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1 ESCOAMENTO UNIFORME EM CONDUTOS FORÇADOS: PERDAS DE CARGA DISTRIBUÍDAS E LOCALIZADAS TERMINOLOGIA: Tubo: uma só peça, cilíndrica, de comprimento limitado pelo tamanho de fabricação ou de transporte, usado para o transporte de fluidos. Apresentam diâmetro não muito pequeno: tubo de ferro fundido, tubo de aço, tubo de PVC, tubo de polietileno. Quando funcionam com a seção cheia, em geral, estão sob pressão maior que a atmosférica. Quando não, funcionam como canais com superfície livre. Figura 1. Casos típicos de condutos livres (a, b, c) e conduto sob pressão. Conduto forçado: encanamento, tubulação sob pressão, tubulação de recalque e sucção, sifão verdadeiro, sifão invertido, coluna, etc. Conduto livre: canaleta, calha, dreno, interceptor de esgoto, galeria, curso d’água natural, etc. Cano: mesmo significado que “tubo”, o termo, entretanto, é utilizado para instalações prediais, de diâmetros menores, por pessoal leigo. Tubulação: conduto constituído de tubos (várias peças) ou tubulação contínua fabricada no local. Sinônimos: canalização, encanamento, tubulagem, tubagem. Rede: conjunto de tubulações interligadas em várias direções. 2 PERDA DE CARGA: No regime de escoamento laminar, ocorre uma resistência ao escoamento devido à viscosidade (Re < 2.000). No regime de escoamento turbulento, ocorre uma resistência devido ao efeito combinado da viscosidade e da inércia (Re > 4.000). Viscosidade ou atrito interno: capacidade do fluido converter energia cinética em calor, ou a capacidade do fluido resistir ao cisalhamento. Ocorre devido à força de coesão entre as partículas do fluido. símbolo μ (pouiseuille) = 10-3 N s m-2 na CNTP (20 °C e 1 atm) viscosidade cinemática cnv (m 2 s -1 ) nas CNTP νcn 10 -6 (m 2 s -1 ) A viscosidade ou atrito interno pode ser notada quando faz-se um movimento circular em uma massa de água dentro de um recipiente cilíndrico (balde, copo, panela), o fluido se movimentará em torno de um eixo, de modo que todo o líquido passará a participar do movimento. Atrito externo: é consequência da ação de freio exercida por uma camada estacionária de líquido, aderida à parede da superfície de escoamento. FLUIDO PERFEITO Viscosidade nula (ν = 0) Densidade constante (ρ = ‘cte’) Na Hidrostática podemos considerar a água como um fluido perfeito. Para a água em movimento, os efeitos da viscosidade são significativos, logo para o estudo de Hidrodinâmica a água não é considerada um fluido perfeito. 3 Figura 2. Exemplo de perfil de velocidades. Ação do atrito externo promove a camada estacionária junto às paredes (v = 0). Experiência de Reynolds: Osborne Reynolds (1883) observação do comportamento dos líquidos em escoamento. Utilizando corante como marcador, notou-se o comportamento das linhas de corrente em relação à velocidade de escoamento. Ao estado em que o escoamento forma um filamento colorido retilíneo, Reynolds deu o nome de Regime Laminar ou Lamelar. Ao estado em que o filamento colorido difunde-se na massa líquida, deu-se o nome de Regime Turbulento. Figura 3. Visualização das linhas de corrente por meio do filamento de corante nos regimes de escoamento laminar, transição e turbulento. Trabalhando com diversos diâmetros e temperaturas, Reynolds concluiu que o melhor critério para determinar o movimento em uma canalização depende de um valor adimensional, dado por: v DV Re Sendo: Re o número de Reynolds; V a velocidade de escoamento (m s -1 ); D o diâmetro do tubo (m); v a viscosidade cinemática do fluido (m 2 s -1 ). 