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CCJ0013-WL-D-AMMA-30-Inadimplemento das Obrigações III-02

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DIREITO CIVIL II
Profa. Dra. Edna Raquel Hogemann
AULA 30
UNIDADE 7 – OS ATOS 
UNILATERAIS
AULA 30
CONTEÚDO DE NOSSA AULA
Unidade 7 – OS ATOS UNILATERAIS
7.1. Promessa de recompensa
7.2. Gestão de negócios
7.3. Do pagamento indevido
7.4. Do enriquecimento sem causa
CASO CONCRETO 1
Considere os seguintes exemplos: João Carlos providencia 
um guincho para remover o carro de alguém estacionado 
na frente de uma casa em chamas; Américo das Neves, 
advogado famoso, em Ourinhos/SP, paga com seu próprio 
dinheiro um imposto devido pelo cliente; dona Cleonice de 
Souza resolveu pagar alimentos quando o devedor da 
pensão, seu sobrinho, está ausente. A seguir, responda:
a) Todos os exemplos são atos unilaterais de que tipo?
b) Quem sustenta filhos dos outros pode exigir indenização 
dos pais?
c) Num condomínio, o condômino que age em proveito da 
comunhão é gestor do negócio de todos, mesmo sem ser o 
síndico? Poderá exigir compensação financeira dos 
demais beneficiários?
CASO CONCRETO 2
Alfredo devia uma certa quantia a João e outra a Joaquim. 
Equivocadamente pagou a João o valor devido a Joaquim, 
ou seja, uma quantia bem maior. Ao dar-se conta do 
equívoco procurou João para receber a diferença do 
pagamento indevido, porém João recusou-se a devolver o 
dinheiro.
Desesperado Alfredo contrata, por R$5.000,00, Tião 
Medonho para matar João. No entanto, Tião 
equivocadamente mata o outro credor, razão pela qual 
Alfredo se recusa a pagá-lo pelo serviço mal feito, mas 
com medo do pistoleiro acaba cedendo e paga ao filho de 
Tião que não entrega o dinheiro ao pai.
Diante de mais essa tragédia, responda 
fundamentadamente em qual das situações Alfredo tem 
direito a receber devolução?
QUESTÃO OBJETIVA
Quanto ao enriquecimento sem causa, assinale a opção 
apropriada.
(A) A restituição é cabível.
(B) Seu nexo de causalidade consiste essencialmente no 
efetivo enriquecimento de alguém e na efetiva diminuição 
do patrimônio de outrem, independentemente de 
resultarem de um só fato.
(C) A restituição é devida mesmo quando sua causa 
justificadora deixou de existir.
(D) A causa jurídica é requisito essencial.
ATOS UNILATERAIS
• As três principais fontes de obrigações são os contratos, 
os atos unilaterais e os atos ilícitos. Os Contratos serão 
vistos no próximo período, atos unilaterais vamos 
apresentar ao longo desses dois encontros, e os atos 
ilícitos foram estudados em Direito Civil I, e deverão ser 
aprofundados na disciplina Responsabilidade Civil.
­É possível alguém se obrigar sozinho?
A resposta é sim, mas não através de um contrato, pois 
todo contrato é bilateral quanto às partes. Os atos 
unilaterais são obrigações assumidas por alguém 
independente da certeza do credor. Os contratos podem 
ser atípicos, mas os atos unilaterais só podem ser criados 
pela lei.
Segundo nosso Código Civil, são quatro os atos 
unilaterais: 
• a promessa de recompensa, 
• a gestão de negócios, 
• o pagamento indevido e,
• o enriquecimento sem causa.
1 – Promessa de recompensa:
• Todo aquele que publicamente 
se comprometer a gratificar quem 
desempenhar certo serviço, 
contrai obrigação de fazer o que 
foi prometido (854, ex: 
recompensa para quem encontrar 
um cachorro perdido, para quem 
denunciar um criminoso, para 
quem descobrir a cura do câncer, 
etc). 
• O promitente tem que ter 
capacidade (104, I). 
• A promessa exige publicidade 
(ex: imprensa, carro de som, 
panfletos, cartazes). 
Atenção! 
• A promessa é feita a qualquer pessoa, ou a 
determinando grupo social, pois se feita a pessoa certa 
não é ato unilateral, mas contrato de prestação de 
serviço (ex: pago cem a Seu Antonio para procurar meu 
gatinho fujão, neste caso não é ato unilateral mas 
bilateral). 
