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Capitalismo Monopolista em Goiás

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
DARCI ROLDÃO DE CARVALHO SOUSA 
 
 
 
 
 CAPITALISMO MONOPOLISTA: A ECONOMIA DE TRABALHO 
VIVO EM GOIÁS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2008 
 2 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
DARCI ROLDÃO DE CARVALHO SOUSA 
 
 
CAPITALISMO MONOPOLISTA: A ECONOMIA DE TRABALHO 
VIVO EM GOIÁS 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social da 
ESS/UFRJ, como requisito parcial para 
obtenção do título de Doutora em Serviço 
Social. 
Orientadora: Profa. Dra. Cleusa Santos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2008 
 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha Catalográfica 
 
 Sousa, Darci Roldão de Carvalho 
 
 
 Capitalismo monopolista: a economia de trabalho vivo 
 em Goiás /Darci Roldão de Carvalho Sousa; orientadora: 
 Cleusa Santos − Rio de Janeiro: UFRJ, Escola de Serviço 
 Social, 2008. 
 
 151 f.; 
 
 
 Tese (doutorado) − Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
 Escola de Serviço Social. 
 
 Inclui referências Bibliográficas 
 
 
 1. Capitalismo monopolista 2. economia de trabalho vivo em Goiás 3. I. 
Santos, Cleusa. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Serviço 
Social. III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
DARCI ROLDÃO DE CARVALHO SOUSA 
 
CAPITALISMO MONOPOLISTA: A ECONOMIA DE TRABALHO 
VIVO EM GOIÁS 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Serviço Social da ESS/UFRJ, como requisito 
parcial para obtenção do título de Doutora em 
Serviço Social. Aprovada pela banca abaixo 
indicada: 
 
 
 
 
 
_________________________________________ 
Profa. Dra. Cleusa Santos 
 
___________________________________________ 
Prof. Drª. Fátima da Silva Grave Ortiz 
 
_________________________________________ 
Profa. Drª. Walderez Loureiro Miguel 
 
_________________________________________ 
Profa. Dra. Veralúcia Pinheiro 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. Ronaldo Coutinho 
 
 5 
 
O capitalista procura tirar o maior proveito do valor de uso de sua 
mercadoria. De repente, porém, levanta-se a voz do trabalhador, que 
estava emudecida pelo bombar do processo de produção: 
 
 
A mercadoria que te vendi distingue-se da multidão das outras 
mercadorias pelo fato de que seu consumo cria valor e valor que ela mesma 
custa. Essa foi a razão por que a comprastes. O que do teu lado aparece 
como valorização do capital é da minha parte dispêndio excedente de 
força de trabalho. Tu e eu só conhecemos, no mercado, uma lei, a do 
intercâmbio de mercadorias. E o consumo da mercadoria não pertence ao 
vendedor que a aliena, mas ao comprador que a adquire. A ti pertence, 
portanto, o uso de minha força de trabalho diária. Mas por meio de seu 
preço diário de venda tenho de reproduzi-la diariamente para poder 
vendê-la de novo. Sem considerar o desgaste natural pela idade etc., 
preciso ser capaz amanhã de trabalhar com o mesmo nível de força, saúde 
e disposição que hoje. Tu me predicas constantemente o evangelho da 
‘parcimônia’ e da ‘abstinência’. Pois bem! Quero gerir meu único patrimônio, 
a força de trabalho, como um administrador racional, parcimonioso, 
abstendo-me de qualquer desperdício tolo da mesma. Eu quero diariamente 
fazer fluir, converter em movimento, em trabalho, somente tanto dela 
quanto seja compatível com a sua duração normal e seu desenvolvimento 
sadio. Mediante prolongamento desmesurado da jornada de trabalho, 
podes em 1 dia fazer fluir um quantum de minha força de trabalho que é 
maior do que o que posso repor em 3 dias. O que tu assim ganhas em 
trabalho, eu perco em substância de trabalho. A utilização de minha força 
de trabalho e a espoliação dela são duas coisas totalmente diferentes. Se 
o período médio que um trabalhador médio pode viver com um volume 
razoável de trabalho corresponde a 30 anos, o valor de minha força de 
trabalho que me pagas, um dia pelo outro, é ___1___ ou 
 365X30 
__1___ de seu valor global. Se, porém, tu a consomes em 10 anos, 
 10950 
anos, pagas-me diariamente __1___ em vez de 
 10 950 
___1__ de seu valor global, apenas 1/3 de seu valor de 1 dia, e furtas-me 
 3 650 
assim diariamente 2/3 do valor de minha mercadoria. Pagas-me a força de 
trabalho de 1 dia, quando utilizas a de 3 dias. Isso é contra o nosso trato e 
a lei do intercâmbio de mercadorias. Eu exijo, portanto, uma jornada de 
trabalho de duração normal e a exijo sem apelo a teu coração, pois em 
assuntos de dinheiro cessa a boa vontade. Poderás ser um cidadão 
modelar, talvez sejas membro da sociedade protetora dos animais, podes 
até estar em odor de santidade, mas a coisa que representas diante de 
mim é algo em cujo peito não bate nenhum coração. O que parece bater aí 
é a batida de meu próprio coração. Eu exijo a jornada normal de trabalho, 
porque eu exijo o valor de minha mercadoria, como qualquer outro 
vendedor. 
 
 
 Marx (1985a, p. 189-190). 
 
 
 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho tem como objeto a economia de trabalho vivo em Goiás no período 
de 1970 a 2002. Um fenômeno histórico que compõe o processo retardatário de 
industrialização na periferia do mundo capitalista. Suas determinações ontogenéticas 
estão fincadas no movimento que impulsiona a internacionalização do capital. 
A análise da realidade evidencia a deflagração desse processo na sociedade 
goiana, quando deslancha a desconcentração industrial de São Paulo para outros 
estados brasileiros. Esta incorporação de Goiás ao mercado capitalista mundial vincula a 
indústria à agricultura ao desencadear o processo de modernização conservadora. Essas 
mudanças forjam relações sociais capitalistas aqui, introduzidas pelas empresas 
industriais de novo estilo, que penetram em lugares, que se tornam pólos de crescimento 
econômico para o capital. Sustentadas por investimentos públicos e privados, elas 
articulam as regiões às demandas de superlucros do grande capital. Como indutoras da 
economia de trabalho vivo, requerem maquinaria complexa, radicalizando o domínio do 
trabalho morto sobre o trabalho vivo, forjando a satelitização de pequenas e 
microempresas que garantem a extração do sobretrabalho nos seus espaços a baixos 
custos. Procuramos relacionar este objeto em suas conexões internas e externas, tendo 
por base o processo de reprodução ampliada do capital. Esta demanda remete-nos à 
pesquisa bibliográfica, documental (em Censos Demográficos do IBGE, DIEESE, 
FIEG, FETAEG, MT, Juceg). Ainda, buscamos fontes secundárias em pesquisasjá 
realizadas, obedecendo aos critérios: ramo de atividades (alimentícia, farmacêutica, 
mineração e montadoras), maior representatividade na produção industrial e escolha de 
cidades pelas localizações das empresas indicadas para a pesquisa. 
Conclui-se que a relação desigual entre o centro e a periferia gera um 
desenvolvimento capitalista desigual e combinado, que tem por base a troca desigual 
fundada na economia de trabalho vivo. No estágio do capitalismo monopolista, a 
economia do trabalho vivo constitui-se elemento intrínseco ao modo de produção 
especificamente capitalista. É a lei geral da acumulação capitalista. A grande indústria e 
suas empresas industriais de novo estilo conectam-se sob a mediação de processos 
unidos organicamente: produção, consumo, circulação e troca. 
 
Palavras-chave: capitalismo monopolista - economia de trabalho vivo – 
acumulação capitalista. 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
This paper focuses on the reduction of living work in Goiás from 1970 to 2002. 
This historical phenomenon is part of a tardy industrialization process on the periphery 
of the capitalist world, whose ontogenetic determinations are connected to the 
movement which impels the internationalization of capital. 
The analysis of this reality shows the deflagration of such process in the society 
in Goiás, when the process of industry de-concentration is launched, spreading it from 
São Paulo to other Brazilian states. This inclusion of Goiás to the world capitalist 
market connects industry to agriculture when it starts the process of conservative 
modernization. These changes forge capitalist social relations here, introduced by the 
new style industrial companies, which penetrate places which become centers of 
economic growth for capital. Supported by public and private investments, they link 
these regions to the demands of super profits of capital. As inductors of the reduction of 
living work, they require complex machinery, promoting the satellitization of micro and 
small enterprises which ensure the extraction of overwork in their space at low costs. 
This piece has tried to link this subject in its internal and external connections, 
based on the process of increased reproduction of capital. This need takes us to the 
bibliographical research of documents (in national censuses performed by IBGE (the 
Brazilian Institute of Geography and Statistics), DIEESE (Inter Trade Union 
Department of Statistics and Socio-Economic Studies), FIEG (Industry Federation of 
the State of Goiás), FETAEG (Federation of Agricultural Workers of the State of 
Goiás), MT (Ministry of Labor) and Juceg (Trade Board of the State of Goiás)). 
Secondary sources in published research have always been consulted , according to the 
following criteria: field of activity (foodstuff, pharmaceutical, mining and assemblers), 
major role in the industrial production and choice of cities according to the location of 
the companies selected for this research. 
This study comes to the conclusion that the uneven relation between the center and 
the periphery generates combined uneven capitalist development, which is based on the 
uneven exchange founded on the reduction of living work. At the stage of monopolist 
capitalism, the reduction of living work is an element which is intrinsic to the specifically 
capitalist means of production. It is the general law of capitalist accumulation. The great 
industry and its new style industrial companies are connected through the mediation of 
organically united processes: production, consumption, circulation and exchange. 
 
