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Teoria da Norma Constitucional

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Teoria da Norma Constitucional
A constituição como sistema aberto de normas
Em uma perspectiva jurídica, entende-se a constituição como um conjunto de normas jurídicas suficientemente aptas para regular todos os fenômenos da vida política e social. Mas a constituição não é um conjunto fechado de normas, nem as suas normas revelam-se sob a forma de regras.
A constituição deve interagir com a realidade político-social de onde ela provém, e suas normas devem estar abertas aos acontecimentos sociais para adaptar-se as transformações emergentes da sociedade.
A constituição é composta de diferentes graus de densidade normativa, articulados de tal maneira que juntos formam uma unidade material.
A norma constitucional: conceito e natureza 
As normas constitucionais são todas as disposições inseridas numa numa constituição ou reconhecida por ela, independentemente de seu conteúdo. 
Normas constitucionais materiais: As normas materiais são aquelas que possuem status constitucional em razão do seu conteúdo, ou seja, versam sobre a estrutura organizacional do 
Estado e questões fundamentais à sociedade.
Para Paulo Bonavides, "Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição de competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto pessoais como sociais. Tudo quanto for, enfim, conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem política exprime o aspecto material da Constituição" 
Normas constitucionais formais: As normas em sentido formal, por outro lado, só possuem o caráter de constitucional em razão da forma como fora implantada no sistema jurídico. Assim, independe o conteúdo da norma, mas sim a formalidade de seu processo de elaboração. 
Obs.: Para Temer, é irrelevante essa classificação tendo em vista que , independentemente de serem normas materiais ou formais, ambas tem igual hierarquia e produzem os mesmos efeitos jurídicos e só podem ser alteradas o rígido e idêntico processo tracejado no texto constitucional onde coabitam.
Na lição de Pedro Lenza: "Nesse sentido, as normas constitucionais serão aquelas introduzidas pelo poder soberano, por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e solene do que o processo legislativo de formação das demais normas do ordenamento". Trata-se de mera aparência constitucional, de modo que, caso a norma fosse implementada no sistema jurídico por meio de processo legislativo comum, não haveria qualquer prejuízo à ordem. 
Na Constituição/88 de forma imediata e sem qualquer precedente no constitucionalismo brasileiro, admitiu a existência, entre nós, de norma constitucional apenas no sentido material (art.5°§2º), em sentido formal-material (por exemplo as do art1º que constitui a República Federativa do Brasil em Estado Democrático de Direito)
TODAS AS NORMAS CONSTITUCIONAIS – sejam elas formais-materiais, formais ou materiais, tem estrutura de natureza jurídica, ou seja, são normas providas de juridicidade, que encerram um imperativo, vale dizer, uma obrigatoriedade de um comportamento. São verdadeiras norma jurídicas.
Não existe norma constitucional destituída de eficácia: todas elas irradiam efeitos jurídicos. Já ressalvava Ruy Barbosa que “ não há, numa constituição, clausulas a que se deva atribuir meramente o valor moral de conselhos, avisos ou lições. Todas têm foça imperativa de regras, ditadas pela soberania nacional ou popular aos seus órgãos.
A imperatividade é da essência das normas jurídicas e, principalmente, das normas constitucionais, sem qual não há em se falar em normas jurídicas. É seu atributo fundamental. Cuja a obrigatoriedade é ameaçada por uma sanção, é a exatamente a presença da sanção prevista na própria norma ou no sistema normativo.
As condições de aplicabilidade de norma constitucional
As normas jurídicas notada entente constitucionais são criadas para serem aplicadas. O Direito existe para realizar-se. 
 
Em suma são condições de aplicabilidade das normas constitucionais:
Vigência: é a qualidade da norma regulamente promulgada e publicada, que a faz existir juridicamente e que a torna de observância obrigatória. É uma qualidade de que se reveste a norma que indica a sua possibilidade de produzir efeitos. Vele dizer, que a norma só será eficaz se for vigente e estiver em vigor.
A lei, já revogada e não mais vigente, continua produzindo efeitos vinculantes obrigatórios. Assim quando uma norma possui vigor, porém sem ser vigente, ela é ultrativa, pois a norma produz efeitos mesmo depois de cessada sua vigência. 
A Vacation constitutionis quando houver um lapso temporal que medeie a publicação da norma constitucional e sua entrada em vigor. Não é um fenômeno comum nas constituições brasileiras e no constitucionalismo universal.A constituição é a fonte de validade de toda a norma jurídica em razão a sua supremacia.
