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HISTÓRIA Disciplinas Introdução aos Estudos Históricos Sociedades Ágrafas e História Antiga História Medieval Metodologia Científica Seminário da Prática III Semestres 2º flex e 3º regular Professore s Julho Zamariam Marina Costa de Oliveira Patrícia Graziela Gonçalves José Osvaldo Henrique Corrêa PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR EM GRUPO Caros Alunos do Grupo Esta Produção Textual Interdisciplinar em Grupo busca oferecer uma oportunidade para a reflexão sobre dois dos conceitos fundamentais para os estudos históricos: escravidão e servidão. Para isso, vocês deverão analisar a escravidão na Antiguidade e a servidão na Idade Média e relacioná-las a ideia de trabalho análogo à escravidão na atualidade. Casos de escravidão, infelizmente, ainda persistem no mundo globalizado, inclusive no Brasil. E uma forma de contribuir para sua extinção é não deixar que os estudos sobre o tema percam intensidade, sempre instigando as novas gerações a pensar criticamente essa forma de exploração de trabalho. Nesse sentido, é urgente que tomemos conhecimento da existência de uma vasta rede de escravidão no Brasil contemporâneo [...]. O professor de História deve estar atento às diversas formas institucionais e sociais das relações de trabalho ao longo do processo histórico. O trabalho, na análise da servidão, da escravidão e do trabalho dito “livre”, pode e deve constituir um eixo temático fundamental em que pesquisas e seminários podem ter lugar. [...] Essas são algumas das questões que o eixo temático “Trabalho” pode buscar responder. O presente deve ser o ponto de partida, uma vez que o trabalho (ou a falta dele) continua a ser uma realidade que abrange o universo social de alunos e professores. Silva, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 114; 381. Desse modo, vocês estabelecerão ligações entre essas condições (escravidão na Antiguidade; servidão na Idade Média e trabalho análogo à escravidão) no passado e no presente, aprofundando a compreensão das transformações e permanências ocorridas no processo histórico. Eixo integrador: Formação da sociedade Antiga e Medieval. PROPOSTA DE TRABALHO Objetivos: - Compreender a historicidade do conceito escravidão. - Compreender a historicidade do conceito servidão. - Compreender a ideia de trabalho análogo à escravidão na atualidade. - Relacionar os conceitos escravidão, servidão e trabalho análogo à escravidão. CONTEXTUALIZAÇÃO Situação problema: Durante seu fim de semana de folga, Érica, professora de História em uma escola de Ensino Médio na cidade de São Paulo, leu uma reportagem que lhe surpreendeu. A reportagem falava sobre uma operação em que a Polícia Federal desmantelou uma fábrica onde trabalhadores eram submetidos a condições análogas à escravidão (Leia a reportagem: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/07/video-mostra-oficina-de-costura-em-sp-de-onde- peruanos-foram-libertados.html>). Para surpresa ainda maior de Érica, a fábrica se localizava no trajeto que fazia todos os dias entre sua casa e a escola onde lecionava! A partir de um problema de seu tempo presente (a permanência de situações ilegais análogas à escravidão no Brasil em pleno século XXI), Érica pensou em relacionar diferentes sistemas de trabalho ao longo da história — levando em consideração suas diferenças e similaridades, as aproximações e distanciamentos —: a escravidão antiga e a servidão medieval. Diante disso, Érica pensou ser fundamental realizar junto a seus alunos uma atividade na qual refletissem sobre o trabalho análogo à escravidão no Brasil atual e, para isso, ela considerou importante compreender o conceito de escravidão na Antiguidade e de servidão na Idade Média. Para realizar esse estudo, Érica levou para sala de aula os seguintes materiais: - Vídeo: Band. Trabalho escravo. Disponível em: <https://youtu.be/IGSJU47F-80>. Acesso em: 15 dez. 2016. - Texto: Organização Internacional do Trabalho. Trabalho escravo no Brasil do século XXI (somente do tópico “A”: Situação atual do trabalho escravo no Brasil, páginas 20 a 38): Disponível em: HISTÓRIA <www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/trabalho_escravo_no_bras il_do_%20seculo_%20xxi_315.