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(20170219142057)ARTIGO 1 DESENVOLVIMENTO E REFLEXOS

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Texto de apoio ao curso de Especialização 
Atividade Física Adaptada e Saúde 
Prof. Dr. Luzimar Teixeira 
 
DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA E ESTIMULAÇÃO PRECOCE 
 
Octávio Roberto Franco de Oliveira 
Kátia Cristina Correa Franco de Oliveira 
 
Revisão de Literatura 
 
 
Resumo 
 
Sabe-se que o desenvolvimento motor é o processo de mudanças no comportamento 
motor que envolve tanto a maturação do sistema nervoso central, quanto a interação 
com o ambiente e os estímulos dados durante o desenvolvimento da criança. Verificou-
se as fases de desenvolvimento da criança até os 18 meses de vida e como a 
estimulação precoce, principalmente em crianças nascidas pré-termo e com baixo peso, 
pode fazer a diferença em uma idade mais avançada da criança. 
 
Palavras chave: Desenvolvimento motor, fases de desenvolvimento, estimulação 
precoce. 
 
 
Abstract 
One knows that the motor development is the process of changes in the motor behavior 
that in such a way involves the maturation of the central nervous system, how much the 
interaction with the environment and the stimulatons given during the development of the 
child. One verified the phases of development of the child until the 18 months of life and 
as the precocious stimulation, mainly in children born daily pay-term and with low weight, 
can make the difference in a more advanced age of the child. 
 
Key Words: Motor development, phases of development, precocious stimulation. 
 
 
Introdução 
 
O aprimoramento motor é o ponto de partida de todo o desenvolvimento motor da 
criança. A independência adquirida com a locomoção e a manipulação de objetos 
ampliou a visão de mundo do ser humano, contribuindo e levando-o a progredir 
continuamente [1]. 
 
O desenvolvimento motor é o processo de mudança no comportamento motor, o qual 
está relacionado com a idade, tanto na postura quanto no movimento da criança [2]. 
 
O desenvolvimento é um processo de mudanças complexas e interligadas das quais 
participam todos os aspectos de crescimento e maturação dos aparelhos e sistemas dos 
organismos [3]. 
 
O desenvolvimento motor é dependente da biologia, do comportamento e do ambiente e 
não apenas da maturação do sistema nervoso [4]. Quando a criança nasce, o seu SNC 
ainda não está completamente desenvolvido. Ela percebe o mundo pelos sentidos e age 
sobre ele, criando uma interação que se modifica no decorrer do seu desenvolvimento. 
Deste modo, por meio de sua relação com o meio, o SNC se mantém em constante 
evolução, em um processo de aprendizagem que permite sua melhor adaptação ao meio 
em que vive [5]. 
 
Cada criança apresenta seu padrão característico de desenvolvimento, visto que suas 
características inerentes sofrem a influência constante de uma cadeia de transações que 
se passam entre a criança e seu ambiente. Mesmo assim, existem características 
particulares que permitem uma avaliação grosseira do nível e da qualidade do 
desempenho [3]. 
 
Um bom desenvolvimento motor repercute na vida futura da criança nos aspectos 
sociais, intelectuais e culturais, pois ao ter alguma dificuldade motora faz com que a 
criança se refugie do meio o qual não domina, conseqüentemente deixando de realizar 
ou realizando com pouca freqüência determinadas atividades [1]. 
 
A maioria das crianças nasce sem problemas de desenvolvimento. As diferenças 
individuais entre elas são muitas, inclusive características físicas, temperamento e 
personalidade; mas a seqüência de desenvolvimento é bastante previsível [6]. 
 
Sabe-se que, na ausência de sinais severos, como nos casos de paralisia cerebral e 
retardo mental, um número significativo de crianças com história de prematuridade vem 
apresentar sinais de distúrbios de aprendizagem, dificuldades de linguagem, problemas 
de comportamento, déficits de coordenação motora e percepção visuoespacial na idade 
escolar [7]. De acordo com isso, foram constatados em estudos experimentais que a 
estimulação sensório motora em recém-nascidos de risco favoreceu a adequação de 
seus padrões motores [5]. 
 