4 Re < 2.000 regime laminar 2.000 < Re < 4.000 regime de transição Re > 4.000 regime turbulento Na prática, o movimento da água em tubulações é sempre turbulento: Ex: D = 25 mm; V = 0,5 m -1 (em geral a velocidade dos escoamentos na prática varia entre 0,5 e 2,0 m s -1 ) ; v = 0,000001 m 2 s -1 500.12 000001,0 1000 25 5,0 Re 5 CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS DE CARGA Perda de carga distribuída: ocorre devido à resistência ao longo dos condutos. Ocasionada pelo movimento da água na tubulação. É uniforme em qualquer trecho de canalização de dimensões constantes. Perda de carga localizada: também chamada de “acidental”, é provocada pelas peças especiais e singularidades da instalação (ex: tê, joelho, registro, entrada, saída, curva). Importante em tubulações curtas; desprezível em tubulações longas. PERDA DE CARGA DISTRIBUÍDA No escoamento, a resistência da água é: Diretamente proporcional ao comprimento da canalização (π∙D∙L) Inversamente proporcional a uma potência do diâmetro (1/Dm) Função de uma potência da velocidade média (Vn) Variável com a natureza das paredes do tubo (rugosidade), para o regime turbulento (K’) Independente da posição do tubo Independente da pressão interna sob a qual o líquido escoa Função de uma potência da relação entre a viscosidade e a densidade do fluido (μ/ρ)r r n p r r n m KKfazendo V D LKhf pmfazendo V D LDKhf ' 1 ' 1 1 ' K: coeficiente que considera as condições dos tubos (complexa) p n D VL Khf ' Equação básica da perda de carga em tubulações Na prática, as fórmulas empíricas substituem essa expressão geral. 6 Chezy (1775) a perda de carga varia ± com o quadrado da velocidade (n = 2). Darcy e Weisbach (1850) aprimoramento p = 1 e multiplicação do numerador e denominador por 2∙g. atritodeecoeficientoufdegKChamando gD VL gKhf ""2' 2 2' 2 gD VL fhf 2 2 Formula Universal Podendo ser descrita ainda como gD V fJ 2 2 sendo L hf J (m m -1 ; perda de carga unitária) O método apresenta limitações, porém não deve ser invalidado pois atende bem às necessidades normais de engenharia. Fator de atrito: O fator de atrito (f) é função do número de Reynolds e da rugosidade relativa. A espessura ou altura k das asperezas (rugosidade) dos tubos pode ser avaliada determinando-se valores para k/D. Sua determinação é feita em função do número de Reynolds (Re) e da rugosidade do tubo, tendo em vista o regime de escoamento. Para escoamento LAMINAR: Re 64 f Onde: f é o fator de atrito; Re é o número de Reynolds. Para escoamento de TRANSIÇÃO: Não se calcula o f. Equação de Colebrook e White fD e f Re 51,2 7,3 log2 1 Onde: D é o diâmetro da tubulação (m); e é o tamanho médio da aspereza do tubo. 7 Para escoamento TURBULENTO: Re > 4000 Calcular kD R / 9,0 Para 31 / 9,0 kD R (Turbulento Liso) 2 9,0Re 62,5 log2 f Para 448 / 31 9,0 kD R (Turbulento Misto) 2 9,0Re 62,5 71,3 log2 D k f Para 448 / 9,0 kD R (Turbulento Rugoso) 2 71,3 log2 D k f A perda de carga distribuída é influenciada, dentre outros fatores, pela rugosidade da tubulação, pelo envelhecimento do material. Devem portanto ser considerados: O material empregado na fabricação dos tubos O processo de fabricação dos tubos O comprimento de cada tubo e número de juntas A técnica de assentamento O estado de conservação A existência de revestimentos especiais O emprego de medidas protetoras no uso 8 Figura 4. Alterações na superfície interna do tubo devido ao uso. Com o decorrer do tempo e em consequência de outros fatores, a capacidade de transporte de água das tubulações decai, de modo que, por exemplo, em 50 anos de uso, um tubo de aço comum perde aproximadamente 50% da sua capacidade. No projeto de uma tubulação, a questão principal é determinar a quantidade de energia necessária para “empurrar” a quantidade de água entre um ponto e outro desta tubulação. Desde a apresentação da fórmula de Chézy (1775) inúmeras foram as expressões propostas para o mesmo fim. Darcy-Weisbach (1850) – exprime o fato de a perda de carga em determinada tubulação ser igual ao produto de um número puro pela carga de velocidade (V 2 /2g). Esta fórmula é aplicável ao problemas de escoamento de qualquer líquido em tubulações. gD VL fhf 2 2 Darcy-Forcheimer - QKJ 2 2 ' 2 QK g V QKv " Sendo K um coeficiente tabelado para tubos de ferro e aço, sem revestimento permanente, conduzindo água fria. 9 Tabela 1. Valores para o coeficiente K na fórmula de Darcy-Forcheimer, para