentados aos alunos, como 
forma de aproximar a teoria estudada com a realidade social em que vivemos, 
mediante debates, construções ideológicas e solução dos mesmos.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 5
A Ciência do Direito, apesar de estudada de forma estratifi cada, requer 
uma visão global para ser potencialmente compreendida. O que se idealiza é 
uma interdisciplinaridade entre todos os ramos do Direito.
Durante o semestre, os alunos serão avaliados de acordo com os seguintes 
critérios:
- dois testes aplicados em sala de aula, abordando toda a matéria do 
curso, um na metade e o outro ao fi nal do semestre; e
- Programa “Conhecendo as Instituições”, que poderá acrescer até 
um ponto à nota fi nal do semestre. Este programa de atividades 
complementares propõe a realização de visitas a algumas institui-
ções que compõem a Sistema da Justiça em nosso Estado (Ministé-
rio Público, Judiciário, Defensoria Pública ou ProcuradoriaGeral 
do Estado), como instrumento de fi xação e observação concreta do 
funcionamento das estruturas estudadas.
Passemos, pois, ao conteúdo programático do nosso curso!
Sejam bem vindos e encarem com prazer o desafi o de conhecer a estrutura 
do Poder Judiciário e demais instituições essenciais à Justiça!
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 6
AULAS 1 E 2: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO 
JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL. O CONSELHO NACIO-
NAL DE JUSTIÇA.
1) O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO.
Historicamente, o Poder Judiciário, apesar de estar no mesmo plano dos 
demais poderes, sempre teve uma menor participação nas decisões do Esta-
do, em comparação com o Executivo e o Legislativo. Isto porque, em muitos 
Estados da velha Europa, os juízes eram meros servos da nobreza, atuando 
como longa manus do soberano. Subordinado, não podia se desenvolver a 
contento.
A instauração do Estado de Direito (Estado Liberal, Constitucional) fez 
surgir a primeira geração de direitos (direitos de liberdade, direitos civis e 
políticos), fazendo nascer também a linguagem jurídica. Esta, por conter ter-
mos rebuscados e imprecisos (como, por exemplo, “boa fé” e “mulher hones-
ta”), provocou um distanciamento entre o Judiciário e o povo, intermediado 
pelos advogados, que falavam a linguagem acessível aos magistrados.
Acrescente-se ainda que no Estado liberal e absenteísta, as questões eram 
relativas às demandas individuais, em que somente se discutiam interesses 
particulares. Não havia repercussão social nas decisões do Judiciário, mas já 
havia uma maior participação do Judiciário nas questões diuturnas.
Com a instituição do Estado Social, em que o Estado passou a ser pres-
tador de obrigações (direitos sociais), criando direitos que deveriam ser 
providos, a inércia do Estado obrigava o indivíduo a buscar a solução de 
seus confl itos no Judiciário. Decorre daí o aumento da demanda judicial e 
um confl ito entre os poderes.
De fato, vamos assistir a confl itos entre o Executivo e o Judiciário na grande 
depressão americana (quando a Suprema Corte quis interferir nas ações do pre-
sidente Roosevelt) e na criação da Justiça Constitucional, quando o Judiciário 
interfere na decisão do Parlamento, considerando uma lei inconstitucional.
A par disto, vamos ver a sociedade industrial criar um novo tipo de con-
fl ito. O confl ito meta-individual ou transindividual, com um número mui-
to grande de interessados na sua solução: as denominadas “class actions”. O 
Judiciário sai de uma posição secundária e subalterna para uma situação de 
protagonista, sendo capaz de produzir consequências profundas nas relações 
sociais, políticas e do cotidiano. O juiz, antes inerte, passa a adotar uma pos-
tura mais ativa, podendo, por exemplo, paralisar a construção de uma estrada 
que está afetando o equilíbrio ecológico em uma determinada região; obri-
gando o Estado ao fornecimento de medicamentos básicos aos hipossufi cien-
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 7
tes; determinando a Administração Pública a contratar médicos e professores, 
visando a plena implementação de políticas sociais.
No Estado Democrático de direito hoje existente, em que o Estado, o di-
reito e a sociedade assumem um compromisso com a Constituição, o Judici-
ário passa a ter uma importância maior, diante de seu maior ativismo judicial.
Consequentemente, surge a necessidade de um maior controle sobre o 
“Gigante adormecido”. Afi nal, controle faz parte da teoria dos “checks and 
balances”.
A Constituição Brasileira de 1988, seguindo esta tendência mundial dos 
países democráticos, conferiu ao Poder Judiciário lugar de destaque, confi an-
do-lhe a tutela de direitos subjetivos até mesmo contra o Poder Público e a 
função de efetivar os direitos e garantias individuais, abstratamente inscritos 
em seu texto.
O Poder Judiciário, consoante o artigo 2º da CF, possui a função precípua 
de julgar os confl itos de interesse que surgem na sociedade, fazendo aplicar a 
Lei e o Direito ao caso concreto. Deve, portanto, manter a paz social, impon-
do aos cidadãos o cumprimento das leis do país, intervindo, quando provo-
cado nos litígios existentes e solucionando os confl itos de interesse.
E como é feita essa pacifi cação? Mediante a atuação da vontade do direito 
objetivo que rege o caso concreto. Assim, duas pessoas em confl ito num pro-
cesso judicial terão seus problemas solucionados por meio da aplicação da lei 
ao caso concreto. É o juiz exercendo a jurisdição.
Ressalve-se que a jurisdição é una. Como expressão do poder estatal, ela 
é eminentemente nacional e não comporta divisões. Porém, para uma distri-
buição racional do trabalho, é importante que se criem organismos distintos, 
para os quais serão destinadas determinadas espécies de causas. São diversos 
os critérios determinantes na distribuição dos processos: em razão da matéria, 
da qualidade da pessoa etc. É o Estado, fazendo a divisão das Justiças, com 
vistas à melhor atuação da função jurisdicional. Trata-se da denominada OR-
GANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.
2) A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
Com efeito, a Organização Judiciária tem como objetivo estabelecer nor-
mas sobre a constituição dos órgãos encarregados do exercício da jurisdição. 
Para análise da matéria, deve-se partir de três premissas básicas:
(a) A estrutura judiciária brasileira é defi nida basicamente pela Cons-
tituição, sendo o Capítulo III (Arts. 92 a 126) do título IV (Da 
Organização dos Poderes) da Carta Maior o texto básico para a 
compreensão e estudo do tema;
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 8
(b) O Poder Judiciário brasileiro, em razão da forma de Estado federati-
vo adotado pelo texto constitucional, é dual. Com tal modelo, ha-
verá um ramo da Justiça que é administrado e mantido pela União 
e outro ramo administrado pelos Estados-membros da Federação 
brasileira; e
(c) A noção de que a ordem judiciária constitucional se estabelece em 
graus de jurisdição.
De fato, a primeira premissa denota que para se conhecer a estrutura 
do Poder Judiciário brasileiro deve-se conhecer a Constituição Federal. Esta 
constatação é consequência da garantia do Juiz Natural, também conhecida 
como “Princípio da naturalidade do Juízo” (HC 73.801-MG, Celso Mello, 
DJU 27.06.1997), positivada no texto constitucional no Artigo 5º, LIII 
(“Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”). 
Esta expressão signifi ca que o juiz natural ou a autoridade competente, no 
Brasil, é o órgão jurisdicional cujo poder derive de fontes constitucionais, de 
competência devidamente indicada pela Constituição Federal.
Assim, só é legítimo o juízo previsto pela Constituição e reconhecido por 
ela como natural, invalidando-se, em razão deste princípio, qualquer órgão 
jurisdicional criado à margem da Carta Magna, também chamado de juízo 
de exceção (Art. 5º, XXXVII, da CF: “Não haverá Juízo ou Tribunal de exce-
ção”). Nesta dimensão, o Artigo 92 da Constituição estabelece a estrutura do 
Poder Judiciário brasileiro, integrado por diversos órgãos, repudiando todos 
aqueles que ali não se encontrem como integrantes do Poder Judiciário, ain-
da que recebam a denominação de juiz ou tribunal. Logo, não integram esta 
estrutura — e, portanto, não são órgãos do Poder Judiciário — o Tribunal 
Marítimo, os Tribunais de Contas da União e dos Estados e o Superior Tri-
bunal de Justiça Desportiva.