Deve-se ter em mente que as informações obtidas através de pesquisas culturais 
cruzadas sobre o desenvolvimento motor de lactentes vêm alertar pesquisadores, 
médicos, terapeutas e educadores quanto à existência de diferentes padrões no 
desenvolvimento e quanto à necessidade de conhecimento dos padrões da população 
em que se atua, evitando interpretações equivocadas de testes motores e falhas no 
diagnóstico de desvios, atrasos ou precocidade no desenvolvimento motor [8]. 
 
 
Fases do Desenvolvimento da Criança 
 
Rápidas mudanças no desenvolvimento ocorrem durante os primeiros 24 meses após o 
nascimento e influenciam dramaticamente por toda a vida. As mudanças evolutivas que 
ocorrem durante esse período são resultado de complexo desenvolvimento neurológico, 
o qual é influenciado por fatores genéticos e ambientais [8]. 
 
O conhecimento do desenvolvimento motor assume importância fundamental na clínica 
pediátrica, sobretudo, em casos de o lactente apresentar ou correr o risco de apresentar, 
distúrbio motor devido a alguma lesão nervosa ou a uma anomalia do sistema 
osteomuscular [4]. Por isso, o fisioterapeuta precisa de noções e conhecimento claros 
sobre desenvolvimento, para poder avaliar o lactente ou a criança, sabendo identificar as 
características individuais do desempenho e que conheça mais as capacidades e 
respostas diante de certos estímulos que podem ser esperados em determinada idade 
[3]. 
 
Cada criança apresenta seu padrão característico de desenvolvimento, pela influência 
sofrida em seu meio. Durante os primeiros anos de vida os progressos em relação ao 
desenvolvimento costumam obedecer a uma seqüência ordenada, mas existe 
considerável variabilidade individual, de acordo com cada criança [3]. 
 
Tendo em mente que cada criança é um indivíduo com padrão, ritmo de desenvolvimento 
e habilidades ligeiramente diferentes, Flehmig [9-22] esboça as típicas aquisições da 
criança em desenvolvimento: 
 
 
Primeiro Mês 
 
A postura do recém nascido é a flexão fisiológica. Predomina a assimetria. Em decúbito 
dorsal ele é capaz de virar a cabeça para ambas as direções. Em decúbito ventral ele é 
capaz de estender os membros inferiores reciprocamente e de virar a cabeça para liberar 
as vias aéreas nessa posição. A cabeça do recém nascido cai completamente para trás 
quando ele é puxado para a posição sentada. Quando segurado pelas axilas, apóia-se 
se mantendo erguido por alguns segundos sem fixação adequada e depois, cai fletindo 
os joelhos [9]. 
 
Durante as primeiras semanas de vida, o lactente é capaz de reagir às sensações táteis, 
gustativas, sonoras, aos movimentos e as imagens visuais, especialmente diante de um 
rosto humano, mas depende de alguém que o alimente, o proteja e o suporte contra a 
ação da gravidade e durante os movimentos no meio ambiente [3]. 
 
A criança recém-nascida move os braços, as pernas e o corpo inteiro ao mesmo tempo 
(movimento em bloco) porque não pode ainda diferenciar os movimentos separados [23]. 
Os movimentos em bloco se evidenciam principalmente durante a manipulação, embora 
também possam ocorrer durante outros movimentos, como parte gradativa do controle 
motor [4]. À medida que o córtex e as bainhas de mielina se desenvolvem, é 
estabelecida a conexão com a medula espinhal, com isso os movimentos em bloco 
diminuem e os movimentos voluntários se tornam mais precisos [23]. 
 
Objetos que se movem na linha visual são percebidos e já fixados por pouco tempo. Os 
olhos acompanham junto com a cabeça à estimulação por um objeto, ou pelo rosto da 
mãe, até a linha média. A criança reage a efeitos luminosos ou acústicos com 
enrugamento da testa, Reflexo de Moro, diminuindo a atividade ou ficando totalmente 
quieta. Já produz poucos sonslaríngeos. Chora antes das refeições. Quando ouve 
ruídos, interrompe seus movimentos mas ainda não se vira para a fonte acústica [9]. 
 