• A lei, tendo em vista uma 
justa expectativa da 
sociedade, obriga o autor 
da promessa a cumprir o 
prometido, independente 
de qualquer aceitação. O 
fundamento da promessa é 
ético: o respeito à palavra 
dada. A obrigação tanto é 
unilateral que mesmo que 
a pessoa que preste o 
serviço não tenha 
conhecimento da 
recompensa, fará jus à 
gratificação (855).
• Qual o valor da recompensa? Depende do promitente, 
mas um valor ínfimo pode ser aumentado pelo Juiz. 
• E se mais de uma pessoa fizer o serviço, quem fica com 
a recompensa? A lei responde nos arts. 857 e 858. 
• A promessa pode ser revogada? Sim, com a mesma 
publicidade da divulgação, mas só se não havia prazo 
para executar o serviço (856). 
• A morte do promitente não revoga a promessa, 
respondendo os bens do falecido pela recompensa.
Concurso
• é semelhante aos concursos de 
direito administrativo para 
ingressar no serviço público. O 
concurso civil é uma espécie de 
promessa de recompensa onde 
várias pessoas se dispõem a 
realizar uma tarefa em busca de 
uma gratificação que será 
oferecida ao melhor (ex: melhor 
desenho, melhor redação, melhor 
frase, melhor fotografia, melhor 
fantasia de carnaval, melhor livro, 
melhor música, melhor nome 
para animal do zoológico, etc). 
• O concurso não pode ser revogado, pois o 
prazo é obrigatório (859). O concurso é 
aleatório para o concorrente que pode não 
ganhar nada, a depender da decisão do 
árbitro do certame, cuja decisão subjetiva 
não pode ser questionada (§§ 1º e 2º do 
art. 859). As obras/tarefas apresentadas 
podem passar a pertencer ao organizador 
do concurso (860).
2 – Gestão de negócios:
• É a atuação de uma pessoa que, espontaneamente e 
sem mandato, administra negócio alheio, presumindo o 
interesse do próximo (861, ex: é gestor de negócio 
alheio o morador de um edifício que arromba a porta do 
vizinho para fechar torneira que ficou aberta enquanto o 
vizinho saiu em viagem; então o gestor fecha a torneira, 
enxuga o apartamento, manda secar os tapetes e troca 
a fechadura arrombada, devendo o vizinho indenizá-lo 
pelas despesas, 869). O gestor não tem autorização e 
nem obrigação de agir, mas deve fazê-lo por 
solidariedade, garantindo a lei o reembolso das 
despesas feitas. 
• O gestor age de improviso numa 
emergência por puro altruísmo (866), 
sendo equiparado a um mandatário 
sem procuração (873). Trata-se de 
conduta unilateral do gestor com 
reflexos no patrimônio do dono do 
negócio (no exemplo, o vizinho). 
• É unilateral pois o gestor age sem 
combinar com o dono do negócio, não 
havendo o acordo de vontades 
(consenso) que caracteriza os 
contratos. A gestão é gratuita (= 
altruísmo), mas o gestor pode ser 
processado caso não exerça bem sua 
tarefa (862, 863).
Exemplos:
• Providenciar um guincho para remover o carro de 
alguém estacionado na frente de uma casa em chamas; 
um advogado paga com seu dinheiro um imposto devido 
pelo cliente; pagar alimentos quando o devedor da 
pensão está ausente (871, então quem sustenta filhos 
dos outros pode exigir indenização dos pais); também é 
gestão de negócios pagar as despesas do funeral de 
alguém (872); último exemplo: num condomínio, o 
condômino que age em proveito da comunhão é gestor 
do negócio de todos, podendo exigir compensação 
financeira dos demais beneficiários (1.318)
3 - Enriquecimento sem causa 
• Enriquecer sem causa é 
enriquecer 
repentinamente sem 
motivo justo, sem 
trabalhar, sem herdar. 
Uma das hipóteses de 
enriquecimento sem 
causa é através do 
pagamento indevido, por 
isso estes dois assuntos 
devem ser estudados em 
conjunto.
3.1 Pagamento indevido
• Ocorre pagamento indevido quando o devedor paga a 
alguém que não é o credor, ou seja, o accipiens não é o 
credor, e o devedor agiu por engano. Quem recebe 
pagamento indevido enriquece sem causa (ex: A deve a 
José da Silva, mas paga a outro José da Silva, 
homônimo do verdadeiro credor; A efetuou pagamento 
indevidoe vai ter que pagar de novo ao verdadeiro 
credor, pois quem paga mal paga duas vezes; A 
obviamente vai exigir o dinheiro de volta do outro José 
da Silva que enriqueceu sem causa, mas o verdadeiro 
credor não precisa esperar, ele não tem nada a ver com 
isso).
