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Direito Penal

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DIREITO PENAL 
28º CPR 
2 
Sumário 
1.a - Dogmática jurídico-penal: teorias contemporâneas. ................................................................................................................ 3 
1.b – Aplicação da pena .................................................................................................................................................................. 6 
1.c - Crimes de homicídio, de lesões corporais e de periclitação da vida e da saúde. .................................................................... 8 
2.a. Criminologia: teorias contemporâneas. .................................................................................................................................. 11 
2.b. Concurso de crimes. ............................................................................................................................................................... 13 
2.c. Crimes contra a liberdade pessoal.......................................................................................................................................... 16 
3.a. Política criminal e política de segurança pública: tendências contemporâneas. ..................................................................... 18 
3.b. Efeitos da condenação no Código Penal e em leis especiais. ................................................................................................ 21 
3.c. Crimes contra a honra. ........................................................................................................................................................... 23 
4.a. Princípios básicos do Direito Penal. Parte Geral. ................................................................................................................... 26 
4.b. Contrabando e descaminho.................................................................................................................................................... 28 
4.c. Crimes contra a inviolabilidade do domicílio, de correspondência, dos segredos e de interceptação de comunicações. ....... 29 
5.a. Lei penal no tempo. ................................................................................................................................................................ 32 
5.b. Prescrição Penal. ................................................................................................................................................................... 33 
5.c. Crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais. ...................................................................................... 35 
6.a. Aplicação da lei penal no espaço. .......................................................................................................................................... 39 
6.b. Crimes Políticos e Crimes Militares ........................................................................................................................................ 40 
6.c. Crimes contra o patrimônio: roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, esbulho possessório e dano ............................ 41 
7.a Limites da aplicação da lei penal em relação às pessoas. ...................................................................................................... 44 
7.b Sanções penais no direito brasileiro ........................................................................................................................................ 45 
7.c Crimes contra o patrimônio: estelionato e outras fraudes de competência da Justiça Federal. ............................................... 47 
8.a. Princípio de interpretação e aplicação da lei penal. Concurso aparente de normas. .............................................................. 51 
8.b. Direito penal e os indígenas. .................................................................................................................................................. 53 
8.c. Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual. ............................................................................................. 56 
9.a. Teoria do crime. ..................................................................................................................................................................... 59 
9.b. Crimes contra o patrimônio: apropriação indébita e receptação e crimes contra a propriedade intelectual. ........................... 63 
9.c. Crimes de competência federal praticados contra criança e adolescente. .............................................................................. 67 
10.a. Teoria da conduta................................................................................................................................................................. 70 
10.b Crimes contra a organização do trabalho e redução a condição análoga à de escravo. ....................................................... 71 
10.c. Crimes contra a saúde pública e os relacionados à remoção e transplante de órgãos. ........................................................ 73 
11.a. Causalidade e imputação objetiva. ....................................................................................................................................... 75 
11.b. Crimes de responsabilidade de prefeitos .............................................................................................................................. 77 
11.c. Crimes contra a administração da Justiça. ........................................................................................................................... 79 
12. a. Teoria do tipo doloso. .......................................................................................................................................................... 82 
12.b. Extinção da punibilidade. ...................................................................................................................................................... 84 
12.c. Crimes contra a fé pública. ................................................................................................................................................... 87 
13.a. Teoria do tipo culposo .......................................................................................................................................................... 92 
13.b. Crimes previstos na Lei n. 10.826, de 22/12/03. ................................................................................................................... 94 
13.c. Crimes contra a ordem tributária e previdência social. ......................................................................................................... 96 
14.a. Teoria do tipo omissivo ......................................................................................................................................................... 99 
14.b. Crimes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas. .............................................................................................................. 101 
14.c. Crimes previstos no Estatuto de Roma (ER): normas gerais. ............................................................................................. 104 
15.a. Ilicitude penal. .................................................................................................................................................................... 106 
15.b. Crimes contra o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural. .................................................................................... 108 
15.c. Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores .......................................................................................... 111 
16.a. Culpabilidade. .....................................................................................................................................................................113 
16.b. Crimes contra a ordem econômica e contra as relações de consumo. ............................................................................... 115 
16.c. Crimes contra a paz pública e organizações criminosas. ................................................................................................... 117 
17.a. Teoria do Erro .................................................................................................................................................................... 119 
17.b. Genocídio e Tortura ............................................................................................................................................................ 120 
17.c. Crimes nas licitações públicas e crimes contra as finanças públicas .................................................................................. 122 
18.a. Etapas da realização do crime. .......................................................................................................................................... 124 
18.b. Corrupção. Associação Criminosa...................................................................................................................................... 125 
18.c. Crimes de preconceito e de discriminação. 
 ...................................................................................................................... 127 
19. a. Concurso de pessoas ........................................................................................................................................................ 129 
19.b. Crimes contra a administração pública praticados por funcionário 
público. ...................................................................... 130 
19. c. Crimes contra a incolumidade pública: crimes de perigo comum e contra a segurança dos meios de comunicação e 
transporte e outros serviços públicos. ......................................................................................................................................... 132 
20.a – Teoria da pena ................................................................................................................................................................. 134 
20.b. Aspectos relativos à repressão penal contidas em convenções internacionais sobre corrupção, organizações criminosas, 
tráfico de pessoas, tráfico de armas, terrorismo e escravidão. .................................................................................................... 136 
20.c. Crimes contra a administração pública praticados por particular. ....................................................................................... 143 
 
3 
1.a - Dogmática jurídico-penal: teorias contemporâneas. 
 
Nas palavras de Jesus-Maria Silva Sanchez, “a elaboração categorial e a integração dos diversos conceitos jurídico-
penais em um sistema, características dos estudos dogmáticos, proporcionam – seja qual for o método ou concepção 
dogmática da qual se parta – uma segurança jurídica de outro modo inexistente”. Assim, a dogmática serve ao 
estabelecimento de limites e garantias, de modo a evitar improvisações, irracionalidades ou arbitrariedades na atividade 
estatal de punir. 
Segundo Luiz Flavio Gomes, dogmática jurídico-penal e a “ciência que estuda, sistematiza e busca aprimorar as 
disposições legais e a opinião cientifica no campo do Direito penal”. 
No âmbito da dogmática jurídico-penal, destacam-se as teorias do delito, que conceituam e estruturam o crime sob 
diversas perspectivas. Tratar-se-á neste resumo, portanto, das principais teorias que se propuseram a elaborar ou a 
aperfeiçoar uma visão dogmática do delito. São elas: a teoria causal-naturalista; a neokantista; a finalista; a funcionalista 
(sob diferentes critérios: teleológico-funcional de Roxin, funcionalista sistêmico de Jakobs, funcionalista do controle social de 
Hassemer, reducionista de Zaffaroni, etc.). 
Teoria Causal-Naturalista. Esta teoria parte de uma influencia positivista, formalista e como diz o nome, naturalista, 
decorrente do método científico das ciências naturais (dedutivo). Deste modo, tem uma maior preocupação com a 
causalidade existente entre a pratica de um ato e a produção de um resultado que representa a violação de um bem jurídico. 
O crime e assim visto como fato natural e a ação humana da qual decorre, um movimento corporal voluntario que causa 
modificação no mundo exterior. Não se fazia qualquer valoração da conduta, não havia o aporte de elementos normativos 
na conceituação analítica do delito. Alias, o termo conduta somente foi introduzido por Radbruch, para abarcar as omissões. 
A vontade compreendia duas partes: uma externa (objetiva), que corresponde ao processo causal; e outra interna (subjetiva), 
que corresponde ao conteúdo final da ação (dolo/culpa). Em consequência, pretendia-se uma divisão bipartida do delito: 
uma parte objetiva (tipicidade e antijuridicidade) e outra subjetiva (culpabilidade: imputabilidade e dolo/culpa). O dolo, aqui, 
era o “dolus malus”, compreendendo consciência do fato e consciência da ilicitude. A tipicidade era indicio da antijuridicidade: 
ratio cognoscendi. Essa teoria foi desenvolvida, basicamente, por Franz Von Liszt e Beling. 
Teoria Neokantista. O neokantismo, surgido principalmente com Mezger, se propôs a agregar elementos normativos 
a estruturação analítica anterior. Parte-se de um enfoque deontológico (e não ontológico), de modo que a definição dos 
conceitos depende muito mais do sujeito que interpreta o objeto, ou seja, dos valores que o sujeito atribui a um dado objeto, 
que do objeto em si mesmo. Utiliza-se de concepção filosófica fundada em três planos: o da realidade sensível, o dos valores 
e o das significações. A realidade sensível, neste enfoque, não tem qualquer valor intrínseco, absoluto, imutável ou universal 
(como proposto pelos naturalistas), os valores são dados pelo sujeito que realiza uma compreensão do fenômeno, atribuindo-
lhe significação (valores condicionados subjetivamente, culturalmente). Deste modo, sugere-se um deslocamento do método 
explicativo (próprio das ciências naturais) para o método compreensivo (próprio das ciências humanas) – Silva Sanchez. Em 
consequência, a tipicidade passa a ser encarada como a valoração negativa de uma conduta por parte do legislador, 
contendo, inclusive, elementos normativos específicos, como “funcionário público”, “coisa alheia” – Luiz Flavio Gomes. 