Reflexos e Reações: Sucção e deglutição, quatro pontos cardeais, olhos de boneca, fuga 
à asfixia (até o resto da vida), glabelar, magnético, colocação palmar, colocação plantar, 
tônico cervical simétrico, preensão palmar, preensão plantar, tônico cervical assimétrico, 
tônico labiríntico, Galant, Moro, positivo de apoio, cutâneo plantar em extensão, marcha 
automática e a reação de endireitamento da cabeça[10]. 
 
 
Segundo mês 
 
 Em decúbito dorsal, a criança ainda apresenta predomínio de flexão, mas realiza uma 
extensão melhor. O corpo já está simétrico. Na posição ventral já pode estender o 
segmento torácico. A cabeça levanta-se por curtos intervalos, ainda ligeiramente 
oscilando, mas não além dos 45º. Quando puxada para sentar, a cabeça ainda oscila, 
mas ela orienta-se para a posição ereta mais estável. Segurada pelas axilas, a criança 
ergue-se por alguns segundos de maneira mais estável e abandona a posição mais 
suavemente, fletindo os joelhos [11]. 
 
Objetos que se movem (à 30 ou 40 cm) são percebidos e fixados na linha visual. Os 
olhos param até que o objeto saia do campo visual. A criança reage a estímulos 
luminosos extremos com enrugamento da testa, choro, reflexo de Moro, ou diminuindo 
sua atividade, permanecendo quieta. Ouvindo ruídos, ela já inicia seus movimentos 
(pode se virar para a direção do som) [11]. 
 
Reflexos e reações: Os reflexos têm menor intensidade, mas se produzem bem 
equilateralmente. São eles: Sucção e deglutição, Quatro Pontos Cardeais, Glabelar, 
Marcha Automática, Magnético, Colocação Plantar, Colocação Palmar, Galant, RTCA, 
RTCS, Tônico Labiríntico, Preensão Plantar, Preensão Palmar, Positivo de Apoio, 
Cutâneo Plantar em Extensão, Moro e a Reação de Endireitamento da Cabeça[10]. 
 
 
Terceiro Mês 
 
 A criança pode virar-se para os dois lados, não mais em bloco, mas já com certa 
rotação. A cabeça pode ser mantida na linha média, mas se coloca, freqüentemente, 
para um dos lados. As mãos podem ser trazidas para a linha média. Ela já brinca com as 
mãos e pode segurar objetos, levando-os à boca. Na posição ventral, ergue a cabeça a 
45º e o apoio sobre os antebraços ainda não é estável [12]. 
 
A criança já colabora quando se quer levantá-la da posição dorsal. A cabeça já 
acompanha bem, mas ainda oscila um pouco. Segurada pelas axilas, já permanece mais 
estável na posição em pé. O tônus flexor já não predomina e a criança já mostra padrão 
extensor [12]. 
 
Percebem-se objetos na linha média e mesmo além dela para ambos os lados, na linha 
visual, à distância de 30-40cm. A criança acompanha o objeto a mais de 180º e já 
observa por tempo prolongado se este a interessar. Os movimentos dos olhos e cabeça 
já são, muitas vezes, simultâneos e coordenados. Ouvindo ruídos, a criança para de 
mover-se e vira logo para a fonte geradora [12]. 
 
Reflexos e Reações: RTCA, Tônico Labiríntico, Preensão Plantar, Preensão Palmar, 
Cutâneo Plantar em Extensão, Moro e Reações de Endireitamento da Cabeça, Postural 
Labiríntica, Óptica de Retificação e Retificação do Corpo sobre a Cabeça[10]. 
Em resumo, sentar e ficar em pé não são posturas independentes no primeiro trimestre. 
Mas o bebê mostra sinais do que está para acontecer. Lutando contra a gravidade, ele 
adquire controle da cabeça e dá um grande passo para vencer a força da gravidade que 
o havia deixado tão fisicamente dependente no momento do nascimento [2]. 
 
