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MANUAL DE SOCIOLOGIA DO CRIME 
Helena Machado 
 
2008 
 
 
Manuscrito pré-publicação 
 
 
Versão editada: 
Machado, Helena (2008) Manual de Sociologia do Crime. Porto: Afrontamento 
 
i 
Índice 
NOTA INTRODUTÓRIA ............................................................................................. VI 
 
I. ORIENTAÇÕES GERAIS DA UNIDADE CURRICULAR E MÉTODOS DE ENSINO 
TEÓRICO E PRÁTICO ............................................................................................... XI 
 
CAPÍTULO 1 - OBJECTIVOS, PROGRAMA, APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO .............. 12 
1.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 14 
1.2. OBJECTIVOS E ORIENTAÇÃO GERAL ......................................................................... 15 
1.3. APRESENTAÇÃO GENÉRICA DO PROGRAMA ............................................................ 18 
1.4. ESTRUTURAÇÃO DAS SESSÕES DE TRABALHO ........................................................ 22 
1.5. MÉTODOS DE ENSINO TEÓRICO E PRÁTICO .............................................................. 23 
1.6. SISTEMA DE AVALIAÇÃO ............................................................................................. 26 
1.7. RECOMENDAÇÕES PARA O PLANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM .. 
 ................................................................................................................................... 27 
1.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 28 
II. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO PROGRAMA E DOS SEUS CONTEÚDOS 29 
 
CAPÍTULO 2 – O CRIME COMO OBJECTO DA SOCIOLOGIA .................................... 30 
2.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 32 
2.2. A DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE CRIME ..................................................................... 33 
2.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 1.......................................................................................... 39 
2.4. A ESPECIFICIDADE DA ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA DO CRIME ........................... 40 
2.5. AS INTERROGAÇÕES DA SOCIOLOGIA DO CRIME .................................................... 42 
2.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 2.......................................................................................... 45 
2.7. SÍNTESE ....................................................................................................................... 46 
2.8. TESTE FORMATIVO ...................................................................................................... 46 
2.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ............................................................ 47 
2.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................................. 48 
CAPÍTULO 3 – PRINCIPAIS MÉTODOS, TÉCNICAS DE PESQUISA E FONTES DE 
INFORMAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME ............................................................ 49 
3.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 51 
3.2. MÉTODOS NA SOCIOLOGIA DO CRIME ...................................................................... 52 
ii 
3.3. TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME ...................................... 54 
3.3.1. INQUÉRITOS SOCIAIS ..................................................................................... 54 
3.3.2. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................ 56 
3.3.3. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ....................................................................... 57 
3.3.4. ESTUDOS DE FOLLOW-UP ............................................................................. 58 
3.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 3.......................................................................................... 59 
3.5. FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE O CRIME .............................................................. 60 
3.5.1. ESTATÍSTICAS CRIMINAIS .............................................................................. 60 
3.5.2. ESTATÍSTICAS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA (APAV) . 
 ...................................................................................................................... 62 
3.5.3. RELATÓRIOS DE SEGURANÇA INTERNA ....................................................... 63 
3.5.4. INQUÉRITOS DE VITIMAÇÃO .......................................................................... 64 
3.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 4.......................................................................................... 67 
3.7. SÍNTESE ....................................................................................................................... 67 
3.8. TESTE FORMATIVO ...................................................................................................... 67 
3.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ............................................................ 69 
3.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 72 
CAPÍTULO 4 – SOCIOGÉNESE DA SOCIOLOGIA DO CRIME..................................... 74 
4.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 76 
4.2. O PENSAMENTO SOBRE O CRIME NA ANTIGUIDADE................................................. 77 
4.3. A VISÃO ESPIRITUAL .................................................................................................... 79 
4.4. O RENASCIMENTO ...................................................................................................... 80 
4.5. A CRIMINOLOGIA CLÁSSICA ....................................................................................... 81 
4.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 5.......................................................................................... 84 
4.7. O POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO .............................................................................. 84 
4.8. ACTIVIDADE FORMATIVA 6.......................................................................................... 87 
4.9. SÍNTESE ....................................................................................................................... 87 
4.10. TESTE FORMATIVO ................................................................................................... 88 
4.11. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 89 
4.12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 90 
CAPÍTULO 5 – A ABORDAGEM DO CRIME NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA ........ 91 
5.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ....................................................... 93 
5.2. INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME ............................................ 94 
5.3. KARL MARX E A VISÃO DO CRIME NA SOCIEDADE CAPITALISTA .............................. 97 
5.4. DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES DA ABORDAGEM MARXISTA .......................... 99 
5.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 7........................................................................................ 101 
iii 
5.6. O CONCEITO DE ANOMIA E A TESE DA NORMALIDADE E DA FUNCIONALIDADE DO 
CRIME EM DURKHEIM ................................................................................................ 102 
5.7. ACTIVIDADE FORMATIVA 8........................................................................................ 105 
5.8. SÍNTESE ..................................................................................................................... 105 
5.9. TESTE FORMATIVO ....................................................................................................105 
5.10. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................................ 106 
5.11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 107 
CAPÍTULO 6 – TEORIA DA ANOMIA DE MERTON E DA ESTRUTURA DAS 
OPORTUNIDADES ILEGÍTIMAS DE CLOWARD E OHLIN ......................................... 109 
6.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 111 
6.2. A TEORIA DA ANOMIA E DAS FORMAS DE ADAPTAÇÃO À SOCIEDADE SEGUNDO 
ROBERT MERTON ...................................................................................................... 112 
6.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 9........................................................................................ 117 
6.4. AS SUB-CULTURAS DELINQUENTES E A ESTRUTURA DE OPORTUNIDADES 
ILEGÍTIMAS, SEGUNDO CLOWARD E OHLIN .................................................................... 117 
6.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 10...................................................................................... 120 
6.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 121 
6.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 121 
6.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 122 
6.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 122 
CAPÍTULO 7 - A ESCOLHA DE CHICAGO: ESPAÇO URBANO, ECOLOGIA CRIMINAL E 
DESORGANIZAÇÃO SOCIAL ................................................................................. 124 
7.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 126 
7.2. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA DE CHICAGO .. 
 ................................................................................................................................. 127 
7.3. A TEORIA DA ECOLOGIA HUMANA ........................................................................... 128 
7.4. A TEORIA DAS ZONAS CONCÊNTRICAS ................................................................... 129 
7.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 11...................................................................................... 132 
7.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 133 
7.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 133 
7.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 134 
7.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 134 
CAPÍTULO 8 – TEORIAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE ..................................... 136 
8.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 138 
iv 
8.2. O CONCEITO DE SUBCULTURA DELINQUENTE ....................................................... 139 
8.3. AS DIFERENTES PERSPECTIVAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE ......................... 140 
8.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 12...................................................................................... 143 
8.5. SÍNTESE ..................................................................................................................... 144 
8.6. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 145 
8.7. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 146 
8.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 146 
CAPÍTULO 9 – TEORIA DA ROTULAGEM ............................................................... 147 
9.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ..................................................... 149 
9.2. O DESVIO COMO O RESULTADO DE UMA ACÇÃO COLECTIVA .............................. 150 
9.3. ALGUNS AUTORES DA TEORIA DA ROTULAGEM ..................................................... 151 
9.4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA ROTULAGEM .................................... 153 
9.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13...................................................................................... 156 
9.6. SÍNTESE ..................................................................................................................... 156 
9.7. TESTE FORMATIVO .................................................................................................... 157 
9.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......................................................... 158 
9.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 158 
CAPÍTULO 10 – GÉNERO E CRIME ........................................................................ 159 
10.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 161 
10.2. TEMAS E DEBATES DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA ............................................... 162 
10.3. AS DIFENTES CORRENTES DAS TEORIAS FEMINISTAS DO CRIME ........................ 164 
10.4. OS IMPACTOS DO GÉNERO NO CRIME .................................................................. 166 
10.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13 ................................................................................... 168 
10.6. SÍNTESE ................................................................................................................... 168 
10.7. TESTE FORMATIVO ................................................................................................. 169 
10.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................................ 170 
10.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 170 
III. – PROBLEMÁTICAS, ORIENTAÇÕES E DEBATES ACTUAIS SOBRE O CRIME ... 172 
 
CAPÍTULO 11 – TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE, SISTEMA PRISIONAL E POLÍTICAS 
CRIMINAIS ............................................................................................................ 173 
11.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM ................................................... 175 
11.2. ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA ABORDAGEM DAS ACTUAIS PROBLEMÁTICAS, 
ORIENTAÇÕES E DEBATES SOBRE O CRIME ......................................................... 176 
v 
11.3. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE» .... 176 
11.3.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 176 
11.3.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 14 ...................................................................... 178 
11.3.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO .................................................... 179 
11.4. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «SISTEMA PRISIONAL» ......................... 181 
11.4.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 181 
11.4.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 15 ...................................................................... 184 
11.4.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO .................................................... 184 
11.5. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «POLÍTICAS CRIMINAIS»....................... 186 
11.5.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 186 
11.5.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 16 ...................................................................... 189 
11.5.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO ....................................................190 
11.6. SÍNTESE ................................................................................................................... 191 
11.7. TESTE FORMATIVO ................................................................................................. 191 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 192 
vi 
NOTA INTRODUTÓRIA 
 
Este livro é um manual de ensino e de aprendizagem na área da Sociologia 
do Crime, segundo as novas metodologias pedagógicas preconizadas pelo 
denominado “Processo de Bolonha”. Trata-se de um texto que pode interessar 
tanto a estudantes, como a docentes do ensino superior, de áreas como a 
Sociologia, a Criminologia, o Direito, a Antropologia, a Psicologia Social, o Serviço 
Social, a Reinserção Social e a Animação Sócio-Cultural. 
Redigido numa linguagem acessível, oferece um instrumento pedagógico de 
organização de uma unidade curricular em Sociologia do Crime. Propõe e expõe 
alguns dos principais conteúdos programáticos centrais ligados a esta área do 
saber, aponta actividades formativas a desenvolver em grupo e na sala de aula, 
apresenta testes formativos destinados à auto-aprendizagem e auto-avaliação e 
indica leituras e fontes de informação. 
A selecção de conteúdos vai de encontro aos principais eixos temáticos, 
perspectivas teóricas e abordagens metodológicas da Sociologia do Crime, 
tentando-se alcançar um equilíbrio entre o tratamento geral do crime e a 
discussão de temas mais específicos da criminalidade. Sempre que possível, 
apresentam-se casos retirados da realidade portuguesa e recorre-se às 
experiências e conhecimentos próximos das realidades vividas e conhecidas pelos 
próprios estudantes, procurando mostrar a relevância da Sociologia do Crime 
para a sua análise, desconstrução crítica e interpretação. 
A construção deste texto nasceu num contexto de expressiva mudança do 
ensino superior em Portugal, conduzido pelo “Processo de Bolonha”. De facto, ao 
mesmo tempo que ainda se assiste hoje nas Universidades Portuguesas a uma 
reduzida atenção face às questões especificamente pedagógicas, é agora 
convocada a necessidade de substituir as anteriores pedagogias “transmissivas”, 
centradas no saber e autoridade institucionalmente legitimado do docente, que 
encontrava na sala de aula o cenário adequado à expressão ritualizada da 
transmissão da informação. 
vii 
Novos modelos pedagógicos impõem-se no quadro de uma emergente 
sociedade do conhecimento, em que a própria informação científica especializada 
está disponível, para docentes e discentes, na Internet. 
A função que a Universidade assumiu durante séculos, de repositório 
privilegiado do conhecimento e de instância por excelência da sua transmissão, 
vê-se agora confrontada com novos desafios. Estes exigem a substituição do 
paradigma da transmissão e absorção passiva do conhecimento, por um novo 
paradigma de aprendizagem, no qual o aluno detém autonomia para construir a 
sua própria aprendizagem. Parte-se do pressuposto basilar que o saber 
transmitido na sala de aula não é a fonte única de informação que determina o 
esforço pedido ao aluno. Neste contexto, o que se exige ao docente é sobretudo a 
capacidade de poder agir como um guia no processo de aprendizagem, criando 
situações que valorizem o trabalho autónomo do aluno e que reconheçam a 
pluralidade das fontes de conhecimento no contexto do actual ambiente 
tecnológico e social. Nos moldes exigidos pelas reformas conducentes à 
construção de um espaço europeu de ensino superior, leva-se mais longe o 
imperativo de adequar os métodos de ensino teórico e prático ao paradigma 
emergente da aprendizagem guiada mas autónoma por parte do aluno, em que 
este é um construtor da própria aprendizagem. 
O manual está estruturado em onze capítulos, que correspondem a distintas 
unidades de aprendizagem. 
O primeiro capítulo apresenta uma proposta de programa de uma unidade 
curricular em Sociologia do Crime, apontando uma planificação das sessões de 
trabalho e das principais orientações pedagógicas, de ensino, de aprendizagem e 
de avaliação. 
O segundo capítulo inaugura a exposição de conteúdos programáticos, 
incide sobre o problema da definição e construção do crime como objecto da 
Sociologia e da sua relação com os diferentes modos como este é definido 
noutras áreas do conhecimento, tais como as ciências jurídicas, as ciências 
biológicas e as ciências psicológicas e psiquiátricas. Discute-se o que pode ser o 
contributo específico da Sociologia para a abordagem do crime, começando pela 
própria definição do conceito, procedendo-se a uma diferenciação entre a 
viii 
definição jurídico-legal de crime e a definição sociológica e salientando-se a 
complexidade inerente a este passo introdutório ao nível dos estudos sociais do 
fenómeno criminal. Por fim, formulam-se as principais questões dirigidas à 
realidade social que a Sociologia do Crime suscita. 
O terceiro capítulo explana as principais metodologias e técnicas de 
investigação social no domínio do crime, apontando as respectivas 
potencialidades e lacunas. Remete-se ainda os leitores para as principais fontes 
de informação sobre criminalidade, nos planos nacionais e internacionais, 
sublinhando a necessidade de adoptar uma atitude crítica face às mesmas. 
O quarto capítulo expõe as principais características do pensamento sobre o 
crime – a sua natureza e causas – em diferentes períodos históricos. Remete-se 
ainda para as possíveis implicações político-criminais subjacentes a uma postura 
de acentuação das responsabilidades da sociedade perante o criminoso, por um 
lado, contraposta a uma posição de defesa face ao crime, sentido como ameaça, 
por outro lado. 
O quinto capítulo enuncia as principais teorias sociológicas do crime que 
poderão ser abordadas no âmbito de uma unidade curricular de Sociologia do 
Crime e discute principalmente os contributos dos Clássicos da Sociologia para o 
estudo do crime, em particular a obra de Karl Marx e Émile Durkheim. 
Apresentam-se ainda, as principais coordenadas de diferenciação das diversas 
teorias sociológicas do crime, a saber: (i) a distinção entre teorias etiológico-
explicativas e teorias da reacção social; (ii) a demarcação entre teorias do 
consenso e do conflito. 
O sexto capítulo centra-se na teoria da anomia e nas modalidades de 
adaptação à sociedade, desenvolvidas por Robert Merton. A contradição entre a 
estrutura cultural e a estrutura social é apresentada como o factor desencadeador 
de comportamentos desviantes, nomeadamente do crime. Autores como Cloward 
e Ohlin conferem continuidade a essa perspectiva, apontando os factores que 
diferenciam a posição dos indivíduos no contexto das subculturas delinquentes, 
nomeadamente a existência de uma estrutura social de oportunidades ilegítimas, 
produtora de desigualdades sociais, tal como ocorre na estrutura social legítima. 
ix 
O sétimo capítulo expõe-se as principais coordenadas filosóficas, teóricas e 
metodológicas da abordagem do crime desenvolvida pela Escola de Chicago. 
Apresenta-se a visão da cidade desenvolvida pelos vários autores e os 
desenvolvimentos conferidos, em particular, à teoria da ecologia humana e das 
zonas concêntricas. Referem-se ainda as principais críticas a apontar a esta 
corrente de pensamento. 
O oitavo capítulo apresenta algumas perspectivas sobre o conceito de 
subcultura delinquente, tendo-se procurado definir o conceito, percebendo o seu 
conteúdo, génese, funções e tipo de relações desenvolvidas com a cultura 
dominante. 
O nono capítulo desenvolve a teoria da rotulagem. Apresentam-se os 
pressupostos gerais da abordagem do desvio,explicitam-se os contributos 
específicos de alguns teóricos mais representativos desta corrente de 
pensamento e sintetizaram-se os principais conceitos utilizados pelas teorias 
interaccionistas do desvio. 
O décimo capítulo centra-se na abordagem feminista da criminalidade. 
Aponta-se a necessidade de considerar as relações sociais de género na 
abordagem da criminalidade e do sistema de justiça criminal. Explicitam-se os 
contributos específicos para a Sociologia do crime produzidos pelas distintas 
correntes feministas e apontam-se pistas de análise para a explicação das 
diferenças entre homens e mulheres nas relações estabelecidas com o crime. 
Por fim, o décimo primeiro capítulo privilegia a componente de auto-
aprendizagem dos estudantes, exigindo níveis e competências de autonomia na 
recolha e organização de informação, com vista à construção do conhecimento 
sobre as seguintes temáticas: (i) tendências evolutivas da criminalidade, em 
termos macro e micro; (ii) dimensões de análise privilegiadas nos estudos 
prisionais; (iii) diversidade de políticas criminais e articulação com os distintos 
legados científicos das teorias sociológicas do crime. 
Este manual foi construído tendo em atenção que é imperativo adequar os 
contextos de aprendizagem ao duplo constrangimento de, por um lado, as 
actividades de docência se realizarem maioritariamente no espaço da sala de aula 
e, por outro lado, a necessidade desta ter um perfil motivador que convide os 
x 
estudantes à procura autónoma de informação complementar para a resolução 
dos casos práticos apresentados. 
Não obstante a ênfase colocada para a acção e relação pedagógicas, a 
exposição que se segue reflecte ainda outras preocupações que passam, 
nomeadamente, pelo desenvolvimento de um conjunto seleccionado de 
conteúdos científicos e pela projecção de uma reflexão e incentivo a uma prática 
situada, da parte de docentes e estudantes, que vá de encontro aos desafios que 
nos apresentam as sociedades actuais, crescentemente confrontadas com o 
fenómeno criminal nas suas mais diversas vertentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I. ORIENTAÇÕES GERAIS DA UNIDADE 
CURRICULAR E MÉTODOS DE ENSINO 
TEÓRICO E PRÁTICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 - OBJECTIVOS, PROGRAMA, APRENDIZAGEM E 
AVALIAÇÃO 
 
13 
SUMÁRIO 
 
1.1. Resultados esperados de aprendizagem 
1.2 Objectivos e orientação geral 
1.3. Apresentação genérica do programa 
1.4. Estruturação das sessões de trabalho 
1.5. Métodos de ensino teórico e prático 
1.6. Sistema de avaliação 
1.7. Recomendações para o planeamento e organização da aprendizagem 
1.8. Referências bibliográficas 
14 
1.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
▪ identificar os objectivos gerais da unidade curricular; 
▪ reconhecer a importância científica e social do estudo sociológico do crime; 
▪ enunciar os principais pontos do programa; 
▪ explicitar o método de ensino teórico e prático; 
▪ explanar os distintos momentos de avaliação e respectivos requisitos; 
▪ reconhecer os diversos procedimentos destinados a melhorar a qualidade da 
aprendizagem. 
15 
1.2. OBJECTIVOS E ORIENTAÇÃO GERAL 
A aprendizagem das principais abordagens realizadas ao nível dos estudos 
sociológicos do crime justifica-se desde logo pela relevância social que ocupa o 
fenómeno da criminalidade nas sociedades actuais. De facto, a preocupação com 
a evolução da criminalidade ocupa hoje, no conjunto dos países desenvolvidos, 
um lugar central nos discursos social, político, mediático e quotidiano. 
Nas últimas décadas, e na generalidade dos países desenvolvidos e em vias 
de desenvolvimento, o desmesurado crescimento dos centros urbanos tem-se 
feito acompanhar de efeitos de exclusão e de marginalização de importantes 
segmentos da sua população. A cidade aparece, assim, como o espaço para o 
qual todas as crises, todas as conflitualidades da sociedade parecem convergir, 
embora não sejam desprezíveis os sinais destas conflitualidades em zonas com 
características mais rurais e junto de populações mais isoladas. 
A compreensão do fenómeno criminal exige no entanto, que a sua leitura 
seja feita no quadro de uma problemática social e política mais vasta do que a da 
criminalidade, situando-a no campo da análise da insegurança e violência que 
caracteriza as sociedades actuais, assim como no quadro das políticas públicas 
de prevenção da criminalidade, que por força das características da governança 
actual têm sobretudo canalizado esforços para o acréscimo da eficácia da acção 
policial e outras medidas de carácter repressivo. Com efeito, a questão da 
insegurança e, em particular, da insegurança urbana - expressão utilizada para 
designar quer o medo do crime, quer a falta de adesão ao sistema normativo da 
sociedade, isto é, a manutenção da ordem social - ascendeu à categoria de 
preocupação nacional em todos os países desenvolvidos. 
Diversos autores referem mesmo uma obsessão pública com o crime, que se 
terá iniciado nos anos 80 do século XX e evolui nas décadas seguintes, podendo-
se dizer que neste início do século XXI, temas como o crime, a delinquência juvenil 
e a justiça criminal se encontram entre as preocupações mais salientes dos 
cidadãos e governantes (Flanagan e Longmire, 1996), podendo-se mesmo falar 
de uma visão dramatizada do crime e insegurança, projectada sobretudo pelo 
poder político, assumindo-se hoje estes temas como importantes questões de 
preocupação e debate públicos (Machado, 2004). 
16 
A unidade curricular de Sociologia do Crime almeja dotar os alunos de 
instrumentos teóricos e metodológicos básicos que lhes permitam uma autonomia 
crescente no seu processo de aprendizagem e de aplicação prática dos 
conhecimentos. Esta necessidade é sobretudo premente ao nível da realização do 
estágio curricular ou seminário de investigação, geralmente realizado no último 
semestre dos cursos de ensino superior. Destaque-se, deste modo, a vocação 
específica desta unidade curricular para o processo de formação dos estudantes 
que desejem realizar estágio curricular ou desenvolver actividade profissional em 
contextos prisionais, gabinetes de atendimento e apoio a vítimas de crime, 
tribunais, institutos de reinserção social, instituições policiais, escolas e centros de 
acolhimento e reinserção social de delinquentes. 
O programa da unidade curricular de Sociologia do Crime está organizado 
em três blocos através dos quais se procurará facultar os elementos necessários 
para um processo de aprendizagem que atinja o objectivo geral de permitir aos 
estudantes adquirir as noções teóricas e metodológicas básicas necessárias à 
análise sociológica do crime, como alicerce fundamental ou para a prática de 
investigação científica nesse domínio, ou para a intervenção social em contexto 
profissional. 
Para que seja atingido o objectivo geral, o estudante deverá atingir os 
seguintes objectivos específicos: 
▪ No final do primeiro bloco programático, o aluno está familiarizado com os 
conceitos básicos, técnicas de investigação principais e fontes de informação no 
domínio da Sociologia do Crime, assim como consegue identificar as principais 
etapas da evolução histórica do pensamento social sobre o crime e a 
especificidade da Sociologia nesta área do social; 
▪ No final do segundo bloco programático, o aluno conhece as principais 
correntes teórico-metodológicas da análise sociológica do crime, adquirindo 
competências de discussão crítica comparativa das diferentes opçõesteóricas e 
metodológicas e de compreensão das condições sociais e teóricas que estão na 
base da emergência das distintas correntes ou escolas de pensamento, podendo 
perspectivar as respectivas implicações político-criminais; 
17 
▪ No final do terceiro bloco programático, o aluno adquire conhecimento 
sobre as problemáticas, orientações e debates actuais no domínio do crime, 
estando habilitado a desenvolver uma abordagem crítica dos usos sociais e 
políticos dos discursos e práticas desenvolvidos em torno da criminalidade, 
insegurança e violência. 
18 
1.3. APRESENTAÇÃO GENÉRICA DO PROGRAMA 
O programa da unidade curricular de “Sociologia do Crime” está organizado 
em três blocos programáticos, por sua vez sub-divididos em unidades ou módulos 
de aprendizagem: (i) o crime como objecto da Sociologia; (ii) teorias sociológicas 
do crime e (iii) problemáticas, orientações e debates actuais na Sociologia do 
crime. 
 O primeiro ponto programático incide sobre o problema da definição e 
construção do crime como objecto da sociologia e da sua relação com os 
diferentes modos como este é definido noutras áreas do conhecimento, como as 
ciências jurídicas, as ciências biológicas e as ciências psicológicas; assim como 
em diferentes contextos e domínios da vida social. Procura-se, nesta parte, 
explorar e definir o que pode ser o contributo específico da Sociologia para a 
abordagem do crime, começando pela própria definição do conceito: neste 
âmbito, procede-se a uma diferenciação entre a definição jurídico-legal de crime e 
a definição sociológica, salientando-se a complexidade inerente a este passo 
introdutório ao nível dos estudos sociais do fenómeno criminal. Na prossecução 
lógica da definição sociológica do conceito de crime, procede-se a uma 
explicitação das principais metodologias e técnicas de investigação social neste 
domínio, remetendo-se, de igual modo, para as principais fontes de informação 
sobre criminalidade, nos planos nacionais e internacionais. Com o intuito de 
destacar o que pode ser a especificidade da abordagem sociológica do crime, 
procede-se ainda a uma tipificação de outros modos científicos de análise e 
estudo do fenómeno criminal, nomeadamente apontando as características das 
denominadas abordagens biológicas e psicológicas. 
De seguida e para encerrar o primeiro bloco programático, que tem como 
objectivo principal proporcionar uma introdução global à abordagem sociológica 
do crime, procede-se a um esboço histórico de distintas abordagens do fenómeno 
criminal, desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, Renascimento, 
Iluminismo e culminando nas amplas repercussões do positivismo do Séc. XIX. 
Com isto, procura-se traçar um panorama das distintas abordagens do crime e de 
que modo estas têm variado consoante as épocas históricas e o manancial de 
conhecimentos teóricos e empíricos disponíveis. 
19 
O seguinte bloco programático confere amplo desenvolvimento e discussão 
ao que se optou por denominar como “teorias sociológicas do crime”, expondo as 
principais coordenadas do tratamento do crime nos clássicos da Sociologia e em 
abordagens mais recentes. A exposição de diferentes perspectivas teóricas e 
metodológicas do fenómeno criminal aqui apresentada, não segue sempre uma 
sequência cronológica, antes se privilegia o desenvolvimento da argumentação de 
acordo com as continuidades e descontinuidades dos legados teóricos e dos 
temas privilegiados pelos distintos autores e escolas de pensamento. 
O último ponto do programa da unidade curricular de “Sociologia do Crime” 
debruça-se sobre as problemáticas, orientações e debates actuais no contexto 
desta área da vida em sociedade. Num primeiro momento, apontam-se as 
principais tendências evolutivas da criminalidade nos países europeus, mormente 
em Portugal, apresentando-se ocasionalmente uma perspectiva comparativa com 
alguns países cujos altos índices de criminalidade necessariamente despertam a 
atenção dos analistas sociais do crime, nomeadamente os E.U.A. e o Brasil. O 
aparelho de controlo social é igualmente objecto de análise e problematização, 
destacando-se a abordagem sociológica do sistema prisional, privilegiando-se a 
análise de situações empíricas concretas que envolvem relações sociais passíveis 
não só de estudo científico, mas também de intervenção social. Por fim, expõem-
se alguns dos rumos actuais das políticas criminais, discutindo-se as distintas 
abordagens da criminalidade que lhe estão subjacentes e apontando-se os 
factores que interferem ou condicionam os processos de tomada de decisão no 
âmbito das políticas públicas nesta área do social. 
Antes da apresentação e desenvolvimento de cada um dos conteúdos, 
formulam-se os resultados esperados de aprendizagem em relação a cada um dos 
pontos do programa. Após a explicitação dos conteúdos de cada unidade de 
aprendizagem, apresenta-se uma síntese, propõe-se actividades formativas, um 
teste formativo e indicam-se leituras obrigatórias e leituras e fontes de informação 
complementares. 
Apresenta-se a seguir o enunciado dos tópicos do programa da unidade 
curricular de Sociologia do Crime: 
 
20 
Programa da Unidade Curricular de Sociologia do Crime 
 
1.O crime como objecto da Sociologia 
 
1.1. A definição sociológica de crime 
 1.1.1. O problema do objecto de estudo 
 1.1.2. O conceito jurídico e sociológico de crime 
 1.1.3. A relação entre crime e desvio 
1.2. As bases das explicações científicas do crime 
 1.2.1. As diferentes ciências criminais: Biologia, Psicologia, Psiquiatria e 
Sociologia. 
 1.2.2. A especificidade da abordagem sociológica do crime. 
1.3. Métodos e técnicas de investigação em Sociologia do Crime 
 1.3.1. Métodos quantitativos e qualitativos na Sociologia do Crime 
1.3.2. Técnicas de investigação na Sociologia do Crime 
1.3.2.1. Inquéritos sociais 
1.3.2.2. Estudos de caso 
1.3.2.3. Observação participante 
1.3.2.4. Estudos de follow-up 
1.4. Fontes de informação sobre o crime 
1.4.1. Estatísticas criminais 
1.4.2. Estatísticas da associação de apoio à vítima (APAV) 
1.4.3. Relatórios de segurança interna 
1.4.4. Inquéritos de vitimação 
 
2. Teorias sociológicas do crime 
 
2.1. Sociogénese da Sociologia do crime 
2.1.1. A antiguidade 
2.1.2. A idade média 
2.1.3. O renascimento 
2.1.4. O Iluminismo 
2.1.5. O positivismo criminal 
2.2. Os clássicos 
2.2.1. A abordagem marxista 
2.2.2. O legado de Durkheim 
2.3. As teorias funcionalistas 
2.3.1. A teoria da anomia 
2.3.2. A teoria da estrutura de oportunidades ilegítima 
2.4. A Escola de Chicago: 
2.4.1. Espaço urbano e criminalidade 
2.4.2. A teoria da ecologia humana 
2.4.3. A teoria das zonas concêntricas 
2.4.4. O controlo social secundário 
2.5. Teorias da subcultura delinquente 
2.5.1. O conceito de sub-cultura 
 2.5.2. Subcultura e cultura dominante 
21 
 2.5.3. Grupos de referência e efeitos de status 
2.6. Teorias da rotulagem 
2.6.1. O desvio como acção colectiva 
2.6.2. A acção criminosa e a reacção social 
2.6.3. As instâncias de controlo e as audiências 
2.6.4. O pluralismo axiológico e o relativismo 
 
3. Temas e debates actuais na sociologia do crime 
 
3.1. Configurações e dinâmicas da criminalidade nas sociedades actuais 
3.1.1. O imaginário actual da criminalidade 
 3.1.2. Incidência de crimes e variações 
 3.1.3. Abordagens macro e micro 
3.2. As abordagens sociológicas do sistema prisional 
 3.2.1. Os estudos clássicos e contemporâneos 
 3.2.2. Dimensões de análise do meio prisional 
3.2.3. Caracterização do sistema prisional: tendências nacionais e 
europeias 
3.3. Rumos actuais das políticas criminais 
 3.3.1. As políticas repressivas e preventivas 
 3.3.2. A descriminalizaçãoe neocriminalização 
 3.3.3. Implicações político-criminais das teorias sociológicas do crime
22 
1.4. ESTRUTURAÇÃO DAS SESSÕES DE TRABALHO 
Existe uma planificação prévia e estruturada das sessões de trabalho de 
contacto directo entre o docente e os alunos, indicando-se a semana lectiva, 
sessão, o módulo de aprendizagem e respectivos conteúdos programáticos e 
actividades formativas. 
 
Quadro 1 – Planificação das Sessões de Trabalho 
Semanas Sessões Módulos Conteúdos 
1. 
Aula 1 
--- Apresentação. Programa. Bibliografia. Regras de funcionamento 
e avaliação. 
1. Aula 2 1 A definição sociológica de crime. Actividade formativa 1 
2. Aula 3 1 As bases das explicações científicas do crime. 
2. Aula 4 1 Actividade formativa 2 
3. Aula 5 2 Métodos e técnicas de investigação em Sociologia do Crime 
3. Aula 6 2 Actividade formativa 3 
4. Aula 7 2 Fontes de informação 
4. Aula 8 2 Actividade formativa 4 
5. Aula 9 3 Sociogénese da Sociologia do crime 
5. Aula 10 3 Actividade formativa 5 e 6 
6. Aula 11 4 A abordagem marxista 
6. Aula 12 4 Actividade formativa 7 
7. Aula 13 5 A teoria da anomia de Durkheim 
7. Aula 14 5 Actividade formativa 8 
8. Aula 15 6 As teorias funcionalistas 
8. Aula 16 6 Actividade formativa 9 e 10 
9. Aula 17 7 A Escola de Chicago 
9. Aula 18 7 Actividade formativa 11 
10. Aula 19 7 Teorias da subcultura delinquente 
10. Aula 20 7 Actividade formativa 12 
11. Aula 21 8 Teorias da rotulagem 
11. Aula 22 8 Actividade formativa 13 
12. 
Aula 23 
9 Organização e planificação das actividades formativas relativas a 
problemáticas, orientações e debates actuais sobre o crime 
12. Aula 24 9 Tendências actuais da criminalidade: Actividade formativa 14 
13. 
Aula 25 
9 A abordagem sociológica do sistema prisional: Actividade 
formativa15 
13. Aula 26 9 Rumos actuais das políticas criminais: Actividade formativa 16 
14. Aula 27 9 Colóquio – Actividade formativa 17 
14. Aula 28 9 Seminário – Actividade formativa 18 
 
23 
1.5. MÉTODOS DE ENSINO TEÓRICO E PRÁTICO 
Factores de natureza sócio-institucional influenciaram as opções 
pedagógico-didácticas da unidade curricular de Sociologia do Crime, a saber: 
(i) exigências criadas à docência pela emergência da sociedade do 
conhecimento e disseminação crescente das novas tecnologias de 
informação e comunicação em diferentes esferas da vida em sociedade; 
(ii) imperativos de adopção de novas metodologias de ensino e aprendizagem 
que permitam ultrapassar o tradicional e ainda dominante paradigma da 
transmissão passiva e absorção do saber, e pôr em prática um paradigma 
de aprendizagem guiada mas autónoma e activa, que requer um elevado 
envolvimentos dos estudantes, como sujeitos construtores do próprio 
processo de aprendizagem; 
(iii) coexistência de práticas e pedagogias tradicionais, alimentadas por um 
sistema que (ainda) privilegia ou quase que exclusivamente contabiliza as 
horas de trabalho por referência às horas de contacto. 
O método de ensino adoptado resultou da tentativa de equilibrar vários 
elementos: não só os mencionados constrangimentos sócio-institucionais, a que 
não são alheias imposições administrativas quanto a regime de aulas e dimensão 
da equipa docente, como de igual modo a tomada em consideração das 
aspirações sócio-profissionais e perfis de procura de saberes na população de 
estudantes do ensino superior. 
Adoptou-se sobretudo a estratégia de combinar procedimentos 
diversificados, ainda que antecipadamente organizados e dados a conhecer aos 
alunos, no sentido proposto por Madureira Pinto (1997), quando afirma que “São 
constrangimentos de natureza muito variada e eminentemente mutáveis, que, 
portanto, desaconselham quaisquer tentativas para encontrar soluções universais 
ou fórmulas mágicas no plano didáctico.” (Pinto, 1997: 50). 
Para um período lectivo de catorze semanas decorrem 28 horas de sessões 
teóricas e 28 horas de sessões teórico-práticas. 
As aulas teóricas são predominantemente expositivas, de acordo com os 
conteúdos contemplados no programa da unidade curricular. No entanto, os 
estudantes são convocados a intervir sempre que julgarem oportuno, sendo 
24 
disponibilizados os materiais necessários para que essa interpelação seja 
fundamentada e produtiva para todos os intervenientes e elementos presentes na 
sala de aula. 
Antes de cada sessão teórica e semanalmente, o docente disponibiliza um 
documento que contém os seguintes elementos: enunciação e explicitação 
sumária dos principais conceitos e problemáticas a abordar na sala de aula, 
indicação de bibliografia específica e complementar referente a um ponto 
específico do programa e apresentação da actividade formativa a desenvolver na 
aula téorico-prática. 
As sessões teórico-práticas destinam-se à execução de actividades 
formativas previamente definidas e que se realizam em grupos de três ou quatro 
alunos. Os grupos reúnem na primeira hora da sessão teórico-prática e o porta-
voz do grupo apresenta oralmente as conclusões do trabalho na segunda hora, 
proporcionando-se contextos para debate e troca de ideias relacionadas com a 
situação concreta proposta para análise. 
O tempo reservado à exposição oral do trabalho de grupo é 
antecipadamente definido em função do número de grupos e da necessidade de 
reservar os últimos vinte minutos da sessão teórico-prática para o debate geral. 
Uma semana após a sessão teórico-prática e apresentação oral do trabalho 
de grupo, deverá ser entregue à docente o respectivo relatório escrito, que não 
deverá exceder as cinco páginas dactilografadas a espaço e meio. 
Resta assinalar que uma das sessões teórico-práticas relativas ao último 
bloco programático – Temas e debates actuais na sociologia do crime – é sempre 
reservada à organização de um seminário ou colóquio científico, que conta com a 
participação de especialistas convidados. No início do ano lectivo, o docente dá a 
conhecer aos alunos o tema seleccionado e os oradores envolvidos. Os 
estudantes são incentivados a preparar o debate com antecedência, através da 
pesquisa de materiais relacionados com a temática que vai ser apresentada nesse 
encontro científico. A actividade formativa relacionada com este elemento 
específico da metodologia de ensino consiste no envolvimento e participação 
activa no debate decorrente do evento científico e produção de um relatório 
escrito relativo aos assuntos apresentados e problematizados nesse contexto. 
25 
O objectivo da organização deste tipo de encontros e incorporação dos 
mesmos na metodologia de ensino em Sociologia do Crime é, por um lado, 
facultar aos alunos o contacto com a realidade exterior por via dos discursos e 
práticas de especialistas, e por outro lado, incentivar a responsabilização e 
envolvimento activo da parte dos estudantes, confrontando-os com as tarefas 
específicas associadas à organização de eventos científicos e preparação de 
debates. 
 