A segunda premissa decorre do princípio do dualismo judiciário, por 
meio do qual convivem, no mesmo sistema, um Poder Judiciário organizado 
pela União e um Poder Judiciário organizado por cada Estado-membro da 
Federação. Há, portanto, em decorrência de tal premissa, o Poder Judiciário 
da União (também chamado por muitos de Federal) e diversos Poderes Judi-
ciários Estaduais, formando oPoder Judiciário Nacional.
A União organiza e mantém as Justiças Especializadas (ou, Especiais) do 
Trabalho, Eleitoral e Militar da União; e a Justiça Comum Federal e Comum 
do Distrito Federal e Territórios. É de sua responsabilidade, também, o Su-
premo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Por sua vez, cada 
Estado-membro organiza, de acordo com sua Constituição, o respectivo Po-
der Judiciário local (Art. 125 da Constituição Federal), composto da Justiça 
Comum Estadual e da Justiça Militar Estadual. Cabe ressaltar que as Justiças 
administradas pela União possuem sua estrutura defi nida na Constituição 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 9
Federal, sendo sua organização judiciária defi nida em legislação federal. Já 
as Justiças Estaduais têm sua estrutura defi nida nas Constituições Estaduais, 
respeitadas as diretrizes fi xadas na Constituição Federal (Art. 125, caput). 
Sua organização judiciária é fi xada por meio de legislação estadual, em regra 
denominada Código de Organização Judiciária.
Finalmente, a terceira premissa, denominada princípio do duplo grau de 
jurisdição. Por tal princípio, toda causa que ingressa no Sistema Judiciário 
está sujeita a um duplo exame: o exame inicial, que é o julgamento originário 
da causa, e um exame posterior, que possui caráter revisional do primeiro jul-
gamento. Por este princípio, haverá a possibilidade de duas decisões válidas e 
completas num mesmo processo, emanadas por juízes diferentes, prevalecen-
do sempre a segunda sobre a primeira. Consoante decisão do STF, a formula-
ção do duplo grau de jurisdição exige que o exame inicial e o exame posterior, 
também chamado de reexame, sejam promovidos por órgãos jurisdicionais 
diversos. Neste teor: “Para corresponder à efi cácia instrumental que lhe costuma 
ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda clássica, 
com seus dois caracteres específi cos: a possibilidade de um reexame integral da 
sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confi ado a órgão diverso do que 
a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária”. (ROHC nº 79.785-7/
RJ. Min.: Sepúlveda Pertence. DJU 22/11/2002).
Esta terceira premissa, denominada duplo grau de jurisdição, possui os 
seguintes fundamentos:
(a) Satisfazer o inconformismo do vencido. Há uma relação de auto-
ridade entre o juiz, que fala em nome do Estado, e a parte, como 
cidadão, que tem que se curvar às decisões da autoridade. Mas o 
inconformismo do vencido é um fator grave de intranquilidade so-
cial. A fi nalidade da jurisdição é não só atuar a vontade da lei, como 
também pacifi car os cidadãos para que eles voltem, encerrado o 
litígio, a viver harmoniosamente num instinto de solidariedade. A 
instituição do recurso visa atender a esse clamor, a essa revolta, a 
essa insatisfação do vencido, dando uma segunda oportunidade de 
obter uma decisão favorável e, portanto, contribuindo para que ao 
fi nal dessa segunda decisão, mesmo que continue sendo desfavorá-
vel, voltem a viver pacifi camente.
(b) Coibir o arbítrio do juiz. O juiz que sabe que sua decisão pode 
ser reformada pelo tribunal superior, sente-se vigiado, controlado 
e cede com menos frequência à tentação do arbítrio. Já o juiz que 
sabe que sua decisão é irrecorrível, possui maior tendência ao arbí-
trio, até mesmo em busca de uma justiça melhor que a justiça da lei. 
Ele acaba vendo na irrecorribilidade, se não tiver um espírito crítico 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 10
muito aguçado, um poder absoluto, fazendo a melhor justiça da sua 
consciência, que não é necessariamente a justiça da lei.
(c) Melhorar a qualidade das decisões. O juiz pode ter examinado mal 
a prova, ou a matéria ser muito complexa, ou ainda pode ter uma 
opinião jurídica que não é a melhor, não é aceita pelos tribunais 
superiores. Uma segunda oportunidade de julgamento dá ao tribu-
nal de superior instância a oportunidade de examinar a causa com 
base na motivação do juiz de primeiro grau e outros fundamentos, 
além daqueles expostos pelo juiz na sua decisão. Dois julgamentos 
aumentam a probabilidade de acerto da decisão. Neste contexto, 
percebe-se que temos, portanto, na terminologia brasileira, juízos, 
que são órgãos de primeiro grau, em regra monocráticos, ou seja, 
o julgamento é realizado por um único juiz, e temos também os 
tribunais, órgãos de segundo grau, cujo julgamento, em regra, se dá 
de forma colegiada. São órgãos inferiores e superiores.
Observe o Organograma a seguir, que representa a Organização Judiciária 
brasileira, com fundamento em dispositivos da Constituição Federal:
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
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ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 12
Este organograma acompanhará nosso estudo, quando analisarmos cada 
um dos ramos da Organização Judiciária.
Após examiná-lo, responda?
Existe entre os juízos e os tribunais uma hierarquia?
A resposta é não. Há que se ressaltar que não existe entre eles qual-
quer hierarquia jurisdicional. Não há poder de mando dos órgãos supe-
riores aos inferiores no que tange aos julgamentos a serem realizados. O 
que há é um poder de revisão, dentro do princípio já examinado do du-
plo grau de jurisdição, mas cada juiz é livre para proferir a sua sentença.
Diferentemente, no plano administrativo, existe sim uma hierar-
quia. Isto porque, os Tribunais de Justiça são responsáveis pela admi-
nistração da Justiça do Estado, cabendo-lhes prover cargos, realizar 
concursos, aplicar penalidades etc.
Acima de todos os juízos e tribunais estão o Supremo Tribunal Fe-
deral e o Superior Tribunal de Justiça, cuja função é a de julgar recursos 
provenientes das Justiças que compõem o Poder Judiciário nacional.3) A MAGISTRATURA NACIONAL
A Magistratura é o conjunto de juízes que integram o Poder Judiciário.
Além das disposições constitucionais acima descritas, que organizam a es-
trutura da Justiça no Brasil, existe ainda a Lei Complementar nº 35, de 14 
de março de 1979, mais conhecida como LOMAN, que estrutura a carreira 
da magistratura nacional, estabelecendo as garantias, prerrogativas, deveres, 
direitos, vencimentos, vantagens, forma de ingresso, dentre outras coisas. É a 
Lei Orgânica da Magistratura Nacional.
A magistratura é organizada em carreira.
A investidura se dá por meio de concurso público, exigência inserida no 
Artigo 37, II da Constituição, para todos os cargos iniciais da magistratura 
nacional.
Já para o Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores, a forma de 
investidura é diversa, como veremos nas próximas aulas.
Para concorrer ao cargo de magistrado, o candidato deverá preencher os 
seguintes requisitos:
1- Nacionalidade brasileira — aqui não existe distinção entre brasi-
leiros natos ou naturalizados, sendo vedado somente o acesso aos 
estrangeiros.
2- Diploma de bacharel em Direito — curso de Direito em faculdade 
ofi cial ou reconhecida pelo Ministério da Educação.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 13
2 Revogou a Resolução nº 11/CNJ de 31 
de janeiro de 2006.
3- Três anos de atividade jurídica — inovação trazida pela Emenda 
Constitucional nº 45. Como a expressão “atividade jurídica” não é 
muito precisa, logo após a publicação da Emenda, iniciou-se uma 
discussão a respeito de sua defi nição. A matéria hoje se encontra 
regulamentada pela Resolução nº 75 do Conselho Nacional de Jus-
tiça2, na forma que se coloca abaixo.
 “Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do 
art. 58, § 1º, alínea “i”:
 I — aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito;
 II — o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, me-
diante a participação anual mínima em 5 (cinco) atos privati-
vos de advogado (Lei nº 8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em 
causas ou questões distintas;
 III — o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive 
de magistério superior, que exija a utilização preponderante de 
conhecimento jurídico;
 IV — o exercício da função de conciliador junto a tribunais 
judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados 
especiais ou de varas judiciais, no mínimo por 16 (dezesseis) 
horas mensais e durante 1 (um) ano;
 V — o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na 
composição de litígios.
