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Intertextualidade: Diálogo entre Textos

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Interpretação e Produção de Textos
Prof. Ana Carolina Gallo
 
AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS
O que é intertextualidade?
É a interação entre textos, um diálogo entre eles. 
Texto no sentido amplo: um conjunto de signos organizados para transmitir uma mensagem.
Com frequência um texto retoma passagens de outro.
Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade. 
Quantas vezes, num processo de escrita, constituímos um texto recorrendo a outro(s) texto(s)?
 Intertextualidade: 
E Agora, José?
A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados.
A esquerda deu um tiro no pé na União Soviética, esfacelada sem que a Casa Branca lhe atirasse um único míssil. Faliu por conta da nomenclatura, das mordomias abusivas das autoridades, da arrogância do partido único, da corrupção. Assim foi na Nicarágua, onde líderes sandinistas se locupletaram com imóveis expropriados pela revolução e enriqueceram como por milagre.
José, é a nossa confiança no PT que se vê abalada. O que há de verdade e mentira em tudo isso? Por que o partido não abre sua contabilidade na Internet? Se houve mensalões e malas de dinheiro, como ficam os pobres militantes e simpatizantes que, nas campanhas eleitorais, contribuíam com sacrifício do próprio bolso?
Findas as investigações, o PT precisará vir a público e, de cabeça erguida, demonstrar que tudo não passou de “denuncismo”, de “golpismo”, de armação (ia escrever “dos inimigos”) dos aliados... Ou, de cabeça baixa, em atitude humilde, reconhecer que houve sim malversação, improbidade, tráfico de influência e corrupção.
O mais grave, José, é o desencanto que toda essa “tsulama” provoca na opinião pública, sobretudo nos mais jovens. Quando admitimos que “todos os partidos são farinha do mesmo saco”, fazemos o jogo dos corruptos, pois quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Se todos se enojarem, será o fim da democracia e da esperança de que no futuro predomine a política regida por fortes parâmetros éticos. Portanto, o desafio, hoje, não é apenas promover reformas estruturais no país, é reformar a própria política, de modo a vedar os buracos pelos quais a corrupção e o nepotismo se infiltram.
Temo que por muitas cabeças passe a idéia de, nas eleições de 2006, anular o voto ou votar em branco. Seria um desastre. O voto é uma arma pacífica. Deve ser usada com acuidade e sabedoria. Em todo esse processo é preciso destacar os políticos que primam pela ética, pela coerência de princípios, pela visão de um novo Brasil, sem alarmantes desigualdades sociais.
Antonio Callado, em sua última entrevista, por sinal à Folha, disse que perdera “todas as batalhas”. Também experimentei, José, muitas perdas: a morte do Che, a derrota da guerrilha urbana contra a ditadura militar, a queda do Muro de Berlim e, agora, essa fratura no corpo do partido que ajudei a construir como simpatizante, e que se gabava de primar pela ética na política.
No entanto, quantas vitórias! Sobre a França e os EUA no Vietnã; sobre os EUA e a ditadura de Batista em Cuba; a de Martin Luther King contra o racismo americano; de Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul. No Brasil, a extensa rede de movimentos populares, as Comunidades Eclesiais de Base, a CUT, o MST, a CPT, a CMP, a CMS; os movimentos de direitos humanos, mulheres, negros, indígenas; as ONGs, as empresas cônscias de sua responsabilidade social. E, sobretudo, a eleição de Lula à presidência da República.
Não se pode jogar no lixo da história todo esse patrimônio social e político. Sem confundir pessoas com instituições, maracutaias com projetos estratégicos, é hora de começar de novo, renovar a esperança e, sobretudo, não permitir que tudo fique como dantes no quartel de Abrantes. Aprendamos com Gandhi a fazer, hoje, a partir de nossa práticas pessoais e sociais, o mundo novo que sonhamos legar às gerações futuras.
Deixemos ressoar no coração as palavras de Mario Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... ora!/ Não é motivo para não querê-las.../ Que tristes os caminhos, se não fora/ A mágica presença das estrelas! 					
					Fonte: Frei Betto. Folha de São Paulo, 25 julh, 2005.
Intertextualidade Explícita ou Implícita
Explícita: Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação.
Não requer conhecimento prévio. Fontes são reveladas.
Percebe-se facilmente a intertextualidade, quando o autor recorre a outros textos, com explicitação da fonte. Vejamos:
Ex.: Antonio Callado, em sua última entrevista, a esta Folha, disse que perdera “todas as batalhas”.
Ex.: Deixemos ressoar no coração as palavras de Mário Quintana: “Se as coisas não inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não fora/ A mágica presença das estrelas!”
Texto científico: Quando um artigo científico cita outro, obrigatoriamente, a fonte é mencionada.
Ex: Como afirma Bakhtin (1992, p.291): “cada enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados”.
Implícita: A produção faz menção a um texto anterior, sem citar a fonte.
Pressupõe conhecimento anterior do interlocutor; 
Repertório de leitura;
Bagagem cultural;
Ex.: O próprio título: E Agora, José?
A intertextualidade, neste caso, requer um conhecimento da poesia de Carlos Drummond de Andrade.
E agora, José? 
E Agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você? ....
Dentre a intertextualidade explícita, temos vários gêneros, como: epígrafe, citação, referência, alusão, paráfrase e paródia.
Epígrafe
Constitui uma escrita introdutória de outra.
A Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta versos introdutórios de Goethe, com a seguinte tradução: 
"Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá , para lá quisera eu ir!"
A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois os dois têm características românticas, pertencem ao gênero lírico e possuem caráter nacionalista.
Citação
É uma transcrição de texto alheio, marcada por aspas. 
	A música Cinema Novo, de Caetano Veloso, faz citações:
O filme quis dizer "Eu sou o samba"
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todos e muitos: Deus e o Diabo, Vidas Secas, os Fuzis,
Os Cafajestes, o Padre e a Moça, a Grande Feira, o Desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil.
Na citação sobre o samba, Caetano Veloso diz que o Cinema Novo quer representar o Brasil, como fez o samba da época de Carmen Miranda.
Referência e Alusão
Machado de Assis é mestre nesse tipo de intertextualidade. 
	Ele foi um escritor que visualizou o valor desse artifício no romance. 
	No romance Dom Casmurro, ele cita Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de Bentinho.
A intertextualidade pode ocorrer:
Afirmando as mesmas ideias da obra citada 
ou 
Contestando-as. 
Há duas formas: a Paráfrase e a Paródia.
Paráfrase
	A paráfrase é a reprodução do texto de outrem com as palavras do autor. 
	Ela não confunde com o plágio porque seu autor explicita a intenção, deixa claro a fonte. Exemplo de paráfrase é o poema Oração, de Jorge de Lima:
"- Ave Maria cheia de graças..."
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
as mãos de minha mãe eram tão doces,
havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...
"- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!"
Bendita!
Paródia
	