Key words: monopolist capitalism – reduction of living work – productive 
salaried work - capitalist accumulation. 
 8 
 
 
 
 
 
 
 
 
RÉSUMÉ 
 
 
Cette étude traite de l’économie du travail vivant dans l’État de Goiás au cours 
de la période 1970 à 2002. Il s’agit là d’un phénomène historique faisant partie du 
processus retardataire de l’industrialisation à la périphérie du monde capitaliste. Ses 
déterminations ontogénétiques sont ancrées dans le mouvement qui stimule 
l’internationalisation du capital. 
L’analyse de la réalité met en évidence la propagation de ce processus dans la société 
goianaise lors du démarrage de la déconcentration industrielle de São Paulo vers les autres 
états brésiliens. Cette incorporation de l’État de Goiás dans le marché capitaliste mondial relie 
l’industrie à l’agriculture en déclenchant le processus de modernisation conservatrice. Tous 
ces changements ont établi ici des relations sociales capitalistes, introduites par les entreprises 
industrielles de nouveau style qui, en pénétrant un peu partout, deviennent des pôles de 
croissance économique pour le capital. Soutenues par des investissements publics et privés, 
elles articulent les régions pour répondre aux exigences de superprofit du grand capital. En 
tant qu’inductrices de l’économie du travail vivant, elles exigent des équipements complexes, 
radicalisant ainsi la domination du travail mort sur le travail vivant et instaurant la 
satellisation de petites et moyennes entreprises qui, à leur tour, assurent dans leur domaine 
l’extraction du surtravail à faible coût. 
Nous avons cherché à expliquer cet objet dans ses liaisons internes et externes, 
sur base du processus de reproduction élargie du capital. Cette exigence nous renvoie à 
la recherche bibliographique, documentaire (dans Cens Démographiques de l’IBGE, 
DIEESE, FIEG, FETAEG, MT, Juceg). En outre, nous avons eu recours à des sources 
secondaires dans les recherches déjà réalisées sur le thème, en obéissant aux critères 
suivants : secteur d’activité (alimentaire, pharmaceutique, minération et constructeurs 
automobiles), plus grande représentativité dans la production industrielle et choix des 
villes selon la localisation des entreprises indiquées pour cette recherche. 
On en conclut que la relation d’inégalité entre le centre et la périphérie provoque 
un développement capitaliste inégal et combiné, fondé sur l’échange inégal qui est basé 
sur l’économie du travail vivant. Au niveau du capitalisme monopolistique, l’économie 
du travail vivant constitue un élément intrinsèque au mode de production typiquement 
capitaliste. Il s’agit là de la loi générale de l’accumulation capitaliste. La grande 
industrie et ses entreprises industrielles de nouveau style se relient par l’intermédiaire de 
processus organiquement unis : production, consommation, circulation et échanges. 
 
Mots-clés : capitalisme monopolistique – économie du travail vivant – travail 
salarié productif – accumulation capitaliste. 
 9 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO................................................................................................ 10 
 
 
CAPÍTULO I – ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E ECONOMIA DE 
TRABALHO VIVO, UMA CONTRADIÇÃO 
CONTEMPORÂNEA ............................................................19 
 
 
CAPÍTULO II – A EXPANSÃO DO CAPITALISMO MONOPOLISTA NO 
BRSIL, NA RELAÇÃO CENTRO E PERIFERIA ................51 
 
 
2.1 - Acumulação capitalista nos países do centro, a lógica 
destrutiva ........................................................................52 
 
 
2.2 – Acumulação capitalista na periferia: a realidade 
 brasileira .........................................................................74 
 
 
CAPÍTULO III – A ECONOMIA DE TRABALHO VIVO EM GOIÁS .........110 
 
 
3.1 – Acumulação capitalista: os pólos de crescimento 
econômico para o grande capital e a economia de trabalho 
vivo ..............................................................................117 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................133 
 
 
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................137 
 
 
ANEXOS ...........................................................................................................147 
 
 10 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A exposição que ora apresentamos tem por objeto de pesquisa a economia de 
trabalho vivo em Goiás, de 1970 a 2002. Examinar este objeto torna-se imprescindível e 
desafiador por entendermos que esse período – síntese das circunstâncias particulares do 
pós-ditadura militar, a partir de seu declínio na sociedade brasileira, em face às novas 
determinações postas no e pelo atual estágio do capitalismo monopolista/imperialista – 
gera mudanças que, próprias das sociedades tardo-burguesas instituidoras de outro 
padrão de acumulação do capital, mesmo retardatárias, apropriam e alteram o processo 
de reprodução ampliada do capital na periferia. Essas mudanças reconfiguram a 
produção e a organização internacional do trabalho, consolidando a subordinação da 
periferia ao centro, e, nela, modificando a divisão sociotécnica do trabalho assalariado 
produtivo por constituir, em condições histórico-sociais particulares, a subsunção real 
do trabalho ao capital e a possibilidade da economia de trabalho vivo. Ainda, 
redesenham o quadro do poder político-econômico mundial sob a hegemonia de grupos 
de monopólios que, sobrepondo aos Estados-nação na periferia e aos seus povos, 
radicalizam a contradição socialização da produção e apropriação privada. Essas 
condições objetivas interferem, diretamente, e de modo mais intenso, sobre o destino da 
classe trabalhadora urbana e rural, no Brasil. 
É a crise geral da sociedade capitalista contemporânea1 – a primeira grande 
crise generalizada, no pós-Segunda Guerra Mundial – que emerge no núcleo do poder e 
engloba todas as grandes potências imperialistas em uma grave recessão. Inicia-se na 
década de 1970, precisamente em 1973, explicitada pelo recuo da produção industrial e 
do Produto Interno Bruto (PIB), pela diminuição da demanda interna desses países e da 
exportação, e pelo impulso das lutas operárias. Essas mudanças sócio-econômicas e 
ídeo-políticas derruem os “30 anos gloriosos” e demarcam uma transição histórica – 
 
1
 Esta crise é analisada, de modo aprofunndado, por autores da tradição marxista, como Hobsbawm, 1995; 
Harvey, 1996; Anderson, 1983; Chesnais, 1996; Netto, 1993; Ianni, 1992; Guerra, 1998, dentre outros. 
 11 
ainda longe de completar-se – (HARVEY, 1996) ao modo de produção capitalista e ao 
seu “esquema de reprodução”. 
A repercussão desse processo na sociedade brasileira e que, sob outras 
condições objetivas e subjetivas, apanha, também, a sociedade goiana, expressa-se, 
de um lado, na sua incorporação à economia nacional e internacional como 
fornecedora de matérias-primas, produtos primários e força de trabalho barata para 
as áreas industrializadas do Centro-Sul do país. De outro, o grande capital alcança 
e atinge o trabalho assalariado produtivo – o do chão da fábrica –, exigindo-lhe 
novas competências à medida que o incorpora aos seus ditames. Isto por que dos 
modos de produção existentes, o capitalista é o único que, constantemente, se 
revoluciona, pois lhe é imanente o movimento de renovação das condições 
materiais de sua valorização (da cooperação simples à manufatura e, desta, à 
grande indústria). Por ter esta capacidade, é que vem conseguindo ainda, mesmo 
com suas novas contradições e crises, rearticular-se. 
 
Um sistema particular de acumulação pode existir porque ‘seu esquema de 
reprodução é coerente’ [com o seu tempo histórico]. (...) Tem de haver, 
portanto, uma materialização do regime de acumulação, que toma a forma 
de normas, hábitos, leis, redes de regulamentação etc., que garantam a 
unidade do processo. (HARVEY, 1996, p. 117) 
 
 
Nessa perspectiva, algumas questões já se colocam a este objeto: qual o 
movimento do real que engendra a economia de trabalho vivo na realidade goiana? 
Como essa movimentação contraditória – de conservação e de modificação – 
implica e incide de modo particular nos processos da produção e do trabalho, em Goiás, 
diferente da forma “clássica”? 
Intentamos reconstruir, na presente tese, sob a luz dos pressupostos marxianos (e 
engelsianos), a trajetória da expansão do capitalismo monopolista em Goiás, ao mesmo 
tempo, relacionando-a à do Brasil/América Latina e à sua constituição/desenvolvimento 
nas sociedades do centro, para elucidar, em uma movimentação contraditória, as razões 
econômicas, políticas, sociais e culturais que geram as mudanças capazes de dinamizar 
e fazer crescer a economia do trabalho vivo na sociedade goiana, como uma 
particularidade inserida na realidade histórica brasileira. 
A nossa análise abarca o momento histórico de deflagração da crise geral no 
centro (1973), ao curso do processo da reprodução ampliada do capital até 2002. A 
 12 
escolha deste período demarca-se por ser esse momento em que, de fato, concretiza-se a 
(re)incorporação de Goiás, pertencente à Região Centro-Oeste, aos ditames agora do 
grande capital, na sua fase monopolista, sob a intervenção direta do Estado brasileiro. 
Sustentamos a tese de que a economia do trabalho vivo em Goiás em 
decorrência das mudanças deslanchadas pelo desenvolvimento desigual das forças 
produtivas no “mundo capitalista”, criadoras da troca desigual, em um contexto 
particular de disputa/luta entre as classes sociais, engendra processos de continuidade e 
de ruptura na periferia. 
A modernização do campo redefine, nesse espaço, as relações de produção com 
a introdução de novas tecnologias mantendo-se na condição de Estado fornecedor de 
matéria-prima para os centros hegemônicos. Ao lado dessa realidade desenvolve-se 
vários pólos industriais, nas suas principais cidades movidos pelo deslocamento do 
capital do centro para a periferia. 
 Com base nessa problemática, o objetivo central deste estudo é explicar essa 
forma particular que o processo de reprodução ampliada do capital toma em Goiás. É 
quando desata imbricado nesta expansão, a partir da década de 1970 e, internamente, no 
Brasil, um outro processo: a “desconcentração industrial” de São Paulo – o centro 
hegemônico – para o interior paulista e outros estados brasileiros, o qual impõe a estes 
últimos, em pontos estratégicos definidos pelo grande capital, o desenvolvimento 
industrial, mas não a indústria pesada. Daí, a origem das cidades artificiais (MELO 
NETO, 1987), que “brotam como cogumelos”, como afirmara Marx (1985b). 
Buscamos resgatar, na historiografia contemporânea de Goiás, o processo que 
impulsiona a industrialização/urbanização com o aumento do índice demográfico pela 
migração,2 inicialmente, para as cidades de Goiânia e Anápolis, também, para Brasília no 
decorrer dessas mudanças. Estas ocorreram a partir dos anos de 1970, aliadas a outras já 
herdadas,3 com o incremento das rodovias4 que, aos poucos, vão substituindo as ferrovias. 
 
