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CURSO DE DIREITO
DIREITOS DAS COISAS I
Prof. Luiz Carlos Secca
Cel: 22 – 992175773
Email: lcsecca@secca.adv.br
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Programa da Disciplina
POSSE
Teorias sobre Posse
Classificação da Posse
Aquisição e perda da posse
Efeitos da Posse
Interditos Possessório
DIREITOS REAIS
A Propriedade: modos de aquisição e modos de perda
Propriedade Resolúvel
Propriedade Fiduciária
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Prof. Luiz Carlos Secca
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Prof. Luiz Carlos Secca
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Referências Bibliográficas
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, V.5. São Paulo: Saraiva.
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil – Reais, V.5; Savador: Juspodium.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, V.4. São Paulo: Método.
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Avaliação
 A1 e A2
 Avaliação Objetiva
 Avaliação discursiva
 Oito questões. 
 Valor 04 pontos.
 S/ consulta a lei.
 Conteúdo parcial.
 Três questões. 
 Valor 06 pontos.
 C/ consulta a lei.
 Conteúdo parcial.
A3 Avaliação Objetiva Dez questões Conteúdo integral.
DIREITO DAS COISAS I
08/03/2017
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Conceito
“é o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio”
Clóvis Beviláqua
Coisa X Bem
Importante: Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem, sobre as quais possa existir um vínculo jurídico, que é o domínio.
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Distinção entre Direitos Reais e Direitos pessoais
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Direitos reais (jus in re)
“Consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos”.
“Res” e “Rei”
Significa coisa.
Elementos essenciais
O sujeito ativo;
A coisa;
A relação ou poder do sujeito sobre a coisa, chamado domínio.
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Pergunta: Quem poderia ser o sujeito passivo nas relações de direito real?
Direitos pessoais (jus ad rem)
“Consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação”.
O sujeito ativo;
O sujeito passivo;
A prestação
Elementos essenciais
Teoria dualista
“Apresenta os conceitos de direito pessoal e direito real completamente distintos”.
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O direito real é formulado, como foi dito, considerando-se como uma relação direta e imediata entre seu titular (sujeito de direito) e a coisa (objeto do direito);
O direito pessoal, por oposição, é concebido como a relação entre uma pessoa, titular do direito (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo) obrigado a cumprir uma prestação (objeto do direito) em benefício do primeiro.
Teoria unitária
“Procuram integrar ambos os grupos de normas num só sistema. Divide-se em duas teorias opostas”.
Teoria personalista 
“Baseia-se na existência de um sujeito passivo universal. Sustenta que o di­reito das obrigações é colocado no centro de todo o direito civil, abrangendo todas as relações jurídicas civis, inclusive o direito real”.
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“Procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério patrimônio, considerando que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que seria o direito patrimonial. Propõe, portanto, a aludida teoria, a absorção do direito obrigacional pelo real”.
Teoria realista ou impersonalista
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS REAIS
Princípio da aderência, especialização ou inerência (art. 1.228, CC e demais direitos reais)
O aludido princípio estabelece um vínculo, uma relação de senhoria entre o sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir.
No direito real a pessoa do devedor, se existe, é secundária ante a primordial importância da res. É com esta que o vínculo jurídico se apega, de tal sorte que o titular do direito pode reivindicar a coisa, onde quer que ela se encontre, seja quem for o devedor.
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Princípio do absolutismo
“Os direitos reais se exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que devem abster-se de molestar o titular. Surge, daí, o direito de sequela ou jus persequendi, isto é, de perseguir a coisa e de reivindicá-la em poder de quem quer que esteja (ação real), bem como o jus praeferendi ou direito de preferência”.
Princípio da publicidade ou da visibilidade
Os direitos reais sobre imóveis só se adquirem com o registro, no Cartório de Registro de Imóveis, do respectivo título (CC, art. 1.227). 
Os que recaem sobre móveis só se adquirem depois da tradição (CC, arts. 1.226 e 1.267).
O registro e a tradição atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais. 
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Princípio da taxatividade ou numerus clausus
A lei enumera de forma taxativa os direitos reais, não ensejando, assim, aplicação analógica da lei. O número dos direitos reais é, pois, limitado, taxativo, sendo assim considerados somente os elencados na lei (numerus clausus).
O art. 1.225 do Código Civil enumera, além da propriedade, mais onze (superfície, servidões, usufruto etc.).
Importante: São direitos reais não apenas os apontados no dispositivo em apreço, mas também outros disciplinados de modo esparso no mesmo diploma e os instituídos em diversas leis especiais. Exemplos:
Direito de retenção (art. 1.219, CC).
Pacto de retrovenda (arts. 506 a 508, CC).
Propriedade, nos arts. 1.361 e seg., CC).
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Os direitos reais existem de acordo com os tipos legais. São definidos e enumerados determinados tipos pela norma, e só a estes correspondem os direitos reais, sendo, pois, seus modelos.
Somente os direitos “constituídos e configurados à luz dos tipos rígidos (modelos) consagrados no texto positivo é que poderão ser tidos como reais. Estes tipos são previstos pela lei de forma taxativa”.
“A propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso, mas somente pelos meios e formas legais: desapropriação, usucapião, renúncia, abandono etc”.
Princípio da tipicidade
Princípio da perpetuidade
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Não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa. Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido com exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não é possível instalar-se direito real onde outro já exista.
No condomínio, cada consorte tem direito a porções ideais, distintas e exclusivas.