 § 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade ju-
rídica, a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra 
atividade anterior à obtenção do grau de bacharel em Direito.
 § 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamen-
te a cargos, empregos ou funções não privativos de bacharel em 
Direito será realizada mediante certidão circunstanciada, expedi-
da pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições e 
a prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante 
de conhecimento jurídico, cabendo à Comissão de Concurso, 
em decisão fundamentada, analisar a validade do documento.”
4- Regularidade no serviço militar
5- Estar no gozo dos direitos políticos — comprovação por meio de 
certidão fornecida pela Justiça Eleitoral
6- Integridade física e mental — demonstrada por meio de um exame 
psicotécnico, bem como por uma entrevista pessoal com a Banca 
Examinadora.
7 Boa conduta social — o candidato deve ter conduta ilibada peran-
te a sociedade, não podendo registrar antecedentes criminais que 
sejam incompatíveis com o exercício da função. Mas veja! Não se 
trata de qualquer antecedente. Para ser impeditivo ao cargo de juiz 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 14
3 Resolução do CNJ nº 75 de 12 de maio 
de 2009.
4 Artigo 93, II, e da Constituição Federal.
deve ser incompatível com as funções que um juiz de Direito irá as-
sumir. Assim, por exemplo, uma lesão corporal culposa no trânsito, 
em regra, não será causa impeditiva ao cargo.
No que se refere ao concurso de ingresso na carreira da magistratura, o 
CNJ uniformizou as regras em todos os ramos do Poder Judiciário nacional.3
A partir da nova Resolução, o concurso deverá ser realizado em cinco eta-
pas, ao contrário da antiga que previa apenas quatro fases.
Na primeira etapa, o candidato realizará uma prova objetiva seletiva de 
caráter eliminatório e classifi catório. Exclusivamente para a execução desta 
fase, os Tribunais poderão contratar os serviços de instituições especializadas.
Para a segunda etapa, também de caráter eliminatório e classifi catório, o 
candidato deverá responder questões discursivas e elaborar uma sentença.
A terceira é constituída de três fases de caráter apenas eliminatório: sin-
dicância da vida pregressa e investigação social; exame de sanidade física e 
mental e, por último, exame psicotécnico.
Vencidas essas três etapas, o candidato deverá ser arguido através da prova 
oral pela Banca do Concurso. A fi m de dar maior transparência e confi abili-
dade a esta fase, a Resolução determinou o registro em gravação de áudio ou 
por qualquer outro meio que possibilite a sua posterior reprodução.
Por fi m, a quinta e última etapa, com a apresentação dos títulos que even-
tualmente o candidato possua, é meramente classifi catória, chegando-se ao 
fi nal do concurso com a classifi cação fi nal.
Para esta etapa, a Resolução 75/CNJ trouxe uma inovação referente à defi -
nição dos títulos admitidos, assim como a fi xação de percentual máximo para 
efeito de pontuação.
Haverá possibilidade de recurso em todas as etapas, exceto para a prova oral.
Assim, os juízes iniciam a carreira em cargos inferiores, com possibilidade 
de acesso a cargos mais elevados, segundo critérios de promoção, por antigui-
dade e merecimento, alternadamente, conforme dispõe o Artigo 93, II da CF.
Se o magistrado desejar prosseguir na carreira, poderá obter promoções e 
chegar ao segundo grau de jurisdição, quando passará a integrar o tribunal 
respectivo.
A aferição de merecimento será avaliada com base no desempenho, nos 
critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da função, bem 
como a frequência e aproveitamento em cursos ofi ciais ou reconhecidos de 
aperfeiçoamento.
Exemplo disso foi a introdução pela EC nº 45 de um critério impeditivo 
de promoção do magistrado. Trata-se do juiz que injustifi cadamente retiver 
autos em seu poder além do prazo legal4.
Há, também, outra forma pela qual um profi ssional do Direito pode vir a 
integrar a magistratura. Por meio do instituto jurídico denominado “Quinto 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 15
constitucional.” O quinto constitucional tem previsão na Constituição Fede-
ral e estabelece a forma de integração de advogados e membros do Ministério 
Público aos quadros dos tribunais estaduais (Art. 94 da CF) e federais (art. 
107, I; 111-A, I; 115, I; 123, Parágrafo único, I e II da CF). A partir de uma 
lista tríplice encaminhada pelo próprio Tribunal, o Governador do Estado 
escolherá um de seus integrantes para nomeação, matéria que estudaremos 
mais profundamente no decorrer do curso.
4) A INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO E SUAS GARANTIAS
Como já estudado, o objetivo inicial da clássica separação das funções do 
Estado e distribuição entre órgãos autônomos e independentes tem como 
fi nalidade a proteção da liberdade individual, dos direitos fundamentais e do 
Estado Democrático de direito.
Para tanto, atribuiu-lhes um mecanismo de controles recíprocos, denomi-
nado freios e contrapesos (checks and balances).
A estes órgãos (Legislativo, Executivo, Judiciário) a Constituição Federal 
confi ou parcela da autoridade soberana do Estado, garantindo-lhes autono-
miae independência.
O legislador constituinte, no intuito de preservar este mecanismo recípro-
co de controle e a perpetuidade do Estado democrático, previu, para o bom 
exercício das funções estatais, diversas prerrogativas, imunidades e garantias 
a seus agentes políticos.
As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm, assim, o 
condão de conferir à instituição a necessária independência para o exercício 
da jurisdição.
Podemos então dividir tais garantias, para melhor visualização e estudo, 
em garantias institucionais e garantias aos membros.
Ao Poder Judiciário como instituição, a Constituição assegura a prerroga-
tiva do autogoverno. E em que consiste o autogoverno? Consiste na autono-
mia funcional, administrativa e fi nanceira. É o exercício pelo Poder Judiciário 
de atividades normativas e administrativas de auto-organização e auto-regu-
lamentação. Compreende ainda a autonomia fi nanceira, consistente na prer-
rogativa de elaboração de proposta orçamentária e na gestão das dotações 
pelos próprios tribunais.
É o próprio Judiciário ainda quem organiza suas secretarias e serviços auxilia-
res, elege seus órgãos diretivos e elabora seus regimentos internos, concede licen-
ças, férias e afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores, dá provimen-
to, por concurso público, aos cargos necessários à administração da Justiça etc.
Já as garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário dividem-se 
em garantias de independência e garantias de imparcialidade.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 16
5 Artigo 93, II, c da Constituição Federal.
6 O CNJ aprovou a Resolução 34, de abril 
de 2007, que regulamenta a atividade 
de magistério pelo Magistrado. Basica-
mente, veda ao magistrado o exercício 
de atividade de magistério ligada à 
gestão.
As primeiras se destinam a tutelar a independência do magistrado perante 
órgãos ou entidades estranhas ao Poder Judiciário ou até mesmo pertencentes 
à própria organização judiciária.
São elas: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, to-
das elas disciplinadas no Artigo 95 da Constituição.
A vitaliciedade é a impossibilidade de perda do cargo senão por sentença 
transitada em julgado, dentro de determinadas hipóteses previstas em lei.
Não é possível, portanto, após o vitaliciamento, a exoneração do magistra-
do de seu cargo por mero procedimento administrativo.
Sua aquisição se dá após o chamado estágio probatório, ou seja, após dois 
anos de efetivo exercício da carreira, mediante aprovação no concurso de 
provas e títulos.
Durante este período de prova, o magistrado deverá prestar conta de sua 
atuação por meio de relatórios periódicos, além das correições a que será 
submetido.
A Emenda Constitucional nº 45 acrescentou mais um requisito. Trata-se 
da necessária participação do magistrado em cursos ofi cial ou reconhecido 
por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados5.
A inamovibilidade, por sua vez, consiste na impossibilidade de se remover 
membro da instituição do órgão onde esteja lotado, sem a sua manifestação 
voluntária.