26 
1.6. SISTEMA DE AVALIAÇÃO 
A avaliação constitui um elemento regulador do processo de 
ensino/aprendizagem. No sentido de contemplar o objectivo de integrar 
metodologias de ensino/aprendizagem de natureza diversa e orientadas para a 
intervenção activa do aluno, o tipo de avaliação adoptado na unidade curricular de 
Sociologia do Crime é a avaliação contínua. 
Os momentos de avaliação são dois: a realização de um teste individual no 
final do semestre, com uma ponderação de 50%; e a realização das actividades 
formativas em grupo, com apresentação oral nas aulas teórico-práticas (10%) e 
produção de relatório (40%) que não deverá ultrapassar a cinco páginas 
dactilografadas a espaço e meio. 
Os critérios de avaliação do teste individual serão os seguintes: (i) qualidadeda escrita e organização da argumentação (0-3 valores); (iii) capacidade de 
apreciação e relacionação dos diversos conceitos e elementos solicitados no 
enunciado das questões (0-7 valores). 
Os critérios de avaliação dos trabalhos de grupo serão os seguintes: (i) 
qualidade da apresentação oral das conclusões do grupo (0-2 valores); (ii) clareza 
e organização do relatório (0-2 valores); (iii) capacidade de apreciação e avaliação 
das diversas vertentes do tema em causa (0-6 valores). A nota final deste 
momento de avaliação produz-se pela média aritmética de todos os relatórios das 
sessões teórico-práticas. 
 
27 
1.7. RECOMENDAÇÕES PARA O PLANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA 
APRENDIZAGEM 
O sucesso do processo de aprendizagem depende da adopção de algumas 
práticas de planeamento e organização de tarefas da parte dos alunos. 
Recomenda-se a preparação semanal de um calendário de actividades, 
conjugando as tarefas individuais com as tarefas de grupo. 
Além das aulas, os alunos deverão contar com tempo necessário à 
realização das seguintes tarefas: 
 
Tarefas de carácter individual 
 Na segunda semana de aulas o aluno deverá estar inserido num grupo de 
trabalho de 3 a 4 alunos; 
 No início das aulas é facultado um conjunto de bibliografia obrigatória, que o 
aluno deverá adquirir e organizar o mais cedo possível; 
 No final de cada unidade de aprendizagem o aluno deve responder aos 
testes formativos e corrigi-los; 
 Semanalmente o aluno deverá consultar os documentos fornecidos pelo 
docente, fazendo-se munir dos elementos necessários para estar habilitado 
por um lado, a colocar dúvidas e questões relativas à exposição teórica e, 
por outro lado, a desenvolver adequadamente a actividade formativa 
proposta em grupo; 
 O aluno deverá participar assídua e activamente nas reuniões de grupo de 
trabalho, lembrando-se que o grupo é mais importante que os membros 
individuais e que todos os elementos são responsabilizados pelos resultados; 
 O aluno deverá consultar o docente sempre que tenha necessidade de tirar 
dúvidas, no horário de atendimento. 
 
28 
Tarefas de grupo 
 O grupo de trabalho deverá reunir semanalmente para elaborar o relatório 
escrito da actividade formativa desenvolvida na aula teórico-prática, 
decidindo com antecedência o local, horário e duração da reunião; 
 A distribuição dos diferentes papéis dos membros do grupo deverá ser feita 
de modo rotativo e ser antecipadamente programada para todo o semestre. 
Há que contar com o papel de porta-voz das conclusões do grupo, a 
desempenhar oralmente na parte final das aulas teórico-práticas e de relator 
(elemento do grupo encarregue de redigir por escrito o relatório da 
actividade formativa e de entregar o trabalho à docente, por email ou em 
suporte de papel, dentro do prazo estipulado). 
 O contacto com o docente deve ser regular no sentido do grupo ser 
informado sobre o andamento da avaliação das actividades formativas; 
 
1.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Flanagan, Timothy; Longmire, Dennis (1996) (eds.), American view crime and 
justice: a national public opinion survey, Thousand Oaks, Sage. 
Machado, Carla (2004), Crime e insegurança. Discursos do medo e imagens do 
outro, Lisboa, Editorial Notícias. 
Pinto, José Madureira (1997) Propostas para o ensino das ciências sociais, Porto: 
Afrontamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO 
PROGRAMA E DOS SEUS CONTEÚDOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 – O CRIME COMO OBJECTO DA SOCIOLOGIA 
 
 
31 
 SUMÁRIO: 
 
2.1. Resultados esperados de aprendizagem 
2.2. A definição sociológica de crime 
2.3. Actividade formativa 1 
2.4. A especificidade da abordagem da Sociologia do Crime 
2.5. Actividade formativa 2 
2.6. As interrogações da Sociologia do Crime 
2.7. Síntese 
2.8. Teste formativo 
2.9. Leituras e informação complementar 
2.10. Referências bibliográficas 
32 
2.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 definir o conceito de crime, distinguindo a conceptualização júridico-legal da 
abordagem sociológica; 
 entender as diferenças entre os conceitos de crime e de desvio, captando o 
seu carácter complexo e relativo, do ponto de vista cultural e histórico; 
 identificar algumas das mais importantes abordagens do crime na óptica da 
biologia e da psicologia, sendo capaz de caracterizar a especificidade do 
pensamento sociológico; 
 expor as principais questões que orientam a investigação e reflexão sobre o 
crime. 
 
33 
2.2. A DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE CRIME 
 
O problema do objecto de estudo 
Desde tempos imemoriais que o crime tem sido objecto de reflexão e 
especulação, embora possamos situar no século XIX o início da abordagem 
científica do crime. O termo criminologia (entendido como ciência que estuda o 
crime) terá sido utilizado pela primeira vez pelo antropólogo francês Topinard, em 
1879 (Dias e Andrade, 1997:7). 
Não existe consenso em relação à utilização da designação de Criminologia, 
de Sociologia do Crime ou ainda de Sociologia Criminal, ao nível da abordagem 
sociológica do crime: enquanto para alguns autores a Criminologia como ciência 
que estuda o crime deve convocar saberes provenientes de diversas áreas do 
conhecimento (Psicologia, Psiquiatria, Biologia e Sociologia); outros autores 
defendem que a denominação de Criminologia pode servir para referenciar a 
especialização da Sociologia que se debruça sobre o crime. 
Parte das reflexões e pesquisas sobre o que podemos designar como 
comportamentos criminosos, desviantes ou delinquentes, consoantes as 
perspectivas teóricas, centram-se na explicação das causas do crime, procurando 
perceber os motivos porque determinados indivíduos parecem mais vulneráveis ou 
predispostos a cometer delitos do que outros (Ferreira, 2004). Neste âmbito, a 
questão fundamental para os estudiosos do crime será porque é que as pessoas 
(ou algumas pessoas) cometem crimes? 
As respostas a esta questão nuclear têm sido diversas e geralmente pouco 
consensuais e ainda hoje inconclusivas, variando não só consoante as épocas 
históricas, mas também de acordo com as perspectivas das diferentes ciências 
que se têm debruçado sobre o fenómeno criminal, desde a Biologia, ao Direito, à 
Filosofia, à Ética, à Psicologia, à Antropologia e à Sociologia. 
Num primeiro momento histórico, a explicação das causas do crime remetia 
para factores sobrenaturais, ou para supostas características intrínsecas dos 
indivíduos, que os conduziriam a um estado mais ou menos acentuado de 
incapacidade de integração na sociedade, predispondo-se para a prática do 
“mal”. O século XIX assistiu ao nascimento das primeiras abordagens científicas 
34 
do crime, que passam a preocupar-se em identificar e medir as variáveis que 
poderão estar na origem do comportamento criminoso e que poderão ser 
encontradas em causas biológicas, psicológicas e sociais. Contudo, a premência 
da procura das causas da ocorrência do crime manteve-se praticamente 
inalterável até aos dias de hoje nas principais correntes criminológicas. 
Abordagens recentes, nomeadamente provenientes da área da Sociologia, 
têm vindo a reconfigurar a formulação dessa questão, defendendo que outros 
prismas de análise do fenómeno criminal são possíveis e mesmo desejáveis e 
invocando a necessidade de reconfigurar o sentido e as vias da explicação 
criminológica. 
Podemos assim confrontar uma criminologia tradicional, que busca as 
causas do crime e se integra desse modo num paradigma «etiológico-explicativo»,com uma criminologia crítica de raiz interaccionista, que combate o alegado 
determinismo da primeira, centrando-se antes no domínio da «reacção social» ao 
crime e, deste modo, alarga o elenco de actores sociais envolvidos na construção 
social do crime, desde o criminoso tout court, aos processos de selecção e de 
estigmatização dos criminosos desenvolvidos e consolidados pelas instâncias 
formais e informais de controlo social. Nesta última perspectiva, em vez da 
questão clássica sobre as causas do crime, outras questões podem ser 
enunciadas, tais como sobre quais os critérios que ancoram a selecção e a 
estigmatização de certas pessoas e quais as consequências dessa rotulagem 
(Dias e Andrade, 1997: 160). 
Sintetizando, podemos supor que o que distingue no essencial as diferentes 
perspectivas sociológicas do crime é a formulação da questão de partida dirigida à 
realidade criminal: a sociedade tem os criminosos que «merece» (criminologia 
tradicional) ou os criminosos que «quer» (nova criminologia ou criminologia 
crítica)? 
Os modos de formulação das interrogações à realidade criminal remetem 
indubitavelmente para a própria definição do conceito de crime, na medida em 
que as próprias divergências no conceito de crime reflectem modos diversificados 
de pensar, teorizar e agir em relação a esta problemática. De facto, a definição do 
objecto de estudo – neste caso, o crime – resulta do que se quer saber sobre o 
35 
fenómeno em análise. Neste sentido, o crime constitui um conglomerado histórico 
de elementos sociológicos, jurídicos, éticos e de senso comum ou estereótipos, 
embora a definição jurídico-legal, por razões históricas e culturais, tenda a ser a 
dominante. 
 
O conceito de crime 
A definição jurídico-legal de crime define-o como todo o comportamento – e 
só esse – que a lei tipifica como tal. Paul Tappan (1947), eminente criminologista, 
sociólogo e jurista, levou a cabo uma defesa extremada dessa conceptualização 
do crime, por considerar que se tratava de um conceito objectivo, preciso e 
operacional, defendendo que só se deveria considerar crime aqueles 
comportamentos que resultassem de condenações judiciais. 
A operacionalidade do conceito puramente legalista de crime é evidente, 
tanto mais que as estatísticas criminais oficiais reflectem essa perspectiva. 
Contudo, aceitar acriticamente a definição jurídico-legal de crime, implicaria em 
última instância supor que a criminalidade oficial corresponde integralmente à 
criminalidade efectivamente cometida. Do mesmo modo, aceitar a posição 
defendida por Tapplan de que o crime corresponde ao que é condenado como tal 
nas instâncias judiciais significa pressupor, por exemplo, que a aplicação da lei é 
sempre objectiva e neutra, havendo uma correspondência total e absoluta entre a 
denominada law in books (legislação) e a law in action (aplicação da lei). 
Não sendo a definição de crime algo auto-evidente e unitário, torna-se 
importante perceber a diversidade de elementos que podem estar associados a 
este conceito, assim como o relativismo cultural e histórico que lhe está 
subjacente. 
Pode-se considerar que existem três elementos básicos a considerar na 
definição de crime: (1) os danos, que remetem para a natureza, dimensão e 
severidade dos prejuízos e males causados e que tipo de vítimas foram atingidas; 
(2) o consenso social sobre os impactos criados pela ocorrência do crime; (3) as 
respostas oficiais, que implicam a existência de legislação criminal que especifica 
as circunstâncias em que um acto danoso pode ser classificado como crime e 
quais as sanções a dirigir a quem o cometeu. 
36 
A definição de crime de Durkheim 
Émile Durkheim, um dos clássicos da Sociologia que marcou decisivamente 
os primórdios da análise sociológica do crime, apresenta na obra De la division du 
travail social (1895), uma definição de crime como sendo “Todo o acto que, num 
qualquer grau, determina contra o seu autor essa reacção característica a que se 
chama pena” (Durkheim, 1977: 87). Esta focagem na dimensão da resposta oficial 
surge articulada com questão do consenso social, na medida em que o autor não 
só define a pena como sendo uma “reacção passional, de intensidade graduada, 
que a sociedade exerce por intermédio de um corpo constituído sobre aqueles 
dos seus membros que violaram certas normas de conduta” (id. ibid.: 116), como 
acrescenta que “um acto é criminoso quando ofende os estados fortes e definidos 
da consciência colectiva” (id. ibid.: 99) pelo que “não se deve dizer que um acto 
ofende a consciência comum porque é criminoso, mas que é criminoso porque 
ofende a consciência comum.” (id. ibid.: 100). 
A definição durkheimiana de crime remete para o comportamento que é 
definido como tal pela lei e que recebe a respectiva sanção jurídico-penal. Nesta 
perspectiva, não há crime sem lei, do mesmo modo, que não há lei criminal sem 
existência de dano ou prejuízo. Em suma, para Durkheim o crime consiste numa 
transgressão em relação ao que é definido ao nível de estados fortes e definidos 
da consciência colectiva, suscitando como tal reacções intensas que se projectam 
pelas sanções previstas no direito criminal. Na perspectiva deste autor, a 
característica comum aos crimes residiria no facto de constituírem actos 
universalmente reprovados pelos membros de cada sociedade. 
 
A definição de crime de Sellin 
Thorsten Sellin, criminologista Americano e especialista em estatísticas 
criminais, distinguiu-se por pretender libertar o conceito de crime da perspectiva 
jurídico-legal, advogando a necessidade de uma “definição sociológica” do 
conceito, na sua obra Culture Conflict and Crime publicada pela primeira vez em 
1938. De acordo com o autor, as exigências metodológicas e epistemológicas da 
criminologia (ciência que tem como objecto de estudo o crime) e a diversidade 
cultural a que assistimos nas sociedades modernas, remetem para uma 
37 
perspectiva multicultural do crime, que pode ser definido como sendo a 
transgressão a dois tipos de normas: as normas de conduta e as categorias 
universais. As normas de conduta são criadas pela sociedade e podem variar de 
grupo para grupo social. Já as categorias universais de crime (como por exemplo, 
o homicídio) assumem um significado similar em diferentes sociedades. 
Na perspectiva de Sellin, a criminologia deveria ter um objecto de estudo 
com uma natureza objectiva e universal, valorativamente neutro e que não 
estivesse sujeito ao relativismo espácio-temporal, de modo a ser possível isolar e 
classificar as normas de conduta segundo categorias universais. Segundo este 
autor, as normas jurídico-penais apenas projectam a estrutura normativa dos 
grupos culturalmente dominantes, reflectindo deste modo os valores e interesses 
dos grupos sociais que controlam o aparelho legislativo. Isto faz com que possa 
haver conflitos culturais entre os «fazedores de leis» e as normas de conduta que 
regulam as vivências e situações sociais específicas dos grupos desfavorecidos, 
que tendem a aumentar com o processo de modernização da sociedade, na 
medida em que este potencia a heterogeneidade cultural. 
Os críticos de Sellin consideram que este falhou o objectivo de apresentar 
uma definição unívoca de categoria universal de crime e que não elabora 
propriamente um conceito sociológico de crime, mas apenas contrapõe dois 
universos normativos: as normas de conduta em gera e as normas jurídico-penais, 
convertendo as primeiras em objecto de estudo da criminologia. 
 
A relação entre crime e desvio 
Ainda hoje se assiste a tentativas de definir o crime em termos sociológicos, 
distinguindo-o da definição jurídico-penal. A generalidade dosautores pretende 
que o conceito de desvio é mais adequado à abordagem sociológica, embora as 
definições existentes não sejam coincidentes. Pode-se afirmar que o conceito de 
desvio assenta em dois pressupostos básicos: (i) engloba comportamentos que 
violam as expectativas da maioria dos membros da sociedade; (ii) suscita 
reacções negativas, considerando-se que é um acto que deve estar sujeito a 
sanções. 
38 
A abordagem do fenómeno criminal como um desvio implica entrar em 
ruptura com o conceito jurídico de «crime» e a perspectiva positivista que lhe é 
inerente, em função da qual se estudava o crime essencialmente ou mesmo 
exclusivamente pelo criminoso e pela perspectivação das causas que conduziriam 
à prática do crime. A opção por encarar o crime como um acto desviante remete 
para um alargamento da focagem de análise que exige estudar as condições 
sócio-históricas da produção social dos desvios, o funcionamento dos 
mecanismos informais de regulação social, as interacções entre os desviantes e 
os aparelhos de controlo social e os impactos da reacção social sobre o sujeito 
definido como desviante. 
Para uma clarificação da distinção entre os conceitos de «crime» e de 
«desvio» parece-nos fundamental reter a seguinte ideia de Herbert Blumer: “é o 
processo social em grupo que cria e suporta as normas e não as normas que 
criam e suportam a vida em grupo” (Blumer, 1969: 19). Ou seja, uma abordagem 
sociológica do crime deve ultrapassar a visão estritamente jurídica, devendo ser 
abordada como uma construção social que nunca deixará de estar associada à lei 
e ao controlo social formal e informal. 
Temos assim que o conceito de desvio se aplica às condutas que 
transgridem as normas de uma dada sociedade, remetendo por isso a análise 
para as operações de classificação e definição social, que variam em termos 
espácio-temporais. 
Subjacente ao conceito de desvio, encontramos o conceito de controlo 
social, que envolve mecanismos de socialização e internalização de normas e 
valores, mas também de aplicação de sanções a quem transgride as regras. 
Se nem todo o desvio é crime e nem todo o crime representa desvio, a 
conceptualização sociológica do crime como desvio apresenta a vantagem de se 
demarcar de uma visão puramente legalística da problemática criminal. De facto, 
a perspectivação do crime como desvio exige a compreensão das estruturas 
sociais mais amplas em que este se insere. Implica, de igual modo, encarar o 
crime como sendo simultaneamente um problema social enquanto constituindo 
um desvio às expectativas socialmente criadas, que provoca reacções negativas; 
39 
e um problema sociológico por implicar um estudo científico das relações sociais 
envolvidas. 
 
2.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 1 
 “Nem todo o desvio é crime, nem todo o crime implica desvio” 
Considerem esta ideia e desenvolvam a seguinte actividade em grupo, 
elaborando uma descrição em tópicos, não ocupando mais do que uma página 
A4: 
1. Listem exemplos de a) comportamentos que são desviantes, mas não 
constituem crimes; b) comportamentos que em períodos históricos passados 
foram considerados desviantes, mas que não o são actualmente; c) 
comportamentos criminosos que, em determinados contextos, podem não 
ser considerados negativos ou “merecedores” de punição. 
2. Listem três comportamentos que consideram “crimes graves” e três 
comportamentos que avaliam como “crimes pouco graves”. Fundamentem a 
vossa escolha. 
 
 
 
40 
2.4. A ESPECIFICIDADE DA ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
As diferentes ciências criminais 
São diversas as ciências que se têm debruçado sobre o fenómeno criminal, 
pretendendo-se neste âmbito, sintetizar os principais traços de cada uma das 
perspectivas dominantes, com o objectivo último de apontar a especificidade da 
abordagem sociológica. 
O século XIX assistiu ao nascimento do denominado positivismo 
criminológico, que ao postular a neutralidade axiológica e a separação entre a 
ciência e a moral, advoga que os comportamentos criminosos podem ser 
explicados por factores biológicos, psicológicos e sociais específicos, susceptíveis 
de observação e medição. 
No campo da Biologia, até sensivelmente meados do séc. XX, com base em 
estudos genéticos e evolutivos, foi dominante a perspectiva de que o 
comportamento criminoso resultava de atavismos físicos e intelectuais de tipo 
hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da evolução humana. Já no 
âmbito da Psicologia e Psiquiatria a abordagem do crime remeteu para traços da 
personalidade individual, o que sustentou estudos e programas de tratamento e 
de adaptação mais ou menos forçada da personalidade do criminoso às 
exigências da vida em sociedade. Por fim, a Sociologia do séc. XIX, 
nomeadamente por via dos trabalhos de Émile Durkheim (1895, 1897) e Gabriel 
Tarde (1886, 1890), advoga que as causas da ocorrência do crime se encontram 
na própria sociedade, nomeadamente em resultado de pressões e tensões sociais 
que acompanham a evolução das sociedades. 
Ainda hoje persistem diferenças entre as perspectivas teóricas e 
metodológicas associadas a cada área científica, pese ainda que dentro do 
mesmo campo disciplinar podemos igualmente encontrar distintos 
posicionamentos. 
Podemos sintetizar os principais pressupostos de cada uma das abordagens 
científico-explicativas do crime, distinguindo entre: (i) teorias bioantropológicas; (ii) 
teorias psicodinâmicas e psico-sociológicas ; (iii) teorias sociológicas. 
 
41 
A perspectiva da Biologia 
As teorias bioantropológicas do crime centram-se em factores de cariz 
individual que se considera pertencerem ou serem características do organismo. 
Procura-se atingir a compreensão das determinantes biológicas do crime, 
nomeadamente o papel da genética. Mas enquanto as teorias clássicas afirmavam 
a exclusividade e definitividade das características físicas, as versões mais 
recentes sustentam que os factores bioantropológicos interagem continuamente 
com variáveis de índole sociológica e ambiental. 
 
A perspectiva da Psicologia e Psiquiatria 
No campo das teorias psicodinâmicas dá-se continuidade ao estudos das 
variáveis individuais que explicam a prática do crime, mas em vez de focarem a 
constituição biológica, centram-se nos percursos biográficos dos indivíduos, que 
remetem para processos dinâmicos de formação da personalidade, procurando 
identificar os níveis de sucesso e insucesso na sua formação, aprendizagem e 
socialização. Estes estudos partem de um postulado básico da existência de 
impulsos naturais, que podem entrar em conflito com as resistências criadas pelo 
processo de socialização e decorrentes mecanismos de indução de 
comportamentos normais (a sociedade repressiva e punitiva). As teorias 
psicodinâmicas englobam uma vasta diversidade de perspectivas, sendo que as 
teorias psicanalíticas do crime e as teorias do condicionamento são das mais 
conhecidas e aplicadas ao nível das práticas de tratamento e reabilitação de 
delinquentes. 
As teorias psico-sociológicas centram-se sobretudo no comportamento 
considerado normal e que surge conforme as prescrições previstas na lei e nas 
normas de conduta da sociedade. Só após o estudo da «conformidade», isto é, da 
indagação da natureza e força dos vínculos que unem o indivíduo à sociedade, e 
que o conduzem a superar os impulsos naturais e obedecer às regras, é que se 
procede ao estudo do comportamento desviante e delinquente. 
 
42 
A perspectiva da Sociologia 
Não obstante a heterogeneidade e diversidade apresentada pelas teorias 
sociológicas do crime, importa apontar e compreender a especificidade desta 
áreado saber. A abordagem sociológica do crime tende a ser globalizante, 
preocupando-se não só em explicar porque se cometem crimes, mas também em 
problematizar a própria ordem social, compreender as implicações político-
criminais e delinear moldes, conteúdos e alcances de práticas de associação 
entre a teoria e a prática, nomeadamente, ao nível da reinserção social e 
prevenção da delinquência. 
Aceitando a proposta apresentada por Edwin Sutherland (1939), 
criminologista e sociólogo integrado na corrente de pensamento do 
interaccionismo simbólico, considerado por muitos o pai fundador da Criminologia 
Americana, a abordagem sociológica do crime pode ser realizada em três 
dimensões de análise: (i) pelo estudo da produção e feitura de leis, mormente ao 
nível do que se tem vindo a designar como “Sociologia do Direito”; (ii) pelo estudo 
da violação das leis e das suas causas, sendo esta uma área que tem convocado 
o interesse de diversos saberes e especializações, provenientes não só do campo 
da Sociologia, como também da Antropologia, Psicologia, Psiquiatria, Economia e 
Ciência Política; (iii) pelo estudo da reacção social ao crime, sendo esta uma 
dimensão de análise marcadamente sociológica, e que pode englobar diferentes 
aspectos da realidade social, desde a observação das consequências e fontes de 
legitimidade das reacções ao crime, à pesquisa dos determinantes sociais da 
criação das normas de conduta ou perspectivação da opinião pública 
relativamente a determinados actos criminosos. 
 
2.5. AS INTERROGAÇÕES DA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
Principais questões de partida 
Todos os paradigmas teóricos têm em comum algumas questões de partida 
(interrogações dirigidas à realidade empírica, que servirão de fio condutor ao 
processo de pesquisa) dirigidas ao fenómeno criminal, e que podem ser 
formuladas do seguinte modo: 
43 
 Que visão da natureza humana suscita o fenómeno do crime? 
 De que modo o crime representa um desafio ou uma transgressão à ordem 
social? 
 O crime é um fenómeno natural, social ou legal? 
 Qual a extensão e distribuição social do crime? Trata-se de um fenómeno 
geral e normal em qualquer sociedade ou de uma actividade marginal e 
excepcional? Toda a gente comete crimes ou os crimes são praticados por 
grupos ou indivíduos específicos? 
 Quais são as causas do crime? 
 Quais as implicações político-criminais das diferentes visões do crime? 
 As respostas a estas questões de partida direccionadas para o fenómeno 
do crime têm implícitas determinadas dicotomias, que aliás têm estado 
presente em todo o pensamento sociológico e teorização do social, desde a 
modernidade. 
 
As dicotomias das teorias do social 
Podemos sintetizar as principais dicotomias que têm trespassado as diversas 
teorias do social, aplicando-as à temática do crime, do seguinte modo: 
 Natureza humana: voluntarismo versus determinismo 
O envolvimento na prática do crime resulta de um acto de livre vontade 
(voluntarismo) ou é primordialmente condicionado/guiado por forças que escapam 
ao controlo do criminoso/a ou de que ele/ela não têm consciência (determinismo)? 
 Ordem social: consenso versus conflito 
Todas as teorias sociológicas do crime remetem para o conceito «contrário» 
de ordem social. Esta tanto pode ser encarada como estando baseada no 
consenso da maioria da sociedade (embora uma minoria possa ser coagida), ou 
com base no conflito – latente ou manifesto – pelo qual uma minoria privilegiada 
impõe pela coerção os seus interesses e valores. 
 Definição do crime: legal versus social 
O crime tanto pode ser encarado como a transgressão à lei (definição legal), 
como a transgressão aos códigos normativos de uma determinada sociedade 
44 
(definição social). Estas definições tanto podem ser complementares e mesmo 
coincidentes, como descoincidentes: por exemplo, a fuga aos impostos pode ser 
crime do ponto de vista legal, mas pode ser um acto que não sofre reprovação da 
parte da maioria da população. 
 Extensão e distribuição do crime: limitada versus extensiva 
Um dos problemas fulcrais da Sociologia do Crime reside na dificuldade em 
usar e interpretar as estatísticas oficiais da criminalidade. Estas reportam que 
apenas um grupo restrito de grupos ou indivíduos cometem crimes. Mas será que 
nos transmitem a realidade? A actividade criminal estará limitada a um grupo 
restrito ou, pelo contrário, envolverá uma extensa parte da população? 
 Causas do crime: individuais versus sociais 
As causas do crime podem ser procuradas no indivíduo (personalidade, 
características biológicas, biografia) ou na sociedade e meio social envolvente. 
Por exemplo, a prática de violação pode ser percepcionada como um 
comportamento que resulta de uma desordem biopsíquica ou mesmo genética, 
enquanto que um sociólogo afecto às correntes feministas do crime explicará a 
ocorrência como resultado da sociedade patriarcal que incentiva ou desculpabiliza 
a violência sexual exercida sobre a mulher. 
 Implicações político-criminais: punição versus tratamento ou reinserção 
A perspectivação teórico-metodológica do crime e do criminoso acarreta 
implicações de ordem político-criminal. Por exemplo, se o crime é encarado como 
resultado de um acto voluntário, a tónica será direccionada para o 
castigo/punição. Se pelo contrário, se entender que o acto criminoso resulta 
essencialmente da força das estruturas sociais, a orientação político-criminal 
guiar-se-á pelos princípios do tratamento (campo da psicologia e psiquiatria) ou da 
reinserção social (sociologia e serviço social). 
45 
2.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 2 
Desenvolvam a seguinte actividade em grupo, elaborando uma descrição em 
tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
 
Após terem visionado o filme “Laranja mecânica” do realizador Stanley Kubrick 
(1971), baseado na obra homónima de Anthony Burgess (1962), apontem as 
principais representações veiculadas da “personalidade criminal”. De que modo 
a tipificação de criminoso exposta no crime se afasta dos princípios subjacentes 
a uma abordagem sociológica do crime? Que perspectivas de política criminal 
subjazem à história relatada? 
 
 
 
46 
2.7. SÍNTESE 
O primeiro ponto programático incide sobre o problema da definição e 
construção do crime como objecto da Sociologia e da sua relação com os 
diferentes modos como este é definido noutras áreas do conhecimento, tais como 
as ciências jurídicas, as ciências biológicas e as ciências psicológicas e 
psiquiátricas. Discute-se o que pode ser o contributo específico da Sociologia para 
a abordagem do crime, começando pela própria definição do conceito, 
procedendo-se a uma diferenciação entre a definição jurídico-legal de crime e a 
definição sociológica e salientando-se a complexidade inerente a este passo 
introdutório ao nível dos estudos sociais do fenómeno criminal. Por fim, formulam-
se as principais questões dirigidas à realidade social que a Sociologia do Crime 
suscita. 
 
2.8. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
1. Que significa afirmar que o crime constitui um conglomerado histórico de 
elementos sociológicos, jurídicos, éticos e de senso comum ou 
estereótipos? 
2. Em que consiste a definição jurídico-legal de crime? 
3. Quais os três elementos básicos a considerar na definição de crime? 
4. Qual a importância do consenso social na definição de crime que 
Durkheim apresenta? 
5. O que distingue o conceito de desvio do conceito de crime? 
6. Aponte as principais características da abordagemsociológica do crime, 
distinguindo-a dos princípios orientadores da abordagem do fenómeno 
criminal apresentada respectivamente, pela Biologia, pela Psicologia e 
pela Psiquiatria. 
7. Enuncie e explicite as principais dicotomias que estão presentes nas 
teorias do social, aplicando-as à temática do crime. Apresente exemplos 
empíricos. 
47 
2.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 3-
10; 159-241. 
Durkheim, Émile (1970) [1895], A divisão do trabalho social (1.º vol.), Lisboa, 
Presença: 67-116. 
Ferreira, Eduardo Viegas (2004), “Factores de resistência a opções delinquentes – 
um estudo exploratório”, comunicação apresentada no V Congresso Português 
de Sociologia - Atelier Direito, Crimes e Dependências, 12 a 15 de Maio, Braga, 
Universidade do Minho. 
Little, Craig (1989), Deviance and control – theory, research and social policy, 
Nova Iorque, Peacock Publishers: 1-23. 
Tappan, Paul (1947), “Who is criminal?”, American Sociological Review 12,1: 96-
102. 
Young, Jack (2003), Thinking seriously about crime: some models of criminology, 
www.malcolmread.co.uk/JockYoung/tsac_v_2003.pdf- 
 
Leituras de aprofundamento: 
Gottfredson, M., Hirshi, T. (1990), A general theory of crime, Stanford, Stanford 
University Press. 
Karstedt, Susanne; Bussman, Kai (2000) (ed.), Social dynamics of crime and 
control : new theories for a world in transition, Oxford, Hart. 
Moyer, Imogene L., (2001), Criminological Theories: Traditional and Nontraditional 
Voices and Themes, Sage Publications: Thousand Oaks, California. 
 Sellin, Thorsten (1938), Culture Conflict and Crime, Nova Iorque, Social Science 
Research Council. 
Sutherland, Edwin (1939) Principles of criminology, Philadelphia, J. B. Lippincott 
Company. 
48 
2.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
Blumer, Herbert (1969), Symbolic interaccionism. Perspective and method, 
Englewood Cliffs, Prentice Hall. 
Burgess, Anthony (2004), A laranja mecânica, Aleph, Brasil. 
Tarde, Gabriel (1886), La criminalité comparée, Paris, Félix Alcan. 
Tarde, Gabriel (1890) Les lois de l' imitation. Etude sociologique, Paris, Félix Alcan. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 – PRINCIPAIS MÉTODOS, TÉCNICAS DE PESQUISA E 
FONTES DE INFORMAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
 
50 
 SUMÁRIO: 
 
3.1. Resultados de aprendizagem 
3.2. Métodos na Sociologia do Crime 
3.3. Técnicas de investigação na Sociologia do Crime 
3.3.1. Inquéritos sociais 
3.3.2. Estudos de caso 
3.3.3. Observação participante 
3.3.4. Estudos de follow-up 
3.4. Actividade formativa 3 
3.5. Fontes de informação sobre o crime 
3.5.1. Estatísticas criminais 
3.5.2. Estatísticas da associação de apoio à vítima (APAV) 
3.5.3. Relatórios de segurança interna 
3.5.4. Inquéritos de vitimação 
3.6. Actividade formativa 4 
3.7. Síntese 
3.8. Teste formativo 
3.9. Leituras e informação complementar 
3.10. Referências bibliográficas 
 
51 
3.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
 compreender as bases científicas dos estudos sociológicos do crime; 
 identificar e caracterizar as principais técnicas de investigação usadas na 
Sociologia do Crime; 
 captar as principais potencialidades e limitações de cada técnica de 
investigação; 
 aferir a técnica de investigação adequada aos objectivos de pesquisa; 
 localizar e identificar as principais fontes de informação sobre o crime, no 
plano nacional e internacional; 
 avaliar as principais limitações das fontes nacionais e internacionais 
existentes. 
 