É certo que, nos direitos reais sobre coisas alheias, há dois sujeitos: o dono e o titular do direito real. Mas, em razão do desmembramento da propriedade, cada um deles exerce, direta e imediatamente, sobre a coisa, direitos distintos, vale dizer, sem a intermediação do outro. 
Princípio da exclusividade
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Conquanto os direitos reais sobre coisas alheias tenham normalmente mais estabilidade do que os obrigacionais, são também transitórios, pois, como exposto, desmembram-se do direito-matriz, que é a propriedade.
Quando se extinguem, como no caso de morte do usufrutuário, por exemplo, o poder que existia em mão de seus titulares retorna às mãos do proprietário, em virtude do princípio da consolidação. Este, embora seja o inverso daquele, complemen­ta-o e com ele convive.
Princípio do desmembramento
Figuras Híbridas ou Intermediárias
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Obrigações propter rem
Ônus reais
Obrigações com eficácia real
POSSE
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Introdução ao Estudo da Posse
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Direito a proteção de posse, derivado de uma posse autônoma, independentemente de qualquer título.
É tão somente o direito fundado no fato
da posse (possideo quod possideo) que é protegido contra terceiros e até mesmo o proprietário.
Jus possessionis ou posse formal
Direito à posse, conferido ao portador de título devidamente transcrito, bem como ao titular de outros direitos reais.
Neste caso a posse não tem qualquer autonomia, constituindo-se em conteúdo do direito real.
Jus possidendi ou posse causal
Importante: Tanto no caso do jus possidendi (posse causal, titulada) como no do jus possessionis (posse autônoma ou formal, sem título) é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantia da paz social.
Teorias sobre a Posse
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Teorias subjetivas, no qual se integra a de Friedrich Karl Von Savigny, que foi quem primeiro tratou da questão nos tempos modernos;
Teorias objetivas, cujo principal propugnador foi Rudolf Von Ihering;
Teorias sociológicas, surgidas no início do século passado, dando ênfase ao caráter econômico e à função social da posse.
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O animus não é propriamente a convicção de ser dono (opinio seu cogitatio domini), mas a vontade de tê-la como sua (animus domini ou animus rem sibi habendi), de exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular.
Os dois citados elementos são indispensáveis, pois, se faltar o corpus, inexiste posse, e, se faltar o animus, não existe posse, mas mera detenção. 
Teoria subjetiva de Savigny
Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos:
O corpus, elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa;
O animus, elemento subjetivo, que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e de defendê-la contra a intervenção de outrem.
Importante:
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Inicialmente o conceito de corpus era considerado simples contato físico com a coisa, posteriormente passou a consistir na mera possibilidade de exercer esse contato, tendo sempre a coisa à sua disposição. 
O conceito de animus evoluiu para abranger não apenas o domínio, senão também os direitos reais, sustentando-se ainda a possibilidade de posse sobre coisas incorpóreas.
Tanto o conceito do corpus como o do animus sofreram mutações na própria teoria subjetiva.
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A posse é a exteriorização da propriedade, a visibilidade do domínio, o uso econômico da coisa.
Para Ihering basta o corpus para a caracterização da posse.
Corpus, porém, não significa contato físico com a coisa, mas, sim, conduta de dono. Ela se revela na maneira como o proprietário age em face da coisa, tendo em vista sua função econômica.
Tem posse quem se comporta como dono, e nesse comportamento já está incluído o animus. O elemento psíquico não se situa na intenção de dono, mas tão somente na vontade de agir como habitualmente o faz o proprietário (affectio tenendi), independentemente de querer ser dono (animus domini).
Teoria objetiva de Ihering
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“Sublinha Ihering que a proteção possessória foi instituída com o objetivo de facilitar e aliviar a proteção da propriedade. Em vez da prova da propriedade, que o proprietário deve fazer quando reclamar uma coisa em mãos de terceiros (reivindicatio), bastará exibir a prova de posse, em relação àquele que dela o privou”.
Motivo legislativo da proteção possessória
Adoção da teoria de Ihering
“Malgrado o prestígio de Savigny e a adoção de sua teoria nos códigos de diversos países, a teoria objetiva de Ihering revela-se a mais adequada e satisfatória, tendo, por essa razão, sido perfilhada pelo Código Civil de 1916, no art. 485, e pelo de 2002, como se depreende da definição de possuidor constante do art. 1.196, que assim considera aquele que se comporta como proprietário, exercendo algum dos poderes que lhe são inerentes”.
Teorias Sociológicas
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A alteração das estruturas sociais tem trazido aos estudos possessórios, a partir do início do século passado, a contribuição de juristas sociólogos como Silvio Perozzi, na Itália, Raymond Saleilles, na França, e Antonio Hernandez Gil, na Espanha;
Deram eles novos rumos à posse, fazendo-a adquirir a sua autonomia em face da propriedade;
Essas novas teorias, que dão ênfase ao caráter econômico e à função social da posse, aliadas à nova concepção do direito de propriedade, que também deve exercer uma função social, como prescreve a Constituição da República, constituem instrumento jurídico de fortalecimento da posse, permitindo que, em alguns casos e diante de certas circunstâncias, venha a preponderar sobre o direito de propriedade.
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“A teoria da apropriação econômica de Saleilles preconiza a independência da posse em relação ao direito real, tendo em vista que ela se manifesta pelo juízo de valor segundo a consciência social considerada economicamente.
