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CCJ0019-WL-B-LC-Neoconstitucionalismo Origens e Aspectos Relevantes

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Neoconstitucionalismo: Origens e aspectos relevantes 
 
INTRODUÇÃO 
Muitos autores têm buscado definir o atual estágio do constitucionalismo. O constitucionalismo, como se vê hodiernamente, é fruto 
de uma miríade de transformações na relação entre Estado e cidadão. Tais mudanças mostram-se tão complexas que se torna 
tormentoso definir o que vem a ser propriamente o constitucionalismo. 
Há quem prefira a expressão “movimentos constitucionais” para definir as mutações espaciais e temporais que marcam a evolução 
do constitucionalismo global. E, neste sentido, tradicional doutrina tem identificado o constitucionalismo como a “teoria (ou 
ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização 
político-social de uma comunidade” 
 
Em conceito moderno, delineado por Denise Auad, o constitucionalismo significa um “movimento político e ideológico de luta 
contra o Absolutismo” [2] ou, ainda, segundo Luís Roberto Barroso, a “limitação do poder e supremacia da lei”.[3] Neste desiderato, a 
doutrina costuma dividi-lo sob dois prismas: em sentido amplo, seria o “fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma 
constituição em qualquer época da humanidade”; enquanto que, em seu sentido estrito, o termo tem sido definido como a “técnica 
jurídica de tutela de liberdades, surgida nos fins do século XVIII, que possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em 
constituições escritas, os seus direitos e garantias fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo uso da força e do 
arbítrio” 
 
A EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO 
O constitucionalismo tem origem no liberalismo do final do século XVIII, insurgindo com o movimento jurídico, social, 
político e ideológico, em que se almejava assegurar direitos e garantias fundamentais,bem como a separação dos 
poderes em oposição ao absolutismo reinante no Antigo Regime[5]. Contudo, o constitucionalismo lato sensu vigora 
desde a ser as mais primitivas. Em sua obra, o professor Uadi Bulos assim as discrimina: 
1ªEtapa: - constitucionalismo primitivo(de 30.000 anos a.C. até 3.000 anos a.C.); 
2ªEtapa: - constitucionalismo antigo( de 3000 a.C. até o século V); 
3ªEtapa: - constitucionalismo medieval (do século V até o século XV); 
4ªEtapa: - constitucionalismo moderno(do século XV até o século XVIII); 
5ªEtapa: - constitucionalismo contemporâneo (do século XVIII aos nossos dias);e, 
6ªEtapa:-constitucionalismo do futuro ou do porvir.[6]: 
Com efeito, observa - se que as gerações mais primitivas já vivenciavam, de alguma forma, o constitucionalismo. 
Certamente, não pautado por um documento formal escrito, mas, sobre tudo, pelos costumes geralmente impostos pelos 
anciãos de cada clã, comunidade ou grupo. No constitucionalismo primitivo, além das normas de conduta 
consuetudinárias, o politeísmo também era fonte primaz do direito constitucional vigente à época.[7] 
O constitucionalismo antigo pode ser facilmente identificado, entre os hebreus, pela limitação do poder estatal diante dos 
preceitos bíblicos[8], assim como pela utilização do termo constitutio no período do Baixo Império[9] romano para se 
referira “qualquer lei feita pelo imperador”.[10] 
 
Na Idade Média, período em que se passa o constitucionalismo medieval, o direito constitucional ocupa-se delimitar o 
poder estatal, em virtude, originariamente, da difusão de ideias jus naturalistas. Tal período foi de grande relevância para 
a consagração de liberdades públicas e direitos e garantias fundamentais, mormente quando, em1215, a Inglaterra 
elabora sua Magna Charta Libertatum. A Carta Magna, outorgada por João Sem Terra, é tida como o primeiro 
instrumento solene que previu direitos incorporados até os dias atuais às constituições de todo o mundo, tais como: 
direito de petição, instituição do Tribunal do Júri, direito ao devido processo legal, habeas corpus, direito ao acesso à 
Justiça, liberdade de religião, dentre outros.[11] 
 
O constitucionalismo moderno ganha contorno no fim do século XVIII, com o advento das constituições – agora escritas 
e rígidas – dos Estados Unidos da América em 1787, e da França em 1791. Tais documentos assinalam, 
derradeiramente, a separação de poderes. Nesta fase, começa a surgir o movimento pós-positivista, pautado, 
principalmente, nos princípios jurídicos, em detrimento da análise fria do normativismo exacerbado.Insurge-se, assim, a 
ideia de que os princípios, sejam eles explícitos ou não, fazem parte da constituição material, devendo, portanto, ser 
observados ainda que não expressos no texto constitucional.[12] 
 