52 
3.2. MÉTODOS NA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
A triangulação metodológica 
O estudo científico do crime exige uma perspectiva interdisciplinar e de 
integração metodológica (Dias e Andrade, 1997: 114), que convoque e reúna 
diferentes saberes e métodos diversificados num objectivo comum. O mesmo será 
dizer que, idealmente, a investigação sobre o crime deverá socorrer-se do que 
Plattan (1990) designa como triangulação, para se referir à combinação de 
métodos ou de dados, que implique a consulta de uma variedade de fontes num 
mesmo estudo, o uso de vários investigadores provenientes de áreas diversas, o 
cruzamento de diferentes perspectivas teóricas e de diferentes metodologias e 
técnicas de pesquisa. No entanto, a prática tem revelado que é difícil concretizar 
esse princípio, não se tendo ainda sedimentado uma tradição de 
interdisciplinaridade e de integração no plano empírico, ao nível das abordagens 
do fenómeno criminal. 
Actualmente, a definição de fronteiras entre as diversas ciências que 
estudam o crime torna-se mais ténue e indefinida, pelo que o crime é cada vez 
mais perspectivado como sendo um fenómeno social total (Mauss, 2001) que 
invoca factores biológicos, psicológicos, culturais, económicos e sociais, exigindo 
a análise da vertente individual mas também a compreensão das estruturas 
sociais mais amplas em que se insere. Assim sendo, mesmo as ciências que mais 
cedo se implantaram no campo criminológico – como a biologia, a psicologia e a 
psiquiatria – não podem operar sem atender ao peso decisivo dos factores sociais 
e culturais estudados pela Sociologia. 
 
Métodos qualitativos e quantitativos 
Tradicionalmente, os métodos de natureza qualitativa e quantitativa estão 
associados a distintos paradigmas teóricos. Em termos muito simplistas e 
generalistas, poder-se-á afirmar que enquanto as correntes interaccionistas têm 
privilegiado as técnicas de pesquisa que permitem o acesso e compreensão dos 
universos simbólicos dos actores sociais e das suas práticas quotidianas 
(metodologias qualitativas); as correntes funcionalistas tendem a utilizar técnicas 
53 
de recolha de informação em grande escala, que permitam conclusões extensíveis 
à análise ampla e extensiva das estruturas sociais (metodologias quantitativas). 
Enquanto que os objectivos da investigação quantitativa consistem 
essencialmente em encontrar relações entre variáveis, testar teorias e fazer 
descrições recorrendo ao tratamento estatístico dos dados recolhidos; a 
investigação de índole qualitativa chega à compreensão dos fenómenos de forma 
indutiva, procurando compreender os sujeitos a partir dos seus quadros de 
referência. 
Não se pode falar de métodos e de técnicas de investigação que sejam 
específicos da abordagem sociológica do crime, tanto mais que se trata de uma 
problemática que tem suscitado uma considerável diversidade de correntes 
teóricas, cada uma privilegiando processos específicos de procura, recolha e 
interpretação de dados. Considerar-se-ão, resumidamente, as técnicas de 
investigação sociológica mais usadas ao nível dos estudos sobre o crime. 
 
54 
3.3. TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
3.3.1. INQUÉRITOS SOCIAIS 
 
Definição de inquérito social 
Os inquéritos sociais consistem em técnicas de investigação que procedem 
a uma recolha sistematizada, no terreno, de dados susceptíveis de poder ser 
comparados. Geralmente são inquéritos aplicados directamente a uma amostra 
estatisticamente representativa e de modo a permitir uma posterior análise 
quantitativa da informação apurada. 
Seja sob a forma de entrevista (situação em que o investigador está 
presente) ou de questionário (situação em que o investigador está ausente), os 
inquéritos sociais tendem a apresentar perguntas fechadas, de duração 
tendencialmente curta, que se caracteriza por um número de perguntas em regra 
elevado, com uma ordenação muito rigorosa, focadas dominantementenos 
conhecimentos e opiniões do entrevistado. 
A utilização desta técnica de investigação visa sobretudo revelar e medir as 
atitudes colectivas dos cidadãos face ao crime e à justiça criminal. Pode também 
ser aplicada a outros objectos de estudo, nomeadamente, com o intuito de apurar 
a situação económica, familiar e habitacional de criminosos e delinquentes, assim 
como medir a propensão para o crime com base em factores como a classe 
social, a escolaridade, o estatuto sócio-profissional, a idade, o género e a situação 
profissional. 
 
Tipos de inquéritos sociais 
 Existem dois tipos essenciais de inquéritos sociais: os inquéritos de auto-
denúncia (self-reported studies) e os inquéritos à vitimação (victimization surveys), 
que têm como objectivo geral estudar o volume e a estrutura da criminalidade 
oculta (aquela que não é registada nas estatísticas oficiais), bem como as suas 
relações com a criminalidade oficial. 
Nos inquéritos sociais de auto-denúncia pergunta-se às pessoas que crimes 
terão cometido num determinado período de tempo. O trabalho pioneiro de A. 
55 
Porterfield, em 1946 (cit. Dias e Andrade, 1997: 137) que incidiu sobre a 
delinquência de jovens estudantes universitários, oriundos de camadas sociais 
privilegiadas, revelou as virtualidades de aplicação desta técnica, ao comprovar 
que, ao contrário do que parecem revelar as estatísticas oficiais de criminalidade, 
não há diferenças significativas entre as práticas de delinquências de jovens das 
classes sociais favorecidas e aqueles que pertencem a grupos sociais 
desfavorecidos. A única diferença é que os jovens das classes sociais mais 
elevadas «escapam» aos registos oficiais da criminalidade. Como referem Dias e 
Andrade, a “homogeneidade tendencial no que toca à criminalidade real 
corresponde a um peso diferencial nas estatísticas oficiais em função da raça e do 
estatuto económico-social” (Dias e Andrade, 1997: 137). 
Nos inquéritos à vitimação colocam-se questões sobre as experiências como 
vítimas de crimes: pergunta-se se durante um determinado período de tempo, as 
pessoas foram vítimas de crimes, quantos e de que tipo e quais os motivos que 
conduziram as vítimas a renunciar à sua participação às instâncias formais. 
 
Potencialidades e limitações 
As limitações mais óbvias da aplicação dos inquéritos de auto-denúncia são 
as resistências em admitir a prática de crime, assim como as próprias falhas de 
memória. No entanto, a aplicação desta técnica generalizou-se nos Estados 
Unidos, Reino Unido, Canadá e Países Nórdicos. 
Os inquéritos de vitimação permitem salientar o papel criminológico da 
vítima, nomeadamente o seu papel de selecção, na medida em que a maioria da 
criminalidade oficial é criada pela própria vítima, que a relata às instâncias formais 
de controlo. De uma forma mais específica, consegue-se analisar a extensão e 
profundidade do conhecimento dos entrevistados sobre as vítimas de crime 
(experiências pessoais ou de conhecidos), identificar sentimentos característicos 
das vítimas de crime e analisar sentimentos de segurança e insegurança. Outras 
das vantagens da utilização deste tipo de inquéritos é que permitem aferir modelos 
de intervenção, ao nível da prevenção local, nacional e regional da criminalidade. 
Nos inquéritos à vitimação as principais limitações consistem na opacidade 
revelada em relação a determinados crimes: não só os casos dos homicídios, mas 
56 
também os denominados crimes sem vítima, de que são exemplo os crimes em 
que está em causa o interesse público e os designados crimes de colarinho 
branco. Além disso, outros factores comprometem a aproximação à criminalidade 
real com base nos inquéritos de vitimação, designadamente os processos de 
auto-selecção da informação da parte das próprias vítimas por medo de 
represálias ou por solidariedade com o autor do crime (usual nos crimes sexuais e 
de violência doméstica) e da não avaliação como crime de determinadas 
actividades, como por exemplo, os crimes informáticos (Gomes, 2001: 67). 
Geralmente, estes estudos têm interesse e são utilizados por organizações e 
estruturas que lidam directamente com a prevenção do crime (autoridades 
municipais e policiais); serviços de apoio à vítima e outras entidades que lidam 
directamente com vítimas de crime (serviços assistência social, estabelecimentos 
de ensino e de saúde), estruturas decisórias ao nível da política criminal (Ministério 
da Justiça e Administração Interna) e institutos de investigação na área da 
criminalidade. 
 
3.3.2. ESTUDOS DE CASO 
No âmbito da Sociologia do Crime têm assumido particular importância os 
estudos de caso, nomeadamente de carácter biográfico e centrados na análise de 
carreiras delinquentes, de um ou vários casos individuais. 
Já nos anos trinta do século XX, esta técnica ganhou importância na 
Sociologia, sobretudo com a obra pioneira do sociólogo Clifford Shaw do Institute 
for Juvenile Research, ligado à tradição teórica e empírica da Escola de Chicago, 
que preocupado em estudar as causas da delinquência juvenil em meio urbano, 
desenvolveu a análise de percursos individuais em carreiras delinquentes, 
expressas nomeadamente nas histórias que encontramos em The Jack-Roller: A 
Delinquent’s Boy own Story (1930) e The Natural History of a Delinquent Career 
(1931). 
A informação relativa aos estudos de caso é feita pelo recurso a várias 
técnicas, sobretudo a entrevista em profundidade, a observação participante e a 
análise documental, orientada para uma perspectiva fenomenológica e 
compreensiva, interessada em compreender a conduta humana a partir dos 
57 
próprios pontos de vista do sujeito ou grupos estudados (Carmo e Ferreira, 1997: 
177). A aplicação da entrevista ao nível dos estudos de caso significa que há uma 
interacção directa entre entrevistador e entrevistado e, geralmente, as perguntas 
são abertas, focadas essencialmente nas vivências pessoais do entrevistado e 
havendo um grande grau de liberdade no diálogo e profundidade na forma da 
abordagem temática, por parte do entrevistado. 
A maior vantagem da aplicação desta técnica é a obtenção de dados 
aprofundados e próximos da realidade estudada, traduzidos em relatos muitas 
vezes densamente emocionais. A sua limitação mais óbvia é o facto dos dados 
apurados de não serem generalizáveis e da fiabilidade da informação depender 
muito do próprio investigador – da sua sensibilidade, conhecimento, experiência e 
orientações teóricas – na medida em que este se torna o próprio instrumento de 
recolha empírica. 
 
3.3.3. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE 
A observação participante caracteriza-se pelo facto do investigador 
participar activamente na vida do grupo que é objecto de investigação. Há muito 
utilizada em estudos sobre pequenas comunidades, pelos antropólogos, esta 
técnica de investigação tem vindo a ser cada vez mais usada pela Sociologia do 
Crime, quer como ferramenta exploratória, quer como técnica principal de recolha 
de dados. 
Uma questão que tem particular relevo ao nível da observação participante 
diz respeito ao papel social que o investigador se propõe desempenhar junto da 
população observada. Este problema assume particular relevância ao nível dos 
estudos sociológicos do crime, na medida em que os contactos com grupos 
envolvidos em actividades ilícitas pode colocar problemas deontológicos 
decorrentes de eventuais conflitos de interesse entre o investigador e a população 
que é alvo de estudo. 
A escolha do papel a assumir pelo investigador e o processo de gestão da 
informação apurada agudiza-se em estudos realizados junto de pessoas que 
cometem crimes, gerando situações de «ambivalência sociológica»,que como 
referem Carmo e Ferreira confronta o pesquisador com “o dilema da dupla 
58 
fidelidade, à comunidade académica que lhe pede resultados cientificamente 
interessantes e à população-alvo que em si confiou um património de informações 
e acesso reservado” (Carmo e Ferreira, 1997: 114). 
Contudo, a observação participante dirigida a grupos que cometem 
actividades ilícitas e socialmente recriminadas é possível com sucesso, como é 
atestado por estudos clássicos como o realizado por Saul Alinsky, criminologista 
da Escola de Chicago e discípulo de Clifford Shaw, que em 1938 realizou um 
estudo das actividades do bando de Al Capone (Horwitt, 1992), ou por William 
Foote Whyte, que em finais dos anos 30 foi viver para um bairro habitado por 
imigrantes italianos, a maioria dos quais envolvidos em actividades de crime 
organizado, tendo lá vivido três anos e meio (Whyte, 1943). 
Após estes estudos pioneiros, a observação participante ganhou grande 
tradição ao nível dos estudos sociológicos do crime, sobretudo no quadro das 
abordagens interaccionistas e no âmbito de estudos do meio prisional e bairros 
sociais. 
 
3.3.4. ESTUDOS DE FOLLOW-UP 
A origem dos estudos de follow-up fica a dever-se grandemente aos estudos 
sobre a reincidência, pelo que um dos campos privilegiados da sua aplicação seja 
o acompanhamento das carreiras delinquentes, sobretudo após o termo de um 
determinado tratamento institucional. Este tipo de técnica de pesquisa tem maior 
tradição na Psicologia e Psiquiatria, por se centrarem principalmente no 
tratamento da delinquência e correspondente monitorização do paciente. No 
entanto, noutros países, como o Canadá, o Reino Unido e os Estados Unidos, os 
sociólogos desenvolvem este tipo de pesquisa, acompanhando as trajectórias de 
indivíduos ou de grupos sociais ao longo de um determinado período de tempo. 
59 
3.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 3 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Têm que fazer uma investigação acerca das representações sobre as 
autoridades policiais, da parte de um grupo de delinquentes juvenis. 
Interroguem-se sobre o tipo de técnica de pesquisa que lhes parece mais 
adequado e apontem eventuais dificuldades que podem encontrar. 
2. Têm que fazer uma investigação das práticas de criminalidade da parte 
dirigida a uma amostra representativa da população portuguesa, com base 
em processos de auto-denúncia. Planeiem o processo de pesquisa, 
considerando os seguintes factores: 
a) Tipo de inquérito a aplicar (entrevista ou questionário) enunciando as 
respectivas vantagens e desvantagens; 
b) Que perguntas formular; 
c) Prevenção de possíveis obstáculos à recolha de informação. 
 
 
 
60 
3.5. FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE O CRIME 
 
3.5.1. ESTATÍSTICAS CRIMINAIS 
 
Tipo de informação 
As estatísticas criminais em Portugal são produzidas pelo Gabinete de 
Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça e incluem diverso tipo 
de informação oficial que se divide genericamente do seguinte modo: (i) crimes 
chegados ao conhecimento das autoridades policiais; (ii) movimentos de 
processos de inquérito, de instrução e na fase de julgamento; (iii) caracterização 
dos processos crime na fase de julgamento findos; (iv) recursos em processos 
crime e transgressão; (v) execução das penas e medidas e intervenção social. 
Nos crimes chegados ao conhecimento das autoridades policiais inclui-se a 
informação estatística sobre registados pela Polícia Judiciária, pela Polícia de 
Segurança Pública, pela Guarda Nacional Republicana, pela Brigada Fiscal da 
Guarda Nacional Republicana, pela Inspecção-Geral das Actividades Económicas, 
pela Inspecção-Geral de Jogos, pelas Alfândegas e pelas Direcções Distritais de 
Finanças. 
No que respeita aos movimentos de processos de inquérito, de instrução e 
na fase de julgamento apresenta-se informação sobre o número de processos 
pendentes, entrados e findos em tribunais de 1.ª instância, por categorias de 
infracções. 
A caracterização dos processos crime na fase de julgamento findos inclui 
informação sobre os processos e circunstâncias dos mesmos, os arguidos, os 
condenados, as vítimas e tribunais. 
A parte relativa a recursos em processos crime e transgressão refere-se ao 
movimento dos processos em tribunais da Relação e do Supremo Tribunal de 
Justiça, bem como a caracterização dos mesmos. 
Por fim, na secção de execução das penas e medidas e intervenção social 
apresenta informação relativa aos processos de tribunais de execução de penas, 
aos serviços prisionais e ao Instituto de Reinserção Social. 
 
61 
Potencialidades e limitações 
As estatísticas criminais não reflectem a verdadeira dimensão do crime pelo 
facto de incidirem sobre os crimes denunciados às autoridades policiais. São 
assim uma fonte pouco fidedigna relativamente a certo tipo de crimes, como os 
crimes sexuais, económico-financeiros e de corrupção (Carvalho, 2006). Mas as 
estatísticas criminais não deixam de ser um importante instrumento de trabalho 
para o sociólogo, desde que os seus dados não sejam lidos acriticamente. Em 
Portugal estas fontes estatísticas de informação ainda estão pouco trabalhadas, 
atendendo ao reduzido número de estudos publicados nesta matéria, embora 
sejam de destacar os trabalhos levados a cabo por Ferreira (1998), Lourenço e 
Lisboa (1998), Santos et al. (1996) e pelo Observatório Permanente da Justiça 
Portuguesa (Gomes et al., 2002, 2003). 
As estatísticas criminais facultam dados sobre os crimes denunciados às 
autoridades policiais e o movimento e caracterização dos processos crime. Assim, 
o sociólogo terá, por um lado, informação sobre a criminalidade registada, e por 
outro lado, dados sobre o funcionamento da justiça penal. 
No que diz respeito às queixas apresentadas às autoridades policiais, 
ficamos sem saber a criminalidade que fica ocultada do registo oficial, por vários 
motivos: a retracção da vítima em crimes susceptíveis de criar estigma social (por 
exemplo, crimes sexuais), quando a vítima entende que o conhecimento público 
do crime é mais gravoso do que a eventual punição do agressor (por exemplo, 
grandes empresas que sofrem ataques de piratas informáticos e que receiam que 
o conhecimento público desta situação venha denegrir a imagem da instituição em 
virtude da fragilidade do sistema informático), ou ainda os casos de pequenos 
crimes patrimoniais, em que as vítimas acham que não vale a pena participá-los, 
por ser reduzido o prejuízo material ou por não acreditarem na eficácia da 
actuação das autoridades policiais (Carvalho, 2006: 3). 
Relativamente ao número e caracterização de processos crime entrados em 
tribunal, o sociólogo terá ao seu dispor informação relativa ao funcionamento da 
justiça penal, nomeadamente a eficiência do sistema judicial (i.e. número de 
prescrições, duração média do processo, etc.) e a eficácia da acusação (a 
obtenção de condenações pedidas pelo Ministério Público) e o tipo de 
62 
criminalidade prevalecente. No entanto, obviamente que estes dados apenas 
apresentam os conflitos que chegaram à barra dos tribunais, ficando de fora as 
situações que o Ministério Público decidiu arquivar ou que a vítima optou por não 
levar o caso à justiça, por exemplo, por achar que seria muito dispendioso e 
moroso. 
Em suma, as estatísticas criminais reflectem mais adequadamente os crimes 
“de rua” do que os crimes escondidos do olhar público, como é o caso dos crimes 
sexuais e de muitos crimes de corrupção, financeiros e informáticos. 
 
3.5.2. ESTATÍSTICAS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA(APAV) 
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima é uma Instituição Particular de 
Solidariedade Social, que recebe queixas e denúncias de pessoas que foram 
vítimas de violência ou crimes e presta-lhes apoio psicológico, jurídico, económico 
ou social. Ao contrário do que acontece com as Estatísticas Criminais, estes 
registos discriminam as vítimas de violência doméstica, permitindo uma maior 
aproximação à dimensão real deste fenómeno. No entanto, é de salientar que os 
dados oficiais dos crimes de violência doméstica e crimes de natureza sexual não 
são inteiramente fiáveis, pois supõem-se que um número elevado de ocorrências 
fique por denunciar, devido a constrangimentos de ordem pessoal (a vítima acha 
inadequado relatar a ocorrência do crime, encara a situação como algo de foro 
privado, acha que não é um «verdadeiro» crime, receia represálias) e jurídica 
(descrê as autoridades policiais e os tribunais, não tem provas do sucedido, não 
sabe como apresentar queixa, receia não ser credível) (Lievore, 2002). 
No âmbito dos estudos da criminalidade realizados em Portugal, é de 
destacar um relatório publicado pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima 
(APAV) em 2003, intitulado Estudos sobre Prevenção do Crime e Vitimação 
Urbana (Antunes et al., 2003) e desenvolvido no âmbito do projecto CIBELE, co-
financiado pela Comissão Europeia no âmbito do Programa HIPOCRATES - 
Incentivo de intercâmbio, formação e cooperação na área da prevenção de crime, 
que decorreu entre 2001 e 2002, sendo parceiros nacionais a Associação 
Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o Instituto Superior de Polícia Judiciária e 
63 
Ciências Criminais (ISPJCC) que surge na publicação ainda com a anterior 
designação – INPCC, a Área Metropolitana de Lisboa (AML), o Gabinete de 
Estudos e Planeamento do Ministério da Justiça (GEP-MJ) e a Câmara Municipal 
de Lisboa. 
O referido relatório é baseado em dois estudos: o primeiro identifica e analisa 
as representações da comunidade urbana sobre a vitimação, percepção de crime 
e sentimento de segurança e insegurança na área metropolitana de Lisboa, com 
base em dois inquéritos de vitimação feitos a dois grupos de amostra desta 
população – residentes e comerciantes. Estes dois inquéritos de vitimação tiveram 
um alcance reduzido, por se circunscreverem à área metropolitana de Lisboa, 
tendo sido um deles aplicado a uma amostra constituída por 1190 unidades de 
alojamento familiar e o segundo inquérito foi realizado junto de uma amostra 
constituída por 209 unidades comerciais. 
O segundo estudo inserido no relatório Estudos sobre Prevenção do Crime e 
Vitimação Urbana debruça-se sobre os modelos europeus de intervenção para a 
prevenção de crime e apoio à vítima e incidiu sobre a prevenção da vitimação 
pelas instituições da comunidade, em especial no que se refere à estruturação de 
fóruns de prevenção de crime e de serviços de apoio à vítima, as estratégias por 
eles utilizados e resultados obtidos. 
 
3.5.3. RELATÓRIOS DE SEGURANÇA INTERNA 
Nos termos da Lei n.º 20/87, de 12 de Junho, com a alteração constante da 
Lei n.º 8/91 de 1 de Abril, cabe ao Governo português, no âmbito do Ministério da 
Administração Interna, elaborar um relatório anual sobre a situação do país em 
matéria de segurança interna e apresentá-lo até 31 de Março, para apreciação 
por parte da Assembleia da República. 
Estes relatórios podem constituir um instrumento de trabalho precioso para o 
sociólogo interessado na temática do crime, por reunirem informação oficial de 
carácter muito diversificado: estatísticas criminais em Portugal e na Europa, 
mapas distritais de criminalidade, referências a legislação e programas específicos 
em matéria de prevenção da criminalidade, análise específica e detalhada sobre 
delinquência juvenil e referência a inquéritos internacionais, que permitam uma 
64 
perspectiva comparativa da criminalidade em diferentes países europeus. Em 
relação a este último tópico refira-se, a título de exemplo, o facto do relatório de 
segurança interna de 2002 contemplar uma referência pormenorizada e 
comparativa ao estudo intitulado “Public safety, exposure to drug related problems 
and crime”, realizado pela European Opinion Research Group (EORG) para a 
Comissão Europeia, com base numa sondagem à opinião pública sobre 
sentimentos de segurança e insegurança dos cidadãos. 
 
3.5.4. INQUÉRITOS DE VITIMAÇÃO 
Tipo de informação 
Os inquéritos à vitimação permitem uma aproximação à criminalidade real, 
que não é possível atingir pelas estatísticas criminais, que contabilizam apenas os 
crimes que são participados às autoridades policiais e os crimes que chegam a 
julgamento. Refira-se, a título de exemplo, que um dos inquéritos de vitimação 
realizados em Portugal, em 1994, provou que pouco mais de 28% do total de 
crimes que foram identificados como tendo ocorrido nesse ano foram participados 
a uma autoridade policial (Ferreira, 1998: 5). 
 
Âmbito de aplicação 
O recurso sistemático aos inquéritos de vitimação iniciou-se na década de 
sessenta do século XX, nos Estados Unidos, por via da Administração Johnson, 
que pretendia obter um quadro aproximado da criminalidade real, o que obrigava 
a procurar instrumentos alternativos de recolha de informação, que colmatassem 
as lacunas das estatísticas oficiais. Neste país, o primeiro inquérito à vitimação 
realizou-se em 1966, pelo National Opinion Research Center, tendo incidido sobre 
10.000 agregados familiares. É sobretudo de destacar, em termos de resultados 
apurados, que a vitimização relatada do crime de violação excedia em quatro 
vezes as estatísticas oficiais. Em 1974, fez-se o primeiro inquérito nacional neste 
país, recaindo a recolha de informação sobre 120.000 pessoas (Dias e Andrade, 
1997: 140). 
No Reino Unido, o trabalho pioneiro ao nível dos inquéritos de vitimação 
ocorreu em 1982, aplicado pelo British Crime Survey, realizando-se 
65 
periodicamente com o intuito de perceber a dimensão real da criminalidade, 
adequar os efectivos policiais às necessidade e lançar projectos de elevação dos 
níveis de sentimentos de segurança da parte dos cidadãos. A título de exemplo, 
refira-se que em resultado destes inquéritos foram tomadas medidas de ordem 
prática nas cidades inglesas, tais como investimento em melhor iluminação, 
colocação de câmaras de observação dos espaços públicos, transportes 
reservados a mulheres e revitalização económica das áreas centrais (Antunes et 
al., 2003) 
Em Portugal, o primeiro inquérito à vitimação foi realizado em 1989, 
desenvolvido e coordenado por uma equipa do Gabinete de Estudos e 
Planeamento do Ministério da Justiça, que abrangeu dezasseis concelhos da área 
metropolitana de Lisboa. O objectivo da investigação era compreender as 
diferenças entre a imagem da criminalidade revelada pelos inquiridos e a 
informação contida nas estatísticas oficiais de criminalidade. Este primeiro 
inquérito continha questões de caracterização da vitimação individual e familiar, 
sobre o processo de decisão quanto à denúncia, opiniões sobre o desempenho da 
polícia e percepções sobre a evolução da criminalidade (GEPMJ, 1991). 
Em 1992, este estudo voltou a ser empreendido pelo Gabinete de Estudos e 
Planeamento do Ministério da Justiça (Almeida, 1993), desta vez cobrindo o 
território do Continente Português e incluindo uma nova bateria de questões, 
nomeadamente relacionadas com a avaliação da gravidade de alguns problemas 
sociais, sentimentos de segurança dirigidos à área de residência, tipo de punição 
considerado mais adequado para um determinado delito e especificação do tipo 
de ajuda recebido após a vitimação. Esta última dimensão de análise destinava-seà avaliação da necessidade de estabelecer organismos especificamente 
orientados para o apoio às vítimas, não só no aconselhamento jurídico, mas 
igualmente na prestação de apoio psicológico, económico e social. 
Como o objectivo destes estudos é permitir um acompanhamento da 
evolução da vitimação e da percepção da criminalidade, em 1994 o inquérito foi 
novamente aplicado, com ligeiras alterações, e desta vez cobrindo todo o país 
(Continente e Regiões Autónomas) (Almeida e Alão, 1995). 
66 
Infelizmente, no nosso país os inquéritos de vitimação de aplicação de 
âmbito nacional não têm tido continuidade. No entanto, os processos de 
vitimação, sentimentos de insegurança e percepções da criminalidade ao nível 
tanto da população residente no concelho de Lisboa como a área metropolitana 
de Lisboa têm continuado a ser objecto de estudo, com resultados publicados, 
respectivamente, em 1998 (Almeida, 1998) e 2003 (Antunes et al., 2003). 
 
Comparação internacional por inquéritos de vitimação 
O desenvolvimento da aplicação dos inquéritos de vitimação revelou-se 
extremamente frutífero e a importância destes estudos é reconhecida pelo poder 
central e também por instâncias internacionais. 
A nível internacional, é de destacar o International Crime Victim Survey 
(ICVS), pela primeira vez aplicado em 1989 a dezasseis países (treze dos quais 
europeus), financiado e apoiado pelo Centro de Documentação e Investigação do 
Ministério da Justiça Holandês. Este trabalho avaliou a frequência da vitimação em 
onze tipos de delitos, o processo de denúncia às autoridades, as razões para a 
frequente ausência de denúncia, o tipo de punição considerado mais adequado 
para os infractores e a adopção de atitudes de prevenção da vitimação e tem tido 
continuidade ao longo do tempo, com a aplicação de inquéritos em 1992 
(dezanove países) e 1996/97 (quarenta e quatro países). Infelizmente, Portugal 
nunca foi país participante no âmbito destes estudos. 
 
67 
3.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 4 
“Uma estatística vale aquilo que vale a burocracia que a produz” Maurice 
Cusson 
Após uma análise das estatísticas oficiais de crimes registados pela Polícia 
Judiciária, Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana (anexo 
III), realizem as seguintes actividades: 
1. Refiram possíveis causas para: a) o reduzido número de crimes de aborto, 
de burla informática e de crimes contra a família; b) inexistência do crime de 
tráfico de influências; c) elevado número de furtos e roubos. 
2. Apontem o tipo de indivíduos/grupos sociais que considera que possam ter 
cometido esses crimes, com base na ponderação dos recursos necessários 
para a prática dos mesmos; 
3. Enunciem as lacunas de informação presentes nas estatísticas oficiais da 
criminalidade e as dificuldades em aceder à criminalidade «real»; 
4. Face aos resultados obtidos, desenvolvam a questão da extensão e da 
distribuição social da actividade criminosa. 
 
 
3.7. SÍNTESE 
Nesta unidade de aprendizagem explanam-se principais metodologias e 
técnicas de investigação social no domínio do crime, apontando as principais 
potencialidades e lacunas. Remete-se ainda os alunos para as principais fontes de 
informação sobre criminalidade, nos planos nacionais e internacionais, 
sublinhando a necessidade de adoptar uma atitude crítica face às mesmas. 
 
3.8. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
68 
1. Explique a necessidade de uma «triangulação» metodológica na 
investigação sobre o crime e enuncie as dificuldades inerentes a essa 
prática. 
2. De que modo as metodologias qualitativas e quantitativas têm estado 
associadas a distintos paradigmas teóricos sobre o crime? 
3. Que tipo de inquéritos sociais são habitualmente usados na investigação 
sobre o crime? 
4. Que tipo de informação nos dão as estatísticas criminais e quais as suas 
principais limitações? 
5. Que tipo de crimes as estatísticas criminais ocultam ou tornam invisíveis? E 
que tipo de crimes mais evidenciam? Porquê? 
6. De que modo os inquéritos à vitimação e os inquéritos de auto-denúncia 
ajudam a colmatar a realidade da criminalidade projectada pelas estatísticas 
criminais? 
7. Quais os principais objectivos da aplicação dos inquéritos de vitimação? 
8. Quais as principais fontes sobre os crimes de violência doméstica? 
9. Que motivos podem conduzir as vítimas de crime a não denunciar essa 
ocorrência às autoridades policiais? 
10. Que tipo de informação nos pode transmitir os relatórios anuais de 
segurança interna? 
 
69 
3.9. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Barra da Costa, José (1997), “A segurança dos discursos sobre insegurança”, O 
Perito-Tecnologias de Polícia, ano III, n.º 1: 3-14. 
Barra da Costa, José (2002), “Segurança, sociedade e sistema”, Pela Lei e pela 
Grei, Revista da Guarda Nacional republicana, ano XIV, n.º2: 4-5. 
Carmo, Hermano; Ferreira, Manuel (1998), Metodologia da investigação – guia 
para a auto-aprendizagem, Lisboa, Universidade Aberta: 173-183. 
Carvalho, Nuno (2006), “As estatísticas criminais e os crimes invisíveis”, 
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0272.pdf 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 
113-150. 
Ferreira, Eduardo Viegas (1998), Crime e insegurança em Portugal. Padrões e 
tendências, 1985-1996, Lisboa, Celta: 1-7. 
Maguire, Mike (2002), “Crime statistics: the data ‘explosion’ and its implications” in 
Maguire et al. (eds) The Oxford handbook of criminology, Oxford University 
Press: 322-375. http://www.oup.com/uk/orc/bin/0199249377/ 
 
Leituras de aprofundamento: 
Antunes, Manuel et al. (2003), Estudos sobre prevenção do crime e vitimação 
urbana, Lisboa, APAV. http://www.apav.pt/pdf/cibele_portugues.pdf 
Esteves, Alina (1998), A criminalidade na cidade de Lisboa – uma geografia da 
insegurança, Lisboa, Colibri. 
Lemaitre, A. (1989), “Recherches sur l’insécurité urbaine et sa prévention », 
Revue Internationale de criminologie et de police téchnique, vol. XLII, n.º 2, 
Paris. 
Lisboa, Manuel et al. (2003), O Contexto Social da Violência Contra as Mulheres 
Detectada nos Institutos de Medicina Legal, Lisboa, CIDM, 
http://socinova.fcsh.unl.pt/genero_pub.htm 
70 
Lisboa, Manuel et al. (2003), Os Custos Sociais e Económicos da Violência Contra 
as Mulheres, Lisboa, CIDM, http://socinova.fcsh.unl.pt/genero_pub.htm~ 
MacNamara, Donal; Karmen, Andrew (1983), Deviants, victims or victimizers, 
Londres, Sage. 
Maguire, Michael (1995) (ed.), Interpreting crime statistics, Oxford, Oxford 
University Press. 
Walker, N. D. (1971), Crimes, courts and figures: an introduction to criminal 
statistics, Harmondsworth, Penguin. 
 