Considera-se o bem jurídico como realização de um valor, e sua lesão como critério decisivo da interpretação dos 
tipos. A antijuridicidade passa a ficar atrelada ao conceito de danosidade social e de princípios materiais, donde se parte 
para fundamentar a existência de causas supralegais de justificação da conduta. Por fim, a culpabilidade passa a ser 
psicológico-normativa, uma vez introduzido o elemento “exigibilidade de conduta diversa” neste requisito. A teoria ficou 
marcada pelo excessivo subjetivismo epistemológico ou relativismo axiológico, embora tenha agregado fundamentos 
indispensáveis à evolução dogmática no sentido da interpretação valorativa e material dos requisitos do delito, além de ter 
agregado elementos novos, como a exigibilidade de conduta diversa. 
TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO. Foi nesta época, em que a filosofia neokantiana estava em 
pleno vapor (meados do século XIX ate o inicio do século XX), que se desenvolveu a teoria dos elementos negativos do tipo, 
criada por Merkel e aperfeiçoada por Frank e Radbruch. De acordo com essa teoria, o tipo penal já contém a antijuridicidade, 
compondo-se de duas partes: uma positiva (realização dos elementos do tipo, no sentido tradicional) e uma negativa, que 
corresponde à ausência de causas de justificação. Assim, para que se possa dizer que um fato e típico, deve-se perquirir se 
e ilícito (tipo total de injusto); se não for ilícito, não será típico. A tipicidade e a própria essênciada antijuridicidade (ratio 
essendi). 
Teoria Finalista. Criação de Hans Welzel, esta teoria partiu de uma tentativa de frear o subjetivismo próprio da teoria 
neokantista, de modo a estabelecer um conceito prévio de ação, com base em estruturas logico-objetivas, apto a vincular o 
legislador. Assim, evita-se que o legislador/juiz exercite o poder de definir os conceitos a partir de valores escolhidos de 
forma absoluta ou ilimitada. Parte-se, pois, de um enfoque ontológico, em que se sustenta que a realidade já tem incorporada 
a dimensão de sentido. Deste modo, o sujeito que interpreta o fenômeno apenas identifica as estruturas logico-objetivas da 
realidade e a partir dai conclui qual e a regulação jurídica que se deve dar aos diferentes problemas penais – Silva-Sanchez. 
Neste sentido, conforme exemplo citado na obra de Silva-Sanchez, e possível conferir a uma cadeira o mesmo 
regramento jurídico dado a uma mesa, mas não se pode pretender conferir a cadeira a capacidade negocial dos homens, já 
que falta a cadeira capacidade ontológica para isso. Mais precisamente no que toca ao direito penal, as estruturas logico-
objetivas serão: a estrutura final da ação e a estrutura da culpabilidade como poder atuar de outro modo. A estrutura final da 
ação, concebida como atividade dirigida a um fim (já que e o fim que diferencia o delito – de matar, no homicídio, de lesionar, 
na lesão), teve como consequência o deslocamento do elemento subjetivo (dolo/culpa) para a tipicidade. Sim, porque se 
finalidade pressupõe dolo, infere-se que o dolo pertence a ação. Ademais, se a conduta já possui um valor (ou desvalor) em 
si mesma, uma vez dirigida a um fim desvalioso que poderia ser evitado (estrutura final da ação+possibilidade de atuar de 
outro modo), o resultado no finalismo deixa de ter maior importância, o delito passa a ser conceituado como violação ético-
social, e não como violação a bem jurídico (definição presente tanto no causalismo como no neokantismo). O finalismo 
pretende, pois, que os dois elementos logico-objetivos apontados sejam suficientes para evitar uma interpretação irracional 
do legislador, no sentido de erigir como crime conduta destituída de intenção dirigida a uma violação ético-social, ou ação 
justificável pela inexigibilidade de conduta diversa. Ainda como consequência da teoria: abandona-se o dolo normativo e 
adota-se o natural (somente consciência do fato); na antijuridicidade, o importante e analisar se o autor, na pratica da 
4 
conduta, afastou-se das normas éticas tuteladas pela norma; a culpabilidade passa a ser puramente normativa 
(imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa); principio da adequação social e 
utilizado para excluir a tipicidade. Criticas: pouco explica os crimes omissivos e os culposos; centra-se no desvalor social da 
ação e não do resultado; como não transcendeu a realidade ontológica para aproximar-se da realidade concreta, pouco se 
preocupou com a solução justa para o caso concreto. 
Teoria social da ação. Desenvolvida por Johannes Wessels e Hans-Heinrich Jescheck, esta teoria acrescenta uma 
nova dimensão à sistematização em voga: a relevância ou transcendência social da ação. “A conduta, para a teoria social, 
e o comportamento humano voluntario psiquicamente dirigido a um fim socialmente reprovável”. Observa-se, assim, que a 
teoria teve o objetivo de conferir nova definição ao conceito de conduta, de modo a incorporar elemento negativo implícito 
no tipo. Melhor dizendo, em um exame concreto, se a conduta tem adequação social, deixa de ser típica. Padeceu de 
excessiva vagueza, ante a indefinição do que seja transcendência ou relevância social. 
Teorias Funcionalistas. Emprega-se o termo “teorias”, assim no plural, tendo em vista que, apesar de voltadas a 
um novo enfoque, de sistematização e interpretação dos conceitos de acordo com a função do Direito Penal, representam 
distintas vertentes de orientação dogmática, justamente pela multiplicidade de funções do Direito Penal a que se pode dar 
relevância. Como característica comum, há uma superação do método dedutivo-abstrato para uma espécie de sistema 
aberto, em que se combinam considerações tópicas (voltadas ao caso concreto) e abstratas (no campo da valoração). Assim, 
referido sistema aberto de interpretação/estruturação do crime, permite: a combinação necessária de elementos externos ao 
Direito Penal, como a Politica Criminal (Roxin), ou perspectivas de cunho sociológico, como a teoria luhmaniana dos sistemas 
(Jakobs); a construção de uma ciência evolutiva, atenta a evolução de conhecimento e comportamento; e a analise da 
realidade concreta, como reflexo de uma maior preocupação com a solução mais justa dos casos. Há um afastamento da 
compreensão ontológica, de forma radical (Jakobs) ou moderada (Roxin), para dar ênfase à atividade valorativa do sujeito, 
que estaria limitada não pelas categorias imanentes ao ser, mas por valores e princípios de politica-criminal, direitos humanos 
e Estado Social e Democrático de Direito (Roxin), ou por um fim de estabilização do sistema (Jakobs). Roxin, no entanto, 
mantem os limites do sentido ordinário de linguagem, elementos de ordem ontológica, mas sempre sob a orientação politico-
criminal. 
Jakobs, de sua parte, absolutiza o funcionalismo. Nas palavras de Silva Sanchez e LFG, a referencia a valorações 
politico-criminais e a única forma de racionalizar o sistema penal (coibir relativismos e arbitrariedades do legislador/julgador; 
reduzir a intervenção penal e sua intensidade aos limites necessários), diante das inseguranças que os conceitos ontológicos 
produzem em uma sociedade plural e pluricultural. Um dos pontos mais relevantes do funcionalismo e, pois, a integração de 
uma tipicidade material ao modelo já conhecido (formal+subjetivo). Nesta categoria, há o aporte de princípios e teorias, a 
exemplo da teoria da imputação objetiva (Roxin e Jakobs) e da tipicidade conglobante (Zaffaroni). Passemos a exposição 
das principais correntes funcionalistas, isoladamente. 
ROXIN. CONCEITO TELEOLOGICO-FUNCIONAL, funcionalista-teleológico ou racionalfinal. Observa-se uma 
ênfase nos fins e princípios da Politica-Criminal (rompe-se a barreira entre Direito Penal e Politica-Criminal) e nas funções 
de prevenção geral e especial negativas. O crime e dividido em tipicidade, antijuridicidade e responsabilidade. Assim, no 
exame de uma conduta a luz do Direito Penal, verifica-se, primeiro, se e formalmente típica. Em seguida, se e materialmente 
típica, analisando-se se houve “ofensa desvaliosa a bem jurídico relevante” (conceito de crime para Roxin). Aqui incide uma 
serie de princípios de Politica-Criminal e direitos humanos, que funcionam como guia da atividade valorativa/interpretativa, 
como o principio da intervenção mínima, a função da norma sob interpretação (prevenção geral de lesões ao bem jurídico), 
além de uma teoria que exclui a imputação objetiva nos casos em que não houve criação de “risco proibido, concretizado no 
resultado produzido”. A teoria da imputação objetiva leva esse nome, tendo em vista que precede a analise do aspecto 
subjetivo da tipicidade (dolo/culpa). Assim, somente se a conduta se amoldar a redação legal e configurar ação/resultado 
relevantes para o Direito Penal, a luz dos princípios e teorias citados, e que se passara ao exame do elemento subjetivo do 
tipo. Presente o dolo ou a culpa, parte-se para a analise da antijuridicidade, também normativa, campo de ponderação dos 
bens jurídicos envolvidos. Por fim, a responsabilidade, que e formada pela culpabilidade, já conhecida, além de necessidade 
concreta da pena para fins de prevenção do delito, aspecto individualizante da resposta penal (fim de prevenção especial). 