Quarto Mês 
 
As mãos são trazidas à linha média e contempladas, coordenadamente com a atitude da 
cabeça e do corpo. Em posição ventral, a cabeça já se ergue a quase 90º e apóia os 
antebraços com bastante estabilidade. Já iniciam os movimentos de rastejamento [13]. 
 
Quando levantada da posição dorsal, colabora com bom controle da cabeça. Sentada, o 
tronco ainda não é estável. Quando levantada pelas axilas, estende as pernas, encontra 
o suporte e faz peso ligeiramente mediante co-contração [13]. 
 
Percebe objetos na linha média e além dela à distância de 20-30cm. Acompanha com os 
olhos e movimentos da cabeça um objeto até mais de 180º. Mãos, dedos e objetos são 
levados à boca e sugados. A criança opõe resistência quando lhe querem tirar um 
brinquedo. Já consegue distinguir bem as qualidades de sons [13]. 
 
Reflexos e Reações: RTCA, Tônico Labiríntico, Preensão Plantar, Preensão Palmar, 
Cutâneo Plantar em Extensão, Moro e Landau[10]. 
 
O contato com o ambiente melhorou e, por causa disso, a criança começa a investigar 
seu ambiente e mostra-se mentalmente mais adiantada do que lhe permite a 
motricidade. A criança já tem, além das fases da satisfação de necessidades 
alimentares, o desejo de contatos com o ambiente. Se não os consegue, chora [13]. 
 
Quinto Mês 
 
 Em decúbito dorsal pode virar-se de um lado para o outro e, às vezes, atingir o decúbito 
ventral. Já leva os pés à boca. Em decúbito ventral, a cabeça ergue-se bem até 90º. 
Começa o deslocamento de peso para um dos lados, a fim de liberar um dos braços. 
Estabilidade incipiente do tronco. Quando erguido pelas axilas, há maior flexibilidade no 
joelho [14]. 
 
Reflexos e Reações: Preensão Plantar, Cutâneo Plantar em Extensão, Landau e inicia-
se a Reação de Equilíbrio[10]. 
 
Sexto Mês 
 
 Se a criança se senta, pode-se tirar as mãos por curtos períodos. Ela joga-se, então, 
para adiante, tendo um controle de peso insuficiente. Quando colocada em pé, apresenta 
boa simetria da postura, mas não se mantém independentemente [15]. 
 
Já pode falar algumas palavrinhas como papai e mamãe [15]. 
 
Reflexos e Reações:Preensão Plantar, Cutâneo Plantar em Extensão (dependendo da 
criança pode se extinguir nesse mês, mas em algumas perdura até 1 ano), Landau e 
Reações de Retificação da Cabeça sobre o Corpo, Endireitamento do Corpo sobre o 
Corpo, Postural de Fixação e de Proteção[10]. 
 
Sétimo Mês 
 
Não permanece mais em decúbito dorsal, virando-se para um dos lados. Em decúbito 
ventral, às vezes tenta ficar de gato. Sentada, apresenta bom equilíbrio quando se inclina 
para frente. Quando segurada pelas axilas, tenta equilibrar-se, mas oscila [16]. 
 
A criança agarra objetos e tenta estabilizar-se neste sentido. Objetos menores e maiores 
são agarrados, quase sempre com a palma da mão. Já existe boa coordenação dos 
músculos oculares, boa coordenação olho-mão, já acompanha em todos os planos [16]. 
 
Já come biscoitos que lhe são dados, bebe em xícara que alguém segura para ela e 
come com colher [16]. 
 
Reflexos e Reações: Landau[10]. 
 
 
Oitavo Mês 
 
Da posição ventral, pode, fletindo-se, passar para a posição de gato. Sentada, já se 
apóia com rotação muito boa para adiante e lateralmente. Apoiando-se, já consegue ficar 
em pé [17]. 
 
A criança tornou-se muito mais estável e chega à posição ereta embora ainda sem 
segurança. Assim, do ponto de vista mental, há uma melhor situação e pode, a partir daí, 
descobrir melhor o seu meio. Movimentos continuados, modificações na posição e 
tentativas constantes de alcançar alguma coisa no espaço determinam o 
desenvolvimento [17]. 
 