tubos de ferro e de aço, sem revestimento permanente, conduzindo água fria. D (mm) K K' K" Tubo novo Tubo usado 10 58.392.500,0000 116.785.000,0000 8.263.800,0000 12.732,0000 20 1.169.250,0000 2.338.500,0000 516.490,0000 3.183,0000 30 125.155,0000 250.310,0000 102.022,0000 1.414,7000 40 26.280,0000 52.560,0000 32.281,0000 795,8000 50 7.937,0000 15.874,0000 13.222,0000 509,3000 60 3.011,0000 6.022,0000 6.376,4000 353,6800 75 995,0000 1.990,0000 2.730,0000 230,0000 100 206,2000 412,4000 82.638,0000 127,3200 125 66,5000 133,0000 344,0000 81,9000 150 25,3200 50,6400 163,2400 56,5900 200 5,7900 11,5800 51,6490 31,8310 250 1,8530 3,7060 21,1550 20,3720 300 0,7340 1,4680 10,2020 14,1470 350 0,3852 0,7704 5,5070 10,3940 400 0,1707 0,3414 3,2280 7,9580 450 0,0940 0,1880 2,0150 6,2880 500 0,0552 0,1104 1,3220 5,0930 550 0,0342 0,0684 0,9030 4,2100 600 0,0220 0,0440 0,6380 3,5370 Flamant (1892) – aplicada satisfatoriamente em tubos de pequeno diâmetro. 4 5 7 4 D V bJ Sendo b o coeficiente que depende da natureza e das paredes dos tubos. b = 0,00023 s 1,75 m -0,5 para tubos de ferro ou aço; b = 0,000 185 s 1,75 m -0,5 para tubos novos; b = 0,000 185 s 1,75 m -0,5 para canos de cobre; b = 0,000 140 s 1,75 m -0,5 para canos de chumbo; b= 0,000 135 s 1,75 m -0,5 para canos de PVC (catálogo da tigre) Hazen-Williams – aplicada em qualquer tipo de conduto e material. Estabelecida com base em milhares de observações, incluindo dados sobre condutos de 50 a 300 mm e velocidades de até 3,0 m s -1 . 10 852,1 871,4 1 646,10 C Q D J Tabela 2. Valores do coeficiente de rugosidade (C) para diversos materiais. Material C Aço corrugado 60 Aço com juntas lock-bar 90 Aço rebitado, tubos novos 110 Aço soldado, tubos novos 130 Concreto com bom acabamento 130 Aço galvanizado 125 Aço rebitado, em uso 85 Aço soldado em uso 90 Cobre 130 Concreto com acabamento comum 120 Ferro fundido novo 130 Ferro fundido usado 90 Ferro fundido 15-20 anos 100 PVC 140 Explicitando a vazão e a velocidade: 54,063,0 54,063,2 355,0 279,0 JDCV JDCQ 11 PERDA DE CARGA LOCALIZADA Especificamente ocorre em pontos determinados da tubulação (conexão, curva, registro, joelho, válvula, redução, etc.). Figura 5. Representação da turbulência em peças especiais. Expressão geral das perdas de carga localizadas g V khf 2 2 Onde: k é o parâmetro da perda de carga localizada 12 Tabela 3.Valores de K para cada peça especial. Peça K Ampliação gradual 0,30 Bocal 2,75 Comporta aberta 1,00 Controlador de vazão 2,50 Joelho de 90° 0,90 Joelho de 45° 0,40 Crivo 0,75 Curva de 90° 0,40 Curva de 45° 0,20 Tê 0,60 Válvula de pé 1,75 Válvula de gaveta 0,20 Válvula de retenção 2,50 Método dos comprimentos virtuais: A perda de carga localizada de um sistema hidráulico equivale à perda de carga de uma tubulação retilínea hipotética. O método consiste em se adicionar à extensão da tubulação, para simples efeito de cálculo, comprimentos tais que correspondam à mesma perda de carga causada pelas peças especiais. Levando em consideração todas as peças especiais e demais causas de perdas singulares, chega-se a um comprimento virtual de canalização. A tabela da página seguinte apresenta os comprimentos equivalentes às perdas localizadas em peças e acessórios mais frequentes nas tubulações. Os comprimentos, embora tenham sido calculados para tubulações de ferro e aço, poderão ser aplicados com aproximação razoável para outros materiais. Vale a pena calcular as perdas de carga localizadas? As perdas localizadas podem ser desprezadas nas tubulações longas, cujo comprimento exceda cerca de 4.000 vezes o diâmetro. São ainda desprezíveis nas tubulações em que a velocidade é baixa e o número de peças não é muito grande. 