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016. - Texto sobre conceitos e leis sobre o trabalho escravo e a situação no Brasil: Nações Unidas no Brasil. Trabalho escravo. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/wp- content/uploads/2016/04/position-paper-trabalho-escravo.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016. - Texto sobre o ciclo do trabalho escravo: Repórter Brasil. Ciclo do trabalho escravo no Brasil contemporâneo. Disponível em: <www.escravonempensar.org.br/wp- content/uploads/2015/08/fasciculo_ciclo_novo_final_baixa_23.07.15.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2016. Além destes materiais, a Prof. Érica também levou para seus alunos a definição dos conceitos de Escravidão e Servidão do Dicionário de Conceitos Históricos, de Kalina e Vanderlei Silva: TEXTO 1: Escravidão Não é simples oferecer uma conceituação para a escravidão. Em primeiro lugar, a dificuldade inicial está em diferenciar os indivíduos submetidos à escravidão daqueles submetidos a outras formas de subordinação e exploração. Em muitas sociedades tradicionais, por exemplo, filhas púberes, filhos caçulas e esposas estiveram tão submetidos aos chefes de famílias patriarcais que suas condições sociais não eram tão superiores às dos escravos. Porém, qualquer definição de escravidão deve ser suficientemente flexível para conter os significados diversos que os agentes históricos de uma dada época lhe conferiram. Ou seja, por mais que a escravidão ao longo da história humana tenha assumido alguns traços mais ou menos universais, seus significados variaram em larga medida ao longo do tempo. Daí decorre que o conceito de escravidão precisa se fundamentar em sua própria historicidade, ou seja, nas diferentes formas que assumiu e nos significados que cada sociedade e época lhe atribuíram. De qualquer modo, uma definição de escravidão que nos parece bastante aplicável a seus diversos contextos históricos é a proposta por Claude Meillassoux. Segundo ele, a escravidão é um modo de exploração que toma forma quando uma classe distinta de indivíduos se renova continuamente a partir da exploração de outra classe. Ou seja, a escravidão aparece quando todo um sistema social se estrutura com base na exploração e na perpetuação de escravos continuamente reintroduzidos seja por comércio ou reprodução natural. O autor ainda afirma que para a escravidão existir é preciso uma rede de relações entre diferentes sociedades: há aquelas nas quais os escravos são capturados, aquelas que dispõem de uma estrutura militar para capturar os cativos das primeiras, aquelas sociedades ditas mercantis que controlam o escoamento dos escravos e, por fim, há sociedades mercantis consumidoras de escravos. Essa definição demonstra o quanto a escravidão mobiliza um conjunto econômico e social geograficamente extenso. O senso comum, em nossa sociedade, faz uso da expressão escravo para diversos tipos de situações relativas a formas degradantes de trabalho, ou a um tipo de sujeição considerado humilhante. Isso se dá porque as condições de sobrevivência da maioria da humanidade ao longo da história e os diversos modos de subordinação e exploração adquiriram formas tão humilhantes e grotescas que os indivíduos tendem, vulgarmente, a atribuir o termo escravo para qualquer situação em que essas condições se apresentem. Mas é fundamental distinguir a escravidãode outras formas de opressão. A escravidão, antes de mais nada, define o escravo a partir de seu status jurídico. A principal distinção entre o escravo e o servo, e entre o escravo e outras pessoas submetidas a trabalhos compulsórios, nesse sentido, está no fato jurídico de o escravo ser propriedade do senhor, não sendo, portanto, definido como pessoa. Mas esse aspecto jurídico que