71 
Informação relevante disponível na Internet : 
 
Informação estatística: 
Estatísticas policiais e de apoio à investigação (Ministério da Justiça) 
http://www.gplp.mj.pt/estjustica/CD2002/Anuário%20Estatístico%20da%20Justiç
a%20CDROM/Dados%20Estatísticos/epolícias.htm 
 
Estatísticas da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima 
http://www.apav.pt/home.html 
Estatísticas do European Fórum for Victim Services 
http://www.euvictimservices.org/ 
Comparações Internacionais de Inquéritos à Vitimização 
http://ruljis.leidenuniv.nl/group/jfcr/www/icvs/ 
Relatórios de Segurança Interna 
http://www.mai.gov.pt/data/006/index.php?x=rasi 
http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC15/Ministerios/MAI/Comunicacao/Publicacoes/20030102_MAI_Doc_Rel_Seguranc
a_Interna.htm 
 
Informação sobre estudos e investigação sobre o crime em Portugal 
Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais 
http://www.ispjcc.pt/estudos.htm 
Observatório Permanente da Justiça Portuguesa 
http://opj.ces.uc.pt/ 
 
72 
3.10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Almeida, Maria (1993), Inquérito à vitimação, 1992, Lisboa, Gabinete de Estudos e 
Planeamento do Ministério da Justiça. 
Almeida, Maria (1998), Vitimação e insegurança no concelho de Lisboa, Lisboa, 
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Justiça. 
Almeida, Maria; Alão, Paula (1995), Inquérito à vitimação, 1994, Lisboa, Gabinete 
de Estudos e Planeamento do Ministério da Justiça. 
Antunes, Manuel e tal. (2003), Estudos sobre prevenção do crime e vitimação 
urbana, Lisboa, APAV. http://www.apav.pt/pdf/cibele_portugues.pdf 
Carmo, Hermano; Ferreira, Manuel (1998), Metodologia da investigação – guia 
para a auto-aprendizagem, Lisboa, Universidade Aberta. 
Carvalho, Nuno (2006), “As estatísticas criminais e os crimes invisíveis”, 
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0272.pdf 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora. 
Ferreira, Eduardo Viegas (1998), Crime e insegurança em Portugal. Padrões e 
tendências, 1985-1996, Oeiras, Celta. 
Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Justiça (1991), Inquérito de 
vitimação, Lisboa, GEPMJ. 
Gomes, Conceição (2001), “A evolução da criminalidade e as reformas 
processuais nas últimas décadas: alguns contributos”, Revista crítica de 
ciências sociais, n.º 60: 61-86. 
Gomes, Conceição et al. (2002), As tendências da criminalidade e das sanções 
penais na década de 90 – problemas e bloqueios na execução de penas de 
prisão e da prestação de trabalho a favor da comunidade, Coimbra, CES, 
OPJP. 
Gomes, Conceição et al. (2003), A reinserção social dos reclusos: contributos 
para o debate sobre a reforma do sistema prisional, Coimbra, CES, OPJP. 
Horwitt, Sanford (1989), Let them call me rebel: Saul Alinsky, his life and legacy, 
Nova Iorque, A. Knoff. 
73 
Lievore, Denise (2002), “Non-reporting and hidden reportings of sexual assault in 
Austrália”, comunicação apresentada na Third Australasian Women and 
Policing Conference: Women and Policing Globally, Canberra, Austrália. 
Lourenço, Nelson; Lisboa, Manuel (1998), Dez anos de crime em Portugal: análise 
longitudinal da criminalidade participada às polícias (1984-93), Lisboa, CEJ. 
Mauss, Marcel (2001), Ensaio sobre a dádiva, Lisboa, edições 70. 
Patton, Michael (1990), Qualitative evaluation and research methods, Newbury 
Park, Sage. 
Santos, Boaventura et al. (1996), Os tribunais nas sociedades contemporâneas. O 
caso português, Porto, Afrontamento. 
Shaw, Clifford (1930), The Jack Roller: a delinquent boy’s own story, Chicago, 
University of Chicago Press, 1930. 
Shaw, Clifford (1931), The natural history of a delinquency career, Chicago: 
University of Chicago Press. 
Whyte, William Foote (1943), Street corner society, Chicago, Chicago University 
Press. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 4 – SOCIOGÉNESE DA SOCIOLOGIA DO CRIME 
 
75 
 SUMÁRIO: 
 
4.1. Resultados esperados de aprendizagem 
4.2. O pensamento sobre o crime na Antiguidade 
4.3. A visão espiritual 
4.4. O Renascimento 
4.5. A criminologia clássica 
4.6. Actividade formativa 5 
4.7. O positivismo criminal 
4.8. Actividade formativa 6 
4.9. Síntese 
4.10. Teste formativo 
4.11. Leituras e informação complementar 
4.12. Referências bibliográficas 
 
 
76 
4.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 delinear um sucinto esboço histórico do pensamento social sobre o crime, 
apontando as principais hipóteses explicativas para as causas deste 
fenómeno; 
 identificar os condicionalismos sociais, filosóficos, históricos e empíricos 
subjacentes às diferentes interpretações e análises dos fenómenos criminais; 
 Contrapor a visão optimista do Iluminismo com o pessimismo determinista do 
positivismo criminológico; 
 problematizar o positivismo criminológico, apontando as respectivas políticas 
criminais subjacentes; 
 apontar os elementos precursores da abordagem científica do crime. 
 
 
77 
4.2. O PENSAMENTO SOBRE O CRIME NA ANTIGUIDADE 
Durante muito tempo acreditou-se que a ocorrência do crime se devia a 
factores externos aos indivíduos, nomeadamente de origem sobrenatural e divina 
e por isso, em larga medida inexplicáveis. Mas desde cedo existiu a preocupação 
de indagar se não existiriam factores intrínsecos ao ser humano, que explicassem 
a propensão para a violação das regras da sociedade. Se alguns autores se 
cingiram à busca de explicação para o comportamento criminal em traços de 
carácter dos indivíduos (maldade, imoralidade, egoísmo, irracionalidade), outros 
houve que se debruçaram sobre causas internas de carácter biológico. 
Teríamos que esperar pelo séc. XIX para se iniciar a abordagem 
propriamente científica do comportamento criminoso ou delinquente, variando as 
perspectivas consoante os investigadores alicerçavam a sua análise nas 
características biológicas, psicológicas e sociais para explicar a ocorrência do 
fenómeno criminal. Mas já na Antiguidade encontramos vestígios da reflexão em 
torno do crime e da busca de fundamentação empírica de um pressuposto que 
tem acompanhado os estudos do crime e do criminoso até hoje – o de que o 
criminoso é necessariamente diferente e que essa diferença poderá explicar o 
motivo pelo qual determinados indivíduos cometem crimes e outros não. 
 Almeceon de Cretona, filósofo e médico grego do séc. VI a.c., 
contemporâneo de Hipócrates e considerado por muitos o pai fundador da 
patologia fisiológica, considerava que o homem tinha tanto de divino como de 
animal, pelo que o delinquente (assim como o doente) representava um 
desequilíbrio que potenciava a faceta animalesca. Consta que Almeceon foi o 
primeiro a dissecar animais, com o objectivo de estudar as correlações entre as 
condutas e as características biológicas do cérebro, interessando-se em particular 
pela busca das diferenças que se suponha existirem nos cérebros dos 
delinquentes. 
Enquanto Sócrates (469-399 a.C.) defendeu que a instrução e a formação 
de carácter possibilitaria reabilitar os criminosos, prevenindo a reincidência, o seu 
discípulo Platão (428-347 a.C.) debruçou-se sobre os factores políticos, 
económicos e sociais que poderiam potenciar a criminalidade, elegendo na obra A 
República que compôs provavelmente entre 380 a 370 a.C. (Platão, 2005) a 
78 
ignorância, a miséria e a cobiça como as causas determinante da ocorrência do 
crime. Nesse diálogo em que Platão elege como personagem principal Sócrates, 
que surge ocupado em debater os conceitos de justiça e injustiça, é exposta a sua 
concepção de sociedade perfeita. Esta obra apresenta as matrizes principais de 
vários movimentos de reforma social surgidos na modernidade e as principais 
interrogações que podemos encontrar são as seguintes: O que é um homem bom 
e como ele chega a ser o que é? O que é um Estado bom e por que é bom? Que 
conhecimento o homem deve ter para ser bom? O que o Estado deve fazer para 
levar os homens à aquisição desse conhecimento, que é condição da virtude? 
As interrogações formuladas por Platão em A República são retomadas na 
sua obra final As Leis (Platão, 1999), que apresenta o crime como resultadode 
uma doença de causa que poderia ser tríplice: fruto de «paixões» (inveja, cobiça e 
cólera), da ignorância e da busca desenfreada do prazer. Nesse contexto, a pena 
deverá surgir não como castigo, mas como remédio para a doença, ou seja, como 
forma de libertar o delinquente do mal que o assolou. Assim, se a concepção 
platónica de Estado se funda na ideia de que este deve proporcionar ao homem 
as melhores condições para desenvolver as suas virtudes e eliminar os seus 
males, as penas assumirão uma vertente pedagógica, um papel educativo, 
destinado a conduzir o homem para o Bem (ideia suprema). Nunca, na 
perspectiva de Platão, o cumprimento das leis de uma sociedade deve ser feito 
por temor à punição, mas sim por vontade de manter a coesão social. 
A reflexão sobre o crime, as suas causas e acções para a sua prevenção ou 
eliminação é retomada por Aristóteles (384-322 a.C.), nos Escritos morais e 
políticos, principalmente em Ética a Nicómano (1950) e em Política (1991). A 
análise que o filósofo grego faz do crime é em larga medida contraditória: se em 
Ética a Nicómano adopta uma visão repressiva do crime, considerando o 
criminoso um inimigo da sociedade, que deve ser castigado pela força; em Política 
considera a miséria a principal causa do crime e da revolta e os delitos mais 
graves seriam os cometidos para consumir o supérfluo. 
Temos assim que em Ética a Nicómano, obra que apresenta os fundamentos 
da moral aristotélica e a doutrina metafísica fundamental, o filósofo entende que 
todo o ser tende necessariamente para a realização da sua natureza e nisto está o 
79 
seu fim, o seu bem, a sua felicidade. Visto ser a razão a essência característica do 
homem, este realiza a sua natureza vivendo racionalmente e consegue a 
felicidade mediante a virtude, que equivale ao racionalismo. Neste sentido, de 
acordo com a moral aristotélica, o criminoso é um ser irracional, que se afasta da 
virtude. Já na obra Política, na qual se debruça sobre as formas de troca e a 
passagem da economia natural para a economia monetária, aponta o factor 
económico como estando na base do desvio à virtude, chamando a atenção para 
a responsabilidade do Estado na tarefa de educação e formação do homem e de 
assegurar as necessidades básicas dos cidadãos. Aqui, o criminoso assume o 
papel de vítima de uma sociedade economicista e de um Estado preocupado 
sobretudo com a guerra e a conquista. 
 
4.3. A VISÃO ESPIRITUAL 
Na Idade Medieval o crime é considerado um pecado e susceptível de 
punições cruéis e tortura para obter a confissão do acto. As causas do crime são 
procuradas em factores sobrenaturais e divinos (Vold et al., 2002: 2-4) e a 
chamada “explicação espiritual” para a ocorrência do crime fundamentou a justiça 
criminal na Europa, durante séculos (Vold et al., 2002: 14). A identificação do 
crime com o pecado atribuía à Igreja e aos poder político a autoridade moral 
necessária para, em nome de Deus, infligirem penas e torturas consideradas 
bárbaras aos olhos da civilização ocidental dos dias de hoje. O próprio simbolismo 
religioso presente em muitos dos castigos atribuídos aos criminosos atesta esta 
visão do crime como pecado. 
As explicações de origem sobrenatural para a ocorrência do crime traduzem 
uma concepção do mundo e da sociedade que, em parte, vai ser refutada por S. 
Tomás de Aquino (1226-1274), monge dominicano, filósofo e teólogo italiano, 
que procura conciliar a filosofia aristotélica com o cristianismo e apresenta os 
primeiros fundamentos da justiça distributiva (defesa da ideia de dar a cada um o 
que é seu, segundo uma lógica de relativa igualdade). 
Em parte, o pensamento de S. Tomás de Aquino dá continuidade à 
explicação espiritual da ocorrência do crime: parte do conceito de “Lei natural 
divina”, que entende ser acessível ao entendimento humano pela conjugação da 
80 
observação com a fé. Acredita que a natureza humana apresenta na sua essência 
a busca permanente do bem. De acordo com este entendimento, o crime tanto 
prejudica a vítima como o criminoso, na medida em que o acto criminal se desvia 
da lei divina e da propensão natural do homem para o bem. 
A grande inovação deste pensador foi defender que a pobreza é 
incentivadora do roubo – o crime mais vulgar na sociedade do seu tempo – 
chegando ao ponto de na obra Summa Theologica defender o chamado furto 
famélico. Defendia que a pena devia ser uma medida de defesa social e contribuir 
para a regeneração do culpado, além de implicitamente conter uma ameaça e um 
exemplo. 
 
4.4. O RENASCIMENTO 
Ao longo dos séculos XV e XVI a concepção sobrenatural e divina do crime 
vai coexistindo com o avanço lento de uma abordagem de outro tipo de causas 
explicativas para a ocorrência do crime. Destacam-se autores como More, que 
desenvolve uma reflexão sobre as causas sociais e económicas do crime e Della 
Porta, que lança alguns fundamentos do estudo dos factores biológicos. 
Thomas More (1478- 1535), filósofo político e chanceler de Inglaterra, 
admirador de Platão e autor da obra Utopia (1516), na qual concebe a 
arquitectura da sociedade ideal, apresenta-se como um pensador humanista e 
optimista e como tal considera o crime um reflexo da sociedade, apontando como 
causa dominante a opulência dos ricos, que atrai os pobres para a cobiça e 
roubo. Na cidade imaginária que idealizou, não existe crime e apenas há um 
mínimo de leis, por dois motivos: porque existe a comunhão de bens e instituiu-se 
a abolição da propriedade privada. Nesta sociedade, as pessoas viveriam sem 
luxos, trabalhando apenas o necessário para sobreviver, pelo que não haveria 
distinção entre ricos e pobres – fundamento da maioria dos actos criminosos. 
Há ainda que atender à obra produzida pelo matemático italiano 
renascentista, Giovan Battista Della Porta (1535-1615), lança os fundamentos da 
frenologia (estudo da estrutura do crâneo) e da fisiognomia - suposta ciência que 
pretende «adivinhar» o comportamento com base em características faciais, que 
teve amplas repercussões na Europa nos séculos XVIII e XIX. Os impactos desta 
81 
abordagem foram consideráveis nos primórdios da análise biológica dos 
criminosos, no século XIX, em particular nos trabalhos desenvolvidos por 
Lombroso, fundador da criminologia científica. 
 
4.5. A CRIMINOLOGIA CLÁSSICA 
O período Iluminista foi pródigo em reflexões sobre as articulações entre o 
criminoso, a sociedade e as leis, criando-se as bases da denominada 
«criminologia clássica», que vai refutar a argumentação anterior das causas 
naturais ou divinas da ocorrência do crime. A característica fundamental da 
criminologia clássica é basear-se no pressuposto de que o crime resulta de um 
acto individual de livre vontade, de carácter racional e calculista, que se guia pelo 
princípio da obtenção máxima do prazer, procurando evitar o sofrimento. Assim, o 
criminoso realiza sempre o acto racional e livre de ponderar as vantagens e 
desvantagens de praticar o delito. 
Um dos autores mais representativos da criminologia clássica é Beccaria 
(1738-1794), mas as origens históricas desta corrente de pensamento pode ser 
encontrada nos pensadores do “contrato social”, como Hobbes (1588-1678), 
Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778). 
O filósofo e teórico inglês, Thomas Hobbes, autor de obras fundamentais 
como Leviatã (1651) e Do Cidadão (1651), assume como tema fulcral da sua 
reflexão a ordem social e procura debater as dificuldades de estabelecer uma 
sociedade justa e pacífica, a partir de indivíduos egoístas, individualistas e 
dispostos a produzir o dano no seu semelhante. A natureza egoísta dos homens 
conduzem-nos à guerra, mas para evitara auto-destruição surge a necessidade 
de uma sociedade organizada, a um contrato social, pelo qual é estabelecido um 
pacto entre todos, que obriga a que cada indivíduo prescinda de parte dos seus 
direitos em prol do bem comum. Uma vez constituída a sociedade e assegurada a 
ordem social, cada indivíduo espera protecção da parte do soberano (Leviatã) e 
cria-se a expectativa que todos cumpram a sua parte do acordo, acarretando com 
os custos e as vantagens de uma acção colectiva. Neste contexto, o criminoso é 
entendido como alguém que não cumpre o contrato social, sendo legítima a acção 
82 
pela força, da parte do Estado, para assegurar a manutenção da ordem social e 
punir a acção perturbadora da paz social. 
Montesquieu, escritor e filósofo francês, considerado por alguns o fundador 
da Sociologia do Direito e o “primeiro a fazer obra sociológica” (Mendras, 1974: 
9). Autor da obra L´esprit des lois (1748), verdadeira crítica à sociedade francesa 
do seu tempo, procura compreender as regras que a sociedade impõe e como 
estas se relacionam com a condutas dos homens e a estrutura geral do meio 
social, acreditando que a diversidade e a relatividade das sociedades e culturas 
humanas resulta dos impactos diferenciados que o clima, a educação, a cultura e 
as condições de vida criam nas relações sociais. Neste âmbito, proclamava que o 
bom legislador empenha-se na prevenção de delito, e não se contenta, 
simplesmente, em castigar. Pode-se afirmar que o autor inaugura o sentido 
reeducador da pena e preocupa-se em classificar os crimes consoante o bem 
jurídico atingido. 
O filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778) apresenta uma concepção 
do crime que vai de encontro aos grandes temas desenvolvidos pela sua reflexão 
central: a origem natural das sociedades e o contrato social. Ao falar de um 
estado natural, procura legitimar e fundamentar os direitos à liberdade e à 
igualdade, inalienáveis do indivíduo. Mas em o Contrato Social (1762) discorre 
sobre a ordem social, pelo qual o indivíduo é chamado a ceder uma parte dos 
seus direitos a uma vontade colectiva e soberana. Esta vontade geral, se estiver 
bem organizada pelo Estado, verá reduzido o crime. Na obra Le Citoyen: ou 
discours sur l'economie politique (1755) Rousseau afirma que “a miséria é a mãe 
dos grandes delitos”. Estes pressupostos vão de encontro a uma concepção da 
criminalidade que é retomada por Voltaire (1694-1778), poeta, filósofo e ensaísta 
francês, que via na pobreza a causa dos roubos e furtos e condena a aplicação da 
pena de morte, os martírios, suplícios ou torturas aplicadas contra o delinquente, 
ao mesmo tempo que empreende a luta pela reforma das prisões e a defesa dos 
direitos dos reclusos. 
No conjunto dos teóricos do contrato social, destaca-se César Bonesana, o 
Marquês de Beccaria (1738-1794), jurista e pensador italiano, por apresentar um 
conjunto de propostas de reforma do sistema de justiça criminal, de forma a torná-
83 
lo mais racional, mas também de modo a evitar a excessiva crueldade das 
punições infligidas aos criminosos. Em 1764, publica o livro Dos Delitos e das 
Penas, que consolida a ideia da separação entre a justiça divina e humana. Esta 
obra apoia-se na ideia de Rousseau manifestada em o Contrato Social, para 
fundamentar a ideia da legitimidade de punir e da utilidade das penas, entendendo 
que cada homem tem de prescindir de uma parcela da sua liberdade, para 
preservação da segurança e tranquilidade públicas; mas a pena a atribuir devia 
ser proporcional à liberdade «cedida». Crítico do sistema penal vigente, entende 
que devem ser prevenidos todos os abusos das autoridades, defendendo alguns 
princípios como os seguintes: os juízes não devem interpretar as leis penais; as 
acusações não devem ser secretas; as penas devem ser proporcionais aos 
delitos; não se pode admitir a tortura do acusado; o objectivo da pena não é 
castigar, mais sim impedir a reincidência e servir de exemplo; a pena deve ser 
pública, pronta e necessária; o réu jamais poderá ser considerado culpado antes 
da sentença condenatória. Tal como outros autores, entende que o roubo é 
ocasionado geralmente pela miséria e pelo desespero, motivo pelo qual as penas 
devem ser moderadas, considerando ainda que a sociedade não tem o direito de 
aplicar a pena de morte. 
Não obstante as diferentes perspectivas aqui apresentadas do crime e do 
criminoso, os teóricos do contrato social têm em comum o pressuposto de que o 
indivíduo está dotado de livro vontade, guiando-se pela razão e interesses 
pessoais. Podem ser controlados pelo medo ao castigo: se o sofrimento suscitado 
pela pena for superior ao prazer ou vantagens retiradas da prática do crime, será 
de esperar que as pessoas escolham não cometer o crime. De acordo com Vold 
et al. (2002), a visão clássica da criminologia continua ainda hoje, sem grandes 
alterações, a corresponder “às concepções da natureza humana apresentadas 
pelas instâncias de controlo social em todas as sociedades industriais 
desenvolvidas” (Vold et al., 2002: 20). 
 
84 
4.6. ACTIVIDADE FORMATIVA 5 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Listem razões que justifiquem que a sociedade restrinja o poder 
sancionatório, em nome da expansão dos direitos dos criminosos e 
reclusos. 
2. Listem razões que justifiquem que a sociedade crie mecanismos de defesa 
perante a ameaça da criminalidade. 
3. Debatam as diferentes posições, apontando a opinião prevalecente no 
grupo. 
 
 
4.7. O POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO 
O início da publicação de estatísticas criminais anuais, em França, em 1827 
(Vold e tal., 2002) veio revelar alguns factos sobre o fenómeno criminal que 
fragilizaram a tese da criminologia clássica, de que o acto criminal resulta de um 
acto de livro vontade: por um lado, as estatísticas evidenciaram a regularidade do 
crime e não a sua variação; por outro lado, constatou-se de que ao contrário das 
previsões optimistas dos teóricos do contrato social, o crime não estava a ser 
controlado socialmente, mas antes se assistia a um aumento da criminalidade. 
No século XIX, vários condicionamentos sociais e históricos vão proporcionar 
o nascimento do denominado «positivismo criminológico», cujos postulados 
principais são os seguintes: negação do livre-arbítrio e crença no determinismo e 
previsibilidade dos fenómenos humanos, recondutíveis a «leis»; crença na 
neutralidade axiológica e separação entre a ciência e a moral; recurso privilegiado 
aos métodos experimentais e ao empiricismo. 
Neste período de acelerada urbanização, expansão demográfica e 
industrialização, o clima social, político e intelectual do estudo do crime alterou-se 
radicalmente, assistindo-se a uma falência das expectativas optimistas criadas 
pelas reformas penais avançadas pelo Iluminismo, em parte porque o visível 
aumento da criminalidade leva ao questionamento mais intenso sobre a natureza e 
causas do crime. 
85 
Não será demais dizer que foi sobretudo Cesare Lombroso (1835-1909), 
quem mais impulsionou os estudos da criminalidade no século XIX, com 
repercussões que se disseminaram ao longo do século XX e que, nos dias de 
hoje, continuam ainda a marcar as abordagens biopsíquicas da criminalidade mais 
ortodoxas e radicais. De facto, os trabalhos deste professor universitário, médico 
psiquiatra e criminologista influenciado pela frenologia e fundador da denominada 
antropologia criminal, viria a marcar decisivamente as décadas posteriores de 
investigação sobre as causas do crime. 
A influência de Darwin (The origin of species, 1859 e Descent of man, 1871) 
é visível na abordagemque Lombroso faz do crime e do criminosos. São de 
destacar as obras de Lombroso intituladas O Homem Criminoso (1876) O Crime, 
Suas Causas e Soluções (1899) por lançarem os fundamentos da sua proposta de 
«criminologia científica», pela qual as causas do crime são procuradas pela 
observação empírica de traços físicos de criminosos, acreditando-se poder 
alcançar a determinação de leis que permitissem prever a ocorrência da 
criminalidade, segundo uma lógica pré-definida e determinada pelas 
características inatas dos indivíduos. 
Com base em estudos genéticos e evolutivos influenciados pelo darwinismo, 
Lombroso defende que certos criminosos têm traços de «atavismo» físico e 
psíquico (reaparição de características que foram apresentadas somente em 
ascendentes distantes) de tipo hereditário, reminiscente de estágios mais 
primitivos da evolução humana e que se traduz em formas e dimensões anormais 
do crânio e da mandíbula e assimetrias da face. Com base no pressuposto da 
existência de atavismo no criminoso, criou um tipo-ideal de criminoso nato 
(indivíduo geneticamente predisposto para a prática do crime), que revelaria uma 
ou várias das seguintes características físicas: forma ou dimensão «anormal» da 
calota craniana e da face; fartas sobrancelhas; molares proeminentes; orelhas 
grandes e deformadas; dissimetria corporal; grande envergadura de braços, mãos 
e pés. 
Estas assumpções cristalizaram-se na ideia de que o criminoso formaria um 
tipo antropológico unitário, cujas características físicas seriam acompanhadas de 
determinados comportamentos e traços de personalidade, tais como sensibilidade 
86 
diminuta à dor, crueldade, leviandade, aversão ao trabalho, instabilidade, vaidade, 
tendências a superstições e precocidade sexual. 
O positivismo criminológico conheceu amplas repercussões, traduzidas 
nomeadamente nos discípulos de Lombroso mais reconhecidos, como Enrico Ferri 
e Rafael Garófalo, embora o primeiro tenha chamado a atenção para a 
importância dos elementos sociológicos na ocorrência do crime, e o segundo 
tenha apontado o peso dos factores psicológicos. Mas em ambos encontrámos o 
núcleo fundamental do positivismo: o postulado determinista e a rejeição do livre 
arbítrio e decorrentes pressupostos metafísicos, partindo de uma clara e decisiva 
influência da teoria da selecção natural com base nos parâmetros do 
evolucionismo darwinista. Assim, se Lombroso trabalhou o conceito de 
«atavismo», Garófalo dissertou sobre a «lei da adaptação» (Garófalo, 1908). O 
positivismo no estudo do crime é levado a uma forma extremada, como fica 
patente nas seguintes palavras de Ferri: “Para nós é o método experimental que 
constitui a chave de todo o conhecimento” (Mannheim, 1984: 295). 
Neste conjunto de autores, assistimos a uma concepção de política criminal, 
assente na ideologia do tratamento do criminosos, e à ampliação das exigências e 
direitos da sociedade sobre o criminoso, reforçando-se assim o primado da defesa 
da sociedade perante a “ameaça” da criminalidade, que levaria Garófalo a 
considerar desejável a eliminação do criminoso se este denotasse incapacidades 
psíquicas para a vida social (Dias e Andrade, 1997: 19). 
A criminologia clássica e o positivismo criminológico adoptam assumpções 
distintas sobre o crime e o criminoso, que servem de base a diferentes políticas 
criminais. Se o indivíduo possui livre vontade e guia a acção pela razão e pelo 
cálculo, adoptando uma postura hedonista, pela qual procura maximizar o prazer 
e evitar a dor e sofrimento, então o sistema de justiça criminal deverá punir o 
criminoso, procurando desse modo evitar ou diminuir a prática do crime. Se o 
comportamento criminosos resulta de factores biológicos e ou psicológicos, então 
a opção será a sociedade eliminar o criminoso ou então tratá-lo. 
No debate actual em torno das políticas criminais, o confronto entre estas 
duas tendências é ainda evidente (Walklate, 2003: 19). 
 
87 
4.8. ACTIVIDADE FORMATIVA 6 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4 : 
1. Apontem as implicações político-criminais da assumpção de que o 
criminoso é nato (Lombroso). 
2. Indiquem em que medida as bases de dados genéticos para investigação 
criminal poderão conduzir a um lombrosianismo do século XXI. 
 
 
4.9. SÍNTESE 
Nesta unidade de aprendizagem expõem-se as principais características do 
pensamento sobre o crime – sua natureza e causas – em diferentes períodos 
históricos. Remete-se ainda os alunos para as possíveis implicações político-
criminais subjacentes a uma postura de acentuação das responsabilidades da 
sociedade perante o criminoso, por um lado, contraposta a uma posição de 
defesa face ao crime, sentido como ameaça. 
 
88 
4.10. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. Explique como é que os pensadores da Antiguidade procuravam a 
fundamentação empírica da ideia de que o criminoso tem características 
diferentes dos outros indivíduos. 
2. Em que medida Platão e Aristóteles apresentam uma concepção pedagógica 
da pena? 
3. Explique os princípios biologizantes da ocorrência do crime que se pode 
encontrar em Giovan Battista Della Porta. 
4. Aponte os autores precursores da abordagem sociológica do crime que 
consideram que a pobreza e as desigualdades sociais potenciam a 
ocorrência do crime. 
5. Sintetize os princípios humanistas do Iluminismo na abordagem do fenómeno 
criminal e do criminoso. 
6. Exponha os pressupostos que conduzem o positivismo criminológico a 
focalizar as causas do crime. 
7. Explique a concepção determinista do comportamento criminal exposta por 
Lombroso. 
8. Sintetize as principais implicações político-criminais do positivismo 
criminológico. 
89 
4.11. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Barra da Costa, José (2000), “Coordenadas históricas, formas e problemas 
actuais da criminologia”, Revista Portuguesa de Ciência Criminal, ano 10, n.º1, 
Coimbra, Coimbra Editora: 111-142. 
Carvalho Ferreira, J. M. et al. (1995), Sociologia, Lisboa, McGrawhill: 3-67. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 3-
19. 
Manheim, Hermann (1984), Criminologia comparada, Lisboa, Fundação Calouste 
Gulbenkian. 
Pina, Luiz (1940), “A antropologia criminal em Portugal: síntese histórica”, Actas 
do Congresso do Mundo Português, vol. XII, Lisboa: 679-708. 
Vold, George (2002), Theoretical criminology, Oxford, Oxford University Press. 
Walklate, Sandra (2003), Understanding criminality, Cardiff, Open University 
Press. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Barnes, Harry E.; Becker, Howard (1945), Historia del Pensamiento Social, 2 vols. 
México, Fondo de Cultura Económica. 
Barra da Costa, José (1999), Práticas delinquentes (de uma criminologia do 
anormal a uma antropologia da marginalidade), Lisboa, Colibri. 
Beccaria, Cesare (1998 [1766]), Dos delitos e das penas, Lisboa, Ed. Calouste 
Gulbenkian. 
Correia, Eduardo (1958), Criminologia, Faculdade de Directo da Universidade de 
Coimbra. 
Correia, António (1914), Os criminosos portugueses. Estudo de antropologia 
criminal, Coimbra, E. França Amado. 
Costa, José Martins (1999), Práticas delinquentes: de uma criminologia do 
anormal a uma antropologia da marginalidade, Lisboa, Colibri. 
Cuin, Charles Henry et al. (1995), História da Sociologia, Lisboa, D. Quixote.90 
Garófalo, Rafael (1908), Criminologia, Lisboa, Clássica Editora. 
Lombroso, Césare (1901), L'anthropologie criminelle et ses récents progrès, Paris, 
Félix Alcan. 
Oliveira, L. C. (1953), Introdução à criminologia : factor biológico da criminalidade, 
factor social da criminalidade, Coimbra, Coimbra Editora. 
 
4.12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
Aristóteles (1950), Éthique de Nicomaque, Paris, Librairie Garnier, Ed. L. Voilquin. 
Aristóteles (1991), A Política, São Paulo, Martins Fontes, Ed. R. L. Ferreira. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora. 
Manheim, Hermann (1984), Criminologia comparada, Lisboa, Fundação Calouste 
Gulbenkian. 
Mendras, H. (1975), Élements de Sociologie, Paris, Armand Colin. 
Platão (1999), Las leyes, Madrid, Centro de Estudios Políticos y Constitucionales. 
Platão (2005), A República: politeia, Lisboa, Guimarães Editores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 5 – A ABORDAGEM DO CRIME NOS CLÁSSICOS DA 
SOCIOLOGIA 
 
92 
 SUMÁRIO: 
 
5.1. Resultados esperados de aprendizagem 
5.2. Introdução às teorias sociológicas do crime 
5.3. Karl Marx e a visão do crime na sociedade capitalista 
5.4. Desenvolvimentos posteriores da abordagem marxista 
5.5. Actividade formativa 7 
5.6. O conceito de anomia e a tese da normalidade e da funcionalidade do 
crime em Durkheim 
5.7. Actividade formativa 8 
5.8. Síntese 
5.9. Teste formativo 
5.10. Leituras e informação complementar 
5.11. Referências bibliográficas 
93 
5.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 identificar as continuidades e descontinuidades teóricas, temáticas e 
metodológicas presentes nas diferentes teorias sociológicas do crime, 
distinguindo entre teorias etiológico-explicativas e teorias interaccionistas e 
as teorias do consenso e do conflito; 
 reconhecer as relações entre o crime, relações de poder e controlo e 
desigualdades sociais na perspectiva marxista; 
 identificar as articulações entre o crime e o sistema económico; 
 apontar as relações entre a propriedade privada e a ocorrência de crimes 
económicos e contra o património; 
 reconhecer as relações entre o poder, a produção das leis e a sua aplicação; 
 desenvolver as articulações entre o crime e a ordem social que o integra, 
apresentando e contrapondo as visões marxistas e de Durkheim; 
 explicar a tese da normalidade e da funcionalidade do crime em Durkheim; 
 contrapor o modelo médico do estudo e interpretação da criminalidade à 
abordagem sociológica expressa por Marx e Durkheim. 
 