O critério para distinguir a posse da detenção não é o da intervenção direta do legislador para dizer em que casos não há posse, como entende Ihering, mas, sim, o de observação dos fatos sociais: há posse onde há relação de fato suficiente para estabelecer a independência econômica do possuidor”.
Teoria sociológica de Perozzi
“Para o referido autor, a posse prescinde do corpus e do animus, e resulta do “fator social”, dependente da abstenção de terceiros, que se verifica costumeiramente, como no exemplo por ele fornecido de um homem que caminha por uma rua com um chapéu na cabeça.
Há, nesse caso, posse, pois quem tem o chapéu na cabeça torna aparente que quer dispor dele só, e todos, espontaneamente, abstêm-se de importuná-lo”.
Teoria sociológica de Saleilles
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Segundo o mencionado professor espanhol, a “função social” atua como pressuposto e como fim das instituições reguladas pelo direito;
Na sua doutrina, as grandes coordenadas da ação prática humana, que são a necessidade e o trabalho, passam pela posse;
“A posse, enquadrada na estrutura e na função do Estado social com um programa de igualdade na distribuição dos recursos coletivos, encontra-se chamada a desempenhar um importante papel. Para tal fim seria conveniente a colaboração de juristas e sociólogos, ou afrontar a investigação jurídica com preocupações sociológicas”.
Teoria sociológica de Hernandez Gil
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Em nosso país, o grande passo na direção da concepção social da posse foi dado com a reafirmação, no inc. XXIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988, do princípio de que “a propriedade atenderá a sua função social”, complementado pelas regras sobre a política urbana, atinentes à usucapião urbana e rural (CF, arts. 183 e 191);
O Código Civil de 2002 demonstra preocupação com a compreensão solidária dos valores individuais e coletivos, procurando satisfazer aos superiores interesses coletivos com salvaguarda dos direitos individuais. Nessa consonância, “o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante” (art. 1.228, § 4º).
A concepção social da posse na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil.
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Trata-se, como assinala Miguel Reale, “de inovação do mais alto alcance, inspirada no sentido social do direito de propriedade, implicando não só novo conceito desta, mas também novo conceito de posse, que se poderia qualificar como sendo de posse-trabalho”.
Na realidade, aduz, “a lei deve outorgar especial proteção à posse que se traduz em trabalho criador, quer este se corporifique na construção de uma residência, quer se concretize em investimentos de caráter produtivo ou cultural.
Não há como situar no mesmo plano a posse, como simples
poder manifestado sobre uma coisa, ‘como se’ fora atividade do proprietário, com a ‘posse qualificada’, enriquecida pelos valores do trabalho.
Este conceito fundante de ‘posse-trabalho’ justifica e legitima que, ao invés de reaver a coisa, dada a relevância dos interesses sociais em jogo, o titular da propriedade reivindicanda receba, em dinheiro, o seu pleno e justo valor, tal como o determina a Constituição”.
Conceito de Posse
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Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono.
Sempre que haja o exercício dos poderes de fato, inerentes à propriedade, existe a posse, a não ser que alguma norma diga que esse exercício configura a detenção, e não a posse.
O conceito de posse, no direito positivo brasileiro, indiretamente nos é dado pelo art. 1.196 do Código Civil, ao considerar possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
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Embora não possa haver posse de direitos, pode­m-se possuir bens nos termos de certos direitos pessoais, tais como a locação, o comodato, o depósito e outros, que implicam o exercício de poderes de fato sobre a coisa, como expressamente previsto no art. 1.197 do Código Civil, que autoriza, ao desdobrar a posse em direta e indireta, o exercício, por força de um direito pessoal, da posse direta sobre a coisa.
Joel Dias Figueira Júnior critica com razão a redação do retrotranscrito art. 1.196 do Código Civil, no ponto em que considera a posse o exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade. A posse, afirma, “não é o exercício do poder, mas sim o poder propriamente dito que tem o titular da relação fática sobre um determinado bem, caracterizando-se tanto pelo exercício como pela possibilidade de exercício. Ela é a disponibilidade e não a disposição; é a relação potestativa e não, necessariamente, o efetivo exercício”.
Importante:
Posse e Detenção
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Segundo Ihering, a detenção encontra-se em último lugar na escala das relações jurídicas entre a pessoa e a coisa;
Na linha de frente estão a propriedade e seus desmembramentos; em segundo lugar, a posse de boa-fé; em terceiro, a posse; e, por fim, a detenção;
Para Ihering, o que distingue a posse da detenção é um elemento externo e, portanto, objetivo, que se traduz no dispositivo legal que, com referência a certas relações que preenchem os requisitos da posse e têm a aparência de posse, suprime delas os efeitos possessórios;
A detenção é, pois, uma posse degradada: uma posse que, em virtude da lei, avilta-se em detenção.
Somente a posse gera efeitos jurídicos, conferindo direitos e pretensões possessórias em nome próprio: esta é a grande distinção.
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“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas (art. 1.198, CC fâmulo da posse )”.
“Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário (art. 1.198, parágrafo único, CC presunção juris tantum de detenção)”.
“Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade (art. 1.208, CC)”.
O legislador deve dizer em que casos o exercício configura detenção e não posse.
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Detenção de bem público
“Não há posse de bens públicos, principalmente depois que a Constituição Federal de 1988 proibiu a usucapião especial de tais bens (arts. 183 e 191). Se há tolerância do Poder Público, o uso do bem pelo particular não passa de mera detenção consentida”. 