A inamovibilidade não sofre exceção sequer em caso de promoção, que 
não pode ocorrer sem a aquiescência do magistrado. Em caso de interesse 
público, porém, reconhecido pelo voto da maioria absoluta do Tribunal ou 
do Conselho Nacional de Justiça, dispensa-se essa anuência.
Por fi m, a irredutibilidade de subsídios emerge da necessidade de se ga-
rantir ao juiz, para o bom desempenho de suas relevantes funções institucio-
nais, imunidade a eventuais retaliações dos governantes no que concerne à 
diminuição de sua remuneração.
Ressalte-se, porém, que tal garantia não é impeditiva da incidência de 
quaisquer tributos sobre os vencimentos dos juízes.
As garantias de imparcialidade são impedimentos constitucionais dos ju-
ízes que consistem em vedações que visam a dar-lhes melhores condições de 
imparcialidade, representando, assim, uma garantia para os litigantes.
O juiz é impedido, consoante o Artigo 95, parágrafo único da CF, de:
“I — exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo 
uma de magistério;6
II — receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em 
processo;
III — dedicar-se à atividade político-partidária.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 17
7 Artigo 95, parágrafo único da Consti-
tuição Federal.
8 Artigo 128, §6º da Constituição Fe-
deral.
9 TAVARES, André Ramos. Reforma do 
Judiciário no Brasil Pós-88. Saraiva, 
2005, p.86.
IV — receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições 
de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções 
previstas em lei;
V — exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes 
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exo-
neração.7”
Este inciso V é mais uma inovação tra zida pela Reforma do Judiciário — 
EC nº 45. Trata-se da quarentena, imposta aos juíze s e membros do Minis-
tério Público8.
A fi nalidade da no rma é preservar a imparcialidade-neutralidade dos juízes 
e tribunais nos quais o ex-juiz ou ex-promotor tenha atuado. O trabalho, 
como é sabido, cria laços de amizade e companheirismo entre colegas da pro-
fi ssão. Surge daí a necessidade de se evitar o tráfi co de infl uência que poderia 
ocorrer nestes casos.
Parte dos estudiosos festeja a inovação, sendo um dos reclamos atendidos 
pelo constituinte derivado, como garantia de uma maior imparcialidade nas 
decisões do Poder Judiciário.
Outros, porém, criticam a forma como isto restou estipulado:
“A norma não se apresenta apta a inibir o exercício da advocacia nos 
termos estipulados, vez que juízes e promotores poderão utilizar-se de outras 
pessoas para atuarem em seu nome. Ademais, não será pelo mero decurso do 
período de três anos (prazo temporal desacompanhado de qualquer outra 
exigência mais fi rme) que os possíveis laços de amizade e infl uência de um 
magistrado desaparecerão. Pelo contrário, o comum é que a mera passagem 
do tempo os fortaleça, se já existiam realmente. Se não existiam, o problema 
não se põe e a restrição é inadmissível. Assim, a medida não se mostra efi caz 
na prática.
Há um pressuposto sinistro, além disso, de que juízes e promotores, que 
até então eram responsáveis pela prestação da Justiça, no dia seguinte pas-
sariam a adotar atitudes imorais e desonestas, para atender a interesses pes-
soais escusos.
Por fi m, impedir pura e simplesmente, o exercício da advocacia, por 
juízes ou promotores que se aposentaram ou foram exonerados, signifi ca 
restringir direitos individuais, o que só tem sentido se for para salvaguar-
dar o interesse público, o que não parece ser facilmente demonstrável no 
caso em tela.9”
A OAB deverá passar a averiguar e controlar o triênio na atribuição da 
carteira funcional aos ex-integrantes do Judiciário e Ministério Público.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 18
10 Artigo 36, III da Lei Complementar 
35/79.
Outro impedimento, previsto na LOMAN, veda ao magistrado se “ma-
nifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de 
julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou 
sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou 
no exercício do magistério.10”
O CNJ através da Resolução n. 10, de 19 de dezembro de 2005, proibiu o 
exercício pelo magistrado de funções nos Tribunais de Justiça Desportiva e em 
Comissões Disciplinares.
Visa-se com todas estas vedações obter a dedicação exclusiva do magistra-
do às suas funções constitucionais.
O quadro abaixo é elucidativo:
Garantias
Da instituição Autogoverno
• Autonomia funcional
• Autonomia administrativa
• Autonomia fi nanceira
Dosmembros
Garantias de
independência
• Vitaliciedade
• Inamovibilidade
• Irredutibilidade de subsídios
Garantias de impar-
cialidade
(vedações)
• exercício de outro cargo ou função, salvo 
uma de magistério;
• recebimento de custas e participações em 
processos;
• dedicar-se à atividade político-partidária;
• receber, a qualquer título ou pretexto, 
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, 
entidades públicas ou privadas, ressalvadas 
as exceções previstas em lei;
• exercer a advocacia no juízo ou tribunal do 
qual se afastou, antes de decorridos três anos 
do afastamento do cargo por aposentadoria 
ou exoneração;
• manifestar-se, por qualquer meio de comu-
nicação, opinião sobre processo pendente 
de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo 
depreciativo sobre despachos, votos ou 
sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a 
crítica nos autos e em obras técnicas ou no 
exercício do magistério.
• exercer funções nos Tribunais de Justiça Des-
portiva e em Comissões Disciplinares
Finalmente, cabe ressalvar que os magistrados, face ao regime jurídico es-
pecial que possuem, têm ainda prerrogativas e deveres previstos na LOMAN, 
onde se destacam:
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 19
Prerrogativas do Magistrado
“Art. 33 — São prerrogativas do magistrado:
I — ser ouvido como testemunha em dia, hora e local previamente ajustados com 
a autoridade ou Juiz de instância igual ou inferior;
II — não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial 
competente para o julgamento, salvo em fl agrante de crime inafi ançável, caso em que 
a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente 
do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);
III — ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado-Maior, por 
ordem e à disposição do Tribunal ou do órgão especial competente, quando sujeito à 
prisão antes do julgamento fi nal;
IV — não estar sujeito à notifi cação ou à intimação para comparecimento, salvo 
se expedida por autoridade judicial;
V — portar arma de defesa pessoal.
Parágrafo único — Quando, no curso de investigação, houver indício da prática 
de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os 
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fi m 
de que prossiga na investigação.
Deveres do Magistrado
“Art. 35 — São deveres do magistrado:
I — Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as 
disposições legais e os atos de ofício;
II — não exceder injustifi cadamente os prazos para sentenciar ou despachar;
III — determinar as providências necessárias para que os atos processuais se rea-
lizem nos prazos legais;
IV — tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os 
advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que 
o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e 
possibilite solução de urgência.
V — residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disciplinar a que 
estiver subordinado;
VI — comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e 
não se ausentar injustifi cadamente antes de seu término;
VIl — exercer assídua fi scalização sobre os subordinados, especialmente no que se 
refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das partes;
VIII — manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.”
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 20
Todas estas garantias e deveres, que constituem uma “blindagem” para 
o exercício pleno das atividades da magistratura, são imprescindíveis à de-
mocracia, à perpetuidade da separação dos poderes e ao respeito aos direitos 
fundamentais, confi gurando suas ausências, supressões ou mesmo reduções, 
obstáculos inconstitucionais ao Poder Judiciário, no exercício do seu mister 
constitucional.
Em outubro de 2007, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal 
decidiu afetar ao Plenário o julgamento do recurso extraordinário em que se 
discute se o foro especial por prerrogativa de função estende-se ou não àque-
les que se aposentam em cargos cujos ocupantes ostentam tal prerrogativa.
“Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de Foro
A Turma, em questão de ordem, decidiu, por maioria, afetar ao Plenário julga-
mento de recurso extraordinário em que se discute se o foro especial por prerrogativa 
de função estende-se ou não àqueles que se aposentam em cargos cujos ocupantes 
ostentam tal prerrogativa. Trata-se, na espécie, de agravo de instrumento convertido 
em recurso extraordinário criminal interposto, por desembargador aposentado, contra 
decisão da Corte Especial do STJ que declinara de sua competência, em ação penal 
contra ele instaurada, ao fundamento de que, em decorrência de sua aposentadoria, 
não teria direito à prerrogativa de foro pelo encerramento defi nitivo da função. O ora 
recorrente sustenta a incidência do art. 95, I, da CF, assegurador da vitaliciedade aos 
magistrados, sob a alegação de que esta somente poderia ser afastada por sentença ju-
dicial transitada em julgado, na qual consignada a perda do cargo. Alega, ainda, que 
a correta leitura do art. 105, I, a, da CF, incluiria também os desembargadores apo-
sentados, uma vez que interpretação diversa desse dispositivo o colocaria em situação 
inusitada, pois, o submeteria, na qualidade de ex-presidente e ex-corregedor-geral, a 
juiz que eventualmente tenha recebido alguma sanção disciplinar. Por fi m, pleiteia 
o reconhecimento da negativa de vigência aos artigos 5º, XXXV, LIV, LV, e § 2º e 
93, IX, ambos da CF e, alternativamente, requer sejam tidos como transgredidos os 
artigos 94, I e 105, I, da CF. Vencidos, quanto ao deslocamento, os Ministros Carlos 
Britto e Cármen Lúcia que, tendo em conta a existência de precedentes da Corte, 
consideravam que a matéria poderia ser decidida pela própria Turma. RE 549560/
CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 23.10.2007. (RE-549560)”
Informativo nº 485 do STF — de 22 a 26 de outubro de 2007.
Quanto aos Juízes de primeiro grau que são convocados pelos Tribunais de 
Justiça para exercer a função de desembargador, o Superior Tribunal de Jus-
tiça já decidiu que eles não possuem a prerrogativa de foro prevista no artigo 
105 da Constituição Federal. A prerrogativa é vinculada ao cargo e não ao 
eventual exercício da função em substituição:
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 21
“PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. JUÍZA DE 1º GRAU EM 
SUBSTITUIÇÃO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE PRERRO-
GATIVA DE FORO. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Os Juízes de 1º grau em substituição nos Tribunais de Justiça não possuem a 
prerrogativa de foro assegurada pelo art. 105, inciso I, da Constituição da República.
2. Agravo regimental improvido.”
(AgRg na Representação nº 368 — BA (2007/0195172-5), Relator Ministro 
Arnaldo Esteves Lima. Acórdão publicado em 15/05/2008)
CASO DE SEDIMENTAÇÃO 1:
Magistrado tem que se explicar em CPI?
Após ter estudado bastante para seu concurso público, relembrando todo o ma-
terial da graduação da FGV (notadamente as aulas de Organização da Justiça 
e do MP!!) você se encontra no exercício da magistratura federal. Recentemente, 
atuou em processo rumoroso, que lhe rendeu bastante trabalho, tendo proferido 
20 laudas de decisão para o deferimento de liminar em favor da Empresa X, a 
qual litigava contra a Caixa Econômica Federal acerca de expressivo numerário 
que teria sido irregularmente utilizado por esta estatal com violação a direitos 
contratuais da Empresa X. Passados dois meses do deferimento da liminar, eis que 
surge uma correspondência do Senado Federal em seu gabinete, convocando-o a 
“prestar esclarecimentos perante a Comissão Parlamentar de Inquéritodos Bin-
gos”, tendo em vista ter você proferido decisão contra a CEF, em favor da Empresa 
X, ambas sob investigação da CPI. Está você obrigado a comparecer? Está obriga-
do a prestar esclarecimentos acerca de sua decisão? Em caso de respostas negativas, 
o que você poderia fazer?
LEITURA OBRIGATÓRIA:
HC 86581/DF. Rel. Min. Ellen Gracie, 23/2/2006, disponível no sítio ele-
trônico do Supremo Tribunal Federal
5) O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Após a análise sobre o Poder Judiciário e a necessidade de sua imparcia-
lidade e independência, convém tratarmos da legitimidade de um controle 
externo sobre suas atividades.
A Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, denomi-
nada Reforma do Judiciário, estabeleceu, como órgão do Poder Judiciário, o 
Conselho Nacional de Justiça. Trata-se da implementação do controle exter-
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 22
11 Disponíveis para consulta no link 
http://www.cnj.jus.br
12 Um exemplo disso é a Emenda Cons-
titucional n. 50, que se originou da PEC 
347/96, e que o CNJ pediu, em seu re-
latório de 2005 a prioridade do Poder 
Legislativo para a sua aprovação (ver 
página 94 do relatório).
no da administração da Justiça em nosso ordenamento, como ocorre já de há 
muito tempo em alguns países da Europa.
Diversas motivações nortearam o Congresso Nacional. Uma delas, de 
grande apelo popular, dizia respeito à moralidade administrativa, sacrifi cada 
por atos de nepotismo, falta de concursos públicos para contratação de asses-
sores e abuso de poder encontráveis, em maior ou menor grau, na magistra-
tura estadual e federal.
As questões levantadas são tipicamente de administração da Justiça, en-
contrando no âmbito do Conselho criado um foro adequado para a sua dis-
cussão ampla.
Está previsto ainda o controle da atuação administrativa e fi nanceira, com 
a consequente elaboração anual de relatório11, propondo as providências ne-
cessárias sobre a situação do Poder Judiciário no país e da prestação do servi-
ço jurisdicional, sugerindo, inclusive, alterações nas legislações e na própria 
Constituição12. Controle de atuação administrativa e fi nanceira signifi cam 
uma avaliação do serviço prestado. O sistema de Justiça e subsistemas que o 
integram são considerados atualmente não simplesmente como o exercício 
de uma potestade pública, mas como serviços públicos, suscetíveis de serem 
organizados, dirigidos e avaliados da mesma maneira como podem sê-lo a 
saúde, a educação, o transporte etc. A transparência é essencial. Esta compe-
tência teve como motivação a necessidade de o Estado brasileiro oferecer às 
cidadãs e cidadãos do país uma administração de Justiça ágil, transparente e 
efi caz para a proteção dos direitos e reparação das violações.
Neste cenário, foi criado o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão 
integrante do Poder Judiciário brasileiro, com atuação em todo o território na-
cional, instalado em 14 de junho de 2005, com sede em Brasília, e composto 
pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e mais 14 membros nomeados 
pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria abso-
luta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recon-
dução. Em sua maioria (nove integrantes), o CNJ é composto por membros 
do próprio Poder Judiciário e pode ser dividido da seguinte forma:
(a) Membros do Judiciário (9):
- o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
- um ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respec-
tivo tribunal;
- um ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo res-
pectivo tribunal;
- um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo 
Tribunal Federal;
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 23
- um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
- um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tri-
bunal de Justiça;
- um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
- um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal 
Superior do Trabalho;
- um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
(b) Membros das Funções essenciais à Justiça (4):
Ministério Público (2):
- um membro do Ministério Público da União, indicado pelo procu-
rador-geral da República;
- um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo pro-
curador-geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão 
competente de cada instituição estadual;
Advocacia (2):
- dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos 
Advogados do Brasil;
(c) Membros da sociedade escolhidos pelo Legislativo (2):
- dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indica-
dos um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
Cabe destacar que, com a alteração promovida pela Emenda Consti-
tucional nº 61/2009, caberá ao Presidente do STF presidir o Conselho 
Nacional de Justiça e, nas suas ausências e impedimentos, caberá ao Vice-
Presidente do STF.
Para o Supremo Tribunal Federal, “a existência, no Conselho, de membros 
alheios ao corpo da magistratura, além de viabilizar a erradicação do corporati-
vismo, estende uma ponte entre o Judiciário e a sociedade, permitindo a oxigena-
ção da estrutura burocrática do Poder e a resposta a críticas severas” (STF — Ple-
no — ADIN nº 3.367/DF — Rel. Min. César Peluso, decisão: 13-4-2005).
Doutrina e jurisprudência muito divergiam a respeito da constitucionali-
dade da criação deste controle externo. A discussão passava principalmente 
por dois pontos: a independência dos poderes (Art. 2º da CF) e a vulneração 
das cláusulas pétreas (Art. 60,§ 4º da CF).
Pense, medite e responda:
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 24
13 Ministro Nelson Jobim, então Minis-
tro do STF, em artigo “Judiciário: Cons-
truindo um novo modelo; in “A reforma 
do Poder Judiciário no Estado do Rio de 
Janeiro. Fundação Getúlio Vargas-Rio 
de Janeiro, 2005.
Viola a criação do CNJ a independência entre os poderes e as cláusulas 
pétreas?