Finalmente, nos tempos atuais, observa-se o constitucionalismo contemporâneo, remanescente do Estado Social, a 
partir do qual “as leis fundamentais passam a imiscuir-se em novas áreas, não só instituindo direitos de caráter 
prestacional[...], como também disciplinando assuntos sobre os quais elas antes silenciavam, como ordem econômica, 
relações familiares, cultura, etc 
 
O constitucionalismo contemporâneo comporta, ainda, a sua divisão em dois movimentos chamados de 
neocontitucionalismo e transconstitucionalismo. O neoconstitucionalismo seria o reflexo das mutações do direito 
constitucional no plano interno de cada Estado, a partir do pós-guerra, notadamente expresso com a elaboração da Lei 
Fundamental de Bonn, de 1949 (Constituição Alemã)[14]. Em outras palavras, o neoconstitucionalismo seria “uma gama 
de fenômenos no âmbito do Direito Constitucional, que, em conjunto, acabaram por gerar uma constitucionalização do 
Direito como um todo”.[15]Já o transconstitucionalismo é “o fenômeno pelo qual diversas ordens jurídicas de um mesmo 
Estado, ou de Estados diferentes, se entrelaçam para resolver problemas constitucionais”[16]. 
Neste tocante, pode-se constatar que a distinção principal baseia-se na abrangência dos efeitos relativos a cada 
“movimento” do constitucionalismo contemporâneo. Isto porque, o neoconstitucionalismo repercute, embora oriundo de 
mudanças globais ocorridas pós-guerra, no Direito Constitucional aplicado no direito interno de cada Estado; enquanto 
que o transcontitucionalismo trata de uma reunião de interesses globais face aos problemas constitucionais encontrados 
pelo ordenamento jurídico de todo o mundo. 
Superados os dias atuais, a doutrina, por meio do pensamento de José Roberto Dromi[17], tem procurado identificar 
possíveis características do constitucionalismo do futuro que, convencionou-se chamar de “constitucionalismo do porvir”. 
Para Dromi, o direito constitucional do futuro irá se pautar nos primados da veracidade, solidariedade, continuidade, 
participatividade, integracionalidade e universalidade. 
Como se pode notar, independentemente da época referendada pelo movimento constitucionalista, tal postulado sempre 
objetivou, de algum modo, limitar a atuação do Estado, do Governo ou da liderança reinante à sua vigência, conforme 
previsto no aclamado art.16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, datada de 1789: “Toda sociedade na 
qual não está assegurada agarantia dos direitos, nem determinada a separação dos Poderes, não tem constituição”. 
Atualmente, além da antiga ideia baseada na imposição de prestações negativas ao Estado, a evolução 
constitucionalista caminha, pari passu, para a construção de um sistema normativo supra estatal que objetiva infligir 
prestações positivas ao Estado, moduladas pelo princípio matriz da dignidade da pessoa humana. 
 
A NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL: O NEOCONSTITUCIONALISMO 
 
Os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de juristas que se filiam a linhas bastante 
heterogêneas, como Ronald Dworkin, Robert Alexy, Peter Häberle, Gustavo Zagrebelsky, Luigi Ferrajoli e Carlos 
Santiago Nino, e nenhum desses se define hoje, ou já se definiu no passado, como neoconstitucionalista. Tanto dentre 
os referidos autores, como entre aqueles que se apresentam comoneoconstitucionalistas, constata-se uma ampla 
diversidade de posições jusfilosóficas e de filosofia política: há positivistas e não positivistas, defensores da necessidade 
do uso do método na aplicação do Direito e ferrenhos opositores do emprego de qualquer metodologia na hermenêutica 
jurídica, adeptos do liberalismo político, comunitaristas e procedimentalistas. Neste quadro, não é tarefa singela definir o 
neoconstitucionalismo, talvez porque, [...] não exista um único neoconstitucionalismo, que corresponda a uma 
concepção teórica clara e coesa, mas diversas visões sobre o fenômeno jurídico na contemporaneidade, que guardam 
entre si alguns denominadores comuns relevantes, o que justifica que sejam agrupadas sob um mesmo rótulo, mas 
compromete a possibilidade de uma conceituação mais precisa.[18] 
 