O Objeto da Posse e a Posse dos Direitos Pessoais
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No fim do século XIX, passaram os autores a restringir o conceito de posse ao âmbito dos direitos reais e dos direitos obrigacionais que implicam o exercício de poderes sobre uma coisa. Tal posição é considerada atualmente prevalente.
A ideia de posse é absolutamente inaplicável aos direitos pessoais incorpóreos. Em relação a esses direitos não se concebe a possibilidade de violências físicas, que careçam do remédio dos interditos.
Os interditos possessórios chegaram a ser utilizados para a defesa de direitos pessoais, incorpóreos, como o direito a determinado cargo, por influência de Ruy Barbosa, mas por curto período histórico, que terminou com a instituição do mandado de segurança, a partir de 1934.
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Há uma certa dificuldade em classificar certos bens como corpóreos ou incorpóreos, surgindo daí a expressão “bens semi-incorpóreos”, utilizada por alguns doutrinadores quando se referem a novas espécies que surgiram como decorrência do desenvolvimento científico, tecnológico e cultural do homem, como a energia elétrica, as linhas telefônicas e as ondas de frequência televisivas. A proteção possessória não tem sido negada a esses bens. Predomina, no entanto, o entendimento de que nunca há de ser ela deferida contra o concedente do serviço, mas contra aqueles que turbam a utilização da linha telefônica, da televisão a cabo, dos dados transmitidos a distância etc.
Súmula 193, do seguinte teor: “O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião”.
Jurisprudência
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A doutrina e a jurisprudência assentaram entendimento segundo o qual a proteção do direito de propriedade, decorrente de patente industrial, portanto, bem imaterial, no nosso direito, pode ser exercida através de ações possessórias.
Proclama a Súmula 228 do aludido Tribunal que “é inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”, reconhecendo, assim, que os princípios dos direitos das coisas são inaplicáveis à situação dos chamados direitos intelectuais.
Natureza Jurídica da Posse
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1ª Corrente: Para Ihering, a posse é um direito. Apoia-se ele em sua própria definição de direito: “os direitos são os interesses juridicamente protegidos”. Assim, a posse consiste em um interesse juridicamente protegido. Ela constitui condição da econômica utilização da propriedade e por isso o direito a protege. É relação jurídica, tendo por causa determinante um fato. Comungam desse entendimento Teixeira de Freitas, Demolombe, Sintenis, Molitor, Pescatore, Orlando Gomes e Caio Mário da Silva Pereira, entre outros.
Posse: fato ou direito?
Essa divergência já era observada nos textos romanos. Muitos séculos se passaram e a discussão ainda persiste, dividindo-se a doutrina em três correntes:
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2ª Corrente: Sustenta que a posse é um fato, uma vez que não tem autonomia, não tem valor jurídico próprio. O fato possessório não está subordinado aos princípios que regulam a relação jurídica no seu nascimento, transferência e extinção. Pertencem a esta corrente Windscheid, Pacificci-Mazzoni, Bonfante, Dernburg, Trabucchi, Cujacius e outros.
3ª Corrente: A corrente mais comum, como aponta Barassi, é a eclética, que admite que a posse seja fato e direito. Sustenta Savigny que a posse é, ao mesmo tempo, um fato e um direito. Considerada em si mesma, é um fato. Considerada nos efeitos que produz — a usucapião e os interditos —, é um direito. Nessa linha, assinala Lafayette: “É, pois, força reconhecer que a posse é um fato e um direito: um fato pelo que respeita à detenção, um direito por seus efeitos”. Assim também entendem Pothier, Brinz, Domat, Ribas, Laurent, Wodon e outros.
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Como visto, Savigny e Ihering admitem que a posse seja um direito, embora o primeiro entenda que ela é, também, um fato.
A divergência permanece, agora, no tocante à sua exata colocação
no Código Civil.
Para o primeiro, ela é direito pessoal ou obrigacional; para o segundo, direito real.
A posse, sendo um direito, diz Ihering, só pode pertencer à categoria dos direitos reais.
Para outros doutrinadores, no entanto, a posse não é direito real nem pessoal, mas direito especial, sui generis, por não se encaixar perfeitamente em nenhuma dessas categorias.
Posse: direito pessoal, real ou especial?
08/03/2017
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Na sistemática do Código Civil brasileiro, a posse não pode ser considerada direito real. Tanto o diploma de 1916 quanto o de 2002, tendo adotado o princípio do numerus clausus, não a incluíram no rol taxativo dos direitos reais (art. 674 do CC/1916; art. 1.225 do CC/2002).
No entanto, o fato de a posse não pertencer à categoria dos direitos reais não significa que, necessariamente, seja um direito pessoal.
José Carlos Moreira Alves aduz: “Em verdade, no direito moderno, a posse é um instituto jurídico sui generis... Sendo instituto sui generis, não só não se encaixa nas categorias dogmáticas existentes, mas também não dá margem à criação de uma categoria própria que se adstringiria a essa figura única”.
Conclusão
08/03/2017
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Hernandez Gil, “de que a posse é uma estrutura que não se trans­formou totalmente numa instituição jurídica, uma vez que a efetividade jurídica continua se apoiando na realidade social, o que a faz infensa a sistematizações rígidas... O ser uma estrutura que não se transformou totalmente numa instituição jurídica é o que explica as singularidades da posse, que, desde o direito romano, ora é disciplinada como estado de fato real, ora é regulada com abstração, mais ou menos intensa, desse aspecto, como se fora um instituto jurídico perfeito à semelhança do direito subjetivo”.