94 
5.2. INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME 
A interpretação sociológica do crime tende a apresentar uma 
intencionalidade crítica da ordem social, mais ou menos explicitada consoante a 
escola de pensamento em causa. Teríamos que esperar pelo séc. XIX para 
assistirmos à institucionalização da Sociologia como disciplina científica e desde 
os seus primórdios o crime foi considerado um objecto de estudo privilegiado, por 
ser percepcionado como uma das ameaças mais prementes ao que se considera 
ser o normal e esperado funcionamento da sociedade. 
Os primeiros sociólogos, vulgarmente conhecidos como os clássicos da 
Sociologia – nomeadamente Marx, Durkheim e Weber – apresentaram e 
desenvolveram os principais fundamentos das teorias sociológicas do crime e da 
justiça. Se os dois primeiros autores referidos se debruçaram sobre o fenómeno 
criminal propriamente dito, Max Weber focou a sua atenção na moderna 
burocracia das sociedades industriais, lançando as bases da actual Sociologia do 
Direito e da Administração da Justiça. 
Começaremos por contrapor as abordagens do fenómeno criminal 
apresentadas respectivamente por Karl Marx e Émile Durkheim, por 
corresponderem à conhecida antinomia consenso-conflito, que na história do 
pensamento sociológico pode revestir-se de outras denominações, consoante as 
diferentes perspectivas: por exemplo, Chambliss e Mankoff (1976) tanto 
contrapõem teorias funcionalistas a teorias do conflito, como falam do «value-
consensus model» por oposição a um «ruling-class model». Por sua vez, 
Dahrendorf (1974) propõe a contraposição entre a teoria da integração e a teoria 
da dominação. 
A aplicação do modelo do conflito à análise do crime significa que este será 
perspectivado em termos das relações de poder que lhe estão subjacentes e que 
opõem classes sociais que ocupam posições económicas e ideológicas 
diferenciadas. Esta análise privilegia a relação entre os modelos institucionais (em 
particular o sistema económico) e a distribuição diferencial da criminalidade. Além 
disso problematiza os próprios processos de criação da lei e os modos da sua 
aplicação, que crê serem diferenciais consoante a posição de poder ocupada 
pelos destinatários da regulação legal. 
95 
 O modelo do consenso irá perspectivar o crime como um comportamento 
que suscita de um modo generalizado uma reacção colectiva negativa, mais ou 
menos explicitada, sendo a ocorrência do crime um dos contextos privilegiados 
para o reforço da coesão social, na medida em que a reacção social que 
desperta, fortemente emotiva, poderá reforçar os laços sociais. O que sobretudo a 
caracteriza é o pressuposto de que as normas jurídico-criminais tutelam os valores 
essenciais e comuns a todos os membros da colectividade e que o crime resulta 
da recusa ou não interiorização daqueles valores e do universo cultural que os 
sustenta. 
De seguida iremos expor os ulteriores desenvolvimentos das teorias 
funcionalistas do crime, referindo autores como Merton, Cloward e Ohlin e 
apresentando uma reflexão em torno dos principais significados político-criminais 
destas abordagens do fenómeno criminal. 
Outras abordagens sociológicas do crime serão explicitadas, nomeadamente 
as teorias da ecologia criminal e desorganização social, as teorias da subcultura 
delinquente e as teorias interaccionistas. 
Sublinhe-se que esta exposição e desenvolvimento das principais 
orientações teóricas da abordagem sociológica do crime não segue sempre uma 
sequência cronológica, mas sim uma argumentação que privilegia a focagem nas 
continuidades e descontinuidades dos temas e abordagens desenvolvidos pelos 
diferentes autores. Refira-se a este propósito, que uma das divisões que 
implicitamente surge na referência e aprofundamento das distintas 
conceptualizações teóricas e metodológicas do pensamento sociológico sobre o 
crime radica sobretudo na diferenciação entre teorias etiológico-explicativas e 
teorias interaccionistas. 
Note-se, ainda, que as diferentes formulações teóricas serão apresentadas 
sob a forma de tipo-ideal, ou seja, seleccionaram-se determinadas elementos 
essenciais e mais representativos de cada teoria, sem haver uma preocupação 
em enfatizar a diversidade e diferenciação interna presente nas diversas escolas 
de pensamento sobre o crime. 
Aceitando a proposta de divisão teórica apresentada por Dias e Andrade 
(1997), pode-se afirmar que a sociologia do crime apresenta duas principais 
96 
vertentes, que iremos desenvolver pormenorizadamente ao longo da explanação 
dos principais conteúdos programáticos da disciplina de Sociologia do Crime: a 
vertente etiológico-explicativa e a vertente interaccionista. 
No conjunto das teorias etiológicas incluem-se as teorias funcionalistas, 
ecológicas e da subcultura e, em parte, as teorias de origem marxista. Não 
obstante estas teorias apresentarem diferenças e mesmo divergências 
consideráveis, têm em comum o factode focarem a sua atenção única e 
exclusivamente no criminoso, procurando uma explicação para a questão 
fundamental: «porque é que determinados indivíduos cometem crimes e outros 
não?». Esta questão crucial corresponde, grosso modo, à principal interrogação 
que encontrámos nas teorias do crime de nível individual, oriundas da Psicologia e 
Biologia. Só que enquanto a Psicologia e a Biologia procuram explicações para a 
ocorrência do crime em factores como a personalidade e biografia dos indivíduos 
ou em factores biopsíquicos, as teorias sociológicas etiológicas centram-se na 
análise de factores oriundos das estruturas sociais. Deste modo, a explicação 
para a ocorrência do crime pode ser encontrada em elementos como condições 
ambientais, físicas e habitacionais, pertença a uma determinada classe social, 
filiação étnica ou inserção numa determinada subcultura. 
Por sua vez, as teorias interaccionistas preocupam-se sobretudo com a 
ordem social, pela qual os objectos, as pessoas e os eventos são identificados, 
arrumados e interpretados de forma a receberem um significado e um sentido 
(Berger e Luckmann, 1999; Scott, 1972). A questão fundamental dos 
interaccionistas será: “porque é que determinados indivíduos são classificados 
como criminosos e outros não?”. Perante este posicionamento interrogativo, o 
fenómeno criminal é perspectivado como o resultado de uma acção colectiva e 
interactiva, na qual intervêm de igual modo, criminosos e não criminosos, num 
contexto de pluralização cultural e moral, sujeita a constantes definições 
alternativas da realidade, de que os comportamentos desviantes são expressão. 
 
 
97 
5.3. KARL MARX E A VISÃO DO CRIME NA SOCIEDADE CAPITALISTA 
O legado de Karl Marx (1818-1883) representa um dos eixos teóricos 
fundamentais da abordagem sociológica do crime. O autor centra a explicação da 
ocorrência do crime na natureza da sociedade capitalista, acreditando na redução 
sistemática do crime ou no seu desaparecimento depois de instaurado o 
socialismo e subsequente redução ou eliminação da desigualdade na distribuição 
da riqueza e consolidação da estabilidade económica. 
A perspectiva marxista do crime caracteriza-se por privilegiar o papel do 
sistema económico tanto no plano da distribuição diferencial da criminalidade, 
como na génese e especificidade da produção das leis criminais, decorrente da 
evolução histórica das estruturas económicas e dos conflitos sociais. 
A ancoragem no sistema económico revelada pela teoria marxista do crime, 
conduz a acentuar o carácter classista tanto da produção de leis como da sua 
aplicação. Nesta perspectiva, o direito é um instrumento dos grupos detentores de 
poder e serve para sancionar e criminalizar as condutas dos grupos destituídos de 
propriedade, em particular aquelas condutas susceptíveis de pôr em causa os 
interesses dos grupos sociais dominantes. Do mesmo modo, o aparelho judiciário 
resiste à criminalização das condutas dos poderosos. 
Não obstante a importância da visão do crime apresentada por Marx, ao 
longo da sua vasta obra, a temática do fenómeno criminal não assume particular 
relevância. Assim, apenas destacamos os trabalhos do autor nos quais o crime é 
explicitamente referido e que são os seguintes: 
 Em A Ideologia Alemã (1845-46) Marx critica os dogmas do consenso da 
ideologia burguesa, incorporada nas instâncias de controlo social; 
 No artigo “O ‘Estado-Modelo’ da Bélgica”, publicado na revista Nova Gazeta 
Renana (1848) Marx e Engels estabelecem os princípios do determinismo 
economicista na abordagem do crime; 
 No artigo “Pena de morte”, publicado no jornal New York Daily Telegraph 
(1853), Marx nega a legitimidade da pena de morte como instrumento de 
prevenção geral, defendendo o direito do criminoso ao cumprimento de uma 
pena; 
98 
 No artigo “População, crime e pobreza”, publicado no New York Daily 
Telegraph (1858) Marx baseia-se na análise das estatísticas oficiais do crime 
para defender o carácter selectivo das instâncias de controlo social. 
Em suma, na perspectiva marxista, o crime é um fenómeno social normal na 
sociedade capitalista, por advir da exploração do homem e das consequências daí 
decorrentes: miséria, desmoralização, isolamento, individualismo e guerras 
constantes em busca do lucro. Deste pressuposto básico advém a crença de que 
numa sociedade socialista, sem classes, o crime desaparecerá. 
 
99 
5.4. DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES DA ABORDAGEM MARXISTA 
O modelo teórico desenvolvido por Karl Marx reflecte a chamada abordagem 
de conflito do crime, embora o denominado modelo de conflito represente uma 
ampla diversidade de matrizes teóricas, sustentadas tanto por autores marxistas, 
como por não marxistas, nomeadamente por Ralf Dahrendorf (1974). 
Diferenças substanciais separam o modelo de conflito desenvolvido 
respectivamente, por Marx e Dahrendorf: por um lado, enquanto que o primeiro 
autor situa a ocorrência do conflito na oposição entre duas classes diferentemente 
situadas em relação à propriedade dos meios de produção; Dahrendorf fala de 
uma desigual distribuição de autoridade, que considera ser inerente à própria 
natureza da vida social. Por outro lado, se Marx acredita que o conflito poderá ser 
progressivamente eliminado no quadro de uma sociedade socialista, por 
desaparecer a principal fonte de conflito – a desigualdade na distribuição dos 
meios de produção e da riqueza; Dahrendorf entende que o conflito é inerente às 
próprias relações sociais, motivo pelo qual qualquer agrupamento humano 
imperativamente ordenado provoca a resistência à autoridade. 
Seria já em finais dos anos cinquenta que se assistiria à primeira tentativa de 
sistematização da aplicação do modelo do conflito à análise específica do crime, 
com George Vold, na obra Theoretical Criminology (1958). Esta abordagem seria 
posteriormente desenvolvida em finais dos anos sessenta, com o trabalho de 
Austin Turk, intitulado Criminality and Legal Order (1969) e pela denominada 
corrente da Criminologia Radical, já na década de setenta. Esta última corrente de 
pensamento assume-se expressamente como uma criminologia marxista, 
encabeçada por autores como Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young (Taylor et al. 
1973), F. Pearce (1977), William Chambliss (1999) e William Chambliss e Robert 
Seidman (1971), Richard Quinney (2001, 1977) e Michel Foucault (1997). Em 
Portugal, a criminologia marxista conheceu expressão desde a década de setenta, 
nomeadamente por Sousa Santos (1977). 
A criminologia marxista radical apresenta-se como teoria crítica da ordem 
jurídico-penal opressiva do capitalismo, conferindo ampla importância à reflexão 
sobre a definição do objecto e do papel do investigador no âmbito da abordagem 
do crime e dos aparelhos de controlo social. Em vez da definição jurídico-legal de 
100 
crime, os autores marxistas ambicionam descortinar os pressupostos de 
reprodução de poder e de privilégio das classes dominantes que o Direito e o 
sistema penal espelham. Do mesmo modo, defende-se o distanciamento do 
investigador em relação ao Estado e aos aparelhos de controlo social, 
preconizando que as instituições devam ser escrutinadas pelos cientistas sociais, 
em vez de serem instâncias empregadoras ou financiadora dos estudos do crime. 
São elucidativas desta perspectiva as seguintes palavras do criminologista 
marxista Tony Platt: 
“Precisamos de uma definição de crime que espelhe a realidade dum 
sistema legal que assenta no poder e no privilégio. Aceitar a definição legal é 
aceitar a ficção da neutralidade do direito (…) O Estado e o aparelho jurídico, em 
vez de dirigirem a nossa investigação devem, pelo contrário, converter-se emtópicos centrais de investigação, como instituições criminógenas, implicadas em 
corrupção, fraude, genocídio.” (Platt in Taylor et al., 1973: 103) 
A sociologia crítica procura rebater o mito da sociologia como ciência 
axiologicamente neutra e deste modo se explica a ampla discussão conferida ao 
estatuto profissional do sociólogo, mormente o seu posicionamento face às 
esferas do poder. 
Outras das preocupações dos teóricos marxistas do crime é analisar as 
articulações entre os desígnios de protecção da propriedade desenvolvidos pela 
sociedade capitalista e a ocorrência do crime. Assim, a desigual distribuição da 
riqueza potencia as acções de tentativa de acumulação da capital do modo mais 
célere possível: de modo legal ou ilegal, como será o caso dos criminosos. Tudo 
isto num contexto em que o enquadramento legal, na perspectiva deste grupo de 
autores, projecta uma excessiva protecção da propriedade, que deste modo vai 
de encontro aos interesses das classes dominantes (proprietárias). 
Por fim, é de salientar os contornos assumidos pela Sociologia do Crime nos 
países socialistas: em particular na União Soviética, esta área de investigação 
assumiu particular relevo, principalmente a partir da década de sessenta do 
século XX, altura em que se dá a sua “elevação à categoria de instância 
fundamental na decisão dos novos rumos da política criminal soviética.” (Dias e 
Andrade, 1997: 39). Verifica-se, assim, que nos países socialistas a Sociologia do 
101 
Crime, ou mais propriamente, a criminologia socialista, desenvolve-se sob a égide 
do poder oficial, sendo chamada a provar a sua utilidade, nomeadamente a 
explicar as razões pelas quais o crime subsiste numa sociedade socialista, que se 
supõe realizar a plena harmonia entre o homem e a sociedade. Como será fácil 
supor, a resposta da criminologia socialista será a de que o crime ocorre em 
virtude da existência de resquícios da sociedade capitalista na consciência dos 
cidadãos e da persistência da propaganda imperialista. 
A criminologia marxista tradicional tende a encarar a lei e o sistema de 
justiça criminal como instrumentos ao serviço do Estado, para servir os interesses 
imediatos dos capitalistas. Esta visão algo simplista foi dando lugar, segundo Vold 
et al. (2002), a uma visão mais estruturalista, que considera que a lei e a justiça 
destinam-se principalmente a consolidar as relações sociais que permitem a 
manutenção a longo prazo do sistema capitalista (Vold et al., 2002: 255). Significa 
isto assegurar principalmente, embora não exclusivamente, os interesses dos 
grupos sociais que detém a propriedade dos meios de produção, o que explica 
nomeadamente, a incapacidade e insucesso das políticas criminais no combate 
aos crimes económicos e à corrupção perpetradas pelos ricos. É ilustrativo desta 
posição o trabalho de Reiman, a vitimização pública (em termos de mortes, danos 
ou roubo de propriedade e danos físicos) causada pelos poderosos é superior à 
vitimização provocada pela pequena criminalidade (Reiman, 1998). 
 
5.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 7 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Comentem o pressuposto marxista de que a lei não é neutra, mas sim um 
instrumento de poder da classe dominante que favorece os mais ricos. 
Apresentem exemplos retirados da realidade portuguesa. 
2. Apontem as fragilidades da abordagem marxista, relativamente aos 
seguintes tópicos: a) o desaparecimento do crime pressupõe a 
eliminação da sociedade capitalista; b) os indivíduos cometem crimes em 
função da posição que ocupam no sistema económico, sem se tomar em 
consideração a dimensão do livre-arbítrio. 
 
102 
5.6. O CONCEITO DE ANOMIA E A TESE DA NORMALIDADE E DA 
FUNCIONALIDADE DO CRIME EM DURKHEIM 
Émile Durkheim (1859-1917) abordou de modo sistemático a problemática 
do crime, começando por afirmar que o crime é normal em qualquer sociedade, 
afirmando que “não há fenómeno que apresente de maneira mais irrefutável todos 
os sintomas da normalidade, dado que aparece como estreitamente ligado às 
condições de qualquer vida colectiva” (Durkheim [1895] 1970: 86). 
A influência deste autor foi marcante tanto na Sociologia, como na 
Criminologia. A abordagem que apresenta do impacto das forças sociais na 
conduta humana, nomeadamente na ocorrência do crime, foi bastante radical 
para a época. 
A abordagem durkheimiana do crime ancora-se no conceito de anomia – por 
via etimológica significa a ausência de normas e falta de referência a regras 
práticas de vida em sociedade. A teoria da anomia procura apontar as tensões 
socialmente estruturadas que induzem a ocorrência do crime e a consequente 
adopção de soluções desviantes. Procura assim descobrir como é que o sistema 
social produz o crime e o faz como resultado normal – esperado e funcional – do 
seu próprio funcionamento. 
O conceito de anomia tem sido usado para fins extremamente diversificados 
e numa ampla variedade de contextos. Trata-se de uma conceito que assume 
uma grande importância na linha das teorias sociológicas funcionalistas, 
nomeadamente no trabalho de Robert Merton (1938) e de Talcott Parsons (1951, 
1982). 
A teoria da anomia foi fundada por Émile Durkheim e desde então tornou-se 
uma das mais prestigiadas abordagens explicativas do crime, tanto na Sociologia, 
como na Psiquiatria e nos estudos religiosos e de participação política. Começou 
por ser usada por Durkheim como uma hipótese explicativa da ocorrência de uma 
forma específica de suicídio – o “suicídio anómico” – que segundo o autor se deve 
ao carácter anómico dos processos de regulação social da actividade económica 
nos mundos industrial e comercial das sociedades modernas. Contudo, o conceito 
de anomia acabou por adoptar o estatuto de teoria geral da criminalidade e das 
formas mais variadas de comportamento desviante: alcoolismo, consumo de 
103 
estupefacientes, doença mental, heterodoxia religiosa e alienação em relação à 
vida pública. 
Convém precisar que em Durkheim este conceito assume um carácter 
macrossociológico, sendo a anomia entendida como a propriedade de um sistema 
social e não um «estado de espírito» deste ou daquele indivíduo dentro do 
sistema. 
O conceito de anomia assume dois sentidos diferentes na obra de Durkheim: 
por um lado, em Le Suicide (1897) o autor apresenta uma visão pessimista da 
anomia, entendendo-a como uma situação generalizada de desregramento do 
sistema, manifestada numa sociedade carecida de ordem normativa para 
controlar a força desintegradora dos instintos, dos interesses e das ambições 
individuais. 
Em De la division du travail social (1895), a anomia é uma manifestação 
«anormal ou patológica» do sistema social, que traduz no essencial 
desajustamentos entre órgãos sociais e normas associadas a determinados 
papéis ocupacionais. Deste modo, a concepção de anomia no quadro da 
abordagem que o autor faz da evolução das sociedades não assumirá tanto uma 
função desintegradora, como acontece no estudo sobre o suicídio. Na realidade, 
Durkheim afirma que o normal será que a divisão do trabalho crie solidariedade 
social. Só que poderão ocorrer o que chama de perturbações anormais ou 
patológicas do sistema, decorrentes de conflitos entre o trabalho e o capital. 
Assim sendo, a anomia, e mais especificamente o crime, assumirá o papel de 
sintoma da perda de legitimidade das regras que antes comandavam as condutas, 
revelando a necessidade de renovação do sistema. 
A anomia é apontada como a causa social do desvio, da não aplicação da 
norma social (ou legal) por parte de indivíduos socializados como desviantes. 
Neste sentido, a anomiaé entendida como um problema de desadaptação das 
populações, em particular dos desviantes ou criminosos, às turbulências da vida 
moderna (Dores, 2004: 16). Trata-se assim de procurar descortinar como certas 
estruturas sociais exercem tensões sobre algumas pessoas da sociedade, no 
sentido de se envolverem em actividades criminosas ou desviantes. 
104 
Mas Durkheim concebe também o crime como o resultado normal do 
funcionamento do sistema social e da imperiosa necessidade de actualização da 
força normativa dos seus valores. De facto, afirma Durkheim, que o crime é útil, 
não só por expressar a autoridade limitada da consciência colectiva, como por 
poder constituir um factor de mudança moral. No entanto, acima de tudo 
Durkheim reconhece a utilidade do crime como factor de reafirmação da 
solidariedade colectiva, expressa na condenação ritual do criminoso. 
Ao afirmar que os criminosos sempre existirão em qualquer sociedade e que 
o seu comportamento desempenha funções sociais de criatividade e de inovação 
do sistema, por provarem a falta de legitimidade e actualidade das regras de 
conduta, Durkheim está a afirmar que nem todo o crime é anómico: só o é quando 
o crime corresponde a uma crise de coesão social, em que as taxas de 
criminalidade se situam em valores acima do socialmente esperado e tolerável. 
Nesse caso, o crime atingirá formas anormais ou mórbidas, incompatíveis com a 
vida social. 
O autor apresenta uma abordagem do crime que se afasta do modelo 
médico e antropológico do estudo do criminoso e da criminalidade, dominante no 
séc. XIX, por dois motivos: (i) pela ênfase que coloca nas estruturas sociais para 
explicar a ocorrência do crime, pondo de lado as causas do crime provocadas por 
factores individuais; (ii) por excluir qualquer ideia de diferença ou anomalia, na 
medida em que a sua tese principal é a de que o crime é o resultado do normal 
funcionamento do sistema e da actualização da força normativa dos seus valores. 
 
105 
5.7. ACTIVIDADE FORMATIVA 8 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. É corrente a assumpção de que nos dias de hoje assistimos a um 
exponencial da criminalidade urbana, clamando-se a necessidade urgente 
de reformar o sistema penal e de dotar as autoridades de novas regras de 
actuação. Comentem esta ideia, à luz da teoria de Durkheim sobre a 
utilidade do crime. 
 
5.8. SÍNTESE 
Este módulo de aprendizagem enuncia as principais teorias sociológicas do 
crime e discute em particular os contributos dos Clássicos da Sociologia para o 
estudo do crime, em particular a obra de Karl Marx e Émile Durkheim. 
Apresentam-se ainda, as principais coordenadas de diferenciação das 
diversas teorias sociológicas do crime, a saber: (i) a distinção entre teorias 
etiológico-explicativas e teorias da reacção social; (ii) a demarcação entre teorias 
do consenso e do conflito. 
 
5.9. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
1. O que distingue as teorias etiológico-explicativas do crime, da 
denominada nova criminologia? Qual a questão fundamental dirigida ao 
crime, que é formulada por estas diferentes correntes teórico-
metodológicas? 
2. O que distingue o modelo do conflito do modelo do consenso, aplicados à 
abordagem do crime? Quem são os autores fundadores de cada um 
destes modelos teóricos? 
3. Em que dimensão da sociedade centra Karl Marx a sua análise do crime? 
4. De que modo é que Karl Marx considera que o crime poderá ser 
erradicado da sociedade? 
106 
5. Em que consiste o carácter classista das leis, na perspectiva de Karl 
Marx? 
6. Exponha as principais características da teoria crítica do crime, 
desenvolvida pela corrente marxista radical, a partir dos anos sessenta do 
séc. XX. 
7. Diferencie os dois sentidos do conceito de anomia desenvolvidos por 
Émile Durkheim. 
8. Explique por que motivo Émile Durkheim considera que o crime pode ser 
útil numa sociedade (tese da funcionalidade do crime). 
9. Apresente exemplos do papel de actualização da força normativa que o 
crime pode desempenhar. 
10. Exponha os motivos pelos quais se considera que a abordagem do crime 
apresentada por Émile Durkheim se afasta radicalmente do modelo 
médico da criminalidade, em vigor no século XIX. 
 
5.10. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Carvalho Ferreira, J. M. et al. (1995), Sociologia, Lisboa, McGrawhill: 155-165; 
431-436. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 3-
30; 311-320. 
Dores, António Pedro (2004), “Anomia em Durkheim – entre a sociologia e 
psicologia prisionais”, Comunicação apresentada às Jornadas de Estudos 
Penitenciários, Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa, 7 e 8 
de Maio de 2004. 
Durkheim, Émile (1970) [1895], A divisão do trabalho social (1.º vol.), Lisboa, 
Presença: 67-116; 145-167. 
Pearce, F. (1977) O marxismo e o crime, Lisboa, Iniciativas Editoriais. 
 
107 
Leituras de aprofundamento: 
Bemburg, Jón Gunnar (2002), “Anomie, social change and crime. A theoretical 
examination of institutional-anomie theory”, The British Journal of Criminology, 
n.º 2: 729-72. 
Santos, Boaventura de Sousa (1977), “The law of the oppressed: the construction 
and reproduction of legality in Parsagada law”, Law and Society Review, 12: 5-
126. 
Spitzer, Steven (1975), “Toward a Marxian theory of deviance”, Social Problems, 
vol. 22, n.º5: 638-651. 
Taylor Ian et al. (1973) The new criminology: for a social theory of deviance, 
Londres e Kegan Paul. 
Vold, George et al. (2002) Theorethical criminology, Nova Iorque, Oxford 
University Press. 
 
5.11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Berger Peter; Luckmann, Thomas (1999) A construção social da realidade: um 
livro sobre sociologia do conhecimento, Lisboa, Dina Livro. 
Chambliss, William (1999), Power, politics and crime, Oxford, Westview Press. 
Chambliss, William; Mankoff, M. (1976), Whose law, what order? A conflict 
approach to criminology, Nova Iorque, Jonh Wiley and Sons. 
Chambliss, William; Seidman, Robert (1971), Law, order and power, Reading, 
Mass. 
Dahrendorf, Ralf (1974), Las clases socials y su conflito en la sociedade industrial, 
Madrid, Rialp. 
Dores, António Pedro (2004), “Anomia em Durkheim – entre a sociologia e 
psicologia prisionais”, Comunicação apresentada às Jornadas de Estudos 
Penitenciários, Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa, 7 e 8 
de Maio de 2004. 
Durkheim, Émile (1970) [1895], A divisão do trabalho social (1.º vol.), Lisboa, 
Presença. 
Durkheim, Émile (1992) [1897], O suicídio, Lisboa, Presença. 
Foucault, Michel (1997), Vigiar e punir : nascimento da prisão, Petrópolis, Vozes. 
108 
Merton, Robert (1938), “Social structure and anomie”, American Sociological 
Review, n.º 3: 672-682. 
Parsons, Talcott (1951) Towards a general theory of action, Harvard, Harvard 
University Press. 
Parsons, Talcott (1982), El sistema social, Madrid, Alianza Editorial. 
Quinney, Richard (1977), Class, state and crime, Nova Iorque, McKay. 
Quinney, Richard 2001), Critique of legal order. Crime control in capitalist society, 
New Brunswick, NJ : Transaction Publishers. 
Reiman, Jeffrey (1998), The rich get richer and the poor get prison, Allyn and 
Bacon, Boston. 
Santos, Boaventura de Sousa (1977), “The law of the oppressed: the construction 
andreproduction of legality in Parsagada law”, Law and Society Review, 12: 5-
126. 
Scott, Robert (1972), “A proposed framework for analysing deviance as a property 
of social order” in Robert Scott, Jack Douglas, Theoretical perspectives on 
deviance, Nova Iorque, Basic Books: p. 9. 
Taylor Ian et al. (1973) The new criminology: for a social theory of deviance, 
Londres e Kegan Paul. 
Turk, Austin (1969), Criminality and legal order, Chicago, Rand McNally. 
Vold, George (1958) Theorethical criminology, Nova Iorque, Oxford University 
Press. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 6 – TEORIA DA ANOMIA DE MERTON E DA ESTRUTURA 
DAS OPORTUNIDADES ILEGÍTIMAS DE CLOWARD E OHLIN 
 
 
110 
 SUMÁRIO: 
 
6.1. Resultados esperados de aprendizagem 
6.2. A teoria da anomia e das formas de adaptação à sociedade segundo Robert 
Merton 
6.3. Actividade formativa 9 
6.4. As sub-culturas delinquentes e a estrutura de oportunidades ilegítimas, 
segundo Cloward e Ohlin 
6.5. Actividade formativa 10 
6.6. Síntese 
6.7. Teste formativo 
6.8. Leituras e informação complementar 
6.9. Referências bibliográficas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
111 
6.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 definir o conceito de anomia proposto por Robert Merton; 
 distinguir entre estrutura social e estrutura cultural, explicando como é que o 
desfasamento entre ambas pode provocar a ocorrência do crime; 
 identificar os principais traços da estrutura ideológica meritocrática, patente 
na sociedade norte-americana; 
 explicar de que modo uma sociedade democrática e culturalmente 
igualitária, mas socialmente diferenciada, cria tensões que induzem à 
frustração e a sentimentos de injustiça; 
 explanar as distintas formas de adaptação à sociedade preconizadas por 
Robert Merton; 
 apontar a existência de uma estrutura social de oportunidades ilegítimas, a 
par da estrutura social de oportunidades ilegítimas; 
 perceber de que modo as instituições de socialização podem potenciar 
níveis de frustração nos jovens, conducentes a práticas delinquentes; 
 caracterizar os diferentes tipos de subcultura delinquente desenvolvidos por 
Cloward e Ohlin. 
112 
6.2. A TEORIA DA ANOMIA E DAS FORMAS DE ADAPTAÇÃO À SOCIEDADE 
SEGUNDO ROBERT MERTON 
A criminologia Americana conheceu rapidamente uma alargada expansão, 
desde o início do século XX, tendo sido no E.U.A. que se iniciou a prática da 
criminologia como profissão, em contexto universitário (Radzinowicz, 1973). Isto, 
num contexto social e económico marcado pela elevada criminalidade, que 
cresceu com a expansão do bem estar material e ritmo acelerado de 
transformações sociais. De facto, a sociedade norte-americana é, ainda hoje, uma 
sociedade em “permanente mobilização e guerra contra o crime, à custa de 
incalculáveis recursos materiais. E isto a par de uma ideologia de pendor 
reformista e optimista, que sente a necessidade de localizar as causas do crime 
em algo que será possível transformar através de adequado social engineering.” 
(Dias e Andrade, 1997: 33). 
Um dos mais expressivos e reputados estudiosos do crime norte-americanos 
do século XX é Robert Merton, que desenvolveu e reformulou a teoria da anomia 
de Émile Durkheim, tendo apresentado pela primeira vez o conceito, aplicando-o 
aos comportamentos desviante (entre os quais o crime), num artigo intitulado 
“Social Structure and Anomie”, publicado em 1938 na American Sociological 
Review (Merton, 1938). 
O conceito de anomia de Merton aproxima-se expressamente da ideia 
durkheimiana de ausência de normas, acentuando a ideia de insegurança e 
incerteza nas relações sociais ou ruptura da estrutura cultural: 
“O grau de anomia de um sistema social mede-se pela extensão em que há 
ausência de consenso sobre as normas julgadas legítimas, com a consequente 
insegurança e incerteza nas relações sociais (…) as pessoas são confrontadas 
pela anomia substancial quando, como um dado de facto, não podem esperar 
com elevada probabilidade que o comportamento dos outros se conforme com os 
padrões que comummente consideram legítimos.” (apud Dias e Andrade, 1997: 
322). 
Este autor vai reformular a teoria da anomia de Durkheim, elaborando a sua 
própria teoria – a teoria da “tensão” (strain theory) – pela qual explica o crime pelo 
113 
desfasamento entre a estrutura cultural (objectivos, valores, interesses, fins) e a 
estrutura social (conjunto organizado das relações sociais). 
Na sua perspectiva, a estrutura cultural impõe a todos os cidadãos a 
prossecução dos mesmos fins e prescreve para todos os mesmos meios legítimos, 
enquanto que a estrutura social forma o contexto real e diferenciado que 
condiciona a possibilidade dos membros da sociedade se orientarem para os 
objectivos culturais, respeitando as normas institucionalizadas. 
O homem comum americano ambiciona atingir o sucesso profissional e 
económico, mas nem todos têm a possibilidade real de atingir esses objectivos. 
Quando os indivíduos não conseguem atingir os objectivos apresentados e 
incutidos pela estrutura cultural (nomeadamente pela escola, família e local de 
trabalho), ou reformulam os objectivos, ou baixam o nível de aspirações. Os 
indivíduos que irão reformular esses objectivos ou a atenuá-los serão os que 
ocupam as posições sociais mais desfavorecidas. Deste modo, a estrutura social 
reparte desigualmente as possibilidades de atingir os objectivos culturais 
generalizados e induz, por isso, o recurso a meios ilegítimos para aceder aos 
recursos que a generalidade dos indivíduos ambicionam alcançar. 
O modelo teórico de Merton ancora-se na percepção que o autor projecta 
do american dream, postulando que os Estados Unidos apresentam uma estrutura 
cultural igualitária, em boa medida baseada no arquétipo do self made man, que 
pode alcançar o sucesso monetário e a mobilidade social, desde que tenha as 
virtudes adequadas; e uma estrutura social profundamente desigualitária, que 
penaliza e estigmatiza quem não consegue subir na vida. 
A ocorrência do crime e do desvio explica-se deste modo pela existência de 
um desfasamento entre as estruturas sociais e os padrões culturais, que potencia 
uma vulnerabilidade diferencial às forças anómicas. Afirma Merton que “Quando a 
estrutura cultural e social estão mal integradas, a primeira exigindo um 
comportamento que a outra dificulta, há uma tensão para o rompimento das 
normas ou para o seu completo desprezo.” (apud Dias e Andrade, 1997: 324). 
Com base na teoria da tensão criada pelo desfasamento existente entre as 
normas institucionalizadas e as oportunidades reais de mobilidade social, fala de 
cinco formas de adaptação à sociedade, abstractas e típicas, através das quais se 
114 
procura dar resposta aos potenciais de frustração socialmente induzidos. Esta 
tipologia é apresentada na obra Sociologia – Teoria e Estrutura (Merton, 1970) e 
estabelece uma diferenciação entre comportamentos “conformistas” e “não 
conformistas” (ou desviantes). 
O autor construiu a seguinte tipologia de modos de adaptação à sociedade: 
Comportamento conformista: trata-se de uma modalidade estável e 
consensual de adaptação à sociedade. Nesta situação, os objectivos culturais 
(expectativas, aspirações, desejos culturalmente interiorizados) são satisfeitos 
pelos meios legítimos (em conformidade com a ordem social). Os 
comportamentos identificam-se com as normas dominantes e assiste-se a um 
fortalecimento da coesão social (da estabilidade e continuidade da sociedade). 
Comportamento desviante – “inovação”: os objectivosculturais são atingidos 
pela transgressão dos meios institucionais, através de acções competitivas, 
dinâmicas, traduzidas em lutas pelo sucesso e poder sem olhar a meios. O 
exemplo mais cabal deste tipo de comportamento desviante será a fraude 
económica. Considera ainda que este comportamento criativo e inovador potencia 
a mudança social, por apresentar alternativas ao cumprimento das regras sociais. 
Logo, embora numa primeira fase constitua um comportamento não-conformista, 
ao chamar a atenção para a necessidade de alteração das normas sociais, 
apresenta posteriormente a possibilidade de estabilidade social. 
Comportamento desviante – “ritualismo”: trata-se de um comportamento 
não-conformista porque desde que algumas aspirações básicas sejam satisfeitas, 
os indivíduos «prescindem» dos objectivos de sucesso monetário e de ascensão 
social incutidos pela estrutura cultural da sociedade americana. Representa a 
demissão de parte das aspirações culturalmente definidas e traduz-se no 
cumprimento escrupuloso das normas e dos papéis socialmente prescritos. Esta 
forma de adaptação à sociedade gera personalidades submissas e conformistas 
que podem provocar situações de patologia social e de rigidez psicológica. Induz 
ainda estratégias de superação da ansiedade e frustração pela redução do nível 
da ambição e pela adopção da filosofia «não subas alto para não caíres baixo». É 
o comportamento típico do funcionário público, do “virtuoso burocrático”, que se 
115 
limita a ir de casa para o trabalho, nada mais ambicionando do que a segurança 
no trabalho e o ordenado ao fim do mês. 
Comportamento desviante – “retraimento” ou “evasão”: esta modalidade de 
adaptação à sociedade representa uma dupla renúncia, tanto aos objectivos 
culturais, como ao cumprimento das normas e dos papéis definidos 
institucionalmente. Decorre da crise moral da sociedade e da condição 
socioeconómica e cultural negativa de certos grupos sociais mais desfavorecidos, 
sendo o comportamento não conformista típico dos vadios, drogados, alcoólicos e 
doentes mentais. 
Comportamento desviante – “rebelião”: nesta forma de adaptação à 
sociedade os indivíduos posicionam-se à margem da estrutura social e em 
oposição aos padrões culturais dominantes. Ocorre uma luta deliberada contra os 
valores, as normas, a ideologia e a moral que servem de modelo aos objectivos 
culturais e aos meios institucionais, provocando situações de conflito em que se 
exige a mudança da sociedade (por exemplos, manifestações sociais mais ou 
menos violentas, terrorismo, ameaças à paz e ordem pública, práticas políticas 
que aspiram a uma transformação revolucionária da sociedade). O desemprego, a 
miséria e a exclusão social fomentam este comportamento. 
Todos os comportamentos desviantes ou não conformistas analisados por 
Merton produzem a anomia, potenciando a desorganização social. Para que a 
integração e controlo social possam funcionar e a prevenção da ocorrência do 
crime se possa concretizar, o autor acredita que é necessário aproximar os 
objectivos culturais dos meios e respostas institucionais. 
O seguinte quadro sintetiza a relação entre os objectivos culturais e a 
estrutura social, na produção dos distintos modos de adaptação à sociedade. 
116 
Quadro 2 – Cinco Formas de adaptação à Sociedade (Merton) 
Nota: o sinal (+) significa interiorização, o sinal (-) rejeição e o duplo sinal (±) 
rejeição e substituição por novos valores. 
Fonte: Dias e Andrade, 1997: 325. 
 