Validade: uma norma jurídica é válida quando se compadece com o sistema normativo, para que uma norma seja vale ela tem que estar em observância a sua norma superior, e assim em um vínculo sucessivo até chegar a constituição. 
A norma constitucional, entretanto, como norma suprema de uma ordem jurídica fundamente-se, por sua vez em um poder cujo o titular seja o povo. 
 
 
Eficácia: “ uma norma só pode ser aplicada a medida em que produz efeitos jurídicos”, a possibilidade da norma produzir efeitos jurídicos.
 As espécies de norma constitucional: os princípios e as regras a normatividade dos princípios
	Por muito tempo permaneceu a teoria jurídica tradicional a ideia de que os princípios desempenhavam uma função meramente auxiliar ou subsidiaria na aplicação do direito, servindo de meio de integração da ordem jurídica na hipótese de eventual lacuna. Os princípios não eram vistos como normas jurídicas, mas apenas com fermentas úteis para sua integração e aplicação.
	Com o pós-positivismo, marco filosófico do novo direito constitucional do pós-guerra houve a separação da distinção entre normas e princípios 
Por Humberto Ávila (2003, p. 62):Enquanto as regras são normas imediatamente descritivas, na medida em que estabelecem obrigações, permissões e proibições mediante a descrição da conduta a ser adotada, os princípios são normas imediatamente finalísticas, já que estabelecem um estado de coisas para cuja realização é necessária a adoção de determinados comportamentos (normas-do-que-fazer). Os princípios são normas cuja finalidade frontal é, justamente, a determinação da realização de um fim juridicamente relevante (normas-do-que-deve-ser), ao passo que a característica dianteira das regras é a previsão do comportamento.
As regras e princípios são duas espécies de normas.
A distinção entre regras e princípios é uma distinção entre duas espécies de normas 
A eficácia da norma constitucional 
O problema de eficácia das normas constitucionais 
Hans Kelsen, distinguia a validade da norma de sua eficácia, pois, para ele, enquanto validade da norma pertence à ordem “do dever ser”, a sua eficácia pertence a ordem do “ser”.
A eficácia social: Consiste que a norma é efetivamente obedecida e aplicada. Ela representa a aproximação, tão intima, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social 
A eficácia jurídica: É a possibilidade de atingir os objetivos previstos na norma. (aplicação da norma).
Normas constitucionais mandatórias e normas constitucionais diretorias. 
Sobre a eficácia jurídica temos algumas classificações de normas, sobretudo para fixarmos como o imperativo das normas jurídicas se manifestam.
As normas coercitivas: são aquelas que determinam uma ação ou omissão. As normas dispositivas são aquelas que completam outras normas ou ajudam a vontade das partes a atingir os seus objetivos legais.
A doutrina norte-americana distingue em normas mandatórias (mandatory provisions) e normas diretórias (directory provisions), a primeira seriam normas essencialmente materiais, de cumprimento obrigatório. As segundasregulamentam, seriam aquelas desprovidas de matéria de natureza essencialmente constitucional, poderiam ser contrariadas pelo legislador comum, sem que isso implicasse em inconstitucionalidade.Desprezamos essas distinções, todas as normas integram uma constituição, independentemente de seu conteúdo são normas constitucionais, são jurídicas e tem igual força.
Normas constitucionais self-executing e not self-executing
A doutrina e a jurisprudência norte-americana que classificam dessa maneira. Essa doutrina foi encabeçada por Cooley e divulgada, entre nós, por Ruy Barbosa.
Sef-executing: são normas que podem ser aplicadas desde logo, IMEDIATAMENTE, já que são dotadas de eficácia jurídica plena, independentemente da atuação do legislador ordinário. EX: vedação e proibição; os princípios e declaração dos direitos fundamentai.
Not self-executing: São normas que precisam da criação de novas regras jurídicas que as complemente ou suplementem.
 A classificação de J. H Meirelles Teixeira 
Foi o primeiro que se preocupou, no direito brasileiro, com uma classificação das normas constitucionais quanto à eficácia.
Normas de eficácia plena: normas que produzem efeitos desde o momento de sua promulgação, todos os seus efeitos essenciais, isto é, todos os objetivos visados pelo legislador constituinte.