	A paródia é uma forma
de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas. 
	
	Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente. concebida através do raciocínio e da crítica. 
	Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, freqüentemente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. 
	Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia.
	
	Texto Original
	Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).
	
	
Paródia
Minha terra tem palmares 
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.
(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).
	
A intertextualidade na propaganda.
Mania de você
Meu bem você me dá
Água na boca
Vestindo fantasias
Tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Loucuras...
		
Anúncios publicitários
Para homenagear o dia das mães, a Chevrolet utilizou a barriga de uma mãe, comparando-a com o bagageiro de um carro de sua marca, ambos são um bom bagageiro. 
Ainda há a imagem de um carro em miniatura, como um possível brinquedo da criança que irá nascer e, indiretamente, mostrando o carro que tem como característica, ter um bom bagageiro.
Michelangelo 
	Simpsons
A INTERTEXTUALIDADE NA PINTURA
Mona Lisa, 
Marcel Duchamp – 1919
Mona Lisa, Da Vinci – 1503
Mona Lisa, 
Fernando Botero – 1978
Mona Lisa, 
Propaganda Publicitária
O grito – Edvard Munch
O grito – Homer Simpson
Conto de fadas para Mulheres Modernas
Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então, a rã pulou para o seu colo e disse:
- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre…
… E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: – Eu, hein?… nem morta!
(Luís Fernando Veríssimo)
Quadrilha da sujeira
João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.
Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o quê na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J.Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história. 
Ricardo Azevedo 
	Quadrilha
	João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria 
	que amava Joaquim que amava Lili 
	que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
	Raimundo morreu de desastre, 
	Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se 
	e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. 
	
	Carlos Drummond de Andrade
Intertextualidade – Escândalo e Literatura
(O caso do dinheiro na cueca)
À moda Graciliano Ramos:
“Parecia padecer de um desconforto moral. Eram os dólares a lhe pressionar os testículos.”
À moda Stalin:
“Guarda a grana e passa fogo na cambada!”
À moda Paulinho da Viola:
“Dinheiro na cueca é vendaval”.
À moda Ferreira Goulart:
“ Sujo, sujo, não como o poema mas como os homens em seus desvios”.
À moda Dráuzio Varela:
“Ao perceber na fila de embarque o cidadão à frente, notei certa obesidade mediana na região central. Se tivesse me sentado ao seu lado durante o vôo, recomendaria um regime, vexame que me foi poupado pelos agentes da PF de plantão no aeroporto. Cuidado, portanto, nem toda morbidez é obesidade.”
Sampa – Caetano Veloso
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

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