13 14 Exercícios: 1 – Para o abastecimento de água de uma fábrica será executada uma linha adutora com tubos de ferro fundido numa extensão de 2.100 m. Dimensione a tubulação para a capacidade de 25 L s -1 usando Darcy-Forcheimer. O nível de água na barragem de captação é de 615 m e a cota do NA sobre o tubo na entrada do reservatório de distribuição é 599,65 m. 2 – Uma estação de bombeamento recalca 220 L s-1 de água através de uma tubulação antiga de aço não revestido, com 500 mm de diâmetro interno e 1.600 m de extensão. Estime a economia mensal de energia elétrica que será feita quando esta tubulação for substituída por uma linha nova, de aço, com revestimento interno especial permanente, tipo epóxi. (R$ 0,10/kWh) 3 – Uma tubulação sob bombeamento com 500 mm de diâmetro, 10 km de extensão e desnível de 100 entre os níveis de água de montante e jusante, está funcionando com uma vazão de 220 L s -1 . As bombas funcionam afogadas, junto à tomada d’água, e o manômetro existente indica uma pressão de 135 mca, quando funcionando em regime. Responda: a) Qual o coeficiente C desta tubulação? b) Se com uma limpeza interna da tubulação o C aumentar em 20%, qual será a nova perda de carga unitária em m/km? 3 – Uma tubulação de aço rebitado, com 0,30 m de diâmetro e 300 m de comprimento conduz 130 L s -1 de água a 15,5 °C. A rugosidade do tubo é 0,003 m. (v 15,5°C = 0,000001132 m 2 s -1 ) Determine a velocidade média e a perda de carga. 4 – Calcular a perda de carga devida ao escoamento de 22,5 L s-1 de óleo pesado (934 kgf m -3 ) com um coeficiente de viscosidade cinemática de 0,0001756 m 2 s -1 , através de uma tubulação nova de aço de 150 mm de diâmetro e 6.100 m de extensão. 15 5 – Analisar as perdas locaisno ramal de 3/4” (A-B) que abastece o chuveiro de uma instalação predial, verificando qual a porcentagem dessas perdas em relação à perda por atrito ao longo do ramal. Aplique o método dos comprimentos equivalentes, considerando as seguintes perdas acidentais: 1 - Tê, saída do lado 2 - Cotovelo, 90 graus 3 - Registro de gaveta aberto 4 - Cotovelo, 90 graus 5 - Tê, passagem direta 6 - Cotovelo, 90 graus 7 - Registro de gaveta aberto 8 - Cotovelo, 90 graus 6 – Determinar a perda de carga total no esquema da figura abaixo, utilizando a expressão hfl = K. V 2 /2.g para o cálculo da perda localizada e a fórmula de Flamant para o cálculo da perda de carga distribuída. Dados: - Material = PVC ( C = 140) - Diâmetro = 19 mm - Vazão = 0,4 l/s - Peças especiais: 1 entrada de Borda (K = 0,90) 2 curvas de 90 raio longo (K = 0,30) 2 curvas de 45 (K = 0,20) 1 registro de gaveta aberto (K = 0,20) 1 saída de tubulação ( K = 1,00) 16 7 – Uma canalização de ferro fundido com 30 anos de uso (C = 86), 800 m de comprimento e 0,3m de diâmetro está descarregando em um reservatório 601/s. Calcule a diferença de nível (h) entre o açude e o reservatório de distribuição das seguintes formas: a) Levando em conta nos cálculos todas as perdas de carga localizadas existentes e que são: - 1 entrada tipo borda - 4 curvas de 90 graus de raio longo - 2 registros de gaveta abertos - 1 saída de .tubulação b) Desprezando as perdas localizadas. Use o método dos comprimentos virtuais para o cálculo da perda de carga localizada e a fórmula de Hazen-Williams para o cálculo da perda de carga principal. 8 – Estimar a vazão na tubulação esquematizada abaixo, utilizando o método dos comprimentos virtuais para o cálculo da perda de carga localizada e a fórmula de Hazen-Williams para o cálculo da perda de carga normal. Dados: - Material = ferro fundido novo (C=130) - Diâmetro = 50mm - Peças especiais 1 entrada de Borda 3 curvas de 90 graus raio longo 17 2 curvas de 45 graus 1 registro de gaveta aberto 1 saída de tubulação 9 – Calcular o diâmetro da tubulação esquematizada abaixo, utilizando a expressão hfl = K.V 2 /2.g para o cálculo da perda de carga localizada e a fórmula de Hazen-Williams para o cálculo da perda de carga normal. Dados: - material = ferro fundido usado (C = 100) - vazão = 6 l/s - peças especiais: 1 entrada normal (K = 0,5) 3 curvas de 90 raio curto (K = 1,2) 2 curvas de 45 (K = 0,2) 1 registro de gaveta aberto (K = 0,2) 1 saída de tubulação (K = 1,0)
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