2
 Após 1980, a Região Centro-Oeste alcança a segunda maior taxa de urbanização (67,75%), perdendo só 
para a Região Sudeste. Sua população guarda “peculiaridades em função do potencial de trabalho. (...) 
Em termos de faixa etária, 31 por cento dos habitantes têm menos de 14 anos de idade e outros 30 por 
cento menos de 29 anos. Constituem, no todo, potencial força de trabalho que, a curto e médio prazo, 
representa um mercado abundante de [força de trabalho] ainda não devidamente aproveitado. São os 
milhares de jovens (...) que estão sendo, pouco a pouco, integrados ao surto agroindustrial, na 
reestruturação agropecuária e mineral que o Estado vem aprimorando” (ESTEVAM, 2005, p. 1) 
3
 Esses germes de mudanças tomam configurações particularesnos diferentes estados/regiões do país, e 
na condição sócio-histórica de Goiás, têm papel relevante no processo de reprodução ampliada do capital, 
aqui, a expansão expropriadora da pecuária desde o início do século XIX e a construção da Estrada de 
Ferro Goiás (1913), sendo que esta última favorece a exportação de produtos agrícolas e gado para o 
Triângulo Mineiro e São Paulo. No entanto, há já que se diferenciar nessa época, ligeiramente, a zona 
 13 
Segundo Estevam (2005, p. 1), o ponto de ruptura deu-se, 
 
quando a indústria auferiu frações significativas de renda interna e o setor de 
serviços sustentou sua participação em função da acelerada urbanização 
regional. Tal fato pode ser também comprovado através da estrutura de 
ocupação e emprego da população ao longo destas últimas décadas. Em 
1970, 60,4 por cento da PEA em Goiás ainda estava voltada para a 
agricultura (pecuária, silvicultura, extração vegetal, caça e pesca); nas 
atividades industriais (transformação e construção), estava o correspondente 
a 8,9 por cento e nos serviços 11,5 por cento da PEA. Em 1980, apenas 39,2 
por cento da população economicamente ativa estava no setor agrícola, 16,5 
por cento no industrial e 18,6 por cento na prestação de serviços; a partir de 
então, a estrutura de ocupação foi se alterando gradualmente – na década – 
em detrimento do setor agrícola e em favor do setor industrial e dos serviços. 
 
 
O crescimento da população urbana acelera-se na década de 1980 e vai se 
aglomerando na Região Metropolitana de Goiânia e no Entorno de Brasília que, a 
despeito do processo de “modernização conservadora”, irrompido no pós-1970, avança 
a “industrialização da agricultura”, assentada em uma política de economia de trabalho 
vivo em decorrência da incorporação de maquinário (5.692 tratores, pulando para 
33.548 em 1985, e 43.313 em 1995) e insumos, via crédito rural (ESTEVAM, 1998, p. 
173). 
Essas condições fulcrais exigidas para a expansão do capitalismo monopolista, 
no Estado de Goiás, indicam que 54% dos tratores estão nas médias propriedades rurais 
(de 100 hectares a 1000 hectares) e 30,0% nas grandes propriedades rurais (de 1000 
hectares a 10000 hectares) (ESTEVAM, 1998, p. 173). Agora transformadas em 
agroindústrias, são elas que têm acesso às inovações tecnológicas e aos incentivos 
fiscais, gerando alto nível de desemprego no campo, o que vai interferir sobremaneira 
 
urbana da rural. Deste modo, se “o tempo de transformações no Brasil foi uno e, ao mesmo tempo, 
plural[,] (...) a estrutura de Goiás somente pode ser compreendida, na sua inteireza, levando-se em conta o 
movimento de sua transformação resultante da interpenetração dos condicionantes nacionais e regionais. 
A reflexão que Goiás é resultado histórico particular do processo de desenvolvimento capitalista 
brasileiro, que não se trata de um espaço isolado e sim de fração integrante e interdependente da 
sociedade nacional. De outro, que Goiás constitui um “mundo à parte”, que tem espaço, movimento e 
ritmo de tempo próprios, balizados por progressos, retrocessos, diversidades, hetrogeneidades e 
contradições específicas” (ESTEVAM, 1998, p. 24-25). 
4
 A primeira estrada de rodagem para o trânsito dos primeiros automóveis é construída no sudoeste 
goiano – de Santa Rita, Rio Verde, Jataí a Mineiros –, pela Cia. Auto-Viação Sul-Goiana S/A. Inaugurada 
em 1919, com sede em Rio Verde, esta empresa privada inicia a era do automóvel em Goiás, com linhas 
regulares de transporte de passageiros e cargas, realizadas com “10 Ford Double Phaeton, Modelo T, 2 
caminhões Ford de 1 tonelada de carga e 1 carro Studebaker Big Six, de 7 lugares. (...) foram comprados 
em São Paulo [empresa norte-americana ali instalada desde 1919], ao preço de 3 contos e seiscentos mil 
reis (3:600$000) e 2 contos e seiscentos mil réis (2:600$000), cada unidade, respectivamente. Na cidade 
de Rio Verde foi montada também uma oficina mecânica, com estoque de peças e acessórios 
indispensáveis à manutenção dos carros em toda a região” (FRANÇA, 1979, p. 177). E novas empresas 
privadas seguiram-lhe o caminho em vários pontos do sul goiano. 
 14 
na redução dos salários dos trabalhadores assalariados produtivos ocupados/desocupados e 
na proliferação da “informalidade”. Este fenômeno, que não é novo em Goiás, mas foge ao 
tratamento analítico desta exposição, explode a partir da década de 1990 e toma uma 
configuração nova ao tornar-se funcional ao capital, portanto, necessária à acumulação 
capitalista por escamotear a relação de compra e venda da força de trabalho favorecida pela 
“flexibilização” dos processos da produção e do trabalho, intensificando a sua precarização 
no capitalismo contemporâneo (TAVARES, 2002). 
O processo de industrialização/urbanização acentua-se depois de 1990, 
ampliando para o sul e sudeste goianos5 (e não para o norte) a exportação das “fábricas 
prontas” (MANDEL, 1990) ou empresas industriais de “novo estilo” (CHESNAIS, 
1996), transnacionais, brasileiras e regionais, que disseminam aqui as relações 
capitalistas propriamente ditas, com a subsunção real do trabalho ao capital. A elevação 
do grau da produtividade do trabalho social possibilita que essas empresas industriais de 
“novo estilo” com o uso intensivo da maquinaria, para a garantia de maior fluxo de 
mercadorias mais baratas, poupem mais força de trabalho viva, introduzindo a economia 
de trabalho vivo na periferia. A busca da saída da crise e da retomada dos superlucros 
dos monopólios têm implicado, de um lado, em mais investimentos para o Monsieur 
Capital e, de outro, na redução dos custos do trabalho mesmo em lugares que nunca 
tenha existido o Welfare State. 
Essas condições vão redundar em crescimento econômico para o grande capital, 
em um mercado unificado, em detrimento das condições sociais com mais desemprego 
e revigoramento da produção/reprodução de uma “superpopulação relativa” funcional a 
ele, a ocorrência permanente do rebaixamento dos salários, que resulta na queda 
incessante da qualidade de vida dos trabalhadores assalariados produtivos, no campo e 
na cidade. Esses trabalhadores passam a ocupar os espaços menos valorizados dos 
centros urbanos, formados, em sua maioria, por áreas baixas, rentes aos rios, ou 
íngremes, nas encostas dos morros ou próximas ao local de trabalho, originando as vilas 
operárias, os cortiços, as favelas, “as casas de cômodos” e, na condição particular da 
 
