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7. TEORIAS QUE REGEM A LEI NO TEMPO

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Profa. Jacyara Farias Souza Marques
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O que acontece com a legislação infraconstitucional anterior com a superveniência de uma nova Constituição?
Três caminhos podem ser seguidos:
A revogação;
Perda de validade das normas; e
A nova edição;
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As Constituições normalmente têm uma cláusula especial que determina o momento em que seu texto começará a vigorar. Não havendo disposição expressa, entende-se que a vigência é imediata, a partir de sua promulgação;
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Outras vezes o texto constitucional prevê uma cláusula especial que defira a entrada em vigor de todo o seu texto, criando a chamada vacatio constituionis, que corresponde ao período que vai da publicação do ato de sua promulgação até a efetiva vigência de seus dispositivos. Nesse período, o novo texto não regula situação jurídica nenhuma, continuando a reger a ordem jurídica que já existia;
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Segundo Pontes de Miranda: 
“A irretroatividade defende o povo; a retroatividade expõe-no à prepotência”.
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Pautada em duas premissas:
No que tange à legislação infraconstitucional IRRETROATIVIDADE; (Constituições dos Estados-membros, as Leis Orgânicas municipais e as espécies normativas do art. 59 da CF/88)
No que tange ao Poder Constituinte Originário e Derivado – RETROATIVIDADE MÍNIMA;
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Aplicabilidade imediata (retroatividade mínima)
A Constituição, sendo obra do Poder constituinte Originário, nasce como um texto inicial, ilimitado e incondicionado, não se sujeitando à obediência de nenhuma regra jurídica anterior, nem está obrigada tampouco a respeitar o direito adquirido, nada impede assim, que esse texto retroaja regulando situações pretéritas;
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Se o texto constitucional for omisso, a jurisprudência do STF é uníssona: as novas normas constitucionais, salvo disposição expressa em contrário, se aplicam de imediato, alcançando, sem limitações os efeitos de fatos passados;
Essa eficácia especial recebeu o nome de retroatividade mínima;
A retroação pode existir, mas desde que, expressamente prevista pelo texto constitucional.
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Retroatividade máxima: a lei nova alcança fatos já consumados no passado, inclusive os atingidos pela coisa julgada (como na transação, pagamento e prescrição). Esse tipo de retroatividade deve ser expressa; Ex: A CF previa a competência para rever decisões judiciais (art. 96, parágrafo único).
Retroatividade média (ordinária): a lei nova alcança as prestações pendentes (vencidas e ainda não adimplidas) de negócios celebrados no passado. Esse tipo de retroatividade deve ser expressa; Ex: lei que diminui as taxas de juros, sem contudo diminuir os juros vencidos que ainda não foram pagos.
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Retroatividade mínima (mista, temperada ou mitigada): a nova lei alcança pretensões futuras (vencíveis a partir de sua entrada em vigor) de negócios celebrados no passado;
Temos ainda a irretroatividade, que ocorre quando a lei nova só atinge novos negócios, celebrados após sua entrada em vigor;
Em geral, as normas constitucionais do ordenamento jurídico brasileiro apresentam a retroatividade mínima, aplicando-se a fatos acontecidos a partir da data da promulgação da Constituição (05/10/1988). Tais normas atingem negócios e relações jurídicas travadas no passado. Ex: arts. 7, IV; art. 195,§ º5, da CF/88.
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O ordenamento jurídico brasileiro adotou a teoria da retroatividade mínima, salvo disposição expressa em contrário;
Exemplo disso: art. 7º, VII da CF/88, que proíbe a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim. Proibindo-o de ser valor de indexação de contratos, pois se assim o fosse, todas as vezes que se tentasse aumentar seu valor, ocorreria resistência daqueles em que suas obrigações contratuais se perfizeram baseadas no salário mínimo. Assim, sua vedação tem aplicabilidade imediata, incidindo sobre efeitos futuros de fatos consumados no passado;
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Outro exemplo dessa retroatividade mínima se deu quando da aprovação da Emenda Constitucional 35/02, no que diz respeito às alterações perpetradas da imunidade processual dos congressistas (art. 53, §§3º ao 5º da CF/88). Essa emenda exigiu autorização prévia da casa legislativa para o início do processo e o julgamento dos congressistas. 
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Aplicou-se a retroatividade mínima, sendo tal determinação aplicáveis aos processos antigos, pendentes de autorização legislativa, no tocante a atos processuais futuros – o STF deu prosseguimento ao julgamento de todos os processos antigos contra os congressistas que estavam aguardando autorização legislativa, sem necessidade de aguardar por esta, em face do novo ordenamento constitucional.