Joel Dias Figueira Júnior, dizer que a posse apresenta natureza real “significa enquadrá-la, equivocadamente, na categoria jurídica dos direitos reais, quando na verdade é pertencente a uma categoria especial, típica e autônoma, cuja base é o fato, a potestade, a ingerência socioeconômica do sujeito sobre um determinado bem da vida destinado à satisfação de suas necessidades, e não o direito”.
Espécies de Posse
08/03/2017
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Posse direta e posse indireta;
Posse exclusiva, composse e posses paralelas;
Posse pro diviso e posse pro indiviso.
Posse justa e posse injusta;
Posse de boa-fé e posse de má-fé.
Posse nova e posse velha;
Posse natural e posse civil ou jurídica;
Posse ad interdicta e posse ad usucapionem;
08/03/2017
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A clássica distinção entre posse direta e indireta surge do desdobramento da posse plena, podendo haver desdobramentos sucessivos.
O proprietário ou titular de outro direito real pode usar e gozar a coisa objeto de seu direito, direta e pessoalmente, ou dá-la em locação, em usufruto, em comodato, em penhor, em enfiteuse etc.
Nestes casos, a posse se dissocia: o titular do direito real de propriedade fica com a posse indireta (ou mediata), enquanto o titular do direito real constituído fica com a posse direta (ou imediata, também chamada derivada, confiada, irregular ou imprópria) ou no ato de locar e de dar a coisa em comodato, que constitui conduta própria de dono, não implica na perda da posse, que apenas se transmuda em indireta.
Na classificação em apreço, não se propõe o problema da qualificação da posse, porque ambas são jurídicas e têm o mesmo valor (jus possidendi ou posses causais). A questão da qualificação aparece na distinção entre posse justa e injusta (CC, art. 1.200) e de boa e má-fé (art. 1.201).
POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA
08/03/2017
Prof. Luiz Carlos Secca
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A divisão da posse em direta e indireta encontra-se definida no art. 1.197 do Código Civil de 2002: “A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em vir­tude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”.
A relação possessória que se desdobra não anula a outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas (jus possidendi), não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa.
A vantagem dessa divisão é que o possuidor direto e o indireto podem invocar a proteção possessória contra terceiro, mas só o segundo pode adquirir a propriedade em virtude da usucapião. O possuidor direto jamais poderá adquiri-la por esse meio, por faltar-lhe o ânimo de dono, a não ser que, excepcionalmente, ocorra mudança da causa possessionis, com inversão do referido ânimo, passando a possuí-la como dono.
Regulamentação no Código Civil
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Os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Assim, feito o primeiro desdobramento da posse, poderá o possuidor direto efetivar novo desmembramento, tor­nando-se, destarte, possuidor indireto, já que deixa de ter a coisa consigo.
Havendo desdobramentos sucessivos da posse, terá posse direta apenas aquele que tiver a coisa consigo: o último integrante da cadeia dos desdobramentos sucessivos. Os demais integrantes da cadeia terão, todos, posse indireta, em gradações sucessivas.
Desdobramentos sucessivos
Posse Exclusiva – Composse – Posses Paralelas 
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“É a posse de um único possuidor. É aquela em que uma única pessoa, física ou jurídica, tem, sobre a mesma coisa, posse plena, direta ou indireta.
A posse exclusiva pode ser plena ou não. Plena é a posse em que o possuidor exerce de fato os poderes inerentes à propriedade, como se sua fosse a coisa. 
O desdobramento da posse em direta e indireta não é incompatível com a possibilidade de ambas as posses desdobradas serem, ou não, exclusivas.
POSSE EXCLUSIVA
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A posse exclusiva se contrapõe não à posse desdobrada em direta e indireta, porém à composse. Na primeira, seja ela direta ou indireta, um só possuidor exerce os poderes de fato inerentes à propriedade. Na composse, porém, há vários compossuidores que têm, sobre a mesma coisa, posse direta ou posse indireta.
A posse do esbulhador, cessada a violência ou a clandestinidade, é, perante a comunidade, posse plena exclusiva; se ele a arrendar a uma só pessoa, sua posse indireta será igualmente exclusiva, como exclusiva será a posse direta do arrendatário.
Considerações relevantes:
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Composse
É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa.
Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores (art. 1.199 do Código Civil).
Cada comossuidor possuirá uma parte abstrata, assim como, no condomínio, cada comproprietário é dono de uma parte ideal da coisa.
Os compossuidores são legitimados a praticar todos os atos possessórios que não excluam a posse dos outros compossuidores. Cada qual, de per si, pode invocar a proteção possessória para defesa do objeto comum.
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A composse simples é a composse romana, na qual cada um dos compossuidores pode exercer sozinho o poder de fato sobre a coisa, sem excluir, todavia, o dos outros compossuidores.
A composse em mão comum tem origem no direito alemão antigo e se configura quando somente todos os compossuidores, em conjunto, podem exercer o poder de fato sobre a coisa. Como a primeira é a única admitida em nosso direito, dispensa o qualificativo simples, bastando dizer-se composse.
Composse simples e composse em mão comum
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Qualquer dos compossuidores pode valer-se do interdito possessório ou da le­gítima defesa para impedir que outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre qualquer fração da comunhão.
Nos termos do art. 1.199, CC, cada possuidor só pode exercer na coisa comum atos
possessórios que não excluam a posse dos outros.
É a ação de manutenção, ou a de esbulho, a que compete ao consorte para conservar ou restabelecer o estado anterior.
Interdito possessório de um compossuidor contra outro.