Dois efeitos do pagamento indevido:
• A) aquele que enriqueceu sem 
causa fica obrigado a devolver o 
indevidamente auferido, não só 
por uma questão moral (= direito 
natural), mas também por uma 
questão de ordem civil (876, 884) 
e tributária, afinal como explicar 
à Receita Federal um súbito 
aumento de patrimônio? O 
objetivo dessa devolução é 
reequilibrar os patrimônios do 
devedor e do falso credor, 
alterados sem fundamento 
jurídico, sem causa justa.
• B) se o falso credor não quiser 
voluntariamente devolver o 
pagamento, surge o segundo 
efeito que é o direito do 
devedor de propor ação de 
repetição do indébito (repetitio 
indebiti) contra tal accipiens. 
Esta ação tem este nome pois, 
em linguagem jurídica, “repetir” 
significa “devolver” e “indébito” 
é aquilo que não é devido. 
Então a ação é para o falso 
credor devolver aquilo que não 
lhe era devido. Tal ação 
prescreve em três anos (206, §
3º, IV).
• Também se aplicam as regras do pagamento indevido 
quando se paga mais do que se deve. Porém não cabe 
a repetição quando o “solvens” agiu por liberalidade (ex: 
doação, 877) ou em cumprimento de obrigação natural 
(ex: gorjeta, dívida de jogo, dívida prescrita, 882, 814) 
ou quando o “solvens” deu alguma coisa para obter fim 
ilícito, afinal ninguém pode se beneficiar da própria 
torpeza (Como no CASO CONCRETO 02: pagou ao 
pistoleiro errado para cometer um homicídio, não cabe 
devolução, 883).
• E se o objeto do pagamento indevido já tiver sido 
alienado pelo falso credor a um terceiro? Bem, se tal 
objeto era coisa móvel, tal alienação vale por uma 
questão de segurança das relações jurídicas e porque 
em geral os móveis são menos valiosos do que os 
imóveis. De qualquer modo o falso credor vai responder 
pelo equivalente em dinheiro.
• Mas se o objeto do 
pagamento indevido for um 
imóvel que o falso credor já 
tenha alienado a um 
terceiro, tal alienação só 
valerá se feita 
onerosamente (venda sim, 
doação não) e o terceiro 
estiver de boa-fé. Caso 
contrário o solvens poderá 
perseguir o imóvel e 
recuperá-lo do terceiro 
(879).
• GABARITO DOS CASOS CONCRETOS
CASO CONCRETO 1
Considere os seguintes exemplos: João Carlos providencia um 
guincho para remover o carro de alguém estacionado na frente 
de uma casa em chamas; Américo das Neves, advogado 
famoso, em Ourinhos/SP, paga com seu próprio dinheiro um 
imposto devido pelo cliente; dona Cleonice de Souza resolveu 
pagar alimentos quando o devedor da pensão, seu sobrinho, 
está ausente. A seguir, responda:
a) Todos os exemplos são atos unilaterais de que tipo?
Sugestão de gabarito – Gestão de negócios.
b) Quem sustenta filhos dos outros pode exigir indenização dos pais?
Sugestão de gabarito – Com base no art. 871, pode sim.
c) Num condomínio, o condômino que age em proveito da comunhão é gestor 
do negócio de todos, mesmo sem ser o síndico? Poderá exigir compensação 
financeira dos demais beneficiários?
Sugestão de gabarito – Sim. Sim, com base no art.1.318.
CASO CONCRETO 2
Alfredo devia uma certa quantia a João e outra a Joaquim. Equivocadamente 
pagou a João o valor devido a Joaquim, ou seja, uma quantia bem maior. Ao 
dar-se conta do equívoco procurou João para receber a diferença do 
pagamento indevido, porém João recusou-se a devolver o dinheiro.
Desesperado Alfredo contrata, por R$5.000,00, Tião Medonho para matar 
João. No entanto, Tião equivocadamente mata o outro credor, razão pela qual 
Alfredo se recusa a pagá-lo pelo serviço mal feito, mas com medo do pistoleiro 
acaba cedendo e paga ao filho de Tião que não entrega o dinheiro ao pai.
Diante de mais essa tragédia, responda fundamentadamente em qual das 
situações Alfredo tem direito a receber devolução?
Gabarito sugerido – Somente na primeira, pois quando o 
“solvens” deu alguma coisa para obter fim ilícito, afinal ninguém 
pode se beneficiar da própria torpeza não cabe devolução, 
art.883.
Assim, 
chegamos ao 
fim do nosso 
conteúdo 
programático 
de Direito das 
Obrigações!!!
Valeu galera!!!!!
Foi bom 
demais estar 
com vocês. 
Boa sorte a 
todos!!!

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