JAKOBS. CONCEITO FUNCIONALISTA SISTÊMICO. Para Jakobs, delito e toda violação da norma, disfuncional as 
expectativas sociais de convivência. Delito e a frustraçãodas expectativas normativas. Pena e a confirmação da vigência da 
norma. O Direito Penal existiria, assim, para proteger a norma e por via indireta, os bens jurídicos; e um instrumento de 
estabilização do sistema. Verifica-se, pois, uma ênfase na função de prevenção geral positiva da pena, no simbolismo da 
intervenção penal para garantir um sentimento de preservação das normas e valores sociais. Parte da teoria luhmaniana 
dos sistemas, em que a presença dos riscos (da convivência em sociedade e do progresso) exige um mecanismo de 
estabilização, que seria o sentimento geral de eficácia das normas jurídicas regulatórias. Jakobs divide o crime em tipicidade 
(formal, material e subjetiva), antijuridicidade e culpabilidade. Na tipicidade material, utiliza-se da teoria da imputação objetiva 
com enfoque na representação de funções, de papeis na sociedade, e no principio da confiança, o que reflete sua 
preocupação com os sistemas e microssistemas. No campo da culpabilidade, propõe um exame da conduta de modo 
atrelado a finalidade preventiva geral: culpável e o agente que tenha alternativa de comportamento, mas não se motivou pelo 
respeito à norma. A principal critica que se faz a essa teoria e de que pode servir a um Estado totalitário, porque não se 
questiona o conteúdo das normas, os valores sociais a que se prestam. O sistema dogmático não conta com valores e 
princípios orientadores e limitadores. O que vale e a estabilização do sistema, e não a proteção da dignidade do ser humano, 
das garantias e direitos fundamentais do homem. Trata-se de um modelo mais sociológico que dogmático-jurídico. Referida 
critica foi agravada quando Jakobs passou a defender a existência de dois Direitos Penais, um para o cidadão, com garantias; 
outro para o inimigo, sem garantias. 
HASSEMER. CONCEITO FUNCIONALISTA DO CONTROLE SOCIAL. Direito Penal e meio formal de controle 
social, para manutenção de determinada ordem social. Delito e conduta desviada e pena e reação social formal, sob 
garantias de Estado Democrático de Direito. O Direito Penal existe para cumprir essas funções garantistas. 
ZAFFARONI. FUNCIONALISMO REDUCIONISTA OU CONTENCIONISTA. Função do Direito Penal e reduzir a 
violência do Estado de polícia, assim como sua seletividade inerente. Também tem a função de tornar o poder punitivo 
menos irracional. Agrega à tipicidade a teoria da tipicidade conglobante, de forma que a tipicidade penal seria formada pela 
5 
tipicidade legal (ou formal) + tipicidade conglobante (antinormatividade, violação da norma subjacente ao tipo). A 
antinormatividade exige uma interpretação sistematizada, de modo a excluir a tipicidade de condutas que, embora descritas 
num tipo penal, são fomentadas por outras normas jurídicas. 
Paulo Queiroz critica a coerência e necessidade de dita teoria, sob o argumento de que, em verdade, não há sequer 
tipicidade formal nos casos citados por Zaffaroni, seja porque mesmo num juízo de subsunção e preciso fazer uso de uma 
interpretação sistematizada e teleológica, seja porque há uma exclusão justificada pelo estrito cumprimento de dever legal, 
seja porque não há criação de um risco proibido. 
LUIZ FLAVIO GOMES. Para LFG, crime envolve tipicidade e antijuridicidade, sendo a culpabilidade um dos 
fundamentos da pena. Ademais, somente há efetividade na norma quando há exigência de ameaça de pena (punibilidade), 
que transforma o crime em fato punível. LFG da especial ênfase ao principio da ofensividade na analise da tipicidade material, 
já que comunga da definição de delito como ofensa a bem jurídico relevante. Propõe a exclusão da culpabilidade/punibilidade 
do conceito de crime para aperfeiçoar algumas questões praticas: na receptação, haveria de se falar em crime anterior 
mesmo quando o furto fora praticado por menor; quem auxilia filho a furtar o pai participaria de crime, só não estaria 
alcançado pela escusa absolutória; quem auxilia embaixador estrangeiro a matar pessoa do país acreditante pratica crime, 
só não estaria alcançado pela imunidade. Em outras palavras, a diferença e que para uns o crime não tera efetividade. 
PAULO QUEIROZ. CONCEITO MONISTA-FUNCIONAL. Para Paulo Queiroz, não há razão para a autonomia dos 
requisitos do crime (tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade), pois não passam de momentos, níveis ou graus de apuracao 
do carater criminoso do fato. Defende, então, não só um entrelacamento de tipicidade e antijuridicidade, como a teoria dos 
elementos negativos do tipo já o propõe, mas também da culpabilidade. Explica-se: a culpabilidade e expressão de 
exigibilidade de conduta diversa, tendo em vista os fins de prevenção geral e especial, já que nos casos de ausência de 
culpabilidade o que se tem e uma impossibilidade ou falta de razoabilidade de se exigir um comportamento conforme as 
normas. Assim, nos termos de Paulo Queiroz: “a exigibilidade de uma conduta diversa (conforme o direito) não e uma análise 
posterior, nem estranha a verificacao do injusto penal, nem e exclusividade da culpabilidade, visto que e contemporanea da 
própria intervenção jurídico-penal, por ser uma consequência logica da natureza instrumental (ou funcional ou preventiva) 
do direito penal. Mais ainda: e a exigibilidade, em face da normal motivabilidade, que determina, em ultima analise, a 
atipicidade do fato (mas não só ela, pois contam, também, critérios de conveniência politicocriminal) e a justificação de certos 
comportamentos (causas de exclusão de ilicitude)”. Noutros termos, “se função do direito penal e motivar comportamentos 
no sentido do comando normativo, segue-se que semelhante tarefa somente pode ser dirigida aquele que se ache em 
condições físicas, psíquicas, culturais, etc., de entender tais normas e de poder agir segundo a pretensão do legislador que 
as editou”. Dai o autor explica que diversas causas de exclusão de conduta, de atipicidade ou antijuridicidade se 
fundamentam na mesma questão: norma penal carece do poder de motivar no caso concreto (a exemplo da coação física 
irresistível, conduta sem dolo ou culpa, legitima defesa, etc.). Assim, a exigibilidade esta presente em todos os outros 
critérios, sendo o que se chama de culpabilidade mais um nome para designar casos em que o legislador considera 
desnecessária a pena. A transferência de uma causa de justificação de um requisito ao outro não tem qualquer repercussão 
pratica, mas somente sistemática, como ocorreu com o dolo e a culpa (transferidos para a tipicidade), como ocorre com o 
consentimento do ofendido que e, para alguns (Roxin), causa de exclusão da tipicidade e, para muitos outros, de 
antijuridicidade. Trata-se, pois, de interpretação que, por ser essencialmente subjetiva, gera divergências de toda espécie. 
Deste modo, propõe que a teoria dos elementos negativos do tipo seja revista “para compreender: a) a realização de todos 
os elementos do tipo; b) a ausência de causas de justificação; e c) a ausência de causas de exclusão de culpabilidade”. 
 
6 
1.b – Aplicação da pena 
 
1. Aplicação da pena. Cuida-se de ato discricionário juridicamente vinculado. É regida pelo princípio da individualização 
da pena (art. 5º, XLVI, da CF/88). A orientação dada por tal princípio ocorre em três momentos distintos: (i) individualização 
legislativa: processo através do qual são selecionados os fatos puníveis e cominadas as sanções respectivas, estabelecendo 
os limites e os critérios de fixação da pena; (ii) individualização judicial: elaborada pelo juiz na sentença, é a atividade que 
concretiza a individualização legislativa que cominou abstratamente as sanções penais, consistindo na aplicação da pena; e 
(iii) individualização executória: é a que ocorre durante o cumprimento da pena. 
Adota-se, no Brasil, o critério trifásico de aplicação da pena (art. 68 do CP), de Nélson Hungria. Entretanto, para a pena 
de multa adotou-se o sistema bifásico (art. 49 do CP); fixa-se inicialmente o númerode dias multa e, após, calcula-se o valor 
de cada dia-multa. A aplicação da pena é feita em três fases distintas e sucessivas: 1ª) pena-base, a partir das circunstâncias 
judiciais do art. 59 do CP; 2ª) pena-provisória, fase em que incidem as circunstâncias legais (atenuantes e agravantes); e 3ª) 
pena-definitiva, em que se consideram as causas de aumento e de diminuição. Em um primeiro momento são analisadas as 
elementares e as circunstâncias do crime, a fim de que se chegue à adequação típica. As elementares são componentes do 
tipo penal, enquanto as circunstâncias são moduladoras da aplicação da pena, e são acidentais, isto é, podem ou não existir 
na configuração da conduta típica. 
A forma mais segura para distinguir se determinado fator previsto em lei constitui-se em elementar ou circunstância se 
faz pelo critério da exclusão. Se a sua retirada resultar na atipicidade do fato ou na desclassificação para outro delito, trata-
se de elementar. Mas se subsistir o mesmo crime, alterando-se somente a quantidade de pena, cuida-se de circunstância. 