5
 Para a Secretaria de Estado do Planejamento de Goiás (SEPLAN-GO), do Setor de Gerência de 
Estatísticas Sócioeconômicas (2003), no ano 2000, a indústria foi a que acumulou e concentrou maior 
riqueza, com uma “participação de 69,24%, (...) [dos quais,] Goiânia participu, sozinha, com 36,08% (...) 
na geração do valor adicionado da indústria estadual. Os dez municípios com melhor desempenho na 
agropecuária somaram 25,04% em relação ao total deste setor, no Estado”. Goiânia sobressai nos ramos 
da construção civil, vestuários, confecções e acessórios, produtos alimentícios e metalúrgicos e indústria 
moveleira. Anápolis vem em seguida com 8,30%, desenvolvendo as indústrias farmacêuticas, produção 
de adubos, alimentos, embalagens e metalurgia. Depois Catalão (4,90%) com a produção mineral e 
montadora de automóveis e, por fim, Rio Verde (3,41%) com a instalação de agroindústria. 
 15 
sociedade goiana, as áreas de posse urbana, alimentando e fazendo crescer a cada dia o 
exército industrial de reserva. 
 Consideramos que o estudo do objeto – a economia de trabalho vivo – é, hoje, 
fundamental, para explicar o atual estágio do capitalismo monopolista na periferia, pois, 
as condições histórico-sociais ainda constituem aacumulação capitalista e a produção 
da mais-valia – absoluta e relativa – como relação orgânica. A concentração e a 
centralização do capital, de modo exponencial neste estágio, “exerce influência sobre o 
destino da classe trabalhadora” (MARX, 1985b, p. 187). 
No percurso histórico e teórico-metodológico, do estudo, buscamos reconstruir, 
fundamentando-se na crítica da economia política, este objeto, historicamente dado, 
constituído no processo da acumulação capitalista e de priorização da exploração da 
mais-valia relativa, condição essencial para a existência do capitalismo monopolista 
mundial. 
Procuramos relacionar este objeto em suas conexões internas e externas, 
tendo por base o processo de reprodução ampliada do capital. Esta demanda remete 
à pesquisa bibliográfica (em livros, artigos, dissertações, teses etc.), à pesquisa 
documental (em Censos Demográficos do IBGE, DIEESE, FIEG, FETAEG, MT, 
Junta Comercial do Estado de Goiás, Secretaria da Indústria e Comércio). É 
importante registrar o impedimento do acesso direto da pesquisadora às 
dependências dessas empresas. Por outro lado, aos trabalhadores era vedada o 
repasse de informações sob pena de demissão. Diante da impossibilidade de obter os 
dados no trabalho de campo, buscamos as fontes secundárias em investigações 
empíricas realizadas em empresas industriais de “novo estilo”, instaladas em Goiás. 
O critério utilizado para escolha das empresas foi o ramo de atividades (alimentícia, 
farmacêutica, mineração e montadoras) e as de maior representatividade na produção 
industrial, segundo percentual do Valor Adicionado Bruto (VAB), de 2000. As 
cidades escolhidas foram indicadas pelas localizações das empresas indicadas para a 
pesquisa. Pretendíamos identificar as implicações do processo de “modernização 
conservadora”, estratégia que se instala e se reveste de importância relevante à 
abertura das condições internas favoráveis à reprodução ampliada do capital, isto é, 
à produção e reprodução das relações especificamente capitalistas em Goiás. Se esse 
processo é tardio no Brasil em relação ao centro e, mesmo, a outros países da 
América Latina como o Chile e Argentina, é só na década de 1990 que ele encontra 
terreno fértil na realidade goiana. 
 16 
E, para analisarmos esse processo que põe a economia do trabalho vivo em 
Goiás, organizamos o nosso trabalho “Capitalismo monopolista: a economia de trabalho 
vivo em Goiás”, em três capítulos articulados, tendo então por base a proposta teórico-
metodológica, o objeto e o problema que norteiam a pesquisa. 
Se é no estágio do capitalismo monopolista, que o trabalho morto domina o 
trabalho vivo, o primeiro capítulo “Crise do capital: acumulação capitalista e economia 
do trabalho vivo, uma contradição contemporânea” trata desta polêmica, em âmbito 
mundial. Ao fazê-lo buscamos recuperar o debate atual que põe o crescimento da 
economia do trabalho vivo na periferia do “mundo capitalista”. Este movimento 
implica em revisitar autores da tradição marxista como Mandel (1985), Hobsbawm 
(1995), Mészáros (1995), Harvey (1996) e Antunes (1995), que embatem com as teses 
dos partidários do fim da “sociedade do trabalho”, porque negam o trabalho como a 
categoria fundante da socialidade humana. Recolocamos, na mesa, “em tempos 
neoliberais”, o debate da situação da classe trabalhadora na sociedade burguesa e as 
múltiplas mediações postas pela relação capital e trabalho, buscando explicar uma das 
leis básicas de movimento do capitalismo – o fenômeno da reprodução ampliada do 
capital – na periferia. Procuramos explicar, fundada na afirmação de que todo processo 
de produção é ao mesmo tempo processo de reprodução, que o modo de produção 
capitalista tem por base a troca desigual, isto é, a diferença na produtividade média do 
trabalho entre o centro e a periferia. Por isso, a troca desigual é lesiva tanto para os 
países não-hegemônicos do centro como para os da periferia capitalista. Salvaguardadas 
as diferentes singularidades, gera um capitalismo de desenvolvimento desigual e 
combinado ou um desenvolvimento capitalista articulado, do qual faz parte a periferia. 
Nela, o capitalismo constitui-se com a mesma essência, no entanto, toma uma 
configuração particular. A apreensão e análise dessa dinâmica da sociedade burguesa 
devem ser buscadas na crítica à economia política. 
No segundo capítulo, “A expansão do capitalismo monopolista no Brasil, na 
relação centro e periferia”, buscamos explicar, com a expansão do capitalismo 
monopolista na particularidade histórica da sociedade brasileira, a economia do trabalho 
vivo no Brasil e sua influência no destino dos trabalhadores assalariados produtivos. 
Porém, a fundamentação teórico-metodológica que embasa esta exposição, exige 
apanhar o movimento do real que a originou e, ao mesmo tempo, que a contém, a 
hegemonia britânica desbancada pela a norte-americana, para dar conta de, ao entender 
a origem da acumulação capitalista, analisar a constituição da economia do trabalho 
 17 
vivo como uma lógica destrutiva, à medida que a redução da força de trabalho 
assalariada faz crescer a população disponível ao capital. Esse fato histórico tem na 
metade da década de 1950 o marco da (re)incorporação da sociedade brasileira como 
um dos pólos dinâmicos do capitalismo monopolista mundial, em sua segunda irrupção, 
pois até esta década não conformava as condições materiais exigidas para a subsunção 
real do trabalho ao capital. Nesse processo, tenta-se compreender como o grande capital 
consolida São Paulo, no Brasil, o centro hegemônico do processo de industrialização e 
torna-o um dos maiores no ranking latino-americano da indústria de transformação 
alimentícia e da indústria/montadora automobilística com inserção externa no comércio 
capitalista de mercadorias, porém com modesta participação na indústria de produção de 
bens de capital. 
No terceiro capítulo, “A economia de trabalho vivo em Goiás”, propomo-nos a 
analisar as determinações históricas que vêm forjando a economia de trabalho vivo, em 
Goiás, no bojo das relações, especificamente capitalistas, próprias do processo de 
expansão do capitalismo monopolista mundial e, no mesmo movimento, relacionando-
as em âmbito nacional. Em Goiás, o processo de reprodução ampliada do capital só tem 
a sua dinâmica instituída a partir dos meados da década de 1980, quando a economia, 
centrada na agropecuária, é superada pela indústria (ESTEVAM, 1998; DEUS, 2003; 
SILVA, 2001; MENDONÇA, 2004). 
Desencadeia-se, daí em diante, os novos rumos para Goiás, resultado do pacto 
da Marcha para o Oeste que, em função do processo de industrialização/urbanização, o 
Estado brasileiro impulsiona a ampliação das relações mercantis e, com elas, o 
adensamento populacional pela migração no sul/sudeste goianos. Buscamos então 
examinar as condições materiais que tornam Goiás uma sociedade urbano-industrial, 
tendo como pólo irradiador a cidade, que se expande para o campo e “o industrializa”. 
Acelera-se então o processo da acumulação capitalista em lugares estratégicos, os quais 
vão se constituindo em verdadeiros pólos de crescimento econômico para o grande 
capital, à medida que empresas industriais “de novo estilo” vão penetrando em Goiás 
como indutoras nos “mercados imperfeitos” do processo de internacionalização do 
capital industrial. 
Esses pólos articulam essas regiões às demandas de superlucros ao grande 
capital, sustentados por investimentos públicos e privados. Deste modo, a grande 
indústria apropria do valor criado por todos os trabalhadores assalariados produtivos, 
inclusive aqueles que desempenham funções do trabalho coletivo fora do seu espaço 
 18 
(pequenas e micro-empresas, nos trabalhos autônomos, “por conta própria” etc.), 
construindo as condições de, ao elevar a produtividade trabalho social, economizar 
trabalho vivo em Goiás. 
Nestaparte da exposição, procuramos desvelar a face da economia do trabalho 
vivo, aquela que expõe, sem meios termos, o despotismo do grande capital no seu 
estágio monopolista/imperialista, momento histórico considerado por muitos 
pesquisadores, dentre eles Fernandes (1974), como o mais devastador, face às 
exigências histórico-sociais postas para a sua constituição no centro e na periferia. Ao se 
instituir como acumulação capitalista, o modo de produção direciona-se no sentido da 
formação do trabalho excedente à custa da elevação da produtividade do trabalho social. 
A acumulação capitalista é constituída em condições objetivas e subjetivas tais que o 
capital torna-se capaz de, ao economizar trabalho vivo, levar ao ápice, no processo de 
trabalho, o empobrecimento material e espiritual dos trabalhadores assalariados 
produtivos e a descartar, no seu processo de valorização, os seus investimentos na 
reprodução da força de trabalho por privilegiá-la ao Monsieur Capital. 
Na sequência, apresentamos as considerações finais, em que, com base no 
exposto, reafirmamos a existência do trabalho assalariado produtivo no chão da fábrica 
e defendemos a centralidade da categoria trabalho na sociedade burguesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
 