regulamenta e define o escravo foi sempre problemático, segundo David Brion Davis, uma vez que o escravo definido como propriedade (coisa) não deixava de ser também uma pessoa, um homem. Pensadores, filósofos, juristas e teólogos, ao longo do tempo, em diferentes sociedades escravistas, debateram arduamente se o escravo era ou não um homem e se a escravidão estava ou não conforme a lei natural. Aristóteles, por exemplo, julgava que não se podia falar em interesses do escravo, pois este não tinha nenhuma faculdade deliberativa, sendo apenas um instrumento ou posse, uma extensão da natureza física do seu senhor; quem de fato tinha interesses era este. Assim, os interesses do escravo estavam restritos aos interesses do senhor. Aristóteles, desse modo, desumanizou totalmente o escravo. Em toda sociedade em que a escravidão foi o motor das relações sociais, o objetivo dos escravagistas (fossem mercadores ou proprietários) era exatamente esse, eliminar do escravo qualquer vestígio de sua humanidade. Assim, o escravo seria uma não pessoa e, portanto, não teria sonhos, projetos, valores próprios. Todavia, se o escravo ideal era aparentemente aquele mais desumanizado, mais coisificado, é preciso reconhecer, como fez Claude Meillassoux, que, na prática, os escravos não eram utilizados como objetos ou animais, pois em todas as tarefas em que eram empregados era preciso apelar para sua inteligência humana. Além disso, o discurso do escravo-coisa, que fazia parte da ideologia dos senhores, resvalava na resistência dos próprios escravizados, que davam a todo o momento provas de sua humanidade. Para Meillassoux, a definição jurídica segundo a qual o escravo é descrito como um objeto submetido a seu proprietário era uma ficção que mascarava as relações sociais da escravidão, uma vez que a relação pretensamente individual entre o senhor e o escravo (coisa, propriedade) contida na lei dissimula e neutraliza a relação de classe. Desde o Egito antigo, passando pela Babilônia, Assíria, Grécia, Roma, Índia, China e em parte da Europa medieval, as sociedades escravagistas elaboraram arcabouços jurídicos para definir o escravo como coisa. Apesar disso, a escravidão e a identidade do escravo não podem ser definidas pelo aspecto meramente jurídico. Os próprios sistemas legais que definiram o escravo como coisa, como o sistema romano, admitiram a face humana do escravo ao puni-lo por delitos e ao reconhecer um mínimo de proteção contra o assassinato e danos corporais graves por parte do poder arbitrário de seus senhores. Os juristas romanos, portanto, reconheceram abertamente que o escravo era tanto uma coisa quanto uma pessoa. Para David Brion Davis, a escravidão ultrapassa a definição jurídica e deve ser encarada como uma instituição real que envolve funções econômicas e relações interpessoais. Ou seja, essa instituição apresenta uma face cotidiana e tensa, com diferentes formas de negociações e conflitos entre senhores e escravos. Nesse sentido, a escravidão é um sistema social dinâmico, sujeito a mudanças e lutas entre os grupos envolvidos. Para as sociedades que mantinham a escravidão, um problema fundamental era o de delimitar as diferenças entre o grupo dos livres e o dos escravos. Em sociedades mais notadamente etnocêntricas, como a dos hebreus e gregos antigos, normalmente se buscava capturar e escravizar apenas os estrangeiros. Isso não quer dizer que não havia escravidão de indivíduos do mesmo grupo étnico, mas que havia diferenciação no tratamento entre estrangeiros e não estrangeiros escravizados. Para um hebreu, por exemplo, os cativos de sua mesma religião não eram considerados verdadeiros escravos. No esforço de diferenciar escravos de não escravos, as sociedades antigas em geral não usavam a cor da pele como critério, mas impunham tatuagens ou estigmas que caracterizassem o baixo status do escravo. Foi apenas na Idade Moderna que as sociedades promotoras da escravidão consideraram a escuridão da pele marca natural de inferioridade. Os gregos antigos