O que se sabe, discorre o autor, é que o termo “neoconstitucionalismo” é oriundo da Europa, muito embora também haja 
divergências neste sentido. Há autores que sustentam que o movimento neoconstitucionalista surgiu na Espanha e 
Itália[19], enquanto outros o definem como originário da Alemanha e 
Itália.[20]Entretanto,aindaquesemexatidãodedataelocal,ofatoéqueestanovaordemconstitucionalsurgecomotérminoda2ªGue
rraMundialeaconsequente “reconstitucionalização” daEuropa. 
Neste sentido, conforme aduz Gustavo Binenbojm, a catástrofe mundial serviu para se concluir que o positivismo jurídico 
exacerbado, outrora visto como instrumento assecuratório dos direito se garantias fundamentais face ao Estado, pode 
resultarem barbáries,in verbis:[21]: 
[...]a jurisdição constitucional foi se ampliando e fortalecendo em todo mundo ao longo do século XX, sobre tudo após a 
traumática experiência do nazi-facismo. A barbárie perpetrada pelas potências do Eixo, como beneplácito do legislador 
revelou, com eloquência, a imperiosa necessidade de fixação de limites jurídicos para a ação de todos os poderes 
públicos, inclusive os parlamentos. 
Em igual sentido, discorre Rodrigo Padilha[22]: 
 
As atrocidades cometidas por Adolf Hitler só foram possíveis graças a este entendimento; e.g., através de Decreto 
expedido em 07.04.1933, os Judeus foram afastados do funcionalismo público, do exército e das universidades; através 
da Lei publicada em 14.07.1933, foram retirados os direitos de cidadão dos Judeus imigrantes no Leste Europeu; a 
chamada ‘Lei da Cidadania’ tirou dos judeus alemães a cidadania alemã;a ‘Lei da Proteção da Honra e Sangue Alemão’ 
proibia os casamentos dos Judeus com não Judeus, proibia o emprego de judeus na Alemanha e proibia os Judeus de 
exibirem a bandeira alemã, entre outras medidas. Porfim, através de Decreto assinado pelo então presidente Paul Von 
Hindenburg, foram suspensas sete seções da Constituição de 1919 da República de Weimar, que garantiam liberdades 
individuais e civis ao povo. 
Padilha concluia firmando que “por mais estarrecedor que seja, Hitler não praticou muitas ilegalidades ou 
inconstitucionalidades; quase todas as atrocidades eram legitimadas por normas jurídicas”. Com efeito, a própria 
Constituição de Weimar, em seu art.48, outorgava “poderes ao Presidente do Reiche seu governo para adotar medidas 
necessárias à restauração da segurança e ordem pública[...]valendo-se para isso, se necessário, das forças armadas, 
bem como suspendendo, temporariamente, o exercício, total ou parcial, de direitos fundamentais”. [23] 
Tal fato demonstra, por si só, que não basta a norma se revestir de uma formalidade constitucional se o seu conteúdo 
não trouxer a liberdade, a igualdade e a solidariedade que dela se espera. A mera condição de “ser lei” não mais 
legitimaria a ação estatal, que perde sua premissa irrefutável de meio assecuratório de estabilidade para as relações 
sociais em detrimento da ponderação destas com princípios que norteiam toda a ordem jurídica. 
Outro aspecto observado a partir do 2º pós-guerra foi a “intervenção estatal na economia e nas relações sociais,[...] na 
tentativa de minimizar algumas mazelas oriundas do período liberal”.[24] Neste contexto, com a consequente 
concretização do Welfare State (Estado Social de Direito), as constituições vindouras[25],passam a ser analíticas, 
carregadas de valores e princípios. 
Sobreotema,sustentaDanielSarmento[26]: 
As constituições europeias do 2º pós-guerra não são cartas procedimentais, que quase tudo deixam para as decisões 
das maiorias legislativas, mas sim documentos repletos de normas impregnadas de elevado teor axiológico, que contêm 
importantes decisões substantivas e se debruçam sobre uma ampla variedade de temas que não eram tratados pelas 
constituições, como a economia, as relações de trabalho e a família. 
Assim, com o reconhecimento da força normativa de princípios e valores constitucionais (estejam eles expressos ou não 
no texto constitucional), a expansão da jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova hermenêutica 
constitucional, insurge-se o movimento neoconstitucionalista. [27] 
Com efeito, não estaria mais a mera norma escrita apta a satisfazer os anseios da sociedade. As inúmeras atrocidades 
praticadas ao longo do século XX, em sua maioria com respaldo na lei formal, levaram à conclusão de que os princípios 
e valores constitucionalmente protegidos devem constituir, prioritariamente, os fundamentos de um Estado pautado nos 
ideais de justiça, igualdade, liberdade. 
 