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Posse “pro diviso” e “pro indiviso
Posse pro diviso
Posse pro indiviso
Configura-se quando cada compossuidor se localiza em partes determinadas do imóvel, estabelecendo uma divisão de fato.
Neste caso, cada compossuidor poderá mover ação possessória contra outro compossuidor que o moleste no exercício de seus direitos, nascidos daquela situação de fato.
“Caracteriza-se quando os compossuidores têm posse somente de partes ideais da coisa”.
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Segundo Limongi França, posse pro indiviso é a posse de partes ideais da coisa objeto de composse. Já a posse pro diviso é a posse materialmente localizada dentro da composse. É uma verdadeira posse individual dentro da composse, uma vez que o possuidor pro diviso, sendo a posse justa, pode executar seus direitos contra os demais compossuidores.
Na composse pro diviso, exercendo os compossuidores poderes apenas sobre uma parte definida da coisa, e estando tal situação consolidada no tempo (há mais de ano e dia), poderá ca­da qual recorrer aos interditos contra aquele que atentar contra tal exercício. Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédios possessórios que se fizerem necessários, tal como acontece no condomínio (CC, art. 1.314).
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“São comuns, após a dissolução da união estável, ações de natureza possessória entre companheiros, versando sobre a posse dos bens comuns”. 
Composse entre companheiros
Superior Tribunal de Justiça:
“Reconhecida a composse da companheira em terreno acrescido de marinha, o término da união não é bastante para caracterizar a sua posse como injusta, mesmo que o título de ocupação tenha sido concedido apenas ao companheiro”.
Antigo Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo:
Em sintonia com a evolução legislativa da situação dos conviventes, que, “diante da inovação constitucional que protege a união estável entre o homem e a mulher, é idêntica à do cônjuge a posse da concubina, que agora tem protegida a posse que conserva em razão de situação de fato anterior à abertura de sucessão de seu companheiro, não se reconhecendo esbulho nem mesmo em favor do espólio, ainda que sua permanência se dê em imóvel adquirido em nome da de cujus”.
Jurisprudência
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“Não se deve confundir composse (várias posses concomitantes sobre a mesma coisa) com posses paralelas, também denominadas posses múltiplas, em que ocorre concorrência ou sobreposição de posses (existência de posses de natureza diversa sobre a mesma coisa). Neste caso, dá-se o desdobramento da posse em direta e indireta”.
Posses paralelas
Posse Justa e Posse Injusta
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Posse justa
É aquela isenta de vícios, aquela que não repugna ao direito, por ter sido adquirida por algum dos modos previstos na lei, ou, segundo a técnica romana, a posse adquirida legitimamente, sem vício jurídico externo (nec vim, nec clam, nec precario).
“É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária (art. 1.200 do Código Civil)”.
“É a posse que foi adquirida viciosamente, por   violência   ou clandestinidade ou por abuso do precário.
Posse injusta
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É violenta, por exemplo, a posse do que toma o objeto de alguém, despojando-o à força, ou expulsa de um imóvel, por meios violentos, o anterior possuidor.
A violência pode ser física ou moral. As ameaças de toda sorte, que tenham como consequência o abandono da posse por parte de quem as sofreu, devem ser equiparadas à violência material, e tornam viciosa a posse assim adquirida.
A violência estigmatiza a posse, impedindo que a sua aquisição gere efeitos no âmbito do direito. Ainda que exercida pelo proprietário, deve a vítima ser reintegrada, porque não pode o esbulhador fazer justiça pelas próprias mãos.
Isenta de violência, denomina-se posse mansa e pacífica.
Em questões possessórias não se deve confundir violência com má-fé, pois a primeira pode existir sem a segunda.
O vício da violência
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“É clandestina a posse do que furta um objeto ou ocupa imóvel de outro às escondidas. É aquela obtida furtivamente, que se estabelece sub-repticiamente, às ocultas da pessoa de cujo poder se tira a coisa e que tem interesse em conhecê-la”.
O vício da clandestinidade
É precária a posse quando o agente se nega a devolver a coisa, findo o contrato (vim, clam aut precario).
Segundo Lafayette, diz-se viciada de precariedade a posse daqueles que, tendo recebido a coisa das mãos do proprietário por um título que os obriga a restituí-la em prazo certo ou incerto, como por empréstimo ou aluguel, recusam-se injustamente a fazer a entrega, passando a possuí-la em seu próprio nome.
O vício da precariedade
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Os três vícios mencionados correspondem às figuras definidas no Código Penal como roubo (violência), furto (clandestinidade) e apropriação indébita (precariedade).
O art. 1.200 do Código Civil não esgota, porém, as hipóteses em que a posse é viciosa. Aquele que, pacificamente, ingressa em terreno alheio, sem procurar ocultar a invasão, também pratica esbulho, malgrado a sua conduta não se identifique com nenhum dos três vícios apontados.
Marcus Vinicius Rios Gonçalves assevera o dispositivo em apreço, ao enumerar os vícios da posse, não esgotou as possibilidades pelas quais uma posse torna-se viciosa. Mais simples seria, pois, dizer que há posse viciosa quando houver esbulho, considerando tal expressão como a tomada de posse não permitida, nem autorizada. 
Esbulho praticado mediante invasão pacífica de terreno alheio
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Os vícios que maculam a posse se configuram no momento da sua aquisição.
O legislador brasileiro classifica a posse como justa ou injusta, levando em conta a forma pela qual ela foi adquirida.