Modos de adaptação Objectivos culturais Normas ou meios 
legítimos 
Conformismo + + 
Inovação + - 
Ritualismo - + 
Evasão - - 
Rebelião ± ± 
117 
6.3. ACTIVIDADE FORMATIVA 9 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4 : 
1. Listem as três principais ambições e objectivos de vida que têm os 
diferentes elementos do grupo. Comparem os diferentes posicionamentos. 
2. Discutam que meios vão usar para atingir esses fins. 
 
 
6.4. AS SUB-CULTURAS DELINQUENTES E A ESTRUTURA DE 
OPORTUNIDADES ILEGÍTIMAS, SEGUNDO CLOWARD E OHLIN 
Richard Cloward e Lloyd Ohlin apresentam uma perspectiva do crime que se 
situa na intersecção entre a teoria da anomia representada nos trabalhos de Émile 
Durkheim e Robert Merton e as teorias culturalistas do crime, nomeadamente da 
subcultura delinquente de Albert Cohen, que apresentaremos noutra parte deste 
relatório. 
Estes autores focalizam o estudo do crime no comportamento desviante dos 
jovens masculinos provenientes de classes sociais desfavorecidas, aplicando a 
teoria do desfasamento entre o que os jovens são levados a querer (pela estrutura 
cultural) e o que lhes é efectivamente acessível (pela estrutura social). Afirmam os 
autores que “os adolescentes que formam as subculturas delinquentes 
interiorizam uma grande ênfase nos objectivos convencionais. Confrontados com 
as limitações das vias legítimas de acesso àqueles objectivos e incapazes de 
reduzir o teor das suas aspirações, experimentam uma intensa frustração. O 
resultado poderá ser a exploração de alternativas não conformistas.” (Cloward e 
Ohlin, 1960: 86). 
Tal como Merton, estes autores partem do pressuposto básico de que há 
uma universalização da ética do sucesso, na sociedade americana. E que esta é 
uma sociedade ideologicamente igualitária, mas realmente desigual. Nesse 
contexto, a estrutura das oportunidades legítimas (particularmente a que é 
consolidada pela escola) bloqueia sistematicamente o acesso (legítimo) aos 
recursos e posições sociais desejadas dos jovens mais desfavorecidos. Esta 
118 
situação gera um elevado potencial de frustração que se poderá converter em 
criminalidade. 
Nesta abordagem do desfasamento entre a estrutura cultural e a estrutura 
social, Cloward e Ohlin introduzem o conceito de oportunidades ilegítimas, que 
contempla dois tipos de elementos sociais: (i) um ambiente propício à 
aprendizagem de valores e técnicas adequadas ao desempenho de 
comportamentos desviantes e criminosos; (ii) os recursos efectivos para o 
desempenho do desvio e do crime, contando com o apoio de um universo 
subcultural criminoso. 
A frustração criada no contexto das oportunidades legítimas abre a 
possibilidade de conversão à delinquência. Mas a concretização da prática de 
delinquência vai depender da posição ocupada na estrutura das oportunidades 
ilegítimas. Estando as oportunidades ilegítimas desigualmente distribuídas e sendo 
escassas (tal como as oportunidades legítimas) vão-se criar tipos diferenciados de 
subculturas delinquentes, que traduzem um sentimento de injustiça que conduz à 
alienação e negação das normas sociais dominantes. 
A estrutura diferenciada das oportunidades ilegítimas vai assim criar três 
tipos principais de subculturas delinquentes: 
A subcultura criminal: encontra-se no topo da hierarquia da estrutura das 
oportunidades ilegítimas e só se desenvolve em áreas de criminalidade organizada 
e estável, controladas por criminosos adultos. O ambiente aí criado apoia as 
actividades ilícitas disciplinadas e racionais, que procuram atingir o sucesso 
económico (por exemplo, pelo furto, pelo roubo e pela extorsão). Muitas vezes, há 
vínculos com o mundo convencional e legítimo e oferecem-se oportunidades de 
aprendizagem, reprodução de tradição e carreiras aos jovens delinquentes mais 
talentosos. Há uma adesão aos valores legítimos, mas um recurso a meios 
ilegítimos para os alcançar. 
A subcultura de conflito: simboliza a revolta contra a ordem social vigente e 
expressa-se na violência de rua. É particularmente visível nas áreas de 
criminalidade mais pobres e desorganizadas. Não existemofertas de carreira 
delinquente estáveis. Há assim uma dupla exclusão social, no acesso tanto às 
oportunidades legítimas como às oportunidades ilegítimas. 
119 
A subcultura de evasão: muitas vezes presente na delinquência, expressa-se 
pelo consumo de drogas. Constitui uma espécie de refúgio, que pretende 
proporcionar experiências novas e prazer imediato. Há assim uma dupla exclusão 
social, no acesso tanto às oportunidades legítimas como às oportunidades 
ilegítimas. 
 
Quadro 3 – Tipologia das subculturas delinquentes (Cloward e Ohlin) 
Subculturas Objectivos culturais Normas ou meios 
legítimos 
Criminal + - 
Conflito ± ± 
Evasão ± ± 
Nota: o sinal (+) significa interiorização, o sinal (-) rejeição e o duplo sinal (±) 
rejeição e substituição por novos valores. 
Fonte: Dias e Andrade, 1997: 332-328. 
 
 
120 
6.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 10 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. As estatísticas da criminalidade em Portugal apresentam uma distribuição 
diferencial do crime, revelando, por exemplo, um elevado número de 
ocorrências relativamente a furtos e roubos e um reduzido número de 
ocorrências de crimes de natureza financeira. Expliquem esse facto 
atendendo ao seguinte: 
a) acesso desigual às oportunidades e recursos para a prática de crime; 
b) selecção social dos crimes que chegam ao conhecimento das 
autoridades, 
 
2. Procurem identificar distintas formas de subcultura delinquente (Cloward e 
Ohlin) e as formas desviantes de adaptação à sociedade (Merton) a partir 
dos crimes identificado nas estatísticas criminais. 
 
 
 
121 
6.6. SÍNTESE 
Este módulo de aprendizagem centrou-se na teoria da anomia e nas 
modalidades de adaptação à sociedade, desenvolvidas por Robert Merton. A 
contradição entre a estrutura cultural e a estrutura social é apresentada como o 
factor desencadeador de comportamentos desviantes, nomeadamente do crime. 
Autores como Cloward e Ohlin conferem continuidade a essa perspectiva, 
apontando os factores que diferenciam a posição dos indivíduos no contexto das 
subculturas delinquentes, nomeadamente a existência de uma estrutura social de 
oportunidades ilegítimas, produtora de desigualdades sociais, tal como ocorre na 
estrutura social legítima. 
 
6.7. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. Como é que Robert Merton considera que pode ser avaliado o estado anómico 
de uma sociedade? 
2. Distinga entre “estrutura cultural” e “estrutura social”. 
3. Quais os principais valores e objectivos incutidos nos indivíduos, no contexto do 
ideário do chamado American Dream? 
4. Quais os principais veículos de promoção e inculcação da ideologia 
meritocrática? 
5. Quem são os grupos sociais mais vulneráveis às forças anómicas e porquê? 
6. Que tensões podem surgir pelo desfasamento existente entre as normas 
institucionalizadas e as reais oportunidades de mobilidade social? 
7. Quais as cinco formas de adaptação à sociedade preconizadas por Merton? 
8. Explique de que modo as formas de adaptação podem dar resposta aos 
potenciais de frustração socialmente induzidos. 
9. De que forma Cloward e Ohlin explicam a existência de elevados níveis 
potenciais de frustração entre os jovens masculinos das classes sociais 
desfavorecidas? 
122 
10. Caracterize os três tipos de subculturas delinquentes propostos por Cloward e 
Ohlin existente na estrutura diferenciada das oportunidades ilegítimas. 
 
6.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
Leituras básicas recomendadas: 
Carvalho Ferreira, J. M. et al. (1995), Sociologia, Lisboa, McGrawhill: 441-444. 
Costa, Faria (1976), “As teorias da anomia e da subcultura”, Ciências criminais, 
Coimbra, João Abrantes: 40 e segs. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 
321-338. 
Merton, Robert (1970), “Estrutura social e anomia”, Sociologia, Teoria e Estrutura, 
S. Paulo, Ed. Mestre Jov: 203-270. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Azevedo, Maria (1990), Delinquência juvenil: alguns aspectos sociopsicológicos, 
Escola da Polícia Judiciária, Barro, Loures. 
Barra da Costa, Joana; Araújo, Sérgio (2002), O gang e a escola (agressão e 
contra-agressão nas margens de Lisboa), Lisboa, Colibri. 
Cloward Richard ; Ohlin, Loyd (1960), Delinquecy and Opportunity. A Theory of 
delinquent Gangs, Nova Iorque, Free Press. 
Ferreira, Pedro et al. (1993), “Delinquência e criminalidade recenseada dos jovens 
em Portugal”, Cadernos do Instituto de Ciências sociais, 5.ª série, n.º4. 
 
6.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Cloward Richard; Ohlin, Loyd (1960), Delinquecy and Opportunity. A Theory of 
delinquent Gangs, Nova Iorque, Free Press. 
Costa, Faria (1976), “As teorias da anomia e da subcultura”, Ciências criminais, 
Coimbra, João Abrantes: 40 e segs. 
Merton, Robert (1938), “Social structure and anomie”, American Sociological 
Review, n.º 3: 672-682. 
Merton, Robert (1970), Sociologia, Teoria e Estrutura, São Paulo, E. Mestre Jov. 
123 
Radzinowicz, Léon (1973), Òu en est la criminologie?, Paris, Cujas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 7 - A ESCOLHA DE CHICAGO: ESPAÇO URBANO, 
ECOLOGIA CRIMINAL E DESORGANIZAÇÃO SOCIAL 
 
125 
 SUMÁRIO: 
 
7.1. Resultados esperados de aprendizagem 
7.2. Contexto sócio-histórico do desenvolvimento da Escola de Chicago 
7.3. A teoria da Ecologia Humana 
7.4. A teoria das zonas concêntricas 
7.5. Actividade formativa 11 
7.6. Síntese 
7.7. Teste formativo 
7.8. Leituras e informação complementar 
7.9. Referências bibliográficas 
 
126 
7.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 delinear o contexto sócio-histórico do surgimento da abordagem 
criminológica da Escola de Chicago; 
 explicar a ideia do crime como um produto da urbanização; 
 identificar os principais vectores que caracterizam a abordagem da Escola 
de Chicago; 
 explanar a teoria da ecologia humana e das zonas concêntricas; 
 aplicar a teoria das zonas concêntricas à realidade empírica; 
 apontar a tipificação do modo de vida urbano; 
 reconhecer os processos de fragilização do controlo social primário; 
 delinear as modalidades de controlo secundário, de âmbito comunitário; 
 apresentar críticas às principais perspectivas desenvolvidas pela Escola de 
Chicago. 
 
127 
7.2. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA 
DE CHICAGO 
A denominada “primeira Escola de Chicago” vigorou nos anos 20 e 30 do 
século XX e trouxe contribuições importantes à criminologia, destacando-se as 
teorias da Ecologia Humana (de Robert Park) e das Zonas Concêntricas (de 
Ernest Burgess). 
O contexto sócio-histórico que envolveu o desenvolvimento desta corrente 
de pensamento sobre o crime radica na expansão das cidades, sobretudo a partir 
da segunda metade do século XIX. Neste período e sob o efeito da 
industrialização, tornam-se visíveis novos fenómenos sociais, de ordem 
económica, demográfica e espacial, que se reflectem nas grandes cidades e são 
acompanhados por alterações de valores, costumes e novas formas de interacção 
e controlo social. Assiste-se a uma crescente complexidade dos processos de 
mobilidade e estratificação social, à diversificação cultural e, sobretudo, à 
predominância das relações sociaissecundárias e consequente quebra da 
solidariedade e coesão social tradicional. 
A alteração das formas tradicionais de controlo social é particularmente 
acutilante nas cidades. A família, a igreja, a escola vêem fragilizados ou 
profundamente alterados os seus mecanismos de controlo social, cedendo 
espaço para um controlo público, no qual é imprescindível o papel da lei. 
É desse turbilhão que emerge um novo ambiente – o ambiente das grandes 
metrópoles – marcado por crescentes desigualdades sociais e espaciais, que se 
apresenta propício ao surgimento de condutas desviantes e de crime. 
Chicago foi uma das três grandes cidades americanas – juntamente com 
Nova Iorque e Filadélfia – que, na segunda metade do século XIX, sofreu mais o 
processo de urbanização acelerada e foi a que mais recebeu imigrantes, 
avultando-se a sua importância económica graças ao seu vasto centro industrial e 
comercial. Paralelamente a esta expansão económica e demográfica, cresceu 
significativamente a criminalidade, suscitando uma política de repressão policial 
(Freitas, 2002). 
A Universidade de Chicago foi criada neste contexto de crescimento urbano 
e torna-se a primeira universidade americana a ter um departamento de 
128 
Sociologia (criado em 1892). A obra da Escola de Chicago tornou-se respeitada e 
conhecida em virtude dos trabalhos que estabeleceram a relação entre a 
organização do espaço e a criminalidade. A partir daí, o crime começou a ser 
entendido como um produto da urbanização, configurando-se um novo enfoque 
de análise ao nível da Sociologia do Crime, que aos olhos dos sociólogos da 
Escola de Chicago converteu a cidade num “laboratório social”. 
Pode-se sintetizar do seguinte modo as três principais vertentes dos estudos 
levados a cabo pelos sociólogos da Escola de Chicago: (i) o trabalho de campo e 
forte empiricismo; (ii) o estudo da cidade, em particular problemas relacionados 
com a imigração, o crime e o desvio; (iii) uma forma característica de psicologia 
social, oriunda, principalmente, do trabalho de George Herbert Mead e que veio a 
ser denominada interaccionismo simbólico (Freitas, 2000: 52). 
Particularmente marcante para o reconhecimento dos estudos 
desenvolvidos pela Escola de Chicago foi o pendor extremamente pragmático que 
caracterizou esta corrente de pensamento, sendo de salientar o desenvolvimento 
do “Projecto Área de Chicago” que teve o intuito de criar vínculos entre os jovens 
e os elementos da comunidade em que residem. O objectivo principal deste 
projecto de intervenção social integrado na Escola de Chicago era reduzir a 
criminalidade, que se acreditava ter origem na desorganização social – entendida 
como a impossibilidade de definir e impor modelos de acção colectiva – que 
afectaria principalmente as áreas da cidade mais pobres e degradadas. 
 
7.3. A TEORIA DA ECOLOGIA HUMANA 
Robert Park (1864-1944) foi fundador da Escola de Chicago e criador da 
teoria da Ecologia Humana e do método da observação participante em contexto 
urbano e industrial. 
A teoria da Ecologia Humana entende o crime como algo não determinado 
pelas pessoas, mas sim pelo grupo a que pertencem, pressupondo que o 
comportamento humano é modelado e limitado pelas condições sociais presentes 
no meio físico e social. 
Park propõe uma analogia entre a organização da vida animal e da vida 
humana em sociedade e a teoria da Ecologia Humana fundamenta-se em dois 
129 
conceitos das ciências naturais: (i) simbiose; (ii) invasão, dominação e sucessão, 
baseando-se na perspectiva de vida colectiva como um processo adaptativo 
constante baseado na interacção entre meio-ambiente, população e organização. 
O crime é assim estudado como um fenómeno ambiental, que comporta aspectos 
físicos, sociais e culturais. 
Como reconhecia a importância de um determinismo ambiental, Park via nas 
políticas repressivas, nomeadamente a aplicação de penas, uma imposição do 
meio físico e social. Nesse sentido, defendia que somente a intervenção por via de 
políticas públicas preventivas poderia diminuir a criminalidade, mediante a 
consolidação do controlo social nas áreas ecológicas mais pobres e degradadas 
(Park, 1967, 1990). 
Robert Park aponta como causa principal da ocorrência de crime, a quebra 
dos processos de socialização primária, sob influência do ambiente urbano, 
sugerindo como solução para a prevenção da criminalidade o desenvolvimento de 
acções organizadas de tipo comunicacional, criadas pelo controlo público e 
formando “regiões morais”. Elabora assim o conceito de playground, que concebe 
como áreas de lazer, monitorizadas e controladas pelas instâncias de socialização 
secundária de tipo local, nomeadamente associações permanentes ligadas à 
escola, igreja e outras instituições comunitárias, especialmente dirigidas a 
crianças e a jovens, e que conseguissem criar vínculos entre as pessoas desde a 
infância, como forma de preencher o espaço formador que antes era ocupado 
pela família. Esta intervenção justificava-se num quadro em que as condições de 
vida urbana fizeram com que muitos lares fossem transformados em meros 
dormitórios. 
 
7.4. A TEORIA DAS ZONAS CONCÊNTRICAS 
A teoria das zonas concêntricas elaborada por Ernest Burgess e 
apresentada pela primeira vez em 1925, na obra The City, em co-autoria com 
Robert Park e Roderick Mackenzie (Park et al., 1968), retoma os princípios da 
ecologia humana desenvolvidos por Park e conceptualiza uma divisão da cidade 
de Chicago em cinco zonas concêntricas, que se expandem a partir do centro, 
130 
todas detendo características próprias e constante mobilidade, avançando no 
território das outras por meio de processos de invasão, dominação e sucessão. 
Estas zonas concêntricas formam “áreas naturais” (do ponto de vista físico, 
mas também étnico e cultural), constantemente sujeitas a processos de 
“desorganização social” traduzidos na impossibilidade de definir e impor modelos 
colectivos de acção e que formam processos de segregação espacial, com base 
nos seguintes princípios: (i) a diferenciação e segregação espaciais obedece a 
constrangimentos da competição económica e da mobilidade social; (ii) a 
segregação pode revelar-se benéfica, na medida em que grupos semelhantes 
podem formar nichos de identidade comunicacional, profissional e cultural (Dias e 
Andrade, 1997: 273); (iii) o crime e desvio resultam da expansão e diferenciação 
dos processos de socialização dos indivíduos e grupos que habitam a cidade, 
principalmente por via da pressão da mobilidade. 
 
Figura 1 – Teoria das Zonas Concêntricas 
 
 
Zona comercial e administrativa 
central
Zona intersticial e de transição 
(sujeita à invasão e degradação 
– ghettos)
Zona residencial de imigrantes 
de 2:ª geração
Zona residencial da classe 
média
Zona residencial das classes 
abastadas
131 
A segunda zona (a mais próxima do centro da cidade) constituiu o principal 
foco de análise dos sociólogos de Chicago, por aí se concentrar o crime e a 
delinquência, sendo as taxas de criminalidade mais elevadas em espaços de 
degradação física e social. É nesta zona que a mobilidade é maior, e por 
consequência, converte-se na zona de deterioração da cidade moderna, na qual 
os controlos primários se desintegram completamente, formando regiões de 
desmoralização, de promiscuidade e de vício. 
Vários autores da Escola de Chicago dão continuidade à teoria das zonas 
concêntricas, destacando-se os trabalhos de Louis Wirth, Clifford Shaw e Henry 
McKay. 
Louis Wirth (1928, 1990) dedica-se a caracterizar os principais aspectos do 
modo de vida urbano, considerando que o modo de funcionamento da cidade 
moderna deve ser analisado com basenos princípios da dimensão, da densidade 
e da heterogeneidade populacional. Partindo do pressuposto básico de que a 
segregação social funciona como expressão de identidade e de integração social, 
tanto para ricos como para pobres, criminosos e não criminosos, acrescenta que, 
no entanto, a pressão para a mobilidade fragiliza a função controladora das 
normas e valores, fomentando a competição e a concorrência, que geram a 
diferenciação e especialização social. Neste contexto, entende que a cidade 
apenas consegue controlar e integrar uma pequena parte da personalidade dos 
indivíduos e que os contactos humanos em meio urbano se tornam superficiais, 
efémeros e segmentários, gerando personalidades frias, anónimas e calculistas. 
O autor considera ainda que a fragilidade crescente das relações 
comunitárias directas conduz à necessidade do controlo social de tipo secundário, 
já idealizada por Robert Park. 
Clifford Shaw e Henry McKay testaram a teoria das zonas concêntricas no 
estudo de 1940, Juvenile delinquency and urban areas (Shaw e McKay, 1969). 
Procurando perceber porque é que há distribuição diferencial da delinquência 
juvenil pelas diferentes áreas da cidade, levaram a cabo um estudo das 
estatísticas oficiais, elaborando mapas de criminalidade, tendo verificado uma 
concentração do crime na segunda zona concêntrica. Com base nessa 
constatação elaboraram uma caracterização do que denominaram por “áreas de 
132 
delinquência”, definindo-as como marcadas pela degradação física, doença e 
segregação económica. Constataram ainda que as áreas de delinquência 
permanecem, não obstante a renovação cíclica dos seus ocupantes, devido à 
estrutura da vida comunitária que fomenta a tradição delinquente. 
Não obstante a popularidade alcançada pelos estudos da Escola de 
Chicago, as assumpções desenvolvidas pelos seus teóricos foram sendo 
progressivamente objecto de críticas, nomeadamente: (i) a constatação de que as 
taxas de criminalidade poderão ser baixas no seio de uma comunidade estável, 
mesmo que haja degradação do espaço físico, pobreza e proximidade ao centro 
da cidade, sendo o inverso também plausível; (ii) são retiradas ilações puramente 
negativas do conceito de “desorganização social”; (iii) propagam a ideia de uma 
cultura unificada, não diferenciadora dos habitantes de uma cidade fragmentada 
em classes, etnia e género (iv) não se explica a criminalidade produzida fora das 
áreas consideradas delinquentes e nem as condutas não desviantes que ocorrem 
nessas áreas; (v) a análise realizada das estatísticas oficiais não considerou a 
criminalidade oculta; (vi) existe a necessidade de alargamento do âmbito teórico-
explicativo, em vez da explicação centrada na pequena comunidade ecológica ou 
área de delinquência. 
 
7.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 11 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Considerem a organização espacial da cidade em que vivem e 
identifiquem as zonas de maior criminalidade. Avaliem se a localização 
dessas áreas correspondem à teoria das zonas concêntricas. 
2. Avaliem os prós e os contras das acções de prevenção da criminalidade 
dirigidas a crianças e a jovens na perspectiva da pequena comunidade 
local. 
 
 
133 
7.6. SÍNTESE 
Nesta unidade de aprendizagem expõem-se as principais coordenadas 
filosóficas, teóricas e metodológicas da abordagem do crime desenvolvida pela 
Escola de Chicago. Apresenta-se a visão da cidade desenvolvida pelos vários 
autores e os desenvolvimentos conferidos, em particular, à teoria da ecologia 
humana e das zonas concêntricas. Referem-se ainda as principais críticas a 
apontar a esta corrente de pensamento. 
 
7.7. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
1. Contextualize as preocupações evidenciadas pelos teóricos da Escola de 
Chicago no contexto do desenvolvimento dos processos de urbanização 
verificados a partir da segunda metade do séc. XIX. 
2. Porque razão a cidade surge como centro da análise da criminalidade? 
3. Quais os três principais vectores do estudos da Escola de Chicago? 
4. Quais os princípios subjacentes à teoria da ecologia humana? 
5. Em que conceitos das ciências naturais se baseia a teoria da ecologia humana? 
6. O que significa área natural e desorganização social? 
7. Como ocorrem os processos de fragilização da socialização primária? 
8. Que alternativas de controlo social propõem os autores da Escola de Chicago? 
9. Como é caracterizado o modo de vida urbano? 
10. Explique a teoria das zonas concêntricas, identificando cada uma delas e 
explicando como se formam. 
11. Quais as principais críticas que podemos apontar à abordagem do crime 
realizada pela Escola de Chicago? 
 
134 
7.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Carvalho Ferreira, J. M. et al. (1995), Sociologia, Lisboa, McGrawhill: 289-303; 
436-441. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 31-
33; 268-288. 
Park, Robert (1990), “La ville” in Y. Grafmeyer e I. Joseph (eds.), L’École de 
Chicago, Paris, Aubier : 83-130. 
Wirth, Louis (1990), “le phénomène urbain comme mode de vie” in Y. Grafmeyer e 
I. Joseph (eds.), L’École de Chicago, Paris, Aubier : 255-280. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Freitas, Wagner (2000), Espaço urbano e criminalidade: lições da escola de 
Chicago, São Paulo, IBCCRIM. 
Park, Robert (1967), On social control and collective behavior, Chicago, The 
University of Chicago Press. 
Park, Robert et al. (1968), The city, Chicago, The University of Chicago Press. 
Shaw, Clifford; McKay, Henry (1969), Juvenile delinquency and urban areas: a 
study of rates of delinquency in relation to differential characteristics of local 
communities in American cities, Chicago, The University of Chicago Press. 
Wirth, Louis (1928), The ghetto, Chicago, The University of Chicago Press. 
 
7.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Freitas, Wagner (2000), Espaço urbano e criminalidade: lições da escola de 
Chicago, São Paulo, IBCCRIM. 
Park, Robert (1967), On social control and collective behavior, Chicago, The 
University of Chicago Press. 
Park, Robert (1990), “La ville” in Y. Grafmeyer e I. Joseph (eds.), L’École de 
Chicago, Paris, Aubier : 83-130. 
Park, Robert et al. (1968), The city, Chicago, The University of Chicago Press. 
135 
Shaw, Clifford; McKay, Henry (1969), Juvenile delinquency and urban areas: a 
study of rates of delinquency in relation to differential characteristics of local 
communities in American cities, Chicago, The University of Chicago Press. 
Wirth, Louis (1928), The ghetto, Chicago, The University of Chicago Press. 
Wirth, Louis (1990), “le phénomène urbain comme mode de vie” in Y. Grafmeyer e 
I. Joseph (eds.), L’École de Chicago, Paris, Aubier : 255-280. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 8 – TEORIAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE 
 
137 
 SUMÁRIO: 
 
8.1. Resultados esperados de aprendizagem 
8.2. O conceito de subcultura delinquente 
8.3. As diferentes perspectivas da subcultura delinquente 
8.4. Actividade formativa 12 
8.5. Síntese 
8.6. Teste formativo 
8.7. Leituras e informação complementar 
8.8. Referências bibliográficas 
 
138 
8.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 definiro conceito de subcultura; 
 estabelecer as diferentes relações entre as subculturas e as culturas 
dominantes; 
 delimitar o conteúdo, génese e funções das subculturas delinquentes; 
 conhecer os processos de aprendizagem, socialização e motivação das 
subculturas delinquentes; 
 identificar os grupos de referência e as expectativas de mobilidade dos 
delinquentes; 
 enunciar as características das subculturas delinquentes, apontando as 
diversidades teóricas; 
 explicar os mecanismos que originam a construção de subculturas 
delinquentes. 
139 
8.2. O CONCEITO DE SUBCULTURA DELINQUENTE 
No âmbito dos estudos da criminalidade assumem particular relevo os 
estudos sobre a criminalidade juvenil, sendo corrente a utilização do conceito de 
subcultura delinquente para abordar os comportamentos específicos dos jovens 
que cometem desvios e crimes. 
Têm sido várias e diversificadas as tentativas de explicação da delinquência, 
em particular da delinquência juvenil, com base no conceito de subcultura 
delinquente. Não existe consenso em torno da definição do conceito, da sua 
génese, funções e relações com a cultura dominante. 
O sociólogo americano Albert Cohen consagrou o conceito de subcultura 
delinquente na obra Delinquent boys: the culture of the gang (1963), definindo-o 
como “uma cultura dentro da cultura” (Dias e Andrade, 1997: 289). No entanto, 
esta definição apresenta o inconveniente de não permitir nem identificar os limites 
da subcultura nem as suas modalidades de intersecção ou de relação com a 
cultura dominante. 
Aceitando uma definição generalista de cultura, em termos sociológicos, 
podemos afirmar que esta é o conjunto de modelos colectivos de acção, 
identificáveis nas práticas e representações sociais dos indivíduos e que passam 
de geração em geração, apresentando uma certa durabilidade. Partindo dessa 
definição, podemos apresentar o conceito de subcultura delinquente como um 
conjunto de padrões normativos opostos ou divergentes em relação à cultura 
dominante, podendo emergir de uma situação de frustração ou conflito com a 
denominada cultura legítima e podendo provocar comportamentos desviantes e 
criminais. 
De acordo com as teorias da subcultura delinquente o crime resulta da 
interiorização e obediência a códigos normativos, culturais e morais próprios da 
subcultura delinquente. Ou seja, à semelhança do que acontece com os 
comportamentos ditos “normais”, os comportamentos delinquentes seguem 
crenças, regras e valores e resultam de processos de aprendizagem, socialização 
e motivação. 
Ao agir de acordo com as normas e valores criados no interior da subcultura, 
o delinquente está a orientar a sua acção de modo a corresponder às 
140 
expectativas dos outros que servem de seu grupo de referência e está a tentar 
alcançar estatuto social no seio do grupo, apresentando-se geralmente motivado 
para enveredar num processo de mobilidade social. 
Em suma, as teorias da subcultura delinquente acreditam que os 
delinquentes procuram atingir objectivos em tudo similares ao que acontece com 
as pessoas que não praticam crimes – por exemplo, alcançar sucesso monetário e 
profissional, ter o respeito dos outros etc. – mas que o fazem recorrendo a meios 
ilegítimos. 
 
8.3. AS DIFERENTES PERSPECTIVAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE 
O modo de definir o conteúdo da subcultura delinquente ou mesmo as suas 
características, funções, origem e relações com a cultura dominante tem sido 
variado no conjunto dos diferentes autores que podemos englobar nas chamadas 
teorias da subcultura delinquente. Daí que se torne importante distinguir algumas 
perspectivas teóricas diferentes – nomeadamente as apresentadas pelos 
sociólogos americanos Albert Cohen e Walter Miller –, sendo mais rigoroso falar 
de teorias das subculturas delinquentes do que formular o conceito no singular. 
Albert Cohen apresenta uma teoria “genética” da subcultura delinquente ao 
considerar que a esta se reporta aos jovens das classes sociais mais 
desfavorecidas e encara-a como uma espécie de resposta colectiva à frustração 
sentida pelas tentativas infrutíferas desenvolvidas pelos jovens para alcançar 
status no seio da cultura dominante. 
Partindo da ideia já expressa por Merton, Cloward e Ohlin, da 
democratização do denominado american dream e prevalência de uma sociedade 
inigualitária, o autor defende que todos os jovens aderem à ética do sucesso e 
empenham-se na conquista da mobilidade social. No entanto, os jovens das 
classes desfavorecidas apresentam claras desvantagens neste processo: não só 
pela escassez de recursos económicos e culturais, como pelas diferenças de tipo 
de socialização primária que apresentam em relação aos jovens das classes mais 
favorecidas. Cohen considera que enquanto os jovens das classes médias são 
socializados segundo valores que podem potenciar a ascensão social – como por 
exemplo, a transmissão da importância da responsabilidade, do trabalho, do 
141 
sacrifício e da perspectivação de compensações no médio e longo prazo – os 
jovens mais desfavorecidos são socializados no que o autor denomina de “ética da 
reciprocidade”, baseada na permissividade, no recurso à violência, na crença do 
papel da sorte e do destino e na procura de gratificações imediatas. 
Por fim, Albert Cohen considera que é na escola que se tornam mais 
reveladores e evidentes esses diferentes modos de socialização no seio da família. 
De facto, o sistema de ensino apresenta-se como sendo democrático e 
meritocrático, mas acaba por reproduzir e consolidar as desigualdades sociais, 
penalizando os jovens para quem a escola representa não uma continuidade dos 
valores e regras recebidos pela família, mas uma cultura estranha e distante, à 
qual denotam dificuldade em adaptar-se. 
A escola reforça a adesão à procura do sucesso e de mobilidade social. 
Estes objectivos estarão presentes tanto nos jovens das classes médias como nos 
jovens das classes desfavorecidas, com a diferença de que estes últimos terão 
que procurar alcançar o sucesso de acordo com os recursos e critérios ao seu 
alcance. Isto faz com que os jovens de classes desfavorecidas enveredem muitas 
vezes por comportamentos delinquentes, em resposta a situações de frustração e 
sentimentos de injustiça desencadeados pela percepção da real impossibilidade 
de corresponder às exigências e expectativas da cultura dominante. 
A abordagem que Cohen apresenta da subcultura delinquente é 
negativística na medida em que a define como a subversão e inversão das normas 
e valores da cultura dominante (por exemplo, pelo gosto pela violência, procura da 
gratificação imediata e desprezo pela propriedade), acrescentando ainda que esta 
assenta no prazer em transgredir as regras sociais e que é não-utilitarista, na 
medida em que a prática do crime não segue muitas vezes uma finalidade racional 
(por exemplo, rouba-se por roubar). 
Walter Miller desenvolve de igual modo uma teoria da subcultura delinquente 
(1958), estudando os jovens integrados em bandos de rua. Encara a delinquência 
como o resultado normal de um processo psico-sociológico de procura de 
soluções conformistas, segundo um dado quadro cultural facultado pelos modelos 
de subcultura que o jovem encontra na sua comunidade de inserção. 
142 
O autor procura caracterizar a cultura “própria” dos jovens delinquentes, que 
considera ser específica das classes sociais mais desfavorecidas, e por isso 
mesmo, aborda-a como o resultado de um processo histórico de evolução e de 
estratificação social. 
Considera que esta cultura específica das classes mais baixas é 
radicalmente diferente da cultura dominante, entrando em conflito com esta ou 
subvertendo-ae aponta como características principais da subcultura das classes 
mais desfavorecidas o facto de valorizar a violência, a rudeza, a esperteza, a sorte 
e o destino e ainda de denotar uma procura de status pela exibição da força física, 
conflito com autoridades e violência sobre homossexuais. A subcultura 
delinquente nasce sobretudo no seio de comunidades em que os lares são 
matriarcais, na medida em que o homem está ausente ou se demite do papel de 
chefe de família. Neste sentido, o conjunto de padrões normativos desenvolvidos 
pela subcultura delinquente expressa uma obsessão por valores exacerbados de 
masculinidade, que produz experiências maritais excepcionais e transitórias, faz 
com que os grupos de rua sejam quase que exclusivamente masculinos e os seus 
membros revelam muitas vezes problemas de identidade sexual. 
Várias críticas foram apontadas a Walter Miller, acusado de apresentar uma 
visão etnocentrista da subcultura delinquente. No entanto, os estudos sobre 
bandos de delinquentes ainda hoje partem do modelo de masculinidade 
exacerbada para caracterizar as relações sociais desenvolvidas no seio dos 
grupos de jovens que enveredam pelo crime e desvio. 
Além da aplicação do conceito de subcultura delinquente aos jovens 
delinquentes, sobretudo masculinos, vários estudos de criminalidade socorrem-se 
do conceito para estudar as práticas de criminalidade levadas a cabo por grupos 
minoritários, como é o caso dos imigrantes. Estas investigações baseiam-se em 
larga medida na ideia de conflito de culturas, pela qual as subculturas se oporiam 
ou subverteriam os princípios fundamentais da cultura dominante. 
143 
8.4. ACTIVIDADE FORMATIVA 12 
 
Pais, José Machado (2003), Ganchos, tachos e biscates, Porto, Âmbar. 
 