 
Acumulação capitalista e economia do trabalho vivo: uma contradição 
contemporânea 
 
Mas por tanto tempo quanto continuarem a produzir como hoje, de 
forma inconsciente e irrefletida, (...) as crises subsistirão; e cada uma 
delas que vier deverá ser mais universal e, pois, pior do que a 
precedente: deve pauperizar maior número de pequenos capitalistas e 
aumentar progressivamente o efetivo da classe que só vive do 
trabalho, e, portanto, aumentar visivelmente a massa de trabalho a 
ocupar (o que é o principal problema dos nossos economistas) e 
provocar por fim uma revolução social tal que a sabedoria escolar dos 
economistas jamais sonhou. 
Engels, 1844 
 
 
 
 
Ao assumirmos a matriz marxiana (e engelsiana) como fundamento teórico-
metodológico e ídeo-político desta exposição, neste capítulo, buscamos reconstruir, no 
movimento do capital e do trabalho, o processo do objeto historicamente dado – a 
economia do trabalho vivo –, no seu confronto com o trabalho morto, em sua condição 
de constituído e constituinte do processo da acumulação capitalista. Este processo, 
hegemonizado pela industrialização e acompanhado pela hipertrofia do financeiro, 
próprios do estágio do capitalismo monopolista maduro, para ser desvendado na atual 
crise do capital, é preciso que o entendamos como dela decorrente e da própria lógica 
 20 
destrutiva do grande capital, em um contexto de luta de classes, favorável a um 
desenvolvimento do capitalismo desigual e combinado. 
Faz-se necessário, então, a análise do processo de acumulação capitalista que 
põe a subsunção real do trabalho ao capital, condição para entendermos como e por que 
a ordem burguesa produz/reproduz a economia de trabalho vivo, resultado da forma de 
como o capitalismo produz-se e reproduz-se historicamente. 
Para fazer este movimento, buscamos as contribuições de Hobsbawm (1995),6 
Harvey (1996),7 Mandel (1985),8 Mészáros (2002),9 e Antunes (1995),10 como autores 
pertencentes a um mesmo campo e ao conjunto da tradição marxista, portanto, 
comungando um núcleo teórico-metodológico e ídeo-político comum, sem deixar de 
explicitar a sua heterogeneidade, uma vez que, no seu seio, esse campo (e todos os 
demais) não comporta um bloco monolítico, mas matizes diversos 
É inconteste que entre estes autores que a existência histórica da produção e da 
reprodução do capital marca o seu processo de formação, desenvolvimento e decadência 
por crises cíclicas,11 as quais são sucedidas por fases de retomada econômica e de 
prosperidade, causadas antes pela crise de superprodução∗ no centro, em face da 
 
6
 Eric J. Hobsbawm é de Alexandria (1917, Egito); considerado um dos maiores historiadores vivos; 
professor aposentado; já lecionou em diversas universidades da Europa e América Latina. Faz parte da 
Academia Britânica e membro honorário do Kings College, Cambridge. É presidente do Birbeck College 
(London University) e professor emérito da New School for Social Research (Nova Iorque). Entre suas 
obras, encontra-se a trilogia acerca do "longo século XIX", traduzidos em vários idiomas. 
7 David Harvey é de Oxford (1935, Grã-Bretanha); geógrafo marxista, formado na Universidade de 
Cambridge; foi professor da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos até 1987, quando 
transferiu-se para a cadeira de Geografia em Halford Mackinder da Universidade Oxford. Seus livros 
inicialmente versavam sobre a epistemologia da geografia, ainda no paradigma da chamada geografia 
quantitativa, depois redireciona sua pesquisa para a problemática urbana, a partir de uma perspectiva 
materialista-dialética. 
8
 Ernest Ezra Mandel é de Frankfurt (1923, Alemanha), economista e político judeu-alemão, Autor de 
vários ensaios políticos e livros de economia marxista. Seus pseudônimos: Ernest Germain, Pierre 
Gousset. Henri Vallin, Walter etc. 
9 István Mészáros é de Budapeste (1930, Hungria); filósofo ligado à chamada Escola de Budapeste, um 
grupo de filósofos húngaros, constituído por discípulos de Georg Lukács. Está entre os mais importantes 
intelectuais marxistas da atualidade. Professor emérito da Universidade de Sussex, na Inglaterra, onde 
ensinou filosofia por 15 anos, anteriormente foi também professor de Filosofia e Ciências Sociais na 
Universidade de York, durante 4 anos. 
10
 Ricardo Antunes é de São Paulo (1953); sociólogo, professor no Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas da Unicamp, onde foi diretor do Arquivo Edgard Leuenroth; lecionou na FGV-SP e na UNESP-
Araraquara. Colabora em revistas e jornais nacionais e internacionais e é editor-participante da Revista 
Latin American Perspectives (EUA). 
11
 O problema das crises periódicas manifesta-se, segundo os pressupostos marxiano-engelsiano, “pela 
contradição entre a tendência do Capital ao desenvolvimento ilimitado das forças produtivas e os limites 
estreitos impostos por esse mesmo Capital ao consumo das massas operárias. [Eles distinguem] desde 
essa época [1844] corretamente a demanda física e a demanda solvável. (...) Marx e Engels sublinham 
antes de tudo a importância das ‘grandes saídas de além-mar’ para a situação econômica da Grã-Bretanha 
(e da indústria européia em geral) (Apud MANDEL, 1968, p. 71-73). 
∗
 Entendida como crise no processo de acumulação do capital. 
 21 
oposição entre as forças produtivas e as relações capitalistas de produção do que pela 
mera especulação. Esta contradição inerente ao modo de produção capitalista provoca o 
seu revolucionamento no sentido de gestar e rearticular outro padrão de acumulação do 
capital condizente com as condições materiais do seu tempo histórico, movendo o seu 
quadro político de hegemonia. 
Nesta exposição, tratamos da crise global contemporânea como crise do capital, 
que, também, arrasta o trabalho, como resposta às mudanças no “mundo capitalista” 
sob as determinações do processo de mundialização do grande capital e é a crise que 
suplanta “os anos dourados”. 
Esta crise, equivocadamente denominada por muitos pesquisadores como a crise 
do fordismo e do keynesianismo, configura-se para Antunes (1995; 2006), Hobsbawm 
(1995; 1991), Mészáros (2006), Harvey e Mandel.(1985) como uma crise estrutural do 
capital por se colocar permanente. Nessa direção, põe o seu início no centro a partir da 
década de 1970, quando explicitam-se seus traços peculiares que, dentre outros, são 
assim identificados: 
 
� a queda da taxa de lucro com a redução dosníveis de produtividade do 
capital; a retração do consumo em resposta ao desemprego estrutural que 
então se iniciava no centro; 
� a hipertrofia da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia frente aos 
capitais produtivos; 
� a maior concentração e centralização de capitais graças às fusões entre as 
empresas monopolistas e oligopolistas; 
� a crise do welfare state ou do “Estado do bem-estar social”, acarretando por 
um lado, o incremento acentuado das privatizações e a retração dos gastos 
públicos e sua transferência para o capital privado; 
� a tendência à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força 
de trabalho. 
 
Essas condições vão impulsionar a intensificação do processo de 
internacionalização do capital como estratégia de busca de novos mercados, 
reestruturando os processos da produção e do trabalho, a fim de garantir à grande 
indústria das sociedades do centro a taxa média de lucro, corroída na época em que 
vigia a hegemonia do fordismo/keynesianismo. Observa-se, nestes países, “profundas 
 22 
transformações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura 
produtiva, nas formas de representação sindical e política” (ANTUNES, 1977, p. 71), 
sendo que “a classe que [só] vive do trabalho presenciou a mais aguda crise na sua 
subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser” 
(ANTUNES, 1977, p. 71), alcançando o conjunto da vida social. 
Se os anos de 1945-1973 constituíram a hegemonia dos Estados Unidos da 
América do Norte (EUA), o final da década de 1960 até o primeiro lustro da década 
1970 põem a gênese de seu declínio e desborda-se nesta crise global contemporânea. 
“Entre 1974 e 1975, a economia capitalista internacional conheceu a sua primeira 
recessão desde a II Guerra Mundial, sendo a única, até então, a golpear simultaneamente 
todas as grandes potências imperialistas” (MANDEL, 1985, p. 9). Esta crise rompe o 
longo período expansionista do pós-guerra, no centro. 
A sociedade norte-americana cresce abaixo da média da economia mundial (ver 
anexos, gráficos 1 e 2), explicita queda da taxa média de lucros, restringe o crédito, cai 
o dólar frente ao iene japonês e ao marco alemão. Além disso eleva os custos de vida, 
da política militar-armamentista, da inflação e dos preços do petróleo. Ao mesmo 
tempo, aumenta os estoques de mercadorias, apresenta crescimento do desemprego12 e 
ingressa no déficit do balanço de pagamentos (dívida pública). 
 