Normas de eficácia limitada: que não produzem, logo ao serem promulgadas, todos os seus efeitos essenciais, pôquer não se estabeleceu, sobre a matéria, uma normatividade para isso suficiente, deixando total ou parcialmente a tarefa para o legislador ordinário.
b.1) Normas pragmáticas: cuidam de matéria eminentemente ético-social e constituem programas de ação social atribuídos ao legislador ordinários 
b.2) Normas de legislação: são desprovidas de conteúdo de organização ou liberdade e apenas deixam de produzir desde logo seus efeitos por questões de natureza técnica ou instrumental.
5.5. A classificação de José Afonso da Silva 
Também defende que não a norma constitucional alguma destituída de eficácia. Assim, para o autor todas as normas constitucionais são dotadas de aplicabilidade e eficácia, variando apenas para mais ou menos nesse grau. 
OBS: A norma para ter eficácia plena ela precisa ser completa, no sentido de que contenha todos os elementos e requisitos parta a sua incidência direta = sef-executing
Normas Constitucionais de eficácia plena: com aplicabilidade imediata. Art 5º § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
Normas Constitucionais de Eficácia Contida: com aplicabilidade imediata, mas não integral, sujeita a restrições, ´Podem ser restringidas por conceitos indeterminados “ordem pública”, “segurança nacional”, relevância”...
Art.5º CF/88
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
 XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Normas Constitucionais de Eficácia Limitada: aplicabilidade mediata ou reduzida. Dependem e intervenção legislativa para incidirem, por que o constituinte por algum motivo não prestou normatividade suficiente 
Art.18
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
A classificação de Maria Helena Diniz 
 Normas Constitucionais com Eficácia Absoluta – que são as intangíveis e que não podem sofrer emendas. Art.60. §4º
Normas Constitucionais com Eficácia Plena - aquelas que apesar de incidirem imediatamente, sem legislação complementar, são suscetíveis de emendas.
Normas Constitucionais com Eficácia Relativa Restringível – são as normas com eficácia contida, aquelas que possuem aplicabilidade imediata, mas que podem ter seus alcances reduzidos pela atividade do legislador infraconstitucional, nos termos que a lei estabelecer.
Normas Constitucionais Dependentes de Complementação – são as normas constitucionais que possuem aplicabilidade mediata, enquanto não promulgada lei complementar ou ordinária, não produzirão efeitos positivos, por isso, são dependentes.
Eficácia jurídica das normas constitucionais programáticas 
 A doutrina italiana, sustenta que a normas pragmáticas ou diretivas se limitam a indicar uma via ao legislador do futuro, não sendo nem mesmo verdadeiras normas jurídicas, negando a essa qualquer eficácia. Para a doutrina tradicional a falta de juridicidade das normas pragmáticas, não permite que o cidadão invoque elas aos tribunais, mesmo que contemplem seus diretos.
Porém, o constitucionalismo contemporâneo ressalta que toda norma constitucional tem eficácia, só pelo fato dessas normas serem aplicadas por ações positivas do Estado não retirem sua eficácia.
Distinção entre retroatividade Máxima, Media e Mínima.
Retroatividade máxima: quando a lei retroagi para atingir os fatos já consumados (direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada);
Retroatividade média: se opera quando a nova lei, sem alcançar os atos ou fatos anteriores, atinge os seus efeitos ainda não ocorridos. Ex: quando uma nova lei, que dispõe sobre a redução da taxa de juros, aplica-se às prestações vencidas de um contrato, mas ainda não pagas.
Retroatividade mínima: A lei nova atinge apenas fatos anteriores, verificados, apenas após a data de sua publicação, ou seja, prestações futuras de negócios anteriores ao advento da nova lei.
Derrotabilidade das Normas Jurídicas 
Significa a possibilidade, no caso concreto, de uma norma ser afastada ou ter sua aplicação negada, sempre que a uma exceção relevante se apresente, ainda que a norma tenha preenchido os requisitos legais necessários para sua aplicação e validade.
Toda norma seja qualificada como regra e princípio, é sujeita a exceções que não são previstas de forma exaustiva, podendo essa exceção ser superada podendo sua incidência ser superada por argumentação no caso concreto. Ex: crime de aborto, o STF superou essa decisão nos casos de estupro e encéfalos.
Os princípios constitucionais 
Os princípios é o veículo dos valores mais fundamentais de uma sociedade. É o ponto de partida, a origem mesma dessa sociedade,
Numa perspectiva jurídica, princípios é o mandamento nuclear de um sistema jurídico.
Os princípios constitucionais, são pautas normativas máximas de uma Constituição que refletem a sua ideológica e o modo de ser compreendida e aplicada.

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