 
 
Analisem à luz das teorias da subcultura os seguintes excertos de uma entrevista 
realizada a um jovem delinquente, expondo a) as “causas” da adesão a uma 
subcultura delinquente; b) as características da subcultura delinquente 
 
 
 
“Fiz o primeiro ano do ciclo preparatório e entretanto cheguei à conclusão que 
não estava a fazer nada na escola. Isto tinha sensivelmente doze anos…Prontos, 
eu era uma pessoa um bocado rebelde, predispunha-me para tudo menos para 
estudar… Na altura não tinha grandes aptidões para a escola, optei por faltar… 
na altura já comecei logo por fazer pequenos delitos, ou seja, pequenos furtos. 
Lembro-me que havia lá um Pão de Açúcar ao pé da minha escola e comecei, eu 
mais outros jovens como eu, a roubar aquelas caixas de pastilhas, aquelas bolas 
p’ra jogarmos à bola. Entretanto, começaram a chegar aquelas informações do 
Conselho Directivo a casa… o meu pai optou por me tirar da escola, porque eu 
dava mais problemas do que outra coisa (…) chumbava por faltas. No final do 
primeiro período já estava completamente tapado nas disciplinas todas… Aliás eu 
não estava muito com vontade de continuar a estudar e, pronto, comecei a 
dedicar-me à delinquência logo desde muito novo; o reflexo disso, prontos, veio-
se a confirmar hoje. Entretanto, o meu pai disse-me, prontos: ‘Já que não queres 
estudar, então vais ter que trabalhar’”. (Pais, 2003: 345-346). 
 
 
“O meu primeiro emprego, tinha eu treze anos, fui empregado de balcão numa 
pastelaria, sensivelmente durante um ano; depois, como já tinha aquela 
delinquência e aquela vontade de ter aquilo que não era meu… comecei a fumar 
muito cedo, entretanto comecei a roubar tabaco… e depois veio aquele vício das 
máquinas, de jogar às máquinas, nas salas de jogos. Comecei por tirar algum 
dinheiro da caixa (da pastelaria onde trabalhava) (…) Com catorze anos, tentei 
outra área, fui dar serventia p’ras obras, e fui servente de estuque (…) entretanto 
saio daí e começo no consumo de haxixe… Na altura a droga que estava muito 
em voga eram as anfetaminas, eram os comprimidos, comecei também a ter 
alguns contactos com essas drogas e prontos, depois as coisas foram 
deteriorando cada vez mais (…) Entretanto, saio dessas obras com 16, 17 anos 
… vou trabalhar para uma padaria…” (Pais, 2003: 347). 
 
“Então optei por passar para o lado das pessoas onde eu sabia que era aceite, ou 
seja, pessoas que se drogavam” (Pais, 2003: 352). 
 
 
 
144 
 
 
 
“Quando se entra nesses ditos grupos, há sempre uma prova por que a gente 
tem de passar, pode parecer um bocado assim aquilo que a gente vê na 
televisão, mas a realidade é mesmo essa. Porque é assim: eles têm um esquema 
de trabalho, trabalham de uma forma, e sempre que há a entrada de uma pessoa 
nova há que conhecer a pessoa e saber daquilo que a pessoa é capaz, e penso 
que a segunda fase é testar um bocado a pessoa e então eu acho que fui um 
pouco posto à prova (…) Lembro-me que a primeira prova que eles me deram foi 
furtar uma ourivesaria (…) Eu acho que aquilo correu bem, sempre fui uma 
pessoa muito fria… e nesse tipo de situações sou muito calculista (…) eu fazia 
aquilo mesmo com gosto, sei que era uma coisa que eu conseguia fazer bem.” 
(Pais, 2003: 352-353). 
 
 
“Primeiro, tenho que provar a mim mesmo que sou capaz de ser outra pessoa. 
Porque hoje reconheço que não consegui ser um doutor, tudo bem, mas pronto, 
sou um bom electricista (…) a minha adolescência foi um bocado limitada, eu 
acho que a escola, no arranque da nossa vida, eu acho que depois tem um 
reflexo significativo mais tarde (…) Não tinha aptidão para a escola (…) sentia-me 
um bocado frustrado.” (Pais, 2003: 364). 
 
 
“Vão aparecer muitas dificuldades, porque é preso, porque esteve preso, e vou 
ter que começar do zero, vou ter que construir a minha vida toda do princípio. O 
meu projecto de futuro é ter uma família, ter uma mulher, ter um filho, ter uma 
casa e ter uma vida assim... viver do meu trabalho e conseguir ir tendo uma coisa 
de cada vez” (Pais, 2003: 365). 
 
 
8.5. SÍNTESE 
Nesta unidade de aprendizagem apresentaram-se algumas perspectivas 
sobre o conceito de subcultura delinquente, tendo-se procurado definir o conceito, 
percebendo o seu conteúdo, génese, funções e tipo de relações desenvolvidas 
com a cultura dominante. 
 
145 
8.6. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. Como é que define cultura em termos sociológicos? 
2. Como é que define subcultura delinquente? 
3. Como é que as teorias da subcultura delinquente explicam a ocorrência do 
crime? 
4. O que significa afirmar que a subcultura delinquente apresenta valores, regras e 
objectivos similares aos da cultura dominante? 
5. De que modo o sistema de ensino potencia os comportamentos delinquentes? 
6. Qual é a importância dos processos primários de socialização na construção de 
uma carreira delinquente? 
7. Que características detém a subcultura delinquente, na perspectiva de Albert 
Cohen, por um lado, e de Walter Miller, por outro lado? 
 
146 
8.7. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Carvalho, Maria João (2003), “Entre as malhas do desvio: delimitação da 
problemática e modo de investigação”, Entre as malhas do desvio. Jovens, 
espaços, trajectórias e delinquências: 15-30. 
Costa, Faria (1976), “As teorias da anomia e da subcultura”, Ciências criminais, 
Coimbra, João Abrantes: 40 e segs. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 
288-311. 
Ferreira, Pedro et al. (1993), “Delinquência e criminalidade recenseada dos jovens 
em Portugal”, Cadernos do Instituto de Ciências sociais, 5.ª série, n.º4. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Azevedo, Maria (1990), Delinquência juvenil: alguns aspectos sociopsicológicos,Escola da Polícia Judiciária, Barro Loures. 
Barra da Costa, Joana; Araújo, Sérgio (2002), O gang e a escola (agressão e 
contra-agressão nas margens de Lisboa), Lisboa, Colibri. 
Braga da Cruz, Manuel e Luísa Reis (1983), Criminalidade juvenil em Portugal, 
Estudos e Documentos, Instituto de Ciências Sociais, Lisboa. 
Cohen, Albert (1963), Delinquent boys: the culture of the gang, Glencoe, Free 
Press. 
Cohen, Albert (1966), Deviance and control, New Jersey, Prentice-Hall. 
Miller, Walter (1958), “Lower-class culture as a generating millieu of gang 
delinquency”, Journal of Social issues, Ann Arbor, Quaterly: 5 e segs. 
 
8.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Cohen, Albert (1963), Delinquent boys: the culture of the gang, Glencoe, Free 
Press. 
Miller, Walter (1958), “Lower-class culture as a generating millieu of gang 
delinquency”, Journal of Social issues, Ann Arbor, Quaterly: 5 e segs. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 9 – TEORIA DA ROTULAGEM 
148 
 SUMÁRIO: 
 
91. Resultados esperados de aprendizagem 
9.2. O desvio como o resultado de uma acção colectiva 
9.3. Alguns autores da teoria da rotulagem 
9.4. Conceitos fundamentais da teoria da rotulagem 
9.5. Actividade formativa 13 
9.6. Síntese 
9.7. Teste formativo 
9.8. Leituras e informação complementar 
9.9. Referências bibliográficas 
149 
9.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 reconhecer os diferentes elementos que compõem a construção social do 
desvio como o resultado de uma acção colectiva; 
 identificar o desvio como sendo uma classificação desenvolvida pela 
sociedade e não uma característica individual; 
 distinguir entre o plano da acção dos desviantes e o plano da reacção social; 
 caracterizar os diferentes componentes da interacção social que produzem 
processos de rotulagem dos desviantes; 
 explicar o pressuposto de que a sociedade «tem os criminosos que quer»; 
 conceber o controlo social mais como um elemento de desorganização 
social do que como um elemento de socialização e coesão social; 
 apontar as modalidades de integração social, motivação e socialização 
presentes nos comportamentos desviantes; 
 descrever as teorias interaccionistas como estando ancoradas num modelo 
teórico dinâmico, assente no pluralismo axiológico, relativismo e conflito 
150 
9.2. O DESVIO COMO O RESULTADO DE UMA ACÇÃO COLECTIVA 
No início da década de 60, desenvolveu-se a denominada “2.ª Escola de 
Chicago (new chicagoons)” com autores que se enquadravam no interaccionismo 
simbólico – Howard Becker, Edwin Lemert e Erving Goffman, entre outros – e que 
dedicaram parte do seu trabalho ao estudo do desvio, criando a denominada 
Teoria da Rotulagem. 
A abordagem interaccionista do desvio transformou radicalmente os 
modelos de explicação anteriores sobre o desvio, crime e controlo social, 
substituindo o que denominámos por vertente etiológico-explicativa (cf. capítulos 2 
e 5). Enquanto que a abordagem tradicional remete o foco de análise 
exclusivamente para o acto desviante, procurando explicar porque é que 
determinados indivíduos ou grupos sociais cometem crimes e desvios e outros 
não; a teoria da rotulagem vai procurar perceber porque é que determinados 
indivíduos são classificados como criminosos e outros não, no contexto de um 
processo social interactivo, no qual se relacionam desviantes e não desviantes. 
A concepção do processo social interactivo que cria a construção social do 
desvio remete para um modelo de análise dinâmico e conflitual, no contexto do 
qual assume particular importância a capacidade que os indivíduos têm de 
codificar e de descodificar as suas acções, participando na própria construção da 
realidade social desviante. Se por um lado, os aparelhos de controlo social rotulam 
os indivíduos, pela atribuição de sentido e significado; os alvos deste processo de 
estigmatização reagem à pressão do controlo social, acabando por assumir uma 
identidade desviante. 
A abordagem teórico-metodológica desenvolvida pela teoria da rotulagem 
desloca a focagem do plano da acção desviante (bad actors) para o plano da 
reacção social (powerful reactors). Enquanto que as teorias anteriores 
consideravam que o desvio consistia numa transgressão às normas e papéis 
definidos pela cultura dominante e sancionados pelo aparelho de controlo social, a 
teoria da rotulagem considera que o que os desviantes têm em comum é a 
resposta das instâncias de controlo, de produção normativa e as respectivas 
audiências de reacção. 
151 
No contexto da abordagem interaccionista, o direito criminal é um 
instrumento nas mãos dos moral entrepreneurs, ao serviço dos detentores de 
poder, aproximando-se neste pressuposto das teorias marxistas do crime. Deste 
modo, o desvio assume um carácter relativo, por resultar de uma criação social: 
pode ser ou não a infracção das regras criadas pelos detentores de poder, já que 
a avaliação do acto desviante e a sua constituição como tal vai depender da 
reacção da audiência. Ou seja, tanto se pode cometer um desvio aos olhos do 
aparelho de controlo social da cultura dominante, como cometer desvio aos olhos 
de um grupo de delinquentes. 
O desviante é aquele a quem essa classificação foi aplicada com sucesso e 
o desvio é construído pelas reacções das pessoas a determinado acto individual. 
A classificação de comportamento desviante é deste modo intersubjectiva e nesse 
sentido varia segundo as características da pessoa que comete o acto (por 
exemplo, um branco que mate outro branco é mais facilmente condenado do que 
um negro que mate outro negro). 
O interaccionismo concentra a atenção sobre esse jogo complexo que 
envolve desígnios morais, rotulagens, controlos sociais e acções colectivas. 
Aplicada ao fenómeno do desvio, esta perspectiva não está apenas atenta aos 
actores sociais rotulados de desviantes, mas também, e sobretudo, àqueles que 
em geral são esquecidos na análise do desvio: os fazedores de leis, os 
magistrados, os polícias, os pais, os professores e todos aqueles que asseguram a 
eficácia do controlo social. 
 
9.3. ALGUNS AUTORES DA TEORIA DA ROTULAGEM 
Howard Becker foi um dos autores que trouxe mais contributos importantes 
para a teoria da rotulagem. Partindo das orientações conferidas à Escola de 
Chicago desde os seus fundadores, Becker enveredou pela análise de fenómenos 
sociais directamente no terreno, tendo observado minuciosamente a actividade de 
músicos de jazz e de fumadores de marijuana, retratados na obra Outsiders 
(Becker, 1963). 
Nesse estudo, o autor afirma explicitamente que não é suficiente a definição 
de desvio como uma transgressão de uma norma aceite por comum acordo, já 
152 
que essa perspectiva pressupõe que aqueles que transgrediram uma norma 
constituem uma categoria homogénea, porque cometeram o mesmo acto 
desviante. Ora, a classificação de acto desviante vai depender de quem avalia o 
desvio e aplica essa classificação. Os grupos sociais criam o desvio instituindo 
normas cuja transgressão constitui o desvio, aplicando essas normas a certos 
indivíduos e rotulando-os como desviantes. 
Nas palavras de Becker, “o desvio não é uma qualidade do acto cometido 
por uma pessoa, mas antes a consequência da aplicação, pelos outros, de 
normas e de sanções a um «transgressor». O desviante é aquele ao qual este 
rótulo foi aplicado com sucesso e o comportamento desviante é aquele ao qual a 
colectividade atribui esse rótulo.” (Becker, 1963:9). 
Em suma, na perspectiva de Howard Becker o desvio é sobretudo uma 
consequência das reacções dos outros ao acto de umapessoa. Os investigadores 
não podem pressupor que o desvio se trata de uma categoria homogénea, pois o 
processo de designação não é necessariamente infalível: pode haver indivíduos 
designados como desviantes sem terem transgredido normas e indivíduos que 
transgridem mas que não recebem o rótulo de desviantes. 
Sintetiza o autor o conceito de desvio do seguinte modo: “O desvio é uma 
propriedade, não do próprio comportamento, mas da interacção entre a pessoa 
que comete o acto e as que reagem a esse acto.” (ibidem). 
Outro autor de referência no âmbito da teoria da rotulagem aplicada ao 
desvio é Edwin Lemert, nomeadamente pela abordagem apresentada nas obras 
Social pathology (1951) e Human deviance, social problems and social control 
(1967). Distingue entre o desvio primário (causado por factores sociais, culturais, 
físicos e psicológicos) e o desvio secundário (que considera ser a resposta de 
defesa, ataque e adaptação aos problemas manifestos e latentes criados pela 
reacção social ao desvio, e que vai assumir o estatuto de evento central da 
existência do delinquente, alterando a sua estrutura psíquica e identidade). 
O desvio social secundário ocorre quando há uma reacção social organizada 
que produz uma operação de rotulagem, que estigmatiza os indivíduos. 
Ocorrendo este processo desviante, os desviantes tornam-se parte activa da 
acção social organizada que define o desvio, pela formação de subculturas 
153 
específicas, que funcionam como modalidades de resposta à operação de 
rotulagem e que condicionarão duravelmente todo o comportamento posterior do 
indivíduo, criando impactos na sua identidade individual e colectiva. 
Erving Goffman foi outro dos autores que contribuiu mais decisivamente para 
a teoria da rotulagem, ao proceder à observação microssociológica de instituições 
de tipo totalitário (1991, 1999) e de interacções sociais que envolvem indivíduos 
estigmatizados e “normais” (1975). Tendo realizado observação num hospital 
psiquiátrico (1991) nos anos cinquenta, comprovou que o controlo social exercido 
por este tipo de instituição totalitária gera formas de desvio estereotipadas. As 
instituições psiquiátricas em vez de reabilitarem e recuperarem os doentes 
mentais, produzem e reforçam a doença mental, justificando desse modo a sua 
própria existência e legitimidade. No processo de interacção simbólica entre 
doentes, médicos e outros actores sociais do espaço psiquiátrico o desvio é 
criado pelas relações de força, de cumplicidade e pelos ajustamentos que se 
estabelecem entre controladores e controlados. 
A análise do estigma desenvolvida por Goffman vai de igual modo ao 
encontro dos pressupostos básicos da teoria da rotulagem. Definindo o estigma 
como uma característica física, comportamental ou tribal que não se coaduna com 
o quadro de expectativas sociais – com as categorias consideradas naturais e 
normais – o autor analisa as interacções sociais estabelecidas entre 
estigmatizados e “normais”, mostrando como os primeiros ou procuram encobrir o 
seu estigma ou envolvem-se num jogo interactivo pelo qual procuram 
corresponder às expectativas dos outros, exagerando as suas características 
“anormais” e fazendo com que toda a interacção e auto-imagem se desenvolva 
em torno do desempenho desse papel. 
 
9.4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA ROTULAGEM 
Apresenta-se de seguida alguns conceitos básicos da teoria da rotulagem, 
destinados a uma melhor explicitação das orientações gerais desta corrente de 
pensamento: 
 
154 
Estereótipo: representação de um objecto, pessoa ou ideia mais ou menos 
desligado da sua realidade objectiva e que é partilhado pelos membros de um 
grupo social. Essa representação pode ser inconsciente, é dotada de 
durabilidade e orienta a acção na vida quotidiana (ensinando-nos a conhecer o 
mundo antes de o vermos). O estereótipo funciona como alicerce dos 
mecanismos de selecção, ao nível do desvio. 
 
Interpretação retrospectiva (ou reconstrução biográfica): processo pelo qual o 
delinquente assume uma identidade nova, à luz da ideia de que com o acto 
criminoso ele revelou o que “sempre foi”. Apresenta-se como um mecanismo 
de interpretação do acto desviante com base na biografia do indivíduo. A 
interpretação retrospectiva é claramente potenciada nos sistemas de controlo 
(por exemplo, em tribunais, prisões e hospitais psiquiátricos). 
 
Negociação: a construção do desvio resulta sempre de uma relação de poder, 
que implica margens de manobra, tanto da parte do desviante como de quem 
reage ao desvio. 
 
Cerimónias degradantes (status-degradation ceremony): processo ritualizado 
pelo qual o indivíduo é despojado da sua identidade e recebe uma nova 
(degradante). O julgamento criminal é a mais expressiva das cerimónias 
degradantes, assim como o momento de chegada e de “recepção” a uma 
prisão ou a um hospital psiquiátrico. 
 
Role-engulfment: papel que o delinquente passa a assumir quando recebe o 
rótulo e desenvolve uma carreira desviante. Toda a interacção e auto-imagem 
centra-se em torno deste papel que lhe foi socialmente atribuído. 
 
Instituição total: lugares de residência e trabalho onde um grande número de 
indivíduos em igual situação, isolados da sociedade por um período apreciável 
de tempo, compartilham na sua reclusão uma rotina diária, administrada 
formalmente. Nestes espaços existe um hiato com o exterior e as identidades e 
155 
práticas desviantes reforçam-se: em vez de recuperarem os indivíduos, as 
instituições totais tornam-nos mais desadaptados e desviantes. 
 
 
 
156 
9.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Estudos sociológicos indicam que os estrangeiros são mais facilmente 
condenados do que os nacionais pela prática de crime e a penas de prisão 
mais longas. Avaliem esta situação à luz dos pressupostos da teoria da 
rotulagem. 
2. Identifiquem os grupos sociais que são mais facilmente rotulados como 
potencialmente criminosos. Justifiquem a vossa opção, apontando os 
estereótipos que estiveram na base dessa selecção. 
 
 
9.6. SÍNTESE 
Este módulo de aprendizagem centrou-se na teoria da rotulagem. 
Apresentaram-se os pressupostos gerais da abordagem do desvio que mostram 
como o resultado de um processo social interactivo; explicitaram-se os contributos 
específicos de alguns teóricos mais representativos desta corrente de 
pensamento e sintetizaram-se os principais conceitos utilizados pelas teorias 
interaccionistas do desvio. 
 
157 
9.7. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. Diga qual é a questão fundamental colocada ao crime pelas teorias etiológico-
explicativas, por um lado, e pela teoria da rotulagem, por outro lado. 
2. Qual a importância da reacção social ao crime? 
3. Quem são os moral entrepeneurs? 
4. O que significa afirmar que o desvio é algo relativo? 
5. Porque é que o investigador não pode encarar o desvio como uma categoria 
homogénea? 
6. Qual a importância do sucesso ou insucesso na aplicação do rótulo de 
desviante? 
7. Qual o papel do desviante na construção do desvio? 
8. Por que razão o desvio não deve ser encarado como uma propriedade 
individual? 
9. Distinga desvio primário de desvio secundário na perspectiva de Edwin Lemert. 
10. Explique a articulação do conceito de estigma desenvolvido por Goffman com 
a teoria da rotulagem. 
11. Defina os principais conceitos utilizadospela teoria da rotulagem. 
 
158 
9.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Becker, Howard (1963), Outsiders – studies in the sociology of deviance, Nova 
Iorque, Free Press. 
Campenhoudt, Luc Van (2003), Introdução à análise dos fenómenos sociais, 
Lisboa, Gradiva: 77-97. 
Carvalho Ferreira, J. M. et al. (1995), Sociologia, Lisboa, McGrawhill: 444-446. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 
342-361. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Gove, Walter (1980) (ed.), The labelling of deviance: evaluating a perspective, 
Beverly Hills, California. 
Rock, Paul; McIntosh, Mary (1974) (eds.), Deviance and social control, Londres, 
Tavistock Publications. 
Rubington, Earl (1968), Deviance, the interactionist perspective; text and readings 
in the sociology of deviance, Nova Iorque, Macmillan. 
 
9.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Becker, Howard (1963), Outsiders – studies in the sociology of deviance, Nova 
Iorque, Free Press. 
Goffman, Erving (1975), Estigma: notas sobre a manipulação da identidade 
deteriorada, Rio de Janeiro, Zahar Editores. 
Goffman, Erving (1991), Asylums. Essays on the social situation of mental patients 
and other inmates, Londres, Penguin Books. 
Goffman, Erving (1999), Manicômios, prisões e conventos, Rio de Janeiro, 
Perspectiva. 
Lemert, Edwin (1951), Social pathology, Nova Iorque, McGraw-Hill. 
Lemert, Edwin (1967), Human deviance, social problems and social control, 
Englewood Cliffs, Prentice-Hall. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 10 – GÉNERO E CRIME 
 
160 
 
 SUMÁRIO: 
 
10.1. Resultados esperados de aprendizagem 
10.2. Temas e debates da criminologia feminista 
10.3. As diferentes correntes das teorias feministas do crime 
10.4. Os impactos do género no crime 
10.5. Actividade formativa 13 
10.6. Síntese 
10.7. Teste formativo 
10.8. Leituras e informação complementar 
10.9. Referências bibliográficas 
161 
10.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
 reconhecer a «invisibilidade» das mulheres na Criminologia tradicional; 
 debater a necessidade de uma abordagem generizada do crime e do 
criminoso; 
 questionar os motivos sociais pelos quais as mulheres cometem menos 
crimes de que os homens; 
 identificar a importância da variável «género» e respectivas articulações com 
outras variáveis, tais como a idade, a classe social, a raça, a etnia, a 
escolaridade e posição económica; 
 conhecer as diferentes variantes da denominada «Criminologia Feminista». 
 
162 
10.2. TEMAS E DEBATES DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA 
O género é a variável de diferenciação mais consistente na análise do 
fenómeno criminal: os homens praticam mais crime, as mulheres são mais vítimas 
de crime. Os motivos pelos quais isto acontece não são ainda hoje muito claros e 
as possíveis respostas não reúnem consenso. Além disso, só recentemente o 
impacto das diferenças de género abordagem do crime começou a despertar o 
interesse dos investigadores e profissionais da área do crime, justiça e reinserção 
social. 
Reconhecer a importância da variável género na vida em sociedade, 
nomeadamente em relação à questão do crime, equivale a salientar as dimensões 
políticas, sexuais e culturais associadas às diferenças biológicas entre mulheres e 
homens. 
A criminologia tradicional ignorou a especificidade das mulheres ao nível da 
criminalidade e do sistema de justiça criminal, produzindo uma teoria generalista, 
supostamente aplicável aos dois sexos, ou então distorcendo a análise por não 
considerarem as possíveis especificidades das mulheres (Smart, 1976). A 
irrelevância estatística da prática de crime da parte das mulheres e a diminuta 
taxa de reincidência criminal contribuíram para que, durante muito tempo, a 
prática do crime da parte das mulheres fosse negligenciada. 
Ainda hoje, a abordagem teórica e empírica do crime parte essencialmente 
da análise do comportamento dos homens, por serem estes a grande maioria dos 
autores do crime. Na perspectiva de muitas feministas, a criminologia revela um 
carácter androcêntrico, que pode enviesar a investigação e os instrumentos 
analíticos pode ser inadequados para o estudo do crime no mundo feminino. 
O desenvolvimento das teorias feministas, a partir da década de setenta do 
século XX, começou por questionar essa postura da criminologia tradicional, de 
distanciamento face aos processos sociais de diferenciação e de desigualdade de 
género. 
Dois livros publicados em 1975, sobre a criminalidade feminina, foram um 
contributo inestimável para o desenvolvimento dos estudos sobre o crime e as 
mulheres: Sisters in crime: the rise of the new female criminal, da autoria de Freda 
Adler e Women and crime, de Rita Simon. Embora defendendo teorias diferentes, 
163 
ambas as autoras evidenciaram as progressivas alterações no comportamento 
das mulheres e crescente ruptura dos papéis tradicionais femininos. 
A obra de Freda Adler argumentava que as mulheres estão cada vez mais a 
adoptar comportamentos tipicamente masculinos, à medida que vão 
abandonando a esfera privada e entrando no mercado de trabalho: estão a tornar-
se mais agressivas e competitivas. Por sua vez, Rita Simon debruçou-se de igual 
modo sobre o crescente aumento da criminalidade da parte das mulheres, mas 
explicando essa tendência pelo facto da entrada das mulheres na esfera pública 
oferecer mais oportunidades para a prática do crime, nomeadamente de natureza 
económica (Vold et al., 2002: 269-270). 
Ambos os trabalhos vieram a ser criticados por autoras feministas, que 
apontavam o facto de ambas as teorias negligenciarem as forças materiais e 
estruturais que moldam as vidas e as experiências das mulheres (Simpson, 1989; 
Daly e Chesney-Lind, 1988). 
Tornou-se tema de debate académico a necessidade de produzir uma 
abordagem capaz de captar as relações sociais de género presentes na 
criminalidade e nos modos como as instituições tipificam e lidam com os 
criminosos. Não só os homens são mais frequentemente os autores dos crimes, 
como o sistema de justiça criminal produz tratamentos diferenciados para homens 
e mulheres – por exemplo, verifica-se uma tendência para condenar com penas 
mais severas as mulheres quando se trata de crime sexuais, mas geralmente as 
penas são mais suaves para o género feminino quando ocorrem crimes violentos, 
como homicídios (Feinman, 1986). 
A variação das sentenças em função do género do arguido parece depender 
das expectativas culturais dominantes, ou seja, quanto mais a prática do crime se 
revela distante do socialmente esperado, maior será a severidade da pena 
atribuída. Este facto vem explicar que, por exemplo, as sentenças dirigidas às 
mulheres tendam também a variar de acordo a diversidade das situações 
familiares, na medida em que os papéis sociais femininos estão 
predominantemente associados à esfera privada. O sistema jurídico-penal 
confirma o carácter «político» da esfera privada, reafirmando a distribuição de 
papéis. Assim, as mulheres que são mães e que têm filhos menores a cargo 
164 
tendem a receber penas menos pesadas do que as mulheres sem filhos (Eaton, 
1986). 
 
10.3. AS DIFENTES CORRENTES DAS TEORIAS FEMINISTAS DO CRIME 
A teoria feminista representa um conjunto de pressupostos teóricos gerais 
sobre a vida social, centrada na perspectiva sobre e das mulheres. Dentro das 
teorias feministas, podemos encontrar correntes de pensamento muito distintas, 
mas seguindo a sistematização por Lengermann e Niebrugge (1996), pode-se 
afirmar que a teoria feministase centra nas mulheres pelo objecto de estudo (as 
experiências e situações sociais das mulheres na sociedade); pelo sujeito de 
estudo no processo de investigação (estuda-se o mundo social a partir do ponto 
de vista das mulheres); pela perspectiva crítica e emancipatória (propõe-se 
contribuir para o bem-estar das mulheres). 
Os primeiros estudos feministas do crime pouco se distanciavam da 
criminologia tradicional. Como referem Vold e outros (Vold et al., 2002: 270), os 
trabalhos iniciais da criminologia feminista procuravam apenas preencher as 
lacunas da criminologia tradicional, sem desenvolverem uma operação de ruptura 
com os instrumentos analíticos e conceptuais do passado. Estes primeiros 
estudos inscreviam-se no denominado feminismo liberal, que é uma corrente de 
pensamento que postula a defesa dos direitos das mulheres, a extensão das 
oportunidades e a transformação dos papéis tradicionais, mas operando no 
quadro das estruturas sociais existentes. 
Abordagens feministas críticas vieram a desenvolveram-se no âmbito da 
sociologia do crime, empreendendo uma crítica e desconstrução dos sistemas de 
pensamento e conhecimento instituídos e dominantes (ideologia), por considerar 
que as estruturas sociais reproduzem sobretudo a visão masculina do mundo. 
Neste contexto, destacam-se as abordagens do crime desenvolvidas pelo 
feminismo marxista. Esta corrente do feminismo considera que a principal e 
fundamental causa das desigualdades de género reside no sistema capitalista, 
que promove e sustenta a divisão sexual do trabalho. As acções que ameaçam o 
modo de funcionamento do sistema capitalista são tipificadas como crime. Assim, 
as acções das mulheres que ameaçam a dominação económica dos homens são 
165 
classificadas como crimes de propriedade, enquanto que as práticas femininas 
que ameaçam o controlo masculino da sexualidade e corpos femininos são 
classificadas como crimes sexuais (Radosh, 1990). 
A visão do crime e do sistema de justiça criminal preconizado pelo feminismo 
marxista tanto adopta uma visão instrumental do direito criminal – pela assumpção 
de que a lei é um instrumento de carácter masculino, de opressão das mulheres – 
como uma abordagem de carácter estrutural, pela qual a lei destina-se a manter 
em vigor o sistema de patriarcado. 
Por sua vez, o feminismo socialista caracteriza-se por articular a análise dos 
papéis sociais de género com o sistema económico, distanciando-se deste modo 
do pendor excessivamente materialista do marxismo ortodoxo. O principal 
argumento consiste em defender que a causa das desigualdades reside no 
sistema capitalista, que promove e sustenta a divisão sexual do trabalho. As 
diferenças biológicas entre homem e mulher servem para consolidar a divisão 
entre o público e o privado, reforçando a opressão e subjugação das mulheres. 
Deste modo, a chave para a igualdade residirá na possibilidade das mulheres 
conseguirem ter o controlo da sexualidade, da reprodução e dos seus corpos 
(Firestone, 1970). 
O feminismo de terceira vaga ou pós-moderno, que se desenvolveu a partir 
da década de oitenta do século XX, preocupa-se com a análise das vivências e 
narrativas das mulheres. No contexto da abordagem sociológica do crime, a 
preocupação será a análise dos discursos e da linguagem e o modo como são 
produzidas as identidades das criminosas e da diferença e os conceitos de 
«verdade», nomeadamente por acção do sistema de justiça penal (Smart, 1989; 
Wonders, 1998). 
Abordagens feministas recentes valorizam a multiculturalidade, acentuando 
as diferenças entre as mulheres, em termos de classe, de raça, de etnia, ao nível 
das experiências com o crime, a vitimização e o sistema de justiça (Walby, 1990). 
Sumariamente, pode-se afirmar que a criminologia feminista veio acentuar a 
necessidade dos estudos do crime tomarem em consideração as mulheres, nos 
seguintes aspectos: os estudos do crime não podem continuar a negligenciar as 
vivências, práticas e experiências femininas relativas ao mundo do crime; as 
166 
relações das mulheres com a criminalidade surgem sob diversas formas, como 
praticantes do crime e como vítimas; o crime é uma actividade dominantemente 
masculina, em virtude de diferenças de género. 
Salienta-se que pode ser mais profícua uma análise do crime que contemple 
os impactos criados pela variável do «género», do que propriamente o 
desenvolvimento de uma área de investigação que se dedique exclusivamente a 
estudar as relações das mulheres com o crime. A adopção desta última vertente 
pode ajudar a perpetuar a marginalização das mulheres, pelo que será mais 
defensável uma posição que defenda a pesquisa género no seio da Sociologia do 
Crime, o que passará por estudar tanto as mulheres como os homens. 
 
10.4. OS IMPACTOS DO GÉNERO NO CRIME 
A discussão da importância de se considerar os impactos do género na 
abordagem do crime é usualmente feita a dois níveis: a questão da generalização 
e a diferença da criminalidade feminina e masculino (Vold et al., 2002: 273). A 
questão da generalização remete para a reflexão sobre a adequação dos 
conceitos e dos instrumentos de análise, geralmente formulados para abordar a 
realidade masculina. O facto de os homens tenderem a demonstrar uma maior 
tendência para a prática do crime é um dos outros aspectos de debate. 
Várias feministas defendem que a tendência para a generalização é de 
evitar, na medida em que a análise ancora-se nas experiências masculinas, sem 
atender à especificidade do mundo feminino. Uma das formas de tomar em 
consideração a particularidade das vivências das mulheres no mundo do crime, 
passará pela utilização de métodos qualitativos de pesquisa, nomeadamente 
estudos de caso e histórias de vida (Daly e Chesney-Lind, 1988: 518), já que a 
utilização de estatísticas, tão frequente na criminologia, torna invisíveis as relações 
sociais de género. 
Estatisticamente, a condenação de mulheres pela prática de crime é 
diminuta em relação ao mesmo fenómeno para os homens: segundo dados do 
Instituto Nacional de Estatística, em Portugal, em 2001, de um total de 60.480 
indivíduos pela prática de crime em tribunais de 1.ª instância, apenas 8% eram 
mulheres. A menor incidência de condenações de mulheres pela prática de crime 
167 
parece ser comum a outros países – por exemplo, no Reino Unido, em 2000, a 
percentagem de réus no total de condenações por prática de crime era de 81% 
(Home Office, 2001). 
A criminologia tradicional explicava as diferenças de comportamento entre 
homens e mulheres em relação ao crime, com base em diferenças biológicas, 
sendo célebre o trabalho de Lombroso sobre “a mulher criminosa, a prostituta e a 
mulher normal” (Lombroso, 1893), na qual retoma o conceito de atavismo 
(reaparição de características que foram apresentadas somente em ascendentes 
distantes), para explicar que a mulher comete menos crimes do que o homem por 
apresentar com menos frequência uma predisposição genética para a prática do 
desvio. 
Durante muito tempo, as explicações da criminalidade feminina centravam-
se na análise de patologias individuais, muitas vezes associadas a distúrbios 
psicofisiológicos do aparelho reprodutivo ou à pressão exercida pelos 
companheiros masculinos (Giordano e Cernkovich, 1997). 
As diferenças de comportamento entre mulheres e homens em relação ao 
crime são actualmente explicadas em termos de um sistema de patriarcado, que 
institui uma divisão generizada de papéis sociais e de hierarquias, pela qual os 
comportamentos são codificados como masculinos e femininos, funcionando 
como tal no sistema prevalecente das relações de poder entre os sexos. Nesse 
sistema social vigente, os homens sãopercepcionados como mais sujeitos a 
desenvolver comportamentos violentos e, por inerência, «criminosos»; e as 
mulheres vistas como mais passíveis de serem frágeis e indefesas (logo, 
«vítimas») (Renzetti e Curran, 1993; Beleza, 1993, 2002). As diferenças de 
socialização em termos de género tendem a predispor as mulheres para uma 
maior conformidade e distanciamento em relação a comportamentos de risco. De 
igual modo, as mulheres parecem estar mais sujeitas a processos de controlo 
social e de vigilância, que as parecem afastar com mais frequências de 
comportamentos desviantes (Vold et al., 2002: 276). 
 