 
12
 Tabela I - 
 Máximo de desemprego durante a recessão de 1974/75 
Países Período 
Quantidade 
Estados Unidos 4º trim. 1975 7 912 000 
Grã-Bretanha 3º trim. 1976 1 319 000 
Japão 4º trim. 1975 1 178 000 
Itália 3º trim. 1976 1 145 000 
RFA 4º trim. 1976 1 141 000 
França 3º trim. 1976 1 036 000 
Espanha 4º trim. 1976 800 000 
Canadá 4º trim. 1975 724 000 
Austrália 4º trim. 1975 297 000 
Bélgica 3º trim. 1976 292 000 
Holanda 4º trim. 1975 211 000 
Dinamarca 4º trim. 1975 111 000 
Outros países 4º trim. 1975 600 000 
Imperialistas 
 Fontes: para o 4º trim. 1975: Nações Unidas, Suplemento 
 ao estudo sobre a Economia Mundial, 1975; para o 3º trim. 
 1976: Financial Times, 25 de out. 1976 e Eurostat, CEE – 
 Comunidade Econômica Européia; para a Espanha: 
 estatísticas espanholas. 
Mandel (1985) afirma que “durante o inverno de 1975/76, quando o desemprego atingiu seu ponto 
culminante, o número total de desempregados oficialmente reconhecidos no conjunto dos países 
imperialistas se aproximava de 17 milhões” (p. 16). 
 23 
A falência técnica da cidade de Nova Iorque em 1975 – cidade com um dos 
maiores orçamentos públicos do mundo – ilustrou a seriedade do problema. 
Ao mesmo tempo, as corporações viram-se com muita capacidade excedente 
inutilizável (principalmente, fábricas e equipamentos ociosos) em condições 
de intensificação da competição. Isso as obrigou a entrar num período de 
racionalização, reestruturação e intensificação do controle do trabalho (caso 
pudessem superar ou cooptar o poder sindical). A mudança tecnológica, a 
automação, a busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a 
dispersão geográfica para zonas de controle do trabalho mais fácil, as fusões 
e medidas para acelerar o tempo do giro do capital passaram ao primeiro 
plano das estratégias corporativas de sobrevivência em condições de 
deflação∗ (HARVEY, 1996, p. 137 e 140). 
 
 Outros países imperialistas são apanhados pela crise, inicialmente, enquanto 
movimento de estagnação como, por exemplo, o Japão e a Alemanha,13 quando sofrem 
queda na produção, na taxa média dos lucros e na demanda interna. Em seguida, 
transforma-se em movimento de recessão, e estende-se pela Europa ocidental, puxando 
também a periferia. Esta crise é o resultado da contradição fundamental – produção 
social e apropriação privada – do modo de produção capitalista, que veio à tona depois 
que mudanças deflagradas ainda na época da “onda longa expansiva” favoreceram o 
grande capital. Elas impulsionam novo avanço das forças produtivas, incluindo a 
tecnologia, colocando a concentração e a centralização do capital em patamares nunca 
vistos. Essas condições trazem, em decorrência, a superprodução ou superacumulação, a 
radicalização da luta concorrencial entre os grupos de monopólios, a superexploração 
dos trabalhadores assalariados produtivos, o recrudescimento do desemprego e do 
exército industrial de reserva e as dificuldades de valorização do grande capital no 
próprio seio das potências imperialistas. Tudo isso impõe estratégias e mecanismos 
novos ao processo de internacionalização do grande capital, já desencadeado no centro 
desde a década de 1880. 
Na busca da superação desta crise, o investimento ou a exportação de capital 
excedente gerador de superlucros aos monopólios torna-se uma estratégia de primeira 
ordem neste estágio do capitalismo monopolista. Com a retomada da produção 
industrial e da acumulação do capital no centro, a partir de 1976, simultaneamente, vai 
sendo deteriorada a posição de liderança dos EUA (ver anexo, gráfico 3), pois a 
capacidade de investimento no exterior só permite o restabelecimento da rentabilidade 
do capital nos anos seguintes aos níveis anteriores à crise, notadamente, nos Estados 
 
∗
 Diminuição da circulação do papel-moeda superabundante. 
13
 A recessão difundiu-se na Alemanha, quando, “no quarto trimestre de 1974 e no primeiro de 1975, as 
exportações caíram, respectivamente, 3,5% e 8,5%, sob o efeito evidente da recessão internacional da 
economia capitalista. (...) O [Produto Nacional Bruto] PNB diminuiu 2% e 2,5% respectivamente, no 
curso desses dois trimestres” (MANDEL, 1985, p. 11). 
 24 
Unidos da América do Norte. O grande saldo desta crise para a burguesia internacional 
é o deslocamento da prioridade econômico-social do “pleno emprego” para o 
“desemprego massivo permanente” (MANDEL, 1985; MÉSZÁROS, 2006; ANTUNES, 
1995, 2006; NETTO, 1993; 1996), inaugurando a era neoliberal nas sociedades do 
centro.14 Os grupos de monopólios canalizam o capital excedente para fora dos EUA e 
da Europa ocidental, ou seja, para a periferia, ampliando o seu campona direção da 
Ásia, principalmente, do Japão, de Taiwan e Coréia do Sul. Nas décadas de 1980 e 
1990, estendem-se para a China, Índia e (re)incorporam a América Latina e, de modo 
particular o Brasil, aos ditames do grande capital. 
Essa condição só é possível devido o processo de industrialização brasileira dos 
anos trinta, de base estatal-nacionalista, instituir um parque industrial de grande 
expressão na Região Centro-Sul do país, e experimentar, nos meados da década de 
1950, mudanças no seu padrão de acumulação por se fundar em uma política 
desenvolvimentista financiada pela entrada exorbitante de capital excedente no país, 
inclusive aumentando, exponencialmente, a dívida externa. E, na dinâmica do pré e pós-
1964, consolida-se o capitalismo monopolista, em face da oposição de dois projetos 
claros de sociedade: um, é defendido por forças democráticas e populares, por isso, 
definido por tendência a uma ruptura “nacionalista” movida ainda dentro dos marcos do 
capitalismo, e outro, pela demanda burguesa e suas facções, expressa uma tendência que 
rearranja e reproduz o conservadorismo e o reacionarismo. De fato, é vitorioso o projeto 
que propugna a conciliação com o grande capital internacional e a ascensão de grupos 
de monopólios, os quais, com a adesão de governos locais, passam a sobrepor os 
Estados-nacionais (MANDEL, 1985; NETTO, 1992). E o “país passa a servir de 
entreposto industrial para várias multinacionais” (SINGER, 1978, p. 92). 
Partimos então por resgatar que, se na metade do século XIX, depois da segunda 
máquina a vapor de Watt, Marx já detectava que a maquinaria do capital tinha a 
finalidade de tornar as mercadorias mais baratas e de ela ser “meio de produção de 
mais-valia” (MARX, 1985b, p.15), no período da acumulação capitalista, quando são 
 
14
 Esta foi uma experiência deflagrada em um país da periferia. O neoliberalismo começou naquele país 
um decênio antes de Thatcher, na Inglaterra. Após o golpe de Estado, que derrubou o governo popular de 
Salvador Allende, em 1973, no Chile, Hobsbawm (1995, p. 399) afirma que “uma ditadura militar 
terrorista permitiu a assessores americanos instalar [ali] uma economia de livre mercado irrestrita, 
demonstrando assim, aliás, que não havia ligação intrínseca entre o livre mercado e a democracia 
política”. Para Anderson (1995). “Pinochet começou os seus programas de maneira dura: 
desregulamentação, desemprego massivo, repressão sindical, redistribuição de renda em favor dos ricos, 
privatização dos bens públicos” (p. 19). O neoliberalismo começou naquele país um decênio antes de 
Thatcher, na Inglaterra. 
 25 
instituídas, de fato, as relações especificamente capitalistas no centro e essas relações 
são expandidas para a periferia, essa finalidade não mudou, e radicalizou-se a intenção 
da supressão total do trabalho vivo. Mudaram-se as condições históricas e as formas de 
sua utilização pelo grande capital. 
Neste aspecto, é relevante a análise mandeliana do modo de produção capitalista 
no século XX, depois da metade dos anos cinqüenta, por assinalar que a automação 
movida à energia nuclear – nova tecnologia e originária da política armamentista – 
inicia-se na indústria química e dissemina-se para outras áreas no centro, põe uma 
maquinaria voltada à supressão do trabalho vivo do processo de produção e a “esfera da 
produção [é] uma unidade contraditória de empresas não automatizadas, semi-
automatizadas e plenamente automatizadas (na indústria e na agricultura, e por isso em 
todas as esferas da produção de mercadorias juntas) (MANDEL, 1985, 145). 
De acordo com Mandel (1985, p. 145), 
 
torna-se evidente que, a partir de certo ponto e por sua própria natureza, o 
capital deve apresentar uma resistência crescente à automação. As formas 
dessa resistência incluem o uso do trabalho barato nos ramos semi-
automatizados da indústria (tais como o trabalho de mulheres e de [crianças] 
nas indústrias têxteis, de alimentos e de bebidas), o que desloca o limiar da 
lucratividade para introdução de complexos plenamente automatizados; as 
mudanças constantes e a concorrência mútua na produção de conjuntos de 
máquinas automatizadas, o que impede o barateamento de tais conjuntos e, 
conseqüentemente, a sua mais rápida introdução em outros ramos da 
indústria; a busca incessante de novos valores de uso, inicialmente 
produzidos em empresas não automatizadas ou semi-automatizadas etc. 
(p.145) 
 
 
Tudo isso evidencia a constituição da natureza combinada do desenvolvimento 
do capitalismo e o limite do capital à corrida tecnológica como estratégia da “guerra 
intercapitalista”, que alcança o seu ápice no estágio da organização monopólica, como 
uma das condições viabilizadoras de seu processo de mundialização. Explicita, também, 
a limitação do próprio capital,15 à medida que põe a sua impossibilidade em se desfazer 
de vez do trabalho vivo, porque corta o processo de produção da mais-valia, da 
 