As circunstâncias, que não constituem e nem qualificam o crime, são conhecidas na doutrina como circunstâncias judiciais, 
circunstâncias legais e causas de aumento e de diminuição da pena. 
Seguem algumas regras inerentes ao critério trifásico: a) na pena-base o juiz deve navegar dentro dos limites legais 
cominados à infração penal, isto é, não pode ultrapassar o patamar mínimo nem o patamar máximo correspondente ao 
crime; b) se estiverem presentes agravantes e atenuantes genéricas, a pena não pode ser elevada além do máximo 
abstratamente cominado nem reduzida aquém do mínimo legal; c) as causas de aumento e de diminuição são aplicáveis em 
relação à reprimenda resultante da segunda fase, e não sobre a pena-base. Havendo causas de aumento/diminuição, a 
pena pode ser definitivamente fixada acima ou abaixo dos limites máximos e mínimos fixados pelo legislador; d) na ausência 
de agravantes e/ou atenuantes genéricas e também de causas de aumento/diminuição, a pena-base resultará como 
definitiva. 
2. Código Penal e leis especiais. 1ª Fase: Análise das circunstâncias judiciais. O art. 59 CP prevê 8 (oito) 
circunstâncias que devem ser levadas em conta pelo magistrado quando da fixação da pena-base: 1) culpabilidade: grau de 
reprovação da conduta. Não se confunde com a culpabilidade como “fundamento da pena”, ou seja, aquela que compõe a 
estrutura do crime (exigibilidade de conduta diversa, imputabilidade e potencial consciência da ilicitude). Deve ser examinada 
com base na maior ou menor censurabilidade do comportamento do agente. Quanto mais intenso for o dolo, maior será a 
censura; 2) antecedentes: fatos anteriores praticados pelo réu. A noção do que sejam antecedentes vem sendo construída 
pela jurisprudência, devendo ser entendido como tal aquelas condenações definitivas por fatos praticados antes daquele 
objeto da aplicação da pena. Ademais, os antecedentes assumem caráter subsidiário em relação à reincidência (agravante 
da segunda fase de aplicação da pena). O STJ editou a sumula 444 com o seguinte teor: “É vedada a utilização de inquéritos 
policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.” Segundo esse entendimento, somente será antecedente a 
condenação anterior que não servir para a reincidência (A questão não está pacificada no âmbito do STF, que, em uma 
guinada de entendimento, decidiu recentemente no sentido contrário); 3) personalidade: síntese das qualidades morais e 
sociais do agente. Perfil subjetivo do réu; 4) conduta social: comportamento do agente em seu meio social, na família, no 
emprego. Estilo de vida; 5) motivos determinantes: fonte propulsora da vontade criminosa. Podem ser imorais/antissociais 
ou morais/sociais. Só cabe quando a motivação não caracterizar qualificadora, causa de diminuição etc.; 6) circunstâncias 
do crime: forma e natureza da ação, meios utilizados, tempo, lugar e forma de execução; 7) consequências do crime: analisa-
se a maior ou menor danosidade decorrente da ação delituosa. Exemplo: matar um arrimo de família; 8) comportamento da 
vítima: serve apenas para melhorar a situação do réu. Leva em conta estudos de vitimologia. É comum no estelionato. 
Analisa-se se a vítima, de algum modo, contribuiu para o crime. 
2ª Fase: Circunstâncias legais: agravantes e atenuantes genéricas. Agravantes: art. 61 e 62 (rol taxativo). 
Atenuantes: art. 65 e 66 (rol exemplificativo). O CP não estabelece a quantidade de aumento ou diminuição das agravantes 
e atenuantes. Todavia, utiliza-se na prática forense a fração de 1/6 (um sexto). Ao final dessa fase, chega-se à pena 
provisória. Na segunda fase não é possível ultrapassar os limites da pena (mínima e máxima) previamente estabelecidos 
no tipo penal. Dentre as atenuantes inominadas (art. 66 do CP), encontra-se a co-culpabilidade, que é a situação em que 
o agente (em regra, pobre e marginalizado) deve ser punido de modo mais brando pelo motivo de a ele não terem sido 
conferidas, pela sociedade e pelo Estado todas as oportunidades para o seu desenvolvimento como ser humano. Quando 
houver duas qualificadoras, uma deverá ser valorada como tal e a outra deverá ser considerada como agravante genérica, 
desde que elencada tal circunstância, caso contrário deverá ser avaliada como circunstância judicial. 
3ª Fase: Causas de aumento e de diminuição da pena. São também chamadas de majorantes e minorantes. São 
estabelecidas em quantidades fixas (metade, dobro, triplo) ou variáveis (ex. um a dois terços). Dividem-se em genéricas 
(parte geral do CP) e específicas (parte especial do CP e leis extravagantes). Em caso de concurso, v. art. 68, parágrafo 
único. Concluída a dosimetria da pena, a etapa seguinte consiste em determinar o regime inicial de cumprimento da pena 
privativa de liberdade: fechado, semiaberto ou aberto. No caso de crime hediondo, o regime inicial será, necessariamente, o 
fechado. Após, o magistrado deve analisar eventual possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva 
de direito ou multa. E se não for cabível a substituição, mas a pena for igual ou inferior a 2 (dois) anos, exige-se manifestação 
fundamentada acerca da pertinência ou não da suspensão condicional da pena (sursis), se presentes os requisitos legais. 
Leis especiais: nenhuma lei esparsa consagra um modo especial de dosimetria da pena, aplicando-se, por inteiro, as 
previsões do CP. Todavia, o art. 42 da Lei 11.343/2006 estabelece que o juiz considerará, com preponderância sobre o art. 
59 do CP, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Há, ainda, 
agravantes e atenuantes previstas em outras leis. 
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3. Casuística. Súmulas STF: 718: e 719. Súmulas STJ: 231; 440; 443; e 444. 
Superando divergências entre suas turmas, a Terceira Seção do STJ, no julgamento do EREsp 1.154.752/RS, 
pacificou o entendimento no sentido de que a agravante da reincidência e a atenuante da confissão espontânea - que envolve 
a personalidade do agente - são igualmente preponderantes, razão pela qual devem ser compensadas (STJ. 6ª Turma. HC 
301.693/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 04/12/2014). Já a 2ª Turma do STF diverge deste 
entendimento: “A teor do disposto no art. 67 do Código Penal, a circunstância agravante da reincidência, como 
preponderante, prevalece sobre a confissão.” (STF. 2ª Turma. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/03/2014). 
A atenuante da menoridade relativa prepondera sobre qualquer outra circunstância, inclusive sobre a reincidência 
(STJ, HC 162.216). Não configura bis in idem a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado, para 
caracterizar os maus antecedentes e a reincidência, desde que uma delas seja utilizada para exasperar a pena-base e a 
outra na segunda fase da dosimetria (STJ, HC 167.459). O critério de acréscimo/diminuição na segundafase é discricionário, 
cabendo ao juiz estabelecer um valor proporcional e razoável, observado o caso concreto; o patamar de 1/6, embora erigido 
pela jurisprudência e doutrina como fração média razoável e proporcional, não é necessariamente o máximo a ser acrescido 
(STJ, HC 179.964). O quantum de redução pela circunstância atenuante deve observar os princípios da proporcionalidade, 
razoabilidade, necessidade e suficiência à reprovação e prevenção ao crime (STJ, HC 141.273). A atenuante da confissão 
espontânea é inaplicável às hipóteses em que o agente é preso em flagrante (STF, HC 102.002). Se a confissão espontânea 
do acusado foi utilizada para corroborar o acervo provatório, embasando a condenação, é obrigatória a atenuação da pena, 
ainda que tenha havido retratação em juízo (STJ, HC 161.194). 
 
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1.c - Crimes de homicídio, de lesões corporais e de periclitação da vida e da saúde. 
 
Homicídio: classificação: crime comum; material; de forma livre; comissivo (em regra); instantâneo; de dano; 
unissubjetivo; plurissubsistente. 
Homicídio simples: matar alguém (caput): pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena: § 1º 
Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, 
logo em seguida a injusta provocação da vitima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado: 
§ 2° Se o homicídio e cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo 
fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar 
perigo comum; IV - a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a 
defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: pena - reclusão, 
de doze a trinta anos. 
Feminicídio: Recentemente foi introduzida mais uma qualificadora ao homicídio pela Lei 13.104/2015, denominada 
de feminicídio. Não constitui crime específico, mas forma qualificada do crime de homicídio: VI - contra a mulher por razões 
da condição de sexo feminino: PENA - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de 
sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de 
mulher. 
Homicídio culposo: § 3º Se o homicídio e culposo: pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena: § 4o No 
homicídio culposo, a pena e aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, 
arte ou oficio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro a vitima, não procura diminuir as consequências do seu ato, 
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena e aumentada de 1/3 (um terço) se o crime e 
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5o - Na hipótese de homicídio culposo, 
o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que 
a sanção penal se torne desnecessária. § 6o A pena e aumentada de 1/3 (um terço) ate a metade se o crime for praticado 
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei no 
12.720, de 2012). 
O homicídio privilegiado qualificado (homicídio hibrido) e admitido, diante de qualificadoras de índole objetiva (inc. 