 
Nono Mês 
 
Quase nunca assume a posição dorsal e ventral. Senta-se estavelmente e, quando perde 
o equilíbrio, reage com contramovimento do corpo. Fica em pé com maior estabilidade e, 
quando segurada, apresenta bom equilíbrio. Sentada ou em pé apóia-se sobre os quatro 
membros, locomovendo-se com maior rapidez [18]. 
 
Nessa idade, o brinquedo bem agarrado já pode ser atirado. Pega objetos pequenos com 
o polegar e o indicador (pinça) [18]. 
 
 
Décimo Mês 
 
Atinge o sentar sem apoio independentemente, com bastante equilíbrio. Também já fica 
em pé sozinha segurandoem objetos. Passa da posição em pé para sentada e sentada 
para em pé [19]. 
 
Esta idade é o estádio intermediário da horizontal para a vertical ainda instável. Os 
estádios intermediários melhoram. A criança fica em pé e tenta largar-se. Anda ao longo 
dos móveis, engatinha. Por isso, já não se pode deixá-la só [19]. 
 
 
Décimo Segundo Mês 
 
Ainda preferem engatinhar, pois é uma locomoção mais rápida, mas já começam a dar 
os primeiros passos [20]. 
 
 
Décimo Quinto Mês 
 
O engatinhar já não é o recurso mais utilizado para se locomover, mas ainda é usado. A 
criança já pode deslocar seu peso e adaptar-se bem à modificação da sua posição no 
espaço. Já pode caminhar livremente [21]. 
 
Têm boa compreensão do que lhe dizem e consegue expressar-se dizendo, por 
exemplo, papá (comer), au-au (cão) [21]. 
 
 
Décimo Oitavo Mês 
 
A criança mostra equilíbrio adequado às posições. Bom controle de cabeça e tronco, boa 
rotação, boa flexão de quadril na posição sentada, boa extensão de quadril em pé e boa 
mobilidade das articulações [22]. 
 
Ela já pode agarrar um objeto e transportá-lo. Arruma os objetos, tenta colocá-los em 
ordem, desarruma, apalpa, distingue materiais e superfícies. Melhora de forma constante 
a sua integração perceptiva, acompanhada pelo desenvolvimento da fala. A evolução 
motora está realizada, de modo que a criança pode experimentar amplas dimensões 
evolutivas [22]. 
 
Em estudo realizado buscou-se observar de que maneira o homem vem completando 
seu desenvolvimento motor normal e os fatores que podem levar a dificuldades motoras 
futuras, mostrando a importância da estimulação na fase de maior desenvolvimento, que 
vai de 0 a 18 meses. Concluiu-se que existem fases bem pouco vivenciadas do DMN e 
que estas, quando corretamente estimuladas, levam à obtenção de melhor condição de 
vida para as crianças, tanto presente quanto futuramente porque o estímulo dado, 
mesmo que por curto período de tempo, faz com que as crianças respondam e vivenciem 
as fases estimuladas [1]. 
 
Também foram realizados estudos comparando o desenvolvimento motor em lactentes 
brasileiros e norte-americanos a fim de descobrir se há ou não diferenças no 
comportamento e desenvolvimento motor entre uma cultura e outra. Constataram que, de 
maneira geral, os lactentes brasileiros apresentaram uma evolução maior no 
desenvolvimento nos primeiros oito meses, seguido de um período de relativa 
estabilização. Assim concluíram, de acordo com várias pesquisas, que o padrão de 
desenvolvimento motor não é universal [8]. 
 
 
Estimulação Motora Precoce 
 
Em nenhuma fase do ser humano o desenvolvimento motor vai ser tão rápido como o de 
0 a 1 ano e 8 meses. Portanto, este é o período em que o bebê ainda terá maiores 
possibilidades de se normalizar sem se defasar no seu desenvolvimento [24]. 
 