15
 “Na verdade, a indústria que produz meios eletrônicos de produção tem uma composição orgânica de 
capital notavelmente baixa. Em meados da década de 60, a participação dos custos de salários e 
ordenados no movimento total anual bruto desse ramo da indústria nos Estados Unidos e na Europa 
ocidental flutuou entre 45% e 50%, [como diz Freeman]. Isto explica por que o montante maciço de 
capital que se encaminhou para ela desde o início dos anos 50 tenha diminuído e não aumentado a 
composição social média do capital e, correspondentemente, tenha aumentado e não diminuído a taxa 
média de lucros. Em conseqüência, a produção automática de máquinas automáticas representaria um 
novo ponto de inflexão, em termos qualitativos, igual em significado ao seu aparecimento da produção 
mecânica de máquinas em meados do século XIX (MANDEL, 1985, p. 145; grifos do autor). 
 26 
valorização do capital, só realizável pela força de trabalho humana. Nesse sentido, 
Mandel (1985) é categórico em afirmar que o capital economiza trabalho vivo pela 
automação só na planta produtiva e o aumenta então nas áreas fora da produção direta 
(laboratórios, departamentos, pesquisa etc) onde o trabalho é parte do “trabalhador 
produtivo coletivo”. 
Com o avanço da acumulação capitalista, a centralização e a concentração do 
capital tornam possíveis, a partir da subsunção real do trabalho ao capital, elevar a 
produtividade do trabalho social e valer-se da economia de trabalho vivo. As grandes 
potências por meio da grande indústria lançam-se à expansão das relações 
especificamente capitalistas na periferia, difundindo o processo de proletarização agora 
a uma força de trabalho mais barata em uma época histórica de maior gasto “em massa 
de meios de produção (...) [e] dispêndio progressivamente decrescente da força de 
trabalho [viva] (...) essa é a lei absoluta geral, da acumulação capitalista” (MARX, 
1985b, p. 209). Mas, isto não quer dizer que elimina o trabalho vivo como produtor de 
mais-valia e de valor na ordem burguesa. E a grande indústria assim o faz transferindo 
suas “fábricas prontas” para onde estão força de trabalho disponível ao capital, terras 
fartas e matérias-primas abundantes. Estas são transformadas em mercadorias e são 
vendidas como meios de subsistência aos trabalhadores assalariados. 
 Desta forma, o grande capital espraia o processo de reprodução ampliada para 
regiões, lugares nunca dantes atingidos, evidenciando que “não basta à produção 
capitalista de modo algum o quantum de força de trabalho disponível que o crescimento 
natural da população fornece. Ela precisa, para ter liberdade de ação, de um exército 
industrial de reserva independente dessa barreira natural” (MARX, 1985b, p. 202). 
O crescimento do capital provoca o crescimento de uma força de trabalho ou 
uma população trabalhadoraexcedentária tanto no centro quanto na periferia, que se 
torna, contraditoriamente, imprescindível à existência do capital, porque é o elemento 
vivo criador de valor e a ele pertence “de maneira tão absoluta, como se ele [a] tivesse 
criado à sua própria custa” (MARX, 1985b, p. 200), mas, é descartável. 
 A efetivação desse processo, que põe a economia de trabalho vivo na periferia 
do “mundo capitalista”, assume novas configurações na contemporaneidade e guarda 
determinações históricas e mediações particulares em relação à sua constituição e 
desenvolvimento no centro, e vai exigir – tanto lá quanto aqui – condições materiais e 
objetivas diferenciadas e mais complexas do que o estágio anterior do capitalismo. 
 27 
 Essa tendência à redução de trabalho assalariado produtivo pelo capital, criador 
de valor, também, é criticada por Hobsbawm (1995), que identifica um movimento de 
declínio da classe operária, iniciado nas décadas de 1970 e de 1980, embora seja, nos 
anos de 1990, que emergem traços “de uma grande contração da classe operária” (p. 
296), quando mudanças na produção a desencadeiam, crescendo a economia da força de 
trabalho viva. Estes fatos fortalecem, de certa maneira, as afirmações dos anunciadores 
do adeus ao proletariado – os adeptos da “sociedade pós-industrial”–, no entanto, este 
autor defende que “a impressão generalizada de que de alguma forma a velha classe 
operária industrial estava morrendo era estatisticamente errada, pelo menos em escala 
global” (HOBSBAWM, 1995, p. 296), pois, no mundo do final “dos anos dourados” 
havia mais operários. A classe operária permanece estável nas sociedades do centro – os 
oito dos 21 países que compõem um terço da população empregada –, e eleva-se 
naquelas recentemente industrializadas na Europa, até a década de 1980, exceto nos 
EUA, em que o declínio ascendente da classe operária (ver anexo, Tabela 1) se 
prenuncia entre 1965 e os anos de 1970. Já nos países socialistas industrializados da 
Europa oriental, Japão e Terceiro Mundo (Brasil, México, Índia, Coréia e outros), o 
proletariado multiplica-se. “Com isso, durante este século, temos um crescimento da 
proletarização combinado com o relativo declínio, dentro da população assalariada, dos 
trabalhadores braçais, no sentido literal da palavra. Trata-se de um fenômeno bem geral 
em países industrializados” (HOBSBAWM, 1991, p. 18). 
Na verdade, essa movimentação não significa o colapso da classe operária, mas 
são modificações que estão ocorrendo no interior dos processos de produção e do 
trabalho ocasionados pela crise do início da década de 1970, aprofundada no transcorrer 
da de 1980, onde que, 
 
as velhas indústrias do século XIX e início do XX declinaram, e sua própria 
visibilidade no passado, quando muitas vezes simbolizavam a “indústria”, 
tornou mais impressionante o seu declínio. (...) Mesmo quando não 
desapareceram, essas indústrias tradicionais mudaram-se de velhos para 
novos países industriais. Produtos têxteis, roupas e calçados migraram em 
massa. O número de pessoas empregadas nas indústrias têxteis e de roupas 
dentro da República Federal da Alemanha caiu em mais da metade entre 
1964 e 1984, mas no início da década de 1980, para cada cem operários 
alemães, a indústria de roupas alemã empregava 34 no exterior. Mesmo em 
1966 eram menos de três. Ferro, aço e indústria naval praticamente 
desapareceram das terras de industrialização mais antiga, mas reapareceram 
no Brasil e na Coréia, na Espanha, Polônia e Romênia. Velhas áreas 
industriais tornaram-se “cinturões de ferrugem” – termo inventado nos EUA 
na década de 1970 –, ou mesmo países inteiros identificados com uma fase 
anterior da indústria, como a Grã-Bretanha, foram largamente 
 28 
desindustrializados, transformando-se em museus vivos ou agonizantes de 
um passado desaparecido, que os empresários exploravam, com certo êxito, 
como atrações turísticas. Enquanto as últimas minas de carvão desapareciam 
do sul de Gales, onde mais de 130 mil ganhavam a vida como mineiros no 
início da Segunda Guerra Mundial, velhos sobreviventes desciam em poços 
mortos para mostrar a grupos de turistas o que outrora faziam ali em eterna 
escuridão. E mesmo quando novas indústrias substituíam as velhas, não eram 
as mesmas indústrias, muitas vezes não nos mesmos lugares, e 
provavelmente com estruturas diferentes. (...) não tinham as grandes cidades 
industriais, as empresas dominantes, as fábricas enormes. Eram mosaicos ou 
redes de empresas que iam da oficina de fundo de quintal à fábrica modesta 
(mas de alta tecnologia), espalhados pela cidade e o país (HOBSBAWM, 
1995, p. 297). 
 
 
O caráter global desta crise só foi considerado como tal pelos países da Europa 
ocidental em 1990, porque ainda não estava de todo esclarecido para eles que ela se 
constituiria mais grave do que a de 1930. Os “anos dourados” gestam um mercado 
mundial articulado e único, alimentado pela imigração, e torna possível a 
internacionalização da produção e da acumulação capitalistas, acirrando a contradição 
capital e trabalho, a partir da crise de 1973. Os grupos de monopólios, como uma 
verdadeira operação “de vida ou de morte”, ao constituírem a grande indústria, da fase 
do capitalismo monopolista maduro, “estabeleceram seu domínio sobre o mundo, 
solapou uma grande instituição até 1945, praticamente universal: o Estado-nação 
territorial, pois um Estado assim já não poderia controlar mais que uma parte cada vez 
menor de seus assuntos” (HOBSBAWM, 1995, p. 413). E “as Décadas de Crise foram a 
era em que os Estados nacionais perderam seus poderes econômicos” (HOBSBAWM, 
1995, p. 398). Por sua vez, a queda do “socialismo real” na União Soviética e na Europa 
oriental é o fato histórico que a explicita sem subterfúgios e expõe a sua face política. 
 Depois de 1973, a crise traz como conseqüências aos países do centro o 
reaparecimento do desemprego em massa, miséria e tensões sociais. Problemas velhos 
que pareciam dissolvidos pelos “anos dourados” ressurgem sob um processo de 
reestruturação produtiva do capital e avanço espetacular na sua internacionalização. 
Essas condições caracterizam o desemprego estrutural, pois, mesmo em período de 
expansão, indústrias demitem força de trabalho viva, que jamais serão reabsorvidas ao 
mesmo tempo em que a produção triplica seus produtos16 com o emprego das forças 
 