 
 
168 
10.5. ACTIVIDADE FORMATIVA 13 
Desenvolvam a seguinte actividades em grupo, elaborando uma descrição em 
tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Debatam de que forma os seguintes crimes são particularmente reveladores 
das relações de género dominantes na nossa sociedade: 
a. Aborto 
b. Violação 
c. Violência doméstica 
d. Assédio sexual 
e. Pornografia 
 
 
10.6. SÍNTESE 
Este módulo de aprendizagem centrou-se na abordagem feminista da 
criminalidade. Aponta-se a necessidade de considerar as relações sociais de 
género na abordagem da criminalidade e do sistema de justiça criminal. 
Explicitam-se os contributos específicos para a Sociologia do crime produzidos 
pelas distintas correntes feministas e apontam-se pistas de análise para a 
explicação das diferenças entre homens e mulheres nas relações estabelecidas 
com o crime. 
 
169 
10.7. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. O que significa dizer que enquanto que o sexo é biológico, o género é social e 
cultural? 
2. O que significa a afirmação de que o género é a variável de diferenciação mais 
consistente na análise do fenómeno criminal? 
3. De que forma a abordagem tradicional do crime pode não se adequar aos 
estudos das relações das mulheres com o crime? 
4. Como é que as sentenças podem ser diferentes para mulheres e homens, de 
acordo com expectativas culturais dominantes, que tipificam o que é masculino 
e feminino? 
5. De que forma as estruturas sociais e as ideologias dominantes categorizam 
mais facilmente o homem como criminoso e a mulher como vítima? 
6. Quais as vantagens e as desvantagens de adoptar uma postura de 
«generalização» das teorias e dos instrumentos de análise no estudo do crime? 
7. De que modo o sistema de patriarcado pode ajudar a explicar as diferenças de 
comportamentos entre mulheres e homens no que diz respeito ao crime? 
 
170 
10.8. LEITURAS E INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR 
 
Leituras básicas recomendadas: 
Beleza, Teresa Pizarro (1993), Mulheres, direito, crime ou a perplexidade de 
Cassandra, Lisboa, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de 
Direito de Lisboa. 
Daly, Kathleen; Chesney-Lind, Meda (1988), “Feminism and criminology”, Justice 
Quarterly, 5 (4): 497-538. 
Walklate, Sandra (2003), “Gendering the criminal”, Understanding Criminology. 
Current theoretical debates, Open University Press: 73-94. 
Vold, George et al. (2002), “Gender and crime”, Theoretical criminology, Nova 
Iorque, Oxford University Press: 267-282. 
 
Leituras de aprofundamento: 
Carlen, Pat; Worrall, Anne (1987), Gender, crime and justice, Philadelphia, Milton 
Keynes, Open University. 
Datesman, Susan; Scarpitti, Frank (org.), Women, crime and justice, Nova Iorque, 
Oxford University Press. 
Feinman, Clarice (1986), Women in the criminal justice system, Praeger, Nova 
Iorque. 
Smart, Carol (1976), Women, crime and criminology: a feminist critique, 
Routledge, Kegan Paul, Boston. 
Smart, Carol (1995), Law, crime and sexuality: essays in feminism, Londres, Sage. 
 
10.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Beleza, Teresa Pizarro (1993), Mulheres, direito, crime ou a perplexidade de 
Cassandra, Lisboa, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de 
Direito de Lisboa. 
Beleza, Teresa Pizarro (2002), “Antígona no reino de Creonte: o impacte dos 
estudos feministas no direito”, ex aequo, nº 6: 77-89. 
Daly, Kathleen; Chesney-Lind, Meda (1988), “Feminism and criminology”, Justice 
Quarterly, 5 (4): 497-538. 
171 
Eaton, Mary (1986), Justice for women? Family, court and social control, Milton 
Keynes, Open University Press. 
Feinman, Clarice (1986), Women in the criminal justice system, Praeger, Nova 
Iorque. 
Firestone, Shulamith (1970), The dialectics of sex. The case for feminist revolution, 
William Morrow, Nova Iorque. 
Giordano, Penny; Cernkovich, Stephen (1997), “Gender and antisocial behavior” 
in David Staff et al. (eds.), Handbook of antisocial behavior, John Wiley, Nova 
Iorque. 
Home Office (2001), Statistics on women and criminal justice, Section 95 of the 
Criminal Justice Act, 1991, Londres. 
Lengermann, Patrícia; Niebrugge, Jill (1996), “Contemporary feminist theory” in 
Ritzer, George (ed.), Sociological Theory, Singapore, McGraw-Hill International 
Editions: 436-486. 
Lombroso, Cesare (1893), La donna delinquente, la prostituta e la donna 
normale,Torino. 
Radosh, Polly (1990), “Woman and crime in the United States: a Marxian 
explanation”, Sociological Spectrum, 10: 105-131. 
Renzetti, Clare; Curran, Dan (1993), Women, men and society, Allyn and Bacon, 
Boston. 
Simpson, Sally (1989), “Feminist theory, crime and justice”, Criminology, 27 (4): 
605-631. 
Smart, Carol (1976), Women, crime and criminology: a feminist critique, 
Routledge, Kegan Paul, Boston. 
Smart, Carol (1989), Feminism and the power of law, Routledge, Londres. 
Vold George et al. (2002), Theoretical criminology, Nova Iorque, Oxford University 
Press. 
Walby, Sylivia (1990), Theorizing patriarchy, Basil Blackwell, Cambridge, MA. 
Wonders, Nancy (1998), “Postmodern feminism and social justice” in Bruce Arrigo, 
Social justice, criminal justice, West/Wadsworth, Belmont, CA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
III. – PROBLEMÁTICAS, ORIENTAÇÕES E 
DEBATES ACTUAIS SOBRE O CRIME 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 11 – TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE, SISTEMA 
PRISIONAL E POLÍTICAS CRIMINAIS 
 
174 
 SUMÁRIO: 
 
11.1. Resultados esperados de aprendizagem 
11.2. Estratégia pedagógica na abordagem das actuais problemáticas, 
orientações e debates sobre o crime 
11.3. Guião de auto-aprendizagem para «tendências da criminalidade» 
11.3.1. Notas introdutórias 
11.3.2. Actividade formativa 14 
11.3.3. Leituras e fontes de informação 
11.4. Guião de auto-aprendizagem para «sistema prisional» 
11.4.1. Notas introdutórias 
11.4.2. Actividade formativa 15 
11.4.3. Leituras e fontes de informação 
11.5. Guião de auto-aprendizagem para «políticas criminais» 
11.5.1. Notas introdutórias 
11.5.2. Actividade formativa 16 
11.5.3. Leituras e fontes de informação 
11.6. Síntese 
11.7. Teste formativo 
 
 
 
 
 
 
 
175 
11.1. RESULTADOS ESPERADOS DE APRENDIZAGEM 
No final do processo de aprendizagem desta unidade programática, o 
estudante deverá estar apto a: 
 identificar as principais problemáticas, orientações e debates actuais sobre o 
crime, em meio científico-académico e na esfera pública. 
 localizar, organizar e caracterizar a informação disponível relativa às 
tendências evolutivas da criminalidade e do sistema prisional, em Portugal e 
na Europa, numa perspectiva diacrónica e sincrónica; 
 explanar as principais abordagens teóricas e metodológicas patentes nos 
estudos prisionais; 
 conceber de modo autónomo um projectode investigação a desenvolver em 
meio prisional, de acordo com as regras estabelecidas em Portugal, pela 
Direcção Geral dos Serviços Prisionais; 
 sintetizar as principais coordenadas teórico-metodológicas das diversas 
escolas sociológicas sobre o crime, articulando-as com distintas 
perspectivas de políticas criminais; 
 identificar a prevalência de determinado tipo de política criminal em 
contextos sociais diversificados; 
 expor de modo fundamentado opiniões e organizar de modo autónomo os 
materiais necessários para a preparação de um debate. 
 
176 
11.2. ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NA ABORDAGEM DAS ACTUAIS 
PROBLEMÁTICAS, ORIENTAÇÕES E DEBATES SOBRE O CRIME 
Nesta última unidade de aprendizagem a estratégia pedagógica assume 
contornos consideravelmente distintos dos que se foram levados a cabo nos 
momentos anteriores, prefigurando de modo particularmente evidente o modelo 
de aprendizagem centrado na autonomia do aluno. 
Propõe-se agora a realização de sessões de trabalho exclusivamente 
preenchidas com actividades formativas levadas a cabo pelos alunos, guiadas e 
supervisionadas pelo docente. Esta organização das últimas sessões de trabalho 
realizadas no âmbito da disciplina de Sociologia do Crime, vem substituir a 
planificação anteriormente assumida, assente na alternância entre sessões 
teóricas, predominantemente expositivas e centradas na exposição oral de 
conteúdos programáticos, da parte do docente (embora sem excluir a 
participação dos alunos); e sessões teórico-práticas centradas na consolidação de 
elementos de aprendizagem, pela realização de actividades formativas pré-
estruturadas. 
O docente enuncia os temas a tratar – tendências da criminalidade, sistema 
prisional e rumos das políticas criminais – e apresenta aos alunos um guião de 
auto-aprendizagem, que reúne dois tipos de elementos: (i) uma breve introdução 
ao tema e descrição sumária dos principais aspectos da temática a analisar pelos 
alunos; (ii) fontes de informação e materiais bibliográficos. 
Após a realização da actividade formativa proposta, cada grupo apresenta 
oralmente as conclusões do seu trabalho e produz um relatório escrito. 
Apresentam-se de seguida os guiões de auto-aprendizagem facultados aos 
alunos para cada um dos sub-temas a desenvolver. 
 
11.3. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «TENDÊNCIAS DA 
CRIMINALIDADE» 
 
11.3.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS 
Verifica-se nos dias de hoje um considerável alarmismo social em torno do 
crime e da insegurança, em larga medida baseado em noções de que o crime 
está a aumentar (sobretudo o crime violento) e, consequentemente, aumenta a 
177 
insegurança e os riscos para os cidadãos. Esta visão do mundo é alimentada por 
políticos e pelos meios de comunicação social, sendo importante para os 
sociólogos analisar e debater os contornos reais da evolução da criminalidade, de 
modo a desconstruir criticamente o imaginário da criminalidade que é projectado 
para a sociedade em geral. 
Vários autores têm salientado o acréscimo das taxas de crime nas últimas 
décadas, situando o início dessa escalada na década de 60 ou 70 do século XX. 
Este panorama seria extensível à generalidade dos países e caracterizar-se-ia, de 
igual modo, por um aumento da criminalidade violenta (Van Dijk e Mayhew, 1993; 
Cusson, 1990). Outros autores, porém, rebatem em parte esta imagem da 
evolução da criminalidade, referindo, por exemplo, que tem havido no decurso do 
último século uma regressão considerável da violência criminal, nomeadamente 
da violência interpessoal na Europa. Afirma Chenais que as taxas de homicídio na 
Europa são hoje claramente mais baixas do que em meados do século XIX 
(Chenais, 1981: 39). Lourenço e Lisboa confirmam esta tese, chamando a 
atenção para o recuo da taxa de homicídio na Europa, sendo sobretudo os crimes 
contra a propriedade que têm aumentado (Lourenço e Lisboa, 1998). 
Estudos sobre a criminalidade em Portugal mostram que hoje os níveis de 
criminalidade no nosso país aproximam-se da média Europeia, embora 
determinadas regiões do país, como Lisboa e Porto, apresentem taxas de 
criminalidade patrimonial superiores às médias da União Europeia (Ferreira, 1988; 
Lourenço e Lisboa, 1998). 
Há assim que distinguir dois níveis de análise: a visão de longa duração, que 
nos revela a macroevolução da criminalidade; e a visão de curta duração, que 
incide nas variações da criminalidade registadas num período de tempo muito 
circunscrito, por exemplo, de ano para ano, ou de década para década. 
A visão histórica mostra que a sociedade de hoje tem menos criminalidade 
violenta que a sociedade do século XVIII ou XIX, que era mais permissiva em 
relação à violência e adepta dos códigos de «honra e sangue». No entanto, a 
perspectiva da evolução secular mostra de igual modo, que a partir da segunda 
metade do século XX, ocorreu uma estabilização dos crimes contra as pessoas e 
verificou-se um aumento da incidência dos crimes contra a propriedade. 
178 
A análise das microvariações da criminalidade oferece mais dúvidas, por nos 
poder conduzir a sobrevalorizar oscilações de carácter pontual (Machado, 2004: 
27). 
 
11.3.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 14 
Com base na bibliografia facultada e nas estatísticas da criminalidade de 
carácter nacional e internacional, reúnam informação que permita saber o 
seguinte: 
1. Evolução da criminalidade na Europa, ao longo do século XX; 
2. Evolução da criminalidade na Europa, por tipo de crime e país, na última 
década; 
3. Posicionamento da criminalidade em Portugal, no contexto da União 
Europeia, na última década, por tipo de crime. 
 
 
 
179 
11.3.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO 
 
Bibliografia aconselhada: 
Ferreira, Eduardo Viegas (1988), Crime e insegurança em Portugal. Padrões e 
tendências, 1985-1996, Lisboa, Celta. 
Ferreira, Eduardo Viegas (2001), “Criminalidade e insegurança urbana. 
Reconstrução de identidades e de solidariedades colectivas” in Magda Pinheiro 
et al., Cidade e Metrópole. Centralidades e marginalidades, Oeiras, Celta: 85-
94. 
Lourenço, Nelson; Lisboa, Manuel (1998), Dez anos de crime em Portugal. Análise 
longitudinal da criminalidade participada às polícias, 1984-1993, Lisboa, Centro 
de Estudos Judiciários. 
Machado, Carla (2004), Crime e insegurança: discursos do medo, imagens do 
outro, Lisboa, Editorial Notícias: 15-36. 
Vaz, M. J. (1998), Crime e sociedade. Portugal na segunda metade do século XIX, 
Oeiras, Celta. 
 
Fontes de informação estatística: 
International Crime Survey, OCDE (1988, 1992, 1996), 
http://ruljis.leidenuniv.nl/group/jfcr/www/icvs/. 
Estatísticas criminais, Ministério da Justiça (2001/2002) 
http://www.gplp.mj.pt/estjustica/CD2002/Anuário%20Estatístico%20da%20Just
iça%20CDROM/Dados%20Estatísticos/epolícias.htm 
 
Referências bibliográficas: 
Cusson, M. (1990), Croissance et décroissance du crime, Paris, PUF. 
Chenais, J. (1981), Histoire de la violence, Paris, Robert Laffont. 
Ferreira, Eduardo Viegas (1988), Crime e insegurança em Portugal. Padrões e 
tendências, 1985-1996, Lisboa, Celta. 
Lourenço, Nelson; Lisboa, Manuel (1998), Dez anos de crime em Portugal. Análise 
longitudinal da criminalidade participada às polícias, 1984-1993, Lisboa, Centro 
de Estudos Judiciários. 
Machado, Carla (2004), Crime e insegurança: discursos do medo, imagens do 
outro, Lisboa, Editorial Notícias. 
180 
Van Dijk, J.J.M.; Mayhew, P. (1993). Criminal victimisation in the industrialized 
world: key findings of the 1989 and 1992 international crime surveys, 
Amsterdão, Directorate for Crime Prevention, Ministry of Justice. 
181 
11.4. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «SISTEMA PRISIONAL»11.4.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS 
A criação e manutenção dos sistemas penitenciários, nomeadamente das 
prisões e das esquadras policiais, dependem largamente dos recursos 
económicos disponíveis, mas também da legitimação do aparelho de Estado e da 
ideologia e cultura prevalecentes numa determinada sociedade. Deste modo, as 
prisões são um espelho da sociedade que as cria e as mantém. 
A criação e organização do sistema prisional pode assim reflectir as 
seguintes dimensões da vida em sociedade: (i) hábitos sociais herdados e 
transmitidos; (ii) sistemas jurídicos, políticos, cívicos e mediáticos; (iii) intenções 
políticas organizadas (Dores, 2004: 2). Só assim se pode explicar que, por 
exemplo, os EUA tenham uma taxa de encarceramento oito vezes a europeia. 
Alguns autores explicam a elevada incidência do número de reclusos nos 
EUA (uma das sociedades mais penitenciárias do mundo) pelo facto de existir 
uma cultura histórica de violência, acompanhada, desde pelo menos a década de 
setenta do século XX, por um capitalismo agressivo, que não só criou amplas 
malhas de exclusão e desemprego, como converteu o sistema penitenciário numa 
indústria (Christie, 2000; Wacquant, 2000). 
Em termos europeus, dará igualmente que pensar as diferenças registadas 
em termos de número de reclusos por 100.000 habitantes: enquanto que Portugal 
apresenta um valor de taxa de encarceramento (131) claramente acima da média 
europeia (92), perfilando-se no conjunto dos países europeus mais penitenciários 
– Inglaterra e País de Gales (134) e Espanha (126) –; países como a Suécia (73), 
a Finlândia (67) e a Dinamarca (63) representam os contextos nacionais menos 
penitenciários. Este perfil comum aos países escandinavos deve-se provavelmente 
a afinidades culturais, civilizacionais e étnicas que tendem a rejeitar o 
encarceramento. 
Acrescente-se ainda que, tanto Portugal como Espanha são actualmente os 
países com maior percentagem de mulheres reclusas: em ambos os países, no 
ano de 2002, as mulheres correspondiam a cerca de 8% da população prisional; 
182 
quando a média europeia, para o mesmo ano, era de 5% de população reclusa 
feminina. 
Verifica-se uma sobrelotação das prisões de todo o mundo (em Portugal, na 
ordem dos 120% em 2002), na sequência da penalização do tráfico e consumo de 
drogas, que é de longe o crime que mais manda pessoas para a prisão, 
juntamente com os crimes contra o património. 
Os estudos sociológicos da prisão têm-se desenvolvido intensivamente, face 
à evidência social e política do crescimento das prisões. É possível distinguir as 
principais temáticas abordadas ao nível dos estudos prisionais realizados no 
contexto da Sociologia: (i) as relações prisionais, nomeadamente, as interacções 
nos grupos de reclusos e dos reclusos com outros actores sociais inseridos em 
contexto prisional, (ii) as identidades e as práticas dos reclusos, nomeadamente 
as transformações dos processos identitários e relações com o crime, durante a 
estadia na prisão; (iii) relações com o mundo exterior, nomeadamente, com 
instâncias de regulação superiores, parceiros dos estabelecimentos prisionais e 
fluxos de comunicação, de bens e de serviços entre o interior e o exterior da 
prisão. 
Os estudos clássicos da prisão, levados a cabo por autores como Clemmer 
(1940), Foucault (1999) e Goffman (1999) projectam o meio prisional como um 
«mundo à parte» como se as relações sociais prisionais fossem apenas 
produzidas localmente. Neste sentido, estes autores focalizaram essencialmente 
as relações prisionais e os processos identitários e práticas criados no contexto da 
prisão, vista como um hiato social e temporal. 
No âmbito das relações desenvolvidas no interior da prisão e subsequentes 
transformações nas práticas e identidades dos indivíduos, Clemmer (1940) 
desenvolveu o termo “prisionização”, definindo-o como uma “adopção em maior 
ou menor grau, dos usos e costumes, e em geral da cultura da prisão” (Clemmer, 
1940 apud Gonçalves, 2000: 52). Este é um processo lento e gradual que 
começa por uma conversão ao anonimato. O autor considera que o próprio 
processo de ingresso na prisão irá acentuar a criminalização, por criar condições 
para a aprendizagem ou eventual fortalecimento das competências para a 
actividade criminosa, que ocorrem após estada na prisão. 
183 
Por sua vez, Foucault (1999) encara a prisão como um dos vectores de 
tecnologia política do corpo, por processos de vigilância e delimitação rigorosa 
dos corpos no espaço e no tempo, considerando que a prisão é uma “escola do 
crime”, surgindo, assim, um verdadeiro dilema: a prisão serve para punir o preso e 
preparar a sua reintegração social e, ao mesmo tempo, fomenta ainda mais o 
crime e o criminoso. Deste modo, Foucault considera que ao invés de ser 
ressocializado para a vida em liberdade, o indivíduo é socializado para viver na 
prisão. 
A abordagem autárcica da prisão é continuada por Goffman (1999), quando 
este apresenta o meio prisional como uma instituição total, onde um conjunto de 
indivíduos, separados da sociedade e por um período de tempo considerável, 
levam em conjunto uma vida fechada e formalmente administrada. Segundo 
Goffman, o carácter totalitário da prisão surge no momento em que se 
estabelecem barreiras às trocas e transacções com o exterior, sejam estas 
barreiras físicas, culturais e simbólicas, que demarcam as fronteiras entre o 
interior e o exterior da prisão. Salienta ainda as características principais deste 
tipo de instituições, considerando-as como totais, segregativas, homogeneizantes, 
normalizantes e estigmatizantes. 
Estudos prisionais mais recentes encaram a prisão como uma realidade 
translocal, tornando explícita a ideia de que é necessário colocar o interior e o 
exterior em continuidade analítica (Cunha, 2002), seja por via da análise das 
relações sociais extracarcerais (ibidem), seja por articulação das prisões com 
contextos económicos, políticos e financeiros de carácter global e internacional 
(Wacquant, 2000; Dores, 2003). 
 
184 
11.4.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 15 
Com base na bibliografia facultada e nas estatísticas prisionais de carácter 
nacional e internacional, reúnam informação que permita saber o seguinte: 
1. Taxa de reclusos e de presos preventivos, destacando o caso de 
Portugal e distinguindo entre países mais e menos penitenciários; 
2. Tipo de crimes mais praticados pela população prisional, em termos 
nacionais e europeus; 
3. Perfil sócio-económico da população reclusa em Portugal; 
4. Comparação da duração das penas em Portugal com outros países 
europeus. 
 
 
11.4.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO 
 
Bibliografia aconselhada: 
Amaral, Diogo (2005), Relatório da Comissão de estudo e debate da reforma do 
sistema prisional, Coimbra, Almedina. 
Cunha, Manuela Ivone (2002), Entre o bairro e a prisão: tráficos e trajectos, Fim 
de Século. 
Cunha, Manuela Ivone (2003), "O bairro e a prisão: a erosão de uma fronteira" in 
Freitas Branco, J. e Afonso, A.I., eds. Retóricas sem Fronteira: 1/Mobilidades , 
Lisboa, Celta: 101-109. 
Cunha, Manuela Ivone (2004), “As organizações enquanto unidades de 
observação e de análise: o caso da prisão”, Etnográfica, vol. VIII (1): 151-157. 
Dores, António Pedro (2003a), Prisões na Europa – um debate que apenas 
começa, Oeiras, Celta. 
Dores, António Pedro (2003b), “Prisons and imprisionment in Portugal”, 
http://www.prisonobservatory.org/prison%20in%20portugal20e.v..doc 
 
Fontes de informação: 
Estatísticas prisionais da direcção Geral dos Serviços Prisionais (1999-2006), 
http://www.dgsp.mj.pt/frameset_info.html 
185 
Relatório sobre o sistema prisional, Provedorda Justiça, Divisão de 
Documentação, 1996, www.provedor-jus.pt/restrito/ 
pub_ficheiros/RelPrisoes1996.pdf 
 
Referências bibliográficas: 
Christie, Nils (2000), Crime control as industry, Routledge. 
Clemmer, Donald (1940), The prison community, Nova Iorque, Richard and Co. 
Cunha, Manuela Ivone (2002), Entre o bairro e a prisão: tráficos e trajectos, Fim 
de Século. 
Foucault, Michel (1999), Vigiar e punir: nascimento da prisão, Petrópolis, Vozes. 
Goffman, Erving (1999), Manicômios, prisões e conventos, Rio de Janeiro, 
Perspectiva. 
Gonçalves, Rui Abrunhosa (2000), Delinquência, crime e adaptação à prisão, 
Coimbra, Quarteto. 
Wacquant, Loïc (2000), As prisões da miséria, Oeiras, Celta. 
 
 
186 
11.5. GUIÃO DE AUTO-APRENDIZAGEM PARA «POLÍTICAS CRIMINAIS» 
 
11.5.1. NOTAS INTRODUTÓRIAS 
A lei criminal e as práticas e ideários desenvolvidos pelo aparelho de controlo 
social constituem os operadores primários de controlo e selecção da 
criminalidade. Em sentido restrito a política criminal consiste no programa de 
objectivos, de métodos de procedimento e de resultados que o Ministério Público 
e as autoridades de polícia criminal prosseguem na prevenção e repressão da 
criminalidade. A política criminal tem assim o pilar preventivo e o repressivo. 
A prevenção da criminalidade é mais económica e mais eficaz como 
instrumento de combate à reincidência do que qualquer política repressiva, como 
sistematicamente têm apontado estudos internacionais neste domínio. Saliente-se, 
neste âmbito as recomendações do Comité de Ministros do Conselho da Europa, 
que desde 1983 têm insistido na necessidade de uma política de prevenção 
criminal (Albuquerque, 2004), apelando à selecção dos campos de intervenção e 
à necessidade de colaboração da sociedade civil na tarefa de prevenção criminal. 
A política criminal repressiva exerce-se por via da actuação e autoridade do 
Ministério Público, polícia, tribunais e sistema prisional, surgindo objectivamente 
pela aplicação de penas aos criminosos. 
Ao nível das políticas criminais, têm-se acentuado o debate em torno dos 
processos de descriminalização e de neocriminalização. 
Por descriminalização entende-se a desqualificação de uma conduta como 
crime, podendo dar origem a dois modelos de actuação do estado: (i) o Estado 
renúncia ao controlo da conduta e alarga as margens de tolerância (por exemplo, 
em relação ao consumo de certos estupefacientes ou em relação a certas práticas 
sexuais); (ii) o Estado procura formas de controlo mais eficazes e menos onerosas 
do que as oferecidas pelo sistema penal, como por exemplo a aplicação de 
substitutivos penais ou de terapêuticas, quer ao criminoso, quer à vítima. 
A neocriminalização significa criminalizar actos anteriormente não 
classificados como crime, em virtude de mutações históricas e sociais. É o caso 
dos crimes informáticos, crimes ambientais e crimes sexuais. 
187 
As diferentes teorias sociológicas abordadas ao longo da disciplina de 
Sociologia do Crime desenvolveram pressupostos científicos que, de modo mais 
ou menos explícito sugerem orientações político-criminais, que importa agora 
sistematizar: 
 
● A Escola de Chicago preconiza por excelência uma política criminal 
preventiva, tendo sido numerosas nos Estados Unidos as reformas legislativas e 
os programas de intervenção social baseados nos princípios teóricos da ecologia 
criminal. Esta corrente de pensamento preconiza a política criminal ao nível da 
pequena comunidade local de vizinhança em que os delinquentes se inserem, 
recusando as perspectivas de tratamento e abordagem individual e procurando 
envolver os residentes locais com prestígio e aceitação social para intervirem 
como agentes promotores voluntários da solidariedade social. 
 
● A teoria funcionalista de Merton e da subcultura delinquentes de Cloward e 
Ohlin sugerem uma política-criminal orientada para dois níveis distintos: por um 
lado, para as variáveis estruturais do sistema social; e por outro lado, para o 
sistema de controlo associado à estrutura cultural. 
Tendo em consideração que este grupo de autores consideram que o crime 
e o desvio radicam no desequilíbrio entre as aspirações culturalmente incutidas e 
os meios ou as oportunidades disponíveis, a prevenção da criminalidade pode 
fazer-se de dois modos: (i) pela redução do nível de aspirações (estrutura 
cultural), concedendo prestígio a essas alternativas mais realistas face a recursos 
económicos e educativos escassos, que se converterão no desempenho de 
funções (a valorizar socialmente) associadas às classes sociais mais 
desfavorecidas; (ii) alargamento das oportunidades (estrutura social), privilegiando 
acções no domínio da educação, formação e emprego junto das comunidades 
mais desfavorecidas. 
 
● As teorias da subcultura partem do princípio do conflito de culturas, 
falando por isso, por exemplo, das culturas delinquentes juvenis e das culturas 
marginais dos imigrantes. Esta corrente de pensamento perspectiva uma política 
188 
criminal assente na ideia de que a intervenção e prevenção da criminalidade tem 
de ser feita ao nível do universo cultural. Neste sentido, pretende-se que a 
prevenção da criminalidade opere por acções dirigidas aos elementos de grupos 
culturais mais isolados e contrários aos valores da cultura convencional, 
potenciando deste modo a conversão das classes mais desfavorecidas aos 
valores da cultura dominante. 
 
● O legado político-criminal das teorias interaccionistas ancora na defesa do 
pluralismo cultural e relativismo moral, pelo que a direcção das políticas criminais 
será proposta tendo como alvo privilegiado as instâncias de controlo, começando 
pela própria lei. Daí que a descriminalização e a não-intervenção radical 
(suscitando a necessidade de repensar o ordenamento penal no contexto de uma 
sociedade aberta e plural e alimentando a crença no alargamento das margens de 
tolerância) se configurem como tópicos dominantes da política criminal de 
obediência interaccionista. 
 
189 
11.5.2. ACTIVIDADE FORMATIVA 16 
Desenvolvam as seguintes actividades em grupo, elaborando uma descrição 
em tópicos, não ocupando mais do que uma página A4: 
1. Considerem as possíveis modalidades de política criminal, tomando como 
referência bairros sociais fisicamente degradados, habitados 
maioritariamente por minorias étnicas e nos quais prevalece a 
criminalidade, violência de rua, abandono escolar e desemprego. Várias 
vezes ocorrem práticas criminais de grupos de jovens delinquentes, 
ocasionando preocupação e violência. 
2. Ponderem a possibilidade de a) reforço do policiamento e alargamento 
das possibilidades de intervenção policial pela via das armas; b) 
realojamento da população residente; c) acções de formação e 
ocupação dos tempos livres de jovens e crianças. 
3. Enunciem as vantagens e desvantagens/obstáculos destas possíveis 
medidas de intervenção ao nível do controlo e prevenção da 
criminalidade 
 
 
 
190 
11.5.3. LEITURAS E FONTES DE INFORMAÇÃO 
 
Bibliografia aconselhada: 
Albuquerque, Paulo (2004), “O que é a política criminal, porque precisamos dela e 
como a podemos construir?”, Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n.º 14, 
Coimbra, Coimbra Editora: 435-452. 
Dias, Figueiredo Jorge; Andrade, Manuel da Costa (1997), Criminologia. O 
homem delinquente e a sociedade criminógena, Coimbra, Coimbra Editora: 
286-293; 306-311; 338-342; 358-361; 397-441. 
 
Fontes de informação: 
Relatórios de Segurança Interna: 
http://www.mai.gov.pt/data/006/index.php?x=rasi 
http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC15/
Ministerios/MAI/Comunicacao/Publicacoes/20030102_MAI_Doc_Rel_Seguranca_Interna.htm 
 
Referências bibliográficas: 
Albuquerque, Paulo (2004), O que é a política criminal, porque precisamos dela e 
como a podemos construir?, Revista Portuguesa de Ciência Criminal, n.º 14, 
Coimbra, Coimbra Editora: 435-452. 
 
 
191 
11.6. SÍNTESE 
Esta unidade de aprendizagem privilegiou a componente de auto-
aprendizagem dos alunos, exigindo níveis e competências de autonomia na 
recolha e organização de informação, com vista à construção do conhecimento 
sobre as seguintes temáticas: (i) tendências evolutivas da criminalidade, em 
termos macro e micro; (ii) dimensões de análise privilegiadas nos estudos 
prisionais; (iii) diversidade de políticas criminais e articulação com os distintos 
legados científicos das teorias sociológicas do crime. 
 
11.7. TESTE FORMATIVO 
Destina-se à auto-avaliação do aluno, tendo como objectivo proporcionar os 
elementos necessários para que o aluno possa aferir o progresso dos seus 
conhecimentos em cada unidade de aprendizagem. 
 
1. Exponha os principais elementos do imaginário da criminalidade actual, tal 
qual este é projectado na esfera pública; 
2. Proceda a um esboço das principais tendências evolutivas da criminalidade, 
contrapondo o século XIX ao momento actual; 
3. Aponte a principal incidência da criminalidade, por tipo de crimes, em 
Portugal, comparando com as médias europeias; 
4. Explique as diferenças principais entre os estudos prisionais clássicos e os 
estudos sociológicos das prisões mais recentes; 
5. Esboce as principais características da situação prisional em Portugal; 
6. Explique os dois vectores principais das políticas criminais; 
7. Distinga entre descriminalização e neocriminalização; 
8. Exponha os significados científico-criminais das diferentes teorias 
sociológicas do crime que estudou. 
192 
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	NOTA INTRODUTÓRIA
	I. ORIENTAÇÕES GERAIS DA UNIDADE CURRICULAR E MÉTODOS DE ENSINO TEÓRICO E PRÁTICO
	Capítulo 1 - OBJECTIVOS, PROGRAMA, APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO
	II. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO PROGRAMA E DOS SEUS CONTEÚDOS
	Capítulo 2 – O CRIME COMO OBJECTO DA SOCIOLOGIA
	Capítulo 3 – PRINCIPAIS MÉTODOS, TÉCNICAS DE PESQUISA E FONTES DE INFORMAÇÃO NA SOCIOLOGIA DO CRIME
	Capítulo 4 – SOCIOGÉNESE DA SOCIOLOGIA DO CRIME
	Capítulo 5 – A ABORDAGEM DO CRIME NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA
	Capítulo 6 – TEORIA DA ANOMIA DE MERTON E DA ESTRUTURA DAS OPORTUNIDADES ILEGÍTIMAS DE CLOWARD E OHLIN
	Capítulo 7 - A ESCOLHA DE CHICAGO: ESPAÇO URBANO, ECOLOGIA CRIMINAL E DESORGANIZAÇÃO SOCIAL
	Capítulo 8 – TEORIAS DA SUBCULTURA DELINQUENTE
	Capítulo 9 – TEORIA DA ROTULAGEM
	Capítulo 10 – GÉNERO E CRIME
	III. – PROBLEMÁTICAS, ORIENTAÇÕES E DEBATES ACTUAIS SOBRE O CRIME
	Capítulo 11 – TENDÊNCIAS DA CRIMINALIDADE, SISTEMA PRISIONAL E POLÍTICAS CRIMINAIS
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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