foram os primeiros a atribuir um conceito mais racional e jurídico à escravidão, e em vez de usarem estigmas físicos e tatuagens, definiram o escravo, ou doulos, com maior precisão legal. O doulo HISTÓRIA pertenceria, desse modo, a um grupo à parte, e seria um “tipo de propriedade com alma”. Os romanos seguiram a mesma trilha. Mas os egípcios e os árabes percebiam mais as distinções raciais. Aos poucos, a palavra árabe para designar escravos, abid, foi sendo cada vez mais atribuída aos negros. Também os chineses da dinastia Tang pensavam a escravidão a partir de preconceitos raciais. A pele escura, para os chineses dessa dinastia, era associada à inferioridade. Entretanto, todos os estrangeiros de modo geral eram escravizados: os persas eram considerados negros pelos chineses, e estes escravizavam ainda turcos, indonésios e coreanos. A escravidão moderna, retomada pelas Nações ibéricas em seus impérios coloniais na América, teve certamente uma base racial bem mais nítida, e a cor negra foi cada vez mais associada à escravidão. Mas desde a expansão da fé cristã, a escravidão foi associada também ao pecado. Embora tendo pregado a necessidade de um tratamento mais humano para os escravos, o Cristianismo, até o século XIX, não chegou a defender o abolicionismo ou destruir a base ética da escravidão construída na Antiguidade. A Igreja medieval acreditava que a escravidão teve origem na queda do homem. Assim sendo, a escravidão se tornara uma peça fundamental na ordenação do mundo, e constava no projeto divino de salvação dos homens. A ideia de pecado original, desse modo, surgiu como um elemento ordenador do mundo, e os homens deveriam ser resignados diante do poder das autoridades. Pensava-se que o escravo era um pecador. Para Santo Agostinho, a escravidão era tão somente uma punição para o pecado, mas o escravo poderia se salvar. Na verdade, para o Cristianismo, a escravidão física pouco importava, pois sua ideologia pregava uma libertação no plano espiritual. Havia uma dualidade no pensamento cristão: de um lado, Deus era o senhor dos senhores terrenos e também dos escravos, o que significava a existência de uma igualdade no plano divino; de outro, os escravos, na terra, não deveriam lutar por sua liberdade, pois o que importava era a sua alma e sua obediência a Deus, e não a posição social ocupada no mundo. Essa combinação de liberdade espiritual e cativeiro corporal assinalava o forte dualismo do pensamento cristão, adaptado de ideias dos filósofos gregos da escola estóica, que também preconizavam um conceito filosófico e transcendental de liberdade, em nada compatível com as necessidades físicas dos escravos. O conceito estoico e o cristão, embora com certas diferenças, postulavam que a verdadeira escravidão era a da alma e, nesse sentido, mesmo ricos mercadores ou senhores de escravos poderiam ser escravos de sua ganância, dos prazeres mundanos. Por sua vez, o homem fisicamente escravo poderia ter uma alma livre. Na Idade Moderna, com o advento de um pensamento mais secular, cada vez menos se pensava na escravidão como tendo sua origem no pecado. A definição moral da escravidão saía de cena para dar lugar ao pragmatismo dos interesses dos Estados europeus escravistas, que julgavam bastantenatural o uso de escravos nas zonas colonizadas, enquanto o mundo europeu caminhava cada dia mais para práticas de liberdade. Nessa época, alguns pensadores modernos chegaram ao dualismo extremo de rechaçar a escravidão em sua nação de origem enquanto a defendiam nas terras colonizadas. O inglês Thomas More, por exemplo, criticava veementemente muitas injustiças em seu próprio país, como os cercamentos e o código penal bárbaro, mas admitia a escravidão. Entretanto, já no século XVII, e sobretudo no século XVIII, surgiu um discurso antiescravocrata, que defendia a liberdade natural do homem. No século XVIII, mesmo pensadores conservadores como Montesquieu criticavam a legitimidade da escravidão, considerando-a contrária às leis naturais. Segundo Brion