16
 Hobsbawm (1995) exemplifica o desemprego estrutural nos EUA, ao identificar nos anos de 1950 a 
1970, que o número de telefonistas para interurbanos caiu em 12% e o número de telefonemas aumentou 
em cinco vezes, no entanto, de 1970 a 1980, o número de telefonistas caiu em 40% e os telefonemas 
cresceram em três vezes. 
 29 
mecânico-automáticas em substituição da força de trabalho. Esta substituição pela 
máquina constitui-se em uma das fontes geradoras da economia do trabalho vivo. 
 Segundo Hobsbawm (1995, p. 299), 
 
as crises econômicas do início da década de 1980 recriaram o desemprego em 
massa pela primeira vez em quarenta anos, pelo menos na Europa. Em alguns 
países desavisados, a crise produziu um verdadeiro holocausto industrial. A 
Grã-Bretanha perdeu 25% de sua indústria manufatureira em 1980-4. Entre 
1973 e fins da década de 1980, o número total de pessoas empregadas na 
manufatura nos seis velhos países industriais da Europa caiu 7 milhões, ou 
cerca de um quarto, mais ou menos metade dos quais entre 1979 e 1983. Em 
fins da década de 1980, enquanto as classes operárias nos velhos países 
industriais se erodiam e as novas surgiam, a força de trabalho empregada na 
manufatura estabilizou-se em cerca de um quarto de todo o emprego civil em 
todas as regiões desenvolvidas ocidentais, com exceção dos EUA, onde a 
essa altura estava bem abaixo de 20%. Estava muito longe do velho sonho 
marxista da população gradualmenteproletarizada pelo desenvolvimento da 
indústria até a maioria das pessoas serem trabalhadores (braçais). Com 
exceção dos casos mais raros, dos quais a Grã-Bretanha era o mais notável, a 
classe operária industrial sempre fora uma minoria da população 
trabalhadora. 
 
 
 Assim, nas sociedades do centro, a exacerbação da diferença entre as classes 
sociais fundamentais – econômica, política, social e cultural – cresce e torna novamente 
comum a presença massiva de “mendigos”, de “desabrigados” e de “sem teto” nas ruas. 
 
Em qualquer noite de 1993 em Nova York, 23 mil homens e mulheres 
dormiam na rua ou em abrigos públicos, uma pequena parte dos 3% da 
população da cidade que não tinha tido, num ou noutro momento dos últimos 
cinco anos, um teto sobre a cabeça (New York Times, 16/1193). No Reino 
Unido (1989), 400 mil pessoas foram oficialmente classificadas como “sem 
teto” (Human Development, 1992, p. 31). Quem, na década de 1950, ou 
mesmo no início da de 1970, teria esperado isso? (HOBSBAWM, 1995, p. 
396). 
 
 
 Essa realidade põe então em relevo o declínio do campesinato17 e o crescimento 
da suburbanização de áreas em volta de centros urbanos, gerando as “hipercidades” com 
mais de 10 milhões de habitantes. 
 Nesse processo, lembra Hobsbawm (1991), em oposição ao que ocorria na 
década de 1930, o governo britânico desastroso caminha no desmonte 
 
 
17
 “Hoje, ele representa 4% da população ocupada nos países da Organização para a Cooperação e o 
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e 2% nos Estados Unidos. (...) Em meados da década de 1960, 
ainda havia cinco países europeus com mais da metade da população ocupada nessa área, onze nas 
Américas, dezoito na Ásia e, com três exceções (Líbia, Tunísia e África do sul), toda a África. (...) Em 
1900, apenas 16% da população mundial vivia em cidades. Em 1950, esse número já havia crescido para 
quase 26%, e hoje, ele está próximo da metade (48%) (HOBSBAWM, 2007, p. 37-38) 
 30 
da rede de benefícios sociais [que] está sendo simultaneamente desmantelada 
– exemplos disso são as escolas e os serviços de saúde – enquanto as 
construções públicas e privadas, que estavam explodindo, virtualmente, 
pararam. A estrutura da produção industrial britânica está sendo demolida 
quase além da esperança de uma restauração. Poucos operários que elegeram 
Thatcher não lamentam amargamente de tê-lo feito, e até amplos setores de 
capitalistas britânicos buscam desesperados, alguém em quem se apoiar. Em 
dadas circunstâncias, (...) encontramos um movimento trabalhista confuso, 
dividido, desagregado por divisões e lutas internas, e isolado de vários de 
seus antigos apoios. (HOBSBAWM, 1991, p. 42) 
 
 
E desacelera-se o crescimento nos países socialistas18, devastando-os. 
Na periferia – Ásia ocidental, África e América Latina/Caribe – essas mudanças 
ocorrem, substancialmente, diferentes. Acreditamos que as razões dessa diferença 
encontram-se, em primeiro lugar, por ser uma área que, tirânica e subordinadamente, é 
(re)incorporada ao centro do poder capitalista. 
Segundo, devido a essas condições formar-se enquanto, no dizer de “uma zona 
mundial de revolução – recém-realizada, iminente ou possível” ((HOBSBAWM, 1995, 
p. 421) de libertação.19 Daí, a sua caracterização como zona instável social e 
politicamente, situação esta tomada como propícia ou identificada com o comunismo 
soviético pelo centro como pretexto utilizado para sustentar e mascarar a sua própria 
ofensiva à dominação mundial. 
Como saída da crise, acresce-se a esse processo a proliferação de países recém-
industrializados na periferia e que “já consumiam 24% do aço do mundo e produziam 
15% dele” (HOBSBAWM, 1995, p. 403), na metade da década de 1980, às custas da 
migração de “indústrias de trabalho intensivo” do centro – movimento consentido como 
“natural” – para essas áreas, pois elas tendem a se concentrar nos lugares onde há 
condições favoráveis de ampliar seus superlucros a começar por uma localização que 
assegure força de trabalho barata e disponível, matérias-primas, fontes de energia, 
incentivos fiscais, meios de comunicação suficientes para o acesso ao mercado mundial. 
 
18
 No pós-1989, “o PIB da Rússia caiu 17% em 1990-1, 19% em 1991-2, e 11% em 1992-3. (...) a Polônia 
tinha perdido mais de 21% de seu PIB em 1988-92; a Tchecoslováquia, quase 20%; a Romênia e a 
Bulgária, 30% ou mais. [Nesses países] sua produção industrial, em meados de 1992, estava entre metade 
e dois terços da de 1989 (Financial Times, 24/2/94. In: Hobsbawm, 1995, p. 395. 
19
 Ver a minuciosa e competente análise de Hobsbawm (1955) em a Era dos Extremos, a respeito da 
condição sócio-política do Terceiro Mundo, resultado da relação de subordinação ao centro capitalista. 
Para ele, “muito poucos Estados do Terceiro Mundo, de qualquer tamanho, atravessaram o período a 
partir de 1950 (ou data de sua fundação) sem revolução; golpes militares para suprimir, impedir ou 
promover revolução; ou alguma outra forma de conflito armado interno. As principais exceções até a data 
em que escrevo são a Índia e umas poucas colônias governadas por paternalistas autoritários e longevos 
[em Malavi e Costa do Marfim]. Essa persistente instabilidade social e política do Terceiro Mundo dava-
lhe seu denominador comum” (p. 422). 
 31 
Se, de um lado, nesses lugares, a crise põe uma grave depressão combinada com 
expulsão de força de trabalho viva, paralisando o PIB per capita com queda na produção e 
no poder aquisitivo da maioria da população, por outro, os países do leste da Ásia, incluindo 
a China – os denominados “países recentemente industrializados” (Newly Industrialized 
Countries – NICs) – experimentam um desempenho incomparável na economia mundial. O 
processo de desconcentração da produção industrial leva as chaminés e, conseqüentemente, 
uma semi-industrialização a Cingapura, Hong Kong, Coréia do Sul e Formosa/Taiwan por 
meio de unidades industriais modernas, controladas por conglomerados transnacionais do 
centro. De modo diverso do bloco latino-americano – México, Venezuela, Brasil e 
Argentina –, mas, carregando a essencialidade capitalista, com impulso na mesma época – 
nas décadas de 1960 e 1970 –, esta semi-industrialização dos pequenos “tigres” ou 
“dragões” asiáticos constitui-se em ramos industriais de bens de consumo, de baixo 
investimento tecnológico, voltados à exportação para os países do centro, condições que os 
torna em “plataformas de exportação”. 
Essa realidade reforça ainda mais as análises de Hobsbawm (1995) e de Mandel 
(1985) de que a “revolução tecnológica” de per si não dá conta de explicar os “anos 
dourados” nem o processo de reestruturação produtiva do capital no pós-1973, ou seja, 
os períodos de prosperidade e de crises cíclicas postas pelo grande capital, apesar de 
muitos pesquisadores teimarem em superdimensioná-la, uma vez que o processo de 
industrialização das grandes potências (EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha 
Federal, França, Itália e Japão) sustenta-se, dentre outros, pela exportação de tecnologia 
obsoleta20 para os países não-hegemônicos no centro, os dos socialistas agrários e os da 
periferia. Precisamos entender por que a busca do lucro impulsiona a transformação 
tecnológica, e com ela, a economia do trabalho vivo. 
A sociedade capitalista volta à sua dinamicidade nas décadas finais do século 
XX, de modo mais lento, e as poucas grandes potências industriais “da primeira 
divisão” tornam-se mais ricas e mais produtivas do que no começo da década de 1970, 
exceto os EUA que, após 1976, são repostos indicadores do alargamento da sua perda 
de hegemonia (BELLUZZO & COUTINHO, 1998).21 
 
20Na “Era de Ouro, embora fosse expressiva (...) [a] disseminação

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