O art. 1.208 do Código Civil, segunda parte, afirma que não autorizam a aquisição da posse “os atos violentos ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”.
Será injusta em face do legítimo possuidor. Mesmo viciada, porém, será justa, suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato.
Vícios da violência e da clandestinidade ligados ao momento da aquisição da posse.
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A precariedade difere dos vícios da violência e da clandestinidade quanto ao momento de seu surgimento.
Enquanto os fatos que caracterizam a violência e a clandestinidade ocorrem no momento da aquisição da posse, a precariedade somente se origina de atos posteriores, ou seja, a partir do instante em que o possuidor direto se recusa a obedecer à ordem de restituição do bem ao possuidor indireto.
Enquanto não chegado o momento de devolver a coisa, o possuidor (o comodatário, p. ex.)tem posse justa. O vício se manifesta quando fica caracterizado o abuso de confiança. No instante em que se recusa a restituí-la, sua posse torna-se viciada e injusta, passando à condição de esbulhador.
Momento em que se caracteriza o vício da precariedade
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A cessação da violência e a clandestinidade acarreta o convalescimento dos vícios (alguns autores). Enquan­to não findam, existe apenas detenção (art. 1.208 do Código Civil).
Cessados, surge a posse, porém injusta, em relação a quem a perdeu. 
Não se exige, destarte, a difícil prova de que a vítima tomou conhecimento do esbulho, mas apenas de que tinha condições de tomar, porque o esbulhador não mais oculta a coisa.
Cessação da violência e da clandestinidade.
Importante: Cessadas a violência e a clandestinidade, a posse passa a ser “útil”,
surtindo todos os efeitos, nomeadamente para a usucapião e para a utilização dos interditos.
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O art. 1.208 do Có­digo Civil estabelece que, enquanto não cessadas a violência ou a clandestinidade, não se adquire posse, mas detenção. O dispositivo estabelece uma fase de transição, em que o esbulhador terá mera detenção, antes de adquirir posse, injusta ante o esbulhado.
Assim, não há convalescimento de posse, mas transmudação de detenção em posse, com a cessação dos vícios da violência e da clandestinidade.
Marcus Vinicius Rios Gonçalves assevera que, “não há, porém, esse momento de transição, na hipótese de precariedade. E a razão é evidente: trata-se de situação única, em que o esbulho decorre não da retirada da coisa, do poder de fato do esbulhado, mas da inversão de animus daquele que já tinha a coisa consigo.
O propalado não convalescimento do vício da precariedade
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Também caracteriza o esbulho a modificação do ânimo do mero detentor, que se opõe ao possuidor anterior, recusando-se a restituir a coisa, como na hipótese do caseiro que, abusando da confiança que lhe foi depositada, toma a coisa para si, recusando-se a devolvê-la ao proprietário, ou possuidor anterior.
Conforme, porém, anota Lenine Nequete, nada impede que “o caráter originário da posse se modifique quando, acompanhando a mudança da vontade, sobrevém igualmente uma nova causa possessionis”.
Assim, o locatário, por exemplo, aduz, “desde que adquira a propriedade a um non dominus, ou que tenha repelido o proprietário, deixando de pagar-lhe os aluguéis e fazendo-lhe sentir inequivocamente a sua pretensão dominial, é fora de dúvida que passou a possuir como dono”.
Esbulho caracterizado pela modificação do ânimo da posse
Posse de Boa-fé e Posse de Má-fé
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No âmbito do direito das coisas, a posse de boa-fé, aliada a outros relevantes elementos, segundo expressiva síntese de Caio Mário da Silva Pereira:
Cria o domínio, premiando a constância e abençoando o trabalho;
Confere ao possuidor, não proprietário, os frutos provenientes da coisa possuída;
Exime-o de indenizar a perda ou deterioração do bem em sua posse;
Regulamenta a hipótese de quem, com material próprio, edifica ou planta em terreno alheio;
Ainda, outorga direito de ressarcimento ao possuidor pelos melhoramentos realizados.
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O art. 1.201 do CC, conceitua a posse de boa-fé como aquela em que “o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa”. Decorre da consciência de se ter adquirido a posse por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo.
É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima.
Se ignora a existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé;
Se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé.
Importante: Não se pode considerar de boa-fé a posse de quem, por erro inescusável, ou ignorância grosseira, desconhece o vício que mina sua posse”.
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Teorias a respeito da configuração da má-fé
Dentre as várias teorias existentes a esse respeito, destacam-se:
A ética, que liga a má-fé à ideia de culpa;
A psicológica, que só indaga da ciência por parte do possuidor do impedimento para a aquisição da posse.
Importante: Na concepção psicológica, o interessado deve possuir apenas a crença de que não lesa o direito alheio. Na concepção ética, todavia, essa crença deve derivar de um erro escusável ou de averiguação e exame de circunstâncias que circundam o fato. Analisa-se, nesta, se o indivíduo agiu com as diligências normais exigidas para a situação.
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A culpa, a negligência ou a falta de diligência comum são enfocadas, pois, como excludentes da boa-fé, como o fazem os adeptos da concepção ética. 
A jurisprudência tem firmemente salientado a necessidade de a ignorância derivar de um erro escusável, acolhendo, assim, os princípios da teoria ética.
A boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias. Basta que a posse seja justa. Ainda que de má-fé, o possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque à sua posse.
 A boa-fé somente ganha relevância, com relação à posse, em se tratando de usucapião, de disputa sobre os frutos e benfeitorias da coisa possuída ou da definição da responsabilidade pela sua perda ou deterioração.