III e IV), e não é hediondo, para a doutrina e a jurisprudência majoritária. Assim, pode haver crime com causa de diminuição 
de pena concorrente com qualificadoras de natureza objetiva, mas não com as subjetivas. Terá diminuição alguém que, sob 
violenta emoção apos injusta provocação, matar com fogo (qualificadora objetiva) ou explosivo o provocador. Respondera 
com diminuição da pena (Damásio E. de Jesus e Claudio H. Fragoso). 
A jurisprudência mais recente do STF tem afastado a possibilidade de homicídio qualificado com dolo eventual, 
sustentando que e manifesta a incompatibilidade entre o dolo eventual, que “implica numa mera aceitação de um resultado 
possível – e a qualificadora do recurso que impossibilita a defesa da vitima, a qual reclama um preordenamento do agente 
a conduta criminosa” (STF, HC 86.163). 
Sujeito passivo: pessoa que tenha rompido o saco amniótico (ser humano nascido). E indiferente que tenha 
respirado ou não (Cezar R. Bitencourt). André Estefam: a partir do nascimento, ou Grupo IV – PENAL 12 seja, das primeiras 
contrações expulsivas em que feto começa o procedimento de saída, ou com a primeira incisão medica, na cesariana. 
Sujeito passivo especial: se for vitima o Presidente da Republica, do Senado, Câmara ou STF, será crime contra a 
Segurança Publica (Lei 7.170/83), e não homicídio. Materialidade do homicídio: e crime que deixa vestígios; na ausência do 
cadáver, admitem-se outras provas, tais como o exame indireto (ex: pericia no local, nas roupas, carro) e testemunho, como 
no caso de Elisa Samudio e do ex-goleiro Bruno do Flamengo. 
Jurisprudência sobre embriaguez no trânsito e sobre morte em “racha” ou “pega” no transito: em morte no transito 
com embriaguez, só se aplica a teoria da actio libera in causa na embriaguez preordenada. Mas não se deve generalizar 
que qualquer homicídio na direção embriagada de veiculo seja doloso, salvo nos casos de embriaguez de preordenada. A 
diferença entre dolo eventual e culpa consciente esta no elemento volitivo do tipo penal. E isso se faz pela observação de 
todas as circunstancias objetivas do caso, sem adentrar na psique do agente. Já o racha e caso de dolo eventual se houver 
morte ou lesão. A prática de competição não autorizada no transito e crime autônomo, doloso e de perigo concreto no CTB. 
Se resultar lesão ou homicídio, e progressão criminosa pra 129 (se houver lesão) ou 121 (se houver morte) dolosos. HC 
101698/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 18.10.2011. (HC-101698). 
Gêmeo siamês ou xifópago (gêmeos ‘grudados’): haverá dois crimes de homicídio doloso, ainda que deseje só a 
morte de um, pois será o caso de dolo necessário de 2º grau (consequências necessárias): concurso material. Dolo abrange 
não só o objetivo perseguido, mas também os meios escolhidos e as consequências inerentes. E diferente do dolo eventual. 
E dolo direto de segundo grau. Dolo eventual e indireto. Explodir carro para matar politico e dolo direto de 1º grau para a 
morte dele; e há dolo direto de 2o grau para a morte do motorista e dolo eventual para o ciclista ou pedestre que passava 
pelo local. 
Só será crime hediondo (Lei 8.072/90) se cometido em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por uma só 
agente. Extermínio e a matança ou chacina que visa a vitima pelo simples fato de pertencer a determinado grupo ou classe 
social ou racial. 
Relevante valor social ou moral. Relevante valor social: que tem motivação e interesse coletivos, de todos em geral. 
Ex.: homicídio por amor a pátria, amor paterno. Relevante valor moral: quando diz respeito a interesse particular. Ex: 
eutanásia. Há duas formas de eutanásia: ativa e passiva. Ativa pode ser direta e ativa indireta. Como diz André Estefam, 
todas exigem consentimento do doente, tácito ou real. Eutanásia ativa direta: há processo causal que o leva a morte. Ou 
seja, iria morrer, mas ainda estava bem. Médicos desenganaram, mas o processo que fatalmente o levaria a morte ainda 
não se iniciou. E crime. Mas, excepcionalmente, pode haver inexigibilidade de conduta diversa supralegal, se estiver sob dor 
constante e insuportável, já desenganada pelos médicos. Eutanásia ativa indireta (paliativa): estava morrendo e sua morte 
e abreviada. Ex.: drogas são ministradas para aliviar a dor insuportável. Neste caso, a morte não e desejada, mas e 
previsível. Pode ser invocado estado de necessidade. Dignidade da pessoa humana.Eutanásia passiva ou ortotanásia: 
interrupção do tratamento médico (desligar os aparelhos), processo causal mórbido já iniciado. Já estava praticamente morto. 
9 
Pode haver a morte licita se paciente, em plena consciência, solicitar sua morte. 
Emoção violenta: transitória perturbação da afetividade, ocasionada repentinamente, afetando o equilíbrio. Não se 
confunde com a atenuante genérica do art. 65, III, c do CP. No 121 §1o, deve haver domínio de violenta emoção e a conduta 
deve ser logo apos a provocação da vitima. Na atenuante genérica, deve estar sob influência de emoção, não se exigindo 
requisito temporal. 
Requisitos: 1o: emoção violenta; 2o: injusta provocação da vitima; 3o: sucessão imediata. Paixão: e a emoção em 
estado crônico, duradouro. Ex.: ódio, fanatismo, ciúme, ambição. Logo, a paixão vem da emoção. Para fins penais, se 
equiparam. A provocação da vitima deve ser injusta, mas não necessariamente ilegal. Se for uma agressão injusta contra o 
agente, pode haver legitima defesa. Deve haver imediatidade, em breve espaço de tempo. Se houver espaço de tempo para 
reflexão e preparo do crime, não há a privilegiadora. Ex: sofro a injusta provocação, vou para a casa e premedito minha 
vinganca privada – não tera o beneficio. A provocação pode ser contra terceiro ou ate animal. 
Concurso de pessoas: as circunstancias são incomunicáveis entre os concorrentes. Logo, se sou injustamente 
provocado pela vitima e, sob violenta emoção, mato o provocador, um amigo meu, que não tenha sido provocado nem 
sentido a intensa emoção, não se aproveitara da privilegiadora, que me beneficiara. A redução da pena, pelo STF, e 
obrigatória. 
Homicídio qualificado: a premeditação não constitui qualificadora. O homicídio qualificado e hediondo em qualquer 
de suas modalidades. a) Qualificado pela motivação (art. 121, § 2o, I e II): a.1) motivo torpe: e o moralmente reprovável, 
desprezível. Repugnante. Ciúme não e necessariamente torpe ou fútil. Dolo eventual e compatível com torpe e fútil. Cupidez 
e a ganancia. Um crime privilegiado não pode ser, ao mesmo tempo, torpe (STJ). Exemplos de torpeza: matar para obter 
droga, por haver uma proibição de relacionamento (ex: os irmãos 
Cravinhos e Suzane). Pode haver homicídio com dolo eventual que e qualificado pela torpeza; a.2) mediante paga 
ou promessa de recompensa. Será qualificado para ambos (mandante e autor), segundo STJ; e crime bilateral, em que o 
concurso de pessoas e necessário. Recompensas a posteriori não qualificam. Exige-se acordo prévio. Prevalece na doutrina 
que a recompensa ou paga devam ser de natureza econômica. a.3) Motivo fútil: e o motivo insignificante, banal. 
Vinganca não e motivo fútil, mas pode vir a ser torpe ou, dependendo, ate mesmo privilegiador. Vingança e ciúme 
podem ser privilegiado ou torpe ou fútil, a depender do caso concreto. Motivo não pode ser ao mesmo tempo torpe e fútil 
(STJ). O dolo eventual e compatível com o motivo fútil. Ausência de motivo não significa motivo fútil. Homicídio sem motivo 
e simples (posição de Cesar R. Bitencourt). Para F. Capez, e torpe. Ausência de motivos, para André Estefam, não 
caracteriza fútil (ou torpe). A rigor, não há crime algum que possa ser cometido por absoluta ausência de motivação. Código 
adotou teoria actio libera in causa, de modo que não se admite que embriaguez afaste, por si, a futilidade. André Estefam 
diz que o ato de beber reduz ou retira freios inibidores e, quando o agente voluntariamente ingere álcool, responde 
integralmente. 
Crime conexivo (V): crime para assegurar execução de outro e para garantir ocultação, impunidade ou vantagem. 
Pelo art. 108 do CP, nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação 
da pena resultante da conexão. Ex: no homicídio praticado para assegurar a execução de outro crime, a extinção da 
punibilidade com relação a este crime não impede o reconhecimento da qualificadora. b) qualificado pelos meios (III). 
Emprego de veneno: e indispensável que a vitima desconheça a circunstancia de estar sendo envenenada (meio insidioso 
= falso, hipócrita); substancia teoricamente inócua pode ser veneno, como o açúcar para o diabético. Veneno e substancia 
química, animal ou vegetal. 