Davis, o século XVIII assistiu a um conjunto amplo de discursos sobre a felicidade dos indivíduos e de seu direito de dispor de sua vontade. A reflexão racional do Iluminismo abria, assim, uma fenda que desembocaria no abolicionismo do século XIX. Na prática, como se percebe, o estudo da escravidão deve enveredar pelas relações sociais, notando as resistências e acomodações, os conflitos e as negociações que podiam existir entre senhores e escravos. Ou seja, para entendermos essa instituição, deve-se ter como referencial as multifacetadas relações interpessoais entre senhores e escravos. [...] Silva, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. pp. 110-113. TEXTO 2: Servidão A servidão foi o tipo de relação social predominante no Feudalismo, estabelecida entre os servos e os senhores medievais, resultante não apenas da desagregação do Império Romano como das sociedades dos povos ditos “bárbaros”. É preciso ressaltar de antemão, como fez Georges Duby, que nem a sociedade romana nem a germânica eram sociedades igualitárias. Portanto, não era de se esperar que a fusão dessas duas culturas originasse uma Idade Média livre de alguma forma de desigualdade. Essa forma de relação social – embora, sem dúvida, bastante desigual – era caracterizada, em linhas gerais, pelos laços de dependência mútua: ao servo, o senhor devia “proteção”; ao senhor, o servo devia obediência, trabalho e tributos. Essa ordem social, assim fixada, era aprovada pela ideologia católica então vigente, que dividia a sociedade em três ordens: os que oravam (oratores) pela salvação de todos; os que lutavam (bellatores) para a proteção do povo; e os que trabalhavam (laboratores) para alimentar os homens da religião e os da guerra. Cabia aos trabalhadores, camponeses em condição de servidão, a manutenção das duas primeiras ordens, que por eles oravam e guerreavam, em troca da “proteção” espiritual e terrena recebidas. Essa definição não corresponde à diversidade de estruturas sociais, além disso equivalem apenas ao Feudalismo dito clássico – aquele situado ao norte da França entre os séculos XI e XIII. [...] Servidão e vassalagem foram as relações sociais predominantes na sociedade feudal. Ambas as relações nos ensinam algo fundamental sobre essa formação social: ela não pode ser compreendida sem o princípio da dependência entre os homens. Ninguém era verdadeiramente independente (“livre”) no mundo feudal. As relações de servidão, suserania e vassalagem ligavam todos os membros da sociedade em uma rede infinita de hierarquias e dependências. Nenhum homem feudal era livre no sentido que o século XVIII, por exemplo, vai dar ao termo. Na Idade Média, a ideia de que os “homens nascem livres” (igualdade natural) não fazia sentido. Todas as pessoas estavam comprometidas com uma rede de obrigações que permeava o tecido social. Isso não diminui o fato de que, na base da pirâmide social, estavam os camponeses de condição servil, os mais dependentes e submissos nesse tecido hierárquico. Ao contrário do que parece, a servidão não é um tipo de relação social que substitui a escravidão de modo linear. Em outras palavras, a humanidade não progrediu do trabalho escravo (Antiguidade) à servidão (Idade Média), e da servidão ao trabalho livre (característico do período de formação e consolidação da sociedade burguesa, nas Eras Moderna e Contemporânea). Em primeiro lugar, a condição do servo era muito próxima da do escravo em termos de status e tipo de trabalho. Em segundo, escravidão e servidão coexistiram e se sobrepuseram na Idade Média; até mesmo os juristas medievais frequentemente confundiam as duas condições, traduzindo as palavras servitus e servus, do Código de Justiniano, como servidão e servo, ou seja, igualando o servo à condição do escravo (que em latim era designado pelo termo servus). Segundo Brion Davis, muitos aspectos da lei romana quanto à definição jurídica do escravo foram retomados para definir o servo: o servo francês era definido como propriedade móvel, e só poderia