Considerações relevantes:
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O Código Civil estabelece “presunção de boa-fé” em favor de quem tem justo título, “salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção” (art. 1.201, parágrafo único).
Justo título é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão. 
Presunção de boa-fé
Importante:
Uma escritura de compra e venda, devidamente registrada, por exemplo, é um título hábil para a transmissão de imóvel. No entanto, se o vendedor não era o verdadeiro dono (aquisição a non domino) ou se era um menor não assistido por seu representante legal, a aquisição não se perfecciona e pode ser anulada.
 A posse de boa-fé pode existir sem o justo título.
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O art. 1.202 do Código Civil dispõe a respeito da transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé:
Momento da transformação
Transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé
“A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”.
A jurisprudência tem proclamado que a citação para a ação é uma dessas circunstâncias que demonstram a transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé, pois, em razão dela, recebendo a cópia da inicial, o possuidor toma ciência dos vícios de sua posse.
Os efeitos da citação retroagirão ao momento da citação, a partir do qual o possuidor será tratado como possuidor de má-fé, com todas as consequências especificadas nos arts. 1.216 a 1.220, CC.
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Considerações relevantes
Há quem sustente que pela contestação apresentada pela parte contrária a transformação da posse se dará;
Outros discordam de tal posicionamento. Sustentam que a despeito da citação ou contestação, o réu poderá ter fortes razões para manter a convicção de que possui legitimamente;
Pontes de Miranda, por sua vez, afirma que “tanto cai em apriorismo descabido quem afirma a necessária incursão em má-fé a partir da citação, como quem afirma que tal se dê a partir da contestação”. No seu entender, assiste razão a Lafayette Rodrigues Pereira em afirmar que é falsa a opinião dos que pensam que a citação induz sempre o possuidor em má-fé, pois “bem pode o possuidor, sem embargo dos fundamentos da citação, continuar por julgá-los improcedentes, na crença de que a coisa lhe pertence”.
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Apesar da crítica dos doutrinadores, a jurisprudência, como já se viu, entende deva-se presumir a má-fé do possuidor desde a data da citação ou, conforme a hipótese, desde a data do conhecimento dos termos da contestação.
O posicionamento mais adequado é o de examinar-se acuradamente litígio por litígio, situação por situação.
Conclusão
Posse Nova e Posse Velha
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O Código Civil de 2002 não distingue entre a posse velha e a posse nova.
O art. 1.211 dispõe genericamente:
 “Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso”.
 “Ca­berá ao juiz, em cada caso, avaliar a melhor posse, assim considerando a que não contiver nenhum vício”.
Posse nova é a de menos de ano e dia;
Posse velha
é a de ano e dia ou mais.
Importante: O decurso do aludido prazo tem o condão de consolidar a situação de fato, permitindo que a posse seja considerada purgada dos defeitos da violência e da clandestinidade, malgrado tal purgação possa ocorrer antes.
Critérios adotados no Código Civil
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Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse velha com ação de força velha.
Classifica-se a posse em nova ou velha quanto à sua idade. Todavia, para saber se a ação é de força nova ou velha, leva-se em conta o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho. Se o turbado ou esbulhado reagiu logo, intentando a ação dentro do prazo de ano e dia, contado da data da turbação ou do esbulho, poderá pleitear a concessão da liminar (CPC, art. 924), por se tratar de ação de força nova. 
Critérios adotados no Código de Processo Civil
O art. 924 do Código de Processo Civil possibilita a concessão de liminar initio litis ao possuidor que intentar a ação possessória “dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho”. Passado esse prazo, o procedimento “será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório”.
Ação de força nova e ação de força velha
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Passado esse prazo, no entanto, como visto, o procedimento será ordinário, sem direito a liminar, sendo a ação de força velha.
É possível, assim, alguém que tenha posse velha ajuizar ação de força nova, ou de força velha, dependendo do tempo que levar para intentá-la, contado o prazo da turbação ou do esbulho, assim como também alguém que tenha posse nova ajuizar ação de força nova ou de força velha.
Importante:
Posse Natural e Posse Civil ou Jurídica
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É a que se adquire por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou da apreensão material da coisa. Exemplo – constituto possessório.
Posse civil ou jurídica é, portanto, a que se transmite ou se adquire pelo títu­lo. Adquire-se a posse por qualquer dos modos de aquisição em geral, desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. 
A jurisprudência tem, iterativamente, considerado válida a transmissão da posse por escritura pública.
Posse natural
É a que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa, ou, segundo Limongi França, a “que se assenta na detenção material e efetiva da coisa”.
Posse civil ou jurídica
Posse Ad Interdicta e Posse Ad Usucapionem
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“É a que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, deferindo a seu titular a aquisição do domínio. É, em suma, aquela capaz de gerar o direito de propriedade”. 
Posse ad interdicta
É a que pode ser defendida pelos interditos, isto é, pelas ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião.
Para ser protegida pelos interditos basta que a posse seja justa, isto é, que não contenha os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade.
Posse ad usucapionem
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Importante: É suficiente a ausência de vícios (posse justa) para que a posse se denomine ad interdicta. Todavia, torna-se necessário, para que dê origem à usucapião (ad usucapionem), que, além dos elementos essenciais à posse, contenha outros, como o decurso do tempo exigido na lei, o exercício de maneira mansa e pacífica, o animus domini e, em determinados casos, a boa-fé e o justo título.

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