O neoconstitucionalismo no Brasil 
 
No Brasil, especificamente, o marco histórico do movimento neoconstitucionalista é a promulgação da Constituição da 
República de 1988, que rompeu com o Estado autoritário brasileiro para consagrar um Estado Democrático de 
Direito.[28] O advento da aclamada constituição dirigente pós-ditadura, consagradora da democracia, do Estado de 
Direito, dos direitos fundamentais, e, mormente, do fundamento na dignidade da pessoa humana, se coaduna aos 
preceitos de Estado interventor trazidos com o WelfareState. 
É bem verdade que algumas características do neoconstitucionalismo já podiam ser notadas antes mesmo da 
promulgação da Constituição de 1988, como o controle de constitucionalidade já existente desde os tempos de 
proclamação da República.[29] Ademais, a Lei Fundamental de 1988, não trouxe apenas uma modificação na sua 
estrutura formal, mas no ordenamento jurídico pátrio como um todo, como sustenta Sarmento: 
[...] até então, as constituições não eram vistas como autênticas normas jurídicas, não passando muitas vezes de meras 
fachadas. [...] Até 1988, a lei valia muito mais do que a Constituição no tráfico jurídico, e, no Direito Público, o decreto e 
a portaria ainda valiam mais que a lei. O Poder Judiciário não desempenhava um papel político tão importante, e não 
tinha o mesmo nível de independência que passou a gozar posteriormente. As constituições eram pródigas na 
consagração de direitos, mas estes dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantão para 
saírem do papel – o que normalmente não ocorria. Em contextos de crise, as fórmulas constitucionais não eram 
seguidas, e os quartéis arbitravam boa parte dos conflitos políticos ou institucionais que eclodiam no país.[30] 
Nas palavras de Luís Roberto Barroso, “sob a constituição de 1988, o direito constitucional no Brasil passou da 
desimportância ao apogeu em menos de uma geração”.[31] 
Com efeito, foi com a promulgação da Constituição Cidadã[32], de 1988 que surge a Nova República, destinada a instituir 
o Estado Democrático de Direito em uma sociedade baseada 
noexercíciodedireitossociaiseindividuais,liberdade,segurança,bem-estar,desenvolvimento,igualdadeejustiça.[ 
 
 
Características do neoconstitucionalismo 
Dentre as principais características do neoconstitucionalismo, a ideia de eficácia valorativa da Constituição parece 
contemplar todas as demais. Isto porque, todas as facetas do neoconstitucionalismo objetivam, em maior ou menor grau, 
extrair o sentido axiológico do texto constitucional, fundado,principalmente, na dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, 
da CRFB/88). 
Em interessante esboço, Pedro Lenza conclui que, no campo ideológico do constitucionalismo moderno, a hierarquia 
entre as normas e a limitação do poder seria suas vigas mestres; enquanto que, no neoconstitucionalismo, há uma 
hierarquia entre normas não apenas formais, mas axiológicas, que objetivam, mormente, a concretização dos direitos 
fundamentais.[34] 
Já o professor Luís Roberto Barroso, divide tais características em três “grandes transformações”: 
Sob o impulso do novo constitucionalismo, três grandes transformações subverteram o conhecimento convencional 
relativamente à aplicação do direito constitucional no mundo romano-germânico: a) o reconhecimento da força normativa 
da Constituição; b) a expansão da jurisdição constitucional; c) o desenvolvimento de uma nova dogmática da 
interpretação constitucional.[35] 
Em que pese haver miríades de correntes doutrinárias acerca das características do neoconstitucionalismo, pode-se 
sintetizar como fatores marcantes: (i) Constituição como centro e a fonte norteadora de todo ordenamento jurídico, 
gerando, por conseguinte, uma “constitucionalização do Direito”; (ii) o reconhecimento da força normativa dos princípios 
jurídicos e sua efetiva utilização nas hipóteses de aplicação do Direito ao caso concreto; (iii) substituição do formalismo 
da subsunção pela ponderação; (iv) concretização da influência da Moral, da Ética e do primado da Justiça no Direito; e 
(v) o ativismo judicial. 
Tendo a Constituição como centro do ordenamento jurídico, deve-se observar sua influência e orientação em relação a 
todos os ramos do Direito. Com efeito, em virtude de a Constituição de 1988 apresentar-se analítica e esmiuçar os mais 
diversos ramos do 
 