testemunhar em tribunal contra um outro servo; também só poderia se casar com servo de outro senhor com permissão de seu senhor; no século XIII, com exceção da Borgonha, os tribunais franceses também determinaram a regra romana de partus sequitur ventrem (o parto segue o ventre, isto é, os filhos seguiam a condição das mães já pelo nascimento) para os servos. Todos esses instrumentos legais, como se percebe, eram definidores da condição de escravo na Roma antiga, e continuaram no mundo feudal. É bom lembrar que, nas fazendas romanas, os coloni (colonos presos ao solo, com pouca liberdade de movimento) com frequência trabalhavam lado a lado com os escravos, e era difícil separar ambos. O fato é que, aos poucos, na chamada Alta Idade Média, foram se estreitando cada vez mais as diferenças entre os colonos e os escravos, de modo que a servidão resulta dessa aproximação de status: aos poucos não houve mais colonos ou escravos propriamente ditos, apenas servos, presos à terra e cuja condição era passada hereditariamente. Com o passar do tempo, nota o medievalista Georges Duby, a liberdade dos camponeses das províncias romanizadas foi HISTÓRIA ainda mais minada, agravando a exploração econômica que já sofriam. Os coloni, apenas formalmente livres, cultivavam terras pertencentes a outros e eram na realidade prisioneiros de uma vasta gama de obrigações. De modo geral, na Idade Média, as antigas obrigações militares foram convertidas na obrigação de fornecer alimentos aos exércitos profissionais. O serviço militar era uma característica essencial da liberdade tanto nas sociedades romanas e germânicas quanto na medieval, diz Duby. Mas os camponeses, para sobreviver, tiveram de oferecer uma forma de “serviço” (o obsequium) considerada na época degradante, o fornecimento de alimentos às tropas. A miséria dos camponeses livres e não livres foi se tornando praticamente a mesma, e os impostos que incidiam sobre eles tornavam- se pesados à medida que necessitavam da “proteção” de alguma figura poderosa. Servilização e dependência senhorial foram fenômenos complementares que ajudaram a definir tanto a condição do servo como do senhor. A terra é o elemento fundamental de poder no Feudalismo. Desprovido da propriedade da terra, o camponês se torna dependente, cultivando a terra pertencente ao senhor e usando moinhos e outras instalações senhoriais a alto custo. Proprietário da terra e das armas (ou da terra e do poder espiritual, no caso da Igreja), o senhor está investido de um poder e de uma autoridade que lhe permitem extorquir o servo, mas não escravizá-lo totalmente. Este não pode ser retirado das terras, o que constitui tanto uma obrigação quanto um direito. De fato, mesmo sem a escravidão ser extinta totalmente, é preciso reconhecer que, em geral, a instituição da servidão foipredominando ao longo da Idade Média. A servidão, na Península Ibérica, todavia, em virtude da disponibilidade de escravos muçulmanos oriundos das guerras constantes entre mouros e cristãos, não se consolidou nem na Espanha nem em Portugal. Nesse último país, como nota Perry Anderson, a servidão da gleba já estava desaparecendo no século XIII. Assim, sociedades distintas apresentam também graus diferentes de servilização do campesinato. Entretanto, a definição apresentada nesse texto pode se aplicar ao conjunto das formações sociais, mas é preciso alguma adaptação aos contextos específicos. O modelo francês é o mais completamente feudal, e os demais apresentam traços feudais, mas não são cópias exatas da França feudal. Silva, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. pp. 379-381. ORIENTAÇÕES PARA A EXECUÇÃO DO TRABALHO Com base nos materiais selecionados, a turma da professora Érica deveria produzir um relatório sobre o trabalho escravo no Brasil atual, que seria entregue para Câmara Municipal da cidade de São Paulo, discutindo a situação de trabalho em sua cidade e fazendo comparações com diferentes períodos históricos para que os vereadores encaminhem um ofício