Até que ponto a criação desse órgão controlador não iria ferir a inde-
pendência dos poderes, tão preservada em nossa Constituição e que veio 
inclusive coberta pelo manto da imutabilidade das cláusulas pétreas?
Ocorre que, como é cediço, as estruturas do Poder — Legislativo, Execu-
tivo e Judiciário — vêm sofrendo um grande desgaste nas últimas décadas. 
Questões relevantes precisam ser discutidas para a reestruturação do Estado 
e dos poderes públicos. O Parlamento não mais, necessariamente, refl ete a 
vontade popular, havendo necessidade de uma ampla reforma política, prin-
cipalmente no tocante ao sistema eleitoral.
No campo do Poder Executivo, problemas semelhantes se apresentam. A 
transformação do Estado Liberal para o Estado do Bem-Estar Social mudou 
completamente a relação Executivo — Sociedade. São as privatizações, as agên-
cias reguladoras, a ingerência cada vez maior do Estado na vida do particular...
Da mesma forma, é inegável também a crise no Judiciário brasileiro. O 
nosso Judiciário é considerado lento, inefi caz e caro. O Judiciário tornou-se 
protagonista de uma série de confl itos, mas não vem sendo capaz de dar as 
tão almejadas respostas à sociedade.
Quais as causas para esta crise do Judiciário?
Para o STF, as causas são muitas, mas especialmente:
— A criação dos Juizados Especiais na Justiça Estadual, em 1995, e 
na Justiça Federal, em 2002, que elevou signifi cativamente o acesso à 
Justiça;
— A intensa judicialização das denominadas lesões de massa, como 
por exemplo, as questões decorrentes dos planos econômicos;
— O aumento da criminalidade organizada;
— O aumento do controle de constitucionalidade, tanto a nível 
concentrado quanto a nível difuso.13
Uma das soluções encontradas para se acabar com a crise no Judiciáriofoi 
a sua Reforma, ocorrida em 2004, com a EC nº 45, que criou o então órgão 
de controle externo, denominado Conselho Nacional de Justiça.
Tal criação já foi objeto de Ação de Declaração de Inconstitucionalidade, 
ADIN nº 3367, julgada em abril de 2005, tendo como relator o ministro 
Cezar Peluso, tendo sido reconhecida a constitucionalidade do Conselho Na-
cional de Justiça.
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 25
Trata-se de um órgão cuja natureza é meramente administrativa. Órgão 
interno do Poder Judiciário de controle administrativo, fi nanceiro e disci-
plinar da magistratura. Não há infringência nas funções típicas do Judici-
ário. Preserva-se a imparcialidade e a independência do magistrado, apesar 
do mesmo passar a se submeter a um controle administrativo externo por 
parte do CNJ. Esta decisão inova não somente em relação ao CNJ, cuja 
constitucionalidade foi declarada, mas também reforça e centraliza na força 
do Supremo Tribunal Federal todo o ordenamento jurídico-constitucional 
brasileiro. Torna o STF não só a cúpula jurisdicional do Poder Judiciário 
brasileiro, como já tradicionalmente estabelecido, como também, a partir da 
EC nº 45/04, sua cúpula administrativa, fi nanceira e disciplinar, pois todas 
as decisões do CNJ sobre o controle da atuação administrativa e fi nanceira 
dos tribunais e sobre a atuação funcional dos magistrados serão passíveis de 
controle jurisdicional pelo STF, que fi xará o último posicionamento. Leia a 
seguir o trecho da decisão acerca deste ponto:
“(...) 4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Órgão de 
natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da ativi-
dade administrativa, fi nanceira e disciplinar da magistratura. Competência 
relativa apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do 
Supremo Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Po-
der Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu con-
trole jurisdicional. Inteligência dos art. 102, caput, inc. I, letra “r”, e § 4º, 
da CF. O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma competência sobre 
o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse o órgão máximo do 
Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito. (...)”
Seria constitucional um Estado da Federação criar um órgão similar ao 
CNJ no âmbito estadual?
O Supremo Tribunal Federal também já teve a oportunidade de so-
lucionar tal questão, na mesma ADIN, nos seguintes termos:
“(...) 3. PODER JUDICIÁRIO. Caráter nacional. Regime or-
gânico unitário. Controle administrativo, fi nanceiro e discipli-
nar. Órgão interno ou externo. Conselho de Justiça. Criação por 
Estado membro. Inadmissibilidade. Falta de competência consti-
tucional. Os Estados membros carecem de competência constitu-
cional para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciá-
rio, conselho destinado ao controle da atividade administrativa, 
fi nanceira ou disciplinar da respectiva Justiça.(...)”
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 26
Como já ressaltado acima, a jurisdição é una. Como expressão do 
poder estatal, ela é eminentemente nacional e não comporta divisões. 
Desta forma, como bem assinalou o STF, o Poder Judiciário é nacional 
e seu regime orgânico é unitário, não comportando a instituição de 
novos órgãos controladores em âmbito estadual.
Desta forma, três são os pontos caracterizadores do CNJ que afastam a 
possibilidade de declaração de sua inconstitucionalidade sob alegação de in-
terferência na separação de Poderes:
- é órgão integrante do Poder Judiciário;
- sua composição apresenta maioria absoluta de membros do Poder 
Judiciário;e
- existe possibilidade de controle de seus atos pelo órgão da cúpula do 
Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal.
Resta, portanto, agora, saber quais são as tão discutidas atribuições do CNJ.
A Constituição Federal trouxe, em seu Artigo 103—B, § 4º, um rol exempli-
fi cativo das mais importantes atribuições do CNJ. Passam elas pelo controle da 
atuação administrativa e fi nanceira do Poder Judiciário e do cumprimento dos 
deveres funcionais dos juízes.
Para uma maior aproximação do Conselho Nacional de Justiça com a 
sociedade, garantindo maior efetividade na sua atuação, a EC nº 45/2004 
previu ainda no Art. 103-B, §7º, a criação de Ouvidorias de Justiças, com 
competência para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado 
contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxi-
liares, representando diretamente ao CNJ.
Questão que tem encontrado grande divergência jurisprudencial e dou-
trinária diz respeito aos limites do poder normativo do CNJ. A Reforma do 
Judiciário lhe conferiu a importante atribuição de zelar pela autonomia do 
Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo 
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar 
providências.
Porém, quais os limites destes atos regulamentares? Seriam eles regula-
mentos autônomos? Teriam eles força de lei?
Por exemplo, no dia 18 de outubro de 2005, o CNJ expediu a Resolução 
nº 7, que disciplina o exercício de cargos, empregos e funções por parentes, 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 27
14 “Art. 37. A administração pública dire-
ta e indireta de qualquer dos Poderes da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Municípios obedecerá aos princípios 
de legalidade, impessoalidade, morali-
dade, publicidade e efi ciência (...)”
cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em car-
gos de direção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário, 
vedando a prática de nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder Ju-
diciário, sendo nulos os atos assim caracterizados.
Pode o CNJ, por intermédio de mera resolução, coibir a prática de nepo-
tismo? Não haveria necessidade de lei para tanto?
Há que se explicitar qual o real objetivo do constituinte ao conferir tal 
poder regulamentar ao CNJ. Seria um grande equívoco imaginar que a so-
ciedade tivesse conferido ao CNJ o poder de, mediante resoluções, substituir 
a vontade geral do povo, ou seja, substituir o Poder Legislativo. Da mes-
ma forma, seria errôneo o entendimento de que o CNJ poderia substituir o 
próprio Poder Judiciário, por meio de concessão de medidas liminares, por 
exemplo, de caráter jurisdicional. Não pode o CNJ romper com os princípios 
da reserva da lei e da reserva de jurisdição. O poder de expedir atos regulamen-
tares tem um objetivo específi co, qual seja, o controle administrativo. Aliás, 
essa é a ratio essendi da criação do CNJ. Tratando-se de atos de fi scalização 
administrativa, apenas podem dizer respeito à situações concretas. Essa é a 
distinção. A matéria reservada à lei, geral e abstrata, diz respeito a previsão de 
comportamentos futuros. Já a matéria reservada aos atos regulamentares do 
CNJ diz respeito as diversas situações que surjam da atividade concreta dos 
juízes, exercendo o CNJ um controle destas. São dois os limites, portanto:
• não pode expedir atos regulamentares com caráter geral de abstrato, 
em face da reserva de lei; e
• não pode se ingerir nos direitos e garantias fundamentais dos cida-
dãos, face a cláusula de proibição de restrição a direitos e garantias 
fundamentais, que se sustenta na reserva de lei.