Emprego de fogo ou explosivo: podem se constituir meio cruel ou de que pode resultar perigo comum. Emprego de 
asfixia: pode ser mecânica (ex: enforcamento, afogamento) ou toxica (uso de gás). Tortura: se o agente quer matar alguém 
através de dor intensa ou com sofrimento, e homicídio qualificado com tortura. Se o agente quer torturar e, por excesso nos 
meios a pessoa vem a morrer, ocorro crime de tortura com resultado morte (Lei 9.455/97). Se a pessoa quer torturar e, 
durante a conduta ou apos, quer matar e mata: ocorrem dois crimes em concurso material (tortura e homicídio) para alguns 
ou progressão criminosa para outros, se no mesmo contexto fático. Meio insidioso = dissimulado, hipócrita. Meio cruel: e o 
brutal, sem piedade, sofrimento desnecessário. Meio que pode resultar em perigo comum e aquele que pode atingir um 
numero indefinido ou indeterminado de pessoas. Isso e diferente dos crimes de perigo comum (Titulo VIII, Capitulo I do CP). 
Depende do elemento subjetivo, ou seja, da vontade do agente em matar ou em só causar perigo comum. Nada impede que 
haja concurso formal entre crime de perigo comum, desde que o meio escolhido, além de atingir a vitima, crie também perigo 
concreto para numero indeterminado de pessoas. Ex: incêndio (art. 250), explosão (art. 251). c) qualificado pelo modo de 
execução: são incompatíveis o dolo eventual e a qualificadora da traição, emboscada, dissimulação, etc. A traição: ataque 
sorrateiro, inesperado. Traição pode ser física ou moral (quebra de confiança). Surpresa e diferente de traição porque nesta 
há quebra da lealdade, confiança. Na surpresa, o ataque e inesperado. Há quem entenda que desentendimentos anteriores 
impedem surpresa. A superioridade de armas ou agentes não qualifica, por si só, mas e possível qualificar se há evidente 
desproporção no numero de pessoas que dificulta a defesa. júri pode redefinir a classificação dada pela pronuncia, mudando 
a qualificadora da traição pela surpresa. Emboscada: tocaia, a espreita, com ocultação premeditada. Se a vitima teve tempo 
de fugir, não incide a qualificadora. Mediante dissimulação: e a ocultação da intenção hostil. Absolvição de um por legitima 
defesa impõe a absolvição de coautor. 
Latrocínio e roubo em concurso com homicídio doloso (André Estefam): o elemento subjetivo será fundamental. Se 
houver a consumação do roubo e, apos, no mesmo contexto fático, tentar matar a vitima (‘animus necandi’), há roubo 
cumulado com tentativa de homicídio (STF). Se pretender roubar, consumando-se subtração e da violência resulta lesão 
grave, havendo intenção de matar, há três correntes: tentativa de latrocínio (André Estefam); roubo agravado por lesão 
grave; STF: roubo consumado com tentativa de homicídio, em concurso material. Logo, para o STF, se não houve morte 
como resultado da violência, mas apenas lesão grave em uma das vitimas, há homicídio tentado em concurso material com 
roubo, indo para júri (HC 91.585). Para TJDFT, 2008 09 1 013276-2 apr - 0006725-31.2008.807.0009 (res.65 - cnj) , 
consumado o roubo e tentada a morte, há latrocínio tentado. não há mero roubo qualificado (157, 2o, i) se provado animus 
necandi. Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa: se relaciona as formas anteriores. Casos concretos: vitima dormindo, 
faca escondida, vitima concentrada noutra situação. Não há surpresa se vitima percebeu a aproximação e a intenção. d) 
Qualificadoras pelos fins (V): para assegurar execução, ocultação ou impunidade ou vantagem em relação a outro crime. 
10 
Homicídio Culposo (§ 3º). Homicídio culposo com causa de aumento de pena (§4o): tera causa de aumento de pena 
o homicídio se resultarde inobservância de regra técnica de profissão, arte ou oficio: e diferente da imperícia. Na imperícia, 
o profissional não tem a capacidade técnica que deveria ter. Na inobservância, o profissional tem a capacidade técnica que 
deveria ter, mas não a emprega ou a emprega mal. Se medico foi desidioso no curso de medicina e, depois de formado, em 
ato cirúrgico que poderia realizar por ter habilitação para tanto, erra e causa morte do paciente: caso de imperícia. Se pessoa 
que não e medica faz cirurgia e mata paciente: imprudência ou ate dolo eventual. Se médico não foi desidioso em sua 
formação e realmente detém conhecimento da técnica, mas não a observa, vindo o paciente a morrer: isso e inobservância 
regulamentar (§4o). Se médico capaz na sua formação, observando as normas técnicas, vem a causar a morte, isso e erro 
profissional que não enseja responsabilização penal, haja vista as limitações da ciência. 
Omissão de socorro: aplicável nos casos em que o agente, apos ferir culposamente a vitima, sem risco pessoal, não 
lhe presta assistência, vindo ela a falecer. Não respondera pela omissão de socorro do art. 135, mas por homicídio culposo 
qualificado pela omissão de socorro. 
Perdão Judicial (§ 5o): as consequências podem ser físicas ou morais. Aplicáveis só a crime culposo. Ex: caso da 
morte da esposa de Herbert Viana. Cabe o perdão judicial nos crimes do CTB (lesão e homicídio culposos), em que pese 
seja omisso. O art. 291 do CTB manda aplicar o CP subsidiariamente. Mas tem que demonstrar que sofrimento torna 
desnecessária a pena, não sendo o mero parentesco suficiente para tanto (TJDFT, novembro de 2011). 
LESÃO CORPORAL - Art. 129 - Ofender a integridade corporal (qualquer alteração anatômica prejudicial ao corpo 
humano) ou a saúde (perturbações fisiológicas). É crime comum, doloso (animus laedendi ou animus vulnerandi), culposo 
ou preterdoloso (nas suas diversas figuras), comissivo ou omissivo, material, instantâneo e de resultado. Há causa supralegal 
de exclusão da ilicitude por consentimento do ofendido, no caso de lesão corporal leve (ex.: tatuagem, piercing, artes 
marciais) (Masson, p. 90). Lesões em atividades desportivas e esterilização de sexo configuram exercício regular de direito 
(Masson, p. 91-103). A cirurgia de troca de sexo é caso de atipicidade material, em face da melhoria da qualidade de vida 
do paciente e do propósito terapêutico de adequar a genitália ao sexo psíquico (Resolução nº 1.652/CFM [Nucci, p. 673]). 
Os crimes afetos à Lei nº 11.340/2006 (lei Maria da Penha) são de ação penal pública incondicionada (STF, ADI nº 4424). 
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE – Reúne crimes de perigo individual, concreto ou abstrato. A estrutura de 
alguns destes ilícitos prevê resultado preterdoloso, no caso de lesão corporal grave/gravíssima ou de morte, seja como 
majorante (arts. 135 e 135-A), seja como qualificadora (arts. 133, 134 e 136); caso haja dolo de incorrer nos artigos 121 e 
129, §§ 1º e 2º, estes dois tipos penais prevalecem, por força do princípio da consunção. 
Os crimes em questão são: PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO (Art. 130), PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA 
GRAVE (Art. 131), PERIGO PARA A SAÚDE OU VIDA DE OUTREM (Art. 132), ABANDONO DE INCAPAZ (Art. 133), 
EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO (Art. 134), OMISSÃO DE SOCORRO (Art. 135) CONDICIONAMENTO 
DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL (Art. 135-A) e MAUS-TRATOS (Art. 136). 
 
11 
2.a. Criminologia: teorias contemporâneas. 
 
Numa concepção moderna, Criminologia é o conjunto de conhecimentos sobre o delito como fenômeno 
social, abrangendo os processos de elaborar as leis, infringi-las e de reagir à infração. Estuda o surgimento, a dinâmica 
e as variáveis do crime, contemplando-o como fenômeno individual e como problema social. Não mais se restringe ao estudo 
empírico do crime, mas também do criminoso, da vítima e dos mecanismos de reação social, por meio de investigações 
sociológicas, psicológicas e biológicas, no escopo da compreensão global da delinquência e das duas formas de prevenção 
ou neutralização. 
A Antropologia Criminal de Lombroso e, depois, a Sociologia Criminal de Ferri constituíam matrizes fundamentais 
da Criminologia etiológica, associada à tentativa de conferir-lhe cientificidade, segundo os pressupostos epistemológicos 
do positivismo. Nessa perspectiva, a Criminologia positivista é definida como uma ciência causal-explicativa da criminalidade; 
ou seja, que, tendo por objeto a criminalidade concebida como um fenômeno natural, causalmente determinado, assume a 
tarefa de explicar as suas causas segundo o método científico ou experimental e o auxílio das estatísticas criminais oficiais 
e de prever os remédios para combatê-la. Ela indaga, fundamentalmente, o que o criminoso faz e porque o faz. Estabelece-
se desta forma uma divisão “científica” entre o (sub)mundo da criminalidade, marginalidade composta por uma “minoria” de 
sujeitos potencialmente perigosos e anormais (o “mal”) e o mundo, decente, da normalidade (o “bem”). A possibilidade de 
uma explicação “cientificamente” fundamentada das causas enseja, por extensão, uma luta científica contra a criminalidade 
erigindo o criminoso em destinatário de uma política criminal de base científica. A um passado de periculosidade confere-se 
um futuro: a recuperação. 