Independente da perspectiva adotada, mais biológica ou social, são muitas as evidências 
de que crianças pré-termo estão sob maior risco para apresentar atraso perceptual, 
motor e cognitivo, associado ou não a problemas de comportamento e déficit de atenção 
[7]. Ao se pensar em lesão cerebral que ocorreu pré, peri ou pós natal tem que se 
pensar, ao mesmo tempo, em intervenção precoce nas áreas sensório-motoras para 
atingir o mais rápido possível um desenvolvimento que ainda está com toda a sua 
plasticidade e capacidade de receber as sensações normais e integrá-las [24]. 
 
Pensava-se que o SNC era imutável após o seu desenvolvimento. Com a descoberta da 
neuroplasticidade sabe-se que as conexões sinápticas são modificadas pela demanda 
funcional. Como substrato da aprendizagem do indivíduo em sua interação com o 
ambiente, pode-se perceber a importância da criança experimentar movimentos e 
posturas normais desde seu nascimento, favorecendo a sua habilitação; caso contrário 
se esta criança começar a realizar movimentos e posturas anormais durante seu 
desenvolvimento, estará aprendendo a interagir com o mundo em padrões anormais, 
reforçando circuitos neuronais de comportamentos anormais, dificultando e limitando sua 
qualidade de vida [5]. 
 
Quanto mais tarde a criança iniciar o plano de normalização, mais defasado estará o seu 
desenvolvimento motor, juntamente com a perda na área sensorial, refletindo na perda 
da noção espacial, esquema corporal, percepção, que poderá contribuir com a falta de 
atenção ou dificuldades cognitivas [24]. O tratamento por meio do conceito 
neuroevolutivo (Bobath) foi originalmente desenvolvido pelos Bobath na Inglaterra no 
início da década de 1940 para o tratamento de indivíduos com fisiopatologias do SNC. 
Esse método foi descrito como um conceito de vida e, como tal, continuou a evoluir com 
o passar dos anos [25]. 
 
O tratamento pelo desenvolvimento neurológico, como planejado por Bobath, usa o 
manuseio para inibir respostas anormais enquanto facilita reações automáticas. O 
manuseio proporciona experiências sensoriais e motoras normais que darão base para o 
desenvolvimento motor. Com as abordagens sensório-motoras, estímulos sensoriais 
específicos são administrados para estimular uma resposta comportamental ou motora 
desejada. Técnicas de integração sensorial algumas vezes são incorporadas nos 
programas sensório-motores. A intervenção sensório-motora pode ser aplicada a bebês 
de alto risco de várias maneiras, por exemplo, o rolamento linear em uma bola pequena 
para estimular o sistema vestibular e promover um estado de alerta. Estímulos 
proprioceptivos e táteis profundos poderão promover um comportamento calmo e auto 
regulatório [25]. 
 
As atividades lúdicas são um meio para atingir os objetivos terapêuticos. A brincadeira 
original não é como tirar férias da vida; é vida. O terapeuta e a criança estão sempre 
crescendo e mudando. A brincadeira original não se baseia no medo, mas em uma 
relação de confiança com a vida. Como um amiguinho, o terapeuta se junta a criança de 
tal forma que ambos sentem-se amados, respeitados e ansiosos por explorar. As 
habilidades necessárias para a brincadeira serão a curiosidade, confiança, resistência, 
vigilância [6]. 
 
A arte de normalizar o tônus é brincar com ele. Se o tônus é baixo, trazê-lo para um 
tônus mais alto e normalizado; se o tônus é alto, trazê-lo para o tônus mais baixo e 
normalizado. Assim que obtiver um tônus mais normalizado, é necessário dar-se a 
reação de equilíbrio. São essas reações de equilíbrio, rotação, tirar da linha média, que 
vão manter o tônus normalizado e fazer com que o cérebro integre essas reações e 
mantém o tônus [24]. 
 