Direito, vislumbra-se, inequivocamente, a preocupação do constituinte em estabelecer parâmetros a serem seguidos nas 
mais diversas áreas, sejam elas, econômicas, sociais, esportivas, familiares, etc. Tal constatação também se deve à 
adoção do sistema normativo aberto de regras e princípios pelo constituinte de 1988, do qual se extraem normas (assim 
entendidas em seu sentido lato como regras e princípios), carregadas de caráter axiológico que passam a pautar toda 
conduta das esferas dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário entre estes, entre estes e a sociedade e, inclusive, 
na relações desencadeadas dentro da própria sociedade, entre particulares. 
Neste ponto, Gustavo Binenbojm assinala: 
[...] toda legislação infraconstitucional tem de ser interpretada e aplicada à luz da Constituição, que deve tornar-se uma 
verdadeira bússola, a guiar o intérprete no equacionamento de qualquer questão jurídica. Tal concepção, que vem sendo 
rotulada como neoconstitucionalismo, impõe aos juristas a tarefa de revisitar os conceitos de suas disciplinas, para 
submetê-los a uma releitura, a partir da ótica constitucional. Trata-se de uma verdadeira filtragem constitucional do 
direito, de modo a reinterpretar os seus institutos, buscando-se não só evitar conflitos com a Lei Maior, mas também 
potencializar os valores e objetivos que esta consagra[36] 
A força normativa da Constituição[37] desmistifica a ideia de que o texto constitucional teria caráter meramente político, 
passando a possuir caráter vinculativo e imperativo como qualquer outra norma jurídica já detinha, podendo, em 
consequência, ser tutelada por mecanismos próprios de coação.[38]. 
Ressalte-se que os Estados Unidos reconhecem o caráter normativo de sua Constituição desde a decisão proferida em 
1803 pelo juiz Marshall no famoso caso Marbury versus Madison.[39] De igual forma, a constitucionalização do Direito 
pode ser observada desde 1958, a partir de precedente do Tribunal Constitucional Federal alemão no caso Lüth, no qual 
aquela Corte “assentou que os direitos fundamentais, além de sua dimensão subjetiva de proteção de situações 
individuais, desempenham uma outra função: a de instituir uma ordem objetiva de valores”.[40] 
Neste contexto, verifica-se que “ao invés da insistência na subsunção e no silogismo do positivismo formalista, ou no 
mero reconhecimento da discricionariedade política do intérprete nos casos difíceis [...] o neoconstitucionalismo se 
dedica à discussão de métodos ou teorias da argumentação que permitam a procura racional [...] da melhor 
resposta”[41] a ser aplicada nos casos concretos em que a mera análise das normas mostra-se inócua. Assim, 
depreende-se que a argumentação baseada na razão prática, e limitada pela proporcionalidade, volta a ter grande 
importância para o neoconstitucionalismo, em detrimento da simples comprovação experimental ou inferido das normas 
jurídicas.[42] 
Isto repercute, intrinsecamente, em uma releitura do Direito, sob a ótica da Moral,da Ética e da Justiça no pós-
positivismo após derrocada do positivismo jurídico em meados do século XX. Com o término da 2ª Guerra Mundial, “a 
ética e os valores começam a retornar ao Direito” gerando reflexões sobre o Direito, sua função social e interpretação, 
de modo a substituir a legalidade estrita sem desprezar, integralmente, o direito positivo.[43] 
Por tudo já exposto, o ativismo judicial – ou seja, o protagonismo do Poder Judiciário – surge como característica 
marcante do neoconstitucionalismo. Infere-se, ainda, a crescente atuação do magistrado em demandas propostas em 
virtude de violação às normas constitucionais, bem como a omissão ou improficuidade legislativa que criam óbices à 
hábil resolução de determinados casos concretos. Acrescenta-se que a inflação legislativa e a falta de legitimidade dos 
atuais parlamentos também contribuem para o protagonismo judicial. 
 