A introdução da ideia do “labeling approach” determinou, na Criminologia contemporânea, a formação de uma 
alternativa ao paradigma etiológico: o paradigma da “reação social” (“social reaction approach”) do “controle” ou da 
“definição”. O “labeling approach” é também denominado pela doutrina como interacionismo simbólico, etiquetamento, 
estigmatização, rotulação ou ainda por paradigma da “reação social” (social reaction approach), do “controle” ou da 
“definição”. “Labeling” parte dos conceitos de “conduta desviada” e “reação social”, como termos reciprocamente 
interdependentes, para formular sua tese central: a de que o desvio não é uma qualidade intrínseca da conduta ou uma 
entidade ontológica pré-constituída à reação social e penal, mas uma qualidade (etiqueta) atribuída a determinados sujeitos 
através de complexos processos de interação social; isto é, de processos formais e informais de definição e seleção. 
A Criminologia contemporânea desenvolvida na base deste paradigma, especialmente a Criminologia Crítica, 
tende a transformar-se, assim, de uma teoria da criminalidade para uma teoria crítica e sociológica do sistema penal. O 
sistema penal se dirige quase sempre mais contra certas pessoas do que contra certas ações legalmente definidas como 
crime. Pois os grupos poderosos na sociedade possuem a capacidade de impor ao sistema uma quase que total impunidade 
das próprias condutas criminosas. 
As diversas teorias criminológicas são comumente divididas em teorias do conflito e teorias do consenso. Na 
sociedade, existem diversos grupos sociais, cada um com seus interesses. As teorias do consenso entendem que o Estado 
funciona como mediador dos interesses contrapostos, e o Direito Penal representa um consenso social sobre a tutela desses 
interesses. As teorias do conflito veem o Estado como representante dos detentores do poder e o Direito como reflexo de 
seus interesses. Juarez Cirino dos Santos faz um contraponto entre a criminologia etiológica e a criminologia crítica, 
cuja política criminal alternativa propõe um “Direito Penal mínimo, orientado pela ideia de abolição do sistema penal, como 
objetivo estratégico final”. 
Teoria da Anomia: O delito é um fato normal na sociedade, pois sempre haverá alguém que não reconheça a 
autoridade da norma. O anormal é tanto a diminuição como o aumento brusco da criminalidade. Como o delito é um fator do 
funcionamento regular da vida social, a anomia é a expressão da quebra das regras até então vigentes em uma sociedade 
concreta. Quando se criam na sociedade espaços anômicos, ou seja, quando o indivíduoperde as referências normativas, 
então se enfraquece a solidariedade social. O indivíduo sente-se livre de vínculos sociais, tendo muitas vezes, um 
comportamento delituoso. 
Teoria Ecológica (Escola de Chicago): Vê a grande cidade como uma unidade ecológica responsável pela 
delinquência; paralelismo entre o crescimento da cidade e da criminalidade; funda-se na desorganização do desenvolvimento 
e na falta de controle social; deterioração da família, escola, perda das raízes, tentação pela riqueza vizinha e descontrole 
social. 
Teoria Espacial (Escola de Chicago): A análise da área social envolve o nível social, a urbanização e a 
segregação; busca prevenir o crime mediante nova arquitetura do espaço público. Propôs amplos programas comunitários 
para tratamento e prevenção da criminalidade, planejamento por áreas definidas, programas comunitários de recreação e 
lazer, reurbanização dos bairros pobres, alteração efetiva da situação socioeconômica das crianças. 
Teoria da Associação Criminal (ou diferencial): A conduta criminal, como qualquer outro comportamento, é 
consequência do aprendizado ao largo de um processo de “interação” com os demais. Para Sutherland: 1) o comportamento 
criminal aprende-se, não se herda nem se inventa; 2) aprende-se pelo contato social em um processo de comunicação; 3) o 
aprendizado dá-se, sobretudo, no interior de um grupo reduzido de relações pessoais; 4) compreende o ensinamento de 
técnicas de cometimento da infração, a orientação dos motivos, impulsos, razões e atitudes; 5) a orientação dos motivos 
está em função da interpretação favorável ou desfavorável das disposições legais; 6) um indivíduo se converte em criminoso 
quando as interpretações favoráveis à violação da lei preponderam sobre as favoráveis à obediência, o que constitui o 
princípio da associação diferencial; 7) a associação diferencial pode variar segundo a frequência, duração, prioridade e 
intensidade; 8) a formação criminal por associação é idêntica a qualquer outro processo de formação, ou seja, não se adquire 
pela simples imitação; 9) o comportamento criminoso é a expressão de um conjunto de necessidades e valores. 
Teoria da Subcultura Delinquente: O bando delinquente surge como resultado da estrutura de classes sociais. 
Cada grupo e subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os valores majoritários e 
sociais. A conduta delitiva não seria produto de desorganização ou ausência de valores sociais, mas o reflexo e a expressão 
de outros sistemas de normas e valores: crime é sinônimo de protesto e status no seu grupo; não utilitarismo da ação (muitos 
crimes não possuem motivação); a malícia da conduta (prazer em desconsertar e em prejudicar o outro); negativismo da 
conduta (polo oposto aos padrões da sociedade). 
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Teoria da Estigmatização (“labeling approach”): A estigmatização é o resultado negativo atribuído pelos grupos 
representantes do poder, que, ao se aperceberem de um perigo, fazem diferenças entre delinquentes e não delinquentes. A 
delinquência é consequência de processos de atribuição de papeis a uma pessoa, através de um processo dinâmico de 
interação entre o indivíduo e a sociedade, que origina naquele uma autoimagem correspondente à que os demais fazem 
dele, dando lugar normalmente a uma “desviação primária” (comportamento de defesa, ataque ou adaptação). A reação 
social posterior encaminha o processo de “desviação secundária” com a formação de modelos mais firmes de conduta 
desviada. A estigmatização pública como desviado ou criminoso implica a atribuição à pessoa correspondente de um rol 
(papel) desviado que finalmente adota e conforme o qual se comporta. 
Teoria Crítica (Radical ou Nova Criminologia): Aceita as premissas do “labeling approach”. Vincula delito e justiça 
social. Pretende defender o homem contra a sociedade de exploradores e não aceitar a defesa da sociedade contra o crime, 
pois o Direito Penal protege os interesses do grupo social dominante. Não é o criminoso que deve ser ressocializado, mas a 
própria sociedade que deve ser transformada. Entende ser o capitalismo a base da criminalidade, na medida em que 
promove o egoísmo, o qual leva os homens a delinquir. Estuda o delito em um contexto histórico, social e econômico. 
Teoria do Neorretribucionismo: Vertente surgida nos EUA, inspirada na Escola de Chicago, dando um caráter 
sagrado aos espaços públicos. Também denominada movimento de lei e ordem ou tolerância zero. Parte da premissa de 
que os pequenos delitos devem ser rechaçados, o que inibiria os mais graves, atuando como prevenção geral, pois afirma 
que existe uma relação de causalidade entre a desordem e a criminalidade (“broken windows”). 
QUESTÕES DE PROVA: conceitue criminologia. Fale do etiologismo. Correntes contemporâneas da criminologia. 
O que é vitimiologia. 
28º CPR – SEGUNDA FASE: Discorrer sobre criminologia à luz dos paradigmas etiológico e da reação 
social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2.b. Concurso de crimes. 
 
Princípios reguladores do concurso de crimes: 1) Princípio do cúmulo material: preconiza que as penas 
referentes aos vários delitos devem ser calculadas em separado e, em seguida, somadas. Cuida-se de uma operação 
meramente aritmética (quot delicta tot poenae) sendo justamente por isso criticada pela doutrina ante o seu excessivo rigor. 
A despeito do seu rigor, o sistema do cúmulo material foi adotado, entre nós, para regular o concurso material (art. 69, do 
CP), o concurso formal impróprio (art. 70, parte final, do CP), e o cumprimento da pena de multa (art. 72, do CP).2) Princípio 
do cúmulo jurídico: desenvolvido por Mittermayer, determina que o aumento de pena relativa aos vários delitos ocorra de 
maneira mais geométrica do que aritmética, ou seja, com a aplicação de sanção mais severa do que a prevista para cada 
infração isoladamente, mas sem chegar ao somatório global, de forma a abranger a gravidade dos fatos perpetrados. Esse 
sistema não é mais previsto na legislação brasileira, conquanto tenha sido adotado pelo CP/1890. 3) Princípio da absorção 
(que se assemelha ao princípio que, com a mesma denominação, regula o concurso aparente de norma): aplica-se a sanção 
de um só dos delitos, em regra a mais grave, que absorve as penas dos demais. O princípio da absorção foi, em parte, 
adotado pelo Código para regular o erro na execução e o resultado diverso do pretendido, consoante o disposto na primeira 
parte dos arts. 73 e 74, desprezando-se a punição pertinente à tentativa do delito pretendido pelo agente. 4) Princípio da 
exasperação: determina a aplicação da pena de um dos delitos, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada em 
certa quantidade, sendo que a intensidade do aumento varia em escala proporcional ao número dos delitos perpetrados pelo 
agente. A doutrina considera esse o melhor dos sistemas, pois permite ao magistrado quantificar a pena de forma mais 
adequada à quantidade dos fatos, mas sem atingir ou ultrapassar o rigor do cúmulo material. Cumpre registrar que o sistema 
da exasperação foi adotado para regular o concurso formal próprio (art. 70, 1ª parte, do CP), crime continuado (art. 71, do 
CP), e para o erro na execução e o resultado diverso do pretendido (arts. 73 e 74, parte final, do CP), quando também ocorrer 
o resultado que fora objetivado pelo agente. 5) Princípio do cumprimento unificado e progressivo da pena: importa na 
projeção do princípio da individualização da pena na sua fase executiva. Com efeito, mesmo que o agente possua diversas 
condenações, fato é que no momento em que iniciar a execução penal todas as penas devem ser unificadas perante o Juízo 
da Execução Penal. Essa é a mens do art. 1º, da LEP, secundado pelos arts. 75, § 1º, do CP, e 111, da LEP. OBS: Com 
relação ao postulado da vedação da pena de caráter perpétuo, de base constitucional(art. 5º, XLVII, “b”, da CF/1988), 
tem-se que, independentemente do sistema porventura adotado – cúmulo material, exasperação, absorção etc. –, o 
tempo de cumprimento efetivo de pena ou das penas unificadas, não poderá ultrapassar o teto máximo que, no 
Brasil, é de trinta anos (art. 75, caput). 