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Assim, embora a regra da eficácia das normas constitucionais seja a da aplicabilidade imediata (retroatividade mínima), existem dispositivos constitucionais que expressamente a afastam, estabelecendo outro momento para a eficácia de seus comandos;
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Caso do art. 51 do ADCT que determina a revisão das doações, vendas e concessões de terras públicas realizadas desde o ano de 1962, referindo-se à adoção da retroatividade máxima;
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A retroatividade mínima só é adotada a nível de Constituição Federal, não alcançando a Constituição dos Estados Membros nem as espécies normativas do art. 59 da CF/88. A aplicabilidade imediata não alcança as normas infraconstitucionais, visto que estas se submetem à regra da irretroatividade (art. 5º XXXVI), salvo as exceções;
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A regra que vigora no ordenamento jurídico nacional é a da REVOGAÇÃO TOTAL;
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 Todas as normas que forem incompatíveis com a nova Constituição serão revogadas, por ausência de recepção. Assim, a norma infraconstitucional que não contrariar a nova ordem será recepcionada, podendo inclusive adquirir uma nova roupagem;
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Exemplo disso é o CTN (Lei nº5172/66), embora tenha sido elaborado com o quorum de lei ordinária, foi recepcionado como lei complementar;
Não se analisará a inconstitucionalidade das normas que não foram recepcionadas, pois elas não integram o ordenamento jurídico nacional.
Contudo, caberá a ADPF.
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Recepção
Repristinação
Desconstitucionalização
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É possível a mudança da competência legislativa, (matéria seria da competência da União e passa para os Estados-Membros);
Há possibilidade da recepção (parte da lei, artigo, parágrafo);
A recepção ou revogação acontece no momento da promulgação da Constituição. Contudo, o STF poderá modular os efeitos;
O princípio da recepção não possui efeito saneador;
Para a recepção ocorrer é preciso existir vínculo de contemporaneidade;
Vigora a presunção de validade da norma;
Compatibilidade formal e material com a Constituição antiga;
Compatibilidade, unicamente material com a nova Constituição;
Possibilidade da transferência constitucional para outro ente federativo;
Possibilidade de recepção parcial da lei.
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 Chama-se de repristinação (revigoração), o fenômeno jurídico pelo qual a lei revogada volta a vigorar pela revogação da lei revogadora.
No Brasil não se admite a lei com efeito restaurador, salvo se expressamente houver previsão, nos termos do art. 2º, §3º da LICCB (esse entendimento restringe-se à legislação infraconstitucional, não sendo aplicado a nível constitucional), por isso, proíbe-se assim, a repristinação tácita, admitindo-se, se fosse o caso, apenas a repristinação expressa.
Esse também é o posicionamento do STF;
Exemplo de repristinação de fato foi a edição da Emenda Constitucional de Revisão nº04/93 e a EC 16/97 (estabeleceu a reeleição);
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É o fenômeno pelo qual as normas constitucionais anteriores, uma vez compatíveis com a nova Constituição , permanecem vigorando, todavia, com status de normas infraconstitucionais; 
Origem francesa;
Assim, são recepcionadas como legislação infraconstitucional. No Brasil, em regra, isso não ocorre, salvo se a nova Constituição expressamente dispuser, tendo em vista a ilimitação do poder constituinte originário. Aqui aponte-se uma divergência doutrinária: há quem entenda também que não
precisa existir previsão expressão para o princípio vir à tona, pois esta é a tônica deste instituto francês (Uadi L. Bulos).
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A doutrina ainda resgata o fenômeno da recepção material das normas constitucionais, uma doutrina de Jorge Miranda, sustenta o fenômeno “da persistência das normas constitucionais anteriores que guardam, se bem que a título secundário, a antiga qualidade de normas constitucionais”;
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Tais normas são recebidas por prazo certo em razão de seu caráter precário, características marcantes da recepção material das normas constitucionais.
Opera-se no campo das disposições transitórias cujas normas são de eficácia esvaída e aplicabilidade esgotada.
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Entretanto, há de se mencionar, que o poder constituinte originário rompe totalmente com a ordem jurídica anterior, só se admitindo essa recepção material, se houver expressa disposição constitucional, caso contrário, as normas do ordenamento jurídico anterior serão revogadas (art. 34, caput, §1º do ADCT);
Presença da Regra da compatibilidade horizontal de normas de mesma hierarquia. A norma posterior revoga a anterior, não podendo conviver com aquela simultaneamente, mesmo que seja com ela incompatível. A revogação se concretiza com a simples manifestação do Poder Constituinte Originário.
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É aquela em que o ato emando do órgão legislativo viola norma constitucional que ainda nascerá;
“Inconstitucionalidade que vem depois”;
O STF rejeita esta tese. Assim, atos editados antes da vigência da CF/88 que estiverem em desconformidade com eles serão revogados em virtude de ausência de recepção pela nova ordem jurídica. Não há possibilidade de controle de constitucionalidade porque estamos diante de uma situação de revogação.
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FIM.

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