Desta forma, os atos regulamentadores do CNJ esbarram assim na im-
possibilidade de inovar e na impossibilidade de restringir direitos e garantias 
pessoais, funcionais e institucionais. Deve-se restringir, portanto, a emitir 
atos regulamentares de carárter fi scalizatório, porém, somente em sede ad-
ministrativa.
Voltando a Resolução nº 7 do CNJ, percebe-se que a mesma se en-
contra dentro dos parâmetros constitucionais delineados para o poder 
regulamentar do Conselho.
Isto porque,conforme dispõe o Artigo 103-B, §4º, II da CR, o CNJ 
tem o dever de zelar pela observância do artigo 37 da Constituição 
Federal14 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 28
atos administrativos, podendo desconstituí-los, revê-los ou fi xar prazo 
para que se adotem providências necessárias ao exato cumprimento da 
lei. Ora, a proibição do preenchimento de cargos em comissão por 
cônjuges e parentes de servidores públicos é medida que homenageia e 
concretiza o princípio da moralidade administrativa, o qual deve norte-
ar toda a Administração Pública, em qualquer esfera do poder. Legítima 
e constitucional, portanto, a atuação do Conselho Nacional de Justiça.
Pode o CNJ, por meio de um Procedimento Administrativo, anular con-
curso público para Juiz de Direito substituto? E mais, poderia fazê-lo ex 
offi cio?
Sim, tendo em vista a previsão contida nos artigos 91 e 93 do novo Re-
gimento Interno do CNJ.
Art. 91. O controle dos atos administrativos praticados por membros ou 
órgãos do Poder Judiciário será exercido pelo Plenário do CNJ, de ofício ou 
mediante provocação, sempre que restarem contrariados os princípios estabeleci-
dos no art. 37 da Constituição, especialmente os de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e efi ciência, sem prejuízo da competência do Tribunal 
de Contas da União e dos Tribunais de Contas dos Estados.
Art. 93. A instauração de ofício do procedimento de controle administrativo 
poderá ser determinada pelo Plenário, mediante proposição de Conselheiro, do 
Procurador-Geral da República ou do Presidente do Conselho Federal da OAB.
Foi com base nestes dois artigos, que o Plenário do STF, por unanimida-
de de votos, negou o Mandado de Segurança 26163-DF impetrado contra 
decisão do CNJ que anulou, de ofício, o VII Concurso Público para a Ma-
gistratura do Amapá.
Outra decisão importante do CNJ, a respeito do concurso público, foi a 
proferida no PCA (Procedimento de Controle Administrativo) nº 347 com 
relação ao concurso para ingresso na magistratura no Estado de São Paulo, 
que limitava a participação no certame somente àqueles que haviam com-
pletado 45 anos de idade no último dia da inscrição.
O Plenário do CNJ, por unanimidade, afastou tal dispositivo do edital 
de abertura do concurso por considerar que a limitação de idade não coa-
duna com a interpretação sistêmica do ordenamento jurídico pátrio, além 
de representar afronta aos princípios da isonomia, da razoabilidade e da 
legalidade.
Considerou-se a proibição constitucional de qualquer discriminação em 
razão da idade, notadamente no que se refere à inserção dos indivíduos no 
mercado de trabalho. Sendo assim, a legislação ordinária ou os editais de 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 29
concursos públicos só poderão fi xar limites etários para ingresso no servi-
ço público quando a natureza do cargo o exigir (art. 39, § 3º, CF). E que, 
ainda que possível em determinados casos a estipulação de idade mínima 
ou máxima para ingresso em cargo público, tal exigência dependerá de ex-
pressa previsão legal, em razão do princípio da legalidade.
Cumpre-nos ressaltar, porém, que o Supremo Tribunal Federal, apesar da 
criação do Conselho Nacional de Justiça como órgão integrante do Poder 
Judiciário Brasileiro, continua sendo a Corte máxima deste Poder, sendo o 
órgão legitimado para o julgamento de questões que envolvam decisões to-
madas pelo CNJ ou regulamentos por este expedidos.
Tendo em vista o material exposto a respeito do tema “Conselho Nacional 
de Justiça”, examine o caso a seguir:
CASO DE SEDIMENTAÇÃO:
Carla, estudante de direito e fi lha de um desembargador do Tribunal de 
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, trabalhava diariamente como assessora 
no gabinete de seu pai no Tribunal, ocupando um cargo em comissão, isto é, 
de livre nomeação pelo Tribunal, sem a exigência do concurso público.
Ocorre que, em outubro de 2005, o Conselho Nacional da Justiça editou 
a Resolução número 07, vedando a prática de nepotismo no âmbito de todo 
o Poder Judiciário, conceituando ainda como nepotismo, dentre outras situ-
ações, o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratifi -
cada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, com-
panheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afi nidade, até o terceiro 
grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados. Irresignada, 
Carla foi obrigada a abandonar o cargo.
Pergunta-se: Poderia o CNJ editar referida Resolução, vinculando todo 
o Poder Judiciário?
LEITURA OBRIGATÓRIA:
Resolução nº 07 do CNJ (Atualizada com a redação da Resolução nº 09/05 
e nº 21/06) (www.cnj.jus.br)
Finalmente, é importante um olhar crítico aos limites dos poderes do CNJ 
e de seu congênere, o CNMP.
Para tanto, torna-se indispensável a leitura do artigo dos professores Ingo 
Sarlet, Lenio Luiz Streck e Clèmerson Clève, acerca do assunto: Os limites 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 30
15 Disponível no site http://jus2.uol.
com.br/doutrina/texto.asp?id=7694, 
acesso em 27/11/2009.
constitucionais das resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e 
Conselho Nacional do Ministério Público(CNMP) 15
JURISPRUDÊNCIA
Poder Judiciário
ART. 93, XI, DA CF: TRIBUNAL PLENO E ÓRGÃO ESPECIAL — 1
O Tribunal iniciou julgamento de liminar em mandado de segurança im-
petrado por desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
— TJSP contra decisão do Conselho Nacional de Justiça — CNJ que defe-
rira, em parte, medida liminar em procedimento de controle administrativo 
— PCA para anular a expressão “a ser submetida à apreciação do Tribunal Ple-
no”, contida no art. 1º e todo o art. 5º da Portaria 7.348/2006 do Presiden-
te do TJSP, bem como para cassar todas as deliberações administrativas ou 
normativas do Tribunal Pleno que usurparam atribuições do Órgão Especial, 
em violação do Enunciado Administrativo 2 do CNJ e das Constituições Es-
tadual e Federal. Entendera o voto condutor da decisão do CNJ que, criado 
o Órgão Especial, passariam automaticamente para a sua competência todas 
as atribuições administrativas e jurisdicionais que eram do Pleno, exceto a 
eletiva. Na espécie, diante da extinção dos Tribunais de Alçada paulistas (EC 
45/2004, art. 4º), o Presidente do TJSP convocara o Plenário para deliberar 
sobre as competências a delegar ao seu Órgão Especial, haja vista o dispos-
to no novo inciso XI do art. 93 da CF, o que resultara no requerimento de 
instauração do aludido PCA, ao CNJ, por integrantes do Órgão Especial, 
visando manter a supremacia jurisdicional e administrativa deste (CF, art. 
93: “XI — nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, pode-
rá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e 
cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais 
delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por 
antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;”).
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411) — 
Informativo 460
ART. 93, XI, DA CF: TRIBUNAL PLENO E ÓRGÃO ESPECIAL — 2
Inicialmente, o Tribunal, por maioria, em questão de ordem, admitiu que o 
pedido liminar fosse submetido ao Pleno pelo relator. Vencido, no ponto, o Min. 