1) Concurso material (art. 69, CP): Ocorre quando o agente, mediante 2 ou mais condutas, dolosas ou culposas, 
pratica 2 ou mais crimes, idênticos (concurso homogêneo) ou não (concurso heterogêneo). Requisitos: Pluralidade de 
Condutas e Pluralidade de Crimes. OBS: É possível, portanto, concurso material entre crimes distintos, v.g., comissivos e 
omissivos, dolosos e culposos, consumados e tentados etc. Se as penas forem de espécies diferentes – vale dizer, reclusão 
e detenção –, o art. 69, do CP, por influência do princípio do cumprimento progressivo, determina que se execute, 
primeiramente, a reclusão, por ser mais rigorosa do que a detenção. Critério de aplicação da pena: cúmulo material, ou seja, 
as penas são aplicadas cumulativamente. No caso de condenação a penas de reclusão e detenção, executa-se primeiro a 
reclusão. Se uma pena for privativa de liberdade + restritiva de direitos, a situação é diferente. Veja: conforme dispõe o art. 
69, §1º, se o juiz não consegue suspender a pena privativa de liberdade para um dos crimes, não poderá aplicar a pena 
restritiva de direitos aos demais, que deverá ser convertida. Por fim, aplicadas duas penas restritivas de direitos, informa o 
§2º que o condenado as cumprirá simultaneamente, se compatíveis, e sucessivamente, se incompatíveis. Obs.: a) 
suspensão condicional do processo: A suspensão condicional do processo somente é admissível quando, no concurso 
material, a somatória das penas mínimas cominadas não suplanta 1 ano (STF). b) Na prescrição, cada crime prescreve 
isoladamente (art. 119 do CP), não se considerando o concurso de crimes. Até então, cuida-se da única situação em 
que as penas não são somadas. c) Quando os crimes são objeto de processos diversos, aplica-se o art. 69, III, a, da LEP, 
ou seja, essa norma dispõe que o juiz da execução tem a competência para somar ou unificar as penas. 
2) Concurso formal ou ideal (art. 70, CP): Ocorre quando o agente, mediante 1 só conduta, pratica 2 ou mais 
crimes, idênticos (concurso homogêneo) ou não (concurso heterogêneo). Requisitos: Unidade de conduta e pluralidade 
de crimes. Classificação: a) Próprio (ou perfeito): quando os crimes forem resultantes de 1 único desígnio (pena aplicada 
pelo critério da exasperação, mas será aplicado o cúmulo material se mais benéfico ao acusado); b) Impróprio (ou 
imperfeito): se forem dolosos, provenientes de desígnios autônomos (pena aplicada pelo critério do cúmulo material). 
Crimes culposos: é possível o concurso formal, desde que se trate de concurso formal próprio. Teorias: a) Subjetiva: exige-
se unidade de desígnios na conduta do agente para a configuração do concurso formal; b) Objetiva: bastam a unidade de 
conduta e a pluralidade de resultados. É a teoria acolhida pelo CP, já que o concurso formal imperfeito foi admitido 
como figura diversa. Critérios para aplicação da pena: A) Concurso formal próprio: i. Homogêneo: Escolhe-se qualquer 
uma das penas; ii. Heterogêneo: Escolhe-se a pena mais grave. Em ambos os casos, escolhida a pena, esta é aumentada, 
na terceira fase de aplicação da pena, de 1/6 a 1/2 (sistema da exasperação). Segundo o STF, leva-se em conta o número 
de infrações penais praticadas. Quanto mais infrações praticadas, mais próximo da metade; quanto menos infrações penais 
praticar, mais próximo de 1/6. Mas atente: em casos como estes, o concurso formal próprio/perfeito (que foi criado em 
benefício do réu) acaba sendo mais prejudicial que o concurso material. Resolvendo a situação, dispõe o parágrafo único do 
art. 70 que “não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código [concurso material]”. Aplica-
se, então, o cúmulo de penas, mais justo (CÚMULO MATERIAL BENÉFICO). B) Concurso formal impróprio: no caso do 
concurso formal impróprio, afasta-se o sistema da exasperação, aplicando-se o sistema da cumulação de penas. OBS: Uma 
questão que suscita discussão quanto à existência ou não de desígnios autônomos é a do roubo praticado contra vítimas 
diversas. A jurisprudência preponderante é pelo reconhecimento do concurso formal impróprio. Isso se verifica tanto no STJ, 
como no STF. Efetivamente, ao planejar e empreender as elementares do delito de roubo em locais como transporte coletivo, 
condomínios residenciais, passeio público, dentre outros, o agente atua, dolosamente, querendo a produção de mais de um 
resultado. O desígnio, não é unitário, mas voltado, de forma independente, para a obtenção ilícita dos pertences de cada 
qual dos lesados. 
3) Crime continuado (art. 71, CP): Ocorre quando o agente pratica 2 ou mais crimes da mesma espécie, 
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mediante 2 ou mais condutas, os quais, pelas condições de tempo, lugar, modo de execução e outras, podem ser tidos uns 
como continuação dos outros. [Conceito nas palavras de Gueiros: Ocorre quando o agente, mediante condutas múltiplas, 
pratica dois ou mais crimes, da mesma espécie, que devem ser considerados como se único fosse, haja vista a semelhança 
das circunstâncias objetivas de tempo, lugar e forma de execução. Por conta disso, a reprimenda penal há de ser aplicada 
não com penas cumuladas, mas, sim, com uma pena única exasperada.]. Pressupostos ou requisitos: (1) pluralidade de 
condutas; (2) pluralidade de delitos da mesma espécie; e (3) homogeneidade das circunstâncias. Elo de Continuidade: 
Requisitos para o elo de continuidade (CEZAR ROBERTO BITENCOURT): Condições de tempo (“uma certa periodicidade 
que permita observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre ações sucessivas”), Condições de lugar, Maneira de 
execução (“A lei exige semelhança e não identidade).” Outras condições semelhantes: “a doutrina aponta a mesma 
oportunidade e a mesma situação propícias para a prática do crime”. Classificação: a) Comum (ou simples): quando 
presentes os requisitos (71, caput); b) Específico (ou qualificado): quando, além dos requisitos mencionados, tratar-se de 
crimes dolosos, praticados com violência ou grave ameaça à pessoa e contra vítimas diferentes (71, §u). No crime continuado 
qualificado, são seus requisitos: os mesmos do continuado genérico; crimes dolosos; praticados contra vítimas diferentes; 
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Obs.: É possível continuidade delitiva nos crimes contra a vida, tendo 
o art. 71, parágrafo único, superado o teor da súmula 605 do STF. Critério de aplicação da pena: exasperação (no 
continuado comum aumenta-se a pena do crime mais grave de 1/6 a 1/3 e no continuado específico de 1/6 até o triplo). 
Natureza jurídica: a) Teoria da unidade real: os vários delitos consistem num único crime; b) Teoria da ficção jurídica: há 
vários delitos, mas a lei presume a existência de apenas 1, para efeito de aplicação da pena (adotada pelo CP, pois este 
trata do tema como “concurso de crimes”); c) Teoria mista: é um terceiro delito. Teorias sobre a unidade de desígnios: a) 
Puramente objetiva: o crime continuado fica caracterizado quando presentes as mesmas condições objetivas de tempo, 
lugar, modo de execução etc., independentemente de ser aferido o caráter unitário do dolo; b) Objetivo-subjetiva: para haver 
crime continuado, é necessário, além das condições objetivas, que o agente deseje praticar um crime como se fosse 
continuação de outro, como se existisse um autêntico dolo global [posição dominante na doutrina e jurisprudência. O STJ já 
teve a oportunidade de enfrentar a presente questão, mais especificamente com relação à possibilidade de haver crime 
continuado na chamada “criminalidade profissional”. Na ocasião, aquela Corte filiou-se à moderna doutrina de cunho objetivo-
subjetiva, entendendo que,

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