Antes que a criança chegue é necessário planejar como utilizar o ambiente e os 
brinquedos para trabalhar no sentido das metas de desenvolvimento da criança. É 
importante ter pelo menos um plano de reserva para a seção de fisioterapia, pois a 
criança pode não querer realizar atividade proposta. O uso criativo do equipamento e dos 
brinquedos é uma habilidade muito importante. Um adjunto à flexibilidade é aprender a 
usar o ambiente como instrumento de fisioterapia. Uma grande motivação para as 
crianças pequenas são irmãos, pais e avós. A família pode conseguir que a criança faça 
alguma coisa que o terapeuta não consegue. Também sabem o tipo de brincadeira que a 
criança gosta e podem incorporar jogos familiares às sessões. A música também pode 
ser de grande motivação; pode ser de fundo, para incrementar a atmosfera da sessão de 
fisioterapia, usada como meio para as rotinas de exercícios, tocada em um gravador 
acionado por botões para incentivar movimentos específicos [6]. 
 
Estudo comparativo sobre desempenho perceptual e motor em crianças em idade 
escolar que nasceram pré-termo e a termo mostrou diferenças significativas de 
desempenho entre os dois grupos em quase todos os testes. Chama a atenção para a 
importância do acompanhamento que deve serdado do desenvolvimento de recém-
nascidos pré-termo, principalmente os nascidos abaixo da 34º semana de gestação e 
com menos de 1500g, até a idade escolar. Uma recomendação pertinente, frente aos 
dados apresentados, é que além de programas de detecção precoce de seqüelas 
neuromotoras, crianças com história de prematuridade e que não apresentam quadro 
neurológico evidente, deveriam ser encaminhados a programas de intervenção precoce 
[7]. 
 
Em análise sobre o desenvolvimento cognitivo de crianças nascidas com muito baixo 
peso na idade pré-escolar, constatou-se um funcionamento intelectual limítrofe no 
momento da avaliação, indicando possível dificuldade escolar, reforçando a necessidade 
de se promover estimulação adequada à criança [26]. 
 
É muito importante fazer um plano de tratamento, visualizando-se o bebê com o que se 
apresenta, e como será se não for possível normalizá-lo, para que se trabalhe muito mais 
nas suas dificuldades e que, pelo bom posicionamento, a normalização adquirida na 
terapia ou pelo manuseio adequado dado pela mãe (que deve ser bem orientada) 
perdure por mais tempo. Essa é a idéia fundamental da intervenção precoce: normalizar 
o tônus e permitir que, pela plasticidade, estas sensações normais sejam absorvidas e 
que sejam mantidas pelo maior tempo possível, para que as sensações anormais sejam 
colocadas em segundo plano, fazendo com que o cérebro só integre as sensações 
normais e depois as use para sempre [24]. 
 
De nada adianta o bebê ir diariamente à sessão de terapia e depois passar o resto do dia 
em posturas que não favoreçam esta normalização. É muito mais vantajoso um bebê ir 
uma a duas vezes por semana na terapia onde a mãe é sempre orientada e assiste o 
tratamento. Ela é a grande força para a normalização de um bebê pequeno, e por isso 
ela deve ser respeitada, conquistada e amada pelo terapeuta [24]. 
 
 
Objetivos 
 
Fazer um levantamento quanto às fases de desenvolvimento motor normal da criança e 
sobre como e o porquê da estimulação precoce na criança de risco. 
 
 
Metodologia 
 
Foram pesquisadas e utilizadas referências bibliográficas de 1990 à 2004, encontradas 
na biblioteca do Centro Universitário Hermínio Ometto e na base de dados Scielo Brasil. 
 
 
Conclusão 
 
Pode-se concluir que o período de 0 a 18 meses é o de maior desenvolvimento da 
criança, sendo que as diferenças são notadas claramente. Também que cada criança 
tem seu tempo e se desenvolve de acordo com a maturação de seu SNC, juntamente 
com a ação do meio em que vivem; mas pode-se considerar, por alto, uma seqüência de 
desenvolvimento normal que deve ser seguida. Sabe-se da necessidade que algumas 
crianças possuem, através de estudos realizados, de estimulação nessa primeira fase de 
sua vida, mesmo não possuindo problemas neurológicos (geralmente, crianças que 
nascem pré-termo, com extremo baixo peso). E é a partir disso que a fisioterapia faz uso 
da estimulação precoce, ajudando, através de brincadeiras, as crianças a se 
desenvolverem da melhor maneira possível. 
 
 
Referências 
 
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