Marco Aurélio que considerava caber ao próprio relator defi nir a procedência 
ou não do pedido de concessão de liminar, tendo em conta o disposto na Lei 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 31
1.533/51 e no Regimento Interno do STF, bem como o Enunciado da Súmula 
622 do STF (“Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que con-
cede ou indefere liminar em mandado de segurança”). Emseguida, afi rmou-se 
a legitimidade ativa dos impetrantes. Salientou-se estar diante de mandado de 
segurança utilizado como substitutivo do confl ito de competências ou atribuições 
entre órgãos não personalizados de estatura constitucional, e citou-se jurispru-
dência da Corte no sentido de ser reconhecida a legitimação do titular de uma 
função pública para requerer segurança contra ato do detentor de outra tendente 
a obstar ou usurp ar o exercício da integralidade de seus poderes ou competên-
cias (MS 21239/DF, DJU de 23.4.93; MS 20499/DF, DJU de 6.11.87). As-
severou-se ser improcedente, ademais, objeção acerca da legitimidade em virtude 
de a ordem ter sido impetrada por uma parcela de integrantes do Plenário do 
TJSP, e não por titular individual do direito-função vindicado. Considerou-se 
bastar a legitimá-los para impetração que, como desembargadores, participem 
do Plenário, cuja competência sustentam, e, nessa condição, se pretendam titu-
lares do direito de voto nas suas deliberações respectivas, incidindo, no caso, o § 
2º do art. 1º da Lei 1.533/51 (“Quando o direito ameaçado ou violado cou-
ber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança”).
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411)
ART. 93, XI, DA CF: TRIBUNAL PLENO E ÓRGÃO ESPECIAL — 3
Quanto à questão de mérito, o Min. Sepúlveda Pertence, relator, deferiu 
a liminar para suspender, até a decisão do mandado de segurança, a efi cácia 
da decisão impugnada. Reputou densa a plausibilidade dos fundamentos do 
pedido de segurança, haja vista que a decisão do CNJ minimiza a inovação 
substancial do texto ditado pela EC 45/2004 para o inciso XI do art. 93 da 
CF. Ressaltou, de início, ser de importância decisiva a menção, nele contida, 
ao exercício de atribuições delegadas da competência do Tribunal Pleno, ine-
xistente nos textos anteriores concernentes à instituição do Órgão Especial 
— compulsória na EC 7/77 à Carta decaída, e facultada no texto original da 
Constituição. Afi rmou que a Constituição não delega competências, mas as 
confere aos órgãos que ela própria constitui, e que, por isso, a delegação in-
troduzida pela EC 45/2004 tem dois pressupostos sucessivos: primeiro, que 
o seu objeto seja da competência original do órgão delegante e, segundo, o 
ato deste que delega a outro o seu exercício. Assim, a Constituição nem ins-
titui, ela própria, o Órgão Especial nos grandes tribunais — diferentemente 
do que determinava a EC 7/77 —, nem lhe concede todas as atribuições 
jurisdicionais e administrativas do Tribunal Pleno, mas apenas faculta a este 
que, por meio de delegação, transfi ra o exercício dessas atribuições ao Órgão 
Especial que resolva instituir. Diante disso, concluiu caber ao Tribunal Pleno 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 32
constituir ou manter o Órgão Especial e delegar-lhe parcial ou total mente 
suas atribuições com, pelo menos, uma única exceção, qual seja, o poder 
normativo de elaborar o regimento interno do tribunal e nele dispor sobre a 
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e admi-
nistrativos. Considerou, por fi m, que, patente a relevância constitucional dos 
fundamentos da impetração, o risco de manter a efi cácia do ato impugnado, 
até a decisão defi nitiva do mandamus, seria manifesto na eventualidade de 
ter-se um regimento votado pelo Órgão Especial, cuja invalidade seria de 
declaração provável, com todas as consequências que poderiam advir para o 
funcionamento o TJSP. Após, pediu vista o Min. Cezar Peluso.
MS 26411/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 22.3.2007. (MS-26411) — 
Informativo 460
ADI E AUTONOMIA FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA DO PODER JUDICIÁRIO
Por considerar caracterizada a ofensa à independência e harmonia dos Pode-
res e à autonomia administrativa e fi nanceira do Poder Judiciário (CF, artigos 2º, 
96 e 99, respectivamente), o Tribunal julgou procedente pedido formulado em 
ação direta ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros — AMB para 
declarar a inconstitucionalidade da Lei alagoana 5.913/97, que cria a Central 
de Pagamentos de Salários do Estado de Alagoas — CPSAL, e inclui entre as 
responsabilidades desta a de “aferir, e endossar, a legalidade funcional, e os proven-
tos, de cada servidor público”, “produzir os documentos e relatórios necessários ao 
pagamento dos estipêndios do funcionalismo público”, e “prover, com exclusividade, 
o pagamento de todos os servidores públicos, abrangendo os das administrações dire-
ta e indireta, fundacional pública e autárquica, dos Poderes Executivo, Legislativo 
e Judiciário, do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Contas do Estado” 
— v. Informativo 67. Reportou-se, ademais, ao que decidido na ADI 3367/
DF (DJU de 22.9.2006), em que declarada a constitucionalidade da criação do 
Conselho Nacional de Justiça — CNJ exatamente por se tratar de órgão inter-
no de controle administrativo, fi nanceiro e disciplinar da magistratura, ou seja, 
por não constituir órgão externo à estrutura do Poder Judiciário, salientando o 
fato de se ter posto ali em evidência a vedação constitucional a interferências 
externas que possam, de alguma forma, afetar negativamente a independência 
da magistratura. Observou-se, ainda, que a circunstância de a CPSAL ser com-
posta também por representante do Poder Judiciário não afastaria o vício da 
inconstitucionalidade, e que esse fato, além de permitir que o Poder Judiciário 
interferisse indevidamente nos demais Poderes, não garantiria que sua atuação, 
as suas ponderações e escolhas, quanto a seus servidores, prevalecessem. Outros 
precedentes citados: ADI 1051/SC (DJU de 13.10.95); ADI 135/PB (DJU de 
15.8.97); ADI 183/MT (DJU de 31.10.97); ADI 98/MT (DJU de 31.10.97); 
ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FGV DIREITO RIO 33
ADI 137/PA (DJU de 3.10.97); ADI 2831 MC/RJ (DJU de 28.5.2004). ADI 
1578/AL, rel. Min. Cármen Lúcia, 4.3.2009. (ADI-1578) Informativo 537
PREENCHIMENTO DE CARGO DE DESEMBARGADOR E CRITÉRIO DE MERECI-
MENTO — 1
O Tribunal, por maioria, negou provimento a agravo regimental inter-
posto, por juízes de direito, contra decisão que deferira pedido de suspensão 
da execução de liminar, concedida em mandado de segurança em trâmite no 
Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso — TJMT, que suspendera o 
preenchimento de cargo aberto pela aposentadoria de desembargador, pelo 
critério de merecimento. Sustentavam os agravantes que impetraram o referi-
do writ para assegurar o direito de serem votados para compor a lista tríplice 
de acesso, por merecimento, ao cargo de desembargador, independentemen-
te de integrarem a primeira quinta parte da lista de antiguidade da entrância 
especial, afastando, dessa forma, a incidência da Resolução 4/2006/OE da-
quela Corte, fundada no art. 6º da Resolução 6/2005 do Conselho Nacional 
de Justiça — CNJ. Tendo em conta a publicação do edital do concurso de 
acesso, a liminar no mandado de segurança fora concedida para suspender o 
preenchimento desse cargo até o julgamento do mérito da impetração.
SS 3457 AgR/MT, rel. Min. Ellen Gracie, 14.2.2008. (SS-3457) — In-
formativo 494
PREENCHIMENTO DE CARGO DE DESEMBARGADOR E CRITÉRIO DE MERECI-
MENTO — 2
Entendeu-se que a decisão agravada deveria ser mantida em razão de não te-
rem sido infi rmados ou ilididos os fundamentos por ela adotados. Asseverou-se 
que o Estado requerente demonstrara a situação confi guradora da grave lesão à 
ordem pública, qual seja, a de que a decisão impugnada impediria a aplicação 
da Resolução do CNJ, inibindo o exercício de suas atribuições institucionais. 
Além disso, a grave lesão à ordem pública restaria também comprovada, con-
siderada em termos de ordem jurídico-constitucional, porque, se se adotasse o 
entendimento de que a EC 45/2004 teria estabelecido o retorno ao regime de 
merecimento puro

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