ao Ministério do Trabalho requerendo a fiscalização desses locais. Nesta Produção Textual, você ajudará Érica a produzir este relatório. Para isso, vocês deverão: 1- Desenvolver um texto (de caráter dissertativo-argumentativo) de 4 a 6 laudas. Este texto deverá ter a seguinte estrutura: Introdução: a apresentação do tema do trabalho e o que será discutido. Deve apresentar: a) a definição do conceito de trabalho; b) a definição do conceito de escravidão na Antiguidade; c) a definição do conceito de servidão na Idade Média; d) responder se em cada um desses períodos históricos coexistiram mais de um tipo de regime de trabalho. Desenvolvimento: a) produzir um texto definindo o que é trabalho em condições análogas de escravidão, apresentando seus aspectos históricos; b) apresentar os resultados de uma pesquisa (que vocês devem realizar!) sobre o trabalho forçado no Brasil, que contemple: I. os estados brasileiros com maior taxa de trabalhadores em situação análoga à escravidão; II. quais são os principais tipos de trabalho forçado realizados no país; III. a existência dessa prática no estado em que você mora e, se possível, tente descobrir se existem trabalhadores nessas condições em seu município1. c) apresentar quais são as atuais políticas de combate a esse tipo de trabalho; 1 Se possível, entrevistem pessoas da comunidade e visitem a sede do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) da sua cidade (ou cidade vizinha) para conseguirem mais dados. d) apresentar propostas condizentes com os direitos humanos que contribuam para a erradicação do trabalho forçado no Brasil. Considerações Finais: a) finalizar o texto apontando seus principais aspectos. ORIENTAÇÕES PARA FORMATAÇÃO DO TRABALHO - Os alunos que cursam o 2º Semestre Flex ou 3º Semestre regular devem realizar o trabalho em grupo (mínimo 2 e máximo 7 alunos). O grupo deve ser formado por alunos do mesmo semestre, ou seja, alunos do 2º Semestre Flex deverão formar grupo com alunos do 2º Semestre Flex, enquanto alunos do 3º Semestre deverão formar grupos com alunos do 3º Semestre. Ao formar o grupo, um aluno deverá ficar responsável para cadastrar o grupo no portfólio, ou seja, para indicar os nomes dos demais membros do grupo; somente após cadastrar o grupo deverá enviar o trabalho. Apenas um aluno cadastra o grupo e envia o trabalho do seu grupo. A capa do trabalho deverá conter os nomes de todos os alunos do grupo. - O trabalho deve ser realizado de acordo com as normas da ABNT (acesse a Biblioteca Digital, clique em “Padronização” e escolha a opção “Modelo para elaboração de Trabalho Acadêmico) e deve conter a seguinte estrutura: • Capa; • Folha de rosto (no caso da Capa e Folha de rosto, elabore-os de acordo com os modelos disponíveis na a Biblioteca Digital da Unopar: <www.unopar.br/bibliotecadigital>); • Introdução; • Desenvolvimento; • Considerações finais; • Referências. - Elabore as respostas em texto corrido e não respondendo cada tópico separadamente. - Para elaboração do texto, adote os seguintes procedimentos: • Configure a página – superior 3cm, inferior 2cm, esquerda 3cm, direita 2cm. • Use fonte Arial, fonte 11 ou Times New Roman, fonte 12. • Configure os parágrafos – recuo esquerda 0 cm, direita 0 cm; deslocamento na primeira linha de 1,25 cm; espaçamento antes 6, depois 6; espaçamento entre linhas 1,5 linhas. - Caso haja consultas em sites, livros ou revistas faça a referência (AUTOR, data, página); - Nas Referências, no final do seu trabalho, cite as obras/sites conforme as normas da ABNT. Quando for livro: SOBRENOME, Nome. O título da obra. Local: editora, data. página. (Para mais informações acesse a Biblioteca Digital, clique em “Padronização” e escolha as opções “Trabalhos acadêmicos – Apresentação” e “Modelo para elaboração de Trabalho Acadêmico”; - Não cometa plágios. Tenham um ótimo trabalho! Profs. José Osvaldo Henrique Corrêa, Julho Zamariam, Marina Costa de Oliveira, Patrícia Graziela Gonçalves.
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