Oposições à teoria neoconstitucionalista 
Apesar de grande parte da doutrina acolher a teoria neoconstitucionalista e reconhecer suas peculiaridades e efeitos no 
constitucionalismo contemporâneo, a questão não é mansa e pacífica. Há autores que refutam, veementemente, sua 
existência, suas premissas ou, até mesmo, sua novidade. 
Neste toar, sustenta-se que o ativismo judicial feriria o ideal de Estado Democrático, abriria precedentes para condutas 
arbitrárias e ilegais e violaria a autonomia privada.[44] 
A “judiciocracia”[45] limitaria o poder do povo em se autogovernar, visto que se estaria retirando das mãos de 
representante eleitos para o exercício da função legislativa importantes decisões da sociedade e as delegando ao Poder 
Judiciário que, obviamente, é composto por membros oriundos de concurso público ou indicação política. Assim, 
defende-se que, com a delegação de poderes concretos – para a materialização dos valores constitucionais – ao Poder 
Judiciário, estar-se-ia, na verdade, criando um poder de reforma constitucional permanente pelo Judiciário. 
Outra crítica contumaz ao neoconstitucionalismo seria a possibilidade de deturpação de um sistema jurídico pautado por 
conceitos abertos e indeterminados, atribuindo-se ao Poder Judiciário a tarefa de substanciá-los, mormente no Brasil, 
pelo seu histórico de corrupção e patrimonialismo.[46] 
Sob outro aspecto, advoga-se que a irradiação dos valores constitucionais por todo o ordenamento jurídico e, inclusive, 
nas relações travadas entre particulares, pode vir a representar uma unificação da conduta social, criando óbices à sua 
autonomia individual, o que tornaria tal movimento constitucional antidemocrático. 
Ratificando as críticas ao neoconstitucionalismo, Dimitri Dimoulis assinala que os ideais neoconstitucionalistas estariam 
baseados em premissas já ventiladas no Direito Constitucional desde o século XIX, de maneira que o 
neoconstitucionalismo apenas agregaria “solução para problemas que acompanham o direito desde a sua estruturação 
com base na Constituição”. [47] 
De igual modo, Bulos entende que o neoconstitucionalismo apenas refletiria o desenvolvimento do constitucionalismo a 
partir do fim do século XVIII.[48] 
Não obstante as críticas mencionadas,deve-se ter em mente que, apesar das semelhanças com o desenvolvimento do 
constitucionalismo e o ressurgimento de ideias já ventiladas em outros movimentos constitucionais, o modo de ver o 
constitucionalismo como se vê no neoconstitucionalismo, de fato, é inédito. Até porque, os problemas sociais que o 
movimento neoconstitucionalismo pretende elucidar também o são. Necessitou-se de um ambiente traumático pós-
guerra para que se dê a devida atenção aos valores e princípios que devem reger uma sociedade – acima de qualquer 
documento formal –, muito embora isto não resulte, peremptoriamente, no abandono à subsunção como principal fonte 
de segurança jurídica para a coletividade. Como expõe Rafael Oliveira “divergências a parte, não se pode olvidar que a 
tendência hodierna é o estabelecimento de uma abordagem não positivista do Direito”[49] 
 
CONCLUSÃO 
Divergências à parte, o neoconstitucionalismo, inequivocamente, representa uma nova ordem constitucional. A 
Constituição emerge como centro efonte norteadora de todo o ordenamento jurídico. Releva-se o reconhecimento da 
força normativa dos princípios jurídicos, sobrepondo-se o formalismo da subsunção pela ponderação racional da norma, 
diante dos valores constitucionais. Desconstrói-se o paradigma de aplicação cega da lei, de modo que esta encontre seu 
fundamento de validade diretamente na norma constitucional, entendida assim, como as regras e princípios 
constitucionais, notadamente o catálogo de direitos fundamentais. 
O ordenamento resgata ideais jusnaturalistas, com a retomada da influência da Moral, da Ética e do primado da Justiça 
no Direito, de forma a concretizar os valores e princípios jurídicos que, muitas vezes, passam ao largo da lei. 
Por fim, a separação de poderes na esquemática prevista por Montesquieu também sofre uma mudança substancial com 
o chamado ativismo judicial e a ideia de juridicidade administrativa. Entende-se, hodiernamente, que os poderes 
constituídos não mais se limitam – apenas e exclusivamente – pelas leis, mas sim, pelo Direito, vinculando agentes 
públicos e cidadãos, diretamente ao texto constitucional que irradia seus valores por toda a sociedade.

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